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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0073.12.004977-7/001

Número do Númeração 0049777-

Des.(a) Eduardo Brum Relator:

Des.(a) Eduardo Brum Relator do Acordão:

26/02/2014 Data do Julgamento:

11/03/2014 Data da Publicação:

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - JÚRI - HOMICÍDIO QUALIFICADO - PRONÚNCIA - PARÂMETRO PARA A FORMULAÇÃO DA ACUSAÇÃO ORAL - INOVAÇÃO NA NARRATIVA DA DINÂMICA DOS FATOS - IMPOSSIBILIDADE - CONDUTA SUSTENTADA PELO PROMOTOR DE JUSTIÇA EM PLENÁRIO - SURPRESA PARA A DEFESA - INFLUÊNCIA DOS JURADOS - ANULAÇÃO DA DECISÃO POPULAR - NECESSIDADE - RECURSO PROVIDO. 1. Tendo sido a defesa surpreendida em Plenário com a atribuição ao réu, pelo Parquet, de conduta diversa daquela descrita na denúncia e reconhecida na sentença de pronúncia - ofendendo, assim, os princípios dos limites da acusação, previsto no art. 476 do CPP, e, consequentemente, os da ampla defesa e do contraditório, insculpidos no art.

5º, LV, da CR/88 -, restando devidamente consignada sua irresignação em ata, a tempo e modo, nos termos do art. 571, VIII, do CPP, impõe-se a anulação do julgamento, com fulcro no art. 593, III, "a", do CPP. 2. Recurso provido.

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.0073.12.004977-7/001 - COMARCA DE BOCAIÚVA - APELANTE: MACIEL SILVA BATISTA - APELADO:

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS - VÍTIMA: JOSE AILTON CRUZ BORGES

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 4ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. EDUARDO BRUM

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

RELATOR.

DES. EDUARDO BRUM (RELATOR) V O T O

Maciel Silva Batista, já qualificado nos autos, foi denunciado perante o Juízo da 1ª Vara Cível, Criminal e de Execuções Penais da Comarca de Bocaiúva como incurso nas disposições do art. 121, §2º, II e IV, do CP, sob a acusação de que, no dia 08 de dezembro de 2012, por volta das 10h, na Travessa dos Rodrigues, altura do n.º 04, Bairro Novo Horizonte, naquela Comarca, agindo com animus necandi, impelido por motivo fútil e agindo de maneira que impossibilitou a defesa do ofendido José Ailton Cruz Borges, matou-o a facadas.

De acordo com a exordial acusatória de fls. 02-D/03-D:

"(...) denunciado e vítima, no dia dos fatos, se confraternizavam na casa da testemunha Osmano Pereira da Silva, fazendo uso conjunto de bebidas alcoólicas e jogando baralho, quando, por motivos fúteis relacionados ao referido jogo, vieram a se desentender, deixando o local.

Motivado pela discussão havida, o denunciado, já na parte externa do local, de posse de uma faca, desferiu dois golpes na região torácica direita (terço médio e inferior) da vítima José Ailton Cruz Borges, os quais foram a causa eficiente da sua morte (...)".

O MM. Juiz a quo, em r. decisão de fls. 107/111, pronunciou o réu nos exatos termos da denúncia.

Posteriormente, o pronunciado foi submetido a julgamento pelo

Tribunal do Júri daquela Comarca, em sessão realizada no dia 28 de junho

de 2013, oportunidade em que o Conselho Julgador respondeu

afirmativamente aos quesitos de materialidade e autoria, não absolvendo o

réu. Por derradeiro, descartaram a hipótese de o

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homicídio ter sido cometido sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação, bem como consideraram incidente a qualificadora do motivo fútil (quesitos de fls. 295/297).

Dessarte, o MM. Juiz Presidente prolatou r. sentença de fls.

298/304, condenando Maciel Silva Batista a uma pena privativa de liberdade de 12 (doze) anos de reclusão, em regime inicial fechado, como incurso nas sanções do art. 121, §2º, II, do CP.

As partes foram intimadas em plenário (fls. 309/310).

Inconformada, a defesa técnica recorreu (fls. 318). Em posteriores razões de fls. 321/326, o combativo causídico pugna pela anulação do julgamento popular, com fulcro no art. 593, III, "a", do CPP, "em virtude de ter o MP, na réplica, durante a sustentação oral, em Plenário, trazido à baila fato estranho à acusação proposta, que torna a acusação maior gravosa, sem ter havido oportunidade de produção de prova pela defesa em sentido contrário", o que configuraria "abuso acusatório e, por conseguinte, cerceamento de defesa". Alternativamente, requer a cassação do veredicto popular, com supedâneo no art. 593, III, "d", do CPP, por se revelar manifestamente contrário à prova dos autos, uma vez que, ainda que se entenda haver plausibilidade na condenação pelo crime de homicídio, reprovável o não acatamento da tese do privilégio, bem como o reconhecimento da incidência da qualificadora do motivo fútil. Por fim, "caso não sejam acolhidas as teses acima alegadas, seja a qualificadora decotada por ser manifestamente improcedente".

Contrarrazões ministeriais às fls. 327/333, pela rejeição dos pedidos de anulação ou cassação do decisum popular, mantendo-se a soberana decisão. Em idêntico sentido opinou a douta Procuradoria-Geral de Justiça (fls. 341/345).

Conheço do apelo defensivo, presentes os pressupostos e requisitos de admissibilidade.

E, de plano, verifico assistir razão à defesa em seu pleito

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anulatório.

Conforme narrado na denúncia já parcialmente transcrita, houve uma discussão entre Maciel e o ofendido e, após saírem da residência da testemunha Osmano Pereira da Silva, já na rua, o ora apelante desferiu duas facadas na vítima, causando o seu óbito.

Depois de realizada a instrução preliminar, com a regular oitiva das testemunhas e interrogatório do réu, o Parquet, em alegações finais de fls.

94/95, limitou-se a, implicitamente, ratificar a narrativa supra, que restou integralmente acolhida pelo MM. Juiz Sumariante na r. sentença de pronúncia de fls. 107/111.

Outrossim, quando do julgamento popular, consoante restou consignado na "Ata da 1ª Reunião do Tribunal do Júri/2013" (fls. 305/310), o il. Promotor de Justiça sustentou a acusação, "pugnando pela condenação do acusado pelo delito previsto no art. 121, §2º, II, do CP" , ao passo que a defesa arguiu as teses de "homicídio privilegiado, em razão de o agente ter cometido o crime sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima ou decote das qualificadoras".

Entretanto, após a réplica da acusação, constou-se em ata a seguinte manifestação defensiva:

"Foi dito pelo ilustre representante do Ministério Público que o acusado

Maciel teria ido, antes de desferir os golpes de faca contra a vítima, com o

escopo de se armar com uma faca, retornando, posteriormente, ao local

onde a vítima estava, desferindo contra ela os golpes com o aludido

instrumento. Todavia, a acusação deve, em virtude do princípio da correlação

dos fatos narrados na denúncia, nos termos do art. 41 do CPP, narrar a

inicial acusatória não só o fato criminoso, mas, sim, todas as suas

circunstâncias. Neste ínterim, tal circunstância de o réu ter ido à sua casa

buscar a faca exclui o privilégio, caso seja comprovado e tomado por base

pelos jurados em sua decisão, constituindo, pois, circunstância relevante

para o deslinde dos fatos, devendo, pois, ter sido narrada na denúncia

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formulada pelo Ministério Público. Assim sendo, a utilização de tal argumento pela acusação causa cerceamento de defesa, haja vista que o réu não teve oportunidade de, durante a instrução penal, se defender de tal circunstância elementar para o deslinde do fato, gerando, pois, cerceamento de defesa, em virtude de a acusação ter surpreendido a defesa, trazendo a lume tal circunstância somente na réplica em plenário no Tribunal do Júri" (fls. 308).

Contudo, na sequência, "dada a palavra ao representante do Ministério Público, nada requereu sobre a impugnação da defesa descrita acima" (fls. 308), tendo os senhores jurados, por fim, quando da votação dos quesitos, como já relatado, refutado a tese defensiva de que "o acusado Maciel Silva Batista agiu sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima, consistente em ter esta proferido ofensas de 'corno e chifrudo' contra a pessoa do acusado, bem como dito que iria até sua casa atrás de sua mulher" (fls. fls. 296).

Ora, de fato, como bem arguido pela combativa defesa a tempo e modo (art. 571, VIII, do CPP), a acusação não poderia ter inovado em Plenário, aduzindo "o suposto fato de ter o acusado ido em suar residência, buscado a faca e, somente depois de assim ter agido, cometido o crime contra a vítima" (fls. 323), quando é certo que tal dinâmica não restou narrada na denúncia, exposta na r. pronúncia ou mesmo descrita pelas testemunhas e/ou réu em suas oitivas perante os senhores jurados (fls. 287 a 293).

Frise-se que, ao contrário do afirmado pelos ilustres representantes do Ministério Público de 1º e 2º grau, tal iniciativa não pode ser encarada como mero "esmiuçamento" da conduta do réu, pois altera substancialmente as condições de tempo e modo em que o fato delituoso se deu, influindo decisivamente na possibilidade de acatamento, pelo Colegiado Popular, de uma das teses defensivas.

Sobre o assunto, confira-se a lição de Antonio Scarance Fernandes:

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"No processo penal, é necessário que a informação e a possibilidade de reação permitam um contraditório pleno e efetivo. Pleno porque se exige a observância do contraditório durante todo o desenrolar da causa, até seu encerramento. Efetivo porque não é suficiente dar à parte a possibilidade formal de se pronunciar sobre os atos da parte contrária, sendo imprescindível proporcionar-lhe os meios para que tenha condições reais de contrariá-los. Liga-se, aqui, o contraditório ao princípio da paridade de armas, sendo mister, para um contraditório efetivo, estarem as partes munidas de forças similares" (in "Processo Penal Constitucional". 6ª ed. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2010, pág. 57).

Era de se esperar, portanto, que, com a intervenção da defesa, o Parquet respeitasse os limites da imputação inicial admitida na pronúncia, retratando-se por haver inovado durante os debates. Contudo, como visto, nada fez.

Dessarte, como se vê, a acusação ofendeu claramente o princípio dos limites da acusação, previsto no art. 476 do CPP, e, consequentemente, os da plenitude de defesa no Júri e contraditório, pois a defesa foi surpreendida, em Plenário, pela atribuição de conduta diversa daquela descrita na denúncia e reconhecida na r. sentença de pronúncia, o que, evidentemente, levou ao cerceamento quanto à tese defensiva relativa ao homicídio privilegiado.

Nesta linha de raciocínio, cito Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar:

"Na sustentação oral, o Ministério Público fará a acusação 'nos limites da

pronúncia ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação,

sustentando, se for o caso, a existência de circunstâncias agravantes'. O

libelo-crime acusatório foi suprimido pela reforma processual e o parâmetro

para a formulação da acusação oral passou a ser unicamente a pronúncia,

conferindo liberdade ao Parquet para sustentar em plenário a existência de

agravantes" (in "Curso de Direito Processual Penal". 3ª ed. rev., ampl. e

atual. Salvador: Jus Podivm, 2009, pág. 709).

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Também a doutrina de Aury Lopes Jr.:

"Essa surpresa gera um inegável estado de indefesa, com evidente prejuízo (para aqueles que ainda operam na lógica do prejuízo para decretação das nulidades processuais). O direito de defesa, ainda que distinto, mantém uma íntima correlação com o contraditório, devendo a acusação ser clara e individualizada para permitir a defesa" (in "Direito Processual Penal e sua conformidade constitucional". 9ª ed. São Paulo:

Saraiva, 2012, pág. 1.089).

Inquestionável, portanto, que o julgamento popular ocorreu com ofensa aos limites estabelecidos no art. 476, caput, do CPP, bem como s garantias constitucionais à ampla defesa e ao contraditório, insculpidas no art. 5º, XXXVIII, "a", e LV, da CR/88.

Ante tais considerações, demonstrada a ocorrência de nulidade posterior à pronúncia e sua tempestiva arguição, nos termos do art. 571, VIII, do CPP, dou provimento ao recurso defensivo para declarar a nulidade do julgamento popular realizado, determinando que a outro se submeta Maciel Silva Batista, restando prejudicados, por óbvio, os pleitos recursais sucessivos.

Mantenho, contudo, a prisão cautelar do réu.

Os requisitos da custódia preventiva - expostos exaustivamente nas r. decisões de fls. 59/60 (que converteu a prisão em flagrante em preventiva), fls. 110/111 (indeferimento, na r. sentença de pronúncia, do direito de recorrer em liberdade) e fls. 122/126 (que indeferiu o pleito pela revogação da preventiva) - continuam presentes e a declaração de nulidade do Júri não implicará em reabertura da colheita de provas. Destarte, encerrada a instrução, não há que se falar em excesso de prazo, conforme entendimento sumulado no augusto STJ e neste eg. TJMG.

Custas ex lege.

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DES. JÚLIO CEZAR GUTTIERREZ (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. CORRÊA CAMARGO - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO."

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