DOSSIÊ
RQPONMLKJIHGFEDCBA
o B A S Q U E T E N O P A ís D O F U T E B O L
E S T R É IA S P R E C Á R IA S
BENOIT GAUDIN*
RESUMO
YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
I
xwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
nventadoem 1891, o bas-quete chega ao Brasil em
1894, nas bagagens do
nova-iorquino, August Shaw,
formado em História da Arte,
em Yale, e contratado naquele
ano por uma universidade
particular de São Paulo, a
Uni-versidade Mackenzie.' Nem a
bola que ele traz, nem o novo
jogo que ele apresenta fazem
sucesso entre seus estudantes,
que criticam o jogo por não ser suficientemente viril. As regras
que [ames Naismith concebeu e imaginou para limitar o contato e, por conseqüência, para res-tringir a expressão de qualquer
violência interpessoal entre os jogadores, não correspondem
ao
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e t h o s dos jovens das classesdirigentes de um país com
estruturas coloniais
fortemen-te desiguais: acostumadas a
dirigir, a mandar e a reprimir
toda forma de oposição, as
elites brasileiras não têm ainda, à época, a ética do respeito ao adversário necessária à prática de uma atividade tão
policia-da. O futebol, importado no mesmo ano (1894), na
mesma cidade, também não recebe, imediatamente, a estima dos filhos das elites dirigentes. Eles resistem especialmente a se entregar aos gestos que eles julgam afeminados, como os "saltinhos" necessários à disputa
das bolas no alto. Será necessário o espetáculo de
várias partidas entre as primeiras equipes de jogado-res britânicos expatriados, para ganhar a adesão dos jovens brasileiros.
Ao contrário do futebol, o basquete não se
beneficia da presença de uma forte comunidade da
nação mãe. Essa primeira des-vantagem em relação ao futebol foi reforçada pela apropriação da atividade pelas mulheres. De fato, os gestos que correspon-dem tão pouco aos costumes desses rapazes, encontram bem mais sintonia com as maneiras
de fazer femininas
(especial-mente o desvio do contato). A
apropriação precoce do jogo,
pelas mulheres, reforça, ainda mais, a desconfiança dos rapa-zes com relação a essa atividade; e August Shaw só conseguirá montar uma equipe masculina,
após quatro anos de esforço,
em 1896. Mas, contra quem ela jogaria?
Durante quase 20 anos,
o basquete brasileiro "não de-cola". De forma significativa,
ninguém sente a
necessida-de necessida-de traduzir as regras em
português, antes de 1915. A
ascensão do basquete no Brasil só começa realmente em 1913, dessa vez no Rio de Janeiro, por ocasião da visita de uma equipe chilena de futebol, convidada
por um dos primeiros clubes
esportivos do país, o A m é r i c a
F u t e b o l C l u b e . A história não diz se os chilenos ganha-ram o jogo, mas a necessidade de revanche parece se fazer sentir, já que os dirigentes doA m é r i c a aceitam emprestar seus uniformes aos jogadores de basquete de uma associação vizinha, para desafiar os chilenos nessa outra modalidade esportiva. Essa associação se nomeia ACM, A s s o c i a ç ã o C r i s t ã d e M o ç o s , que nada mais é que a emanação brasileira dos YMCA norte-americanos. Nesta filial carioca, praticava-se o
bas-quete há cerca de um ano. A vitória sobre os chilenos se deu com o placar estranho de 5 a 4, e dava o tom do
E s t e a r t ig o a p r e s e n t a - s e c o m o u m a p r im e ir a a b o r d a g e m d a a t iv id a d e " b a s q u e t e " n o B r a s il, d o p o n t o d e v is t a d a s c iê n c ia s s o c ia is . P a r a a lé m d o s r e s u lt a d o s e s p o r t iv o s o b t id o s e m c o m p e t iç õ e s n a c io n a is e in t e r n a c io n a is , t e n t a - s e e s t a b e le c e r e le m e n t o s d e u m a s o c io lo g ia , m a s t a m b é m d e u m a g e o g r a f ia d e s s e e s p o r t e c o le c liv o q u e n u n c a s e t o r n o u u m e s p o r t e d e m a s s a . O a r t ig o a p o n t a
a lg u m a s r a z õ e s p a r a e x p lic a r e s s a p o s iç ã o d e s e g u n d o p la n o d o b a s q u e t e n o c a m p o e s p o r t iv o b r a s ile ir o .
T h is o r t ic le f o c u s e s o n s p o r t iv e a c liv it y " b a s k e t b a l! " f r o m t h e s o c ia l s c ie n c e s ' p o in t o f v ie w . F a r f r o m t h e e m p h a s is o n t h e r e s u lt s o b t a in e d in n a t io n a l a n d in t e r n a t io n a l c o m p e t it io n s , t h is p a p e r a im s t o s e t t h e
g r o u n d s f o r d e f in in g s o m e e le m e n t s o f a s o c io lo g y a n d a g e o g r a p h y o f t h is c o lle c liv e s p o r t t h a t h a s n e v e r b e c a m e m a s s iv e . I t p o in t s o u t s o m e r e a s o n s t h a t e x p la in t h is s e c o n d a r y p o s it io n o f b a s k e t b a ll in t h e b r o z ilic n s p o r t iv e f ie ld .
• Doutor em sociologia-antropologia pela
U n i v e r s i t é d e P r o v e n c e A i x - M a r s e i l l e I. M a / t r e d e c o n fé r e n c e s no Departamento de Educação Física e Esporte e pesquisador no C e n t r e d ' H i s t o i r e C u / t u r e l l e d e s S o c i é t é s C o n t e m p o r a i n e s d a Université d e V e r s a i l l e s S a i n t Q u e n t i n en Y v e / i n e s .
ABSTRACT
que viria a ser a trajetória do basquete no Brasil: seu lugar seria complementar ao futebol e seus adversários
de referência serão seus vizinhos sul-americanos. O
basquete, que não "arrancava" sob a mera influência norte-americana, muito distante, muito diferente, se nutrirá das rivalidades muito mais vivazes que existem entre os países do cone sul do continente.
Infelizmente, no campo esportivo, 1913 está
muito tarde para o basquete: o futebol já ocupa o
lugar do símbolo da nação. Surgidos praticamente ao mesmo tempo, esportes modernos e nacionalismo
se encontraram rapidamente; durante alguns anos,
na virada do século, foram primeiro as atividades
de duelo que simbolizaram a nação: o
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b o x e para a Inglaterra, as a v a t e para a França, oj u d ô para o Japão,oj o g o d e p a u para Portugal e ac a p o e i r a para o Brasil.
Anos mais tarde, o futebol se apoderou desse papel
de substituto guerreiro: a partir de meados dos anos
1900, com as primeiras partidas entre britânicos e
"continentais", a equipe de futebol passou a simbolizar a nação. As regras do jogo, no século XX, se tornaram a nova norma de avaliação das qualidades ofensivas coletivas das diferentes nações.
No Brasil, a dimensão nacionalista do futebol
atrairá muito cedo as multidões, sobretudo nas
ca-tegorias populares, que impulsionam a
profissiona-lização (adquirida em 1933), além de introduzir seu
famoso estilo de jogo, uma mistura de jogo de cintura, de finta e de arte do drible.
Essas qualidades poderiam muito bem encontrar expressão neste esporte de desvio que é o basquete. Mas, o encontro entre esse jogo e essa maneira de fazer tão tipicamente popular nunca aconteceu: inicialmen-te, e durante muito tempo, o basquete foi praticado sem grande entusiasmo pelas classes altas; antes de ser apropriado, com mais sucesso, porém, já na segunda metade do século, pelas classes médias das regiões desenvolvidas do país. Quanto à imensa maioria da população modesta do país, foi no futebol, no samba e na capoeira que ela investiu suas qualidades físicas de enfrentamento do adversário, de destreza corporal e de artimanha no ataque. Foi também no futebol que ela colocou suas esperanças de profissionalização.
Nesse contexto, o basquete permaneceu uma atividade esportiva entre outras, ou seja, praticada pelas categorias sociais com boa situação financeira. A história de seu desenvolvimento no Brasil é, assim,
bem menos fulminante que a do futebol.
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A L G U M A S D A T A S
1915: primeiro torneio sul-americano, realizado pela
A s s o c i a ç ã o C r i s t ã d e M o ç o s , com a participação de seis equipes.
1916: aL i g a M e t r o p o l i t a n a d e E s p o r t e s A t l é t i c o s adota o basquete.
1919: primeiro campeonato reconhecido pela L i g a . Vitória do Flamengo.
1922: primeira seleção nacional (dirigida por Fred
Brown) e primeira vitória brasileira na ocasião dos
Jogos Latino-Americanos, confrontando Brasil,
Ar-gentina e Uruguai.
1930: primeiro campeonato Sul-Americano de
Bas-quete, em Montevidéu, no Uruguai.
1933: fundação da F e d e r a ç ã o B r a s i l e i r a d e B a s q u e t e , em 25 de dezembro, no Rio de Janeiro, após a cisão dos clubes multi-esportes, consecutiva à profissiona-lização dos jogadores de futebol.
Durante o período que vai até o pós-guerra,
o basquete brasileiro mal vinga, praticado apenas
em um pequeno número de clubes chiques do Rio
de Janeiro e de São Paulo. É sustentado, à força, por alguns expatriados americanos. Um deles, Fred
Bro-wn, foi bastante ativo: contratado pelo Fluminense
F o o t b a l l C l u b , em 1920, não somente treinou a equipe
nacional, como também implantou as bases de uma
organização desse esporte no âmbito do país, além
de participar da formação da primeira geração de
técnicos brasileiros, entre 1933 e 1936. Graças ao seu trabalho, a Federação, que levava o qualificativo um tanto indevido de "brasileira" enquanto só contava com clubes cariocas, pode tornar-se, em 1941, uma
verdadeira C o n fe d e r a ç ã o B r a s i l e i r a d e B a s q u e t e - b a l l (CBB), contando com federações em diversos estados da Federação Nacional. Mesmo assim, o basquete não se difunde de maneira igual em todo o País, conforme
se pode constatar, examinando-se uma cartografia
deste esporte no Brasil.
A C A R T O G R A F IA D O B A S Q U E T E
B R A S IL E IR O
A T a ç a B r a s i l nasce em 1965, antes de ser re-batizada de C a m p e o n a t o N a c i o n a l , em 1990. Dos 19
clubes que a conquistaram, pelo menos uma vez, 15
estão localizados no estado de São Paulo, sendo a
maior parte deles fora da capital. Das 39 edições dessa competição, 33 foram vencidas por um clube paulista. Os outros raros clubes vencedores estão situados em estados vizinhos: Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. No basquete feminino, o
qua-dro não difere: dezoito, das vinte
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T a ç a s d o B r a s i l eC a m p e o n a t o s N a c i o n a i s F e m i n i n o s , disputados entre 1984 e 2004, foram obtidos por clubes do estado de São Paulo, contra somente dois, por clubes do Rio de Janeiro, e nenhum por clubes do restante do País. Há uma geografia do basquete brasileiro e ela se concen-tra fortemente ao redor do estado de São Paulo.
O basquete nos leva, assim, a um Brasil um
pouco diferente dos estereótipos tradicionais; ao
Brasil do Sul da Federação: um Brasil desenvolvido,
industrializado, com numerosos descendentes de
imigrantes europeus. Nas cidades de médio porte
dessa região relativamente rica, a vida esportiva local é estrutura da e organizada principalmente por clubes; esses clubes sociais cujo modelo é os o c i a l c l u b
britâ-nico, importado no fim do século XIX. No Brasil, os
poderes públicos nunca construíram muitas
instala-ções esportivas, salvo a exceção notável dos grandes estádios de futebol. Osp l a y g r o u n d s de basquete, assim como as piscinas e ginásios só existem nos recintos dos clubes privados, fechados às categorias populares. São esses clubes que estruturam e organizam a prática do basquete, geralmente com o apoio de empresários
que, quase sempre, são também sócios do clube.
Vínculos de sociabilidade se tecem também com as
antenas locais doL i o n s C l u b e doR o t a r y , que dividem, freqüentemente, sua sede social com o principal clube esportivo da cidade. Os contatos entre os empresários locais e os dirigentes esportivos são importantes, o que, historicamente, facilitou o financiamento privado
e a profissionalização dos jogadores.
Para essas empresas, a equipe de basquete da
cidade simboliza a prosperidade da empresa, tanto
quanto seu enraizamento local. Um orgulho local, um "bairrismo" se desenvolveu nessas cidades de médio porte, por exemplo, Catanduva, Ponte Preta, Franca, Presidente Prudente ou Jundiaí. O basquete veicula,
muito bem, uma dimensão de modernidade, de
de-senvolvimento, de "primeiro mundo" como dizem os brasileiros, graças à sua imagem de esporte "não-popular", ou seja, não praticado pelos pobres (em
comparação com o futebol). Nesse sentido, o basquete aparece como um esporte "de primeiro mundo"; um
esporte da modernidade e da urbanidade, que não se
vê jogar em terrenos baldios nem nas praias, mas, em
clubes e em salas especialmente concebidas para sua
prática. Em conseqüência, fica difícil ocultar a inexis-tência de negros e de pobres no basquete brasileiro.
Nas equipes de basquete desses clubes, há somente jovens da famosa "classe média" brasileira, que se
afastam de um futebol demasiadamente popular para
praticar um "esporte original", "distinto", que exibe não somente suas diferenças com "o povão", como seu status social, sem perder a dimensão coletiva dos esportes de bola.
A imagem do basquete norte-americano é,
então, ambígua no Brasil: certamente, permanece a
imagem do país de origem desse esporte, da NBA e do mais alto nível esportivo. Mas, é também a imagem de um basquete negro. Porém, no Brasil, o negro sendo por definição o pobre, o excluído, nessa antiga terra de escravidão, o basquete brasileiro tem dificuldade
de se identificar com o basquete negro da NBA.
Inversamente à imagem do negro, para o basquete
americano (ou até do Pelé para o futebol), o
porta-bandeira e símbolo vivo do basquete brasileiro é um rapaz bem alto, branco, que leva o nome germânico: Oscar Schmidt. Um símbolo em si.'
Por essa razão, a referência norte-americana é
ambígua no basquete brasileiro.' E, antes de olhar
para os Estados Unidos, prefere-se virar em direção ao Cone Sul, em direção ao Chile, à Argentina e ao
Uruguai, essas nações brancas do subcontinente com
quem o Brasil briga, na rivalidade da modernidade, do desenvolvimento e do "primeiro mundismo" A competição é regional, local; ela não é diretamente
orientada para os Estados Unidos, inatingíveis no
plano esportivo. De certa maneira, o basquete deixa
de ser considerado como um esporte estritamente
norte-americano, e passa a ser concebido de uma
forma mais larga. A rivalidade entre os países do Cone Sul gira ao redor do conceito de "primeiro mundo",
que se exprime, freqüenternente, em termos de
euro-peização na esfera cultural; mas que, aqui, na esfera esportiva, é veiculado por uma atividade oriunda da América do Norte.
Qual de nós é o "mais primeiro mundo"? Os
resultados das competições regionais de basquete permitem avaliar o "peso" de cada um, elaborar clas-sificações, contabilizar as vitórias que são símbolos de uma superioridade, que ultrapassa a esfera esportiva.
As competições que importam aqui são, certamente,
os
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J o g o s O l í m p i c o s e os C a m p e o n a t o s d o M u n d o , mas também osJ o g o s P a n - A m e r i c a n o s (dos quais os Es-tados Unidos participam, embora, nem sempre com suas melhores equipes) e, sobretudo, osC a m p e o n a t o sS u l - A m e r i c a n o s , pois nessa competição os brasileiros têm maiores chances de ganhar "o ouro", aparecer na televisão e mostrar a seus rivais sul-americanos
uma imagem do Brasil diferente dos estereótipos
habituais.
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J o g o s P a n - A m e r ic a n o s f e m in in o s
USA: 6 medalhas de ouro, 4 de prata, 2 de bronze Brasil: 3 medalhas de ouro, 3 de prata, 3 de bronze" Cuba: 3 medalhas de ouro, 2 de prata, 1 de bronze Chile: 1 medalha de ouro, 1 de bronze
J o g o s P a n - A m e r ic a n o s m a s c u lin o s
USA: 8 medalhas de ouro, 3 de prata, 1 de bronze Brasil: 4 medalhas de ouro, 2 de prata, 6 de bronze
Porto Rico:
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1 medalha de ouro, 4 de prata, 4 de bronzeArgentina: 1medalha de ouro, 2 de prata
C a m p e o n a t o s S u l- A m e r ic a n o s f e m in in o s
Brasil: 20 medalhas de ouro Chile: 4 medalhas de ouro Paraguai: 2 medalhas de ouro
Argentina, Colômbia, Peru: 1 medalha de ouro
C a m p e o n a t o s S u l- A m e r ic a n o s m a s c u lin o s
Brasil: 16 medalhas de ouro Uruguai: 12 medalhas de ouro Argentina: 11 medalhas de ouro Peru: 3 medalhas de ouro
Com certeza não se pode comparar o nível do basquete nacional com o dos Estados Unidos. Porém,
esses resultados mostram que o Brasil está longe de
ser uma "nação menor': no mundo da bola na cesta. Figuras como Oscar Schmidt, [anet Arcain, Hortência Marcari e Paula da Silva também são emblemáticas
5 6
\ R E V IS T A D E C t~ N C lA S S O C IA IS v . 3 8de um basquete brasileiro de alto nível internacional. Os resultados nas grandes competições mundiais são motivos de inveja, e não somente no Cone Sul. Sobre
este ponto, poderíamos comparar o basquete
brasi-leiro e o iugoslavo, que ultrapassa, freqüentemente, seus concorrentes regionais e que, de vez em quando, consegue se impor no mais alto nível mundial.
UM DESEMPENHO
INTERNACIONAL
ACIMA DA MÉDIA
J o g o s O lím p ic o s F e m in in o s ':
Brasil: 1 medalha de prata, 1 de bronze
J o g o s O lím p ic o s
mascullnos-:
Argentina: 1 medalha de ouro Brasil: 3 medalhas de bronze Uruguai: 2 medalhas de bronze México e Cuba: 1 medalha de bronze
C a m p e o n a t o s d o m u n d o Femlninos': Brasil: 1 medalha de ouro, 1 de bronze Chile: 1 medalha de prata
Cuba: 1 medalha de bronze
C a m p e o n a t o s d o m u n d o M a s c u lin o s8:
Brasil: 2 medalhas de ouro, 2 de prata, 2 de bronze Argentina: 1 medalha de ouro, 1 de prata
Chile: 2 medalhas de bronze
Esses resultados internacionais, por mais presti-giosos que sejam, possuem somente um valor muito
relativo no Brasil: sua visibilidade mediática só é
garantida se eles occorem num período de "jejum
futebolístico", pois quando a seleção de futebol brilha
nas competições internacionais, todos os outros
es-portes permanecem ignorados, quaisquer que sejam
as medalhas conquistadas.
OBSTÁCULOS
O paradoxo do basquete brasileiro é que ele
tem uma existência em âmbito internacional, bem
como no plano regional (na parte sul do país), mas,
é praticamente inexpressivo em termos nacionais,
apesar da presença formal de 27 federações afiliadas
à CBB, nos 27 estados da federação. Os efetivos são
macérrimos na esmagadora maioria desses estados.
Como explicar que o basquete não seja um esporte de massa no Brasil?
Essa ausência de difusão massiva, como vimos
antes, se explica parcialmente por razões históricas e
sociais. Também podemos explicá-Ia pela
precarie-dade de infra-estruturas. A exemplo do que ocorre a
muitos outros esportes, no Brasil, para se desenvolver, o basquete se ressente da falta de instalações
sufi-cientes, sejam elas estádios de atletismo, piscinas ou
quadras. Nem todas as regiões do país têm os recursos
financeiros, nem a densidade empresarial suficiente
para manter clubes profissionais de basquete, e até
mesmo de futebol.
A mediocridade da difusão do basquete em
âmbito nacional pode também ser explicada pela
necessidade básica, nesse esporte, de se dispor de uma
quadra com piso de superfície lisa e dura, em um país
em que a grande parte dos lazeres acontece na areia
das praias ou em várzeas. Esportes como o vôlei se
adaptaram perfeitamente ao contexto balneário dos
lazeres brasileiros: hoje, o "vôlei de praia" é muito mais
praticado que o tradicional "vôlei de quadra". Este
exemplo de um esporte pouco praticado na origem
e que conheceu uma massificação inegável, graças à
sua balnearização, nos faz pensar que, talvez, haja uma
esperança de difusão do basquete, se for encontrada
uma forma de ser jogado na areia. Curiosamente,
tais versões do basquete começaram a aparecer,
re-centemente, não no Brasil, mas nos Estados Unidos
ena França."
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/
Um outro fator de explicação pode ser
relaciona-do à altura relaciona-dos jogarelaciona-dores, num país em que segmentos
populacionais de certas regiões padecem de
proble-mas de desnutrição há várias gerações, acarretando
conseqüências na estatura média dos habitantes.
Ressalte-se que a cesta de basquete fica a 3,05 metros
de altura, para qualquer jogador. Ao contrário do
futebol, o basquete favorece os jogadores altos e
desfa-vorece os baixos. Isso não quer dizer que não existam
indivíduos altos e dotados de corpos atléticos nas
camadas pobres da população. Mas, esses indivíduos
não vão espontaneamente em direção ao basquete; e
sim, direcionam-se mais para o futebol, que é a via
real da profissionalização esportiva no Brasil.
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Q U A L O F U T U R O P A R A O B A S Q U E T E
B R A S IL E IR O ?
Um projeto de circuito comercial, com o modelo
da NBA e em concorrência com as competições da
CBB, foi lançado por um empresário (João Henrique Areias), em parceria com Oscar Schmidt. O fracasso
desse projeto, em 2003, revela a desconfiança dos
investidores em relação às empresas-clubes, cujas
capacidades de gestão são notoriamente pouco
con-fiáveis. Este insucesso reflete também o fim de uma "época dourada" do basquete, a partir de meados dos anos 1990, no Brasil como no resto do mundo. Nota-se também, no país, o início de um declínio nas competições internacionais,
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1 0com a aposentadoria doM ã o S a n t a (Oscar Schmidt). Baixou também o nível
dos campeonatos femininos estaduais, sobretudo o
de São Paulo, com a emigração das melhores joga-doras para os Estados Unidos e para a Europa. Em compensação, talvez essas "migrantes do esporte",
pelo fato de freqüentarem os melhores campeonatos
mundiais, tragam de volta para o Brasil uma elevação do nível da equipe nacional. Neste ponto, também, o basquete está ainda seguindo o exemplo do futebol, para o melhor e para o pior.
N O T A S
o
"novo esporte" está presente na China, no Japão e nasFilipinas desde 1893.
2 Oscar Schmidr, oM ã o S a n t a , é um jogador excepcional: titular
de todos os recordes do basquete brasileiro, participou de cinco olimpíadas (de 1980 a 1996) e obteve o recorde olímpico de
pontos (1093).
3 Essa ambigüidade em relação ao modelo americano explica o
limitado número de revistas especializadas, no basquete (um
único título, com difusão medíocre). De fato, esse tipo de
imprensa se apóia geralmente sobre as estrelas da NBA, um tipo
de jogadores que não constitui um modelo de identificação
comum no basquete brasileiro.
4 Medalhas do Brasil em Jogos Pan-Americanos Femininos,
desde sua fundação, em 1951, na Argentina (entre parênteses o
país organizado r) - Ouro: em 1967 (Canadá), 1971 (Colômbia e 1991 (Cuba). Prata: em 1959 (USA), 1963 (Brasil) e 1987 (USA). Bronze: em 1955 (México), 1983 (Venezuela) e 2003
(República Dorninicana). Medalhas do Brasil nos Jogos
Pan-Americanos M a s c u l i n o s , desde sua fundação, em 1951 na
Argentina (entre parênteses o país organizador) - Ouro: 1971 (Colômbia), 1987 (USA), 1999 (Winnipeg) e 2003 (República Dominicana). Prara: em 1963 (Brasil), 1983 (Caracas). Bronze:
em 1951 (Argentina), 1955 (México), 1959 (USA), 1975
(México), 1979 (Porto Rico) e 1995 (Argenrina).
5 O Brasil nos JO
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fe m i n i n o s (desde 1976, em Monrreal) -1976-1988: não qualificado. Barcelona, 1992:sétimo. Arlanta, 1996:
prata. Sidney, 2000: bronze. Arenas, 2004: quarto.
6 O Brasil nos JO m a s c u l i n o s (desde 1936, em Berlim) - Londres,
1948: bronze. Tókio, 1964: bronze. Seoul, 1988: quinto.
Barcelona, 1992: quinto. Arlanta, 1996: sexto. Sidney, 2000 e Atenas, 2004: não qualificados.
7 O Brasil nos Campeonaros do mundo fe m i n i n o s (desde 1953,
no Chile): medalha de ouro na Austrália, em 1984 e medalha de bronze no Brasil, em 1971.
8 O Brasil nos Campeonatos do mundo m a s c u l i n o s (desde 1950,
na Argentina): medalhas de ouro em 1959 no (Chile) e 1963 (no Brasil) e 1970 (na Iugoslávia); bronze (no Uruguai) e 1978
(nas Filipinas).
9 Para jogar na areia, basra parar de driblar.
100 time masculino não participou dos JO de Sydney (2000),
nem de Arenas (2004).
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R E F E R Ê N C IA S B IB L IO G R Á F IC A S
B a s k e t B r a s i l (1998-2002), revista oficial da Confederação Brasileira de Basket-ball, Rio de Janeiro.
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L a r o u s s e c u l t u r a l - E n c i c l o p é d i a a l fa b é t i c a e m u m ú n i c o v o l u m e
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RUBlO, Katia (2004). M e m ó r i a e i m a g i n á r i o d e a t l e t a s
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B r a s i l d i a - a - d i a - E s p e c i a l a l m a n a q u e (s/d) São Paulo: Editora Abril.