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Televisão e Identidade no Quilombo de Itamatatiua 1

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Academic year: 2021

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Tele vi sã o e Iden tida d e no Q uilo mbo d e Ita ma t at iua1

Wes le y Per eir a G RIJ Ó 2 Kar la M ar ia M UL LE R3 Ro sa M ar ia BE RA RDO4

Univer sid ad e F ed eral d o Rio Grand e do Su l, P or to Ale gr e, RS

RESUMO

O ar t igo ab o rd a a r elação q u e famílias d o q u ilo mb o d e Itamatat iu a, no int er io r d o estad o M ar anh ão , m ant êm co m tele visão . A na lisam - se as med iaçõ es o r iu nd as d o p ro cesso d e recep ção d a tele visão . O o b jet ivo ger a l é exp lo rar a re lação ex istent e entr e a id ent id ad e cu ltu r al d e Itam atat iu a, m an ife stad a em certa s p r áticas e va lo r es cu ltu r ais, e o p ro cesso d e r ecep ção te levis iva. A p esq uisa so b r e a r ecep ção d a T V em Itam atat iu a r e velo u q u e a id ent id ad e c u ltu r al d esse q u ilo mb o o p er a med iaçõ es sign ificat ivas na re cep ção d a T V, fu ncio n and o co m o sistem as d e r efer ên cia, a p art ir d o s qu ais a me nsa gem te levis iva é co nsu m id a e int er p r etad a.

PAL AVR AS- CHAVE : T e levis ão ; Recep ção , Id entid ad e; M ed iaçõ es; Cu ltu r a.

INT RO DU ÇÃO : O CO NT EXTO EM PÍ RICO DA PESQU ISA

A co mu nid ad e d e Itamatat iu a ( p ed r a, p eixe e r io , na lín gu a ind í ge na) o u T amatat iu a, lo c alizad a no m u nicíp io d e Alc ântara, no no r te do estad o d o M ar anh ão , está in ser id a na c ate go r ia d e "terr as d e p reto s" e "terr a s d e sa nto ". I sso se d e ve p o rqu e, d ifer entem ente d e o u tro s “q u ilo mbo s”5, It am atat iu a não fo i u m a co m u nid ad e su r gid a exc lu s ivam ente p e lo s ch amad o s "escr avo s fu jõ es". As t er r as têm co mo p ad ro eir a Sa nta T er esa d 'Áv ila e, p or esta r a zão , é co ns id er ad a u ma

1 Trabalho apresentado no GP Comunicação e Desenvolvimento Regional e Local, X Encontro dos Grupos de

Pesquisas em Comunicação, evento componente do XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

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Doutorando do PPGCOM da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Bolsista Capes. Email: wgrijo@yahoo.com.br.

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Docente do PPGCOM da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Email: kmmuller@adufrgs.ufrgs.br.

4 Docente do PPGCOM da Universidade Federal de Goiás. Email: rosa@rosaberardo.com.br. 5

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"terr a d e santo ", co mo o u tr as exis tente s n o M ar anhão .

Dad o s o ficia is p r odu zid o s a p ar tir d e relató r io s d a So cied ad e M ar an hen se d e D ir eit o s Hu m ano s ap o ntam qu e Itamatat iu a teve o rig em co m a d esagr egação d e u ma antiga f az end a es cr a vista p er ten ce nt e à Or d em Car melita. Os negro s r esid ent es na lo ca lid ad e são d escend entes do s ant igo s c amp o neses ne gr o s q u e ali m o ravam. Po r isso , as p es so as se au to d eno minam co mo o rig in ár io s do s “p r eto s d e Santa Ter esa”, d eno minação p ela a q u al tamb ém são so cialm ente r eco n hec id o s. Ho je, o ce ntr o d a co mu nid ad e é co mpo sto p o r cer ca d e 80 fam ília s q u e viv em tam b ém d a agr icu ltu r a d e su b sistê ncia e d a pr od u ção d e far inha , ma nd io ca e milho .

Co m a intr o du ção d a ener gia elétr ica em Itam at at iu a, há cer ca d e 10 ano s, a p artir d o Pro gr am a Fed er al “Lu z Par a T od o s”, o s m o r ad o res pud er am ad q u ir ir telev iso r es p ar a seu s lar es, o qu e se p rop ago u r ap id amente p e la co m u nid ad e. Atu alm ent e, p od emo s ver if icar q u e q u ase tod as a s casas p o ssu em tele viso res e, em m eno r q u antid ad e, ap arelho s d e r ád io . Ago r a, ess e é o atu al co ntex to co mu nicacio nal em I tamat at iu a, ou se ja, aq u elas p esso as estão v ivend o as c ham ad as m ed ia çõ es co m u nic at iva s d a cu ltu ra, co nfo r me o p ensame nto inicia l d e M ar tín-Bar b er o (19 87 ) e q u e po sterio rm ente fo ra r efo r mu lad o .

Fo i a p ar tir d o co nceito d e m ed iaçõ es q ue a r ecep ção p asso u a ser co nceb id a co m u m a r elação d iret a e ntr e d u as po ntas. É p o r meio d as med iaçõ es - q u e são vári as e ap r es entam var iaçõ es, co nfo r me m u d am o s co ntexto s co mu nicacio n ais - q u e se p ro du z o se nt id o , send o esse ncia l es sa co n cep ção p ar a se co mp r eend er co mo o co rr e esse p ro cesso na co m u nid ad e d e Itam atatiu a.

TELEVISÃO, F AMÍL IA E IDENT IDADE NEG RA

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u ma co mu nid ad e qu ilo m b o la. No sso estudo se pr opõ e analis ar , a p ar tir d a r ecep ção , o s u so s so ciais d a telev isão naq u ela co mu n id ad e, p ar tind o do f lu xo te levis ivo , p ara p er ceb er as co ns tru çõ es s imb ó lic as re fer ent es à id ent id ad e cu ltu ral. Co ntu d o, to mam o s a f am ília co m o inst itu ição p ar a se ob ser var e ss e fenô me no , p o is co nsid er am o s q u e esta inst itu ição é a m ais p r esente no co tid iano d e Itamatat iu a, send o tam b ém o lo cal o nd e a d issem ina ção d a cu ltu r a negr a lo cal o co r re d e fo rm a m ais exp líc ita.

Par a esta p esq u isa, o p tamo s po r fazer u m a aná lise d a recep ção d a telev isão nu m se nt id o mais amp lo e não no s p r end end o em p ro gr am as esp ecí f ico s, p o is tent amo s valo r izar o qu e o s mo rado r es d e Itamat at iu a esp o nta ne ame nt e ap rese nt ar am co mo signif icat ivo p ar a ele s, e não esco lhem o s, d e fo r ma ar b itrár ia, u m p ro gr am a co nsid er ad o im po r tante no co tid iano d e r ec ep ção d aqu elas p esso as. E ssa p o stu r a teó r ico -meto do ló gica d e ve- s e p o r q u e co nsid er amo s qu e o sent id o atr ib u íd o às me nsa ge ns p elo s ind ivíd u o s ad vém d a leit u r a co ntí nu a, o u seja, r ep etição d iár ia d o s p ro grama s; e co ntí gu a, q u e é a su ces são d e p ro gr am as, d o f lu xo te le visu al, p o is é o f lu xo te levisu al qu e faz se nt id o p ar a o r ecep to r. ( RONS IN I, 20 00 )

Pelo p ensamento d e M ar tín- Bar b er o (1 987 ; 2 0 02 ; 2 0 03 ), a r ecep ção é u m m o mento d o co nsu mo cu lt u ral, se nd o este u m a cate go r ia qu e ab arca o s p ro cesso s d e co m u nic ação e r ecep ção do s b ens s imb ó lico s. As s im , d escar t a o a xio ma d e q u e a recep ção se co nstitu i so m ent e em u ma r elação d ir et a e ntr e d o is p ó lo s d ist ante s: o p r odu to r e o re cep to r . A r ecep ção é vista aq u i co mo u m p ro cesso d e p ro du ção d e sent id o atr avés d as med iaçõ es.

Des sa fo r m a, o p ro cesso d e co m u nicação d eve s er p ensad o sob u m no vo p r isma, este nd e nd o as r ef lexõ es d o camp o co mu nicac io na l a p ar tir d as p rática s cu ltu r ais. Co m is so , ess a co nc ep ção d e co mu nicação co nsiste em r ecr iar, exp lo r ar e ap ro fu nd ar o estu do não só atr avés d o s meio s, m as se vale nd o p ar a is so do camp o d a cu ltu r a. ( OROZ CO, 1 999 )

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d aq u ele q u ilo m bo a p ar tir d as med iaçõ es co mu n icat iva s d a cu ltu r a. O qu e no s le va a co ns id er ar a neces sid ad e d e u m no vo m ap a qu e d ê co nta d a co m p lex id ad e d as r elaçõ es co nst itu t ivas d a co m u nicação na cu ltu r a. Ap esar d e fo carm o s no sso estu d o na re cep ção , so mo s c ient es d e q u e o s meio s se co nst itu em u m esp aço cha ve d e c o nd ensação e inter secção d a p rodu ção e d o co nsu mo cu ltu r al, ao mesmo temp o em qu e catalis am algu mas d as m ais int ens as r elaçõ es d e pod er . (M ar tín- Bar b er o , 20 02 )

Pen sa mo s a r ecep ção a p ar tir d a co nst it u ição d as id ent id ad es em Itam atat iu a, o u seja, a r e lação co m a tele visão atra vés d e r e laçõ es id ent itár ias n a r ec ep ção d o s p ro gr am as. S end o qu e esta r ecep ção é fe ita a p ar tir d e u m ento r no cu ltu r al p au tado po r u m co nte xto d e co m u nid ad e qu ilo m b o la, co m u m a o rig em histó ric a b astante sin gu lar , co m a fo r te p r esença d a o r alid ad e no p ro cesso d e comu nicação lo cal, e p o r fim , co m u ma r elação étn ica d e valo rizaç ão d e asp ecto s do fenó t ico b r anco em d etr ime nto d a co smo vis ão africana6.

Nes se p o nto , su rge a no ção d e id entid ad e étnica, no ca so a qu ilo m b o la, co m imp o r tante fato r p ara se co mp r eend er a relação q u e as p esso as m antêm co m a t e levisão . Co ntu d o , em Itam atat iu a, p o r p o ssu ir u m co nte xto histó rico , cu ltu ral e id ent itár io b em esp ecíf ico essa q u estão d eve s er ana lisad a a p ar tir do q u e eles d ef inem co m o send o a id ent id ad e lo ca l.

A TEL EV ISÃO EM IT AMA TATIUA

E m Itam atatiu a, a te le visão se co nst itu i c o mo a p r inc ip al med iação qu e as p esso as d a co mu nid ad e têm co m o qu e se p assa e xter name nt e ao qu ilo m b o . Assim, co nsid er am o s q u e a r elação d o s m or ado res d essa co m u nid ad e co m a televis ão segu e o p ensam en to q u e afir m a s er a T V a p r incip al med iação cu ltu r al d a co ntemp o raneid ad e ( M ART IN -BAR BE RO, 2 002 a) . Para aqu elas p es so as, qu e vivem u m co ntexto

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d istinto d e p r aticame nte tu do o q u e assis tem p ela T V, o co tid iano to ma mais sent id o a p ar tir do mo mento qu e m antêm co nt ato co m o u tras r ealid ad es qu and o ligam o ap ar elho d e televis ão .

Par a aq u ele q u ilo m bo , o nd e a tr ad ição o r al m antém a ind a inf lu ência no co tid iano d as p esso as, co nsid er amo s q u e a televis ão instau r a m o do s p ró p rio s d e co ntar h istó r ias , co m u m a nar r at iva p ar ticu lar . Is so não q u er d izer q u e ne gam o s o s gê nero s tele visivo s co mo imp o rtantes na instau r aç ão d e nar rat ivas no q u ilo m bo , po is s ão d eter mina ntes p ar a a r ecep ção em Itamat atiu a, h aja vista, ato s d e co ntar histó ria e stão imb r icad o s na m ensa gem tele visiva. Co m isso , po r u ma qu estão teó r ico - meto do ló gica, q u er emo s enf atiz ar o s mo do s d e ver , as fo r mas co mu nicac io nais e a p o stu r a do te lesp ectad o r q u e, no no s so p ensame nto , co nstr o em as p ar ticu lar id ad es d essa nar r at iva no co ntexto cu ltu ral d o qu ilo mb o p esq u isad o .

Par a u ma lo calid ad e em q u e as nar r at ivas r ep r esentam m u ito a id ent id ad e cu ltu r al, a mensa gem telev isiva po ssu i e lem ento s qu e mantêm em algu ns asp ecto s d o ant igo co nte xto , o u seja, a te levis ão não exclu i d efinit ivam e nte o co ntexto d e o r alid ad e a q u e aqu elas p esso as estão aco stu mad as. I sso o co r r e p or qu e a mensagem tele visiv a ap e la a va lo res, se nt im e nto s e emo çõ es d o co tid iano . Os mo r ad or es d e Itamat at iu a ma ntêm co nt ato co m p er so nag ens saíd o s d e u m pr etenso “r eal”, e qu e mesm o p ar a u m a co mu nid ad e d ista nte d o ce ntr o d e p rod u ção televis iva, es se “co t id ia no ” é ap r o ximad o no mom ento em q u e assistem ao s p ro gr am as d e TV.

Co m is so tu do , qu eremo s d izer q u e, apesar d a ima gem ser u m elemento es senc ial na me nsa gem tele visiv a, a o r alid ad e a ind a se fa z p r esente, p o is o so m , as f alas, as narr ativas s ão d e fu nd am ent a l imp o rtância p ara a tele visão m anter ví ncu lo s co m su a aud iênc ia. Não pod emo s esq u ecer aind a q u e, enq u anto tec no lo g ia, a t elev isão , d e cer ta fo r ma, é u m r ád io acr esce nt ad o d e imag ens, a d ifer enç a é q u e este faz co m q u e su a mensa gem c he gu e ao pú b lico atr avés u nicam ente d e so ns, enq u anto a televisão tem, além d o so m, o r ecu r so d as ima gen s.

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são fu nd ame ntais p ar a a co mp reens ão d essa m en sa gem em to do s o s seu s se nt id o s. E ssa o r alid ad e é co nsu b stanc iad a no s d iálo go s, na d iscu ssão d e d iverso s p er so na gen s, na tro ca d e id éias, va lo r es, in fo rm açõ es entr e d o is p er so na gen s, no d iálo go so lit ár io d o s q u e exp rim em a vo z co mo p ensame nto .

E m Itam atatiu a, o s laço s fam iliar es aind a são mu ito fo rtes, send o a famí lia u m fato r im p o r tante n as m ed iaçõ es d a r ecep ção televis iva. As s im , nu m a lo calid ad e co m po u cas op çõ es d e d iver são , a te levisão to r na- se a p r in cip al fo rm a d e lazer d as f am ílias. O f ato d e ser co nsu m id a, so b r etud o , d entro d as resid ê nc ias fo i f u nd am ent a l p ar a co nso lid ar a r elação q u e o q u ilo m bo mantém co m ess e meio d e co mu nicação .

No q u e d iz r esp eito à geo gr af ia d as cas as, a t e levisão o cu p a u m esp aço no b r e n a s ala, se nd o na m aio r ia d o s lar es o p r inc ip al o b jeto do m éstico . E m p r aticam ente to d as as cas as, o ap ar elho d e televis ão está situ ad o d e fo r ma a ser a p r im eir a co isa o b ser vad a ao entr ar nu ma mo r ad ia d e Itam atat iu a. T em o s q u e enf at izar aind a q u e o im ó ve l o nd e a telev isão est á lo calizad a se co nf igu ra co m o r esu mo d e tod as as fo rm as d e r ep r esentação d a co mu nid ad e: além d o apar e lho d e te levisão , g er alm ente há u m ap ar elho d e rád io , d e DVD, b o necas - b ranca s - vest id as co m r oup as d e lu xo , im age ns d e sa nto s ( sant a T eresa d ’Ávila, S ão Bened ito ou Sant a M ar ia), cer âm ica s fe it as na co mu nid ad e, o r nam e nto s, f lo r es , etc. No gera l, tu do fica m u ito p ar ecid o a u m altar e, ne ss e p o nto , tem o s qu e levar em co ns id er ação a gr and e r elig i o sid ad e cat ó lica d o qu ilo m b o .

No sso s trab alho s d e cam p o , co m ob serv açõ es e entr ev istas co m o s mo r ado r es, no s m o str aram q u e p ar a aq u ela s p esso as, co m a p r esenç a d a telev isão d entr o do s lare s, não é p r eciso sair d e casa p ar a estar em co ntato co m ou tro s mo do s d e vid a, co m o u tr as r ealid ad es e mu nd o s. Co ntu do , to d a essa me nsage m telev isiva é reint er p r etad a a p ar tir d o qu e M ar tín- B ar b er o (20 03 ) co nceitu a co mo co m p etênc ia cu ltu r al7, o u seja, em Itam atat iu a, as p esso as r eco nhe cem o s mú ltip lo s te xto s p ro du zid o s p ela telev isão , ativa nd o su as co mp etên cias cu ltu r ais.

7 Com o atual pensamento de Martin-Barbero, essas questões devem ser refletidas por categorias como identidade,

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No qu e tange à s nar r at iva s d a telev isão , não pod emo s d eixar d e fr is ar qu e este med ia , po r su a p ró p r ia natu r eza, d á d estaqu e p ara a ima gem : m ais d o q u e o mu nd o d as co isa s co nt ad as, co mo o co r re co m o r ád io , é p r imo rd ialme nt e en fat izad o o mu nd o d as co isas q u e pod em ser vistas. Co ntu do , ap esar d essa p r eva lênc ia d a imagem, a tele visão co lo ca em cena, p ar ticu lar id ad es d o d iálo go e d a co m u nic ação o r al.

Nu m p ar alelo ao co ntexto d e nar r at ivas em Itam atat iu a e o d iscu r so d a t elevis ão , po d em o s b u scar no p ens am ento d e M ar tín- Bar b ero ( 2001 ) u ma refle xão so b r e isso , p ar a q u em o d iscu r so tele visivo le va à r ep r esentação d e r itu ais d e ação e a cod ific ação d a exp er iênc ia, imp o ndo u m u niverso r egu lad o p ela b ip o lar id ad e entr e v ilõ es e h er ó is, co m a gr am át ica fra gm e ntad a d o m eio .

AS MED IAÇÕ ES DO CO TID IANO : A F AMÍLI A

Par a est e tr ab a lho em Itam atat iu a, to m am o s a id e ia d e famí lia ad o tad a p or Silver sto n e ( 1 99 6 ), ou seja , u ma u nid ad e d e r ep rodu ção se xu a l, u m gru p o d e ação e d e so lid ar ied ad e, fo nte d e aju d a m ater ial e d e id ent id ad es e co o rd enas so c iais b ásicas. Par a u m a co m u nid ad e trad icio nal co m o Itamatat iu a, co ns id er am o s qu e a família é u m s ist ema d e r elaçõ es q u e se mod if ica ao lo ngo d o s temp o s.

Ass im, ne ss e p o nto é im p o r tante re ssalt ar o p ap el d es sa institu ição co m o r esp o nsável p o r d o tar as p esso as d e u ma m atr iz e id ent id ad e e d e r eco nhe cime nto , send o ao m esmo temp o um amb ie nt e d e cr is es e ten sõ es. Isso se d eve p o rqu e a cu ltu r a d a famí lia é feit a a p art ir d a r elação intr agr u p al e d o gru p o fam iliar co m a so cied ad e, no ca so d e Itamat at iu a, co m a co mu nid ad e. Segu nd o Lop es; Bo r elli; Rese nd e ( 2 0 02 ), esse p ensame nto é im p o r tante p o r qu e é d entr o d a família q u e se fa z a fo r mação d as id e nt id ad es cu ltu r ais b ás ica s q u e vão co nstitu ir as p r incip ais m ed iaçõ es d entr o d ela, se nd o elas : a p o sição d entro d o gr u po, o sexo e a id ad e.

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inser id o na vid a cu ltu r al glo b al. E nes se p o nto , é imp or tant e sa lientarm o s q u e gr up o s fam iliar es co m o o s d e Itamatat iu a d ese nvo lv em tát ica s d e r esistênc ia e d esco b r em fo r m as p ar a cr iação e a su b ver são d a o rd em estab elecid a. E ss a q u estão é imp o rtante p ar a se e ntend er co mo aq u elas p es so as reap r op riam o s b ens sim b ó lico s o r iu nd o s d a televis ão a p ar tir d e seu s co nte xto s d e inter ação .

Par a esta p esq u isa, ente nd emo s o gru p o fam iliar co mo u m esp aço so cial, u m esp aço cu ltu r al e co mo u m esp aço d e m ed iação d as me nsage ns d a T V. E ste ú ltimo se d ev e p o r q u e a t elev isão é atu alm ente p ar te imp o rtante d a v id a fam iliar , em vir tu d e d a inco rp o ração qu e as f am í lias fazem d ela em seu s co tid iano s.

Par a a p esq u isa co m as famí lias d e I tam atat iu a, levamo s em co nsid er ação q u e o co tid iano d elas d e ve ser v isto leva nd o -se em co nt a tam b ém a e str u tu r a eco nô mica e o p o r te d a co mu nid ad e em q u e vivem , no caso , u m qu ilo m b o no int er io r d e u m estad o do no rd este. Segu nd o Jacks ( 1 99 9) , essa q u estão é im p o r tante p o rqu e o co tid ia no est á em gr and e m ed id a co n fo rm ad o por esses fato r es.

Na co m u nid ad e estu d ad a, po r exemp lo , o d ia- a- d ia aind a não po ssu i a m esm a mo vim enta ção co m o a qu e p resenc iamo s na s cid ad es d e p eq u eno , méd io e gra nd e po r tes. Is so po r qu e a lo calid ad e é co ns id erad a, atu alme nte, u m po vo ado p er tence nte ao mu nicíp io d e Alcân tar a - M A, mesm o as “ter r as d a sant a” s e este nd e ndo até ou tro s d o is m u nicíp io s ( Beq u im ão e Peri- M ir im) . Co m a aind a p ou ca mo vim ent ação no qu ilo m b o , as fam í lias p o ssu em tem p o su ficiente p ara a co nvivê ncia entr e seu s m em b r o s e d estes co m ou tr as famí lias, haja v ist a q u e gr and e p ar te do s gr u po s fam iliar es p o ssu i p ar entesco entr e s i.

Co m pou cas o p çõ es d iárias p ar a d iver sã o , a m aio r ia d as p es so as co nso me a te levis ão e, em p eq u ena q u ant id ad e, o r ád io . T al s itu ação fo r talece a co n vivê ncia fam iliar, m esmo qu e não se ja p o r op ç ão d o s mo r ado r es do q u ilo mb o .

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co nst itu em. P ar a J ac ks ( 1 9 99 ), o co nhe cim e nto d aqu ele co tid ia no no s leva a to m ar ciênc ia d a cu ltu r a o nd e ela se co ncr et iza, n as p r át icas e po stu r as do s ind ivíd uo s o u gr u po s. É nes se d ia -a- d ia t amb ém q u e as institu içõ es b ásicas, d e u ma for ma ou d e o u tr a, estru tu ram o campo cu ltu ral, co mo a igr eja, a esco la, o s m eio s d e co mu n ica ção d e massa, entr e o u tr as.

No caso d este no s so estu do , qu e bu sca a p artir d a r ecep ção d a telev isão ana lisar est a q u estão em Itama t atiu a, é es se ncia l se co nhecer o co tid iano do s r ecep to r es, send o isso feito a p ar tir d a cap tação d e cer tas p r áticas d e seu co ntex to . De fo rm a p r átic a, f izemo s vis itas ao s gr u p o s d e famí lias se lec io nad o s, ad entr a nd o seu s la res, seu d ia -a- d ia. O co tid iano d as famí lias fo i estu d ado sep ar ad ament e, o qu e no s p er m it iu u m envo lvim e nto mais p ró ximo d elas p ara melho r ap r eensão d e seu s co ntexto s.

Du r ante no sso co ntato co m as fam í lias, pu d em o s ver if icar q u e o co tid iano está fo rteme nte d eter m inad o p ela so b r eviv ênc ia, se nd o qu e o trab alho lhes o cu p a a maio r p ar te d a r o tina d iár ia. Os ad u lto s p ass am a maio r p ar te d o d ia no tr ab alho : o s ho me ns na lavo u r a ou na “r o ça”; já a maio r ia d as m u lher e s p o ssu i u m a r o tin a d ivid id a entr e a lavo u r a, a p rodu ção d e cerâmica e a as tar e fas d o mést ic as. A lgu m as cr ianç as a lém d e p assar em p ar te do d ia na esco la aind a aju d am o s p ais.

A at ivid ad e p r od u tiva p rincip a l d o qu ilo m b o é a p rod u ção d a cerâm ic a fe ita p elas m u lhere s d a ass o ciação . E m segu id a, vem a agr icu ltu r a d e sub sistê nc ia. Nas ú lt im a s d écad as, as p esso as id o sas p assar am a r eceb er au xí lio d a Pr evid ênc ia So cial, o q u e injeto u em q u ase tod o s o s gr u po s fam iliar es u m salár io mínim o a m ais na r end a m ensal.

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em ver t elev isão e int er a gir co m o s viz in ho s. N o s f inais d e sem ana, essa r o tina p r aticam ente não se a lter a. Qu alq uer mo d ificação ne ss e c enár io só o co rr e no s mo m ento s d e fest iv id ad es.

Des sa fo r m a, p ara o s gr u po s familiare s estu d ado s, a televis ão o cu p a p r imo rd ia lme nte o esp aço do lazer , sem faz er q u alq u e r d ist inção entr e o s gênero s tele visivo s. T o do s em a lgu m mo m ento d o d ia ass ist em à telev isão8, se nd o atu alm ente a p r inc ip al fo nte d e in fo rm ação d as p es so as. O co nt ato co m ou tras fo r mas d e in fo rm ação co m o jo rnais e r evistas é p r aticam e nte ine xist e nte, o co rr end o so ment e qu and o viajam p ar a a sed e do m u nicíp io o u p ara a Cap ita l d o E stad o e r eto r nam co m exem p lar es d e p er ió d ico s r egio n ais.

A RECE PÇ ÃO E AS ME DI AÇÕES EM ITAMATA TI UA

Co m a p resenç a d a te levis ão no co tid ia no d as f am í lias d e Itam atat iu a, no vas fo r mas d e lazer e co n hec ime nto fo r am intr o d u zid as naq u ele q u ilo m bo . Se antes as p es so as er am m ais ligad as à tr ad ição o r al transm it id a, p r inc ip alm ente, p elo s a nciõ e s, co m a t elev isão , o co n hec ime nto , o s mod o s d e ver o mu nd o etc, fo r am acr es ce nt ad o s co m o qu e eles têm co ntato ao ass ist ir à te le vis ão . Co ntu do, o co ntexto cu ltu r al d e Itamatat iu a m antém gra nd e re lação co m a p r esença d a m ens agem telev isa.

Segu nd o p u d emo s o b ser var, ao aco m p an har mo s gr u p o s fam iliar es9 no m o mento em qu e ass ist iam ao s p ro gra mas d e T V, a id entid ad e cu ltu r al d e Itam ata tiu a fu ncio na e m mu ito s mo mento s co mo u ma gra nd e m ed ição atr avés d a q u al as p esso as, co m o telesp ectad o r as, int er agem co m a me nsa gem d a t elev isão . As sim , verif ica mo s qu e mesm o co m a fo r te p r esença na vid a d as p esso as d as im age ns qu e a T V p ro p icia, a s fam í lias

8

O r ád io se f a z p r e sent e pr i n c ip a lm e nt e p a r a s e ou vir m ús ic a s, s e m a ne c es s id a de de s e obt e r i nf o rm aç ã o ou c onh ec i m e nt o.

9

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d aq u ele q u ilo m bo p r eserv am a re laç ão com a tr ad ição o r al, co mo fizer am ou tro r a; entr eta nto , co m m eno s fo r ça, p o is ago r a d ivid e esp aço co m a nar r at iva ima gét ic a d a telev isão .

Ao mant er m o s co ntato co m o co tid iano d as f am í li as, d u r ante a r ecep ção d a TV, ver if icamo s q u e as med içõ es m ais lat ente s p ar a a r ecep ção d a mensa gem te le vis iva são : o esp aço do méstico ( fam í lia) , a r eligio s id ad e e o s laço s co mu nitár io s (q u ilo mb o la) . E ntr eta nto , d entr e es sa s m ed iaco es é a famí lia q u e po ssu i m aio r pod er d e co ntr o le d e qu estõ es co m o co nsu mo , co mp o r tamento s do s filho s, et c.

Ver ificam o s aind a q u e a id ad e d as p esso as t amb ém é u m imp o rtante elem ento d e m ed iação d a r ecep ção d a T V. E m co mu m, em tod o s o s caso s, está a op inião d e qu e o co ntato co m a televisão ser ve p ar a trazer mais co nhecim ento so b re o qu e o co rr e for a d o q u ilo mbo , d eixand o a to do s cien tes d o q u e aco nte ce em o u tr as p ar tes d o p aís e d o mu nd o.

Par a o s gr u p o s fam iliar es estu d ad o s, o ato d e ver te le visão é u m eve nto marcante, no qu al b o a p arte d a fam í lia e am igo s se r eú ne p ar a escu tar e ver o s p ro gramas. Há o sent id o d e co mu nhão : a T V é tamb ém u ma u nific ad o ra e inte gr ad o r a do s esp aç o s so ciais o cu p ad o s e vivid o s p elo s telesp ectad o res. Na s en tr e vistad as, é co mu m a o p in ião d e qu e a p ar tir do mo mento qu e as fa mí lias d o qu ilo mb o p assaram a ter te levis ão , seu s memb r o s co meçaram a f icar ma is t emp o d entr o d e casa. Par a o s gr u po s fam iliar es, e ss e iso lame nto e ntr e as p es so as não é visto co mo algo tão p r ejud icia l à so ciab ilid ad e do q u ilo m b o.

Nes sa co mu nid ad e, o nd e a ener gia e létr ica só p asso u a f az er p ar te do co tid iano d as fam í lias há cer ca d e u ma d écad a, a te levis ão é co nsid er ad a co mo u m do s fato s m ais m ar ca ntes o co r rid o s no s ú ltim o s ano s. As p esso as, inc lu s iv e, lem b r am d etalh ad amente o mo mento em qu e as casas p as sar am a t er o ap ar elho d e T V, ou m esmo a p rim eir a ve z em qu e tiver am co ntato co m a tele visão ; em a lgu ns c aso s, esse fato não o co rr eu em Itam atat iu a, mas na sed e d o m u nicíp io , em Alcâ nt ar a, o u em São Lu ís.

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na co mu nid ad e, send o q u e o ap ar elho d e T V er a ligad o à u m a b ater ia d e carr o . Pelo s meno s d u as fam í lia s t inham te leviso r es m o vid o s po r m eio d esse t ip o d e car ga.

CO NSID ERA ÇÕ ES FI NAIS : MED IAÇÕ ES QUILO MBO LAS

A b ase d e tod a esta refle xão p ar tiu d a co ncep ção d e co mu nicação co m o med iad a p ela cu ltu r a. As s im, p ud emo s aver igu ar q u e a id ent id ad e cu ltu ral d o qu ilo mbo ser ve co m p r incip al med iação d o p ro cesso d e r ecep ção d a me nsagem telev isiva. Ou se ja, no sso s r esu lt ad o s r eve lar am qu e a id e nt id ad e cu ltu r al d e Itam atat iu a, co nsu b sta nc iad a em su a co m p etênc ia cu ltu ral, é a p r inc ip al m ed iação p r esente no qu ilo mb o , se nd o r esp o nsá vel p e la assim ilação , r ejeição , ne go ciação , resis tên cia d o co nteú d o d a T V.

Ap ó s a co nclu são d o s trab alho s d e camp o , r eflet imo s co m ma io r ef icácia so b r e as r e laçõ es entr e id e nt id ade cu ltu r al, r ecep ção e te levisão . Co m isso , pu d emo s ap o ntar a id ent id ad e cu ltu ral co mo catego r ia - cha ve d e p er tenc ime nto , e tam b ém , situ a as b alizas d a d iscu s são o co nteú d o d a telev isão . A p esq u isa r ev elo u qu e a id ent id ad e cu ltu r al d e Itamatat iu a op era m ed iaçõ es sign if icat ivas n a r ecep ção d a T V, fu ncio nand o co mo sist em as d e r efer ê ncia, a p ar t ir d o s q u ais a m ensagem te le vis iva é co nsu m id a e inter p r etad a. Dess a fo r ma, o co nteú do d este med ia é int er p r etad o p ela au d iê ncia co nfo r me su a co mp etênc ia cu ltu r a l, sed im e ntad a ao lo n go d as ger a çõ es, s end o neste mo m ento r eco nfigu rad a a p ar tir do co ntato co m ou tras cu ltu r as e n o vo s co nhecim e nto s.

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E m se tr ata nd o d as med iaçõ es d as id ent id ad es cu ltu rais p r o po sta p ar a a análise e d a leitu r a do s d ad o s o b tido s, co nstatamo s q u e a televis ão alime nta algu n s co nf lito s.

A co m u nid ad e mant ém su a id e nt id ad e cu ltu r al p rescr eve nd o p r incíp io s d e o r ient ação d a co nd u ta so cial b asead a nu m a memó r ia co m u m e, co nseq u ente mente, d e p ar tilha d a cu ltu r a, o qu e na p rática é feito p ela tr ad ição o r al, p elas n ar r at ivas, p ela p ro d u ção d e cer âm ica, p ela s d anças, p ela d evo ção à santa. Co n sid er amo s qu e, em Itamatat iu a, id ent id ad e cu ltu r al se p reser va, e o s co nf lito s o r iu nd o s d o co ntato co m ou tr as cu ltu ras p od em até mesm o agu çá -la, po is aju d am, d e algu ma fo r ma, a co ns er vá - la e r eo r gan izá- la no co tid iano e na o r ientação d e tro cas d e seu s memb r o s co m o u tr as c u ltu r as. Em mu ito s asp ecto s, r es istem a q u alq u er fo rm a d e do minação , b u r la nd o , o entend im e nto qu e as f amí lia s f az em d a m ensag em te levis iva.

Po nd er am o s qu e o co ntexto o nd e o co rrem as ap r op riaçõ es d o s r ecep to r es d e no ssa p esq u isa, ou seja, o nd e se d á o sig nificad o telev isivo atr ib u ído p o r eles, é d ef inid o p ela id ent id ad e cu ltu r al, p ela co m p etência cu ltu ral. É ela q u e d elim it a o esp aço so cia l d as inter açõ es so ciais d o s r ecep to r es, b em co mo co nstr ó i a p er sp ectiv a temp o r al ad o tad a po r eles. Nesse s ent id o , o co nte xto cu ltu ral é u m fato r imp o r tante no p ro cesso d e r ecep ção . E m se tr atand o do s gru pos fam iliare s p esq u isad o s, as d inâm icas inter na s est ab elecid as in flu enc iam na r ecep ção d a T V, inf lu enciand o as d ifer en ças d e ap r op r iaçõ es e d e int er p r etaçõ es d o s co nteú d o s d a tele visão e nas med iaçõ es es tab elec id as ness e p ro cesso .

Co ns id er amo s a i nd a q u e a id entid ad e cu ltu r al d e Itam atat iu a enco ntr a - se em co nstante p r o cesso d e “co nstr u ção ” e r eco nf igu r ação . Dia nte d isso , há o s co nf lito s d e se nt id os : a lo ca lid ad e é hab it ad a p o r afr o d escend ente s co m u m co ntexto cu ltu r al a ma io r ia d as vezes d ist into d a r ealid ad e ex ib id a, to do s o s d ias, atr avé s d a telev isão , mesm o assim o s mo r ado r es do qu ilo mb o , a p artir d e su a co mp etência cu ltu r al, co nsegu em int er ag ir co m a me nsagem tele visiv a, tr aze nd o p ar a seu s co nte xto s aq u ilo qu e ap r eend em ao ass ist ir em à T V.

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u m sta tu s qu o hegemô nico , o qu e o casio n a a p r od u ção d e sentid o s sem levar em co ns id er ação as c las se s su b alter nas o u gru p o s so cial m ent e marg inalizad o s, co mo é o caso do qu ilo mbo estud ad o .

Devemo s co nsid erar a ind a q u e a telev isã o , p r incip alm ente atr avé s d a nar ra t iva d as t eleno ve las, r em ete às tr a ns fo rm açõ es t ecno p ercep tivas qu e po ssib ilitam ao q u ilo mb o d e Itam at at iu a ap ro p r iar - se d a mod er nid ad e sem d eixar su a cu ltu r a o r al. Aq u i, co nco rd amo s co m M ar tín- B ar b er o (2 00 2 ), qu and o d iz q u e a T V é o m ais so f ist icad o d isp o sitivo d e mo ld agem e d efo r m açã o do co tid ia no e d o s go sto s pop u lar es, ou seja, o car áter h íb r id o d e cer tas fo r mas d e enu n ciaç ã o , certo s sab er es nar r at ivo s, d as m est içagens cu ltu rais.

A p ar tir d a anális e d o s resu ltad o s d a p esq u isa co m as famí lia s d e Itam atat iu a, ob ser vamo s qu e o esp aço d o méstico , a r elig io sid ad e, o s laço s co mu nitár io s, a faixa et ár ia são im p o r tante s m ed iaçõ es , ju ntam ent e co m a id ent id ad e cu ltu r al, p ar a a inter ação co m o co nteú do d a tele visão .

Co m esse e stu d o d e recep ção , ob servamo s qu e o p ro cesso d e co m u nic ação d eve ser e nt end id o co mo algo ho rizo nt a l, sem a p rese nça d e u m em isso r o nip o tente, qu e m an ip u la u m recep to r p ass ivo , mer o d ep o sitár io d a m ens agem telev isiva, m es mo qu e ha ja u ma ten tat iva d e imp o siç ão d e u m d iscu rso hegemô n ico p o r p arte d ele. A ind a so b r e o p ro cesso d e r ecep ção , d evem o s co nc eb ê -lo co mo algo q u e não se r estr inge ao m o mento d e assist ir ao s p ro gr am as d a T V, p o is co meça b em ante s e ter m ina nd o b em d epo is d esse ato . Nest a p er sp ectiva, co nstat am o s qu e a co mu nicação , q u er na fo r ma d a tr ad ição o ral ou na r ecep ção d a T V, ser ve co mo veícu lo d e transm issão d e cu ltu r a e co mo fo rm ado ra d e b agagem cu ltu r al d as p es so as.

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REF ERÊNCIAS

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Referências

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