• Nenhum resultado encontrado

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Tribunal de Justiça de Minas Gerais"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0079.09.939481-3/001

Número do Númeração 9394813-

Des.(a) Alexandre Victor de Carvalho Relator:

Des.(a) Alexandre Victor de Carvalho Relator do Acordão:

20/04/2010 Data do Julgamento:

03/05/2010 Data da Publicação:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - TRIBUNAL DO JÚRI - HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO - PRONÚNCIA - PARÂMETRO PARA A FORMULAÇÃO DA ACUSAÇÃO ORAL - INOVAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - CONDUTA SUSTENTADA PELO PROMOTOR DE JUSTIÇA EM PLENÁRIO - SUPRESA PARA A DEFESA - INFLUÊNCIA DOS JURADOS - QUESITAÇÃO GENÉRICA - NULIDADE RECONHECIDA. À acusação é vedada a inovação em plenário tanto em relação a tipificação quanto à imputação de novas condutas. A liberdade, entretanto, restringe-se as discussões envolvendo agravantes e atenuantes, pois estas, sabidamente, não fazem parte da quesitação.

APELAÇÃO CRIMINAL N° 1.0079.09.939481-3/001 - COMARCA DE CONTAGEM - APELANTE(S): JESUINO DE MORAES - APELADO(A)(S):

MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS - CO-RÉU: FABIANO PEREIRA DA SILVA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 5ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, sob a Presidência do Desembargador ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO , na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM ACOLHER PRELIMINAR DA DEFESA E ANULAR O JULGAMENTO.

Belo Horizonte, 20 de abril de 2010.

DES. ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO - Relator

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

(2)

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

O SR. DES. ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO:

VOTO

1 - RELATÓRIO

Cuida-se de recurso de apelação interposto pelo réu Jesuíno de Morais contra sentença oriunda da Vara do Tribunal do Júri de Contagem que, por meio do veredicto proferido pelo augusto conselho de sentença, o condenou as penas de 21 (vinte e um) anos de reclusão, em regime fechado, pelo cometimento de dois homicídios triplamente qualificado tentado - art. 121,

§2º, II, III e IV, do Código Penal.

Narram os autos que no dia 13 de junho de 2008, por volta das 22h, em residência localizada no Beco Alvarenga, nº. 37, bairro Nova Contagem, o apelante e o co-réu, agindo com dolo homicida, tentaram pôr fim à vida de Aline Carolina Pereira Abdala e Rafaele Stefane Pereira Abdala, que só não se consumou em função do eficiente socorro médico prestado por terceiros às vítimas.

Após a instrução processual transcorrer normalmente na fase sumariante, o réu foi pronunciado, sendo submetido a julgamento perante o Tribunal do Júri da comarca de Contagem.

Por decisão do soberano Conselho de Sentença foi apelante condenado pelo crime de homicídio triplamente qualificado tentado (fls. 363/367).

Defesa recorreu pleiteando a nulidade do julgamento por vício processual, o reconhecimento da decisão manifestamente contraria as provas dos autos, o decote das qualificadoras e a redução das penas aplicadas (fls. 371/378).

As contrarrazões foram apresentadas (fls. 380/386).

A Procuradoria de Justiça opinou pelo desprovimento do recurso

(3)

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

defensivo (fls. 393/403).

É o relatório.

2 - CONHECIMENTO

Conheço do recurso em face do ajuste legal.

3 - PRELIMINAR - NULIDADE DA SENTENÇA

Sustenta a sempre atuante Defensoria Pública nulidade do julgamento por vício ocorrido no plenário do Tribunal do Júri, qual seja, a sustentação (imputação) pela acusação de conduta não descrita na inicial acusatória e, por conseqüência, não reconhecida na pronúncia.

Após atenta análise, reconheço que razão lhe assiste. Vejamos.

Narrou a denúncia que no dia 13 de junho de 2008 o co-réu Fabiano e o apelante, em unidade de desígnios e previamente ajustados, agindo com intenso dolo homicida, tentaram por fim à vida de Aline Carolina e Rafaele Stefane. Apontou, ainda, que Fabiano havia se desentendido com a vítima Aline em função da insistência dela para que este lhe devolvesse um aparelho celular que lhe pertencia e, por isso, resolveu matá-la. O apelante, então, além de incentivar Fabiano a cometer o crime, lhe arregimentou dois menores para participar dos atos. Em seguida, Fabiano, acompanhado dos menores, se dirigiu até a residência de Aline e, de inopino, passou a desferir- lhe facadas. Ato contínuo, Fabiano também desferiu facadas em Rafaele, irmã da primeira.

Percebe-se que ao acusado Jesuíno, na inicial acusatório, restou imputada duas condutas: incentivar Fabiano a cometer o delito, já por este imaginado, e reunir mais duas pessoas, no caso dois menores, para auxiliá-lo diretamente no ato.

A inicial acusatória e, por conseqüências, as condutas nela atribuídas, após

(4)

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

de pronúncia.

Certo é que com o fim do libelo, a pronúncia "assume um papel muito importante, pois demarca os limites da acusação a ser deduzida em plenário"

(Aury Lopes Jr. - Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional - Lúmen Iuris Editora - 2009, fls. 258).

Em sendo assim, é possível consignar que a acusação é vedada a inovação em plenário tanto em relação a tipificação (qualificadoras e causas de aumento) quanto, vale dizer, à imputação de novas condutas. A liberdade, entretanto, restringe-se as discussões envolvendo agravantes e atenuantes, pois estas, sabidamente, não fazem parte da quesitação.

Nesta linha de raciocínio cito Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar.

"Na sustentação oral, o Ministério Público fará a acusação "nos limites da pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, sustentando, se for o caso, a existência de circunstâncias agravantes". O libelo-crime acusatório foi suprimido pela reforma processual e o parâmetro para a formulação da acusação oral passou a ser unicamente a pronúncia, conferindo liberdade ao Parquet para sustentar em plenário a existência de agravantes (...) Note-se que Parquet, malgrado esteja limitado pela pronúncia, não esta impedido de pedir menos do que nela contido ou de requere a absolvição" (Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar - Curso de Direito Processual Penal - Editora Jus Podium - 2009, fls. 709).

Vale destacar, como bem ponderado pelos doutrinadores supra, que a

pronúncia retrata, na verdade, o patamar maior da acusação, ou seja, o seu

limite máximo, nada impedindo, entretanto, até para que não se insista em

demasiado formalismo, que o Promotor de Justiça, ou mesmo o querelante

no caso de ação penal subsidiária, pugne, ao final da fase instrutória do

procedimento especial do Júri, solução mais benéfica de desclassificação ou

mesmo a absolvição.

(5)

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

In casu o IRMP, quando de sua participação nos debates, sustentou que o apelante não só incentivou Fabiano a cometer o delito e reuniu mais duas pessoas, como também o auxiliou materialmente fornecendo os instrumentos. Nestes termos, a pedido da Defesa, e sem qualquer questionamento da parte contrária, é bom que se diga, o Magistrado fez constar em ata. A saber.

"A pedido da defesa consta-se em ata que o Promotor de Justiça sustentou que o réu Jesuíno prestou auxílio material ao executor Fabiano ao emprestar -lhe as ferramentas, fato que segundo a ilustre defensora enseja nulidade do processo tendo em vista que tal circunstância não consta na denúncia, nem na sentença de pronúncia" - fls. 348.

Desta feita, não me resta dúvida de que o Promotor de Justiça inovou em plenário e, assim, feriu garantia processual decorrente do princípio constitucional da ampla defesa que, vale dizer, em última análise visa impedir surpresas desagradáveis ao réu comprometendo sua dignidade enquanto pessoa humana.

Sobre a surpresa no âmbito do processo penal, cito, uma vez mais, Aury Lopes Jr. A saber.

"surpresa gera um inegável estado de indefesa, com evidente prejuízo (para aqueles que ainda operam na lógica do prejuízo para decretação das nulidades processuais). O direito de defesa, ainda que distinto, mantém uma íntima correlação com o contraditório, devendo a acusação ser clara e individualizada para permitir defesa" (Aury Lopes Jr. - Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional - Lúmen Iuris Editora - 2009, fls.

348).

No feito em comento, apesar de desnecessário, eis que implícito, vale

destacar que o prejuízo foi expresso, pois o Magistrado a quo ao proceder a

quesitação fez constar o verbo incentivar e, genericamente, o verbo auxiliar,

o que, portanto, abriu a real possibilidade dos jurados associarem este último

ao fornecimento dos instrumentos pelo apelante ao executor (auxílio

(6)

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

forma abusiva, pela acusação em plenário.

4 - CONCLUSÃO

Com estas considerações, ACOLHO PRELIMNAR ERIÇADA PELA DEFESA para anular o julgamento a quo por ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa.

É como voto.

Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): MARIA CELESTE PORTO e EDUARDO MACHADO.

SÚMULA : ACOLHERAM PRELIMINAR DA DEFESA E ANULARAM O JULGAMENTO.

??

??

??

??

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.0079.09.939481-3/001

Referências

Documentos relacionados

- A pronúncia encerra mero juízo de admissibilidade da acusação, pautado pelo brocardo in dubio pro societate, bastando, assim, que haja prova da materialidade do delito e

Habeas corpus - Autoridade coatora - Câmara criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais - Julgamento - Competência do STJ..

Cuida-se de apelação criminal interposta pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais em face da sentença proferida pelo Tribunal do Júri da Comarca de Carmo do Paranaíba,

[...] que quando ouviu a porta ser arrombada a declarante pulou da cama e foi em direção à porta do quarto e Ricardo se escondeu atrás do sofá que existe naquele quarto; que viu

ATOS NORMATIVOS DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS Tipo/Número Publicação/. Edição Ementa/Resumo

ATOS NORMATIVOS DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS Tipo/Número Publicação/.. Edição Ementa/Resumo Acesso ao

www.pbh.gov.br ATOS NORMATIVOS DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS Tipo/Número Publicação/. Edição Ementa/Resumo

ATOS NORMATIVOS DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS Tipo/Número Publicação/. Edição Ementa/Resumo