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Poluição sonora em escolas do Distrito Federal

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Academic year: 2017

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EM PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL

MESTRADO

POLUIÇÃO SONORA EM ESCOLAS DO

DISTRITO FEDERAL

Autor: Alexandre de Oliveira Eniz Orientador: Prof. Dr. Sérgio Luiz Garavelli

(2)

ALEXANDRE DE OLIVEIRA ENIZ

POLUIÇÃO SONORA EM ESCOLAS DO

DISTRITO FEDERAL

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília, para obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Sérgio Luiz Garavelli

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

ALEXANDRE DE OLIVEIRA ENIZ

POLUIÇÃO SONORA EM ESCOLAS DO

DISTRITO FEDERAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília, para obtenção do título de Mestre. Área de concentração: Planejamento e Gestão Ambiental

Banca Examinadora

_____________________________________________________________ Prof. Dr. Sérgio Luiz Garavelli – UCB

Orientador

_____________________________________________________________ Prof. Dr. Conrado Silva de Marco – UnB

Examinador Externo

_____________________________________________________________ Profa. Dra. Sueli Corrêa de Faria – UCB

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Quero dedicar este trabalho à minha mãe, que mesmo não tendo oportunidade de estudo nos ensinou que este é o melhor caminho.

À Adriana, pessoa bela e compreensiva; sobretudo companheira. À minha irmã Célia, que sempre zel ou por mim em suas orações.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aqui, em primeira instância, àquele que se faz presente em minha vida, me confortando, iluminando e fortalecendo. Que a minha fé nunca se abale. Deus, muito obrigado!

Àquelas pessoas que, de uma forma ou de outra, me apoiaram na confecção deste trabalho. Seria difícil listar todas! Agradeço, então, coletivamente, àqueles que, aos seus modos, contribuíram para que esta pesquisa se concretizasse.

À minha mãe, que sempre me proporcionou condições para que eu pudesse superar obstáculos.

Aos meus amigos, que tenho certeza torceram pelo meu sucesso. Obrigado Américo, Cléber, Hélio, Igor, João Paulo, Lígia, Magali, Verusca, Webster e Wesley!

Ao Prof. Dr. Antônio José de Andrade Rocha, que acreditou no meu trabalho e me proporcionou acesso a uma bolsa de estudos!

Ao Prof. Dr. Sérgio Luiz Garavelli, que se tornou mais do que orientador. Obrigado Sérgio, você é um exemplo de simplicidade e dedicação ao seu trabalho!

À Profa. Dra. Sueli Corrêa de Faria, pelo seu carinho e dedicação. Suas contribuições foram de extrema valia para a confecção deste trabalho.

Aos funcionários da Administração do Núcleo Bandeirante e Taguatinga, da Secretaria de Educação, às escolas que permitiram o desenvolvimento deste estudo e aos alunos de iniciação científica da UCB, em especial Leonardo, Paulo Rafael e Umberto.

À CAPES, pelo incentivo financeiro prestado durante parte do meu mestrado.

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S U M Á R I O

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R E SU MO

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AB ST R AC T

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L I S T A D E I L U S T R A Ç Õ E S

1 R u í d o s e s e u s v a l o r e s m é d i o s d e i n t e n s i d a d e e m d B ( A ) . . . 2 7 2 R e v e r b e r a ç ã o : c u r v a d e d e c a i m e n t o d e u m s o m i m p u l s i v o e m um am b i e n t e

f e c h a d o . . . 3 1 3 R u í d o d e f u n d o d a s s a l a s d e a u l a m a i s p r ó x i m a s à r u a o u a v e n i d a . . . 7 3 4 T e m p o d e r ev e r b e r a ç ã o (t6 0) p a r a s a l a s d e s o c u p a d a s – 2 5 0 , 5 0 0 , 1 0 0 0 e

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L I S T A D E T A B E L A S

1 Í n d i c e s d e r e c o n h e c i m e n t o d e f a l a ( I R F ) m é d i o s d e e s t u d a n t e s x d e f i c i e n t e s a u d i t i v o s s o b d i f e r e n t e s c o n d i ç õ e s d e t e m p o d e r e v e r b e r a ç ã o e r e l a ç õ e s s i n a l / r u í d o . . . 3 9 2 N í v e i s d e p r e s s ã o s o n o r a d u r a n t e o p e r í o d o d e a u l a – 2a s é r i e d o E M . . 6 6 3 N í v e i s d e p r e s s ã o s o n o r a d u r a n t e o p e r í o d o d e a u l a – 6a s é r i e d o E F . . . 6 9 4 N í v e i s d e p r e s s ã o s o n o r a d u r a n t e o p e r í o d o d e a u l a – 3a s é r i e d o E F . . . 7 1 5 R u í d o d e f u n d o d a s s a l a s d e a u l a m a i s p r ó x i m a s à r u a o u a v e n i d a . . . 7 2 6 E s t i m a t i v a d o f l u x o d e v e í c u l o s n o t u r n o d a m a n h ã – E s c o l a 1 . . . 7 5 7 E s t i m a t i v a d o f l u x o d e v e í c u l o s n o t u r n o d a m a n h ã – E s c o l a 1 0 . . . 7 6

8 V o l u m e d a s s a l a s d e a u l a . . . 7 9 9 P r i n c i p a i s q u e i x a s s o b r e a s c o n d i ç õ e s d e t r a b a l h o . . . 8 2 1 0 P r i n c i p a i s q u e i x a s r e l a t i v a s à s a ú d e . . . 8 4 1 1 P r i n c i p a i s q u e i x a s f e i t a s p e l o s p r o f e s s o r e s q u a n t o a o a n d a m e n t o d a s

a u l a s – E s c o l a 1 . . . 8 5 1 2 P r i n c i p a i s q u e i x a s f e i t a s p e l o s p r o f e s s o r e s q u a n t o a o a n d a m e n t o d a s

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L I S T A D E S I G L A S

1 A B N T – A s s o c i a ç ã o B r a s i l e i r a d e N o r m a s T é c n i c a s 2 A N S I – A s s o c i a t i o n N a t i o n a l S t a n d a r d I n s t i t u t e

3 A S H A – A m e r i c a n S p e e c h L a n g u a g e H e a r i n g A s s o c i a t i o n 4 C O E – C ó d i g o d e E d i f i c a ç õ e s

5 G E A – G e r ê n c i a d e E n g e n h a r i a e A r q u i t e t u r a

6 I B G E – F u n d a ç ã o I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e G e o g r a f i a e E s t a t í s t i c a 7 N B R – N o r m a B r a s i l e i r a d e R e g i s t r o

8 N G B – N o r m a s d e E d i f i c a ç ã o , U s o e G a b a r i t o 9 O M S – O r g a n i z a ç ã o M u n d i a l d a S a ú d e

1 0 P D L – P l a n o D i r e t o r L o c a l 1 1 R A – R e g i ã o A d m i n i s t r a t i v a

1 2 S B L V – S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e L a r i n g o l o g i a e V o z 1 3 S E D F – S e c r e t a r i a d e E d u c a ç ã o d o D i s t r i t o F e d e r a l

1 4 S E D U H – S e c r e t a r i a d e D e s e n v o l v i m e n t o U r b a n o e H a b i t a ç ã o 1 5 S I – S i s t e m a I n t e r n a c i o n a l d e M e d i d a s

1 6 U C B – U n i v e r s i d a d e C a t ó l i c a d e B r a s í l i a

L I S T A D E A B R E V I A T U R A S 1 c m – c e n t í m e t r o

2 h – h o r a s 3 m –m e t r o

4 m2 – m e t r o q u a d r a d o 5 m3 – m e t r o c ú b i c o 6 m i n – m i n u t o s 7 N – N e wt o n

8 N P S – N í v e l d e P r e s s ã o S o n o r a 9 p – p á g i n a

1 0 s – s e g u n d o

1 1 T R – T e m p o d e R e v e r b e r a ç ã o 1 2 d B – D e c i b e l

1 3 H z – H e r t z

1 4 L Ae q – N í v e l d e P r e s s ã o S o n o r a E q u i v a l e n t e m e d i d o n a b a n d a A 1 5 l o g – L o g a r i t m o b a s e 1 0

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1 INT RODUÇÃO

“Os problemas ambientais nascem da relação entre os seres humanos e a natureza. Da forma como se apresentam hoje, eles parecem não ter solução, pois fazem parte de uma crise contínua e crescente, que é social, cultural, política, econômica, ecológica etc. Trata-se, pois, de uma crise de valores” (LEVI, 1990, p. 17).

Dentre as várias manifestações de agressão ao meio ambiente, existe uma modalidade que deve ser discutida mais intensamente, uma vez que traz uma série de conseqüências para a saúde e qualidade de vida humana. Esse tipo de poluição, que põe o organismo em estado de alerta, preparando-o contra o ataque de um inimigo invisível, penetrante, que não deixa resíduo e não dá consciência às vítimas do mal, é a poluição sonora. A poluição sonora é uma das formas de poluição ambiental que mais vem se agravando, exigindo soluções que controlem seus efeitos na qualidade de vida dos cidadãos.

Disseminado-se fortemente nos grandes centros urbanos, a poluição sonora vem trazendo prejuízos a vários setores da sociedade moderna, tais como: hospitais, residências, comércio, escolas, dentre outros. Para se ter uma idéia, na União Européia, 40% da população está exposta aos ruídos provindos do tráfego urbano (WHO, 1999).

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itens sejam relevantes, esta pesquisa contempla essencialmente o aspecto sonoro, tendo em vista suas implicações no processo ensino-aprendizagem e os efeitos nocivos causados na saúde de professores e alunos de escolas da rede pública e privada de ensino.

A quase ausência de estudos sobre o ambiente escolar no DF – poluição sonora em salas de aula – mostra a relevância desta pesquisa. O tema ainda não faz parte das discussões dos profissionais que atuam no Ensino Fundamental e Médio, mas há necessidade crescente de que os mesmos possam, pelo conhecimento, identificar, minimizar e superar efetivamente as interferências negativas que um ambiente acusticamente inadequado pode trazer ao processo ensino-aprendizagem e à saúde de professores e alunos.

O ambiente escolar, destinado à produção cultural e formação do cidadão, pode, por vezes, tornar-se um ambiente ruidoso, pelas próprias atividades de alunos e professores. Tais atividades envolvem uma gama de sentimentos e emoções, que os remete a elevados níveis de pressão sonora (NPS), sem que percebam ou mesmo atentem para o fato.

Além disso, muitas escolas do Ensino Fundamental e Médio não estão isentas do ruído advindo do tráfego de veículos automotivos, principal vilão da poluição sonora nos grandes centros urbanos. Cada carro de passeio é uma fonte emissora de 70-75 dB (A) a sete metros de distância (SOUZA, 2000).

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não contava com o adensamento populacional em torno da cidade. Assim, segundo dados do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), a população de Brasília e entorno ultrapassa os 2 milhões de habitantes. De agosto de 1996 a agosto de 2000, a taxa anual de crescimento foi de 2,91%. Paralelamente ao crescimento populacional, verifica-se relevante aumento das pressões sobre o meio ambiente. Desmatamento, destruição de nascentes, criação de favelas, aumento da frota de veículos, que geram poluição de diversas modalidades. A poluição sonora que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1980), é a terceira mais grave forma de poluição, só perdendo para a poluição do ar e da água, vem se agravando, reduzindo cada vez mais a qualidade de vida nas grandes cidades.

Diante dessa situação, temos um quadro preocupante, uma vez que o ambiente escolar é suscetível a esse tipo de poluição. Souza (2000), referindo-se à poluição sonora, afirma que milhões de cidadãos passivos do terceiro mundo estão ficando perturbados física, mental e psicologicamente, perdendo sua capacidade intelectual. Compromete-se o raciocínio, a comunicação oral, a educação e o bem-estar, limitando as potencialidades humanas.

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Uma vez que o ambiente escolar foi desenvolvido para maximizar as potencialidades humanas, é imprescindível que este esteja adequado à finalidade a que se destina.

Quick & Lapertosa (1981, p. 51), afirmam que “o problema do ruído dever ser encarado seriamente, não só no ambiente industrial, mas também na comunidade em geral, pois ele afeta as pessoas na sua individualidade e na coletividade, alterando seu comportamento e relacionamento".

Nesse sentido, esta dissertação procura investigar os níveis de pressão sonora a que estão sujeitas escolas da rede pública e privada do DF, tomando como referência escolas localizadas em Brasília, Taguatinga e Núcleo Bandeirante.

Com o intuito de contextualizar a importância do estudo, verifica-se também se o Plano Diretor Local (PDL) de Taguatinga e as Normas de Gabarito (NGB) do Núcleo Bandeirante prevêem ações contra a poluição sonora, e se as escolas pesquisadas obedecem ao Art. 6º do Decreto n. 20.769, de 03 de novembro de 1999, que aprova as normas relativas a obras de construção e de modificação em estabelecimentos de ensino destinados à Educação Infantil, ao Ensino Fundamental e ao Ensino Médio do Sistema de Ensino do Distrito Federal.

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1.1 Justificativa

A idéia de pesquisar o tema poluição sonora em escolas surgiu em função do meu trabalho como professor de Física, no Ensino Médio, num Colégio situado no Núcleo Bandeirante, Região Administrativa do Distrito Federal. Geralmente, as aulas depois do intervalo eram muito conturbadas, pois os alunos se mostravam inquietos e falantes. A conversa era excessiva e barulhenta. Pude perceber, com o passar dos meses, que o barulho advindo da área externa ao colégio era demasiado – carros, motos, apitos, buzinas, aviões etc – o que poderia estar contribuindo para aquele comportamento. Por várias vezes, durante a aula, a turma perdia a concentração em função do ruído excessivo advindo do tráfego aéreo e/ou terrestre.

Resultados de um levantamento inicial dos níveis de pressão sonora, realizado em parceria com o grupo de Pesquisa da Universidade Católica de Brasília (UCB), confirmaram que os níveis de ruído estavam acima daqueles recomendados pelas normas vigentes. Com base nos resultados preliminares, que denotaram a importância do assunto, iniciou-se um levantamento bibliográfico, que demonstrou ser esse tipo de estudo relativamente escasso, no Brasil, e praticamente inexistente, no Distrito Federal.

Desse ponto em diante, optou-se por uma linha de pesquisa investigativa, com o intuito de evidenciar a real situação das escolas do DF, no tocante à poluição sonora. Professores, alunos e funcionários estão sendo “contaminados” e não percebem, uma vez que os efeitos desse tipo de poluição só aparecem após um certo tempo de exposição, variando de pessoa para pessoa.

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encostas ocupadas por favelas etc. Esses problemas são, em sua grande maioria, conseqüências da concentração de atividades econômicas nos grandes centros urbanos (OLIVEIRA; MEDEIROS; DAVIS JÚNIOR, 2000).

O excesso de ruído urbano tem trazido significativos prejuízos às populações das cidades, principalmente àquelas não planejadas, como é o caso do Núcleo Bandeirante e Taguatinga. Dentre os prejudicados pelo ruído, destaca-se o ambiente escolar. Escolas que sofrem com o ruído externo, tráfego aéreo e terrestre, têm seu espaço físico comprometido, uma vez que altos níveis de pressão sonora (NPS) comprometem o desempenho escolar além de prejudicar as condições de trabalho e saúde de professores e alunos.

As crianças, em geral, são as mais prejudicadas, pois estão na fase de aquisição de vocabulário e leitura, nem sempre compreendendo com exatidão as palavras proferidas por seus professores. Assim, se o ambiente for acusticamente inadequado, esse grupo de estudantes será potencialmente o mais prejudicado.

Quanto aos adolescentes, eles conseguem compreender melhor as palavras num ambiente ruidoso, sofrendo talvez uma perda relativamente menor, porém não menos importante. Outros aspectos que ficam evidentes, em crianças e adolescentes, são a perda de concentração, desinteresse, mudança de comportamento, decréscimo da capacidade de trabalho, reações de estresse e aumento significativo do tom de voz na comunicação verbal. Este último fato fica evidente na comunicação entre alunos e professor. Segundo Junqua1 (1993 apud

BRADLEY, 2002, p.3), “os professores parecem falar num tom de voz mais alto em classes de estudantes mais jovens”. Este, provavelmente, é um exemplo do

1

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chamado Efeito Lombard, o qual se refere à nossa natural tendência a aumentar a voz em ambientes mais ruidosos.

Esse tipo de efeito se faz presente em várias escolas do Distrito Federal, seja na esfera pública, seja na esfera privada. Salas com número excessivo de alunos, professores desmotivados, cansados, estressados, irritados, com problemas de insônia, dor nas costas, nas pernas, dor de garganta, rouquidão etc, são sintomas dos quais, por vezes, não se sabe a origem. Segundo pesquisas da Organização Mundial da Saúde (OMS, 1999), alguns desses problemas podem estar relacionados com o excesso de ruído nas escolas; nas áreas internas, por vezes intensificados por ruídosexternos, principalmente os provindos do tráfego aéreo e terrestre.

A reportagem “Sinal de alerta para voz” publicada pelo Correio Braziliense, de 13 de abril de 2003, chama a atenção para o problema da perda da voz, ressaltando que a sociedade Brasileira de Laringologia e Voz (SBLV) calcula que 30% dos brasileiros apresentam dificuldades para falar, o que resulta em perdas sociais, tais como o afastamento do trabalho. Sem a voz, mais de 50% da população economicamente ativa do país não teria condições de trabalhar, mesmo que a fala não fosse o foco principal de suas atividades. Quanto aos professores, estima-se que 2% do total – cerca de 25 mil profissionais – serão afastados das suas funções, por problemas na laringe e nas cordas vocais. Segundo a mesma reportagem, 17,8% dos professores da rede pública do Distrito Federal, apresentam sintomas de disfunção vocal.

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Bandeirante, revelaram níveis de até 67 dB (A) – medidos com a escola em recesso escolar –, ou seja, níveis superiores aos 50 dB (A) recomendados pelas normas.

Segundo Cantrell2 (1974 apud SOUZA, 2000, p.12), “o barulho transitório a partir de 35 dB (A) já provoca reações vegetativas, que em longo prazo e em níveis mais elevados, a partir de 70 dB (A), se convertem permanentemente em hipertensão arterial, úlcera péptica, estresse, irritação, excitação maníaco-depressiva, arteriosclerose e até mesmo infarto”.

Se considerarmos a escola em plena atividade, esses valores tendem a subir. Medidas realizadas por um grupo de pesquisa da Universidade Católica de Brasília (UCB) mostram uma realidade preocupante, uma vez que o nível de pressão sonora equivalente (LAeq) alcançou valores para o ruído de fundo superiores a 70 dB (A).

Cantrell (1974) observou ainda aumento de liberação de 25% de colesterol e 68% de cortisol em jovens submetidos a ruídos de fundo de 50 a 70 dB (A), com picos de cerca de 85 dB (A) só a 3% do tempo de exposição. Isso significa, pelos níveis de ruído urbano, com especial atenção às escolas, que jovens e adultos estão se sujeitando a sérios distúrbios hormonais que operam na “surdina”, uma vez que seus efeitos se revelam a médio e longo prazo e ainda não são evidentes como um “raio da morte” abatendo de imediato a vítima (SOUZA, 2000).

O excesso de ruídos tem trazido sérios danos à saúde humana e “mansamente” tem invadido ambientes residenciais, escolares, hospitalares etc, tornando-se um inimigo sutil e imperceptível. Faz-se necessário, então, que planejadores, administradores e urbanistas passem a levar em conta, os efeitos do ruído para saúde humana e os prejuízos que causam ao processo

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aprendizagem, para que os mesmos possam elaborar planos de Ordenamento Territorial, de modo a controlar e prevenir com maior eficiência, o ruído em áreas urbanas.

1.2 Perguntas de pesquisa

As salas de aula das escolas públicas e privadas do Distrito Federal são adequadas, do ponto de vista do conforto acústico, ao tipo de atividade a que se destinam?

Os níveis de pressão sonora a que estão submetidas as salas de aula das escolas da rede pública e privada de ensino do DF afetam as condições de trabalho e saúde de professores e alunos?

Há uma fiscalização efetiva dos órgãos competentes, no que se refere às condições acústicas das escolas do DF?

O Plano Diretor Local (PDL) de Taguatinga e as Normas de Gabarito (NGB) do Núcleo Bandeirante possuem ações preventivas contra a poluição sonora no âmbito escolar?

1.3 Objetivo geral

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1.4 Objetivos específicos

Para orientar a pesquisa de modo a torná-la consistente, foram traçados quatro objetivos específicos:

1. Verificar os níveis de pressão sonora (NPS) a que estão submetidas as salas de aula de escolas da rede pública e privada de ensino do DF e, ainda, medir o tempo de reverberação nesses ambientes.

2. Conhecer a percepção de alunos e professores acerca das condições de conforto ambiental oferecidas por escolas da rede pública e particular de ensino, à saúde e ao desempenho.

3. Identificar as principais causas de poluição sonora no ambiente escolar e no entorno das escolas.

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2 POLUIÇ ÃO SONOR A

Segundo a Agenda 21 (CNUMAD, 2000, p. 74), “as condições de vida sofríveis das zonas urbanas e periferias urbanas estão destruindo vidas, saúde e valores sociais e morais de milhares de pessoas. Além de expor as populações a sérios riscos ambientais, o crescimento urbano deixou as autoridades governamentais sem condições de proporcionar às pessoas os serviços de saúde ambiental necessários. A poluição ambiental das áreas urbanas está associada a níveis excessivos de insalubridade e mortalidade".

A mesma fonte ressalta (CNUMAD, 2000, p. 70), que “os jovens são particularmente suscetíveis aos problemas associados ao desenvolvimento econômico e urbano, o que freqüentemente debilita as formas tradicionais de apoio social essenciais ao desenvolvimento saudável dos mesmos”.

Tratando especificamente da questão da poluição sonora nos centros urbanos, Azevedo3 (1982 apud SOUZA, 1992), afirma que as cidades mais barulhentas do

mundo são o Rio de Janeiro e São Paulo. Nestas, as medições nas ruas e nas casas ultrapassam 85 dB (A), produzindo na maioria de seus habitantes níveis de estresse avançados. A poluição sonora constitui um dos fatores de risco para a saúde de grande parte das pessoas do país, agravando as doenças cardio-vasculares e infecciosas, interferindo na recuperação dos enfermos e tornando-se mais fácil o adoecer dos sãos (SOUZA, 1992).

As condições físicas e psicológicas são afetadas, principalmente em indivíduos com predisposições, acarretando redução do desempenho, instabilidade de humor,

3

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infarto, agressividade, alterações emocionais (depressões e excitações), estresse, dentre outros males.

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 1980) considera 55 dB (A) o início do estresse auditivo. O tráfego aéreo e terrestre, considerado o maior vilão da poluição sonora nos grandes centros urbanos, contribui sistematicamente para altos níveis de ruído podendo levar os moradores das grandes cidades a desequilíbrios psíquicos e deixá-los, ao mesmo tempo, vulneráveis a doenças físicas degenerativas. Além de São Paulo e Rio de Janeiro, muitas outras capitais convivem com o excesso de ruído, como é o caso de Belo Horizonte, e mais recentemente o Distrito Federal, cuja população já começa a sofrer os seus efeitos.

2.1 Conceitos físicos

2.1.1 Ondas sonoras

O som é uma perturbação mecânica do meio ambiente, devido às vibrações de um corpo emitente, que se desloca a partir de uma posição de equilíbrio. Essas vibrações provocam variações de pressão do ar, acima e abaixo da pressão atmosférica. É possível, portanto, defini-lo como sendo o resultado de um movimento vibratório especial da matéria, transmitindo-se através dos meios elásticos, e capaz de impressionar nosso ouvido.

Sendo assim, uma “onda sonora, mais especificamente, é uma variação de pressão que se propaga no ar ou em qualquer outro meio. A pressão no ar, num ponto, eleva-se acima da atmosférica (1,0 x 105 N/m2), torna-se menor que esta, a

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A variação de pressão, quando chega ao ouvido, causa vibração das partículas do ar no tímpano – afastamento ou deslocamento das partículas materiais de sua posição de equilíbrio – transmitindo ao ser humano, no caso, a sensação do som. A diferença máxima entre a pressão do ar e a atmosférica é chamada amplitude de pressão.

Para Acioli (1994), as amplitudes de variação de pressão dos sons mais intensos tolerados pelo ouvido humano são da ordem de 28 N/m2, enquanto que as amplitudes de acréscimo de pressão para os sons mais fracos são da ordem de 2,0 x 10-5 N/m2, revelando um fator da ordem de 1.400.000. Tais valores indicam que

o ouvido humano possui alto grau de sensibilidade e complexidade. Nepomuceno (1994), afirma que o sistema auditivo é o mais sensível do organismo, superando até mesmo o sistema visual. Para a autora, a região de maior sensibilidade do ouvido situa-se entre 2000 Hz e 3000 Hz, dentro da faixa de freqüências audíveis, que varia, normalmente, de 20 Hz a 20.000 Hz.

Dentro do espectro audível, todos os sons têm potencial de serem descritos como ruídos, mas sua classificação é subjetiva e sua distinção se refere ao fato de ser ou não desejável (RUSSO, 1999, p. 157). Sendo assim, o termo ruído é utilizado para descrever um “sinal acústico aperiódico, originado da superposição de vários movimentos de vibração com diferentes freqüências, que não estabelecem necessariamente relação harmônica entre si” (FELDMAN & GRIMES4, 1985 apud RUSSO, 1999, p.157).

4

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Intensidade de energia sonora

“A intensidade I de uma onda que se propaga é definida como a média no tempo da quantidade de energia transportada pela onda por unidade de área e por unidade de tempo através de uma superfície perpendicular à direção de propagação” (ACIOLI, 1994, p. 293).

I = Energia / Área x Tempo

Em resumo, os valores de intensidades de energia sonora audíveis para um tom de 1000 Hz (valor de referência) variam de 10-12 W/m2 a 102 W/m2, no Sistema

Internacional de Medidas (SI).

Nível de intensidade sonora

O ouvido humano é capaz de responder a uma gama muito grande de variações de pressão ou de intensidade de energia sonora. O som mais intenso que o ouvido pode receber sem sensação de dor tem cerca de 1012 vezes a intensidade

(ou 106 vezes a pressão) do mais fraco som audível.

Com a finalidade de facilitar a leitura de tão grande variação de intensidade sonora audível, foi adotado o BEL como unidade e, na prática o seu submúltiplo, o Decibel – dB. Esta unidade não mede uma grandeza absoluta, mas sim uma grandeza relativa, avaliando a razão entre duas intensidades sonoras.

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Portanto, segundo a autora, o Bel não é uma unidade, mas sim a relação logarítmica entre duas grandezas, tomando-se uma delas como referência.

NIS = 10 log (I/I0), onde:

I é a intensidade sonora em W/m2;

I0 é a intensidade de referência = 10-12 W/m2; e corresponde,

aproximadamente, à intensidade de um tom de 1000 Hz, que é o menor valor de intensidade de energia audível para o ouvido humano normal.

Para Gerges (2000, p. 7), o “ouvido humano responde a uma larga faixa de intensidade sonora, desde o limiar da audição até o limiar da dor”. Em valores, o limiar da audição humana, ou seja, o mínimo de energia sonora que o aparelho auditivo pode discriminar equivale ao já referido 10-12 W/m2. Quanto ao limite

superior da audição humana, o máximo de energia e pressão sonora, ligados ao limiar da dor são 102 W/m2 e 200 N/m2, respectivamente.

Aqui, é importante ficar claro que a intensidade sonora é proporcional ao quadrado da pressão sonora. No caso do Nível de Pressão Sonora (NPS), o padrão de referência equivale à menor pressão audível, que por sua vez, equivale à menor intensidade de energia audível. Desta forma, o NPS é dado por:

NPS = 10 log (P2/P02) = 20 log (P/P0), onde:

P é a pressão sonora em N/m2;

P0 é a pressão de referência = 2 x 10-5 N/m2 correspondente ao limiar da

audição para a freqüência de 1000 Hz.

Outro aspecto importante da escala dB é que ela apresenta uma correlação com a audibilidade humana muito melhor do que a escala absoluta em N/m2 ou W/m2. Assim, para cada valor de pressão ou intensidade sonora há um

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Na figura 1, são apresentados os principais ruídos a que estamos expostos e seus respectivos níveis médios de intensidade e pressão sonora. São valores apenas aproximados, podendo ser mais ou menos elevados.

Nível de Intensidade e Pressão Sonora

Nível Subjetivo Descrição (dB) (Pa)

Câmara anecóica

Limiar de audibilidade normal 0 20 µ

Muito

Silencioso Respiração normal, deserto, região polar sem ventos 10 _

Movimento de folhas nas árvores, estúdios de

gravação, sussurro 20 200 µ

Silencioso Noite no campo, quarto de dormir, hospital em bairro tranqüilo 30 _

Sala de aula ideal, escritório ideal, ruídos caseiros,

conversa telefônica 40 0,002

Tranqüilo Escritório calmo, restaurante calmo, agência bancária com baixo movimento 50 _ Conversação entre vários indivíduos, escritório

movimentado, canto de pássaros 60 0,02

Moderado Rádio, TV em volume médio, rua de médio

movimento, carro de passeio 70 _

Barulhento Auto-estrada, grito, escritório muito barulhento,

caminhão a diesel 80 0,2

Observação: Zona de perigo – Nocividade Auditiva

Barulhento Fábricas, orquestra sinfônica, aspirador de pó, liquidificador, caminhão pesado a 15m 90 _ Indústria mecânica, cortador de grama, fundição,

tecelagem, marcenaria, discoteca, fones de ouvido em volume máximo

100 2

Muito barulhento Trem de metrô, sirene, buzina de carro, conjunto

de rock, construção, discoteca, turbina de avião 110 _ Motocicleta, carro de corrida,

Limiar do desconforto auditivo 120 20 Martelo pneumático, turbina de avião a 5m 130 _

Estrondoso Limiar da dor 140 200

Decolagem de avião a jato, tiro de revólver 150 _ FIGURA 1 – Ruídos e seus valores médios de intensidade em dB (A)

FONTE: RUSSO, I. C. P. Acústica e psicoacústica aplicadas à fonoaudiologia. 2. ed. São Paulo. Lovise, 1999.

(28)

Esse anexo apresenta um método alternativo para o cálculo do nível de pressão sonora equivalente, LAeq, quando o medidor de nível de pressão sonora não

dispõe dessa função, que é o caso do medidor da Minipa, modelo MSL 1352 A tipo2, que foi utilizado na pesquisa. Nesse caso, o nível de pressão sonora equivalente, LAeq, em dB(A), deve ser calculado pela expressão:

)

1

(

log

10

0 2 0 2

dt

P

P

T

L

T Aeq

=

ou

10

)

1

(

log

10

1 10 =

=

n i L Aeq i

n

L

, onde:

T é tempo de integração;

P(t) é a pressão sonora instantânea;

P0 é pressão sonora de referência (2,0 × 10-5 N/m2);

LAeq representa o nível contínuo estacionário equivalente em dB(A), que tem a

mesma energia que o nível variável considerado;

Li é o nível de pressão sonora, em dB (A), lido em resposta rápida (fast) a cada 5s, durante o tempo de medição do ruído e;

n é o número total de leituras.

Além do nível de pressão sonora equivalente, foram relacionados: Lmín: menor nível de pressão sonora num determinado intervalo de tempo;

Lmáx: maior nível de pressão sonora num determinado intervalo de tempo;

L10: nível de pressão sonora em 10% do tempo de medida efetiva;

(29)

O nível de pressão sonora equivalente foi ponderado no circuito de compensação “A” em função do ouvido humano não ser igualmente sensível a todas as freqüências (GERGES, 2000, p. 53). Dessa forma, os circuitos de compensação dos medidores são usados para que o aparelho efetue as medições do ruído de acordo com a sensibilidade do ouvido humano. Essa compensação ou ponderação é dada pela curva “A” que atenua os sons graves, dá maior ganho para a banda de 2 kHz a 5 kHz, faixa em que o ouvido humano é mais sensível, e volta a atenuar levemente os sons agudos (FERNANDES, 2002).

Ruído de fundo

A capacidade de escutar é essencial para que a comunicação entre o professor e os estudantes possa ocorrer e, aos últimos, é requerido um tempo maior nesse comportamento do que falar, ler ou escrever. Algumas vezes, a tarefa de comunicação pode ser comprometida pela intensidade insuficiente da voz do professor. Outras vezes, é o ruído excessivo, tanto no interior quanto fora da sala de aula, que exerce um efeito mascarante deletério sobre a mensagem falada.

De acordo com Berg5 (1993 apud RUSSO, 1999, p. 213), existem três tipos de ruído nas salas de aula:

1. Ambientais (contínuos) – Provenientes de ruídos de tráfego de veículos

na rua, ventilação ou refrigeração, quadras de esportes, lanchonete, projetores de slides, retroprojetores e equipamentos de vídeo.

5

(30)

2. Transitórios (inesperados) – Ruídos de motores de avião, gritos no pátio,

movimentação de alunos nos corredores, campainhas ou sirenes.

3. Gerados no interior da sala – Conversas entre alunos, deslocamento de

carteiras e mesas, objetos derrubados no chão.

Para efeitos práticos, o ruído de fundo pode ser medido no período de recesso escolar ou com a escola em atividade normal. Para tanto, é necessário que a sala de aula esteja vazia, de modo que se possa mensurar o incômodo advindo das áreas externas e/ou adjacentes. Ruídos ambientais, como os provenientes de tráfego de veículos, ou ruídos transitórios, como os de motores de avião, a priori não fazem parte desse tipo de ambiente; por isso, são considerados como ruído de fundo.São situações a serem gerenciadas, uma vez que escolas, do Ensino Fundamental, Médio ou até mesmo Superior, por vezes estão localizadas em regiões que sofrem os efeitos do tráfego urbano.

2.1.2 Tempo de reverberação (TR)

(31)

Salas de aula com reverberação em excesso afetam negativamente os sinais da fala, sobrepondo os sons refletidos e os sons diretos, mascarando as mensagens pretendidas pelos locutores, no caso, os professores. A inteligibilidade da fala, relação entre palavras faladas e entendidas, expressa em porcentagem, é determinada, entre outros fatores, pelo tempo de reverberação, que segundo Berg & Stork (1995), é caracterizado como o tempo necessário para que a intensidade da onda sonora caia um milhão de vezes (10-6) em relação ao valor original, ou seja, é o tempo requerido para que a onda refletida seja atenuada em 60 dB em relação ao seu nível de intensidade inicial. A figura 2 representa a curva de decaimento de um som impulsivo em um ambiente fechado.

O tempo de reverberação é um parâmetro acústico, diretamente proporcional ao volume da sala e inversamente proporcional à absorção do som no ambiente. O

FIGURA 2 – Reverberação: curva de decaimento de um som impulsivo em um ambiente fechado

(32)

TR é função das propriedades físicas da sala ou ambiente e pode ser calculado pela

Equação de Sabine, t60 =

A V

* 161 ,

0 onde:

t60 = tempo de reverberação em segundos;

V = volume do ambiente em m3;

A = índice de absorção, obtido segundo a equação:

A = Si*ai+ ni*ai+x*V , onde:

Si = área da superfície analisada;

ai = coeficiente de absorção do material de revestimento; ni = número de elementos isolados;

x = coeficiente de absorção do ar, considerado somente para a freqüência de 2000Hz; V = volume total do ambiente.

2.2 Legislação e normas técnicas

As normas vigentes relativas a obras de construção e de modificação em estabelecimentos de ensino destinados à Educação Infantil, ao Ensino Fundamental e ao Ensino Médio do Sistema de Ensino do Distrito Federal encontram-se no Decreto n. 20.769, de 03 de novembro de 1999.

(33)

Embora os projetos arquitetônicos referentes aos estabelecimentos de ensino procurem se adequar aos padrões de qualidade exigidos pelo Código de Edificações, as Regiões Administrativas (RA) seguem normas urbanísticas distintas. No caso específico de Taguatinga – RA III, o COE foi recepcionado pelo Plano Diretor Local (PDL), que entre outros objetivos, visa simplificar as normas de uso e ocupação do solo, adequando-as à dinâmica socioeconômica da cidade, a fim de garantir o pleno desenvolvimento das funções sociais da Região Administrativa, da propriedade e do bem-estar de seus habitantes.

Com relação à cidade do Núcleo Bandeirante – RA VIII e Brasília – RA I, as administrações locais fazem uso das Normas de Edificação, Uso e Gabarito (NGB), que é específica para cada obra.

Independentemente da norma urbanística ou mesmo de sua natureza, pública ou privada, as escolas devem adequar-se à legislação vigente, que entre outras determinações, confere os requisitos mínimos exigidos para salas de aula. De acordo com o Art. 6º do Decreto n. 20.769/99, as salas de aula obedecerão aos seguintes requisitos:

I – destinação e capacidade especificada em projeto, obedecida a proporção mínima de 1,20 m2 (um metro e vinte centímetros quadrados) por aluno;

II – vãos de aeração e iluminação naturais com efetiva possibilidade de abertura, protegidas contra o sol e chuva, na proporção mínima de 1/6 da área do piso;

(34)

IV – pé direito mínimo de três metros;

V – a maior dimensão não poderá ser superior a três vezes o pé direito e a menor não inferior a duas vezes o pé direito.

VI – vãos de acesso com largura mínima de oitenta centímetros; VII – nível de iluminação artificial mínimo de trezentos lux;

§ 1º Os estabelecimentos de ensino que possuírem, na data de publicação deste Decreto, Carta de “Habite-se” e não procederem modificações, terão o prazo de quatro anos para se adaptarem ao disposto no inciso I deste artigo.

§ 2º As salas de aula obedecerão aos limites máximos de alunos estabelecidos pelo Conselho de Educação do Distrito Federal, de acordo com sua finalidade.

Segundo a Portaria n. 58, de 24 de abril de 1997, da Secretaria de Educação, as salas de aula obedecerão aos seguintes limites máximos:

– Educação Infantil: 30 alunos; – Ensino Fundamental

1a e 2a séries: 35 alunos; 3a e 4a séries: 40 alunos;

5a à 8a séries; 45 alunos; – Ensino Médio: 50 alunos.

§ 3º As salas de aula com capacidade superior a cinqüenta alunos obedecerão à legislação referente a locais de reuniões de natureza cultural.

(35)

De maneira geral, as normas relativas a obras de construção e de modificação em estabelecimentos de ensino, da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF), devem ser seguidas na execução de escolas públicas e privadas. Primeiramente, segundo o Art. 4º, o projeto arquitetônico de obra inicial ou modificação de estabelecimento de ensino será analisado e aprovado pela SEDF, no que diz respeito à legislação específica e, em seguida, submetido à Administração Regional correspondente, para obtenção do “Visto”. Para a concessão do alvará de construção ou modificação, as Administrações Regionais fazem uso das Normas de Gabarito ou, no caso específico de Taguatinga, do Plano Diretor Local. Para o início das atividades escolares, a SEDF, por meio de equipe técnica e pedagógica, vistoria a escola, que estando em conformidade com os requisitos mínimos, recebe da Administração Regional o alvará de funcionamento.

Entre outras exigências, o ambiente escolar deve estar de acordo com os níveis de ruído recomendados pela ABNT. No caso dos níveis de ruído interno, os valores variam de 40 a 50 dB (A), enquanto que os níveis externos devem limitar-se a 50 dB (A), durante o dia.

As normas da ABNT a que se refere o Decreto 20.769/99 são:

NBR 10. 151: Acústica – Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade – Procedimento;

NBR 10.152: Níveis de ruído para conforto acústico;

NBR 12.179: Tratamento acústico em recintos fechados.

(36)

American National Standards Institute (ANSI S12. 60-2002), recomenda níveis de 35 dB (A) para o ruído de fundo, e um máximo de 0,6s para o tempo de reverberação (Knecht et al., 2002).

Além dos parâmetros acústicos mencionados, outro importante fator deve ser considerado: o excesso de alunos em sala.

Diferentemente dos padrões estabelecidos pela SEDF, Neufert (1976, p. 213) “estabelece que a superfície da construção deve ser de 2,0 a 2,5 m2 por aluno. A área ocupada por aluno deve ser maior ou igual a 1,5 m2; de preferência 2,0 m2. Deve existir ainda um corredor de 80 cm entre a última fila e a parede do fundo; 0,5 m entre as carteiras; 0,5 m entre as carteiras e as paredes laterais; 2,20 a 2,35 m de distância entre a primeira fila e a parede frontal e mais uma profundidade de 80 cm para cada carteira”.

2.3 Efeitos do ruído no processo ensino-aprendizagem

“Na sociedade moderna, as ondas sonoras freqüentemente nos incomodam, interferem em nossas atividades, em nosso sono, em nosso humor e comportamento, e até mesmo em nossa saúde física e mental. A poluição sonora é um dos aspectos da questão ambiental, que no Brasil, ainda tem recebido pouca atenção da comunidade científica” (MORATA; LEWIS; BEVILACQUA, 1990, p. 68).

(37)

Entre os ambientes afetados, destaca-se o ambiente escolar, onde o excesso de ruído prejudica a aprendizagem e o desenvolvimento não só de crianças, mas também de jovens e adultos.

Segundo Johnson & Myklebust (1983), o processo de aprendizagem ocorre de maneira satisfatória quando estão presentes certas integridades básicas e quando são oferecidas oportunidades adequadas para a aprendizagem. Uma pessoa carente, uma pessoa à qual não tenham sido dadas oportunidades, ou uma pessoa inserida num ambiente físico inadequado, terá deficiências em vários tipos de aprendizagem, mesmo se tiver potencialidades excelentes. Portanto, é essencial que se considere as oportunidades e as integridades básicas, tais como audição e visão. De acordo com os autores acima citados, as pessoas aprendem ao receber informações através de seus sentidos, através de seus sistemas receptores. Basicamente, a aprendizagem se dá via audição e visão, pois esses são os principais canais para a aprendizagem simbólica.

Desta forma, para que a aprendizagem se desenvolva satisfatoriamente, faz-se necessário que o ambiente físico esteja livre de interferências, estando organizado de tal forma que crianças, jovens ou adultos possam executar suas tarefas com o mínimo de distração. Salas de aula com estimulações auditivas em excesso podem promover a distração, acarretando prejuízos significativos para a aprendizagem.

Segundo Cardoso6 (1999 apud LEUCZ, 2001, p.18), as cores ou falta de pintura nas paredes, má iluminação, excesso de frio ou calor, má ventilação, trepidações, ruídos, são condições extremamente prejudiciais para o processo de ensino-aprendizagem.

6

(38)

2.4 A relação sinal/ruído

A percepção auditiva é, sem dúvida, fundamental no desenvolvimento da comunicação humana, uma vez que possibilita a aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral. Por esse motivo, todo cuidado deve ser tomado, no sentido de observar o adequado desenvolvimento das habilidades auditivas.

Reverberação e ruído em excesso interferem com a inteligibilidade da fala, resultando na redução do entendimento e, portanto, na redução da aprendizagem. Este tipo de ambiente afeta a performance educacional de crianças e jovens com ou sem perdas auditivas. As crianças, em especial as das séries iniciais, necessitam de boa acústica, pois são ainda incapazes de “inferir do contexto”. Com seu vocabulário e experiência limitados, quando perdem algumas palavras da exposição do professor, elas são menos capazes, que os alunos mais velhos, de “preencher” os pensamentos perdidos.

Nelson (2001, p.1), em pesquisa com um grupo de engenheiros, audiologistas, arquitetos e consultores acústicos da U.S. Access Board, resume:

Todas as crianças precisam de boa acústica para ouvir e aprender. As mais jovens necessitam de melhor acústica para entender o que os seus professores dizem em comparação com os mais velhos ou adultos. O fato é que as mais novas ainda não estão familiarizadas com a linguagem. Elas podem repetir palavras e sentenças em ambientes calmos ou com níveis de ruído mínimo. Entretanto, quando os NPS são altos, as mesmas têm dificuldade de entender o que está sendo dito. Crianças com idade entre cinco e sete anos, ou seja, nas séries iniciais, necessitam de níveis de ruído significativamente baixos para que possam compreender os sinais da fala. Quando se trata de crianças com perdas auditivas temporárias por motivos quaisquer, ou até mesmo com perdas definitivas, as condições acústicas devem ser ainda mais favoráveis.

(39)

dB, menos o nível de ruído de fundo da sala, em dB, é igual a S/R em dB. Quanto maior a relação S/R, maior é a inteligibilidade da fala.

De acordo com Seep et al. (2002), estudos têm mostrado que, salas de aula que têm relação sinal/ruído menor que +10 dB, a inteligibilidade da fala é significativamente degradada para crianças com audição mediana. Crianças com alguma deficiência auditiva precisam de, no mínimo, +15 dB de S/R.

Finitzo-Hieber & Tillman7 (1978 apud RUSSO, 1999) realizaram uma pesquisa sobre a média de reconhecimento de fala de doze estudantes ouvintes normais e doze estudantes deficientes auditivos, simulando várias condições de salas de aula, com diferentes tempos de reverberação e relações sinais/ruído. Os resultados mostram que salas de aula com excesso de ruído e longos TRs são significativamente prejudiciais ao processo ensino-aprendizagem.

TABELA 1

Índices de reconhecimento de fala (IRF) médios de estudantes ouvintes x deficientes auditivos sob diferentes condições de tempo de reverberação e relações sinal/ruído

Tempo de Reverberação (TR) (s) Relação Sinal/Ruído (S/R) (dB) I.R.F Ouvintes Normais (%) I.R.F Deficientes auditivos (%)

0,4 +12 83 60

+6 71 52

0 48 28

1,2 +12 70 41

+6 54 27

0 30 11

FONTE: FINITZO-HIEBER, T.; TILLMAN, T. Room Acoustics Effects on Monosyllabic Word Discrimination Hability by Normal and Hearing Children. J. Speech Hear. Res, 1978, v. 21, p. 440-458.

7

(40)

“Uma sala de aula, para ser considerada um ambiente adequado para a aprendizagem, implica que a relação sinal/ruído deve exceder + 15 dB, enquanto que o tempo de reverberação não pode ultrapassar 0,4s. Nesse ambiente, a voz do professor deve exceder em aproximadamente 30 dB o nível de ruído de fundo, para proporcionar uma boa compreensão por parte dos alunos” (CRANDELL; SMALDINO; FLEXER8, 1995 apud MARTINS et al., 2002, p.2).

Dreossi9 (2000 apud MARTINS et al., 2002), em pesquisa realizada para verificar a interferência do ruído na leitura, em onze crianças da 4a série do Ensino Fundamental, verificou que o ruído gera aceleração no ritmo da leitura; falta de feed-back auditivo; e os sujeitos, quando expostos ao ruído, durante a leitura, não apresentam correções de seus erros de leitura.

Não só as crianças, mas adolescentes e até mesmo adultos, são obrigados a aprender em salas de aula “barulhentas”, onde o ruído ambiental compete com a voz do professor, exigindo um nível de atenção e esforço muito maior.

Interferência na comunicação

A interferência do ruído na compreensão da fala resulta em incapacidade, desvantagem e mudança comportamental. Problemas com a concentração, incertezas e falta de autoconfiança, baixa capacidade de interpretação, decréscimo da capacidade de trabalho são todas reações identificadas. “As crianças são

8

CRANDELL, C.; SMALDINO, J.; FLEXER, C. Sound Field FM amplification: theory and pratical applications. San Diego, Ed. Singular Publishing Group, 1995.

9

(41)

particularmente mais vulneráveis a este tipo de efeito, constituindo-se desta forma um grupo de grande proporção em todo o país” (WHO, 1999, p. 42).

Altos níveis de pressão sonora aumentam a interferência na comunicação e interpretação da fala, aumentando quase que automaticamente o tom de voz de professores e alunos, impondo dessa forma um esforço adicional por parte de quem fala ou ouve. De acordo com Gerges (2000, p. 291), “quando duas pessoas conversam perto uma da outra a influência da sala é irrelevante, pois cada uma recebe o campo direto”. No entanto, quando um professor fala para uma classe com quarenta ou cinqüenta alunos, a pressão acústica aumenta e a comunicação se torna mais difícil pelo aumento do ruído interno. Assim, para se entenderem, cada um fala mais alto que o outro, aumentando os níveis de ruído dentro da sala de aula e, conseqüentemente, diminuindo a inteligibilidade da fala. Isso é o que o autor chama de Efeito Coquetel.

A inteligibilidade da fala é influenciada pelo nível da fala, pelo tipo de pronúncia, distância entre quem ouve e quem fala, altos níveis de pressão sonora e pelas características das salas de aula (material de revestimento das paredes, formato das superfícies etc), que influenciam diretamente o fenômeno da reverberação. Longos tempos de reverberação, combinados com altos níveis de pressão sonora, diminuem a percepção da fala, tornando-a mais difícil, especialmente para os grupos mais vulneráveis, como o é o caso de crianças em séries iniciais e/ou crianças com algum tipo de distúrbio auditivo.

(42)

Para que um ouvinte tenha sucesso em compreender bem os sinais de fala que recebe, é necessário que algumas condições sejam obedecidas: 1. atenção à

mensagem – comportamento de escuta, o qual hierarquiza o estímulo da fala; 2. intensidade da mensagem – os sons da fala devem ser audíveis para que

possam ser percebidos; 3. intensidade do ruído ambiental – deve ser inferior ao

do sinal priorizado; 4. tipo de material de fala empregado – vocabulário utilizado

pelo falante: palavras familiares e mais comuns da língua; 5. co-articulação e

fatores supra-segmentais – entonação, pausas no discurso; 6. fatores temporais, ritmo e velocidade da fala etc.

Para a autora, os ruídos que ocorrem em sala de aula incluem os produzidos pelos professores e alunos. Contudo, os últimos são aqueles que mais interferem no aprendizado, uma vez que a tarefa de atenção auditiva, isto é, hierarquizar um estímulo sonoro em detrimento dos demais, fica bastante prejudicada, exigindo do aluno um esforço considerável para assimilar a informação. A combinação do ruído com um tempo de reverberação (TR) superior a 1,2 s vem revelando uma piora significativa na percepção dos sons da fala, mostrando que as condições acústicas das salas de aula são críticas para possibilitar um processo educacional adequado.

(43)

Gonçalves Neto10 (2001 apud MARTINS et al., 2001, p. 1), afirma em artigo

publicado pelo jornal O Estado de São Paulo, em 22 de abril de 2001, que “o ambiente escolar na cidade está altamente contaminado pelo ruído. As medições de ruído em escolas municipais chegaram a ultrapassar 100 dB, enquanto os valores recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para a aprendizagem, devem ficar entre 38 e 48 dB. Os achados encontrados pela Equipe de Saúde Auditiva da Prefeitura de São Paulo, durante breve levantamento em escolas municipais, mostraram que o aprendizado é prejudicado pela poluição sonora, já que o indivíduo normal precisa gastar, em média, 20% de energia extra para realizar tarefa em presença de ruído intenso, uma vez que este interfere nos processos de memorização, planejamento e concentração”.

Em escolas “barulhentas”, é comum a existência de alunos dispersos ou agitados, cujos professores precisam se esforçar muito mais para ensinar, porque a dificuldade dos alunos em aprender é maior que em escolas silenciosas. Deficiências de leitura, de identificação correta da linguagem, dificuldade de assimilação, distração, perda do desempenho em tarefas que envolvam cálculos, aumento de erros, dentre outros, são efeitos cumulativos que podem se tornar um sério problema na vida adulta dessa criança ou adolescente, além, é claro, dos efeitos negativos na saúde, decorrentes de anos de exposição a ambientes ruidosos.

10

GONÇALVES NETO, J. Ruído é inimigo do ensino nas escolas da cidade. O Estado de São Paulo,

(44)

2.5 Efeitos potenciais do ruído na saúde humana

São vários os efeitos potenciais na saúde humana decorrentes do excesso de ruído. Entretanto, esses efeitos dependem, basicamente, do tempo de exposição, idade, susceptibilidade, bem como de intensidade e freqüência do ruído. Dependendo da combinação desses fatores, os efeitos podem desencadear deficiência imunológica, desintegração orgânica, óssea e muscular, estresse, angústia, maior susceptibilidade ao desagrado, níveis crescentes de perdas auditivas, alterações do aparelho circulatório, entre outros (SOUZA, 1992).

Sabe-se que a exposição a níveis elevados de ruído, por um longo período de tempo, pode determinar comprometimentos físicos, mentais e sociais no indivíduo.

“Estudos em animais e seres humanos têm mostrado que em situações calmas e silenciosas, um ruído de 100 dB produz sobressalto, mas num ambiente de 70 dB, o mesmo som, brusco e intenso, determina uma reação muito mais intensa. Quanto mais barulhento for o ambiente, mais dramático será o efeito de qualquer ruído súbito” (QUICK & LAPERTOSA, 1981, p. 51).

(45)

É provável que ruídos intensos e súbitos, como os provindos do tráfego terrestre, possam fazer com que as pessoas excitáveis, neuróticas ou pré-psicóticas percam o controle e ultrapassem o limite do comportamento racional.

Pessoas expostas ao ruído prolongado mostram mais sensibilidade e mais propensão para discutir e brigar. Mais uma vez, não é raro observar, no ambiente escolar, professores que, de uma hora para outra, mudam de comportamento, tornando-se por vezes agressivos, sem motivo aparente. Esse tipo de reação pode estar relacionado com a insatisfação profissional, ou pode estar (in)diretamente relacionadocom os efeitos desencadeados pelo excesso de ruído nas salas de aula. O ruído atua como um fator estressante, provocando manifestações neuro-vegetativas e psicossomáticas, comprovadas e especificadas em numerosos trabalhos. Estudos informam da aceleração cardíaca, hipertensão arterial, danos ao aparelho digestivo, nervosismo, tendência agressiva, cefaléia, cansaço e desânimo (QUICK & LAPERTOSA, 1981).

Segundo Souza (2000, p. 13), “o ruído mais traiçoeiro ocorre em níveis moderados, pois vão se instalando distúrbios físicos, mentais e psicológicos. Muitos sinais passam despercebidos do próprio paciente pela tolerância e aparente adaptação e são de difícil reversão. Muitas pessoas, perdidas no redemoinho das grandes cidades, não conseguem identificar o ruído como um dos principais agentes agressores e, cada vez mais, menos o sentem, ficando desorientadas por não saber localizar a causa de tal mal. Por isso, nada se faz e vive-se sob o impacto de uma abusiva e ruidosa mecanização e sonorização de ambientes abertos e fechados”.

(46)

participantes o perigo de lesão auditiva, que entre outras conseqüências, é a mais definida e quantificada.

No Brasil, as principais pesquisas acerca dos males causados pelo ruído à saúde humana estão localizadas no setor industrial. Fonoaudiólogos, engenheiros de segurança, médicos do trabalho, entre outros profissionais, têm voltado sua atenção para trabalhadores da indústria. Dessa forma, é importante mostrar à comunidade em geral que, trabalhadores fora do ambiente industrial também podem estar sofrendo com os males causados por esse tipo de agressão. Os profissionais da educação, principalmente os professores, podem estar sofrendo os efeitos da poluição sonora e não estão, em princípio, recebendo a devida atenção por parte das autoridades competentes.

Como os distúrbios no corpo humano são difíceis de serem medidos e comprovados cientificamente, principalmente os distúrbios de ordem emocional e mental, são discutidos, aqui, somente os supostos efeitos negativos da poluição sonora sobre os sujeitos pesquisados.

2.5.1 Perda auditiva induzida por ruído

A perda auditiva é tipicamente definida como um aumento do limiar da audição e avaliada pelo limiar audiométrico.

(47)

A perda auditiva induzida pelo ruído é mais predominante em ocupações de risco, como por exemplo, em atividades industriais. Embora o ambiente escolar não seja necessariamente um ambiente que ofereça riscos ao sistema auditivo, as escolas da rede pública e privada da rede de ensino nem sempre estão livres da presença de altos níveis de pressão sonora.

2.5.2 Efeitos nas cordas vocais

O papel do professor enquanto educador é o de orientar o educando no processo de desenvolvimento cognitivo e a aquisição de conhecimentos de sua própria cultura.

“O conteúdo de trabalho do professor é o conhecimento, a informação. Seus recursos são o saber da dinâmica do desenvolver desse processo interativo de informação e o fazer refletido. Para tanto, ele dispõe de um importante instrumento de trabalho: a fala e, antes, a voz, carregada de informações pela sua vibração, intensidade, completando, facilitando ou auxiliando a interpretação da mensagem passada ao aluno” (PINTO et al., 1991, p. 40). É na sala de aula que se estabelecem as ligações entre professor e aluno, ligações essas fundamentais para que o processo ensino-aprendizagem se realize com qualidade (LEUCZ, 2001). Quando esse tipo de ambiente torna-se ruidoso, pode desencadear sérios problemas às cordas vocais dos profissionais.

(48)

esforço extra. O nível de intensidade sonora numa conversação normal é de 60 dB. “As pessoas podem ajustar esse nível, até inconscientemente, dependendo do local, podendo baixá-lo para 45 dB num local silencioso e aumentá-lo para 90 dB num local barulhento” (OKUNO; CALDAS; CHOW, 1982, p. 233).

O fato é que os professores falam muito, gritam e mantêm a intensidade aumentada, tentando com a voz superar o ruído ambiental. Tensões na musculatura da região cervical, postura inadequada, falar sem parar por horas e horas seguidas, padrão respiratório inadequado, alterando o tom, agudizando repentinamente no momento do grito, voz abafada, presa, sem projeção são características freqüentemente encontradas.

Segundo Pinto & Furck (1988, p. 12), “as difonias profissionais preocupam aqueles que têm a voz como instrumento de trabalho e a incidência tem atingido níveis alarmantes. Os sintomas de cansaço e fadiga vocal, perda da intensidade, ensurdecimento do timbre, que os indivíduos tentam superar provocando um esforço ainda maior na musculatura faríngea, aliados ao fator psicológico, causam as rouquidões e até as afonias. Com o decorrer do tempo, os exames otorrinolaringoló - gicos revelam freqüentes nódulos, edemas e pólipos”.

(49)

Esse tipo de ambiente pode contribuir para a frustração e até mesmo levá-los a desenvolver a Síndrome de Burnout11”.

2.5.3 Efeitos na saúde mental

A saúde mental é definida como a ausência de identidade psiquiátrica, de acordo com as normas correntes. Pesquisadores acreditam que o ruído ambiental não é causa direta de doenças mentais, mas presume-se que o ruído acelera e intensifica o desenvolvimento de desordens mentais latentes. “Estudos acerca dos efeitos do ruído ambiental para a saúde mental revelam o surgimento de vários sintomas, entre eles: ansiedade, estresse emocional, dores de cabeça, instabilidade, mudanças de humor, aumento dos conflitos sociais, bem como desordens psiquiátricas gerais tais como neuroses, psicoses e histeria" (WHO, 1999, p. 48). A ativação permanente do sistema nervoso simpático do morador das metrópoles pode condicionar o aparecimento de sintomas agressivos. Muitas pessoas procuram se livrar dessa reação, por tornar-se desagradável, (por exemplo, de uma palpitação), fazendo uso de drogas – tranqüilizantes ou cigarro – para tentar bloqueá-la.

“O ruído estressante libera substâncias excitantes no cérebro, tornando as pessoas sem motivação própria, incapazes de suportar o silêncio.

11 Burnout

(50)

Libera também substâncias anestesiantes que acabam provocando prazer. As pessoas tornam-se viciadas, dependentes do ruído, paradoxalmente caindo em depressão em ambientes com silêncio salutar, permanecendo agitadas e incapazes de refletir e meditar mais profundamente. É um conflito, gerador de ansiedade, que abre caminho para estresses crônicos. Certas áreas do cérebro acabam perdendo a sensibilidade a neurotransmissores, rompendo o delicado mecanismo de controle hormonal. Esse processo aparece também no envelhecimento normal e ataca os mais jovens, que se tornam prematuramente velhos num ambiente estressante” (SOUZA, 1992, p. 26).

Pesquisas desenvolvidas por Berglund & Lindvall (1995) confirmam que em longo prazo, as populações urbanas têm demonstrado associações entre a exposição ao ruído – quase sempre acima do limite do equilíbrio – e a ingestão de drogas psicotrópicas e pílulas tranqüilizantes para dormir (WHO, 1999).

A exposição a altos níveis de ruído tem sido associada com o desenvolvimento de neuroses e deterioração da saúde mental, mas as constatações acerca de tal associação ainda não são totalmente conclusivas. Um único estudo longitudinal neste campo demonstrou uma relação inicial entre o tráfego urbano e desordens psiquiátricas menores. Esses distúrbios menores são associados, principalmente, com a susceptibilidade do indivíduo ao ruído. Os resultados mostram a importância de se fazer um relato para os grupos mais vulneráveis, uma vez que eles podem não ser suficientemente capazes de lidar com sons indesejáveis “barulho” (STANSFELD12, 1992 apud WHO, 1999).

12

(51)

De acordo com o autor, isso é particularmente verdade para crianças, idosos e pessoas com doenças pré-existentes, especialmente depressão. A despeito de vários estudos inconclusivos acerca dos efeitos adversos do ruído na saúde mental, a “community noise” sugere que se realize estudo acerca do uso de drogas, tais como tranqüilizantes e pílulas para dormir, e ainda se verifique as taxas de admissão em hospitais psiquiátricos.

2.5.4 Distúrbios do sono

No sono, o sentido da audição é o que nos informa de algum perigo e está sempre alerta, onde, a partir de 30 dB já aparecem reações perturbadoras. Pesquisas afirmam que o sono ininterrupto é conhecido por ser pré-requisito para o bom funcionamento mental e psicológico.

O excesso de ruído durante a noite, ou durante o dia, pode desencadear distúrbios no sono, levando as pessoas a um ciclo vicioso. Segundo Seligman (1997, p. 147), “os ruídos escutados durante o dia podem atrapalhar o sono de horas após. Os pacientes reclamam de insônia, de dificuldade para iniciar o adormecimento e de despertares freqüentes, resultando em um repouso pouco reparador com sensação de cansaço ao acordar”. “Esses sintomas, quando freqüentes, podem seguramente trazer efeitos desastrosos ao dia-a-dia do indivíduo, com visíveis interações em seu trabalho e mesmo em sua vida social” (RICHTER13, 1966 apud SELIGMAN, 1997, p.

147).

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De acordo com as Associações Internacionais de Distúrbios do Sono (ASDA14,

1990 apud SOUZA, 1992, p. 2), “cerca de 5% das insônias são causadas por fatores externos ao organismo, principalmente pelo ruído”. “Um dos indicadores de má qualidade de vida ambiental de nossas cidades foi revelado por pesquisa de Braz15

(1988 apud SOUZA, 1992, p. 2) na cidade de São Paulo, onde 14% das pessoas atribuem suas insônias a fatores externos, das quais 9,5% exclusivamente ao ruído”.

Embora os efeitos primários do excesso de ruído sobre o sono – alteração dos estágios mais profundos, aumento da pressão sanguínea, mudanças na respiração, arritmia cardíaca e aumento dos movimentos corporais – sejam relevantes, esta pesquisa intenciona apenas ressaltar que pessoas que estão expostas a altos níveis de pressão sonora durante o horário de trabalho (professores), podem desenvolver estágios de insônia ou sonos pouco reparadores, ficando expostas a efeitos secundários como aumento da fadiga, depressão, mau humor e decréscimo da performance(WHO, 1999).

2.5.5 Efeitos na performance

Os estudos acerca dos efeitos adversos do excesso de ruído na performance humana ainda são subjetivos. Sabe-se que em crianças, o ruído ambiental prejudica parâmetros cognitivos e motivacionais (EVANS & LEPORE16, 1993 apud WHO, 1999).

14

ASDA. The International classification of sleep disorders, 1990. 396p. 15

BRAZ, S. Estudo do sono e seus distúrbios numa amostra probabilística da cidade de São Paulo. São Paulo, 1988. 150 f. Tese de Doutorado – Escola Paulista de Medicina.

16

EVANS, G.W.; LEPORE, S.J. Non-Auditory effects of noise on Children: A critical review.

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FIGURA 2 – Reverberação: curva de decaimento de um som impulsivo em  um ambiente fechado
Figura 3 – Ruído de fundo das salas de aula mais próximas à rua ou avenida
TABELA 7 Estimativa do fluxo de veículos no turno da manhã – Escola 10

Referências

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