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-AS FUNÇÕES DO RIM PRINCIPAIS FUNÇÕES DO RIM. Excreção de toxinas do metabolismo. Regulação do equilíbrio hidro-eletrolítico

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Um quadro de insuficiência renal é dito agudo (IRA) quando sua evolução é rápida, geralmente em dias ou semanas. Na maioria das vezes o seu diagnóstico é laboratorial, feito pelo reconhecimento da eleva- ção da ureia e creatinina plasmáticas (azotemia), na ausência de sintomas. Contudo, quando a disfunção é grave (Cr t > 4,0mg/dL), os sinais e sintomas da síndrome urêmica já podem aparecer. Estima-se que cerca de 5% das admissões hospitalares e 30%

das internações em UTI cursam com insuficiência renal aguda.

Por definição, Insuficiência Renal é a queda na taxa de filtração glomerular (TFG). Entretanto, a azotemia (Cr t > l,5mg/dL) costuma aparecer apenas quando a TFG está menor que 50ml/min, isto é, abaixo da metade do valor normal.

sas substâncias contêm nitrogénio em suas molécu- las, pois se originam da quebra dos aminoácidos, e são chamadas corriqueiramente de 'escórias nitro- genadas', ou 'compostos azotêmicos'. Até hoje, a maior parte destas moléculas não é bem conhecida, mas sabe-se que o seu acúmulo em grandes quanti- dades tem forte participação no desenvolvimento de uma síndrome clínica grave e potencialmente fatal: a síndrome urêmica (ou UREMIA), que descrevere- mos mais tarde. Algumas dessas toxinas têm demons- trado toxicidade in vitro e in vivo, tais como os com- postos guanidínicos derivados da arginina, as aminas alifáticas ou aromáticas (derivadas do triptofano), os fenóis, os indóis, entre outros. A ureia, quando em concentrações muito altas (>380mg/dL) também apresenta efeitos tóxicos, como náuseas, vómitos, anorexia e sangramento.

QUADRO DE CONCEITOS I Azotemia X Uremia

,

-AS FUNÇÕES DO RIM

Para definir e compreender a insuficiência renal, é fundamental um entendimento preciso das funções do rim. Das três principais, duas o fazem ser um órgão vital, ou seja, necessário para a manutenção da vida - São elas: (1) função de filtro, ou função excretória, e (2) regulação do equilíbrio hidro- eletrolítico e ácido-básico. A terceira função renal é a função endócrina, mediada basicamente atra- vés da produção de duas substâncias humorais (hormônios) principais: a eritropoietina e o calcitriol (forma ativa da vitamina D). Comentare- mos sobre a função endócrina mais tarde, no capí- tulo de insuficiência renal crónica.

A1BÇÀ0

PRINCIPAIS FUNÇÕES DO RIM Excreção de toxinas do metabolismo Regulação do equilíbrio hidro-eletrolítico Função endócrina - eritropoietina e calcitriol

1- A FUNÇÃO DE FILTRO: EXCREÇÃO DE TOXINAS

O rim tem a função de eliminar do organismo a maior parte das substâncias tóxicas derivadas do nosso metabolismo. As principais toxinas, formadas diaria- mente, são derivadas do metabolismo proteico. Es-

Azotemia é o aumento plasmático das ""escóri- as nitrogenadas"" (o prefixo azo significa nitro- génio), detectado em exames séricos pelo au- mento da ureia e creatinina - diversas outras substâncias nitrogenadas, que também se ele- vam nos quadros azotêmicos, não são habitu- almente dosáveis.

Uremia é um termo sindrômico (síndrome urê- mica), e faz referência ao achado dos sinais e sintomas que resultam da insuficiência renal gra- ve - não deve ser usado para indicar apenas o aumento plasmático dos níveis de ureia. A uremia costuma ocorrer com TFG < 15-30ml/min.

O rim executa a sua função excretória através da filtração glomerular. A taxa de filtração glomerular (TFG) é o parâmetro que quantifica esta função.

O valor normal está entre 80-140ml/min, o que equi- vale a aproximadamente 120 litros de plasma filtra- dos por dia. Destes, cerca de 118 litros retornam para o plasma através da reabsorção tubular; sen- do os 2 litros restantes eliminados como urina (que contém todas as toxinas que precisam ser elimina- das do organismo).

Algumas substâncias, além de filtradas no glomérulo, ainda podem ser eliminadas na urina pelo processo de secreção tubular. Um bom exemplo de secreção tubular é o que ocorre com as penicilinas e com o ácido úrico: a maior parte de sua eliminação não é pela filtração glomerular, mas sim pela secreção

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tubular, através de um carreador de ácidos orgâni- cos presente nas células do túbulo proximal.

1.1 - A Medida da Função (Excretória) Renal A única maneira de se medir a função excretória renal é pela quantificação da filtração glomerular. A sín- drome urêmica aguda pode ocorrer com um taxa de filtração glomerular (TGF) menor que 15-30ml/min (menos de 15-30% da função renal), o que corres- ponde a uma concentração plasmática de ureia e cre- atinina acima de 120mg/dL e 4,0mg/dL, respectiva- mente, em um adulto de 40 anos, pesando 70 Kg.

Na prática médica, podemos quantificar a função re- nal utilizando-se os parâmetros relativos a função excretória. São eles: (1) ureia plasmática; (2) creatini- na plasmática; (3) clearance de creatinina, (4) clearance de inulina.

1.1.1 - Ureia Plasmática

A ureia é formada no fígado a partir de moléculas de amónia (NH3), produzidas em grande quantidade pelo metabolismo proteico e pelas bactérias da flora intestinal. Enquanto a amónia é extremamente tóxica, sendo uma das substâncias causadoras do coma hepático, a toxicidade da ureia é controversa. Ape- nas em concentrações muito elevadas (> 38Omg/dL) pode produzir efeitos adversos, geralmente relacio- nados ao trato gastro-intestinal e à hemostasia. No entanto, como a ureia é eliminada quase que exclusi- vamente pelo rim e é de fácil dosagem plasmática, podemos utilizar a medida de seus níveis para avaliar a função excretória renal. De uma forma geral, os ní- veis de ureia se elevam para níveis acima dos valores de referência quando a TFG está menor que 50ml/

min. O valor normal da ureia é 20-40mg/dL.

Entretanto, a ureia não é o melhor 'termómetro' para se medir a função renal. Uma parte da ureia filtrada pelo glomérulo é reabsorvida. Portanto, condições que aumentam a reabsorção tubular, como a hipovo- lemia, podem aumentar os níveis séricos de ureia, sem haver importante queda da função renal. Além disso, a grande produção de amónia após um hemor- ragia digestiva, quando a flora intestinal cataboliza intensamente a hemoglobina liberada, leva a um au- mento da produção hepática de ureia, elevando seus níveis. Um catabolismo proteico acentuado, como ocorre em estados de sepse, desnutrição grave ou uso de corticosteróides, também pode fazer elevar a

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Tabela 1: Causas de aumento da ureia plasmatica

Insuficiência renal Hipovolemia

Sangramento digestivo Estados hipercatabólicos Corticosteróide / Tetraciclinas Dieta hiperprotêica

ureia plasmatica, independente da função renal. Uma dieta hiperprotêica pode também elevar os níveis de ureia. Em contrapartida, a ureia plasmatica deve estar reduzida na insuficiência hepática...

1.1.2 - Creatinina Plasmatica

É uma substância não-tóxica produzida pelo tecido muscular, derivada da creatina, molécula armazena- dora de energia na célula muscular. Tem grandes van- tagens para ser utilizada como medida da função ex- cretória renal: a) sua produção diária é relativamente constante, b) ao contrário do que ocorre com a ureia, não é reabsorvida pelo túbulo.

Os níveis normais de creatinina plasmatica depen- dem da massa muscular do indivíduo. Em um indiví- duo musculoso, uma creatinina plasmatica de 1,3mg/

dL pode ser normal, enquanto que em um desnutri- do, a creatinina plasmatica deve estar abaixo de 0,8mg/dL. O valor normal da creatinina é:

Homens < l,4mg/dL Mulheres < l,2mg/dL

Uma regra: Para que haja azotemia, é necessário uma queda acentuada da função renal, em geral quando a TFG estiver menor que 50ml/min (50% do normal).

Isto acontece, pois a creatinina plasmatica é inversa- mente proporcional à TFG: se a TFG diminui para a metade, a creatinina plasmatica aumenta para o do- bro. Neste caso, se, por exemplo, o nível de creatini- na basal for de 0,6mg/dL, o aumento será para 1,2mg/

dL, ainda dentro dos valores de referência. Portan- to, o estágio inicial da insuficiência renal geral- mente não é detectado pela dosagem da creatinina e ureia plasmáticas.

to, depurado do plasma. Podemos dizer que o clearance de creatinina (CICr) é uma razoável estima- tiva da TFG, apesar de superestimá-lo um pouco (cos- tuma ser 15% maior que a real TFG). O valor normal do clearance de creatinina é de 80-150ml/min.

O motivo da discreta superestimativa da TFG é o fato de cerca de 15% da creatinina ser eliminada por secreção tubular, e não pela filtração glomerular.

Como medir o CICr na prática médica?

O paciente deve coletar toda a urina durante 24h e levá-la para o laboratório. Determina-se a concentra- ção urinária de creatinina (Cr ) e o volume urinário em 24h (V, em ml). Sabendo-se a concentração de creatinina plasmatica (Cr t), calculamos o clearance de creatinina (CICr) pela seguinte fórmula:

CICr = Cr urinária x V Crplx1440

Ex.: Cru = 110 mg/dL; Crpl = 0,9 mg/dL; V=1200ml Logo: CICr= 110 x 1200 = 102ml/min (normal).

0,9 x 1440

Obs.: 14440 é o número de minutos em 24h.

O clearance de creatinina é o exame mais usado para diagnosticar o estágio inicial da insuficiência renal (TFG entre 50-80ml/min), quando a creatinina plasma- tica ainda não se elevou acima dos níveis de referência (não há azotemia). Quando a insuficiência renal é avan- çada, isto é, quando a TFG está abaixo de 20ml/min, o clearance de creatinina superestima ainda mais a fun- ção excretória renal, pois 35% dela passam a ser elimi- nados por secreção tubular. Este problema pode ser amenizado administrando-se cimetidina (um inibidor da secreção tubular de creatinina) na dose de 1200mg (dia 1) e 400mg/dia (dias 2,3 e 4) antes da coleta urinária.

Outro problema: quando há disfunção renal grave, grandes aumentos da creatinina plasmatica correspon- dem a uma pequena redução do CICr. Por exemplo, uma elevação da creatinina plasmatica de 4,0mg/dL para 8,0mg/dL, cursa com apenas um pequeno decréscimo no CICr de 15ml/min para 12ml/min. Essa pequena va- riação pode se confundir com o erro do exame. Quan- do não dispomos do exame de urina de 24h, estimamos o clearance de creatinina através da creatinina plasma- tica, do peso e da idade do paciente (Clearence Esti- mado - Fórmula de Cockcroft-Gault):

QUADRO DE CONCEITOS II

Uma creatinina plasmatica de 1,3 mg/dL pode ser normal para um paciente jovem e musculo- so, mas pode significar 38% da função renal em uma idosa magra

1.1.3 - Clearance de Creatinina

Clearance, do inglês, significa depuração. Por defi- nição, é o volume de plasma que fica "livre" da subs- tância a ser eliminada a cada minuto. Por exemplo, o clearance da ureia é de 50-70ml/min. Como uma par- te da ureia é reabsorvida, e retorna ao plasma, o seu clearance é menor que a taxa de filtração glomerular (TFG). A creatinina não é reabsorvida - tudo o que é filtrado no glomérulo é excretado na urina e, portan-

CICr= (140-idade) x peso 72 x Crpl

* na mulher, multiplica-se o resultado por 0,85.

Ex.1: Crpl = 1,3mg/dL; idade = 70anos; peso- 60Kg; sexo = feminino

CICr = (140-70) x 60 x 0,85 = 38 ml/min 72 x 1,3

Ex.2: Crpl= 1,3mg/dL; idade = 25anos; peso- 70Kg; sexo = masculino

CICr = (140-25) x 70 = 86 ml/min 72 x 1,3

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A fórmula do Clearance Estimado nos dá um ótimo exemplo de como a concentração plasmática de cre- atinina sempre deve ser interpretada de acordo com o peso muscular e a idade do paciente... Como você acabou de ver, a mesma creatinina plasmática (l,3mg/

dL) corresponde a 38% da função renal numa senho- ra de 70 anos, pesando 60Kg, mas está relacionada a uma TFG totalmente normal em um homem jovem com o peso muscular de 70Kg.

2- REGULAÇÃO HIDROELETROLÍTICA E ÃCIDO-BÁSICA

Os níveis séricos de potássio, sódio, a osmolaridade e o pH extracelular necessitam de uma precisa regu- lação renal. Este controle é feito através da reabsorção e secreção tubular, porém depende de uma filtração glomerular mínima, para garantir a eliminação dos eletrólitos administrados e do H+ produzido. Por esta razão, a insuficiência renal leva a uma série de dis- túrbios hidro-eletrolíticos e ácido-básicos, tais como, hipervolemia, hipercalemia, hiponatremia, acidose metabólica, hipocalcemia, hiperfosfatemia e hipermagnesemia - este assunto será abordado com detalhes adiante.

- ETIOPATOGENIA

A insuficiência renal aguda pode ser causada por três mecanismos básicos: (1) hipofluxo renal (azote- mia pré-renal); (2) lesão do próprio parênquima re- nal (azotemia renal intrínseca), e (3) obstrução do sistema uro-excretor (azotemia pós-renal). A causa de azotemia renal intrínseca mais comum é a NTA (necrose tubular aguda). Mas de todos esses meca- nismos, o mais comum parece ser o pré-renal e o menos comum, o pós-renal. Veja os percentuais:

1- Pré-renal (hipofluxo) - 55-60%

2- NTA (necrose tubular aguda) - 35-40%

3- Pós-renal (obstrutiva) - 5-10%

Alguns estudos realizados em CTI de hospitais terciários mostram, entretanto, uma proporção dife- rente, com a NTA sendo responsável por 50% dos casos de insuficiência renal aguda, seguida pela pré- renal (35% dos casos) e pós-renal (10% dos casos).

Outras causas de injúria renal intrínseca correspon- dem a menos de 10% do total de casos de falência renal aguda.

1 - AZOTEMIA PRÉ-RENAL

A azotemia pré-renal, ou insuficiência pré-renal, é a elevação das "escórias nitrogenadas" causada di- retamente pela redução do fluxo sanguíneo renal.

É o tipo mais comum de insuficiência renal aguda (55-60% dos casos). Caracteriza-se clinicamente pela reversibilidade, uma vez restaurado o fluxo renal.

As principais causas são: (a) hipovolemia; (b) esta- dos de choque; (c) insuficiência cardíaca; (d) cirrose hepática com ascite.

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QUADRO DE CONCEITOS III

A insuficiência pré-renal caracteristicamente cursa com oligúria, devido tanto à queda da TFG quan- to ao aumento da reabsorção tubular. É marcada clinicamente pela reversibilidade, uma vez restau- rado o fluxo renal.

Apesar da definição de oligúria envolver um parâmetro fixo (<500ml em 24h ou <30ml/h), na prática, devemos valorizar qualquer queda expressiva do volume urinário, mesmo que ainda acima deste valor considerado limite.

Existe azotemia pré-renal sem oligúria ? Sim. O exemplo é a associação dos estados de baixo fluxo renal (como hipovolemia) à diurese osmótica (glicosúria, manitol) ou à perda da capacidade de concentração urinária (diabetes insipidus nefrogênico ou central, uso de furosemida).

0 que todas estas entidades possuem em comum é a queda do chamado volume circulante efetivo, ou seja, aquele que circula no leito arterial e perfunde os nossos órgãos. Em situações normais, este volume corresponde a 30% do volume circulante total. Na insuficiência cardíaca e na cirrose com ascite, esta proporção pode cair para menos de 10%, pois ocorre represamento do fluido intravascular, respectivamen- te, no território venoso e esplâncnico.

1.1- Fisiopatologia

Felizmente, os vasos renais possuem um mecanismo de proteção contra alterações deletérias do fluxo re- nal e da taxa de filtração glomerular, o que denomina- mos auto-regulação do fluxo renal e da filtração glomerular. Quando a pressão arterial média (PAM) cai, as arteríolas aferentes vasodilatam, reduzindo a resistência vascular do rim, evitando o hipofluxo re- nal. Em condições normais, o fluxo sanguíneo renal é preservado até uma PAM de 80 mmHg. Caso esta pressão caia para abaixo desses valores, a auto-re- gulação não é mais capaz de evitar o hipofluxo, pois as arteríolas já estão no seu máximo de vasodilata- ção. Neste ponto, instala-se a azotemia pré-renal. É importante ressaltar que indivíduos com um 'desajuste' da auto-regulação renal, podem desen- volver azotemia pré-renal mesmo com a PAM um pouco acima de 80mmHg. E o caso de alguns ido- sos, hipertensos crónicos e diabéticos de longa data.

O mecanismo de vasodilatação aferente depende de dois fatores: (1) estímulo direto de baroreceptores de estiramento da própria musculatura lisa arteriolar (reflexo miogênico) e (2) liberação intrarrenal de vasodilatadores endógenos (prostaglandina E2, sis- tema calicreína-cinina, óxido nítrico) que agem pre- dominantemente na arteríola aferente.

A TFG ainda pode ser regulada de forma indepen- dente do fluxo renal, por ação da angiotensina II, um potente vasoconstrictor da arteríola eferente. Ao agir

QUADRO DE CONCEITOS IV IRA Pré-renal A insuficiência pré-renal geralmente se instala assim que a pressão arterial média cair para abaixo de 80mmHg, porém, em alguns idosos, hipertensos crónicos e diabéticos de longa data, o hipofluxo renal poderá se instalar com uma PAM um pouco acima deste valor, devido a uma disfunção crónica da arteríola aferente.

sobre esta arteríola, a angiotensina II promove um aumento da pressão de filtração glomerular, contri- buindo para a manutenção da TFG.

Veja a importância desses conceitos... os AINE (inibidores da formação de prostaglandinas) e os inbidores da ECA prejudicam a auto-regulação do fluxo renal e da TFG. Estes fármacos podem precipi- tar azotemia pré-renal em pacientes com baixo fluxo renal, como aqueles com hipovolemia moderada a grave, ICC descompensada, nefropatia crónica ou estenose bilateral de artéria renal.

A hipovolemia (na verdade, a redução do volume circulante efetivo) é um forte estímulo para a ativa- ção do sistema renina-angiotensina-aldosterona, do sistema adrenérgico e para a liberação de ADH (vasopressina). A angiotensina II, as catecolaminas e a vasopressina agem promovendo vasoconstric- ção cutânea, subcutânea e esplâncnica para desviar o fluxo sanguíneo aos órgãos "nobres". Quando o estímulo é intenso, a vasoconstricção acomete tam- bém os vasos renais, contribuindo para a azotemia pré-renal. O uso de drogas com efeito vasoconstrictor renal, tais como a noradrenalina, adrenalina, do- pamina (em dose alfa), ergotamina, ciclosporina e contraste iodado, pode também precipitar uma azo- temia pré-renal.

Na tentativa de conservação hidro-salina, a angio- tensina II aumenta a reabsorção de sódio e água pelo néfron proximal, enquanto a aldosterona aumenta a reabsorção de sódio e água no néfron distai. A vasopressina aumenta a reabsorção de água no néfron distai. Resultado final: aparecimento de oligúria, urina hiperconcentrada e pobre em sódio.

1.2- Etiologia

A tabela 2 reúne as principais causas de insuficiên- cia pré-renal.

A hipovolemia é a causa mais comum de insuficiên- cia pré-renal e, portanto, de insuficiência renal agu- da. Pode ser devida à hemorragia externa ou interna, diarreia, vómitos, fístulas digestivas, poliúria, sudorese extensa ou perda para o terceiro espaço (retroperitônio - pancreatite; peritônio - ascite; luz intestinal - obstrução intestinal aguda, isquemia in- testinal, íleo paralítico; tecido muscular - trauma).

Devemos estar atentos para não "deixar passar" o diagnóstico de hemorragias internas, como um

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Tabela 2: Causas de Azotemia Pré-Renal

Hipovolemia Estados de Choque

Insuficiência Cardíaca Descompensada Cirrose Hepática com Ascite

Nefropatia Isquêmica AINE

Inibidores da ECA

hemotórax, um hemoperitônio, um hematoma mus- cular da coxa, todos consequentes a trauma. A mus- culatura da coxa traumatizada pode armazenar até 6L de líquido, só de edema...

O estado de choque é acompanhado pela redução generalizada do fluxo orgânico. Um dos órgãos mais afetados é o rim. Os choques hipovolêmico, cardio- gênico, séptico e obstrutivo são os tipos descritos.

A causa mais comum de choque cardiogênico é o infarto agudo do miocárdio.

A insuficiência cardíaca descompensada pode cau- sar redução importante do fluxo renal, pelo baixo débito cardíaco. Na insuficiência cardíaca, a ativa- ção do sistema renina-angiotensina-aldosterona pro- move retenção hidro-salina que inicialmente é bené- fica, por aumentar o retorno venoso e manter, assim, o débito cardíaco em um nível satisfatório. Contudo, no estado mais avançado da cardiopatia, a retenção de sódio e água pelo rim torna-se excessiva, sobre- carregando o ventrículo doente e levando a conges- tão pulmonar e sistémica.

A cirrose hepática com ascite é um estado de hipo- volemia relativa, pois estes pacientes apresentam uma intensa vasodilatação esplâncnica, reduzindo a quan- tidade de fluido no leito arterial. A hipertensão por- ta, em associação com a disfunção hepatocelular, prejudica a depuração do óxido nítrico (NO) produzi- do pelo endotélio da circulação mesentérica. O óxido nítrico é um potente vasodilatador.

A nefropatia isquêmica é uma situação especial de azotemia pré-renal. Ocorre na estenose da artéria re- nal bilateral (ou estenose arterial em rim único). Ge- ralmente são pacientes previamente hipertensos e com aterosclerose em vários territórios vasculares.

O mecanismo da isquemia aguda pode ser trombose sob a placa aterosclerótica, hipovolemia ou o uso de inibidores da ECA em pacientes com estenose bila- teral grave. No caso dos inibidores da ECA, a IRA é reversível com a sua retirada.

2- SíNDROME H E P A T O - R E N A L

A síndrome hepatorrenal é uma importante causa de IRA em pacientes com cirrose hepática avançada, hepatite fulminante ou tumores hepáticos. Apesar de ter um mecanismo fisiológico "pré-renal", a sín- drome leva à insuficiência renal grave, que só rever-

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te com a recuperação da função hepática ou com o transplante de fígado. No paciente cirrótico, é um sinal de péssimo prognóstico, com uma mortalidade em torno de 80%.

O que vem a ser a Síndrome Hepatorrenal?

Na verdade, os pacientes com insuficiência hepática grave experimentam uma redistribuição do fluxo san- guíneo renal, caracterizado por vasoconstrição ge- neralizada da córtex renal. Este evento vascular acaba desviando sangue do local onde se encon- tram os glomérulos, e a consequência é o estabeleci- mento de oligúria e retenção de escórias. Histologi- camente, os rins estão normais, e o quadro pode ser revertido se o distúrbio hepático for resolvido, mas não há resposta a reposição volêmica!

A sua génese é desconhecida, mas sabe-se que na disfunção hepática grave há um acúmulo de fatores que exercem importantes efeitos hemodinâmicos, como é o caso do óxido nítrico (NO), capaz de induzir uma exagerada vasodilatação esplâncnica, reduzin- do assim a resistência vascular periférica. Com isso, a tendência é para hipotensão arterial e diminuição do volume circulante efetivo. Não se sabe ainda quais são os fatores que promovem a intensa vaso- constrição renal na síndrome, mas não há dúvidas de que eles são decorrentes da insuficiência hepáti- ca, pois o transplante de fígado corrige totalmente a insuficiência renal desses pacientes. A intensa va- soconstricção renal determina uma resposta renal semelhante àquela encontrada na hipovolemia: um estímulo para reabsorção de sódio e água (mediado pelo sistema renina-angiotensina-aldosterona). Como resultado, teremos uma urina pobre em sódio e con- centrada (hiperosmolar).

Na tabela 3, veja os critérios para o diagnóstico da síndrome hepatorrenal pelo 'International Ascites Club' .Os critérios maiores devem estar presentes, en- quanto os menores conferem suporte ao diagnóstico.

A síndrome hepatorrenal pode se instalar de forma fulminante (Tipo I), com aumento da creatinina plas- mática para acima de 2,5mg/dL em menos de duas semanas, ou se manifestar como uma forma mais bran- da de insuficiência renal (Tipo II), com eliminação urinária de sódio inferior a lOmEq/dia e ascite resis- tente aos diuréticos.

O prognóstico é ruim caso a insuficiência hepática não possa ser resolvida. A mortalidade pode ultra- passar 80%. A diálise é necessária, mas, por si só, não aumenta a sobrevida... Nenhuma droga de- monstrou-se eficaz na terapia, embora novos estu- dos tenham mostrado resultado com o uso da terlipressina (associada à infusão de albumina).

Este análogo do ADH (vasopressina) age contrain- do a vasculatura esplâncnica, com isso, deslocan- do mais volume circulante efetivo para os rins. O uso do TIPS (transjugular intrahepatic porto- systemic shunt), ao aliviar a hipertensão porta, pode contribuir para a melhora da função renal em al- guns pacientes. Contudo, a presença de encefalo- patia hepática contraindica tal procedimento.

Tabela 3

CRITÉRIOS MAIORES

Doença hepática aguda ou crónica, com insuficiência hepática avançada e hipertensão porta

Redução da taxa de filtração glomerular, indicada por creatinina sérica maior que 1,5mg/L ou clearence de creatinina menor que 40mL/min

Exclusão do uso de drogas nefrotóxicas, choque, infecção ou episódios recentes de hipovolemia Ausência de melhora com interrupção do uso de diuréticos e infusão de 1,5L de solução salina isotônica*

Proteinúria menor que 500mg/dL e ausência de lesão renal ou obstrução urinária ao US

CRITÉRIOS MENORES Diurese diária menor que 500ml_

Sódio urinário menor que 10mEq/L

Osmolaridade urinária maior que a plasmática Concentração de sódio sérico menor que 130mEq/L EAS revelando menos de 50 hemácias por campo

* Critério mais importante

3- AZOTEMIA RENAL INTRÍNSECA

A azotemia renal intrínseca, ou IRA por lesão intrín- seca, é a disfunção renal aguda causada por lesão do seu próprio parênquima. É responsável por 35- 40% dos casos de insuficiência renal aguda. Pode cursar com oligúria (necrose tubular aguda isquê- mica, rabdomiólise, glomerulonefrites ou nefropatias microvasculares), anúria (necrose cortical aguda, algumas glomerulonefrites) ou não-oligúria/poliúria (necrose tubular aguda por aminoglicosídeos).

A insuficiência renal aguda por lesão renal intrínse- ca é uma entidade comum entre os pacientes com patologias graves internados em um CTI. Nessas cir- cunstâncias, está associada a uma alta letalidade (50- 80%), devido principalmente à gravidade da doença de base (ex.: sepse).

Enquanto o comprometimento glomerular (glomeru- lopatias) predomina entre as causas de lesão renal crónica, a causa mais comum de lesão renal aguda é o comprometimento tubular . O tipo de lesão renal intrínseca mais comum na IRA é uma entidade deno- minada Necrose Tubular Aguda (NTA) - descrita no Volume II. Vamos agora fazer uma pequena revisão das causas mais comuns desta importante síndrome:

estados de choque, sepse, SIRS (ex.: pancreatite agu- da necrosante), rabdomiólise, envenenamentos (ex.:

Bothrops jararaca, Loxsoceles sp.) e nefrotoxicida- de por medicamentos (ex.: aminoglicosídeos, con- traste iodado, ciclosporina, anfotericina B).

A tabela 4 mostra as causas principais de azotemia renal intrínseca. Neste capítulo, vamos descrever resumidamente cada uma delas, destacando os pon- tos mais importantes, especialmente no que diz res-

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Tabela 4: Causas de IRA por Lesão Intrínseca Necrose Tubular Aguda

- Isquemica (choque, sepse, SIRS, pós-operatório) - Rabdomiólise (trauma, cocaína, distúrbios

eletrolíticos)

- Hemólise intravascular

- Medicamentos (aminoglicosídeos, anfotericina B, contraste iodado, ciclosporina, aciclovir, foscarnet, pentamidina, cisplatina, ifosfamida) - Venenos; etilenoglicol, Bothrops jararaca,

Loxsoceles sp.

Síndrome da lise tumoral (ácido úrico) Leptospirose

Nefrite intersticial aguda 'alérgica'

- Penicilinas, cefalosporinas, sulfas, tetraciclinas, rifampicina, etambutol, diuréticos, alopurinol, AINE, ranitidina, captopril

Glomerulonefrite difusa aguda

Glomerulonefrite rapidamente progressiva Nefroesclerose hipertensiva maligna Ateroembolismo por colesterol Síndrome Hemolítico-Urêmica Crise renal da esclerodermia Trombose de veia renal bilateral

peito à insuficiência renal aguda. Na verdade, fare- mos uma revisão abrangente.

3.1 - Necrose Tubular Aguda Isquemica A necrose tubular aguda (NTA) isquemica é uma causa frequente de IRA oligúríca em pacientes internados, es- pecialmente na UTI. Muitos pacientes encontram-se em estado de grave comprometimento sistémico (choque ou hipotensão prolongada, sepse, pancreatite aguda ne- crosante, politrauma, grande queimado, pós-operató- rio) As cirurgias mais associadas à NTA isquemica são:

(1) cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea >

2h, (2) cirurgia de aneurisma de aorta abdominal supra- renal com clampeamento aórtico > 30-60min, e (3) ci- rurgia biliar em pacientes ictéricos.

O sistema tubular é mais sensível à lesão isquemica ou hipóxica do que o glomérulo, pois (1) tem um gasto energético maior e (2) recebe menor vascularização. A parte reta do túbulo proximal e a porção ascendente es- pessa da alça de Henle são especialmente suscetíveis (são os segmentos que gastam mais energia).

Para levará NTA, a isquemia renal deve ser grave ou prolongada, mas se o paciente for nefropata crónico (ex.: diabético) ou estiver tomando medicamentos nefrotóxicos, a NTA pode ocorrer com menores graus de isquemia. No caso da sepse, o principal mecanismo de NTA é a intensa vasoconstricção renal, induzida por seus mediadores, mas a endotoxina também contribui, pelo seu efeito tóxico direto aos túbulos renais.

A NTA isquemica, na verdade, faz parte de um espectro temporal: o paciente com isquemia renal evolui de ime-

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diato com azotemia pré-renal. Se esta não for corrigida precocemente (por exemplo, com a reposição de flui- dos), a tendência será a evolução para NTA isquêmica.

Se isto acontecer, a azotemia e a oligúria não mais respondem à reposição volêmica! Muitos pacientes apresentam azotemia pré-renal associada à NTA...

Porque a NTA cursa com insuficiência renal aguda? (1) pela obstrução do sistema tubular pelos plugs epiteliais, (2) pela vasoconstricção aferente, motivada pelo feedback túbulo-glomerular - a mácula densa recebe mais fluido, já que o túbulo proximal lesado encontra- se com a reabsorção prejudicada, (3) pelo vazamento de escórias nitrogenadas (ureia e creatinina) pela pare- de tubular lesada.

A lesão do epitélio tubular prejudica a reabsorção, le- vando à formação de uma urina rica em sódio e pobre em água (diluída). As células epiteliais se desprendem para o lúmen, aderindo-se à proteína de Tamm-Horsefall e formando os cilindros epiteliais. As células degene- radas acumulam pigmentos, formando os conhecidos ci- lindros granulosos pigmentares ('cilindros marrons').

O prognóstico da NTA isquêmica é ruim, com uma mor- talidade acima de 50%. O paciente não morre da NTA (pois a diálise permite a sobrevivência em casos de IRA grave) - a morte é decorrente da doença de base e geralmente está associada à síndrome da disfunção orgânica múltipla, uando o paciente sobrevive à fase aguda, a evolução natural é a de uma síndrome auto- limitada, havendo regeneração das células tubulares renais em cerca de 7-21 dias, com recuperação da função renal e uma fase poliúrica.

3.2 - Rabdomiólise

Rabdomiólise significa lesão muscular extensa, libe- rando na circulação enzimas musculares (CPK, TGO, LDH, aldolase), eletrólitos (potássio, fosfato), ácidos (ácido lático) e pigmentos (mioglobina). As causas de rabdomiólise podem ser: trauma (especialmente o es- magamento muscular), isquemia muscular (síndrome compartimentai e da reperfusão muscular), imobiliza- ção prolongada, grande mal epiléptico, hipertermia ma- ligna, exercício físico extenuante, hipocalemia ou hipo- fosfatemia graves, infecções (influenza, tétano), intoxi- cações (etanol, cocaína, anfetamina, ecstazy) e enve- nenamentos (Crotalus sp. - cobra cascavel). Maiores detalhes no Volume II.

A grande quantidade de mioglobina liberada pelo tecido muscular lesado é filtrada pelo glomérulo e alcança os túbulos. Com um baixo fluxo tubular, a concentração deste pigmento no lúmen torna-se muito alta, podendo, então, ser lesiva e promover NTA.O heme contido na mioglobina é o principal responsável. Além de lesar os túbulos renais, a mioglobina possui efeito vasoconstrictor arteriolar, induzido pela depleção do óxido nítrico intra- renal. A própria lesão isquêmica renal, decorrente da hipovolemia e do estado crítico do paciente, contribui para a NTA. A lesão muscular pode acumular uma gran- de quantidade de líquido que pode chegar a 6L (perda para o terceiro espaço). Portanto, primeiro o paciente faz uma azotemia pré-renal hipovolêmica, para depois evo- luir com NTA por efeito da mioglobina.

O diagnóstico é suspeitado pela história clínica, pela elevação das enzimas musculares e pelo achado da mioglobina no sedimento urinário. Entretanto, na urinálise convencional, a mioglobina é interpretada como hemo- globina e o resultado mostrará 'hemoglobinúria'. A bio- química urinária é variável, mas a presença de cilindros granulosos pigmentados é comum.

A prevenção da NTA na rabdomiólise deve ser realiza- da de forma agressiva com a reposição de fluido isotônico (soro fisiológico 0,9% ou Ringer). O volume de soro deve ser 200-300ml/h nas primeiras 24h, o que dá um total de 5-8L por dia. A administração de manitol + NaHCO3 pode contribuir nesta prevenção.

3.3 - Nefrotoxicidade por Aminoglicosídeos

Algum grau de IRA ocorre em cerca de 10-30% dos pacientes que usam aminoglicosídeos. De todos os me- dicamentos nefrotóxicos, este é o grupo responsável pelo maior número de casos de NTA. Hipovolemia, ICC, idade avançada e nefropatia crónica são os principais fatores de risco.

Estas drogas, quando administradas em doses altas, mais de uma vez ao dia e por um período >10 dias, são altamente nefrotóxicas. O fármaco é endocitado pelas células do túbulo proximal, promovendo injúria celular direta. Como o principal defeito está na reabsorção, a insuficiência renal geralmente é não-oligúrica. A NTA por aminoglicosídeos é uma das causas de IRA associ- ada à hipocalemia e hipomagnesemia. A perda de potássio ocorre por lesão tubular proximal (ver item 'Leptospirose'), enquanto que a perda de magnésio se dá por lesão da alça de Henle. A bioquímica urinária é típica de NTA (rica em sódio e relativamente diluída). O sedimento pode mostrar os cilindros epiteliais e granulosos.

Aqui é importante o entendimento do seguinte aspec- to: Como é possível insuficiência renal sem oligúria?

Por definição, na insuficiência renal, há redução sig- nificativa de TFG Com a queda na filtração glomerular, espera-se que haja uma redução proporcional do dé- bito urinário, levando à oligúria. Entretanto, nas doen- ças tubulares, o débito urinário pode não diminuir (ou até aumentar), apesar de haver queda da TFG e insu- ficiência renal grave. A explicação é a seguinte: na tubulopatia, há uma queda importante da reabsorção tubular. No néfron normal, cerca de 98% do que é filtrado é reabsorvido. Com o túbulo muito doente, a reabsorção pode cair, por exemplo, para 85%. Mes- mo com uma filtração glomerular reduzida (ex.: 10ml/

min ou 12Udia), se a reabsorção for de apenas 85%

(WL/dia), o débito urinário será 2L/dia. Se a reabsorção for menor ainda (pex.: 9Udia), o paciente irá urinar cerca de 3Udia.

Como toda NTA, a lesão renal por aminoglicosídeos tende a ser auto-limitada, havendo recuperação paulati- na da função renal após a suspensão da droga, pelo mecanismo de regeneração tubular.

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3.4 - Nefrotoxicidade por outros Medicamentos Os mecanismos de nefrotoxicidade dos medicamentos que levam à NTA são: (1) toxicidade tubular direta; (2) vasoconstricçao arteriolar; (3) obstrução tubular por depósitos ou cristais.

Contrastes Iodados: São agentes utilizados para a realização dos exames radiológicos (radiografia, tomografia computadorizada, arteriografia, coronario- grafia etc). Podem ser bastante tóxicos para o rim e provocar NTA. Isto ocorre principalmente nos pacientes com creatinina> 1,5mg/dL, nos diabéticos, cardiopatas e portadores de mieloma múltiplo. Por isso, na véspera do exame, o paciente de risco deve receber uma hidratação vigorosa com solução salina 0,45% ou soro fisiológico 12h antes e 12h após o exame, na infusão de 1ml/Kg/h. A insuficiência renal começa a se desenvol- ver nas 48h após o exame e reverte após 7 dias, em média. O mecanismo da toxicidade é a lesão tubular direta, mas principalmente a vasoconstricçao da arteríola aferente, mediada pela liberação renal de endotelina. A IRA é caracteristicamente oligúrica, o sedimento urinário é inocente e a bioquímica urinária é do tipo pré-renal (sódio baixo e concentrada). Os con- trastes não-iônicos e não-hiperosmolares também po- dem causar NTA, porém, com uma chance menor.

Ciclosporina: É um fármaco imunodepressor bastan- te utilizado após o transplante de órgãos (incluindo o renal), para evitar rejeição aguda. Esta droga é conhecidamente nefrotóxica, promovendo lesão tubular, bem como isquemia renal por vasoconstricçao arteriolar e contração do mesângio (daí a oligúria). Para evitar o seu efeito tóxico, os seus níveis séricos devem ser mensurados diariamente. O exame de urina é seme- lhante ao da toxicidade pelo contraste iodado.

Anfotericina B: Antibiótico com efeito fungicida po- tente, é bastante nefrotóxico, levando à lesão tubular direta e promovendo uma IRA não-oligúrica e com importante perda de potássio e magnésio. O quadro assemelha-se à NTA por aminoglicosídeos.

Outras: As outras drogas que podem levará NTA são:

aciclovir (por formação de cristais), pentamidina, foscarnet, cisplatina, ifosfamida etc.

3.5 - Outras Causas de Necrose Tubular Aguda Variadas substâncias químicas podem ser nefrotóxi- cas, promovendo NTA. As principais são os metais pesados (chumbo, mercúrio), os inseticidas (paraquat), o etilenoglicol e o envenenamento por cobras (Bothrops jararaca) ou aranhas (Loxsoceles sp. - aranha mar-

rom). No caso específico do etilenoglicol, o mecanismo de lesão tubular é pelo acúmulo de cristais de oxalato difusamente no sistema tubular.

Além da mioglobina, um outro pigmento, quando liberado em grande quantidade no plasma, podem levara IRA por NTA. É o caso da hemoglobina. Portanto, as hemo- globinúrias maciças podem cursar com insuficiência renal. O efeito tóxico da hemoglobina é semelhante ao

Referências

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