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A LINGUA: UM INSTRUMENTO DE FALA, DE IDENTIDADE PESSOAL E SOCIAL

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A LINGUA: UM INSTRUMENTO DE FALA, DE IDENTIDADE PESSOAL E SOCIAL

Geane Lopes Francisco Araújo (PPGLetras – UEMS) geanefran@hotmail.com Silmara Silveira Lemes Sampaio de Queiróz (PPGLetras – UEMS) pgletras@uems.br Elza Sabino da Silva Bueno (UEMS) elza20@hotmail.com

RESUMO: No decorrer da colonização do Brasil, a mistura de raças foi dando origem à mistura de diferentes línguas, com isso o povo brasileiro foi construindo sua linguagem, refletindo através dela a identificação, a diferenciação de cada comunidade e também a inserção do indivíduo em diferentes agrupamentos, estratos sociais, faixas etárias, gêneros e graus de escolaridade, sofrendo assim, várias influências e discriminações quanto a maneira de falar. Para melhor compreensão, este artigo irá enfatizar o tema: Língua, Sociedade, Variedades linguísticas e Preconceito linguístico com o objetivo de mostrar como ocorreu esse processo de variação. O presente trabalho é resultado de uma pesquisa bibliográfica, com base em estudo realizado em sala de aula.

PALAVRAS-CHAVE: Língua. Identidade. Sociedade. Preconceito linguístico.

ABSTRACT: During the colonization of Brazil, the mixture of races was giving rise to mixture of different languages, so the Brazilian people was building his language, reflecting it through the identification and differentiation of each community and also the insertion of the individual in different groupings, social strata, age groups, genders and educational levels, suffering so many influences and discrimination as a way of speaking. To better understand this article will emphasize the theme:

Language. Company. Linguistic varieties. Linguistic bias, in order to show society as it did this process of linguistic variation. The present work is the result of a literature review and will be made based on the study in the classroom.

KEYWORDS: Language - identity - society - linguistic bias

INTRODUÇÃO

Onde quer que exista um povo, território, país, nação ou outro qualquer lugar, sempre estará presente uma determinada língua que representará uma diversidade linguística e, para tanto, utilizará o principal fundamento da linguagem, a comunicação.

Um processo de grande importância entre as sociedades, pois apresenta em sua essência um sistema chamado de signos vocais e linguísticos, ou seja, a língua. É através desses signos que o falante dispõe de possibilidades para se comunicar, podendo optar por

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diversas variações ocorrentes dentro de um processo histórico da linguagem de uma sociedade, retratando aspectos pessoais, valores regionais e econômicos, que se destacam como um intercâmbio entre as variações. A língua é um sistema de possibilidades que oferece em contrapartida, um grande número de regras, combinações e substituições sem que haja a alteração e nem o comprometimento da unidade linguística, ou seja, utilizar várias formas ou expressões para dizer a mesma coisa que apresentam o mesmo sentido, o que chamamos de variação linguística.

Dessa maneira, os falantes de uma determinada língua, exercem aspectos diferentes dos demais, haja vista que nenhum falar é do mesmo modo que o outro, o que caracteriza as variações existentes.

PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

Qualquer língua é definida com um sistema de signos vocais, visuais utilizados como meio de comunicação por um grupo social ou comunidade. Esta concepção e o processo de comunicação (a linguagem) é a base do estudo linguístico.

Um dos fatores que determina a vida em sociedade é a linguagem, que por sua vez está relacionada à forma como o indivíduo interage, retratando o comportamento e a cultura pertinentes à comunidade a qual ele pertence. Sendo assim, a língua é um instrumento de fala, no entanto, o seu uso representa também um veículo identitário e até na mesma comunidade, ela é heterogênea, visto que pode sofrer variações devido à faixa etária, o sexo, a classe social do falante, entre outros fatores

Essa diversidade é notável em nossa língua portuguesa, que apesar de ser a língua oficial de nosso país, apresenta grandes variações linguísticas, pois é fácil identificar não só pelo sotaque, mas também pelo vocabulário, quando uma pessoa pertence à região nordeste ou sul, por exemplo, como diz Martelotta (2009, p.19):

Cada grupo social tem um comportamento que lhe é peculiar e isso vai manifestar também na maneira de falar de seus representantes: os cariocas não falam como os gaúchos ou como os mineiros e, do mesmo modo, indivíduos pertencentes a um

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grupo social menos favorecido têm características de fala distintas dos indivíduos de classe favorecidas.

A língua, principalmente a oral, é o primeiro contato que a criança adquire com a mãe e a família, e essa aquisição representa reconhecer-se como uma espécie. Vale ressaltar que os surdos-mudos não apresentam esse recurso, mas nem por isso podem ser discriminados, haja vista que dispõem de uma linguagem visual que lhes permite comunicar-se com as pessoas e que atualmente, a linguagem de sinais (libras) é considerada uma língua que também sofre variações, como as regionais, por exemplo.

As variações são respeitadas pela linguística, já que as considera um mecanismo normal da própria língua, uma vez que isso pode ocorrer na pronúncia, no vocabulário ou na sintaxe, considerando todas as línguas importantes. É o esclarece Martelotta (op.

cit.) “A linguística considera, pois, que nenhuma língua é intrinsicamente melhor ou pior que outra, uma vez que todo sistema linguístico é capaz de expressar adequadamente a cultura do povo que a fala” (p.20).

Como vimos, a fala é essencial para o ser humano, como meio de comunicação, e a forma como a utiliza pode determinar o seu crescimento cultural e social. Mesmo que o indivíduo disponha de uma escolaridade média para conseguir um emprego, muito das vezes, o que determina isso é a entrevista, onde também será avaliada a sua competência oral, sendo assim, fica claro que a escrita é importante, mas reconhecer os signos linguísticos e saber usá-los fluentemente, também tem o seu valor e é na fala que a linguística tem um interesse especial, pois segundo Martelotta (2009), é nesse meio que a linguagem se manifesta de modo mais natural.

Em 1960, William Labov passou a estudar a língua empregada por falantes comuns em seus contextos sociais e descobriu que era adequada, pois era compreendida pela comunidade, a partir daí, deu grande contribuição para os estudos linguísticos, defendendo que a língua estava relacionada à sociedade, dando origem à Sociolinguística, disciplina que se ocupa da variação e da mudança linguística, as relacionando ao contexto de uso concreto da língua em situações reais de comunicação.

Como sabemos tudo na vida sofre mudanças, até mesmo um ser inanimado como a pedra, pode mudar seu formato, sua cor, se estiver exposta ao vento e à chuva, e

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o próprio ser humano muda com o tempo, não só a fisionomia, como o seu estilo (moda), as suas preferências e até a sua ideologia. A língua não é diferente, pois sofre mudanças decorrentes de fatores sociais, políticos e do próprio tempo.

Quando conversamos com uma pessoa, pelo seu vocabulário é fácil notar a sua origem, se está utilizando palavras atuais, não que as palavras ou expressões morram, mas muitas, apesar de serem considerados vocábulos de nossa língua, caem em desuso.

Se alguém perguntar a um jovem qual é a sua graça, provavelmente ele não saberá responder, pois vive em uma época diferente e dispõe de um acervo vocabular e linguístico também diferentes.

A respeito dessa evolução, afirma Labov (apud MONTEIRO, 2000, p. 16-17):

A função da língua de estabelecer contatos sociais e o papel social por ela desempenhado de transmitir informações sobre o falante constitui uma prova cabal de que existe uma íntima relação entre língua e sociedade (...). A própria língua como sistema acompanha de perto a evolução da sociedade e reflete de certo modo os padrões de comportamento, que variam em função do tempo e do espaço.

Essa afirmação difere do pensamento do linguista Ferdinand de Saussure (1989), pois para ele a linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma, pois a língua é elaborada pela comunidade e é somente nela que ela é social.

Utilizar a língua e suas variantes informal ou padrão é um ato normal dentro da comunicação, mas como vimos, a fala representa a identidade cultural e social da pessoa e por esse motivo deve ser usada adequadamente, o que não impede o uso de nenhuma das variantes em seu devido contexto. No que se refere à língua portuguesa, iniciou-se desde a colonização e da formação da sociedade brasileira, cujo processo revela aspectos importantes na formação da nossa língua, que se espalharam por todas as partes do nosso território, ocorrendo uma junção da cultura dos portugueses vindos ao Brasil, das características e conhecimentos dos povos indígenas e ainda os aspectos relevantes dos negros trazidos para o Brasil que já dispunham de certo conhecimento da língua portuguesa adquiridos em outras colônias portuguesas no continente asiático.

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Segundo Le Page (1980), todo ato de fala é um ato de identidade. A linguagem é o índice por excelência da identidade e as escolhas linguísticas são processos inconscientes que o falante realiza associado às múltiplas dimensões constitutivas da identidade social e aos múltiplos papéis sociais que o usuário assume na comunidade de fala, mas o que determina a escolha de uma ou outra variedade é a situação concreta de comunicação. Porém, o autor destaca que o ato da fala está diretamente relacionado à sociedade em que vive a pessoa e no contato com os demais falantes de uma determinada língua e comunidade.

Lemos Monteiro (2008) enfatiza que comunidade linguística e comunidade de fala nem sempre são equivalentes: Madrid e Caracas, por exemplo, participam da mesma comunidade linguística, porém são comunidades de fala distintas, justamente porque não compartilham de uma série de atitudes linguísticas com relação a algumas variedades e, consequentemente, diferem nas regras de uso. O exemplo é elucidativo e sugere que se possa dizer o mesmo em relação ao português falado no Brasil e em Portugal, ou seja, embora tanto os brasileiros quanto os portugueses façam parte de uma única comunidade linguística, distinguem-se quanto ás regras e atitudes face ao uso do idioma. A presença de uma grande variedade linguística resulta de fatores principalmente socais e econômicos. Martelotta (2009, p.148) nos comprova essa afirmação:

Labov pesquisou o referido fenômeno em três lojas de departamento de nova York: uma freqüentada pela classe alta, outra pela média, e a terceira freqüentada pela classe baixa. Induziu os empregados a proferir as palavras fouth (numeral quarto) e floor (piso, andar) como resposta á sua pergunta sobre em que andar se encontrariam produtos que lhe interessavam. Observe- se que a consoante r aparece em dois contextos diferentes: posição pós- vocálica final e posição pós vocálica não final. Labov descobriu que a preservação da vibrante ocorria com maior frequência na loja de classe alta e média do que na loja de classe mais baixa, revelando que a pronúncia do r pós vocálico é considerada de prestígio.

No decorrer do processo histórico do Brasil, o português falado pelas classes mais favorecidas socialmente tem sido a variedade mais valorizada até os dias de hoje.

Dentre as variações, a língua padrão é a mais aceita como representação do país.

Quando essa variedade de língua é eleita para atuar como padrão, ela ganha alta condição social, o que se pode classificar como status, passando a ser elemento de

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dominação sobre as demais variedades linguísticas existentes, que passam a ser

“inferiores” socialmente que as demais, graças a uma maneira preconceituosa, das regras impostas pela gramática, fazendo da linguagem padrão, uma linguagem única.

A linguística, área de estudo científica da linguagem em seu aspecto falado e escrito considera que toda língua expressa a cultura do povo que a fala, e respeita qualquer variação que ela apresente, isso porque é natural as variações de pronúncia, de vocabulário e de sintaxe e interligada à variação da língua está a variação sociocultural, destacando-se os usos diferenciados por faixas etárias, como os das crianças, dos jovens e dos idosos, o que se consolida no posicionamento de Possenti (1996) “As diferenças mais importantes entre os dialetos estão menos ligadas à variação dos recursos gramaticais e mais à avaliação social que uma sociedade faz dos dialetos.

O autor destaca que a grande concentração das variedades está aplicada no cotidiano das pessoas por conta de suas condições sociais e não ao fato das aplicações gramaticais.

Os jovens em busca de sua identidade costumam criar formas próprias de expressão, transformando o significado dos termos ou criando uma sintaxe própria e a essa variação está ligada a histórica que trata de enfatizar os fatos diacrônicos no decorrer do processo linguístico. Assim, entre os jovens temos as tribos dos surfistas, dos skatistas, das patricinhas, e assim por diante. Conforme nos afirma Monteiro (2008, p.113):

As primeiras experiências lingüísticas da criança, na fase dos dois a três anos de idade, se produzem principalmente pelo exemplo dos pais. Mas, a partir dos quatros anos até aos treze anos, aproximadamente, os padrões de fala passam a ser modelados pelo grupo de seus colegas de brincadeiras. Tudo leva a crer que neste período é quando se sedimentam as formas automáticas de produção lingüística: como regra, quaisquer hábitos adquiridos depois desta fase são mantidos por controles auditivos e articulatórios.

A variação por sexo se mostra nos termos utilizados por homens e mulheres. Por exemplo, o uso do diminutivo é mais comum na fala da mulher do que na do homem. O homem se preocupa em não empregar uma terminologia feminina, mais afetiva, por conta da avaliação social imposta pela sociedade em geral. Monteiro (2008, p.127) ressalta que:

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O papel das mulheres no processo de mudança lingüística já foi demonstrado em diversas investigações empiricas. Labov (1972) menciona, entre outros, a célebre descoberta de Gauchat, segundo a qual o emprego de formas inovadoras aparece com maior freqüência entre as mulheres do que entre os homens. Refere-se também ás pesquisas que ele próprio realizou, em geral evidenciando que a variável sexo não pode ser deixada de lado na análise da mudança.

Em todos os casos, deve se está atento à discriminação provocada pelo uso de variantes e como cada variante representa um grupo social, é comum as variantes de grupos com menos destaque político, social e econômico serem desprestigiadas. Com isso, surge o preconceito linguístico, as pessoas são julgadas pela fala e escrita que apresentam. Segundo Monteiro (2008, p.65):

Um dos preconceitos mais fortes numa sociedade de classes é o que se instaura nos usos da linguagem. Se o falante é um camponês ou mora numa favela, se é analfabeto ou de baixo nível de escolaridade, é lógico que sua maneira de falar não será a mesma que a das pessoas que se situam no ápice da pirâmide social. Em todos os níveis lingüísticos se manifesta essa distância: na fonologia, no léxico, na sintaxe. Ele provalvelmente usará formas como vrido, pranta, expilicar e musga ou construções do tipo nós veve, ele viu eu, eu se danei etc. E, com isso, é mais discriminado ainda pela sociedade.

Esse preconceito, essa negação constante da sociedade, do ensino da escola que tem buscado consertar a língua do aluno também é abordado por Bagno (1999, p.40):

O preconceito linguístico se baseia na crença de que só existe uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-gramática- dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, “errada”, feia, estropiada, rudimentar, deficiente, e não é raro a gente ouvir que “isso não é português”.

Reconhecer as diferenças entre as variantes e o prestígio de uma sobre a outra, saber compreendê-las como uma forma de vida da língua, é o princípio da cidadania e de respeito à diversidade. Não há língua portuguesa certa ou errada, existem variações de prestígios linguísticos. O segredo está em se saber adequar o ato verbal às situações de uso; compreender qual a variedade mais adequada naquele momento com determinadas pessoas. A norma padrão é uma variante linguística de determinado grupo

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social que impõe aos demais suas formas de uso e está intimamente ligada ao poder econômico, político e social. A sociedade aceita que ela seja padrão e que deva ser ensinada nas escolas e divulgada pelos meios de comunicação, mas nem sempre ocorre um equilíbrio, pois há uma pressão social em sua defesa e manutenção.

Muitos dizem que ela preserva a nacionalidade, dicionários e gramáticas dizem o que é certo e o que é errado no uso da língua e infelizmente as modalidades prestigiadas muitas vezes não são conhecidas por todas as pessoas, o que faz com que elas se sintam inferiores por não saberem competir no mesmo grau de igualdade com aqueles que as dominam. Todos devem ter os mesmos direitos linguísticos. Foucault (1986) nos comprova:

Absolutamente não coloco uma substância da resistência face a uma substância do poder. Digo simplesmente, a partir do momento em que há uma relação de poder há uma possibilidade de resistência. “Jamais somos aprisionados pelo poder: podemos sempre modificar sua dominação e segundo uma estratégia precisa...” "Esta resistência de que falo não é uma substância”. Ela não é anterior ao problema que ela enfrenta; ela é co- extensiva a ele e absolutamente contemporânea.

Na visão do autor acredita-se que a expressão linguística ocorre mediante a práxis da fala, partido dos conhecimentos empíricos ou científicos, conforme o âmbito social de cada falante da língua.

Linguisticamente, não se deve menosprezar um indivíduo devido a sua forma de falar, mas a sociedade ainda age preconceituosamente, a começar pela escola que há pouco tempo desconsiderava as formas linguísticas que não fossem a padrão. Apesar das mudanças nesse sentido, cabe ao membro de qualquer comunidade linguística, usá- las adequadamente, é o que complementa Bortoni- Ricardo (2005) que para operar de maneira aceitável, um membro de uma comunidade de fala tem de aprender o que dizer

e como dizê-lo apropriadamente, a qualquer interlocutor e em quaisquer circunstâncias.

Recentemente, a escola que sempre priorizou pelo ensino da língua padrão, assumiu a diversidade linguística brasileira e estabeleceu diretrizes aos professores em sua prática pedagógica através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1999, p.31):

No ensino-aprendizagem de diferentes padrões de fala e escrita, o que se almeja não é levar os alunos a falarem certo, mas permitir-lhes a escolha da forma de fala a utilizar, considerando as características e condições do

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contexto de produção, ou seja, é saber adequar os recursos expressivos, a variedade de língua e o estilo às diferentes situações comunicativas (...) a questão não é de erro, mas de adequação às circunstâncias de uso, de utilização adequada da linguagem.

A fala é o que une o aluno à aprendizagem e ao conhecimento e para que isto ocorra é necessário que o aluno não tenha receio de falar a sua opinião, não basta apenas que ele escreva, mas que forme a sua consciência crítica e saiba explorar a sua oralidade, contudo, nesse processo, a língua não deve ser um empecilho, mas um meio para essa acessibilidade.

Todo falante dispõe de uma competência linguística em sua língua materna, porém muitas vezes esta forma de expressão é vista pela sociedade como uma deficiência, pois desde a época da colonização de nosso país, a língua conferia status, prestígio e, ainda nos dias atuais, qualquer linguagem que não esteja dentro dos padrões da língua padrão (culta) passa a ser vista diferentemente, e tudo o que é diferente tende a ser classificado como errado, contrário e insignificante. Dentro desses parâmetros, a escola tem um papel importante, pois deve aproveitar a habilidade que o aluno traz consigo, uma linguagem própria de sua comunidade para, a partir disso, aprimorar o seu saber e propiciar-lhe uma amplitude lingüística. Sendo assim, o espaço onde ele irá adquirir o conhecimento que ainda não possui. No entanto, segundo Bagno (2002), é de suma importância que a escola discuta os valores sociais de uma língua, conscientizando-o de que sua produção (escrita ou falada) estará sujeita a uma análise social que poderá ser positiva ou negativa.

Vale ressaltar que as variações não empobrecem a língua, mas as torna ainda mais rica, e desprezar, ignorar uma variação, seja ela, formal, informal ou até vulgar como nas origens da língua portuguesa (Portugal), não acrescentará em nada para com a aprendizagem e para a educação de forma geral, porque a escola não é a única responsável pela “redenção”, pela transformação da educação, visto que nosso país, mesmo sendo atualmente um país emergente, apresenta índices abaixo da média, pois os problemas educacionais como aborda a sociolinguística são causados por fatores sociais e não linguísticos.

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Partindo do princípio que a língua está relacionada diretamente à sociedade, é necessário ter apenas não só um diploma, mas, competências linguísticas. Não podemos ignorar que ela é um instrumento importante para ascensão, mudança de vida e para tanto, a escola deve esclarecer, orientar e capacitar seus alunos a respeito dessa realidade. É o que alerta Bortoni-Ricardo (2004, p.9):

Como bem sabemos, nas disputas do mercado linguístico, diferença é deficiência. Por isso, cabe à escola levar os alunos a se apoderar também das regras linguísticas que gozam de prestígio, a enriquecer o seu repertório linguístico, de modo a permitir a eles o acesso pleno à maior gama possível de recursos para que possam adquirir uma competência comunicativa cada vez mais ampla e diversificada – sem que ainda isso implique a desvalorização de sua própria variedade linguística, adquirida nas relações sociais dentro de sua comunidade.

Portanto, utilizar a língua e suas variações como um instrumento de fala, como sua identidade e como representação de sua sociedade é uma escolha cabível unicamente ao falante, podendo ser utilizada por familiaridade, consciência crítica ou por prestígio social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base em tudo que foi aqui apresentado, pode-se dizer que jamais será possível um processo de aprendizagem sem que haja variedades, pois esta é a raiz de nossa sociedade. Dessa maneira, deve-se pensar que a educação sempre enriquecerá a linguagem de um povo, de qualquer sociedade e que esse crescimento não esbarre em diferenças sociais e econômicas, pois a cultura de um povo está na construção da sociedade em conjunto.

Que cada indivíduo deixe o preconceito linguístico, respeite as variações linguísticas existentes em seu meio social, já que cada um tem suas particularidades e que a escola continue a ensinar a língua padrão, mas previna-se, tome cuidado para que o aluno não perca sua essência linguística, pois a linguagem faz da realização do indivíduo que, para sentir-se pleno precisa interagir, e isso só é possível quando

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acontece o respeito às particularidades, o bom senso e consequentemente a aprendizagem, o crescimento pessoal, social e cultural, não só de uma pessoa, mas de uma comunidade, de uma nação.

REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguística em sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

PCN. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Fundamental: Ministério da Educação, 1999.

POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas, SP: ALB – Mercado de Letras, 1996.

MARTELOTTA, Mário Eduardo. Linguística In: Manual de Linguística. São Paulo:

Contexto, 2009.

MONTEIRO, José Lemos. A variação linguística. In: para compreender Labov.

Petrópolis – RJ; Vozes, 2008.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 1989.

Recebido Para Publicação em 19 de setembro de 2012.

Aprovado Para Publicação em 23 de novembro de 2012.

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