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É preciso descomplicar o setor elétrico

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76 • Brasil Energia, nº 347, outubro 2009

Jerson Kelman

Prestei depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada na Câmara dos Deputa- dos para esclarecer os motivos pe- los quais a tarifa média de ener- gia elétrica no Brasil ser maior do que em nações do chamado G7, grupo dos sete países mais desen- volvidos do mundo” (sic). Come- cei minha exposição explicando que é muito difícil comparar as contas de luz de diferentes países, porque em alguns a receita prove- niente dos consumidores é com- plementada por subsídios pagos pelos contribuintes, e em outros, não. Em alguns países os consu- midores podem comprar energia de comercializadoras e pagam às distribuidoras apenas o transporte de energia, e em outros, não. Além disso, no Brasil cerca de um terço dos consumidores de baixa renda paga tarifa reduzida graças ao sub- sídio cruzado que engorda a con- ta dos consumidores que pagam a tarifa cheia. Então, o que se deve usar na comparação com os outros países? A tarifa cheia ou a reduzi- da? A tarifa completa ou somente a parcela fio, que é a parte da dis- tribuidora?

Apesar dessas dificuldades, mui- tos se atrevem a fazer comparações.

Como desconheço o estudo que motivou os deputados a instalarem a CPI, busquei entender o assunto, por sugestão de ex-colegas da Ane- el, consultando o relatório Interna- tional Energy Agency (IEA) – Key World Energy Statistics – 2008”.

Disse aos parlamentares que, “de

acordo com a IEA, não é verdade que as tarifas médias no Brasil são maiores do que todas as dos países que compõem o G7”. Talvez a CPI pudesse ser encerrada aí mesmo, já que o fato motivador de sua insta- lação não resistiu à primeira análi- se. Análise, aliás, corroborada por interessante matéria publicada na Folha de S.Paulo (12/9/2009), ba- seada no mesmo relatório. Mas não se encerrou, e ninguém ficou sur- preso com isso.

Continuei minha apresenta- ção dizendo que mesmo não sen- do campeões mundiais na catego- ria tarifa de energia elétrica, não temos o que comemorar: como no Brasil a tarifa varia muito confor- me a área de concessão, com ten- dência a ser mais elevada onde a população é mais pobre, e como em média nossa renda per capita é muito inferior à dos países do G7, o pagamento de uma conta de luz de 100 kWh, que na Europa atin- ge no máximo 1% da renda mé- dia familiar, no Brasil chega, em alguns casos, a 8% (tarifa cheia) ou 4% (tarifa reduzida) da renda familiar. É muito!

Essa é a principal razão, em minha opinião, para o crescente interesse da classe política em en- tender como é feito o cálculo ta- rifário. Aliás, legítimo interesse, já que o tema afeta significativa- mente a economia doméstica do eleitor. Penso que, independen- temente dos rumos da CPI e de eventuais outros argumentos que a tenham motivado (por exemplo,

golpear a privatização), esse inte- resse veio para ficar.

Com o tempo, os parlamenta- res aprenderão a desconsiderar as denúncias de mau procedimento referentes a práticas antigas do se- tor que, na realidade, apenas res- peitam os mais elementares prin- cípios da economia. Fui indagado, por exemplo, se sou o responsá- vel pela regra que permite que as termelétricas fiquem inoperantes quando as condições hidrológicas forem favoráveis, como se isso fos- se suspeito. Na realidade, trata-se de procedimento previsto na Lei 5.899, de 1973.

Por outro lado, as instituições técnicas do setor elétrico deverão fazer um esforço para simplificar alguns procedimentos. Dizia para os especialistas da Aneel que mais vale um cálculo tarifário aproxima- do e de fácil compreensão do que um cálculo exato que apenas al- guns poucos conseguem entender.

Apresentei mensagem semelhan- te em favor da simplicidade em re- cente palestra que proferi no ONS sobre procedimentos para despa- cho das usinas e cálculo do custo marginal de operação. Aliás, méto- dos simples e aproximados tendem a apresentar maior robustez do que complexos programas computacio- nais. Era o que me dizia o ex-mi- nistro de Minas e Energia e meu amigo, Francisco Gomide, há mais de 30 anos, quando estudávamos nos EUA. Passado todo esse tem- po, dou a mão à palmatória. Antes tarde do que nunca.

É preciso descomplicar o setor elétrico

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