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A ANÁLISE DA PROTEÇÃO DOS CONTRATOS DE SOFTWARE NA HIPÓTESE DE FALÊNCIA DO DESENVOLVEDOR Carlos Alberto Rohrmann, Frederico Félix Gomes

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XXIV CONGRESSO NACIONAL DO

CONPEDI - UFMG/FUMEC/DOM

HELDER CÂMARA

DIREITO, INOVAÇÃO, PROPRIEDADE

INTELECTUAL E CONCORRÊNCIA

MARALUCE MARIA CUSTÓDIO

(2)

Copyright © 2015 Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito

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D598

Direito, inovação, propriedade intelectual e concorrência [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI/ UFMG/FUMEC/Dom Helder Câmara;

coordenadores: Maraluce Maria Custódio, João Marcelo de Lima Assafim – Florianópolis: CONPEDI, 2015.

Inclui bibliografia

ISBN: 978-85-5505-122-7

Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações

Tema: DIREITO E POLÍTICA: da vulnerabilidade à sustentabilidade

1. Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Brasil – Encontros. 2. Inovação. 3. Propriedade Intelectual. 4. Concorrência. I. Congresso Nacional do CONPEDI - UFMG/FUMEC/Dom Helder Câmara (25. : 2015 : Belo Horizonte, MG).

(3)

XXIV CONGRESSO NACIONAL DO CONPEDI - UFMG/FUMEC

/DOM HELDER CÂMARA

DIREITO, INOVAÇÃO, PROPRIEDADE INTELECTUAL E CONCORRÊNCIA

Apresentação

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A ANÁLISE DA PROTEÇÃO DOS CONTRATOS DE SOFTWARE NA HIPÓTESE DE FALÊNCIA DO DESENVOLVEDOR

ANALYSIS OF SOFTWARE PROTECTION IN THE EVENT OF THE LICENSOR BANKRUPTCY

Carlos Alberto Rohrmann Frederico Félix Gomes

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo questionar a eficácia dos mecanismos legais proteção de um contrato de licenciamento de programa de computador na hipótese de eventual falência da parte desenvolvera ou licenciante, sobretudo os efeitos econômicos sobre o mercado de tecnologia nacional, e ainda se estamos diante de verdadeira falha de mercado. Para tanto, utilizamos o método da revisão bibliográfica, abordando as diferentes perspectivas com que o Direito Falimentar e o Direito de Propriedade Intelectual tratam os bens intangíveis de uma empresa. Pesquisamos os diferentes formatos de contratos de licenciamento de programas de computador, analisando em que medida o administrador judicial de uma falência influi na continuação ou não do instrumento de licenciamento. Desafiamos o sentimento de consenso eu há no tocante a adoção de um contrato de depósito escrow do código-fonte do programa de computador licenciado, como forma de solução definitiva para mitigação de danos eventualmente gerados pelo término unilateral do contrato de licenciamento, bem como os perigos econômicos gerados pela legislação vigente no que se refere a licenciados e investidores do ramo de tecnologia.

Palavras-chave: Software, Contratos de licenciamento, Contrato escrow de código-fonte, Poderes do administrador judicial de falência, Falha de mercado

Abstract/Resumen/Résumé

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1 INTRODUÇÃO

Atualmente, os programas de computador ou softwares, são comumente comercializados

através dos conhecidos “contratos de licença”, nos quais a empresa desenvolvedora (licenciante)

concede ao seu cliente (licenciado) o direito de usar aquele programa de computador, porém

apenas na forma de “código-objeto”, mantendo um controle restrito sobre o “código-fonte”. A

razão disso deriva das distintas características do código-objeto e do código-fonte.

Quando um software é distribuído em código-objeto, o código-fonte é essencialmente

inacessível, principalmente em razão da engenharia reversa, um processo em que um

programador concorrente parte de um produto final (software) disponível no mercado e,

desconstruindo-o em pequenas partes, consegue aprender como o programador original o criou.

Com efeito, através do código-objeto o licenciado tem acesso apenas ao produto em

linguagem de máquina, e não ao código-fonte. Essa distribuição por meio de código-objeto

protege o produto original e facilita o controle do licenciante sobre a manutenção, suporte,

produtos derivados e atualizações. Todos esses são elementos fundamentais e estratégicos na

continuação do negócio do desenvolvedor, bem como uma garantia de retorno do investimento

despendido no desenvolvimento daquele software.

Embora o licenciante esteja protegido pelas Leis de Propriedade Intelectual,

especialmente as Leis 9.609/1998 (Leis do Software) e 9.610/1998 (Lei de Direitos Autorais), o

controle sobre o código-fonte é um método mais efetivo e menos oneroso do que exercer um

monitoramento do mercado ou mesmo ingressar com demandas judiciais para reafirmar aqueles

direitos.

Entretanto, em muitos programas de computador, o pronto acesso ao código-fonte é

essencial para o destinatário-final, caso o desenvolvedor não esteja mais disposto, ou não tenha

condições, de dar suporte aquele software. A tensão entre a necessidade do licenciante de limitar

acesso ao código-fonte, e a necessidade do licenciado de ter acesso ininterrupto ao software, é um

problema real e constante.

Existem soluções de natureza contratual que visam amenizar esse conflito, que pode ser

inclusive mediado por um terceiro de confiança. Este, agindo como verdadeiro depositário fica

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ficará em poder do depositário, a não ser que determinado evento ocorra, situação esta em que o

terceiro revelará o código-fonte ao licenciado.

Tais eventos são tipicamente baseados em alguma falha, ou ameaça de falha, do

licenciante em atender às expectativas criadas pelo licenciado quando da assinatura do contrato

de licença. Outra solução semelhante pode ser a previsão desses eventos dentro do próprio

contrato entre as partes, caso este em que o próprio licenciante detém a guarda de seu produto.

Licenciantes e licenciados são motivados a firmar, por exemplo, um escrow agreement do

código-fonte. A motivação do licenciado confunde-se com o desejo de mitigar o risco de perda de

acesso ao software e as suas funcionalidades. O escrow é normalmente visto como uma maneira

do licenciado exercer uma maior “influência” sobre o licenciante, caso não esteja satisfeito com

os serviços de suporte prestados. Doutro lado, licenciantes ficam relutantes em depositar o

código-fonte nas mãos de um terceiro, ou mesmo revelar os segredos que revestem seu produto,

tendo em vista a possibilidade desvalorização deste perante o mercado consumidor.

Contudo, em razão da crescente dependência do licenciado em ter acesso ao software,

bem como dos riscos que envolvem o negócio, além da competição típica desse nicho de

mercado, os licenciantes estão cada vez mais propícios a firmarem um escrow do código-fonte.

Como em todas as relações comerciais reguladas por meio de contratos, a capacidade das

partes de elaborar cláusulas diversas é limitada pelas normas imperativas presentes no

ordenamento jurídico. Neste caso, podemos citar novamente as Leis 9.609/1998 e 9.610/1998,

bem como a Lei 11.101/2005.

O grau com que o administrador judicial de uma falência pode limitar ou alterar direitos e

obrigações das partes contratantes, especificamente com relação a uma cláusula ou contrato, que

concedem acesso ao código-fonte de um programa de computador e, seus efeitos perante uma

economia de mercado é justamente o tema deste trabalho, parte integrante de uma futura

dissertação de mestrado.

2 PERPECTIVAS DISTINTAS QUANTO AO TRATAMENTO DE BENS:

PROPRIEDADE INTELECTUAL VS. SISTEMA FALIMENTAR

As normas referentes ao Direito de Propriedade Intelectual e as referentes ao Direito

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Propriedade Intelectual geralmente se preocupam com a criação de bens, encorajando condições

ideais para promoção de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, bem como na

maximização dos valores que podem ser extraídos desses bens eventualmente concebidos.

Grande parte do valor advindo de bens incorpóreos e, regulados pelo Direito da

Propriedade Intelectual, emanam de seu licenciamento, bem como de determinados serviços

relacionados. Destarte, a liberdade com que um autor pode negociar sua criação através de

instrumentos contratuais desempenha importante papel na consolidação do valor potencial de sua

invenção, abrindo caminho para um mercado robusto, sustentado pelo licenciamento do seu

produto, maximizando a exploração de sua criação intelectual.

Em contrapartida, o sistema falimentar enxerga a atividade econômica da perspectiva da

preservação da empresa, compreendida pela maximização dos ativos da sociedade empresária,

falida ou em recuperação. A fim de promover tal escopo, as normas falimentares conferem ao

administrador da falência elevado poder para rescindir contratos bilaterais, de modo a sanar e

reorganizar as finanças do empreendimento fracassado. É justamente neste ponto que reside o

conflito com as normas de Propriedade Intelectual.

De modo a prover um contexto para futura análise desta tensão, esta parte do trabalho

busca traçar os objetivos das leis de Propriedade Intelectual quanto ao tratamento de bens e

serviços, objetos de contrato de licenciamento. Igualmente, iremos analisar os contornos gerais da

Lei 11.101/2001, sobretudo seu escopo no tocante aos bens do falido. Em seguida, justificaremos

a escolha do contrato de desenvolvimento de software como objeto de estudo, bem como

demonstraremos como a solução contratual para a celeuma em destaque é insuficiente,

demandando solução na esfera legislativa.

2.1 A perspectiva da Propriedade Intelectual

Antes de adentrarmos ao objeto específico do item proposto, impende fazermos algumas

considerações quanto as diferentes teorias que tentam justificar a necessidade de protegemos a

atividade inventiva através do direito de exclusiva. De maneira bem resumida, tais teorias

divergem quanto à natureza jurídica da Propriedade Intelectual, se um direito natural ou de cunho

(9)

A primeira, e mais popular entre países anglo-saxônicos, particularmente nos Estados

Unidos da América (EUA), diz respeito à perspectiva utilitária (utilitarian approach), que busca

moldar os direitos de propriedade intelectual através da maximização do bem-estar social. Seus

estudiosos buscam atingir um balanço perfeito entre o direito de exclusiva, de modo a estimular a

criação de novas invenções e obras de arte, e a tendência desses direitos de cercear o acesso do

público geral a essas criações (AGAWARLAI e PRASAD, 2009).

Um exemplo deste pensamento doutrinário encontra guarida nos estudos de William

Landes e Richard Posner. Argumentam os autores que as características que distinguem a maioria

das criações intelectuais é que estas são facilmente copiadas e ainda, que o usufruto dessas

criações por uma pessoa não impede sua fruição por outras pessoas. A combinação dessas

características dá margem a uma situação perigosa, onde criadores de obras originais são

incapazes de recuperar os seus "custos de expressão" (costs of expression), ou seja, o tempo e

esforço dedicados para escrever um poema ou compor uma canção, bem como os “custos de

negociação”, com editoras ou gravadoras (LANDES e POSNER, 1989).

Parte-se do pressuposto de que tais custos serão reduzidos, ou eliminados, por “piratas”,

que suportam apenas os "custos de produção", quais sejam, os custos de fabricação e distribuição

dos produtos copiados, podendo oferecer aos consumidores produtos idênticos a preços mais

baixos.

A noção deste “perigo”, ou situação desvantajosa, eventualmente irá desencorajar os

autores de criações intelectuais com valor social de produzirem seus inventos ou obras originais.

Nesse contexto, a sociedade precisa evitar tal ineficiência econômica (market failure) conferindo

a esses autores o direito exclusivo de copiar ou reproduzir suas obras, por um tempo determinado.

Destarte, autores teriam o direito de cobrar um valor específico pelas suas produções, valor este

superior aquele eventualmente cobrado em um mercado plenamente competitivo.

A segunda corrente que busca justificar a proteção das criações intelectuais por um direito

de exclusiva parte da ideia de que uma pessoa que emprega sua força de trabalho em recursos

desconhecidos ou “em domínio público” possui um direito de propriedade natural aos frutos de

seus esforços. Tais estudos originaram-se do pensamento de John Locke, e são amplamente

concebidos como aplicáveis à área do direito de Propriedade Intelectual, onde materiais básicos

(10)

ainda, que o emprego de esforços pessoais contribui de maneira significativa no valor do produto

final (HUGHES, 1988).

A premissa para a terceira corrente parte essencialmente dos estudos de Kant e Hegel.

Para esta parte da doutrina, o direito a propriedade privada é crucial para satisfação de algumas

das mais fundamentais necessidades humanas. Dessa maneira, governantes deveriam se esforçar

para criar direitos que tornem possível o acesso a determinados recursos, de modo a maximizar a

satisfação dessas necessidades.

Deste ponto de vista, a Propriedade Intelectual pode ser justificada como sendo um

mecanismo de proteção contra a apropriação e modificação de trabalhos onde autores e artistas

expressaram sua “vontade” (atividade central da “personalidade” humana), como também pode

ser justificada pela simples razão de que a Propriedade Intelectual cria condições sociais e

econômicas propícias para a atividade inventiva, que por sua vez é fundamental para o

desenvolvimento humano (RADIN, 1993).

Por último, a quarta das correntes possui suas raízes no fato de que o direito à propriedade

em geral – e a Propriedade Intelectual em particular – podem e devem ser moldadas de modo a

ajudar a promover uma cultura justa e atrativa. Doutrinadores que seguem essa posição se

inspiram em um arcabouço eclético de teorias legais e políticas, incluindo Thomas Jefferson, Karl

Marx (em seus primórdios) e, autores provenientes do Realismo Jurídico. Tal corrente é similar

ao utilitarismo em sua orientação teleológica, porém difere em sua vontade de alcançar uma

sociedade mais rica e desenvolvida do que aquela prevista no estado do bem-estar social

(MICHELMAN, 1988).

Estabelecidas as bases para nosso conhecimento, podemos passar para a segunda etapa

deste item específico, que é propor e assentar os objetivos do direito de Propriedade Intelectual,

especialmente no tocante ao tratamento de bens incorpóreos.

Impende esclarecermos que, as duas primeiras correntes são, definitivamente, as mais

populares, representadas respectivamente pelos sistemas de Copyright nos Estados Unidos da

América e na Inglaterra, e Droit d'Auteur (ou Direitos Autorais) com presença na Europa

Continental. De maneira extremamente simplória, podemos afirmar que a principal diferença

entre os dois sistemas é a presença dos chamados “direitos morais” do autor. Ocorre que com a

(11)

propriedade intelectual1, presenciamos uma justaposição entre essa teorias. Enquanto os países

anglo-saxônicos incorporam regras semelhantes aos “direitos morais” tão importantes na Europa

Continental, estes por sua vez admitem cada vez mais a importância do raciocínio econômico na

justificação do Direito de Propriedade Intelectual (ROHRMANN, 2005).

Destarte, vamos basear nossas asserções na lógica econômica, que pretende justificar os

mecanismos de proteção da propriedade intelectual em uma falha de mercado a ser corrigida.

Entretanto, admitimos a importância que a teoria do “Direito Natural” possui neste cenário,

sobretudo, no Brasil, que optou por adotar um modelo baseado nos “Direitos de Autor”. Porém,

como dissemos anteriormente, o escopo deste trabalho é demonstrar e (tentar) resolver um

possível cenário econômico, ou mesmo, uma potencia falha no mercado de licenciamento de

tecnologias. Daí, optarmos por um raciocínio de cunho utilitarista, em detrimento a uma base

ideológica “naturalista”.

Partindo dessa perspectiva utilitarista, o arcabouço ideológico da Propriedade Intelectual

pode ser dividido em duas áreas: a) os modos de proteção focados principalmente em promover a

inovação e criatividade e; b) aqueles focados em proteger a integridade do mercado (MENELL e

SCOTCHMER, 2007). O primeiro diz respeito às Patentes e Direitos Autorais (Copyright Law) e,

em menor escala, aos segredos industriais ou comerciais. Já o segundo, faz-se presente nos

direitos marcários e nas normas que regulam a competição desleal.

Como o foco do nosso trabalho é o estudo dos contratos de licença de programas de

computador (a ser posteriormente melhor abordado), nos ateremos à primeira área, ou seja,

vamos nos preocupar apenas com o escopo da Propriedade Intelectual no tocante ao seu papel de

proteger e promover a atividade inventiva e, consequentemente, na criação e proteção de bens

imateriais com valor social de mercado.

Para entendermos a conexão entre a adoção de um modelo que garante um direito de

exclusiva sobre invenções e criações e a promoção do bem-estar-social, devemos considerar um

cenário hipotético, onde não há nenhuma proteção à propriedade intelectual. Invenções originais,

em regra, requerem investimentos em recursos humanos e técnicos. Em uma economia de

       

1

 A referida tentativa de uniformização das normas de proteção da propriedade intelectual, sobretudo aquelas que

visam resguardar os direitos de obras originais, se dá, sobretudo, pela assinatura de tratados internacionais, com

(12)

mercado, indivíduos motivados pela oportunidade de auferir valores econômicos somente

realizarão investimentos se o retorno financeiro superar os custos de produção.

O lucro advindo de uma invenção ou obra científica está diretamente ligado com a

possibilidade de o respectivo autor conseguir vender sua criação para terceiros, ou então, pela

possibilidade desta criação colocar esse mesmo autor em uma posição economicamente vantajosa

em relação aos seus competidores.

Ocorre que ideias são de difícil controle, especialmente na ausência de algum tipo de

proteção jurídica. Mesmo que determinada ideia apresente-se útil para o autor e ele consiga

reduzi-la a um estado de técnica ou expressão científica ou literária, este autor somente irá obter o

devido retorno financeiro na medida em que esta ideia seja mantida fora do alcance de seus

competidores.

Nesse diapasão, a situação agrava-se na hipótese de o autor desejar vender sua ideia para

um terceiro. A venda de uma informação requer necessariamente sua revelação para a parte

compradora. Uma vez revelada, o controle dessa informação torna-se uma tarefa extremamente

complicada. Informações possuem características daquilo que os economistas chamam de “bem

público”, pode ser consumida por várias pessoas sem que se esgote, sendo ainda complicado

identificar aqueles que não irão pagar pelo seu usufruto, bem como excluí-los do grupo das

pessoas que legitimamente usufruem desse bem.

Obviamente existem mecanismos que atenuam eventuais danos advindos de uma

revelação indevida, tais como Acordos ou Termos de Confidencialidade (Non-disclosure

agreements). Porém tais soluções contratuais são muito mais mecanismos de repressão do que de

prevenção propriamente dita, em razão do efeito inibitório possivelmente gerado a partir de

eventuais indenizações previstas em tais instrumentos. Entretanto, o controle eficaz da

informação é deficitário, e as cláusulas desses contratos são limitadas pelos institutos do Direito

Civil.

Tendo em vista essa falha de mercado, criaram-se os sistemas de patentes e direitos

autorais. Tais modelos protetivos, mesmo que sujeitos a diversas limitações, efetivamente

proíbem o uso e venda de invenções e obras protegidas sem a autorização do detentor da

respectiva propriedade intelectual. Dessa maneira, inventores e autores possuem a prerrogativa de

prevenir uma competição injusta com terceiros, pelo período em que aquela invenção ou obra

(13)

Levando em consideração a prerrogativa acima apontada, a maneira mais inteligente, e

prática, de um autor auferir lucro com sua invenção ou obra é através de um contrato de

licenciamento. A robustez do mercado de licenças desempenha papel fundamental no

desenvolvimento do pensamento criativo. Conclui-se, portanto, que o Direito de Propriedade

Intelectual confere (e encoraja) considerável liberdade contratual no que diz respeito à

negociação dessas licenças (MENNEL, 2007). Em contrapartida, o concurso de credores impõe

limitações à liberdade de contratar, conforme veremos adiante.

2.2 A perspectiva do Sistema Falimentar

De maneira geral e resumida, podemos dizer que os objetivos gerais da Lei 11.101/2005

estão fixados em seus artigos 47 e 75. Nas palavras do Professor Vinícius Gontijo, em seminário

realizado no ano de 2005 (FREITAS, 2012), tanto o art. 47, quanto o art. 75, da citada Lei, por

terem seus objetivos fixados em lei, o intérprete fica vinculado a estes objetivos, obrigando-o,

pelo menos, a buscar alcançá-los. Nas suas palavras:

Não se pode fazer uma interpretação gramatical, ou uma interpretação lógico sistemática, ou ainda uma interpretação histórica. Estamos vinculados a uma interpretação teleológica, finalística. Temos que interpretar a Nova Lei de Falências visando atingir aquilo que foi a previsão legal.

O artigo 47 estabelece como objetivo primordial a recuperação da atividade, a partir da

viabilização da superação de crise econômico-financeira do devedor. Os benefícios indiretos

seriam a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos

credores. Na mesma linha, ressaltou a importância da preservação da empresa, sua função social

e o estímulo á atividade econômica.

Nesse contexto, o artigo 75 da Lei n. 11.101/2005 igualmente inovou o procedimento

falimentar brasileiro, na medida em que trouxe como seu objetivo o afastamento do devedor, a

fim de preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos,

inclusive os intangíveis da empresa. A falência, portanto, visa também preservar a empresa, não,

apenas, liquidar os estabelecimentos e bens, como era a essência do revogado Decreto-Lei n.

(14)

Podemos então dizer que o sistema falimentar procura preserva o valor corrente dos

empreendimentos fracassados, a fim de maximizar a efetividade da execução. Buscando cumprir

seu escopo, a lei de falência visa “otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos

produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa”. Impende esclarecer que o objeto de estudo

deste trabalho, no caso os contratos de licenciamento de software e, consequentemente, seu

respectivo código-fonte, incluem-se no rol de bens intangíveis do empreendimento eventualmente

fracassado.

Ora, não é de se espantar que a Lei de Falências constrinja a liberdade contratual

previamente existente entre devedor e credor, dando amplos poderes ao administrador da falência

e ao comitê de credores. Nesse contexto, a falência influi na execução do contrato bilateral e a

Lei concede ao seu administrador judicial o direito de executar, ou não, os referidos contratos,

conforme lhe parecer mais conveniente aos interesses da massa falida (SIMIONATO, 2008). Ao

fazer isso, o sistema falimentar adota uma visão oposta à Propriedade Intelectual, na medida em

que se “preocupa” somente com a situação “pós-contratual”.

Obviamente que tal “preocupação”, bem como as citadas limitações a liberdade contratual

devem observar, consoante o referido art. 75 da Lei 11.101/2005, não só a preservação da

empresa, mas também sua função social e o estímulo à atividade econômica, esta última de

fundamental importância neste trabalho.

Quando se fala de cumprimento da função social e do estímulo à atividade econômica, a

própria Constituição da República deixa bem claro, seja por meio do artigo 1º, seja por força do

artigo 170 e seguintes, que o Brasil tem que buscar seu assento na economia de mercado, sem se

descuidar da parte social.

Muito embora não seja objeto deste trabalho o esgotamento do que se entende por função

social da empresa, além de ainda ser de extrema dissonância doutrinária, cujo enfrentamento,

neste, não se justifica, o assunto merece algumas referências. De início as palavras de Rachel

Sztajn (2007):

(15)

desaparecimento de qualquer dos elos pode afetar a oferta de bens e serviços, assim como a de empregos, por conta do efeito multiplicador da economia.

Observe-se que a função social da empresa pode ser destacada, de forma simplificada,

seguindo a linha de raciocínio acima esposada, tanto por seu conteúdo objetivo, quanto pelo seu

conteúdo subjetivo. Quando se trata do conteúdo especialmente objetivo, é verdade que a

atividade empresarial visa o lucro, mas ter-se-á em mente que a empresa tem outra função, que é

promover o desenvolvimento sustentável, sem que isto implique redução dos resultados

auferidos. O que se deve buscar é preservar os sistemas, a cultura, o meio-ambiente, por meio de

práticas eficazes capazes de movimentar a economia, sem agredir os patrimônios sociais. Estas

considerações são parte de análise particular da Agenda 21, da Conferência Das Nações Unidas

Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (FREITAS, 2012).

Do ponto de vista subjetivo, o legislador também teve seu papel de incentivar a função

social, haja vista que em diversos dispositivos estabeleceu requisitos de regulação da atividade,

especialmente na composição do quadro societário; no modo de administração das pessoas

jurídicas; na possibilidade de participação e proteção dos sócios minoritários; no direito de

retirada; no fomento às Microempresas, às Empresas de Pequeno Porte e ao Cooperativismo,

dentre outros vários. Observa-se que tais dispositivos não se encontram em um mesmo diploma,

fazendo parte, além do Código Civil, de legislação esparsa e até mesmo da Constituição da

República.

Assim, tem-se que a função social da empresa deve tanto perseguir os objetivos pela qual

a atividade foi criada e vem se desenvolvendo, quanto cuidar dos reflexos sociais que tal

atividade provoca. Seria uma forma de responsabilidade interna e externa, um misto de objetivo e

subjetivo que faz todo sentido, especialmente quando trata da recuperação da atividade

empresarial. Se percorrido todo o caminho para a recuperação, sem, contudo, se obter êxito,

promover-se-á o afastamento do devedor de suas atividades, visando preservar e aperfeiçoar a

utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, nos dizeres

do artigo 75, da Lei 11.101/2005.

Mesmo na drasticidade da situação da quebra, a função social da empresa não se coloca

em segundo plano, entretanto, nesta situação, o que se perseguirá é minimizar os prejuízos dos

(16)

No tocante a função de “estimular a atividade econômica”, nos chama à atenção a

interpretação de Raquel Sztajn (2007) que entende que “está implícito o reconhecimento de que a

empresa é uma das fontes geradoras de bem-estar social”. Percebe-se a partir da citada passagem

que os ideais de uma sociedade guiada pelo bem-estar social permeiam o espírito da nova Lei de

Falência, assim como a teoria utilitarista que busca explicar a natureza da Propriedade Intelectual,

conforme explicamos anteriormente. Tal fato é de extrema relevância, na medida em que

eventual e futura colisão entre princípios e regras (a ser discutido posteriormente) deverá levar

em consideração essa base principiológica.

Assim, a fim de concluirmos nosso pensamento quanto ao presente tópico, reiteramos

que, a princípio, a Lei 11.101/2005 e seus institutos buscam limitar a liberdade contratual

previamente existente entre devedor e credor, dando amplos poderes ao administrador da falência

a ao comitê de credores, de modo a maximizar o valor dos ativos pertencentes à massa falida. Ao

fazer isso, o sistema falimentar adota uma visão oposta à Propriedade Intelectual, na medida em

que se “preocupa” somente com a situação dos bens do falido em uma fase “pós-contratual”,

enquanto que o foco da primeira recai sobre a situação dos bens (intangíveis) do licenciante e,

eventualmente falido, em uma fase “pré-contratual”.

2.3 O contrato de desenvolvimento de software como objeto de estudo e a problemática da

falência do licenciante

Com o crescimento da tecnologia informática, o mercado envolvendo o licenciamento de

programas de computador, os chamados softwares, tornou-se extremamente atrativo. Tais

contratos geralmente englobam diversas modalidades de propriedade intelectual. É de grande

valia diferenciarmos os contratos de licença business-to-business (B2B) - que envolvem

softwares customizados para computadores e redes de larga-escala, bem como licenças

envolvendo desenvolvedores de softwares e empresas no setor de hardware, websites, e outros

empreendimentos que distribuem programas de computador – daqueles contratos

business-to-consumer (B2C) – que geralmente envolvem os chamados “softwares de prateleira”.

No tocante a primeira modalidade (B2B), nos setores envolvendo computadores de alta

plataforma (mainframes) e os (quase extintos) minicomputadores, muitas empresas de software

(17)

responsabilidades recorrentes. Essas empresas normalmente utilizam-se de contratos de

licenciamento complexos, que incluem serviços de manutenção, suporte e upgrade. Tais licenças

são caracterizadas por uma contínua confidencialidade e restrição no uso e reprodução do

programa objeto do contrato, bem como elaboração de relatórios e pagamentos periódicos. Dessa

maneira, podem facilmente ser incluídos no rol de contratos bilaterais de trato sucessivo ou,

execução continuada.

Nessa mesma categoria, temos os chamados contratos de desenvolvimento de sistemas

por encomenda, ou contratos de desenvolvimento de programas de computador, ou de software.

Na maioria dos casos uma empresa contrata, com outra empresa o desenvolvimento de um

sistema, sob medida, ou por encomenda, para informatizar uma atividade, uma rotina, ou mesmo

as funções de todo um departamento. Há situações em que a software house subcontrata o

desenvolvimento de trechos do programa ou sistema encomendado, que não serão tratados no

presente estudo. Tais contratos são também incluídos no rol de contratos bilaterais de trato

sucessivo ou, execução continuada, por igualmente preverem obrigações contínuas, tais como

suporte e atualização.

Diverso é o caso dos contratos de software B2C. São contratos que se caracterizam pelo

estado de oferta permanente do produto ou serviço e pelo distanciamento existente entre as partes

contratantes. É um contrato próprio do mundo contemporâneo, onde a oferta do produto ou

serviço se dirige a usuários indistintos e numerosos. A comercialização de softwares-produtos,

embalados e prontos para serem utilizados é comumente feita através de contratos de adesão:

uma licença de uso simplificada, composta de alguns parágrafos acerca dos deveres do usuário e

direitos do proprietário do programa (CERQUEIRA, 2011).

A adesão é feita pelo ato de abrir o envelope ou caixa, rasgar o lacre, etc. Programas são

geralmente comercializados pela Internet com a utilização de contratos de adesão, onde o

destinatário lê e concorda com as condições estabelecidas para “descarregar” o programa. No

entanto, em que pese tal contrato perfazer a aparência de um contrato de compra e venda, o que

se dá é a aquisição pelo licenciamento de uso. Cumpre salientar que, em regra, esses contratos

não são de trato sucessivo, não havendo previsão de obrigações contínuas por parte do

licenciante.

Feitas as devidas considerações, impende esclarecermos a razão da escolha dos contratos

(18)

modalidades de Propriedade Intelectual, como patentes, marcas registradas, desenhos industriais

e cultivares, porém além de fascinante, o tema objeto de estudo nos causa reflexão pelas

particularidades envolvidas.

Muitas empresas prestadoras de serviços de desenvolvimento de sistemas, por falta de

experiência, de recursos e conhecimento técnico – algumas vezes por falta de idoneidade –

acabaram por meter os pés pelas mãos, engajando-se em empreitadas acima de suas capacidades.

Com isso sistemas foram desenvolvidos pela metade no dobro do tempo, com triplo dos custos,

em prejuízo para ambas às partes contratantes. As varas cíveis e empresariais, em todo o território

brasileiro, encontram-se envolvidas em demandas que possuem como objeto contratos de

desenvolvimento de sistema descumpridos pelas empresas prestadoras de serviços.

Consoante antiga indagação de Carvalho de Mendonça (1964): “em que situações ficam

as relações jurídicas oriundas de contratos, que o devedor celebrou antes da sentença

declaratória de falência, e que no dia dessa sentença ainda não produziram todos os seus

efeitos?” Ora, a partir dessa passagem vemos que os contratos bilaterais de trato sucessivo

sempre foram objeto de controvérsia no direito falimentar. Nosso objetivo é igualmente

transportar essa antiga celeuma para o mercado moderno, onde o contrato de desenvolvimento de

programa de computador desempenha papel relevante.

Podemos dizer que no Brasil, o perigo de quebra por software houses é maior do que

aquele envolvendo grandes empresas que licenciam tecnologias objeto de patentes. Ainda,

embora seja o programa de computador protegido por lei pelos mecanismos próprios dos direitos

autorais, outras modalidades de licenciamento próprias desse ramo da propriedade intelectual

geralmente envolvem pessoas naturais, afastando assim a aplicabilidade do instituto da falência.

Portanto, as licenças de softwares possuem maior recorrência no mercado de

licenciamento de propriedade intelectual envolvendo empresários e sociedades empresárias. Mas

então, porque não estender o objeto de estudo, de modo a incluir os contratos B2C, amplamente

comercializadas em nossa sociedade? A resposta para tal questionamento encontra-se justamente

nos termos destes contratos.

Como a maioria dos contratos bilaterais, as licenças envolvendo programas de

computador preveem hipóteses de resolução das obrigações acordadas. Em ambos os tipos de

contratos, B2B e B2C, a falência (e mesmo a recuperação judicial) figura como uma dessas

(19)

requerida pela parte licenciada, o usuário final, enquanto que nos modelos de contrato B2B, a

resolução poderá se dar pela falência de qualquer uma das partes.

Como dissemos o foco do presente trabalho encontra-se na eventual falência do

desenvolvedor do programa de computador. Ainda, a aplicação das regras da falência para

contratos bilaterais de trato sucessivo sempre foi objeto de maior discussão pela doutrina. Mas

então, onde está o problema da falência do desenvolvedor de um software se a quase totalidade

dos contratos possuem uma cláusula de resolução pela decretação dessa falência?

Primeiramente, há uma discussão jurídica quanto à validade (ou não) da cláusula expressa

de resolução de contrato bilateral pela decretação da falência ou recuperação judicial. Segundo,

temos que a decretação da falência pela parte licenciante de um programa de computador é capaz

de causar diversos problemas para a parte licenciada, colocando em risco, inclusive, a

continuação de seus negócios.

O risco de uma falência pode comprometer os incentivos para que os players de mercado

negociem o licenciamento de uma propriedade intelectual. Na hipótese de falência do licenciante,

a Lei 11.101/2005 permite que o administrador daquela falência cumpra ou não aquele contrato,

baseado na conveniência deste cumprimento em relação aos ativos da massa falida. Ocorre que

tal “conveniência” fica a julgamento do administrador falência, que muitas vezes resta

despreparado para lidar com contratos envolvendo tecnologias de ponta. Tal fato pode levar a

resultados particularmente danosos para a parte licenciada, que pode ter construído seu modelo

de negócios, ou linha de produtos, baseados no uso da propriedade intelectual licenciada pelo

falido.

Caso o administrador da falência opte em não dar continuidade ao contrato de

licenciamento, a única opção do licenciado é requerer perdas e danos e habilitar seu crédito na

categoria apropriada. Se não bastasse a parte licenciada perde o direito de continuar usando

aquela propriedade intelectual. Como vemos, o licenciado fica “a ver navios”, devendo buscar

uma nova empresa para que desenvolva um novo programa de computador, já que não é possível

continuar utilizando o programa de titularidade do falido, sob pena de contrafação, fato este que

simplesmente duplica os investimentos naquela tecnologia específica, que geralmente não é

barata, colocando em cheque, como dissemos anteriormente, a continuidade dos negócios do

(20)

Vemos que nesse cenário, a discussão quanto à validade da cláusula resolutiva pela

falência torna-se secundária, na medida em que não é vantajoso para o licenciado encerrar

abruptamente seu contrato de licenciamento, pois perderá o direito de uso daquela tecnologia.

Uma opção de solução é recorrer a outro desenvolvedor, para que este construa um novo

programa tendo como base o programa previamente licenciado.

Ocorre que tal solução não é tão simples quanto parece. Existem dois caminhos para o

desenvolvimento de um programa semelhante, capaz de minimizar os prejuízos iminentes

advindas da perda do direito de uso do programa de computador. A primeira é através de

engenharia reversa, solução esta que demanda novos investimentos e consome considerável

tempo, algo que a empresa licenciada talvez não possa se dar ao luxo de perder. A segunda opção

é o desenvolvimento de um novo software com base no código-fonte do programa objeto de

licenciamento prévio.

Fato é que estes softwares são comumente comercializados na forma de código-objeto,

sendo que a empresa licenciante costuma manter controle restrito sobre o código-fonte. A razão

disso deriva das distintas características do código-objeto e do código-fonte. Para melhor

entendermos tal distinção, interessante o uso de uma analogia culinária, simples, porém valiosa.

Considerando que o código-objeto é a refeição já pronta e servida, o código-fonte é a

receita detalhada daquele prato, que permite a um chef habilidoso recriar esse mesmo prato várias

vezes. Por serem secretos os ingredientes e impossíveis de serem determinados somente pelo

exame sensorial (cheiro, gosto, etc.), caso esse chef venha a falecer ou o restaurante, por alguma

razão, “feche suas portas”, é provável que ninguém mais volte a degustar aquele prato. Mas, se

você possui a receita, não dependerá do restaurante; qualquer chef habilidoso será hábil a recriar

aquele prato.

Quando um software é distribuído em código-objeto, o código-fonte é essencialmente

inacessível, principalmente em razão da já citada engenharia reversa. Com efeito, através do

código-objeto o licenciado tem acesso apenas ao prato, e não à receita. Essa distribuição por meio

de código-objeto protege o produto original e facilita o controle do licenciante sobre a

manutenção, suporte, produtos derivados e atualizações. Todos esses são elementos fundamentais

e estratégicos no modelo de negócio de qualquer desenvolvedor, bem como uma garantia de

(21)

Embora o licenciante esteja protegido pelos mecanismos próprios da Propriedade

Intelectual, especificamente as Leis 9.609/1998 (Lei do Software) e 9.610/1998 (Lei de Direitos

Autorais), o controle sobre o código-fonte é um método mais efetivo e menos oneroso se

comparado ao monitoramento de mercado ou mesmo o ingresso de demandas judiciais para

reafirmar a titularidade de direitos, ou requerer perdas e danos. A tensão entre a necessidade do

licenciante de limitar acesso ao código-fonte, e a necessidade do licenciado de ter acesso

ininterrupto ao software é um problema recorrente.

Felizmente, existem soluções de natureza contratual que visam amenizar esse conflito,

que pode ser inclusive mediado por um terceiro de confiança. Este, agindo como verdadeiro

depositário fica encarregado de administrar aquele bem (código-fonte) depositado pelo

desenvolvedor. Este bem ficará em poder do depositário, a não ser que determinado evento

ocorra (ex.: caso o chef morra), situação esta em que o terceiro revelará o código-fonte ao

licenciado.

Tais eventos são tipicamente baseados em alguma falha, ou ameaça de falha, do

licenciante em atender às expectativas criadas pelo licenciado quando da assinatura do contrato

de desenvolvimento e licenciamento, como é o caso de uma eventual falência. Outra solução

semelhante pode ser a previsão desses eventos dentro do próprio contrato entre as partes, caso

este em que o próprio licenciante detém a guarda de seu produto.

Nessa esteira, licenciantes e licenciados são motivados a firmar o chamado contrato de

escrow do código-fonte (melhor estudado no item “2.4”). O escrow é normalmente visto como

uma maneira do licenciado exercer uma vantagem sobre o licenciante, caso não esteja satisfeito

com os serviços de suporte prestados. Doutro lado, licenciantes ficam relutantes em depositar o

código-fonte nas mãos de um terceiro, ou mesmo revelar os segredos que revestem seu produto,

tendo em vista a possibilidade desvalorização deste perante o mercado consumidor.

Contudo, em razão da crescente dependência do licenciado em ter acesso ao software,

bem como dos riscos que envolvem o negócio, os licenciantes estão cada vez mais propícios a

firmarem um contrato de escrow do código-fonte.

Como em todas as relações comerciais reguladas por meio de contratos, a capacidade das

partes de elaborar cláusulas diversas, e mesmo contratos acessórios, é limitada pelas normas

imperativas presentes no ordenamento jurídico. Neste caso, podemos citar especificamente a Lei

(22)

3 ESCROW DO CÓDIGO-FONTE COMO MECANISMO DE PROTEÇÃO

(INCOMPLETA) DOS CONTRADOS DE DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE

Em sentido amplo, o vocábulo escrow significa depósito com função de garantia. Em

sentido estrito, o termo denota o documento escrito, confidencial, eventualmente selado, que

prova a existência de obrigações entre duas ou mais pessoas, confiado em garantia a um terceiro,

que se compromete a restituí-lo ao depositante ou a entregá-lo ao beneficiário, em função da

verificação ou não de condição pré-determinada (ANTUNES, 2007).

Daí é possível extrair-se que o escrow é um contrato necessariamente ligado a uma

relação jurídica principal, baseado na fidúcia que as partes assentam em terceiro a quem se

confiará o bem, cuja função consiste na garantia de cumprimento de obrigações, assegurando-se

ao beneficiário do depósito que, demonstrado seu status de credor, poderá facilmente realizar seu

crédito.

Dentre seus elementos essenciais, no que tange às partes, a doutrina portuguesa aponta o

escrow como um contrato trilateral, subscrito por duas partes contratantes em negócio jurídico

coligado, em razão do qual se realiza o depósito, e um ente fiduciário, o depositário escrow, que

acompanhará a execução do contrato principal e, a quem se confia a guarda dos bens dados em

sua garantia (ANTUNES, 2007).

Diferentemente de outras formas de garantias oriundas do direito anglo-saxão, a exemplo

dos trusts, o depositante não transfere o domínio do bem depositado in escrow, mantendo-se

como legítimo proprietário enquanto não verificada condição que obrigue sua alienação ao

beneficiário do depósito.

O depositário escrow, ou “escrow holder”, independente e imparcial, por sua vez, recebe

o bem dado em garantia, obrigando-se perante os sujeitos do contrato principal a guardar,

administrar e, eventualmente lhe dar a destinação acordada.

Ainda, integra a relação contratual o eventual beneficiário do bem depositado, o que

confere o caráter trilateral ao escrow. O beneficiário torna-se parte no contrato para verificar se o

destino do bem dado em garantia pelo depositante ao “escrow holder” está sendo cumprido,

sendo que sua participação se justifica pela existência de um negócio jurídico conexo ao depósito

(23)

A qualidade de credor do beneficiário é dita eventual, porque depende de vicissitudes

subsequentes do negócio subjacente (futuras e incertas) a que estão condicionadas a produção de

seus efeitos e que determinarão o legitimado a exigir a entrega do bem ao depositário. Conforme

Antunes (2007):

A qualidade de credor do beneficiário do depósito é, conforme sublinhado, meramente eventual. Com efeito, o seu direito de crédito (caucionado com o depósito) está dependente das vicissitudes ocorridas ao nível do contrato conexo ao depósito escrow, nomeadamente do preenchimento da condição (suspensiva) a que as partes subordinaram a produção da totalidade ou parte dos efeitos do referido contato. Neste caso, a atribuição ao beneficiário do depósito do direito a exigir a entrega dos bens depositados está dependente, apenas e só, da verificação do evento condicionante que poderá desencadear a produção dos efeitos do negócio jurídico celebrado.

A ausência desse caráter de eventualidade descaracterizará o escrow como tal, como no

caso em que a condição de credor se subordina a evento futuro e certo, por exemplo, a morte do

depositante, em que o beneficiário nada faz além de aguardar o implemento do termo.

Quanto a sua natureza jurídica, o contrato de depósito evoluiu de sua função inicial de

satisfazer uma necessidade prática de custódia e conservação de uma determinada coisa no

interesse de outrem para ser aproveitado para a finalidade de garantia, como é o caso de depósito

com função de garantia, quando adquire natureza acessória ao contrato principal, cujo

cumprimento visa assegurar.

O contrato com função de garantia escrow tem suas raízes na antiga prática negocial do

direito anglo-saxônico, sobretudo nos Estados Unidos, consistente na entrega de bens de valor

elevado em garantia do cumprimento de obrigações à terceiro, que se compromete a guardá-los

até que se verifiquem ou não determinadas condições.

De acordo com a doutrina e jurisprudência norte-americanas o escrow se aproxima do

instituto da “agency”, contrato pelo qual uma pessoa (denominado principal) outorga a outra (o

agent) poderes para agir em seu nome, encarregando-o da prática de atos constitutivos,

modificativos e extintivos de direito, que tem como características essenciais a relação

consensual e fiduciária e, a atribuição de poder-dever, assemelhando-se ao contrato de mandato

brasileiro e ao de representação do direito português.

No direito brasileiro, o art. 632 do Código Civil de 2002 prescreve: “Se a coisa houver

sido depositada no interesse de terceiro, e o depositário tiver sido cientificado deste fato pelo

depositante, não poderá ele exonerar-se restituindo a coisa a este, sem consentimento daquele”.

(24)

em que o direito do depositante de reaver a coisa está condicionado ao consentimento do terceiro

beneficiário.

No entanto, a doutrina distingue duas principais espécies de depósito com funções de

garantia: (i) o depósito no interesse de terceiro (que é regulado pelo direito brasileiro), e (ii) o

depósito em favor de sujeito alternativamente determinado (suspensivamente condicionado

quanto à pessoa legitimamente autorizada a exigir a entrega da coisa). Este último, sem

regramento legal (ANTUNES, 2007).

A função de garantia desta espécie de contrato reside no fato de que o terceiro tem mais

confiança no adimplemento do depositário, normalmente um Banco de primeira linha, de liquidez

indiscutível, do que na pessoa de seu devedor: o depositante. Há, na verdade, a substituição da

pessoa do devedor.

Por outro lado, o depósito em dinheiro, caracteriza depósito irregular, entendido como

aquele que recai sobre coisas não individuadas, fungíveis e consumíveis, em que não é possível a

devolução da própria coisa depositada, mas outra do mesmo gênero, quantidade e qualidade,

razão pela qual desvirtua a natureza do contrato, alterando-lhe a causa, aplicando-se as regras

concernentes ao mútuo.

O depósito irregular não se confunde totalmente com o mútuo, porque preserva para o

depositante a faculdade de exigir a restituição do equivalente à coisa fungível depositada. Dai

porque muitos entendem que “o depósito irregular não é mútuo nem depósito propriamente dito,

mas negócio especial” (GOMES, 1999).

Em conclusão, entende-se que o escrow é um depósito irregular, inominado e atípico, com

função de garantia, em favor de sujeito alternativamente determinado, não contemplado pelo

artigo 632 do Código Civil.

Embora incomum na prática jurídica brasileira, o contrato escrow vem sendo cada vez

mais utilizado no mercado de licenciamento de programas de computador. Como dito

anteriormente, num contrato de desenvolvimento de software, o licenciante receia que o

licenciado faça alguma utilização indevida do programa, não tendo interesse, assim, em entregar

a este último o fonte, mas apenas em transmitir-lhe o programa sob a forma de

código-objeto.

Por outro lado, o licenciado teme que, por circunstâncias alheias a sua vontade, o

(25)

utilização corrente do software, estando, pois, interessado em ter acesso ao código-fonte do

programa.

O depósito escrow do código-fonte junto à terceiro de confiança, dotado de

conhecimentos técnicos específicos, permite salvaguardar os riscos presentes: o risco do

licenciante em ver o código-fonte indevidamente utilizado pelo licenciado, por outro lado, o risco

deste último em possuir material informático sem qualquer aplicação prática.

O escrow celebrado no mercado informático tem sido amplamente estudado por autores

norte-americanos. Relativamente às principais características desta modalidade particular de

escrow, conhecida como “soft code escrow agreement”, cumpre salientarmos determinados

pontos (ANTUNES, 2007):

Primeiramente, aquilo que o titular do software deposita in escrow é apenas um suporte

informático (por exemplo, um CD-ROM ou um USB), uma vez o código-fonte – como bem

incorpóreo – não pode ser objeto de depósito. Da mesma maneira, deposita-se toda documentação

referente aquele código-fonte, em especial, o manual de instruções e todos os documentos que

permitem manter o software em pleno funcionamento, sem necessidade de recorre a ajuda do

licenciante.

Em segundo lugar, em razão da natureza especial do bem depositado, é importante que se

estabeleçam algumas cláusulas particulares, que não existem na generalidade dos contratos de

depósito escrow, como por exemplo, as que impõem ao depositário (holder) o dever de

confidencialidade, as que determinam a atualização periódica do código-fonte em caso de novas

versões ou releases do software, ou ainda, as que preveem a realização de testes periódicos pelo

depositário, a fim de comprovar que essas novas versões estão aptas a funcionar corretamente.

Em terceiro lugar, o escrow do código-fonte não garante plenamente a posição jurídica do

licenciado. Isto porque o licenciado não está em condições de verificar se o material depositado

em garantia corresponde, de fato, ao verdadeiro código-fonte. Por outro lado, porque a

informação depositada é, em muitos casos, insuficiente para assegurar ao licenciado a plena

utilização do código-fonte.

Finalmente, porque, em certos casos, a entrega efetiva do código-fonte ao licenciado não

é automática, ou seja, não ocorre imediatamente após a verificação do fato condicionante previsto

no contrato, podendo o licenciante (ou terceiro legitimamente interessado) opor-se aquela,

(26)

Justamente neste último caso que focamos os esforços deste trabalho. Para que o

licenciado tenha acesso ao código-fonte e toda a documentação correlata, é necessário que

determinado(s) evento(s) ocorra(m). Tal cláusula que condiciona a entrega da coisa à ocorrência

de certos eventos, chamada pela doutrina norte-americana de “triggering clause”, normalmente,

está relacionada a alguma falha por parte do licenciante, sendo que o fracasso do

empreendimento, notadamente através da decretação da falência, é condição amplamente

presente neste tipo de contrato.

Entretanto, partindo da premissa de que a revelação do código-fonte para terceiro, no caso

o licenciado/beneficiário, acarreta na diminuição do valor de mercado do programa de

computador depositado, pode o administrador judicial da falência exercer a prerrogativa contida

no artigo 117 da lei 11.101/2005, se opondo a entrega do bem?

Primeiramente, antes de respondermos tal questionamento, impende esclarecermos a

relação entre o valor de mercado de um programa de computador e, o quão secreto é mantido seu

código-fonte. Como o custo marginal de se produzir uma cópia de um software é, na prática, nulo

(ou quase nulo), vez se trata de bem imaterial, o controle sobre o código-fonte do produto se

torna essencial para o desenvolvedor. Assim, trata-lo como segredo industrial é medida

imperativa, de modo a se manter a frente de seus competidores.

A partir do momento que o código-fonte abandona sua condição de segredo, seu valor irá

inexoravelmente diminuir. Seria tal redução no valor de mercado conveniente para a massa

falida? A nosso ver, a resposta é negativa.

Temos que o administrador judicial da falência pode, de fato, opor-se a entrega do bem

depositado in escrow em caso de falência do licenciante, prevista tal condição como triggering

event. Ora, a regra geral estabelecida pela 11.101/2005 é a de que os contratos não se resolvem

pela falência. Conforme nos ensina Trajano de Miranda Valverde (1948):

As obrigações a cargo do falido, quer resultem de contratos unilaterais, quer representem a contraprestação devida por força de um contrato bilateral, já totalmente cumprido pela outra parte, o credor, vencem-se no dia da abertura da falência, e quanto aos contratos bilaterais, ainda não cumpridos no todo ou em parte, pelos contratantes, é ponto firmado na doutrina e assinalado pela lei que ele, em princípio, não se resolvem com a falência de qualquer do contratantes.

Entendemos que, apesar da Lei 11.101/2005 não fazer referência expressa aos contratos

(27)

bilaterais de trato sucessivo se aplicam ao caso. Ora, se tal regra se aplica a contratos unilaterais e

bilaterais, não há porque haver exceção para os trilaterais, a não ser que expressamente prevista

em lei, o que não é o caso.

A falência influi na execução do contrato bilateral e a lei concede ao administrador da

falência o direito de executar, ou não, os referidos contratos, conforme lhe parecer mais

conveniente aos interesses da massa falida. Isso significa não agravar a situação econômica da

própria massa falida. A razão é simples: ao administrador judicial é vedado prejudicar o interesse

dos credores.

Como a falência existe no interesse de todos os credores, seria uma iniquidade permitir

que a situação desses mesmos credores sofresse prejuízo, vendo sua possibilidade de recebimento

dissipar no interesse individual de um terceiro credor, nesse caso o beneficiário do escrow. A

falência é juízo de igualdade (par conditio creditorum). Os interesses são coletivos, não

individuais, por isso a decisão de cumprir ou não o contrato deve levar em consideração o

interesse de todos os credores (SIMIONATO, 2008).

Se não houver conveniência para a massa falida o administrador judicial pode não

executar total ou parcialmente o contrato, mas a outra parte tem o direito de exigir da massa

falida a devida indenização pelas perdas e danos. Todavia, como dissemos anteriormente, tal

opção, de longe, não é a ideal.

4 CONCLUSÃO

Por fim, podemos concluir que o contrato de depósito escrow do código-fonte é uma

solução interessante para o licenciado, visando se resguardar de eventual fracasso no

empreendimento do licenciante. Todavia, é uma solução imperfeita, ou mesmo incompleta, pois a

entrega do bem depositado in escrow não é automática, podendo ser obstada pelo administrador

judicial da falência, caso este entenda que tal revelação se dê em sentido contrário aos interesses

econômicos da massa falida, não sendo assim conveniente, na acepção legal do termo.

Assim, como na situação em que o administrador judicial interrompe o contrato de

desenvolvimento e licenciamento do programa de computador encomendado, deixando o

licenciado “a ver navios”, essa mesma interferência advinda da prerrogativa do artigo 117 da Lei

(28)

gerar efeitos inibitórios (chilling effects) em relação a um cenário de investimentos neste

mercado.

Cabe, assim, ao legislador prover segurança jurídica às empresas que pretendem

modernizar-se. Na ausência de legislação específica, a solução seria se a cláusula resolutiva

expressa pela falência fosse ineficaz, dando condições para que o licenciado continuasse a

exercer sua empresa, sem interrupções, confiando no bom-senso e no julgamento razoável do

administrador judicial da falência, de que a continuação do contrato apresenta-se conveniente

para a massa falida. Porém, tal solução não é ideal. Maior segurança jurídica residiria em solução

de cunho legislativo, semelhante ao que fizeram os norte-americanos ao criar o Intellectual

Property Bankruptcy Protection Act, representado pela seção 365(n) do Bankruptcy Act, o qual é

objeto de estudo a ser apresentado em futura dissertação.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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“copy-rights”! Are we resurrecting the license era? Artigo publicado na Revista de Direito Milton

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doutrina, práticas comerciais, modelos de contratos. Curitiba: Juruá, 2011. p 57.

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(29)

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