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O ouro branco que o pais não quer perder

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Academic year: 2022

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Âmbito: Interesse Geral Corte: 1 de 8

ID: 96416786 12-12-2021

O ouro branco que o pais não quer perder

É um metal crucial para a transição energética, o alimento das baterias do futuro - até lhe chamam o novo petróleo. Fala-se em desenvolvimento nacional, na oportunidade para a descarbonização da economia, numa peça essencial para a indústria automóvel.

Uma equação com vários ângulos, uma balança difícil de equilibrar. Com contestações e avisos à mistura - não há mineração verde é um deles.

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Sara Dias Oliveira

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Âmbito: Interesse Geral Corte: 2 de 8

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LÍTIO. O OURO BRANCO QUE O PAÍS NÃO QUER PERDER

s virtudes estão estudadas e as evi- dências não negam as potencialida- des e a versatilidade do metal alca- lino, o mais leve da tabela periódi- ca. Na indústria farmacêutica, o car- bonatodelítioé usadonotratamen- to do transtorno bipolar, é também fundente na atividade cerâmica e vidreira, está ainda nas baterias dos dispositivos eletrônicos e carros elé- tricos. Os discursos da descarboni- zação da economia, da sustentabi- lidade, da diminuição da dependên- dados combustíveis fósseis, dasba- terias do futuro, já não se fazem sem a palavra lítio.

Não é um discurso linear, há diversos fatores nesta conversa. Afinal, é o metal do qual se fala.

Portugal dispõe de condições geológicas favoráveis à ocorrência de minerais de lítio e a prospeção avan- çou em oito áreas das regiões Norte e Centro, que não ostentam o estatuto de proteção ambiental. Entre- garam-se estudos de impacto ambiental, refizeram- -se ideias, enviaram-se contestações no processo de consulta pública, seguem-se as avaliações de entida- des competentes na matéria, aguardam-se decisões que só chegarão em 2022. Se Portugal tem lítio no subsolo, porque não aproveitá-lo?

Até 2040, a produção e venda de veículos elétricos aumentará entre 30e 35 % .As baterias de lít io domi- nam o mercado mundial de baterias recarregáveis, alcançando esta posição em menos de 30 anos.A pro- cura de lítio vai aumentar nas próximas décadas. É pontoassente, não há voltaa dar. AAgência Interna- cional de Energia estima um crescimento dessa pro- cura 42 vezes superior em 2040 comparativamente a 2020. E Portugalnão quer ficar à margem da cadeia de valor do litio, a Galp quer instalar umarefinariade lítio, possivelmente em Sines, e nos fundos estrutu- rais do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o metal não passa despercebido.

António Cunha, presidente da Comissão de Coor- denação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), lembra que o Norte e a Galizajuntos, en- quanto espaço eurorregional, concentram uma das maiores densidades da indústria automóvel da Eu- ropa - a Bosch, em Braga, a Continental Mabor, em Famalicão, a Simoldes, em Oliveira de Azeméis, a Mercedes acaba de anunciar que instalará o seu se- gundo centro tecnológico em Braga, entre outros exemplos. "O que faz com que haja um volume de negócios extremamente importante", sublinha. Em números, cerca de 28 milmilhões de faturação anual no Norte e na Galiza.

"Mais do que ser um setor muito importante para todo este eixo, estamos a falar de uma indústria que pode estar ligada ao automóvel do futuro", sustenta António Cunha. "Uma das vantagens competitivas económicasdaregiãopassapela monitorizaçãoelétri- ca.Nesse contexto, asbateriassãoumaparteintegran-

te do setor automóvel e das indústrias do futuro."Aqui entra o lítio, o metal que continua no centro das aten- ções e no solo português. "É uma oportunidade que fazsentido e quedeve ser aproveitada", refere °presi- dente da CCDR-N. IVIas este é umlado da equação. Há outro igualmente importante - e já lá iremos.

"Portugalé um playerintemacional no que diz res- peito à cadeia do lítio", observa António Mateus, pro- fessor catedrático no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, es- pecialista na área da mineralogia, geoquímica e me- talogenia. Neste momento, sobretudo como funden- te da pasta cerâmica. "Se há um recurso importante para o desenvolvimento dopais, temos depensar três vezes", acrescenta.

Para António Mateus, o assunto merece um deba-

te profundo, aturado, nas suas múltiplas dimensões, com argumentações construtivasecríticasqueafas- temvisões catastrofistas do que será feito-e, em ne- nhum momento, separa aceitação política e aceita- çãosocial, umacoisanão está dissociadadaoutra. Des- de logo, em sua opinião, não se pode misturar duas coisas: recursos e reservas. Reservas dizem respeito à presença de um recurso que é explorado num de- terminado momento, neste caso, a partir do qual o litio é economicamente produzido. "O que não era reserva no passado pode ser hoje, o que é reserva hoje pode deixar de ser amanhã." Nadelimitaçãode reser- vas, desde os anos 80 do sé culo passado, recorda, pas- saram a estarincluídas preocupações de natureza am- biental e social e não há empresa que avance para a extração se não tiver certezas da viabilidade econó-

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Miguel Macias Sequeira, investigador em energia e dimana FCT-Nova, Nova School of Science and Te- chnology da Universidade Nova de Lisboa, um dos embaixadores do Pacto Europeu para o Clima em Por- tugal, também alertaparaesse aspeto, bem comopara outras variantes. O lítio tem uma importância esta- té gica na transição e nergética para mitigar os piores efeitos das alterações climáticas, haverá consequên- cias sociais e ambientais que não podem ser ignora- das, tentar exportar esses prejuízos para outros paí-

"AS POPULAÇÕES, LO- CAIS E O PATRIMONIO NATURAL TÊM DE SER INTRANSIGENTEMEN- TE PROTEGIDOS.

QUALQUER OPÇÃO QUE PROVOQUE A SUA DÊS- TRUIÇÃO IRREVERSI- VEL E INACEITAVEL, IN- DEPENDENTEMENTÊ DE QUAISQUER DESIG- NIOS ESTRATÉGICOS OU ECONÓMICOS"

Miguel Macias Sequeira

Investigador em energia e clima na FCT- -Nova, embaixador do Pacto Europeu para o Clima em Portugal

"UMA DAS VANTAGENS COMPETITIVAS ECO- NÓMICAS DA REGIÃO [NORTE E GALIZA] PAS- SA PELA MONITORIZA- ÇÃO ELETRICA. NESSE CONTEXTO, AS BATE- RIAS SÃO UMA PARTE INTEGRANTE DO SE- TOR AUTOMÓVEL E DAS INDUSTRIAS DO FUTURO"

António Cunha

Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte

"TEMOS A CARNE BAR- ROSÃ, O MEL DE BAR- ROSO, SOMOS PATRI- MÓNIO AGRICOLA MUNDIAL DO BARRO- SO, E A MINA É A MINA DO BARROSO. COMO VAMOS VENDER O TER- RITÓRIO COM UM

NOME ASSOCIADO A UMA MINA?

É UM ABSURDO"

ses não é sustentável e não é justo, e não há minera- ção verde. "A exploração mineira é sempre uma ati- vidade de elevado risco ambiental. Mesmo quando feita em prol da transição energética", salienta.

MOBILIDADE, TRANSPARÊNCIA, ESCRUTÍNIO O desenvolvimento económico não é uma simples conta de somar. "O lítio português pode não ser sufi- cientemente competitivo num mercadoglobal, onde existem vários produtores consolidados com acesso a reservas de dimensão muito superior e custos de produção mais baixos", comenta Miguel Macias Se- queira. "A sua competitividade dependerá de uma possível valorização suplementar atribuída a maté- rias-primas extraídas e processadas na Europa, fo- mentada por desígnios estratégicos, ambientais ou sociais, mas que, neste momento, não parece asse- gurada", adiciona.

Preços competitivos noutros países podem ser um obstáculo e a mobilidade sustentável não se garante apenas pela substituição direta do automóvel con- vencional pelo elétrico. "De facto, mesmo sendo uma tecnologia efetivamente melhor que mitiga alguns problemas, como a poluição doar urbano e a emissão de gases de efeito estufa, cria outros conflitos que não podem ser ignorados, como os associados à explora- ção mineira. Certos problemas podem simplesmen- te permanecer iguais", avisa.

Para o professor António Mateus, o país precisa de

"uma reindustrialização moderna", não pode viver apenas do turismo, o lítio existe e tem múltiplas uti- lizações, é um investimento necessário, as tecnolo- gias do passado não são as de hoje, os impactos am- bientais não são tão gravoscs como, compara, desfio- restar um terreno para uma cultura de batatas ou abrir um furo para extrair água. "Já ninguém utiliza a di- namite à moda antiga, hoje em dia há um conjunto imenso de ferramentas e tecnologias, é deixar os ope- racionais trabalhar. E garantir que os mecanismos de fiscalização e de escrutínio local das atividades em- presariais são feitos", diz. "Não há que temer se, efe- tivamente, todas as partes respeitarem o contrato que se estabelece." E acrescenta: "As pessoas têm de compreender que, das duas uma, se h á um desejo de avançar com uma exploração, o escrutínio democrá- tico deve ser justo e bem informado."

A contestação dos movimentos antiminas é conhe- cida e não é de agora.Há receio dos impactos ambien- tais e visuais, das poeiras no ar, de contaminação de rios, da destruição debaldios. De uma vida pior com a extração delido. Boticas, no norte, distrito de Vila Real, não se verga à conversa de desígnio nacional do Governe aos floreados da transição energética. Fer- nando Queiroga, presidente da Câmara, mantém-se contra a exploração de litio, promete bater o pé, in- siste que o processo "já nasceu mal", garante que não há pareceres que de em luz verde àprospeção feita na- quele território. "Cada vez que leio mais, mais assus- tadofico. É um processo mal-amanhado, tanto assim é que no próprio estudo de impacto ambiental são

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Fernando Queiroga

Presidente da Câmara de Botica

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LÍTIO. O OURO BRANCO QUE O PAÍS NÃO QUER PERDER

muito claros: há efeitos ambientais muito negativos e umasérie de efeitos colaterais negativos." ACâma- ra apresentou uma das 170 contestações à extração de lítio em Covas do Barroso. Número inédito a nível nacional, enfatiza.

O discurso centrado no desenvolvimento do país não convence o autarca. " São soundbites bonitos de ouvir. As reservas que existem em Boticas, que di- zem que são as maiores da Europa, são irrisórias. Há lóbis financeiros. Na tal cadeia de valor, o que fica para B oticas é a desgraça e a destruição." Nem fábri- cas debaterias, nem fábricas de carros elétricos, nem estruturas ligadas à reciclagem. Nada. Se o discurso fosse atrairgente e fixar pessoas, a conversa poderia ser outra. Mas não. "Temos a carne barrosã, o mel de Barroso, somos PatrimónioAgrícola Mundial doBar- roso, e a mina é a mina do Barros o. Como vamos ven- der o território com umnome associado a uma mina?

É um absurdo."

A associação ambientalista Zero segue o assunto com atenção. A tecnologia com base no litio é um im- portante aliado na transição energética, não há dú- vidas, sobretudo num tempo e m que o combate às al- terações climáticas faz parte da agenda social e polí- tica global. No entanto, há questões que têm de ser salvaguardadas e, para a associação, a extração de re- cursos minerais a qualquer custo não é justificável, sem que sejam acautelados impactos sociais, econó- micos, ambientais. Nuno Fomer, da Zero, fala de tudo isso. "Independentemente de estarmos perante um recurso que integra o domínio público do Estado, a exploração não poderá avançar senão for possívelga- rantir que a mesma se fará de forma responsável e sustentável", defende. Não há outra forma. "É fun- damental que exista transparência e disponibiliza- ção de toda a informação que proporcione uma dis- cussãocom todos os interessados sobre os aspetos ne- gativos decorrentes de uma exploração mineira, se- jameles ao níveldosimpactosnegativossobreascom- ponentes ambientais das regiões em questão, os im- pactos sociais e económicos, assim como as eventuais compensações decorrentes de investimentos para a região", argumenta.

ECOSSISTEMAS, POPULAÇÕES, CONTRAPARTIDAS

Miguel Macias Sequeira refere que o modelo de ne- gócio da exploraçãomineira, numa fase inicialda ca- deia de valor, de duração geralmente curta, pode não ser interessante na perspetiva do desenvolvimento regional. "As contrapartidas económicas das conces- sões podem nem sempre ser um bom negócio para o país, porque são efetivamente reduzidas, sendo re- patriado a maior parte do capital estrangeiro inves- tido, mas, acima de tudo, não são um bom negócio para as populações locais. Para estas, a principal con- trapartida económica é trabalho temporário e precá- rio, que frequentemente não justifica todas as outras atividades sacrificadas - agricultura, pastoreio, api- cultura, silvicultura e turismo, entre outras."

"JÁ NINGUÉM UTILIZA A DINAMITE À MODA ANTIGA, HOJE EM DIA HÁ. UM CONJUNTO IMENSO DE FERRA- MENTAS E TECNOLO- GIAS, É DEIXAR OS OPERACIONAIS TRABA- LHAR"

António Mateus

Professor catedrático no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, especialista em mineralogia

"É IMPOSSÍVEL QUE O PROCESSO AVANCE SE FOR A MONSTRUOSI- DADE QUE ALGUNS PSEUDOINTELECTUAIS DAQUI QUEREM FAZER QUE E - Al MORRE A NASCENÇA. ESTAMOS NO SÉCULO XXI, ESTA- MOS NA UNIÃO EURO- PEIA, AS QUESTÕES AMBIENTAIS SÃO SA- GRADAS PARA A CO- MISSÃO EUROPEIA"

Orlando Alves

Presidente da Câmara de Montalegre

"INDEPENDENTEMEN- TE DE ESTARMOS PE- RANTE UM RECURSO QUE INTEGRA O DOMÍ- NIO PÚBLICO DO ES- TADO, A EXPLORAÇÃO NÃO PODERA AVAN- ÇAR SE NÃO FOR POS- SÍVEL GARANTIR QUE A MESMA SE FARA DE FORMA RESPONSA- VEL E SUSTENTÁVEL"

Nuno Forner Associação Zero

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Pede-se atenção, muita atenção, num assunto de- licado e que mexe com comunidades locais. "Natu- ralmente devem ser seguidas as melhores práticas, mesmo que tal aumente os custos operacionais do projeto, mas isso pode não ser suficiente: há limites que não podem ser ultrapassados e projetos que de- vem ser rejeitados.As populaçõeslocaise opatrimó- nio natural têm de ser intransigentemente protegi- dos. Qualquer opção que provoque a sua destruição irreversível é inaceitável, independentemente de quaisquer desígnios estratégicos ou económicos", sublinha o investigador.

António Cunha, presidente da CCDR-N, acrescen- ta o outro lado da equação. A preservação de várias componentes."Aexploraçãodelítio deve ser feitade acordocom as melhores práticas de sustentabilidade ambientalquegarantam uma monitorização dos im-

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Meio: Imprensa País: Portugal Period.: Semanal Âmbito: Interesse Geral

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pactos nos ecossistemas e naqualidade devidadas po- pulações." Há tecnologia, há interesse, há cadeia de valor, há legislação, há regras a cumprir, há que dialo- garcom as comunidades. "É natural que as pessoas es- tejam preocupadas, háumpassado daexploraçãomi- neira que não é muito abonatório." Há trabalho a fa- zer, portanto. "É preciso ir mais longe, para além do cumprimento escrupuloso das questões legais, os ope- radores desta atividade devem criar quadros de con- fiança com aspopulações."Até porque esta cadeia de valor tem várias fases, desde a mineração, lavagem, obtenção do hidróxido de litio, fabrico debaterias, até àreciclagem. Há geraçãode valor e, nessesentido,An- tónio Cunha considera que grande parte dos rendi- mentos deve ficar nos territórios onde a extração s erá feita e as contrapartidas não podem servir para justi- ficar más práticas.Aspopulações devem ser envolvi-

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das no processo para pe rceberem o que se passa, o que pode ou vai acontecer. E as próprias soluções de mo- nitorização elétrica automóvel evoluirão nos próxi- mos anos nas baterias do futuro.

O que é rentável, neste momento? O lítio parece ser aresposta e o mercadoé soberano, omercado manda, aumenta a pressão nos produtores. Orlando Alves, presidente da Câmara de Montalegre, não mudou de opinião, percebe o desenvolvimento que o litio repre- senta para o país, entende as preocupações da popu- lação, aguarda pelas conclusões do estudo de impac- toambiental, éprecisoacautelar contrapartidas para a comunidade. "É óbvio que há alguns interesses que têm de ser considerados, temos de defender os inte- resses das pessoas que aqui vivem. Os pequenos pro- dutores pecuários podem ser privados de áreas de bal- dio, ninguémpode ver asuaatividade cortadade raiz",

assinala. "Com muita ou p ouca produção, muitos ou poucos proventos, os interesses das pessoas têm de s& muitobem defendidos, nãosónaavaliaçãodos ter- renos, mas também na avaliação dos custos decorren- tes do término de uma atividade", afirma.

O autarca acompanha as movimentações e não nega evidências. "É um dado adquirido. Portugal já está envolvido no processo do lírio." Orlando Alves con- fia no que está a ser feito. "É impossível que o proces- so avance se for a monstruosidade que alguns pseu- dointelectuais daqui querem fazer que é - aí morre à nascença. Estamos no séculoXXI, estamos na União Europeia, as questões ambientais são sagradas para a Comissão Europeia", destaca. Em Montalegre, sen- te que o tema tem sido usado como uma arma de ar- remesso político. "O assunto é politico e nada mais.

Não deixa de ser surpreendente que no recente ato eleitoral, a hostilização à Câmara não tenha tido re- flexos onde a prospeção está a ser feita."

Em Boticas, Fernando Queiroga não está sossega- do. "A questão da água é fundamental, não há água suficiente para a lavaria. Vão buscá-la ao rio?", ques- tiona o autarca, recordando pareceres negativos para a construção de urna barragem na zona, agora diz-se expectante para ver as considerações de algumas en- tidades. "O impacto visual é assustador. É uma serra cortada ao meio e aprofundada 800 metros", refere.

"É uma devassa ambiental. Todas as pedreiras que existem em Vila Pouca deAguiar não ocupam meta- de do buraco feito em Boticas." E há uma pergunta que não se lhe sai da cabeça como se chegou até aqui?

O autarca adianta que, até ao momento, não foi pe- dido um caderno de encargos à Câmara das reais ne- cessidades do concelho, ouve-se falar em 200 postos de trabalho, 500 mil euros para Covas do Barroso, quando, faz notar, os rendimentos agrícolas ali ron- damos 700 mil euros/ano. "Estão no terreno, não fa- lam com as pessoas, tentamadquirir alguns terrenos, pagando preços completamente absurdos." "Não há verbas que paguem o prejuízo humano e ambiental que vai ser feito no concelho de Boticas. Sou contra e lutaremos para que esta mina não vá para frente."

Nuno Fomer, da Zero, aborda um aspeto que não lheparece evidente. "Segundo a informação que vem sendo constantemente veiculada na comunicação social, Portugal será um dos players europeus devi- do às suas alegadas reservas de lítio, embora o Rela- tório de Avaliação Ambiental Preliminar do Progra- ma de Prospeção e Pesquisa, nas oito áreas potenciais em lítio, aponte para a escassez de dados que permi- tam saber efetivamente qual o valor deste recurso", repara. Seja como for, o ambientalista insiste no res- peito integral dos direitos humanos das populações e que as áreas classificadas não sejam afetadas. Caso contrário, realça, corre-se o risco de colocar em cau- sa o investimento feito até àdata, "assim como hipo- tecar o desenvolvimento de todo um território no fu- turo." É o imperativo de preservar os espaços natu- rais, abiodiversidade, os ecossistemas, e o bem-estar das populações. O

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P1SróRIA HA SEMANA

O fhturo é

recarregável?

A jornalista Sara Dias Oliveira

passou os últimos dias a estudar

esse labiríntico dossiê. Entrevis-

tou especialistas, questionou polí-

ticos, escutou ecologistas. Cruzou

opiniões, analisou os diversos

ângulos e concluiu que estamos

perante uma equação com inúme-

ras incógnitas. Muitas dúvidas,

uma ún ica certeza - o lítio não

pode esperai.. P.14

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Meio: Imprensa País: Portugal Period.: Semanal Âmbito: Interesse Geral

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NOTICIAS

12 dezembro 2021 / Número 1542 Esta revista faz parte integrante do Jomal de Notícias n.° 194/134 e do Diário de Notícias n.°55753 e não pode ser vendida separadamente

O lítio não pode esperar

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Polémico e contestado, o novo petróleo é crucial para a transição energética

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