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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 309.299 - MS (2014/0300744-4)

RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR IMPETRANTE : ALEXANDRE GASOTO

ADVOGADO : ALEXANDRE GASOTO

IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

PACIENTE : MARCUS DOUGLAS MIRANDA EMENTA

HABEAS CORPUS. NÃO ESGOTAMENTO DA INSTÂNCIA ORDINÁRIA. SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE. NÃO CONHECIMENTO.

PREVISÃO CONSTITUCIONAL EXPRESSA DO RECURSO PRÓPRIO. NOVO ENTENDIMENTO DO STF E DO STJ. INQUÉRITO POLICIAL. PLEITO RELATIVO À DECLARAÇÃO DE SUSPEIÇÃO DA AUTORIDADE POLICIAL. VEDAÇÃO PREVISTA NO ART. 107 DO CPP. ANIMOSIDADE ENTRE O PACIENTE E O DELEGADO DE POLÍCIA DECORRENTE DE EPISÓDIO DISTINTO. MERA RUSGA OCORRIDA NO AMBIENTE PROFISSIONAL. AUSÊNCIA DE VÍCIO DE PARCIALIDADE. AMPLA E APROFUNDADA INVESTIGAÇÃO, VOLTADA PARA HIPOTÉTICO ESQUEMA DE CORRUPÇÃO E OBTENÇÃO DE VANTAGENS ILÍCITAS NO ÂMBITO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE NAVIRAÍ/MS. OPERAÇÃO ATHENAS. REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA COMO CONSEQUÊNCIA DA NULIDADE DOS ATOS DO INQUÉRITO POLICIAL. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO. PACIENTE CUMPRINDO PRISÃO DOMICILIAR EM DECORRÊNCIA DE CONCESSÃO DA ORDEM PELO TRIBUNAL DE ORIGEM EM OUTRO WRIT. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CONFIGURADO.

1. Ante o não esgotamento da instância antecedente, por meio da interposição do recurso cabível contra decisão monocrática de Desembargador Relator, não pode o Superior Tribunal de Justiça, subvertendo o sistema de organização judiciária, analisar diretamente questões não apreciadas pela Corte de origem, sob pena de indevida supressão de instância.

2. Ainda que se tratasse de decisão colegiada, é oportuno frisar que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, acompanhando a orientação do Supremo Tribunal Federal, firmou-se no sentido de que o habeas corpus não pode ser utilizado como substitutivo de recurso próprio, exceto quando a ilegalidade apontada for flagrante, hipótese em que se concede a ordem de ofício.

3. O art. 107 do Código de Processo Penal dispõe, expressamente, não ser cabível a exceção contra as autoridades policiais, quando presidem o inquérito, em razão de sua natureza (peça inquisitorial) como procedimento preparatório da ação penal. As provas amealhadas servem de embasamento para a denúncia, mas não necessariamente

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para a condenação, sendo que muitos dos atos ali realizados serão confirmados em juízo, sob pena de o magistrado não lhes conferir valor algum.

4. No que se refere à aparente contradição, que prevê que as autoridades policiais devem declarar-se suspeitas, havendo motivo legal, entendo que deveria a parte interessada ter solicitado o afastamento da autoridade policial ao Delegado-Geral de Polícia ou, sendo o pleito recusado, ao Secretário da Segurança Pública, o que não se deu. A questão torna-se, então, administrativa, pois existe recomendação legal para que o afastamento ocorra. Por ordem superior, isso pode acontecer.

5. Relativamente à razão que daria ensejo à suspeição do delegado de polícia - suposta desavença iniciada durante inquérito presidido na delegacia, tendo o paciente participado na condição de advogado do interrogado -, cuida-se de mero atrito proveniente do exercício de seus misteres, mera rusga ocorrida no ambiente profissional, não se prestando tal circunstância para lastrear exceção de suspeição.

6. A declaração de nulidade, como se sabe, exige a demonstração da ocorrência de efetivo prejuízo, o que, in casu, não ficou evidenciado. Ao contrário, o que se observa dos autos é o simples cumprimento pela autoridade policial de suas atribuições legais, inexistindo indícios de que, por causa do mero atrito ocorrido no ambiente profissional em episódio distinto, tenha se desenvolvido qualquer vício de parcialidade nas investigações do Inquérito Policial n. 0004256-98.2014.8.12.0029.

A reforçar tal conclusão, deve-se frisar que o paciente foi investigado por supostos crimes cometidos no exercício de seu cargo político de vereador no âmbito da Administração Pública (art. 1º da Lei n.

12.850/2013, arts. 312 e 317 do CP), juntamente com outros vereadores e funcionários da Câmara Municipal de Naviraí/MS, na denominada Operação Athenas, no bojo do qual foram realizadas diversas diligências, não se referindo, portanto, como muito bem dito pelo magistrado a atos isolados, pulverizados, pinçados ao alvedrio da autoridade para supostamente incriminá-lo - pelo contrário - trata-se de ampla e aprofundada apuração, cujo objeto fora a elucidação de um hipotético esquema de corrupção e obtenção de vantagens ilícitas no âmbito da administração pública naviraiense (fl. 213).

7. Suposta suspeição do delegado de polícia foi suscitada de forma genérica e despida de qualquer comprovação.

8. A jurisprudência desta Superior Corte de Justiça já se firmou no sentido de que eventuais irregularidades ocorridas na fase inquisitorial não possuem o condão de macular o processo criminal.

9. Em consequência, não há que se analisar o pleito relativo à revogação da custódia cautelar.

10. Outrossim, não mais caberia a apreciação da prisão preventiva porque, como dito pelo próprio impetrante, por força do Habeas Corpus n. 1602356-04.2014.8.12.0000 do TJ/MS, cuja ordem foi concedida de

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plano pelo ilustríssimo Desembargador Relator Manoel Mendes Carli da 1ª Câmara Criminal, está sendo cumprida na forma de prisão domiciliar (fl. 14).

11. Habeas corpus não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da SEXTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do habeas corpus nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP) e Maria Thereza de Assis Moura votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília, 06 de agosto de 2015 (data do julgamento).

Ministro Sebastião Reis Júnior Relator

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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 309.299 - MS (2014/0300744-4) RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR: Trata-se de habeas corpus com pedido liminar impetrado em benefício de Marcus Douglas Miranda, em que se aponta como autoridade coatora o Tribunal de Justiça do Mato Grosso Sul (HC n. 1413878-12.2014.8.12.0000 – fl. 191).

Infere-se dos autos que a Polícia Federal, sob a denominada Operação Athenas, está investigando crimes praticados por vereadores e servidores públicos da Câmara Municipal de Naviraí/MS, tendo a autoridade policial representado ao Juízo de origem por diversas medidas cautelares, ocasionando a decretação da prisão preventiva do ora paciente nos Autos n.

0004258-98.2014.8.12.0029.

Alegando nulidade do inquérito policial em razão de o Delegado de Polícia Federal, o qual preside o inquérito, não ter se declarado suspeito na forma do art. 107 do Código de Processo Penal, foi impetrado writ na origem, tendo o Desembargador Manoel Mendes Carli, Relator, indeferido liminarmente a petição inicial.

Nesta Corte Superior de Justiça, sustenta o impetrante que o fundamento de que o HC não se presta como sucedâneo de exceção de suspeição, que tem rito próprio, com análise de provas, estaria correto se fosse alegada a suspeição do Juiz (art. 98 do CPP) do representante do MP (art. 104 do CPP) ou ainda a suspeição de peritos, intérpretes e os serventuários ou funcionários da justiça (art. 105 do CPP), mas no caso se trata da suspeição do Delegado de Polícia Federal, portanto, nos termos do art. 107 do CPP, não tem rito próprio estabelecido, determinando que a parte não poderá opor suspeição às autoridades policiais nos autos do inquérito, mas DEVERÃO elas declara-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal (fl. 4).

Aduz que a alegação de suspeição do Delegado não tem rito próprio

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e, no caso, não há necessidade de produzir provas, pois a prova é pré-constituída, através dos documentos que comprovam ter o referido Delegado representado o paciente perante a OAB/MS, bem como sido representado pelo paciente conforme documentos anexos (fl. 4).

Alega que o Juiz de direito da Vara Criminal de Naviraí passou a ser também autoridade coatora quando proferiu medidas cautelares contra o paciente, dentre elas a prisão preventiva, restringindo o direito de liberdade (ir e vir), com base em atos processuais praticados por autoridade incompetente, que seriam eventualmente declarados nulos (fl. 8).

Acerca do terceiro fundamento usado pelo Desembargador Manoel Mendes Carli, qual seja, a controvertida hipótese de se poder ou não propor exceção de suspeição contra Delegado de Polícia, alega o impetrante que o Inquérito Policial faz parte do processo criminal, então quando consta que ninguém será "processado senão pela autoridade competente", significa dizer que o inquérito policial deveria ter sido Presidido por autoridade competente (fl.

10).

Requer, liminarmente e no mérito, seja decretada a nulidade dos atos praticados pela autoridade policial no IP n. 0004256-98.2014.8.12.0029 em relação ao paciente (fl. 16), assim como a revogação da sua prisão.

Liminar indeferida às fls. 204/206.

Em 17/11/2014, o Juiz de Direito da Vara Criminal da comarca de Naviraí/MS informou que (fls. 209/214 – grifo nosso):

[...]

Trata-se de Habeas Corpus, com pedido liminar, impetrado em favor do paciente Marcus Douglas Miranda, réu no processo-crime em epígrafe, em que responde pelos crimes de organização criminosa (art. 1º da Lei n.

12.850/2013), corrupção passiva (art. 317 do CP) e peculato (art. 312 do CP), supostamente cometidos no exercício de seu cargo político de vereador no âmbito da administração pública desse município. Em sede de habeas corpus impetrado perante o E. TJMS, o paciente teve sua prisão

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preventiva convertida à modalidade domiciliar, dado o fato de que não há, pelo que afirma a Instância Superior, "sala de estado maior" no Estado de Mato Grosso do Sul.

Segundo argumenta o impetrante, em virtude de um suposto desentendimento havido entre ele e a autoridade policial que presidiu o inquérito que instruiu a denúncia oferecida, seriam nulas todas as provas e substratos produzidos, o que deveria levar ao trancamento da ação penal.

Leva ao conhecimento deste Tribunal da Cidadania a matéria jurídica concernente à suspeição de autoridade policial. O pedido liminar foi indeferido.

Pois bem. Destaco que o paciente, bem como os demais doze vereadores e outros agentes públicos e particulares, foram investigados no IPL 273/13 DPF, que tramitou durante 11 (onze) meses, lapso em que uma série de diligências judicialmente autorizadas foram realizadas, tais como interceptações telefônicas, escutas ambientais, dentre outras medidas. Com base no substrato colhido, o Ministério Público Estadual ofereceu denúncia imputando-lhe os crimes já descritos, acusação esta que fora recebida por este Juízo, encontrando-se o feito já em fase de submissão de defesas escritas.

Em síntese, o paciente e outros pares seus na vereança municipal, assim como servidores públicos e particulares, encontram-se no pólo passivo da referida ação penal por terem hipoteticamente cometido uma vasta série de gravosos crimes contra a administração pública local e delitos outros, como lavagem de capitais e fraudes a procedimentos licitatórios. O espectro da suposta lesão ao erário acarreta fatos que vão desde a emissão de diárias indevidas, as quais eram, em tese, retidas pelos parlamentares, até a exigência de vantagem econômica ao Poder Público local para votação de projetos de lei. Além disso, pesam contra os réus acusações referentes a diversos casos de favorecimento de particulares em procedimentos ou atos administrativos, mediante outorga de vantagem econômica indevida.

As interceptações telefônicas e demais diligências que culminaram na chamada "Operação Atenas" foram todas fundamentadas, tendo sido objeto de profunda análise jurisdicional quanto à sua possibilidade jurídica. Demais disso, foram rigidamente fiscalizadas pelo Ministério Público Estadual.

Nesse passo, o paciente - e os demais corréus - foram investigados de maneira isenta e responsável, de acordo com os ditames constitucionais e processuais penais.

Em nenhum momento as investigações foram direcionadas para fins "A"

ou "B", até porque, caso isso ocorresse, certamente não seriam autorizadas as diligências investigatórias requeridas a este Juízo. Pelo contrário, a higidez da fase pré-processual é a circunstância que possibilitou a descoberta de substratos e elementos utilizados pelo Parquet para propor a persecução criminal em juízo.

Veja-se, a título de exemplo, excerto oriundo das interceptações judicialmente autorizadas, em que o paciente e o então presidente da Câmara de Vereadores de Naviraí, Cícero dos Santos ("Cicinho do PT") realizam hipotéticas tratativas ilícitas e, em tese, descrevem qual é a importância do cidadão naviraiense para seus mandatos políticos - peço vênia a Vossa Excelência pelas palavras de baixo calão abaixo reproduzidas:

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[...]

No trecho abaixo, novamente a título de exemplificação - pois o material colhido é vasto e consubstancia-se em aproximadamente 2.000 (duas mil) páginas de relatórios de inteligência, depoimentos e documentos, Marcus Douglas, Cícero dos Santos e Solange Melo, também vereadora, estariam, supostamente, explicando como fraudar licitações, emitir diárias indevidas, dentre outras ilicitudes (o paciente é identificado no relatório original como "MD"). Veja-se:

[...]

Vê-se, assim, que os substratos colhidos e que embasaram a denúncia e a imposição de medidas cautelares em desfavor do paciente não se referem a atos isolados, pulverizados, pinçados ao alvedrio da autoridade para supostamente incriminá-lo - pelo contrário - trata-se de ampla e aprofundada apuração, cujo objeto fora a elucidação de um hipotético esquema de corrupção e obtenção de vantagens ilícitas no âmbito da administração pública naviraiense.

Sendo assim, este Julgador subscritor, que acompanhou o desenrolar das diligências é firme ao asseverar que não houve qualquer conduta indevida por parte da autoridade policial que conduziu as investigações, tampouco direcionamento para prejudicar ilicitamente o paciente.

Aliás, é de grande surpresa tal alegação, pois sua invocação não se deu, em momento algum, em Instância Singular, mas tão somente perante o E.

TJMS, que já rechaçou a arguição de nulidade, e perante este E. STJ.

Em verdade, o paciente parece mirar em um problema ilusório para propor uma solução que o beneficie. E ao longo de seu writ profere afirmações juridicamente imprecisas e destoantes da jurisprudência e doutrina pátrias.

Em primeiro lugar, a garantia de que "ninguém será processado senão pela autoridade competente" (art. 5º, inciso LIII, CRFB) diz respeito ao princípio basilar do juiz natural, vedando-se a adoção de tribunais de exceção - e não - como intenta fazer acreditar o paciente, uma proibição referente a atos de investigação, até porque a polícia não detém competência jurisdicional, não havendo, no nosso sistema constitucional, o "princípio do delegado natural".

Não bastasse, o paciente afirma estar sofrendo "constrangimento ilegal" e assevera não ter questionado a inidoneidade aclamada da autoridade policial antes, pois somente teve acesso ao inquérito no dia em que foi preso preventivamente (08.10.2014). Ora, e o lapso existente entre a data de sua prisão e a impetração do HC perante o TJMS? Não poderia trazer o paciente tal circunstância ao conhecimento deste Julgador?

Demais disso, se ao longo das investigações foram colhidos substratos em face de 08 (oito) vereadores e tantos outros agentes públicos e particulares, agiu a autoridade policial também de forma parcial para com estes? Ou a causa particular invocada pelo paciente gerou efeitos públicos?

Como se vê, o paciente utiliza-se de um verdadeiro argumento jurídico "ad hominem": não enfrenta, em momento algum, a presença ou não dos pressupostos e requisitos das medidas cautelares existentes contra si, mas tão somente imputa, subjetivamente, fatos a uma das autoridades policiais

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que lidaram com as investigações.

Por fim, apenas o título de argumentação, é matéria pacificada nesse Tribunal da Cidadania que eventuais vícios na fase do inquérito - que, repito, não ocorreram aqui - tornam-se superados com o ajuizamento da ação penal, sendo despiciendo colacionar julgados a respeito - vez que o Tribunal

"a quo" já estampou vasto acervo jurisprudencial a respeito.

Saliento, por oportuno, que o feito já se encontra às portas de sua instrução, com todos os atos citatórios já realizados, estando, atualmente, na fase de submissão das defesas escritas.

[...]

A indigitada autoridade prestou informações às fls. 216/227.

O Ministério Público Federal opinou pelo não conhecimento do habeas corpus; caso conhecido, pela denegação da ordem (fls. 231/234):

Processo Penal. Habeas corpus. Pleito relativo à declaração de suspeição de autoridade policial.

1. A racionalização no uso do hc como substituição ao recurso próprio previsto na legislação determina o não conhecimento do writ. 2. Houve impetração de hc no Tribunal de origem que é incompetente para apreciar o feito, o que sustenta a rejeição liminar do mesmo. 3. A deficiência no delineamento do fato bem como a não demonstração de prejuízo na suposta nulidade arguida impedem a concessão da ordem. 4. Os fatos que em tese denotariam a suspeição do Delegado de Polícia não podem ser tidos como suficientes à declaração. 5. O art. 107 do CPP impede a referida arguição contra autoridade policial. 6. Pelo não conhecimento do hc; caso conhecido, pela denegação da ordem.

É o relatório.

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HABEAS CORPUS Nº 309.299 - MS (2014/0300744-4) VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR (RELATOR):

Está em debate o reconhecimento da suspeição de Delegado de Polícia, sob o argumento de que há animosidade entre a referida autoridade policial e o paciente em razão de discussão durante uma audiência em que este atuava como advogado.

Anoto, ab initio, que o paciente não se desincumbiu de interpor agravo regimental da decisão monocrática que supostamente lhe causou prejuízo, demonstrando conformismo com o trancamento da via recursal.

Ainda que se tratasse de decisão colegiada, é oportuno frisar que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, acompanhando a orientação do Supremo Tribunal Federal, firmou-se no sentido de que o habeas corpus não pode ser utilizado como substitutivo de recurso próprio, exceto quando a ilegalidade apontada for flagrante, hipótese em que se concede a ordem de ofício.

Nesse sentido: STF – HC n. 119.070, Ministro Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe 22/5/2014; STJ – HC n. 207.119/SP, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 22/5/2014.

In casu, não enxergo ilegalidade ou teratologia que justifique a atuação excepcional desta Corte.

Primeiro, porque o art. 107 do Código de Processo Penal dispõe, expressamente, não ser cabível a exceção contra as autoridades policiais, quando presidem o inquérito, em razão de sua natureza (peça inquisitorial) como procedimento preparatório da ação penal.

Cuida-se, portanto, de procedimento informativo, cujas provas amealhadas servem de embasamento para a denúncia, mas não necessariamente para a condenação, sendo que muitos dos atos ali realizados serão confirmados em juízo, sob pena de o magistrado não lhes conferir valor

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Superior Tribunal de Justiça

algum.

Quanto à aparente contradição, que prevê que as autoridades policiais devem declarar-se suspeitas, havendo motivo legal, entendo que deveria a parte interessada ter solicitado o afastamento da autoridade policial ao Delegado-Geral de Polícia ou, sendo o pleito recusado, ao Secretário da Segurança Pública, o que não se deu. A questão torna-se, então, administrativa, pois existe recomendação legal para que o afastamento ocorra. Por ordem superior, isso pode acontecer.

Igual posição encontramos nos ensinamentos de Badaró: no campo administrativo, poderão ser tomadas providências contra a autoridade policial que, sendo suspeita, não tenha assim se declarado, cabendo, inclusive, recurso ao seu superior hierárquico (Direito Processual Penal, pág. 183).

Segundo, porque as razões que dariam ensejo à suspeição do delegado de polícia – suposta desavença iniciada durante inquérito presidido na delegacia, tendo o paciente participado na condição de advogado do interrogado – indicam mero atrito proveniente do exercício de seus misteres, mera rusga ocorrida no ambiente profissional, não se prestando tal circunstância para lastrear exceção de suspeição.

Terceiro, porque a declaração de nulidade, como se sabe, exige a demonstração da ocorrência de efetivo prejuízo, o que, in casu, não ficou evidenciado. Ao contrário, o que se observa dos autos é o simples cumprimento pela autoridade policial de suas atribuições legais, inexistindo indícios de que, por causa do mero atrito ocorrido no ambiente profissional em episódio distinto, tenha se desenvolvido qualquer vício de parcialidade nas investigações do Inquérito Policial n. 0004256-98.2014.8.12.0029.

A reforçar tal conclusão, deve-se frisar que o paciente foi investigado por supostos crimes cometidos no exercício de seu cargo político de vereador no âmbito da Administração Pública (art. 1º da Lei n. 12.850/2013, arts. 312 e 317 do CP), juntamente com outros vereadores e funcionários

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da Câmara Municipal de Naviraí/MS, na denominada Operação Athenas, no bojo do qual foram realizadas diversas diligências, não se referindo, portanto, como muito bem dito pelo magistrado a atos isolados, pulverizados, pinçados ao alvedrio da autoridade para supostamente incriminá-lo – pelo contrário – trata-se de ampla e aprofundada apuração, cujo objeto fora a elucidação de um hipotético esquema de corrupção e obtenção de vantagens ilícitas no âmbito da administração pública naviraiense (fl. 213).

Vê-se, assim, que a suposta suspeição do delegado de polícia foi suscitada de forma genérica e despida de qualquer comprovação.

De toda sorte, a jurisprudência desta Superior Corte de Justiça já se firmou no sentido de que eventuais irregularidades ocorridas na fase inquisitorial não possuem o condão de macular o processo criminal.

A esse respeito: AgRg no ARESp n. 395.463/RJ, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 19/11/2014; HC n. 194.473/SP, Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 3/5/2012; HC n. 117.652/GO, Ministro Marco Aurélio Bellizze, Quinta Turma, DJe 1º/2/2012; HC n. 132.946/SP, Ministro Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP), Sexta Turma, DJe 20/9/2010.

Em consequência, não há que se analisar o pleito relativo à revogação da custódia cautelar.

Noutro vértice, também não mais caberia a apreciação da prisão preventiva porque, como dito pelo próprio impetrante, por força do Habeas Corpus n. 1602356-04.2014.8.12.0000 do TJ/MS, cuja ordem foi concedida de plano pelo ilustríssimo Desembargador Relator Manoel Mendes Carli da 1ª Câmara Criminal, está sendo cumprida na forma de prisão domiciliar (fl. 14).

Presente essa moldura, não conheço do habeas corpus.

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Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEXTA TURMA

Número Registro: 2014/0300744-4 HC 309.299 / MS

MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00042569820148120029 14138781220148120000 2762013 42569820148120029

EM MESA JULGADO: 06/08/2015

Relator

Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR Presidente da Sessão

Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR Subprocurador-Geral da República

Exmo. Sr. Dr. OSWALDO JOSÉ BARBOSA SILVA Secretário

Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA AUTUAÇÃO IMPETRANTE : ALEXANDRE GASOTO

ADVOGADO : ALEXANDRE GASOTO

IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL PACIENTE : MARCUS DOUGLAS MIRANDA

ASSUNTO: DIREITO PROCESSUAL PENAL - Liberdade Provisória CERTIDÃO

Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Sexta Turma, por unanimidade, não conheceu do habeas corpus, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP) e Maria Thereza de Assis Moura votaram com o Sr.

Ministro Relator.

Referências

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