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Varejo Continua Perdendo Fôlego

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Academic year: 2021

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Varejo Continua Perdendo Fôlego

Os dados das vendas do varejo restrito (que exclui a comercialização de veículos, motos e material de construção) referentes ao mês de julho, divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em sua Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), dão conta de uma redução de 1,1% em relação ao mês de junho, descontados os efeitos sazonais, o que configura o pior resultado mensal desde 2000, equiparando-o ao recuo observado em outubro de 2008, logo após o “estouro” da “bolha financeira” internacional.

Na comparação com o mesmo mês de 2013, tanto as vendas desse segmento quanto as relativas ao varejo ampliado (que inclui todos os setores) mostraram quedas de 0,9% e 4,9%, respectivamente. Por sua vez, no acumulado em doze meses as duas categorias seguem desacelerando, com destaque para a segunda, devido à forte retração das vendas de veículos. Nessa mesma base de comparação quase todos os setores apresentam comportamento fraco, exceto no caso das farmácias e perfumarias e utilidades domésticas.

Evidentemente, os resultados negativos de julho devem ser imputados à redução de dias úteis decorrente da realização da Copa do Mundo, porém, ao serem de caráter generalizado sugerem que também deva considerar-se como causas o menor crescimento do crédito, o aumento dos juros, a elevação do custo de vida, a menor expansão dos salários e do emprego em geral, redundando na queda da confiança do consumidor.

As perspectivas para o resto do ano não são muito alentadoras, pois, terminado o “efeito Copa”, os fatores anteriores, continuariam limitando a recuperação do varejo. Mesmo com o melhor resultado esperado para os próximos meses, devido à proximidade das festividades de fim de ano, a expectativa de crescimento anual é bastante moderada, situando-se entre 2% e 3%. Como a expansão da atividade depende muito do consumo das famílias, essa desaceleração aumentaria a probabilidade de terminar 2014 com a economia estagnada.

Síntese Econômica

 Crédito à pessoa física continuou desacelerando em julho.

 Inflação anualizada de agosto voltou a ultrapassar o limite máximo da meta anual.

 Produção industrial mostrou leve alta em julho.

 Inadimplência bancária e do varejo apresentaram estagnação, em julho e agosto, respectivamente.

 Contas públicas continuaram sua deterioração.

 Contas externas continuaram apresentando melhora em agosto.

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Análise da Conjuntura

1. Moeda, Crédito e Inflação

Dados do Banco Central de julho mostram que o crédito à pessoa física segue apresentando desaceleração do crescimento, que em 12 meses alcançou a de 5,3%, contra 8,3% no final de 2013.

A inflação (IPCA) acelerou em agosto, ficando em 0,25%, enquanto no acumulado em doze meses voltou a ultrapassar o limite máximo de tolerância da meta anual (6,5%).

Apesar do Banco Central continuar mantendo a taxa de juros básica (SELIC) em 11,0%, reafirmando seu compromisso com a estabilidade de preços, prosseguiu na tentativa de incentivar a concessão de crédito, esbarrando, porém na menor disposição a emprestar por parte dos bancos, que temem o aumento futuro da inadimplência, e na menor demanda por crédito das famílias e empresas, devido ao baixo nível de confiança resultante do momento de incerteza e baixo crescimento econômico.

2. Produção, Vendas e Inadimplência

A variação do Produto Interno Bruto (PIB) relativa ao segundo trimestre do ano em relação ao trimestre anterior, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi negativa em 0,6%, livre de influências sazonais. Foi a segunda queda no ano, o que configura a chamada “recessão técnica”. Também houve recuo de 0,9% em relação ao mesmo período do ano passado. O menor número de dias úteis durante a Copa explica parte desses resultados, que também são explicados pelas maiores taxas de juros, desaceleração do crédito e queda na confiança dos empresários e consumidores. No semestre ainda há leve alta da atividade econômica (0,5%), sustentado pela expansão da agropecuária (1,2%) e dos serviços (1,1%), apesar da queda na atividade industrial (1,4%) e nos investimentos produtivos e em infraestrutura (6,8%). Os demais indicadores de atividade também refletem esse momento de fracos resultados do PIB.

Assim, também de acordo com o IBGE, a indústria em julho mostrou leve alta de 0,7% em relação ao mês anterior, livre de influências sazonais, porém ficando 3,6% abaixo do nível de julho de 2013. No acumulado do ano o setor também apresentou recuo de 2,8%, principalmente pela redução na produção de automóveis (25,0%) e de bens de capital (6,4%).

Por sua vez, as vendas do varejo restrito (que exclui veículos e material de construção), segundo a mesma instituição, diminuíram em 0,9% em julho em relação ao ano passado, enquanto o varejo ampliado (que inclui os itens anteriores) mostrou forte queda de 4,9%, com destaque para a redução das vendas de veículos (12,8%). Nos primeiros sete meses o primeiro segmento cresceu 3,5%, enquanto o segundo recuou 0,6%.

Dados da ACSP/BVS, com base nas consultas efetuadas em agosto, apresentaram alta de 5,1% no crediário com relação a julho, porém ficando 3,1% abaixo do patamar alcançado no mesmo mês de 2013, enquanto as vendas à vista ficaram praticamente estáveis, tanto no contraste mensal como em termos de agosto do ano passado.

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A confiança do consumidor, medida pelo Índice Nacional de Confiança (INC), calculado pelo IPSOS para a ACSP, registrou queda de 2,1% em relação ao mês anterior, embora mostrando estabilidade na comparação anual.

A taxa de inadimplência, medida pelo Banco Central, que sinaliza o nível de atraso no crédito bancário (incluindo o crédito consignado), manteve-se em 4,3% em julho, enquanto no caso das vendas do varejo, os atrasos no pagamento registrados em agosto também continuaram estáveis em 4,6%.

Finalmente, a prévia do PIB do Banco Central (IBC-BR) de julho mostrou recuperação na comparação mensal, com alta de 1,5%, excluindo-se os efeitos sazonais. Contudo, no contraste com o mesmo mês de 2013 registrou queda de 0,2%, enquanto no acumulado do ano sinaliza estabilidade com alta de apenas 0,1%.

Em síntese, os dados do segundo semestre não mostraram uma “volta à normalidade”, pois o conturbado início da campanha eleitoral aumentou as incertezas sobre as diretrizes da política econômica a partir de 2015, o que tende a postergar as decisões de consumo e investimento. No tocante à inflação, esta deve seguir “resistente” e muito próxima do limite máximo de tolerância anual, pois sofrerá o inevitável efeito do “realinhamento” dos preços administrados pelo governo, que foram “represados” no passado (energia, gasolina, câmbio, etc).

3. Finanças Públicas

Durante o mês de julho, de acordo com o Banco Central, as finanças públicas brasileiras voltaram a acumular vários recordes negativos. Por terceiro mês consecutivo o Governo consolidado (União, Estados, Municípios e Estatais) apresentou excesso de despesas não financeiras em relação às receitas (déficit primário), que alcançou a R$ 4,7 bilhões. A deterioração das contas públicas também alcançou aos governos estaduais e municipais, que registraram déficit primário de R$ 2,2 bilhões durante o mesmo período.

O resultado acumulado durante os primeiros sete meses do ano registrou excesso de arrecadação sobre gastos sem incluir os juros da dívida (superávit primário) de R$ 24,7 bilhões, o que representa queda de 55,0% em relação ao mesmo período de 2013 e menos de 25% da meta anual de R$ 99 bilhões, superando o mês anterior no quesito pior resultado desde que essas estatísticas fiscais são medidas pela autoridade monetária.

A contínua deterioração das contas públicas segue concentrada no Governo Central (Tesouro, Banco Central, INSS), cujo crescimento dos gastos nos primeiros sete meses do ano (10,5%) continuou superando o aumento da arrecadação (6,8%), segundo dados do Tesouro Nacional.

Como é habitual nos últimos anos, a expansão das despesas concentra-se em itens correntes, não ligados ao investimento público, basicamente em infraestrutura, que nos últimos dois anos permanece estagnado em 4,4% do PIB, apesar do notório “relaxamento” da política fiscal. A consequente perda de “qualidade” do gasto governamental é mais um fator a contribuir para a redução da possibilidade de crescimento futuro do país, que hoje encontra-se no minguado intervalo de 1,0% a 1,5%.

Para completar esse cenário desalentador, o governo continua lançando mão de uma contabilidade cada vez mais “criativa”, incluindo além das receitas extraordinárias de concessões, programas de parcelamento de dívidas tributárias e dividendos de estatais, o

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adiamento de repasses do Tesouro aos bancos estatais para o pagamento de benefícios e subsídios (a chamada “pedalada”), além da destinação de despesas para pagamento no próximo exercício (“restos a pagar”).

Ainda assim, estima-se que será praticamente impossível o cumprimento da já reduzida meta de superávit fiscal primário anual, equivalente a 1,9% do PIB. A “anêmica” expansão da atividade econômica e as renúncias fiscais deverão limitar a capacidade de arrecadação, frente a despesas públicas que, tudo indica, manterão sua atual trajetória de excessivo crescimento, aumentando o endividamento público e a possibilidade de redução da avaliação da economia brasileira, como recentemente sinalizou a Moody's, uma das principais agências de classificação de risco do mundo.

4. Setor Externo

Em agosto, a balança comercial teve um superávit de US$ 1,2 bilhão, resultado de exportações de bens no valor de US$ 20,5 bilhões menos importações de US$ 19,3 bilhões. Apesar de ter sido o pior resultado no mês, desde 2001, esse saldo positivo reverteu a posição negativa (deficitária) no acumulado do ano, totalizando, no período janeiro a agosto, um superávit de US$ 249 milhões, com exportações de US$ 154,0 bilhões e importações de US$ 153,8 bilhões.

No entanto, o comércio exterior continua praticamente estagnado, pois até agosto deste ano estas foram, respectivamente, 0,5% e 3% menores do que os valores registrados nos mesmos meses do ano passado. E, não fossem contabilizadas nos últimos meses, a venda fictícia para o exterior de duas plataformas de petróleo, que não saíram do país, no valor de US$ 2,0 bilhões, o resultado da balança comercial seria um déficit de US$ 1,7 bilhão até agosto. Essas operações são realizadas pelos vendedores desses equipamentos para obterem vantagens fiscais e preços menores de aquisição pelos compradores, no caso as subsidiárias da Petrobrás. De qualquer forma, os dados registrados na balança comercial devem ajudar um pouco a reduzir o saldo negativo das contas externas do país.

O déficit da conta transações correntes do balanço de pagamentos (exportações menos importações de mercadorias e serviços), entre janeiro-julho, caiu de US$ 52,1 bilhões, em 2013, para US$ 49,3 bilhões, neste ano, destacando-se os gastos líquidos com remessas de lucros e dividendos e viagens internacionais nos valores de US$ 14,1 e US$ 10,5 bilhões, respectivamente, no período. A entrada de capitais estrangeiros diretos, recursos destinados a investimentos produtivos, foi de US$ 35,2 bilhões, representando apenas 71% da cobertura do déficit em transações correntes. O restante foi preenchido pela entrada de recursos financeiros do exterior aplicados no mercado de capitais, em títulos de renda fixa e ações. Nos últimos doze meses a conta transações correntes acumulou um déficit de US$ 78,4 bilhões, equivalentes a 3,4% do PIB, resultado abaixo da previsão do Banco Central para este ano, estimado em US$ 80,0 bilhões.

No tocante ao mercado de câmbio, a saída de dólares do país superou a entrada em US$ 3 bilhões durante o mês de agosto. Esse fluxo cambial negativo deveria normalmente provocar perda do valor da moeda nacional pela maior demanda da moeda americana. No entanto, a taxa cambial fechou o mês valendo R$ 2,24, correspondendo a uma desvalorização da moeda americana em relação ao Real de 1,2%, em agosto, e de 5,6%, nos últimos doze meses. A apreciação da moeda brasileira decorre da estratégia do Banco

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Central de suprir o mercado de câmbio diariamente com contratos de swap cambial, operação que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. Na prática esses papéis são emitidos em reais, o Banco Central assume o risco cambial e os investidores se protegem da variação do dólar. Desde que essa estratégia de leilões diários foi adotada, e que deverá perdurar até o final do ano, o Banco Central já ofertou no mercado cerca de US$ 95 bilhões. Essa atuação do governo, para impedir que o aumento dos preços dos produtos importados cause mais pressão sobre a inflação, acaba prejudicando o comércio exterior e, consequentemente, a busca do equilíbrio das contas externas do país.

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Indicadores de Conjuntura Selecionados:

Variação Acumulada 2014/2013 (%) Crédito à Pessoa Física 5,3%(1)

Inflação – IPCA 6,5%(1)

Produção Industrial -3,6%(2)

Vendas do Varejo -0,9%(2)

Receitas Governo Central 6,8%(3)

Despesas Governo Central 10,5%(3)

Exportações -0,5%(4)

Importações -3,0%(4)

Taxa de Câmbio -5,6%(5)

Fonte: IBGE, Banco Central, STN, MDIC/SECEX, IEGV/ACSP. (1) Variação acumulada em 12 meses.

(2) Variação julho 2014 – julho 2013.

(3) Variação janeiro-julho 2014 – janeiro-julho 2013. (4) Variação janeiro-agosto 2014 – janeiro-agosto 2013. (5) Variação agosto 2014 – agosto 2013

Referências

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