A
rbitrAgem
t
rAnsnAcionAl
t
rAbAlhistA
A
rbitrAgem
t
rAnsnAcionAl
t
rAbAlhistA
D
aorDempúblicaàs normasDeaplicação imeDiataHENRIQUE LENON FARIAS GUEDES
Doutor em Direito Internacional e
Direito Comparado pela Universidade de São Paulo – USP
Mestre em Direito Econômico pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB Bacharel em Direito pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB
Belo Horizonte 2021
342.6642 Guedes, Henrique Lenon Farias.
G924a Arbitragem transnacional trabalhista: da ordem pública às normas de aplicação 2021 imediata / Henrique Lenon Farias Guedes. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2021.
231 p.
ISBN: 978-65-5929-075-8 ISBN: 978-65-5929-081-9 (E-book)
1. Direito do trabalho. 2. Direito internacional do trabalho. 3. Arbitragem trabalhista. 4. Arbitragem – Brasil. I. Título.
CDDir – 342.6642 CDD(22.ed.)– 344
Belo Horizonte 2021
CONSELHO EDITORIAL
Elaborada por: Fátima Falci CRB/6-700
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico, inclusive por processos reprográficos, sem autorização expressa da editora.
Impresso no Brasil | Printed in Brazil
Arraes Editores Ltda., 2021.
mAtriz
Av. Nossa Senhora do Carmo, 1650/loja 29 - Bairro Sion Belo Horizonte/MG - CEP 30330-000
Tel: (31) 3031-2330
FiliAl
Rua Senador Feijó, 154/cj 64 – Bairro Sé São Paulo/SP - CEP 01006-000
Tel: (11) 3105-6370
www.arraeseditores.com.br arraes@arraeseditores.com.br
Álvaro Ricardo de Souza Cruz André Cordeiro Leal André Lipp Pinto Basto Lupi Antônio Márcio da Cunha Guimarães Antônio Rodrigues de Freitas Junior Bernardo G. B. Nogueira Carlos Augusto Canedo G. da Silva Carlos Bruno Ferreira da Silva Carlos Henrique Soares Claudia Rosane Roesler Clèmerson Merlin Clève David França Ribeiro de Carvalho Dhenis Cruz Madeira Dircêo Torrecillas Ramos Edson Ricardo Saleme Eliane M. Octaviano Martins Emerson Garcia Felipe Chiarello de Souza Pinto Florisbal de Souza Del’Olmo Frederico Barbosa Gomes Gilberto Bercovici Gregório Assagra de Almeida Gustavo Corgosinho Gustavo Silveira Siqueira Jamile Bergamaschine Mata Diz Janaína Rigo Santin Jean Carlos Fernandes
Jorge Bacelar Gouveia – Portugal Jorge M. Lasmar
Jose Antonio Moreno Molina – Espanha José Luiz Quadros de Magalhães Kiwonghi Bizawu
Leandro Eustáquio de Matos Monteiro Luciano Stoller de Faria
Luiz Henrique Sormani Barbugiani Luiz Manoel Gomes Júnior Luiz Moreira
Márcio Luís de Oliveira Maria de Fátima Freire Sá Mário Lúcio Quintão Soares Martonio Mont’Alverne Barreto Lima Nelson Rosenvald
Renato Caram
Roberto Correia da Silva Gomes Caldas Rodolfo Viana Pereira
Rodrigo Almeida Magalhães Rogério Filippetto de Oliveira Rubens Beçak
Sergio André Rocha Sidney Guerra
Vladmir Oliveira da Silveira Wagner Menezes William Eduardo Freire
Coordenação Editorial: Produção Editorial e Capa:
Imagem de Capa:
Revisão:
Fabiana Carvalho Danilo Jorge da Silva
“Syndics of the Drapers’ Guild”, Rembrandt Harmensz van Rijn, 1662. Domínio público. Pintura original no Rijksmuseum de Amsterdã.
V
A tutela da lei cessa ante a liberdade individual, de que brotam as energias perenes da verdadeira personalidade. Egon Felix Gottschalk
VII
Rendendo sempre graças ao Altíssimo -À professora doutora Célia Maria de Farias, pelo exemplo de que, para que algo seja
bom, é preciso haver uma primeira, pelo caminho que nunca se acaba, entre tropeiros e bandeirantes,
IX
r
econhecimentoA realização de meu doutoramento em São Paulo, cuja tese originou este livro, teria sido tarefa bem mais árdua, sem o apoio de Mércia Moura, de Thiago Macedo, de Ana Flávia Pereira, de Rodrigo Nóbrega Farias, de Luciano Timm, de Marcílio Franca, de Gustavo Monaco e de Victor Jarske. Cada um contribuiu em graus, em formas e em períodos diferentes – uns, todo o tempo –, mas a gratidão está aí como memória muralista; eis a pin-tura completa.
XI
t
AbelA dec
AsosCORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS Opinião Consultiva n° 14 (1994), p. 36
Opinião Consultiva n° 18 (2003), p. 36 Opinião Consultiva n° 22 (2014), p. 40 CORTE PERMANENTE DE ARBITRAGEM Acordos de Bangladesh (2018), p. 10 e 49 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Primeira Turma Recurso especial n° 843.557/RS, p. 73 Terceira Turma Recurso especial n° 693.219/PR (2005), p. 21 Recurso especial n° 1.636.113/SP (2017), p. 21 Quarta Turma
Agravo regimental em recurso especial n° 1.006.105/RS (2008), p. 73 SUPREMA CORTE DO CANADÁ
Nevsun Resources v. Araya (2020), p. 179
SUPREMA CORTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA Mitsubishi v. Soler Chrysler-Plymouth [473 U.S. 614 (1985)], p. 89 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Plenário
XII
Ação declaratória de constitucionalidade n° 3.961 (2020), p. 71 Ação direta de inconstitucionalidade n° 3.239 (2019), p. 152 Ação direta de inconstitucionalidade n° 3.395 (2020), p. 68 Ação direta de inconstitucionalidade n° 3.684 (2020), p. 68 Ação direta de inconstitucionalidade n° 4.364 (2011), p. 60 Agravo em recurso extraordinário n° 791.932 (2018), p. 68 Agravo em recurso extraordinário n° 1.121.633 (2019), p. 70 Agravo regimental na arguição de descumprimento de preceito fundamental n° 501 (2020), p. 67 “Habeas corpus” n° 87.585 (2008), p. 39 Recurso extraordinário n° 349.703 (2008), p. 39 Recurso extraordinário n° 466.343 (2008), p. 39 Recurso extraordinário n° 590.415 (2015), p. 68 Recurso extraordinário n° 606.003 (2020), p. 68 Recurso extraordinário n° 633.782 (2020), p. 110 Recurso extraordinário n° 635.546 (2021), p. 72 Recurso extraordinário n° 760.931 (2017), p. 72 Recurso extraordinário n° 828.040 (2020), p. 120 Recurso extraordinário n° 958.252 (2018), p. 68 Recurso extraordinário n° 960.429 (2020), p. 68 Recurso extraordinário n° 1.002.295 (2020), p. 25 Recurso extraordinário n° 1.034.840 (2017), p. 68 Referendo de medida cautelar na ação direta de inconstitucionalidade n° 6.363 (2020), p. 135 Sentença estrangeira n° 5.206 (2001), p. 21 Suspensão de liminar n° 1.264 (2020), p. 166 Segunda Turma
Agravo regimental em recurso extraordinário n° 895.759 (2016), p. 70 TRIBUNAL “AD HOC”
Alabama Claims (1872), p. 20
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIA C-135 – “Nikiforidis” (2015), p. 179
C-184 – “Unamar” (2012), p. 105 C-284 – “Achmea” (2016), p. 105 C-319 (2006), p. 105
XIII
C-363 (2018), p. 46
C-438 – “Viking” (2005), p. 105
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA PRIMEIRA REGIÃO Recurso ordinário n° 0100228-33.2016.5.01.0207 (2017), p. 68
TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO Tribunal Pleno
Incidente de Julgamento de Recurso de Revista e de Embargos Repetitivos n° 21900-13.2011.5.21.0012, p. 65
Seção de Dissídios Coletivos
Recurso ordinário n° 5902-33.2016.5.15.0000 (2018), p. 27
Recurso ordinário em dissídio coletivo n° 354200-72.2005.5.04.0000 (2007), p. 28
Recurso ordinário em dissídio coletivo n° 6940500-50.2002.5.02.0900 (2004), p. 26
Subseção I de Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho
Recurso de embargos em embargos de declaração em recurso de revista n° 683900-65.2009.5.09.0024 (2019), p. 62
Subseção II de Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho “Habeas corpus” n° 1000225-85.2017.5.00.0000 (2019), p. 37 Recurso ordinário n° 10567-96.2014.5.03.0000 (2016), p. 37 Segunda Turma
Agravo de instrumento em recurso de revista n° 3303-50.2013.5.02.0013 (2020), p. 41
Quarta Turma
Recurso de revista n° 1829-57.2016.5.13.0005 (2019), p. 121 Quinta Turma
Agravo em recurso de revista n° 1000201-34.2019.5.02.0064 (2020), p. 69 Recurso de revista n° 10285-19.2016.5.09.0001 (2019), p. 129
Sexta Turma
XV
ACT acordo coletivo de trabalho
ADI ação direta de inconstitucionalidade
ADPF arguição de descumprimento de preceito fundamental
AED análise econômica do direito
AgR agravo regimental
ARE agravo em recurso extraordinário de competência do Supremo Tribunal Federal
C Convenção da Organização Internacional do Trabalho
CADH Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica)
CAM-CCBC Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Co-mércio Brasil-Canadá
CAS Court of Arbitration for Sport (Tribunal Arbitral do Esporte)
CBF Confederação Brasileira de Futebol
CC-1850 Código Comercial (Lei n° 556, de 25 de junho de 1850) CC-1916 Código Civil de 1916 (Lei Federal n° 3.071, de 1º de
janeiro de 1916)
CC-2002 Código Civil de 2002 (Lei Federal n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002)
CCP Comissões de Conciliação Prévia
XVI
CCT convenção coletiva de trabalho
CDC Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal n°
8.078, de 11 de setembro de 1990) CI-1824 Constituição do Império do Brasil
CIJ Corte Internacional de Justiça
CISG Convenção das Nações Unidas Sobre Contratos
de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (Decreto Presidencial n° 8.327, de 16 de outubro de 2014)
CLT Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-Lei n° 5.452, de 1º de maio de 1943)
CNJ Conselho Nacional de Justiça
CNY-1958 Convenção Sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras, feita em Nova York, em 10 de junho de 1958
Corte IDH Corte Interamericana de Direitos Humanos
CPC-1973 Código de Processo Civil (Lei Federal n° 5.869, de 11 de janeiro de 1973)
CPC-2015 Código de Processo Civil (Lei Federal n° 13.105, de 16 de março de 2015)
CPP Código de Processo Penal (Decreto-Lei n° 3.689, de 03 de outubro de 1941)
CRFB Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 CVDT Convenção de Viena Sobre o Direito dos Tratados
(De-creto Presidencial n° 7.030/2009)
DEJT Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho
Des. Desembargador (a)
DIP direito internacional privado
DJ Diário da Justiça
DJe Diário da Justiça eletrônico
ED embargos de declaração
XVII
FAO Organizaçãodas Nações Unidas Para Alimentação e
Agricultura
FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FIFA Fédération Internationale de Football Association GATS Acordo Geral Sobre Comércio de Serviços de 1995 GATT-1994 Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio de 1994
HC “Habeas Corpus”
HCCH Conferência da Haia de Direito Internacional Privado ICANN Internet Corporation for Assigned Names and Num-bers (Corporação da Internet Para Atribuição de No-mes e Números)
ICC Câmara de Comércio Internacional (Paris)
ICSID International Centre for the Settlement of Investment Disputes (Centro Internacional Para a Solução de Dis-putas de Investimentos)
IEC Comissão Eletrotécnica Internacional
IRR Incidente de Julgamento de Recurso de Revista e de Embargos Repetitivos
ISO Organização Internacional de Normalização
ITLOS Tribunal Internacional Para o Direito do Mar
LBA Lei Brasileira de Arbitragem (Lei Federal n° 9.307, de 23 de setembro de 1996)
LC Lei Complementar
LGPD Lei Geral de Proteção de Dados
MC Medida Cautelar
Mercosul Mercado Comum do Sul
Min. Ministro (a)
MP Medida Provisória
MPT Ministério Público do Trabalho
NR Norma Regulamentadora
XVIII
OGMO órgão gestor de mão de obra
OIML Organização Internacional de Metrologia Legal
OIT Organização Internacional do Trabalho
OMI Organização Marítima Internacional
OMS Organização Mundial da Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
p. página
PCA Permanent Court of Arbitration (Corte Permanente
de Arbitragem)
PG-1923 Protocolo de Genebra Sobre Cláusulas Arbitrais de 24 de setembro de 1923
PIDCP Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos PIDESC Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais
PR Estado do Paraná
PSS Protocolo de São Salvador
Rcl reclamação
RE recurso extraordinário de competência do Supremo
Tribunal Federal
Ref referendo
Rel. relator (a)
REsp recurso especial de competência do Superior Tribunal de Justiça
RGPS Regime Geral de Previdência Social
RO recurso ordinário
RODC recurso ordinário em dissídio coletivo
RR recurso de revista de competência do Tribunal Supe-rior do Trabalho
RS Estado do Rio Grande do Sul
SbDI-I Subseção I de Dissídios Individuais do Tribunal Supe-rior do Trabalho
XIX
SbDI-II Subseção II de Dissídios Individuais do Tribunal Supe-rior do Trabalho
SDC Seção de Dissídios Coletivos do Tribunal Superior do Trabalho
SP Estado de São Paulo
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
TBI Tratado bilateral de encorajamento e proteção de in-vestimentos
TFUE Tratado Sobre o Funcionamento da União Europeia TJUE Tribunal de Justiça da União Europeia
TPI Tribunal Penal Internacional
TPR Tribunal Permanente de Revisão do Mercosul
TRT Tribunal Regional do Trabalho
TRT-1 Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região
TST Tribunal Superior do Trabalho
UE União Europeia
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UIT União Internacional de Telecomunicações
UNCITRAL Comissão das Nações Unidas Sobre Direito do Comér-cio InternaComér-cional
UNIDROIT Instituto Internacional Para a Unificação do Direito Privado
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
XXI
s
umário APRESENTAÇÃO ... XXIII PREFÁCIO ... XXV INTRODUÇÃO ... 1 capítulo 1 ARBITRAGEM ENTRE COMÉRCIO E TRABALHO ... 131.1. A genética comercialista da arbitragem contemporânea ... 14
1.1.1. A ideia da arbitragem ... 14
1.1.2. A arbitragem no Brasil ... 19
1.2. A inserção da arbitragem nas relações de trabalho ... 22
1.2.1. A persistência da arbitragem nas relações coletivas ... 23
1.2.2. Potenciais problemas na arbitragem de direito do trabalho ... 29
capítulo 2 A INSERÇÃO DOS DIREITOS TRABALHISTAS NA ARBITRAGEM ... 43
2.1. “Business and Human Rights”: um caminho para a arbitragem trabalhista? ... 43
2.1.1. Responsabilidade corporativa e direitos humanos ... 43
2.1.2. Direito do trabalho entre hesitação e exclusão ... 52
2.2. A resistência à disposição dos direitos ... 56
2.2.1. “Publicização” e o lugar do direito administrativo do trabalho ... 57
2.2.2. A invocação da ordem pública no direito do trabalho ... 65
capítulo 3 UMA RESPOSTA DO DIP: NORMAS DE APLICAÇÃO IMEDIATA .... 79
3.1. Elementos conceituais ... 79
3.1.1. Aplicação imediata em DIP ... 80
XXII
3.2. Comportamento estratégico e direito internacional ... 95
3.2.1. Bases para análise econômica ... 95
3.2.2. O caso dos tratados de direitos humanos ... 100
capítulo 4 APLICAÇÃO IMEDIATA EM DIREITO DO TRABALHO ... 117
4.1. A lei aplicável no direito brasileiro ... 118
4.1.1. As propostas doutrinárias ... 118
4.1.2. Contribuições de direito positivo ... 127
4.2. Direito do trabalho transnacionalmente imperativo ... 133
4.2.1. Bases para análise ... 133
4.2.2. Síntese ... 153
capítulo 5 APLICAÇÃO IMEDIATA EM ARBITRAGEM TRABALHISTA ... 157
5.1. Arbitragem normativa e desdobramento funcional ... 157
5.1.1. A teoria ... 158
5.1.2. A aplicação ... 161
5.2. Arbitragem positiva e direito transnacional ... 167
5.2.1. Fundamentos transdisciplinares... 167
5.2.2. “Lex mercatoria, lex laboralis” ... 180
CONCLUSÃO ... 187
XXIII
A
presentAçãoFoi com muita alegria que recebi o honroso convite de apresentar a obra do Henrique Lenon, destacado jovem acadêmico que comigo trabalhou tanto na advocacia corporativa, como secretariando arbitragens complexas.
Refletindo suas experiências acadêmicas e práticas, nas áreas de Arbi-tragem, Direito Internacional e Direito do Trabalho, Henrique apresenta, neste livro, uma inovadora e original análise da lei aplicável ao mérito da arbitragem transnacional trabalhista.
Partindo de um ceticismo com o uso do termo “ordem pública” pela doutrina e pela jurisprudência trabalhistas, o autor identifica a necessidade de se estabelecer um conceito seguro de “normas de aplicação imediata”, que, para o Direito Internacional Privado, incidem em certas relações jurídi-cas, seja qual for a regra de conexão.
Trata-se de conceito intrinsecamente limitador, pois, a um só tempo, res-tringe a autonomia da vontade e impede a incidência do direito estrangeiro. Ciente do impacto das normas de aplicação imediata, o autor busca alcançar, em sua pesquisa, uma definição técnica e previsível, a fim de auxiliar as partes de uma relação de trabalho ou as integrantes de uma cadeia produtiva a com-preender o direito aplicável a seus contratos – podendo, também, contribuir para decisões arbitrais ou judiciais atentas às suas consequências práticas.
O autor faz uma análise dogmática do tema e aponta caminhos seguros para uma arbitragem trabalhista com elementos estrangeiros. Isso, porém, não é tudo: a partir de uma Análise Econômica do Direito Internacional, o autor propõe uma superação da visão estatista e publicista do conceito de “normas de aplicação imediata” e examina as hipóteses de desenvolvimento de tais normas em ambientes puramente transnacionais, como a atual “lex mercatoria” e uma futura “lex laboralis”.
XXIV
A contribuição do autor aos campos da Arbitragem, do Direito do Trabalho e, em especial, do Direito Internacional Privado decorre da pecu-liar intersecção proposta entre essas áreas. Sem perder a precisão da técnica jurídica, o autor incorpora, de forma original, lições da Análise Econômica do Direito e dialoga com autores nacionais e estrangeiros.
O trabalho é fruto de sua tese de doutorado na USP e merece ser lido e discutido, abrindo caminhos para o debate da Análise Econômica do Di-reito Internacional no Brasil.
Por tudo isso, recomendo vividamente a leitura dessa obra!
LUCIANO BENETTI TIMM
Advogado, Professor da FGV-SP, Mestre e Doutor em Direito (UFRGS), Pes-quisador de Pós-Doutorado na Universidade da Califórnia (Berkeley), LLM em Direito Econômico Internacional (Warwick). Ex-Presidente da Associa-ção Brasileira de Direito e Economia (ABDE, 2007 e 2017) e Ex-Secretário Nacional do Consumidor.
XXV
p
reFácioAlexander Calder foi um artista de inegável inspiração. Em arte, todavia, inspiração não representa todo o esforço do artista. Uma obra de arte de-manda tempo, estudo, persistência, cálculo. Seus móbiles tornaram infantil o modelo tradicional, de peças idênticas que se equilibram justamente (perdoe, leitor, a intencional repetição) na identidade. O uso de peças de tamanhos, formas e, às vezes, cores variáveis, mas que ainda assim se equilibram num jogo pulsante e harmônico não deixa de se caracterizar como um paradoxo1.
O Direito Internacional Privado é um ramo onde os paradoxos se apresentam, como procurei ressaltar na introdução da minha tese de livre docência2. Com efeito, não se restringe, desde logo, a um único
ordenamen-to jurídico nacional, mas procura equilibrar os interesses destes Estados em regular a situação da vida sob análise. Ao mesmo tempo, toma em conside-ração o importante veio de atuação das partes, detentoras dos primordiais interesses em jogo, dando-lhes certo grau de liberdade no estabelecimento do design jurídico da relação que desejam travar.
Esse já intrincado jogo de equilíbrio de peças de formatos variados, pro-venientes de distintas origens pode, não obstante, tornar-se ainda mais com-plexo e, paradoxalmente, mais equilibrado, quando se misturam institutos ju-rídicos com teleologias diversas e dotados de funcionalidades sociais próprias. É o que acontece com a obra de Henrique Lenon Farias Guedes, que a Arraes Editores traz à luz. “Arbitragem transnacional trabalhista: da ordem pública às normas de aplicação imediata” é a versão revisitada pelo autor de sua tese de Doutorado, que tem por título “Normas de aplicação imediata
1 LAFER, Celso. Direito Internacional: um percurso no Direito no século XXI, v. 2. São Paulo: Atlas, 2015, p. 199-209.
2 MONACO, Gustavo Ferraz de Campos. Controle de constitucionalidade da lei estrangeira. São Paulo: Quartier Latin, 2013.
XXVI
e arbitragem trabalhista: entre pluralismo e transnacionalidade” e que foi apresentada e defendida no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Tive a alegria de orientar Henrique neste percurso e de introduzi-lo na difícil – porém apaixonante – senda do Direito Internacional Privado, esta disciplina técnica, que possui uma função própria e que se vê muitas vezes atacada por uma concepção que procura confundi-la com outras disciplinas, não para podá-la de suas dificuldades, mas, sim, para lhe cortar a seiva, com o intuito de levá-la à morte, por desnutrição. Henrique compreendeu essa circunstância e readequou-se metodológica e teleologicamente na persecução do equilíbrio que o móbile de A. Calder representa.
A defesa, perante banca examinadora composta pelo Professor Titular Paulo Borba Casella (Direito Internacional Público), pelo Professor Asso-ciado Estêvão Mallet (Direito do Trabalho), ambos colegas da Faculdade de Direito da USP, pelo Professor Catedrático da Universidade de Coimbra e grande expoente mundial do Direito Internacional Privado e estudioso de sua interface com o Direito do Trabalho, Rui Manuel Moura Ramos, pela Professora Associada da Universidade de Lisboa, Elsa Dias Oliveira (Direito Internacional Privado) e pela Professora Doutora da UNESP, Flavia Mange (arbitralista), resultou em aprovação com distinção. Tive a honra de presidir, sem direito a voto (como determinam as normas da USP), a sessão pública de defesa da tese e posso atestar que a qualidade do trabalho e a proficiên-cia no uso da linguagem, tanto escrita como oral, foram ressaltados pelos examinadores. Faço questão de ressaltar esse aspecto, pois nossa língua tem sido cada vez menos cultuada.
O livro que está em suas mãos retrata uma abordagem original das hipó-teses, condições e circunstâncias em que um contrato internacional de traba-lho pode ser submetido a uma arbitragem. Como se sabe, as arbitragens sur-giram como mecanismo de solução de controvérsias entre Estados soberanos, no âmbito público, e entre comerciantes, sobretudo, no âmbito privado. Da mercancia ao mercado3, o comerciante tornou-se muitas vezes um empresário,
e o direito comercial deu origem ao direito empresarial, em que a análise eco-nômica se faz essencial, obrigatória, mesmo. Nesse sentido, pode-se também encontrar, neste ambiente transformado, uma zona transicional na atividade de alguns profissionais. E é num contexto assim que algumas atividades pro-fissionais se tornam passíveis de discussão no âmbito e nas estruturas arbitrais, levantando uma questão a respeito da disponibilidade dos interesses em tela, o
3 FORGIONI, Paula A. A evolução do Direito Comercial brasileiro: da mercancia ao mercado. 5. ed. São Paulo: RT, 2021.
XXVII
que colide, em tese, com o interesse do Estado em tutelar relações assimétricas como sempre foram as relações laborais.
É aqui que entram o estudo, a persistência e o cálculo de Henrique Le-non Farias Guedes na construção de sua tese, buscando o equilíbrio entre os interesses em jogo, como A. Calder equilibraria as peças que, aparentemente, não se harmonizariam em um móbile. Esse o papel importante que o Direi-to Internacional Privado é capaz de desempenhar e que eu tenho tentado, como pesquisador, escritor, professor e orientador, difundir e incentivar.
Dessa análise, por ele empreendida, relevaram dois importantes e distintos institutos do Direito Internacional Privado: a ordem pública e as normas de aplicação imediata. Ambas procuram proteger e resguardar os interesses fun-damentais no foro, abrindo o necessário espaço para os interesses da sociedade que se constituiu em forma de Estado. Mas as semelhanças param aqui, e as diferenças de função, momento metodológico e resultados desencadeados se impõem. São, todavia, dois importantes mecanismos que precisam ser melhor compreendidos pelos cultores da disciplina, e Henrique se esforça na consecu-ção deste objetivo. E é nesse contexto que a análise da submissão à arbitragem de específicos contratos individuais de trabalho conflui para o equilíbrio.
Sempre que possível, tenho procurado ressaltar em prefácios e apre-sentações de obras acadêmicas ligadas ao Direito Internacional Privado – felizmente, cada vez mais numerosas – que o tema central da pesquisa, que por si só desperta o interesse inequívoco do Direito Internacional, precisa ser conduzido com cuidado e percuciência à luz dos institutos e princípios do direito internacional privado. Pode parecer uma observação simples e vazia. Mas definitivamente não é. Ela esclarece as dificuldades que o trato do direito internacional privado enfrenta ainda hoje na academia brasileira e lança luzes esperançosas para o futuro.
Deste futuro constará, certamente, Henrique Lenon Farias Guedes. São Paulo, abril de 2021.
GUSTAVO FERRAZ DE CAMPOS MONACO
Professor Titular de Direito Internacional Privado da Faculdade de Direito da USP, Professor Doutor da Faculdade de Direito da Universidade Pres-biteriana Mackenzie, Coordenador do Curso de Direito da Universidade Anhembi Morumbi e Consultor em São Paulo.