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A Lei Tutelar Educativa A Crian a e o facto

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internamento – sentido e potencialidades

[

Maria João Leote de Carvalho

]

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(3)

A Lei Tutelar Educativa

A criança e o facto qualificado na Lei

como crime. A medida de internamento

Sentido e

potencialidades

Maria João Leote de Carvalho

Introdução

Nas sociedades contemporâneas, a intervenção junto de jovens que praticaram factos

qualificados pela lei penal como crime apresenta um conjunto de desafios que se fazem sentir

de modo especial no sistema de justiça.1 A delinquência juvenil não é um fenómeno novo,

Doutorada em Sociologia, Investigadora do CICS.NOVA- Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais, Universidade Nova de Lisboa.

1 Neste texto, o termo ‘jovem’ é usado num sentido restrito, de acordo com o atual quadro legislativo que

regulamenta a intervenção judicial de reação à delinquência juvenil em Portugal, a Lei Tutelar Educativa: aplica-se aos indivíduos que, entre os 12 e os 16 anos de idade, cometeram factos qualificados pela lei penal IDEIAS-FORÇA

 Mudança social, infância e juventude – a influência do meio social;

 Breve panorâmica sobre a intervenção tutelar educativa em Portugal, nos séculos XIX

e XX;

 A medida tutelar de internamento em Centro Educativo como instância socializadora;

 A integração em CE – a oportunidade da intervenção;

 Os objetivos da medida;

 O valor do tempo e do espaço em CE;

 (Re)Inserção: para onde e como?

 (Re)Inserção e família;

 Cultura interna do CE e (re)inserção;

 Práticas educativas para a (re)inserção.

(4)

exclusivo das sociedades contemporâneas; existe desde há muito e em todos os grupos sociais,

variando na forma como se caracteriza e se torna visível ao longo dos tempos. De igual modo,

também a preocupação social sobre este problema social não é nova. Contudo, a atual

dramatização e politização desta temática nas sociedades ocidentais tende a fazer crer que se

está perante um cenário social único, onde crianças e jovens se tornaram mais violentos do

que nunca desvalorizando-se que não se trata de um fenómeno recente; novos podem ser

alguns dos seus traços e dinâmicas, bem como dos contextos onde se produz, tendo por pano

de fundo um quadro de globalização e. em vários países, de acentuada crise económica.

A discussão sobre a reação social formal traduzida na medida mais grave que o sistema

de justiça juvenil português pode aplicar a um jovem – medida tutelar educativa de

internamento em Centro Educativo, nos termos previstos na Lei Tutelar Educativa (Dec.-Lei

nº.166/99, de 14 de setembro) –,2 assenta numa preocupação social de primeiro plano, num

contexto marcado por incertezas, paradoxos e intensas mudanças sociais. Isto é visível em

discursos de natureza diversa que apontam para a existência deum vasto leque de perceções,

práticas e atitudes perante a delinquência, tendo por pano de fundo o crescente reforço das

desigualdades sociais no país.

À luz deste enquadramento, a discussão promovida nestas páginas foca-se na

natureza, constrangimentos e potencialidades da aplicação da medida tutelar educativa de

internamento em Centro Educativo, em Portugal. Para ilustrar algumas das questões que

Estado e comunidades enfrentam, tendo por objetivo garantir intervenções mais eficazes

neste campo, dá-se voz a jovens internados nestas instituições, apresentando alguns dos seus

pontos de vista sobre os temas em debate que foram recolhidos pela autora em investigações

anteriores.3

como crime e que, em resultado desse tipo de práticas, podem ser sujeitos à aplicação de medidas tutelares educativas. Como defendido por Neves (2008), esta opção não pretende ontologizar o comportamento do jovem, mas foca-se antes na reacção social formal ao fenómeno da delinquência juvenil.

2 De acordo com a Recomendação do Conselho da Europa Rec(2003)20, neste texto, o termo ‘justiça juvenil’

é usado num sentido amplo. Refere-se a “todas as disposições legais e práticas (incluindo medidas sociais e outras) relevantes para o tratamento de crianças em conflito com a lei” (Doak, 2009: 19).

3

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Delinquência(s): dinâmicas, desafios e riscos

Abordar a temática da delinquência juvenil implica necessariamente falar de dinâmicas

sociais e de uma multiciplicidade de desafios e riscos que a prática de factos qualificados pela

lei penal como crime encerra. Para melhor ilustrar esta ideia, inicia-se este texto recorrendo à

apresentação de um documento feito por um jovem internado em Centro Educativo; uma

carta que dirigiu à professora e na qual reflete sobre o seu percurso de vida. Esta situação tem

a particularidade de ter por autor aquele a quem foi aplicada pela primeira vez, no país (2002),

a medida de internamento de duração máxima prevista Lei Tutelar Educativa - três anos em

regime fechado -, no âmbito de um processo onde ficou provada a prática de 52 factos ilícitos,

35 dos quais associados a delinquência rodoviária (furto de uso de veículo). No fundo da

página desenhou, numa ilustração plena de animação como se de um filme ou jogo de

computador se tratasse e onde realidade e ficção são difíceis de destrinçar, aquilo que lhe

aconteceu no último confronto com a polícia e que veio a determinar a sua entrada em Centro

Educativo. Retrata uma perseguição policial em autoestrada, que se prolongou por vários

quilómetros, e terminou com uma troca de tiros entre ele, que conduzia, os outros jovens

ocupantes do carro furtado (de marca topo de gama) em que seguiam e as autoridades

policiais. O carro acabou por ser imobilizado e todos os jovens detidos. Factos ocorridos

precisamente dois dias antes de completar 16 anos; ou seja, se este jovem os tivesse cometido

dias depois seria considerado como adulto à luz da lei penal e, provavelmente, o mais certo

seria a sua entrada em prisão.

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Fig. 1 Carta de jovem em Centro Educativo

Diz ele:

“Olá senhora professora. É assim a minha vida, sabe, eu roubava muitas coisas das

pessoas porque não tive juízo, fui por conversas de amigos e roubei carros, lojas, passava mal

porque não sou nenhum santo. Já levei facadas, estive para morrer mas não morri por sorte.

Sabe porquê? Porque a minha mãe gosta muito de mim. O meu pai só sabe beber, não sabe

dar educação. Aprendi a roubar aos nove anos, para começar vendia droga, fui apanhado com

10 anos e fui para o colégio (…), tive três anos em (…) mas saí depois. Vi um grupo de amigos e

disse: ‘Posso ir com vocês?’ E eles disseram: ‘Bora!’ E depois vim para aqui.” João, 16 anos, Medida Tutelar Educativa de Internamento em Centro Educativo (3 anos em regime fechado)

Como esta carta ilustra, a delinquência ocorre por uma série de razões e circunstâncias

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analisadas num processo singular ou linear, surgindo, muitas vezes, associada a atos

acumulados ao longo do tempo. Fatores familiares, sociais, económicos, políticos, culturais e

educativos, de relação entre pares e de vivências no bairro estão bem visíveis neste

documento. O reconhecimento de que a delinquência é um fenómeno plural e variado, que

tem muitas expressões, é o primeiro desafio que o sistema de justiça enfrenta: como é que a

diversidade pode ser gerida, particularmente na execução de uma medida de internamento

em Centro Educativo, no sentido de se alcançar uma resposta mais eficaz junto de cada

indivíduo?

“Porque o meu caso, por acaso, é um daqueles em que eu ‘tou aqui mesmo, não é por falta de dinheiro, de família, nem apoio mas porque prontos… foi esse o caminho que eu levei

e escolho quando era mais jovem. Mas muitas pessoas que eu conheço, caem aqui dentro do

Centro e nem sabem ler, nem escrever, porque a mãe morreu cedo ou o pai, depois não têm

ajuda (…) Eu moro num buraco, num bairro que é dos mais falados em todo o sítio, aparece na televisão e tudo, que tem lá muitos casos e é… são diferentes.” Rafael, 17 anos, Medida Tutelar Educativa de Internamento em Centro Educativo (regime fechado) (Carvalho & Serrão, 2009)

Da prática de delinquência onde a violência, o risco, o desafio consigo mesmo e com os

outros imperam, há que extrair outros aspectos. Como as palavras do João e do Rafael deixam

transparecer de forma clara, mais do que poder ser entendida estritamente como um caso de

polícia ou de Tribunal, a delinquência é fundamentalmente um problema social que diz

respeito a toda a sociedade, começando no modo como informalmente cada um se posiciona

e reage a este tipo de atos. Para muitos é a própria vivência da juventude que é colocada em

causa ao difundir-se a ideia de que os jovens são sempre ‘problemáticos’.

“Não sei se percebem… as notícias que vejo na televisão e jornais é que é só jovens

delinquentes, que os jovens são todos falsos…” Alexandre, 17 anos, Medida Tutelar Educativa de Internamento em Centro Educativo (regime aberto) (Carvalho, 2009)

Da necessidade de (re)pensar esta problemática na sociedade portuguesa assinala-se

que aquilo que a diferencia atualmente de situações anteriores prende-se, em muito, com os

espaços e com as dinâmicas sociais onde se vem a produzir e a adquirir visibilidade no seio de

(8)

família e a escola , se encontram também sujeitas a transformações que as afastam de

modelos tradicionais de funcionamento tornando-se necessária a identificação, análise e

compreensão do que mudou no seu seio. A complexificação das dinâmicas que as atravessam,

a par da crescente importância dos media como instância de socialização na infância e

juventude, obriga a (re)ajustamentos e respostas que não se revelam eficazes nos quadros

institucionalizados, tal como vieram a vigorar até agora, e novas exigências e desafios se

colocam. A família mantém-se como o primeiro agente de socialização e de controlo informal;

em último, o controle social formal assumido pelas instâncias do Estado, que assim vê

conferida a imagem de protetor e vigilante da sociedade, vetor fulcral na manutenção da

ordem social. Contudo, como evidenciado na literatura científica, vivemos numa época

marcada por uma nova ‘cultura de controlo’, assente numa deriva securitária (Moore, 2013),

em que à diluição e enfraquecimento dos mecanismos de controlo social informal

contrapõe-se o aumento das expectivas sobre o sistema de justiça junto do qual indivíduos e grupos

sociais exigem um maior controlo e regulação dos comportamentos de crianças e jovens.

Deste modo, é aos mecanismos de controlo social formal que são delegadas funções que, até

recentemente, eram asseguradas de modo informal nas comunidades, numa aparente e

paradoxal transposição de papéis sociais a que se associa um aumento para uma tendência

punitiva em reação à delinquência juvenil, como acontece em vários países europeus (Pruin,

2011; Moore, 2013).

Mudança social, infância e juventude

O entendimento sobre a delinquência não pode ser dissociado do conhecimento sobre

as (novas) matrizes de socialização de crianças e jovens nas sociedades contemporâneas. Este

é um processo determinante para compreender “o que a criança faz daquilo que lhe fazemos

(Sirota, 2006: 21) e que acaba por colocar em causa as noções tradicionais de socialização.

“No jardim-de-infância, o rapaz, de 4 anos, contou à Educadora que tinha encontrado

em casa uma pistola: ‘- Eu apanhei a pistola do meu tio, o que é ladrão… Eu tentei disparar

mas ela não fez pum-pum!… Não fez…’. Um ano depois, com 5 anos, ameaçou trazer a pistola

do tio para matar os colegas e a auxiliar da sala e virando-se para a Educadora disse: ‘– Só não

mato tu!...’. Aos 7 anos, no 2º ano, foi transferido de escola na sequência de agressões a

(9)

Estaremos todos atentos aos sinais que situações como a desta criança desde muito

cedo vão sendo transmitidos ? Vivemos em sociedades marcadas pelos “paradoxos da

infância” (Qvortrup, 1995: 2)que traduzem uma ambiguidade entre a retórica de discursos públicos, que fazem a apologia do ideal romântico da criança e do seu lugar na família, e as

práticas individuais e coletivas (políticas, económicas e sociais) em torno da infância e

juventude.4 Os espaços de socialização encontram-se em evolução constante e não têm

comparação com os anteriores, aqueles onde cresceram os pais. Mas não são apenas os mais

novos que sofrem directamente esta influência, também os mais velhos a vêem repercutida

nas interações que desenvolvem.

A divisão social do espaço acarreta segregações que se traduzem na desigualdade de

oportunidades no acesso a recursos materiais e simbólicos e numa acentuada dificuldade de

exercício ao nível da participação social que a todos afeta. A tradicional estratificação dos

recursos pelo espaço continua a ser um facto da organização social (Castells, 1996) e,

paradoxalmente, apesar de toda a evolução e progresso, as desigualdades sociais têm vindo a

crescer, talvez mesmo, a exacerbar-se (Sassen, 2001). O conhecimento da multiplicidade de

formas e meios de se viver a delinquência na infância e juventude implica que cada criança e

jovem não podem continuar a ser encarada como mero recetor de influências de outros,

tendencialmente os mais velhos, numa sociedade em permanente transformação.

Primordialmente, crianças e jovens têm de ser olhados como partes ativas na construção da

4

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sociedade, pela participação num tempo e num espaço em que cada vez mais se vêem

afastados do controle próximo dos familiares, ponto-chave para a definição de políticas sociais

e educativas.

Justiça juvenil em Portugal: qual o lugar dos Centros Educativos?

A complexidade da vida das crianças e dos jovens em cenários contemporâneos

expressa-se na coexistência de várias formas e experiências de delinquência associadas a

diferentes contextos e trajetórias. O ponto de partida para o estabelecimento de sistemas de

justiça juvenil é a conceção de que as crianças e os jovens que praticaram factos qualificados

pela lei penal como crime - quando comparados com os adultos em situação aparentemente

semelhante - têm necessidades específicas que requerem respostas, medidas educativas ou

sanções diferenciadas das aplicadas a adultos.

De acordo com as normas internacionais da Organização das Nações Unidas e do

Conselho da Europa,5 o sistema judiciário deve assegurar que as medidas e as sanções são

cumpridas com base numa ‘perspetiva de efetivação dos Direitos da Criança' que define a

reabilitação, a socialização e a educação como princípios fundamentais. A prevenção da

reincidência deve constituir prioridade da justiça juvenil, em vez dos objetivos tradicionais de

repressão e retribuição (Pruin, 2011).

O sistema de justiça juvenil português difere da maioria dos sistemas de outros países

da União Europeia, dando menos importância ao facto praticado do que à necessidade de o

jovem ser educado sobre os valores fundamentais da comunidade que foram violados pelo ato

ilícito; é, por isso, considerado como uma terceira via, entre um modelo de proteção e um

modelo penal ou punitivo. As medidas tutelares educativas aplicadas pelos tribunais visam

socializar e educar os jovens nos valores protegidos pela lei penal, num processo designado de

‘educação para o direito' que implica um conceito mais amplo de educação e cidadania ativa.

Do ponto de vista estritamente jurídico, no cerne deste princípio está um propósito de

5Regras Mínimas para a Administração da Justiça de Menores

(Regras de Beijing), Nações Unidas (ONU), 1985; Convenção sobre os Direitos da Criança, ONU, de 1989, e Observação Geral N.º 10: os Direitos das Crianças nos Sistemas de Justiça de Menores, ONU, 2007; Diretrizes para a Prevenção da Delinquência

Juvenil (Diretrizes de Riade), ONU, e as Regras Mínimas para a Proteção de Menores Privados de Liberdade (Regras de Havana), ONU, ambas de 1990; as Recomendações do Conselho da Europa Rec(2008)11 sobre as 'Regras europeias para os jovens alvo de sanções ou de medidas por motivo de delinquência’, e a

(11)

reabilitação voltado para os jovens considerados como sujeitos com direitos (Agra & Castro,

2007).

A ideia de que a justiça juvenil consegue promover ambientes institucionais adequados

que facilitem a reabilitação de jovens é mais fácil de dizer do que fazer (Mackenzie, 2006). Um

dos principais objetivos do internamento de um jovem em Centro Educativo é a sua

reabilitação, o que, do ponto de vista educacional, pode significar capacitar com as

competências e os conhecimentos necessários para o desenvolvimento e participação na

sociedade de uma forma responsável. Para atingir este objetivo, a literatura científica sobre

esta matéria evidencia a existência de uma relação positiva entre o processo de reabilitação e

os seus efeitos nos jovens quando a intervenção judicial corresponde às suas necessidades

criminógenas individuais e aos fatores de responsividade (Vieira et al., 2009).

Os Centros Educativos são atualmente geridos pela Direção-Geral de Reinserção e

Serviços Prisionais (DGRSP), que constitui um órgão auxiliar da administração judiciária.6

Recuando no tempo, constata-se que, em 1919, foi criado, no país, o primeiro serviço da

administração central no setor da Justiça dedicado especificamente à intervenção junto de

crianças e jovens envolvidos na prática de factos qualificados pela lei penal como crime. Já

anteriormente, em 1871, havia sido criada a Casa de Detenção e Correção de Lisboa (Convento

das Mónicas, 1871-1903) primeira instituição do sistema judicial destinada ao acolhimento de

menores. Avanços em termos civilizacionais que colocaram Portugal na vanguarda, a nível

internacional, no tratamento destas questões.

Entre 1925 e 2012 manteve-se a existência de um serviço de justiça juvenil autónomo,

integrado na estrutura do Ministério da Justiça, algo que deixou de existir em 2012 devido à

fusão da Direcção Geral de Reinserção Social com a Direção Geral dos Serviços Prisionais numa

nova entidade, a DGRSP. Esta nova Direção-Geral assegura a execução da maioria das medidas

tutelares educativas não institucionais para jovens na comunidade e é responsável pela

execução das medidas tutelares educativas de internamento em Centro Educativo.7 Não deixa,

pois, de ser contraditório e discutível que, não tendo Portugal um Direito Penal para crianças e

jovens, seja precisamente uma entidade que tem a competência do exercício de execução e

6

Serviço de administração direta do Estado, do Ministério da Justiça (Decreto-Lei nº. 215/2012, de 28 de Setembro).

7

(12)

gestão de medidas de natureza penal a assumir conjuntamente a execução das medidas

tutelares educativas aplicadas a jovens. Justificará a necessidade de contenção de recursos

expressa na Lei Orgânica da Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (Decreto-Lei n.º

215/2012, de 28 de setembro) –“a concretização simultânea dos objetivos de racionalização

das estruturas do Estado e de melhor utilização dos seus recursos humanos é crucial no processo de modernização e de otimização do funcionamento da Administração Pública (p.

5740).” - a extinção de um serviço autónomo vocacionado para a intervenção no sistema tutelar educativo num processo que segue o sentido inverso do preconizado nas normas

internacionais? Será alguma vez possível manter uma autonomia e identidade próprias,

caraterísticas fundamentais na aplicação do Direito das Crianças e dos Jovens, e muito em

particular, da Lei Tutelar Educativa, no seio de uma entidade de vasta dimensão e de

propósitos diferentes dos necessários à concretização do objetivo de ‘educação para o direito’

que a LTE preconiza? São questões fundamentais que têm de ser trazidas para discussão

quando se trata de identificar e perceber o sentido e as potencialidades da medidade de

internamento em Centro Educativo.

Importa reter que, nos séculos passados, as instituições do sistema de justiça juvenil,

em Portugal, foram palco de inovação, de produção de conhecimento científico e de

introdução de práticas educativas, pedagógicas e científicas posteriormente alargadas a outros

domínios (ensino público, ação social). A título de exemplo, entre outros possíveis, destaca-se

a introdução de disciplinas de ginástica e de desenho e trabalhos manuais nestas instituições,

(13)

Fig. 2Ginástica sueca na Escola

Central de Reforma de Lisboa: fotografias

enviadas ao Congresso Internacional de

Educação Física de Paris, 1913, onde

obtiveram menção honrosa (Fernandes,

1958: 41)

Fig. 3 Aulas de desenho artístico e de

trabalhos manuais, Reformatório Central

de Lisboa (Fernandes, 1958: 52)

A opção política de organização dos serviços traduz o paradigma de intervenção que se

pretende ver posto em prática. Deste modo, importa perceber até que ponto os Centros

Educativos e demais equipas nas comunidades, com competência em sede de matéria tutelar

educativa, não correm o risco de serem ‘engolidos’ por princípios de natureza penal e

retributiva que enviesarão a sua ação primordialmente de natureza educativa. São muitas as

questões que se levantam no presente e relativamente às quais emergem profundas

preocupações. Acredita-se que, por muito boa vontade e boas intenções que existam por parte

dos responsáveis pelas entidades e serviços envolvidos, esta fusão resultará, a breve prazo (se

é que não resulta já), num reforço da subalternidade do sistema tutelar educativo e da

perspetiva de menoridade do Direito das Crianças e dos Jovens relativamente a outros campos

jurídicos, situação potencialmente agravada pelo contexto de crise económica que o país ainda

atravessa.

A oportunidade da intervenção judicial

O jovem vive, essencialmente, em função do tempo presente, do que é imediato e

(14)

obriga também a pensar a oportunidade da reação social em relação ao mesmo. A eficácia de

uma medida judicial diminui com o tempo de demora na intervenção da justiça, tempo este

que pode ser potenciador do fenómeno de reincidência da delinquência de crianças e jovens

(Tecedeiro, 2008; Trépanier, 2008). Ao abordarem a questão da noticiabilidade dos factos

praticados na comunicação social, os jovens não deixam de questionar a oportunidade da

intervenção judicial, nomeadamente do início do internamento, muitas das vezes num tempo

demasiado afastado da prática dos factos.

“Os jornais dizem porque agora ‘tão a fazer muitos crimes, muitas coisas, os jovens ‘tão a perder a vida… eu já ‘tive preso, eu já vi isso tudo, por isso… depois por causa de processos antigos é que vim para aqui. Saí, ’tive três meses lá fora, depois foram-me buscar a

casa. (…) Agora é de vez, eu já ‘tava fora dessa vida, lá fora ‘tava a trabalhar. Quando fiz os crimes tinha catorze anos, agora vou fazer dezoito, ‘tá quase a fazer quatro anos!...” Joel, 17 anos, Medida Tutelar Educativa de Internamento em Centro Educativo (regime fechado)

(Carvalho & Serrão, 2012)

O tempo é uma variável difícil de gerir sendo fundamental ter a consciência dos

diferentes patamares e níveis de mudança que podem, efetivamente, vir a ser alcançados a

curto, médio ou longo prazo. Emerge a necessidade de executar uma intervenção o mais

rapidamente possível após o facto, variável decisiva para o sucesso da medida pois o sentido e

a apropriação da passagem do tempo para um jovem são diferentemente percebidos, não o

sendo da mesma forma que num adulto. Como refere Trépanier (2008: 55), “se se quiser que uma intervenção tenha alguma possibilidade de sucesso, é preciso pô-la em prática o mais rapidamente possível após os factos, antes de o jovem ter tido tempo para racionalizar esses factos de maneira a retirar valor à intervenção.” Este é um dos mais importantes desafios que

se coloca na aplicação não só da Lei Tutelar Educativa, mas de qualquer lei num sentido geral

como tem sido amplamente discutido na sociedade portuguesa.

No caso particular da Lei Tutelar Educativa, a difícil conciliação entre o respeito por

direitos e garantias processuais e o ‘tempo do jovem resulta de factores que se encontram bem identificados, como são a complexidade da investigação dos factos em determinados

processos, a escassez de recursos humanos especializados fundamentais em certas fases do

processo e a exigência técnica de meios de prova e de instrumentos de avaliação. Acresce em

muitas situações, a dificuldade de encontrar respostas sociais e educativas para a aplicação de

(15)

envolvendo a sociedade civil. Quantas vezes a execução de uma medida tutelar educativa não

fica condicionada pela (in)existência de programas formativos, de entidades disponíveis para a

realização de tarefas na comunidade ou para a colaboração em acompanhamento educativo?

Provavelmente demasiadas perdendo-se, assim, a oportunidade de desenvolver uma atuação

adequada em tempo útil. Não se trata, pois, de um problema da lei, mas sim dos meios e

recursos disponíveis na sua operacionalização e da fraca consistência de uma cultura de

intervenção comunitária no país (Bolieiro, 2010).

Intervenção em Centro Educativo

Os Centros Educativos portugueses são, naturalmente, espaços restritos,

estigmatizantes, e onde sob um sistema de autoridade os indivíduos percebem toda a sua

existência, agindo em vários espaços classificados muitas vezes por diferentes padrões

normativos (Goffman, 1999). Através da execução da execução de medidas privativas de

liberdade aplicadas aos indivíduos considerados como desviantes, as sociedades justificam e

legitimam a segregação que lhes é imposta pelo objetivo da sua futura reabilitação e

reintegração social. Nos termos previstos na Lei Tutelar Educativa, a medida tutelar de

internamento em Centro Educativo é entendida como instância socializadora que “visa

proporcionar ao menor, por via do afastamento temporário do seu meio habitual e da utilização de métodos e programas pedagógicos, a interiorização de valores conformes ao direito e à aquisição de recursos, que lhe permitam no futuro conduzir a sua vida de modo social e juridicamente responsável” (Artigo 17.º, Dec.-Lei nº.166/99, de 14 de setembro).

Obviamente, os centros educativos portugueses são ‘instituições totais’ que reúnem as

caraterísticas mais importantes que Goffman descreveu na sua obra. Mas, como Neves (2008)

afirmou devem ser lugares que têm uma variedade de fins e ações educacionais intensivas, um

espaço de disseminação intensa do educativo”. Vários autores têm argumentado que as intervenções educacionais em contexto institucional de privação de liberdade devem adotar a

perspetiva de reduzir os comportamentos considerados socialmente inadequados,

concentrando-se em ajudar os indivíduos a desenvolver e maximizar as suas capacidades

(pessoais e relacionais) através da aquisição de novas competências sociais (Mackenzie, 2006).

O desafio maior que se coloca aos Centros Educativos é o de educar para a autonomia

em contexto de privação dessa condição pela regulação permanente da vida institucional.

Neste âmbito, é determinante perceber que a equipa técnica e todos os intervenientes neste

tipo contexto não são completamente neutros: as suas ações estão ancoradas num quadro de

(16)

impacto e os resultados produzidos. As expetativas e representações que os

técnicos/intervenientes no processo possuem sobre os jovens influem no resultado da sua

ação.

O valor do tempo e do espaço em Centro Educativo

Enquanto convenção social, o tempo cumpre funções de orientação e integração na

vida dos indivíduos e regula a coexistência humana (Elias, 1989). O tempo é uma das variáveis

mais importantes nos procedimentos do Direito de Crianças e Jovens, em particular na

execução de uma medida tutelar educativa de internamento em Centro Educativo. A privação

de liberdade constitui o mais grave instrumento do sistema de justiça traduzindo-se na

imposição de restrições mais limitativas ao nível da autodeterminação pessoal e autonomia.

Portanto, esta medida deve ser aplicada como o último recurso, pelo menor período de tempo

necessário por forma a cumprir o estabelecido nas normas nacionais e internacionais. Assim,

para que se cumpram os princípios da legalidade e da proporcionalidade definidos na lei, os

requisitos e os pressupostos subjacentes à aplicação da medida tutelar educativa de

internamento em Centro Educativo são restritos e, no caso do regime fechado "são

extremamente restritos, o que é perfeitamente compreensível" (Rodrigues e Fonseca, 2010, p. 1060).

Do ponto de vista sociológico, o tempo tem de ser entendido no contexto social em

que é produzido e em interação com outros elementos da vida social (Elias, 1989). O valor do

tempo no sistema tutelar educativo pode ser discutido, pelo menos, em três níveis. O primeiro

diz respeito aos procedimentos formais e está relacionado com a duração do processo em fase

de inquérito e dos seus efeitos sobre a vida de um jovem. O segundo nível baseia-se na

importância da organização do tempo e das rotinas em contexto de execução de uma medida

tutelar educativa, tanto na intervenção comunitária como especialmente nas medidades de

caráter institucional. Directamente associada a este segundo nível tem de se considerar uma

terceira dimensão, expressa em termos individuais, e que diz a respeito às formas como cada

indivíduo experimenta, representa e constrói a noção de tempo, com ritmos e interações

específicas e pessoais, eixo fulcral a considerar na definição de projeto educativo pessoal.

“O meu tempo lá fora era muito pouco porque eu andava sempre a sair de casa com os

meus amigos. E para mim, o tempo lá fora passava muito devagar mas a verdade é que eu não

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Carlos, 18 anos, Medida Tutelar Educativa de Internamento em Centro Educativo (18 meses em regime semiaberto + 3 anos de Pena Suspensa (penal) (Carvalho, 2012b)

“Agora tento aprender a contar o que se passa comigo. Aproveito enquanto cá estou

para reunir forças para um dia mais tarde conseguir ser aquilo que sempre sonhei. Mas para

isso tenho de mudar o rumo dos acontecimentos” - Paulo, 14 anos, Medida Tutelar de

Internamento em Centro Educativo (2 anos em regime fechado) (Carvalho, 2012b)

“Lá no bairro não tenho a liberdade que tenho aqui, não posso fazer o que gosto sem

ter os outros em cima, lá não tenho tranquilidade para a minha vida!” - Luís, 15 anos, Medida

Tutelar Educativa de Internamento em Centro Educativo (2 anos em regime fechado, cumprida 1 ano em regime semiaberto) (Carvalho, 2010a)

A regulação e previsibilidade na estruturação do quotidiano em Centro Educativo são

fundamentais para o processo educativo e de reabilitação dos jovens. Para este fim, é decisiva

a definição e enunciação clara de rotinas, de etapas e de horários das atividades, de sistemas

de valores e de regras formais, explícitos numa linha de conformidade social e de partilha em

grupo, pressupostos estes que devem partir da determinação objetiva de funções e papéis

institucionais atribuídos aos diversos intervenientes (Goffman, 1999). A especificidade da

articulação do tempo e do espaço, no acesso diferenciado aos diversos espaços institucionais e

não institucionais, é vector fulcral na ação educativa. Aquilo que, num primeiro olhar do

exterior, pode parecer um excesso de rigor na regulação do quotidiano dos jovens, serve o fim

último de ‘educação para o direito’ proporcionando-lhes a estabilidade e previsibilidade na ação, algo que poucos terão tido nos seus percursos anteriores e elemento crucial para uma

intervenção que se deseja verdadeiramente educativa.

“Quando eu estava lá fora era diferente, falava que ir para um colégio era qualquer

coisa, sabia que isso um dia ia acontecer... Todos do meu bairro falavam que eu um dia vinha

aqui parar, todos falavam de colégios e das coisas assim, mas é diferente. Agora nunca mais

paro de pensar como eu era naquele tempo, sempre a girar, sempre alegre, sempre a brincar,

a meter-me com as damas...” - Emanuel, 17 anos, Medida Tutelar Educativa de Internamento

em Centro Educativo (1 ano em regime semiaberto cumprida 7 meses em regime fechado por acumulação com prisão preventiva; condenado a 3 anos e meio de pena de prisão) (Carvalho, 2010a)

No entanto, a intensa e repetitiva regulação do tempo, se ficar meramente pela

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defesa institucional (Neves, 2007); ao invés de ir ao encontro de fins de reabilitação, pode

servir principalmente para aumentar a possibilidade de controlo baseado na mecanização

rigorosa das atividades e dos horários, sem considerar a mais profunda necessidade de um

envolvimento por parte dos jovens. Esta situação tende a reforçar a defesa da integridade da

instituição e tenta evitar que os distúrbios aconteçam.

A importância da definição, organização, uso e apropriação do(s) espaço(s) do Centro

Educativo por educandos e técnicos assenta em três perspetivas: a funcional, a educativa, e a

de segurança. Tratando-se de instituições que, nos termos da lei, estão vocacionadas para

acolher os casos mais graves de delinquência juvenil, as questões associadas à segurança dos

jovens, dos funcionários e equipas técnicas e educativas, de outros intervenientes no processo

(famílias, advogados e profissionais de diferentes áreas) e das próprias instalações, por vezes

muito próximas das comunidades de origem dos jovens, constituem elemento chave que

obriga a cuidados e procedimentos específicos. Sobrepondo-se o caráter educativo da medida,

as instituições não estão fechadas às comunidades e a relação com o exterior é um desafio

que, muitas vezes, parte da necessidade de desconstrução da estigmatização da imagem da

instituição e do próprio jovem.

À luz da legislação em vigor, a intervenção em Centro Educativo é estruturada em

torno de atividades e programas relativos às diferentes áreas (i.e. educação, formação,

atividades sociais e culturais, desportivas, saúde e outras atividades de acordo com

necessidades específicas à luz das práticas delinquentes cometidas), além do foco em rotinas

diárias que promovem o desenvolvimento de competências pessoais e sociais. As regras e os

procedimentos internos de cada centro são definidos no âmbito de um quadro legal de

regulação que fornece a base para a organização do sistema. Para cada jovem, há uma série de

atividades obrigatórias a cumprir em função do estabelecido no respetivo Projeto Educativo

Pessoal, aprovado em tribunal.

(Re)Inserção: para onde e como?

Qualquer processo de reinserção assenta num duplo processo de interação positiva

entre quem se encontra excluído e a sociedade de que é membro: a das pessoas que se

tornam cidadãs plenas (inclusão social) e da sociedade que permite (ou não) o acolhimento da

cidadania (inserção social) (Rebelo, 2007). Esta linha de orientação adquire especial

pertinência quando se pensa nas formas de regresso à comunidade de origem por parte dos

(19)

REINSERÇÃO

Adapta-ção

Integra-ção

Participa-ção

Autono-mia

Sociali-zação

“Já pensei no que fazer quando chegar lá fora, quando sair daqui vou pedir ao Juiz para

me internar num colégio, lá num colégio de rapazes, lá a gente pode ir à escola lá fora, pode

passar os fins-de-semana a casa da família, ir passar o dia e depois ir para o colégio. Gostava

de ser cozinheiro, já falei com a técnica daqui para ver se fala com o Juiz para ver se depois

quando eu sair me arranja um curso de cozinheiro.” - Ricardo 15 anos, Medida Tutelar

Educativa de Internamento em Centro Educativo (3 anos em regime fechado) (Carvalho & Serrão, 2012)

Como se observa nas palavras do Ricardo sobre o seu futuro, continua-se a perspetivar

a ação do sistema judicial, agora numa linha de intervenção social, o que sugere a sua

desconfiança em relação à eficácia da ação de outros sistemas sociais. Dá que pensar como

apesar de sujeito à medida mais grave prevista na lei, traduzida na privação de liberdade em

regime fechado, é somente no sistema de justiça que este jovem aparenta confiar tendo em

vista a sua reinserção social.

A reinserção do jovem tem de ser vista com um processo de investimento pessoal e

individualizado, trabalhado em rede a dois níveis diferentes, mas complementares:

microssocial (individual/familiar) e macrossocial (Estado/políticas/estruturas de

oportunidades). Pressupõe a conjugação de cinco dimensões - adaptação, socialização,

autonomia, participação e integração -, que são indissociáveis entre si.

(20)

As opiniões dos jovens sobre os Centros Educativos são diversas, e em entrevistas

realizadas em diferentes pesquisas foi possível identificar um misto de sentimentos, num

processo marcado por avanços e retrocessos no estabelecimento de relações com os pares e

os técnicos e outros funcionários. A transição progressiva para o exterior tem que ser

trabalhada de dentro para fora da instituição, de acordo com as restrições estabelecidas pela

lei, e a sua qualidade e eficácia dependem da coesão e da estrutura de planeamento, ou seja,

da importância que se dá ao trabalho diário e às atividades e aos programas oferecidos no

contexto institucional.

Defende-se que a ideia de transição do jovem para o exterior deve atravessar a

execução da medida, desde o seu início, não se limitando apenas a determinadas fases da

colocação institucional. A lógica de maior progressividade entre os regimes de internamento e

entre estes e as medidas não institucionais pode encontrar sérios obstáculos na sua execução

em função de diversas circunstâncias e não se acredita que seja um aumento da duração das

medidas que venha resolver este problema. Como a literatura científica evidencia, a evolução

do jovem atinge um pico a determinada altura e não é pelo prologamento das medidas que as

mesmas se tornam mais eficazes. Importaria antes concretizar o que se encontra definido na

Lei Tutelar Educativa, nomeadamente promover uma maior diferenciação e a especialização

da intervenção por Centro Educativo através de “projetos de intervenção educativa para

grupos específicos de jovens, de acordo com as suas particulares necessidades” (Artigo 206º,

Dec.-Lei nº. 166/99, de 14 de setembro). Só através da execução de programas queatendam

às necessidades específicas das diferentes problemáticas associadas às diversas formas de

delinquência se poderá alcançar um maior grau de eficácia.

Afigura-se relevante contemplar na execução da medida de internamento uma fase de

inserção familiar, educativa ou sócio laboral do jovem no meio de origem, com a devida

supervisão, contribuindo-se para uma maior eficácia dos sistemas e instituições envolvidas. A

possibilidade de recurso ao sistema de promoção e proteção à saída do Centro dificilmente

fará sentido de outra forma que não seja pela perspetiva de promoção de medida de apoio

para autonomia de vida, a ser preparada de modo consistente e prolongado no tempo. Um

olhar mais atento sobre os diversos territórios onde a(s) delinquência(s) se produzem traz para

discussão contornos sociais e jurídicos que requerem maior reflexão e conhecimento. As

interrogações levantadas ao momento de saída do jovem do Centro Educativo giram

fundamentalmente em torno de duas opções: retorno ao meio de origem, que

tendencialmente se mantém com os mesmos problemas anteriores aon internamento (que

(21)

Fig. 5 Desenho do bairro

“Este ali em baixo é um homem a atropelar o menino. Este ali do outro lado é o rapaz que

matou o outro ao pé da minha casa, foi buscar a pistola e matou-o. No prédio é um homem a

dar um tiro na mulher e a mulher a cair da janela e depois ela caiu da janela e os vizinhos

mandaram chamar os bombeiros e mais nada. Não gosto mesmo do meu bairro, é muitas

desgraças e é mesmo triste, é assim...” *raparigaF02, 9 anos, 3º ano, Bairro Branco] (Carvalho, 2010b)

A segregação espacial, social e étnica vivenciada em alguns espaços, especialmente na

esfera das grandes cidades, a degradação das zonas urbanas, a alteração da natureza dos laços

sociais, os novos modelos de organização familiar e os fenómenos de agrupamento de crianças

e jovens sob diversas formas (tribos, bandos, gangs, etc.), as variações no mercado de trabalho

são apenas alguns dos aspetos a que se deve atender quando se analisa esta problemática.

Simultaneamente, assiste-se à modificação dos processos de transição para a vida adulta

traduzida no alongamento da condição de jovem o que obriga a repensar a extensão deste

conceito e quais os seus efeitos junto de cada indivíduo. Um dos desafios mais complexos

surge quando a família do jovem está também envolvida em atividades criminais e/ou

delinquência; o que destaca que a prática de ilícitos não é um problema novo, mas um entre

gerações, passadas de uma geração para a outra, dentro de um processo de reprodução social

que é semelhante ao de outros problemas sociais (i.e. pobreza, exclusão social) (Carvalho,

(22)

Deste modo, as atividades educativas e de formação promovidas em Centro Educativo

podem ser decisivas na reabilitação e constituem uma vantagem para os jovens porque são

uma condição essencial para a futura integração socioprofissional. Além disso, podem fazer a

diferença nas suas vidas já que tais atividades podem não estar facilmente acessíveis na

comunidade de origem. No entanto, a educação formal, por si só, não é suficiente para os

objetivos da reabilitação; é crucial considerar outras modalidades (educação informal) e ainda

mais importantes são as atividades/programas especializados sobre as necessidades

específicas relacionadas com as práticas de delinquência de cada um. Sem estas últimas, os

jovens podem aderir superficialmente aos procedimentos implementados durante o período

de internamento e às regras estabelecidas, carecendo a intervenção educativa de valores e

ética necessários para desenvolver a sua autonomia responsável.

“O Centro eu não digo que é mau, porque não é, mas também não digo que é aberto, porque estar trancado não é bom para ninguém. Mas a gente aprende aqui dentro, eu já

aprendi, estou mais maduro, aprendi, estou a estudar e tudo, a ver se quando sair lá para fora

saio com alguma coisa para o meu futuro, porque a vida não pode ser só fazer furtos, não é?

Uma pessoa também tem que pôr juízo na cabeça. Só que é o que eu digo, estar fechado não é

uma boa solução, mas…tem que ser.” - Filipe, 15 anos, Medida Tutelar Educativa de

Internamento em Centro Educativo (18 meses em regime fechado)(Carvalho & Serrão, 2009)

Os efeitos das vulnerabilidades sociais e individuais são cumulativos nas trajetórias

destes jovens (Thornberry & Krohn, 2003), o que significa que a intervenção deve ser clara

relativamente aos objetivos específicos que são possíveis de alcançar num curto espaço de

tempo. Mais do que pensar num tempo extenso para o planeamento e execução de atividades

formais e estruturadas de educação e formação, a evidência científica mostra que a prioridade

deve ser o trabalho com os jovens sobre a necessidade de mudança; caso contrário, as

oportunidades educacionais e de formação disponibilizadas ou impostas não serão tão eficazes

quanto poderiam ser. É preciso perceber que, muitas vezes, o que é fornecido quando se está

em execução de medida de internamento não considera a necessidade mais importante que

permitirá evitar a reincidência: a necessidade do jovem sentir que a mudança é necessária na

sua vida e que pode ser alcançada. Neste sentido, o desenvolvimento positivo dos jovens deve

constituir-se como uma diretriz institucional. Esta opção revela a importância de estabelecer

relações significativas e positivas com os outros, tanto com os pares como com os adultos,

(23)

As entidades locais e o Centro Educativo devem estar envolvidos e articulados no

processo prévio de preparação da reintegração do jovem na comunidade. No entanto, os

últimos relatórios de avaliação de entidades oficiais sobre o sistema de justiça juvenil

português revelam que não tem havido coordenação suficiente entre os diferentes serviços

(Santos et al., 2010; CSCE, 2012). Até certo ponto, esta situação tende a acontecer devido à

falta de respostas suficientes e adequadas, a nível nacional, destinadas aos jovens nestes

escalões etários.

(Re)inserção e família

Os factores associados à esfera familiar e ao exercício da supervisão educativa por

parte dos pais (ou seus substitutos) estão claramente associados à delinquência de crianças e

jovens e amplamente retratados na literatura científica sobre esta área. Sabe-se também

como um pequeno número de famílias tende a consumir, em simultâneo, uma grande parte

dos recursos sociais e judiciários e em várias famílias, a transgeracionalidade da criminalidade

tende a acontecer numa linha similar à de outros problemas sociais (Thorneberry e Krohn,

2003; Carvalho, 2010b).

Num tempo em que a importância atribuída à família na prevenção da delinquência

está largamente reconhecida, importa recuar no tempo e verificar que esta situação já era

visível nos procedimentos e instrumentos que as instituições de justiça juvenil portuguesas

usaram nas primeiras três décadas do século XX. O registo fotográfico da criança/jovem à

entrada na instituição era fixado juntamente com o da família, situação que se repetia à saída

da instituição, e que nos permite, hoje, através da consulta dos álbuns existentes, verificar

sinais das mudanças ocorridas tanto no jovem como na composição da respectiva família ao

longo do tempo (Fig. 6). Um património histórico de valor inestimável pelo que nos transmite

(24)

Fig. 6 Álbum de fotografia de menores e famílias da Escola Central da

Reforma/Reformatório Central de Lisboa, Caxias (1913-1930).

Na atualidade, uma das questões prementes em debate tem a ver com o papel dos pais

no âmbito da aplicação da Lei Tutelar Educativa: são parte do problema, mas não da solução,

ou são parte do problema e da solução (Trépanier, 2008)? Quer a nível nacional como

internacional não existe consenso sobre estas duas linhas de orientação na intervenção

judiciária e o exemplo que a seguir se apresenta é bem ilustrativo das tensões que se jogam

neste campo não existindo uma resposta fácil, muito menos linear para todos os casos.

“Acho que essas pessoas não batem bem, têm ideia que os filhos é que precisam de um

psicólogo mas acho que é ao contrário. A minha mãe adotiva quis meter-me num psicólogo e

eu disse-lhe ‘tu é que me bates e eu é que vou para o psicólogo’. E ela a seguir deu-me

porrada!...” - Miguel, 16 anos, Medida Tutelar de Internamento em Centro Educativo (regime

semiaberto) (Carvalho & Serrão, 2012)

O Comité dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda

a criação de dispositivos legais visando a participação dos pais no processo judicial dos filhos,8

devendo a criança e os pais serem informados desde o início.9 No entanto, a participação dos

8

Artº 40(2), da Convenção sobre os Direitos da Criança-CDC, 1989; Regra 15.2, Regras de Beijing, 1985.

9

(25)

também reafirmada a ideia de dever ser evitada a criminalização dos pais de crianças em

conflito com a lei pelos factos praticados pelos filhos,11 tendência registada em alguns países. A

nível da justiça juvenil, a primeira interrogação que se levanta é perceber com que frequência e

em que moldes é que os pais (ou seus substitutos) participam nas instâncias judiciárias. Estão

presentes ou ausentes nos procedimentos judiciais e nas audiências em tribunal que dizem

respeito ao processo tutelar educativo dos filhos? Qual a dimensão e significados que podem

ser atribuídos a cada uma destas situações?

Estudos desenvolvidos no Canadá apontam para uma tendência de ausência de

partcipação dos pais e família nos processos judiciais dos jovens. O aprofundamento da análise

desta tendência levou a que fosse entendida como indício de um problema social mais vasto e

prolongado no tempo, que não se reduz estritamente à sua participação em sede de processo

judicial. Mas foi identificado que não se trata só de limitações por parte dos pais e famílias pois

ficou também clara a necessidade de mudança de atitudes e de determinados procedimentos a

nível judiciário (Trépanier, 2008). Ainda que haja muito mais para explorar nesta vertente,

defende-se, como sugere Trépanier (2008: 80), que o empenhamento dos pais nas

intervenções constitui uma questão da maior relevância para assegurar melhores resultados. (…) Nos países onde a lei ainda não reclama, esta urgência deve ser entendida como premente.”

Na intervenção em Centro Educativo, o conceito de família tem de ser considerado em

três dimensões interrelacionadas. A primeira dimensão refere-se às condições objetivas de vida

e às relações que a família estabelece e mantém com o jovem, dentro e fora da instituição. A

imagem idealizada pelo jovem sobre a sua própria família constitui a segunda dimensão,

sempre presente no seu pensamento. Independentemente do nível real de interação no

passado ou dos relacionamentos atuais com a família, esta imagem influencia as suas ações,

incluindo a determinação das aspirações e expetativas de reabilitação. Em muitos casos, este

processo de idealização apoia a intenção de reabilitação do jovem com base no seu desejo de

emendar as experiências passadas, ao apoiar e ajudar os pais e outros familiares. A terceira

dimensão centra-se na projeção futura de constituição de família por parte do jovem, tendo na

base as suas aspirações pessoais e familiares. A reabilitação do jovem implica a (re) construção

da noção de família tendo por base o cruzamento destes três eixos.

10

Artºs.3 e 40(2), CDC, 1989.

11

(26)

Os desafios à aplicação da medida tutelar educativa de internamento em Centro

Educativo estão longe de se esgotar no que foi apresentado nestas páginas. Os fenómenos

desviantes, nas suas mais variadas formas onde se inclui a delinquência de crianças e jovens,

são componente estrutural nas dinâmicas sociais de qualquer comunidade e dificilmente

podem ser abordados com base em modelos de causalidade assentes em relações lineares

potencialmente passíveis de generalização como se de causas únicas e globais se pudesse falar

ignorando-se a complexidade da vida social. Pelo contrário, como evidenciou Boudon(1979),

importa atender que cada situação social resulta da agregação de diversos factores para a qual

são susceptíveis de concorrer, a um momento e num contexto específicos, variáveis de

natureza individual, micro e macrossocial.

A Lei Tutelar Educativa é umas das faces visíveis de um processo prolongado no tempo,

profundo e amplamente participado por intervenientes das mais diversas áreas e patamares de

intervenção, que esteve na base da reforma do Direito de Crianças e Jovens em Portugal.

Constitui uma das peças fundamentais não podendo ser encarado de modo isolado de outros

diplomas, em especial da Lei de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo e do Regime Penal

Especial para Jovens Adultos (Decreto-Lei n.º 401/82, 23 de setembro), este último

permantemente subalternizado e objeto de esquecimento por parte dos decisores políticos.

Passada mais de uma década de vigência da Lei Tutelar Educativa, acredita-se que o modelo

implementado encerra virtualidades que importa aprofundar constituindo um instrumento

adequado aos desafios que se colocam na sociedade portuguesa contemporânea. Os

constrangimentos decorrentes da sua aplicação específica da medida de internamento em

Centro Educativo, que foram identificados ao longo destas páginas, resultam mais da sua

operacionalização no terreno do que propriamente de limitações que coloquem em causa as

principais linhas de orientação e a sua estrutura.

Impõem-se a criação e a implementação de estratégias de informação e avaliação da

aplicação da medida de internamento em Centro Educativo que possibilitem, juntamente com

a investigação e a formação, aumentar o conhecimento e a divulgação de práticas eficazes

neste campo, sabendo-se que muitos projetos foram postos em prática ao longo dos anos

pelas equipas institucionais em articulação com as mais diversas entidades. Mas importa

também reter que a eficácia de programas e ações baseados em evidência científica é variável

em função da sua adequação a diversos critérios (Andrews & Bonta, 2006), como a idade ou

estádio de desenvolvimento da população alvo, origem sociocultural/étnica, fatores de risco ou

de proteção específicos, contextos sociais e educacionais, envolvimento familiar e comunitário,

(27)

ainda, como preconizado nas normas internacionais, a necessidade de especialização dos

intervienentes no sistema de justiça juvenil, tendência que têm vindo a ganhar maior

consistência em Portugal, nos mais diversos patamares da intervenção, nos últimos anos.

Termina-se este texto reafirmando a importância do aprofundamento da discussão

sobre esta matéria, etapa decisiva para a construção e evolução da sociedade portuguesa.

Acredita-se que o caminho a seguir passa pela opção de um sistema de justiça juvenil assente

na ‘perspetiva de efetivação dos Direitos da Criança' pelo que fazemos nossas as palavras de

António Nóvoa (2010: 111):12 na apresentação do livro Arquitectura de Serviços Públicos em

Portugal: os Internatos na Justiça de Menores 1871-1978 (2009), de Filomena Bandeira, João Martins, João Vieira, Ricardo Agarez, Rute Figueiredo, Sofia Diniz, Lisboa: FCG, DGR e IHRU.

Não há respostas feitas. Curiosamente, neste início do século XXI, deparamo-nos com muitos problemas que pensávamos ultrapassados. A educação e a escola readquirem um papel fundamental. Hoje temos uma certeza: nada define melhor uma sociedade do que a maneira como cuidamos destas crianças e jovens que vamos apelidando de “problemáticos”, “diferentes”, “em risco”, e por aí adiante. E que vamos “sinalizando” para os mais diversos efeitos… Continuamos sem saber como educar aqueles que não querem ser educados, como integrar aqueles que não querem ser integrados. E perante o desafio só nos resta ser humildes e também determinados. (…) A relação educativa é muitas vezes difícil, mas não podemos deixar de assumir todas as nossas responsabilidades. (…) O nosso caminho não é o da institucionalização da violência, mas sim o da construção do diálogo, da relação, da palavra. E nada mais ajuda à lucidez do que um conhecimento informado, uma compreensão crítica das realidades passadas e presentes.” (Nóvoa, 2010: 111)

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12

Na apresentação do livro Arquitectura de Serviços Públicos em Portugal: os Internatos na Justiça de

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Imagem

Fig. 1 Carta de jovem em Centro Educativo
Fig. 2 Ginástica sueca na Escola  Central de Reforma de Lisboa: fotografias
Fig. 4 Dimensões no processo de reinserção
Fig. 5 Desenho do bairro
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Referências

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