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Comunicação Não-Violenta Mais do que pronunciar

palavras, você precisa aprender a pronunciá-las

Leia na página 05 Amor em Extinção

O mais nobre dos sentimentos humanos está desaparecendo, mas

ainda há tempo para a salvação Leia na página 11

Oração ao Tempo

O tempo pode ser a resposta para tudo, inclusive para os

nossos reencontros

Leia na página 23

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Nesta edição

Abertura ... 3

Comunicação Não-Violenta ... 5

O amor está extinção ... 11

Oração ao Tempo ... 23

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Abertura

É com muita alegria e satisfação que dou início a um projeto pessoal no qual venho pensando há um bom tempo. Sempre tive vontade de desenvolver uma revista, um material no qual pudesse expressar um pouco do que penso ou compartilhar o conhecimento que adquiro. Inicialmente trabalhei com um blog, o Coisas da Vida, depois passei a divulgar os meus textos em uma página no Facebook, com o mesmo nome, e no site Recanto das Letras. Tem sido bom. Mas eu ainda queria dar vida a algo maior.

Então me arrisquei.

Resolvi começar devagar, como você perceberá no decorrer das próximas páginas, essa edição da Revista Coisas da Vida não é tão longa, nem traz assuntos tão complexos ou densos, quero que seja uma experiência inicial para que você, leitor, possa enviar suas críticas, sugestões, conversar comigo sobre os temas propostos e até mesmo firmar parcerias para que os seus pensamentos também sejam compartilhados e vistos. Quero mais do que desenvolver uma revista. Quero que você se sinta motivado a participar dessa construção.

Nessa primeira edição falaremos sobre a Comunicação Não-Violenta, uma ideia que visa promover uma forma mais pacífica e saudável de diálogo entre cada um de nós, seres humanos. Em seguida, expresso minha opinião sobre um tema que inspira parágrafos intermináveis aos maiores poetas e pensadores, falo sobre o amor, melhor especificando, sobre a extinção do amor e o que acho possível fazermos a fim de evitar essa tragédia. Para finalizar, apresento uma sugestão de música, Oração ao Tempo, uma bela canção de palavras sutis com significado imenso.

As próximas edições serão mais grandiosas, esse é o meu verdadeiro objetivo. Mas quero muito contar com a sua ajuda. No meu Instagram pessoal (Amilton.Jnior) será um prazer enorme conversar com você, conhecer as suas ideias e, se for o caso, reservar um espaço só seu aqui na revista. Também será gratificante receber sua companhia na página Coisas da Vida presente no Facebook, onde divulgo textos, mensagens, tudo para provocar a reflexão e oferecer um pouco da paz que podemos adquirir através das palavras. Se preferir, você pode escrever para o meu e-mail (amiltonjnior1@gmail.com).

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Espero que aprecie a leitura, que as palavras o envolvam e incentivem a pensar por si mesmo.

Ah! Se estiver lendo pelo celular sugiro que ative a rotação e deixe o aparelho na horizontal, aplique o zoom como desejar e tenha uma agradável experiência de leitura.

Muito obrigado pelo prestígio, espero conversar com você em breve!

Amilton Júnior

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Sabemos falar, ao menos sabemos como pronunciar as palavras, mas a grande questão é que não sabemos como usar essas palavras, como articulá-las, não conseguimos

comunicar com clareza aquilo que estamos sentindo e esperamos das pessoas que nos

rodeiam

Comunicação Não- Violenta

Uma lição sobre como usar as palavras

Sabemos falar, ao menos sabemos como pronunciar as palavras, mas a grande questão é que não sabemos como usar essas palavras, como articulá-las, não conseguimos comunicar com clareza aquilo que estamos sentindo e esperamos das pessoas que nos rodeiam. Essa dificuldade nos leva a conflitos que poderiam ter sido evitados desde que ao menos um dos envolvidos dominasse o que podemos chamar de “arte do dialogar”.

Pensando nisso, interessado em ajudar as pessoas a terem uma comunicação mais eficiente em seu dia a dia, quero apresentar uma teoria bastante conhecida no meio psicológico, mas que não se restringe aos psicólogos, algo que você pode aplicar e colher bons frutos!

Vamos falar um pouco (aqui não seria possível falar tudo sobre essa “ferramenta”

tão útil, por isso, não deixe de consultar a referência que será indicada ao final do texto) sobre a chamada Comunicação Não-

Violenta (CNV), um conceito desenvolvido pelo psicólogo Marshall Rosenberg para que as pessoas aprendessem a se comunicar com clareza, tranquilidade, incentivando a paz

entre todos. Em primeiro lugar precisamos entender que dentro da CNV nossas conversas devem se pautar nos seguintes componentes: observação, sentimento, necessidade e pedido. Vamos entender um pouco melhor cada um deles.

A observação aqui deve ser feita sem a avaliação, visto que este último comportamento nos leva a reduzir as pessoas a rótulos que não necessariamente expliquem quem elas são, são apenas colocações que fazemos sem nem ao menos conhecermos as pessoas a fundo. Observar sem avaliar, ou sem julgar, quer dizer entrar em contanto com o fenômeno. Assim sendo, ao vermos nosso filho esperneando no texto de Amilton Júnior

Relações Humanas

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meio do supermercado, a tendência é que o definamos como birrento ou mal criado, porém, nosso primeiro passo para evitar desavenças é observar apenas, descrever o fenômeno como ele se apresenta sem nenhum tipo de juízo. Nossos julgamentos podem inferiorizar as pessoas, reduzi-las e causar resistência na forma como as enxergamos.

Inevitavelmente, até mesmo por essa razão somos induzidos aos julgamentos, toda a observação que fazemos nos leva a ter algum tipo de sentimento. Por exemplo, voltando à criança que está esperneando, ao assistir à cena talvez você se sinta irritado, nervoso, impaciente, tais sentimentos o levam a julgar aquelas ações como inadequadas e a rotular o próprio filho. Portanto, é de extrema importância que saibamos reconhecer e identificar nossos próprios sentimentos. A partir de hoje, depois de observar algum fenômeno, analise quais sentimentos essa observação desperta em você.

O próximo passo é identificar a necessidade por trás desses sentimentos. E não há problema algum em reconhecer que precisamos ser supridos em alguma instância de nossas vidas. Infelizmente vivemos numa cultura na qual falar sobre sentimentos parece desperdício de tempo e confessar que possui alguma necessidade é afirmar que somos frágeis. Precisamos nos desvincular dessas visões se quisermos salvar nossos relacionamentos, se quisermos interagir de maneira saudável com as pessoas à nossa volta. No exemplo que estamos acompanhando, quais necessidades poderiam estar atrás dos sentimentos de irritabilidade ou impaciência? Talvez você goste de um ambiente mais tranquilo, sem agitos como os daquela criança, pode estar em um mau dia e qualquer coisa o tira do sério, pode ainda ter a necessidade de evitar ser o centro das atenções e você considera que os olhos de todo o supermercado estão voltados para si nesse momento. É muito importante identificar essas necessidades para que no próximo passo você consiga despertar na outra pessoa certa empatia por si.

O derradeiro passo é fazer um pedido. Isso mesmo, esqueça-se de ser um durão, esqueça-se de exigir das pessoas o que você quer mesmo que se trate do seu filho. Se você está mesmo disposto a desenvolver uma relação minimamente tranquila e amistosa entenda que é necessário pedir, verbalizar o que você quer da forma mais clara possível.

Esse pedido, quando estruturado, envolve todos os passos que foram citados acima. Ao invés de rotular seu filho de birrento, ameaçá-lo com castigos ou punições físicas, exponha o que você está observando, não se intimide ao relatar seus sentimentos e

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Infelizmente vivemos numa cultura na qual falar sobre sentimentos parece desperdício de

tempo e confessar que possui alguma necessidade é afirmar que somos frágeis

necessidades e não economize sinceridade em seu pedido. Ficaria mais ou menos assim:

“Filho, me parece que você está entediado ou frustrado, mas fazer bagunça no supermercado me deixa impaciente porque preciso de calma para fazer nossas compras, você poderia contribuir para que terminássemos o que viemos fazer e voltemos logo para casa?”. Um tom de voz firme, sem imposição, e uma troca de olhar gentil, sem intimidação, colaboram para que essas palavras amenizem o que está acontecendo.

Pense ainda no seu filho adolescente, que você enfrenta tanta dificuldade para conseguir entender ou dialogar, sabendo se comunicar a vida flui de forma melhor.

Imagine que você entra no seu quarto e se depara com uma bagunça descomunal mesmo tendo pedido diversas vezes para que fosse arrumado. Talvez você tenha pedido da maneira errada. Observe o fenômeno (quarto bagunçado com livros espalhados no chão, meias penduradas no ventilador, a cama amarrotada, enfim, o cenário de uma guerra), ao invés de já chamar o seu filho de irresponsável, bagunceiro ou porcalhão, atente-se aos seus sentimentos (irritação, frustração, decepção, desapontamento por ter seus pedidos ignorados tantas vezes), identificado os sentimentos pense agora nas necessidades, você pode ter se sentido assim porque parece que as pessoas não escutam suas palavras ou não dão importância a elas, ou então parece que são mesmo todos uns folgados e te consideram como o empregado da família, mas não fale essas coisas com violência (a real necessidade é que você gostaria de receber maior consideração ou então de receber a colaboração de todos que dividem o mesmo teto que você e não há o menor problema em verbalizar tais fatos). Finalmente você fará o pedido, mas lembre-se de que sua conversa é com um adolescente, eles têm certa resistência ao acatar recomendações, aliás, aqui vai mais uma informação extremamente importante. Nós, seres humanos, temos uma necessidade inata de sermos autônomos, aí se dá a explicação por sermos tão resistentes às exigências, por não gostarmos de sermos ordenados a determinadas atividades, sabendo isso podemos ter um pouco mais de sensibilidade e tato na hora de fazer solicitações aos nossos filhos ou empregados, por exemplo, sempre com o foco de evitar conflitos e desconfortos. Retornando à ilustração que estamos utilizando, você quer o quarto arrumado, certo? Tente formular na sua cabeça como ficaria a estrutura da sua fala expondo sua observação, seus sentimentos, suas necessidades e solicitando seu pedido. Vamos ver se ficou parecido com a colocação que eu faria tento em vista que

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Precisamos aprender a dizer com clareza o que queremos das

pessoas

quero aplicar os conceitos da CNV? “Filho, estou percebendo que você não entendeu o que pedi, olhe só o seu quarto como está desarrumado, vê-lo assim me deixa irritado, porque eu gostaria de receber sua colaboração para manter a casa limpa, caso contrário fico sobrecarregado, você poderia me ajudar organizando suas coisas?”. Não seria mais fácil convencer o seu filho dessa maneira? Expondo seus sentimentos, explicitando aquilo que você precisa para, como diz Rosenberg, enriquecer a sua vida?

Temos ainda a dificuldade de falar com clareza o que queremos. Como uma esposa que reclama ao marido que ele passa tempo demais trabalhando enquanto que na verdade gostaria de dizer que sente a sua falta para jantar, por exemplo. Ele, então, entende a preocupação da mulher, concorda que tem passado tempo demais em suas obrigações e decide praticar golfe sempre que sai do trabalho. A necessidade da esposa foi atendida? Não, ela continuará sem a companhia do marido, e depois o chamará de insensível ou distante sem antes dizer, verdadeiramente, como desejava que as coisas funcionassem. Ela poderia dizer que tem observado o quanto ele tem se dedicado ao trabalho, mas que gostaria que ele também se dedicasse ao casamento, pois ela tem sentido muita falta de sua companhia para jantar, por exemplo. Precisamos aprender a dizer com clareza o que queremos das pessoas, não adianta fazer joguinhos achando que adivinharão o que queremos, precisamos ser honestos conosco e com elas também. Acredito que teríamos relacionamentos mais duradouros e solidificados se conseguíssemos nos comunicar com tranquilidade, sinceridade e empatia com a mesma facilidade que temos para julgar o comportamento do outro e nos acharmos no direito de descrever os sentimentos deles.

A comunicação não é feita apenas de um lado, mas de pelo menos dois. Assim sendo, além de eu precisar mergulhar dentro dos meus próprios interesses, compreender meus sentimentos, as necessidades por trás deles e quais solicitações tenho a fazer para tornar minha vida melhor, preciso entender que por trás da fala de alguém há sentimentos e necessidades ocultas que também tornariam a vida dele melhor, por isso é tão importante termos empatia para esvaziar nossa mente, como descreve Marshall Rosenberg, e nos conectarmos com as palavras do outro. Voltando ao exemplo do casal acima, quando a esposa disser ao marido que ele é um insensível ou que não a ama mais, ao invés de rebater com novas críticas e dizer que está sendo injustiçado, ele poderia

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Devemos nos lembrar de que somos seres racionais, de que estamos nesse mundo para evoluirmos, alcançarmos o melhor de nós mesmos, e eu não

acho que conseguiremos deixar boas marcas por onde passarmos

se usando de violência ou grosserias

tentar encontrar os sentimentos por trás dessa reclamação. “Você está me dizendo que não a amo mais, mas qual atitude minha causou esse pensamento em você?”. Ela entregaria o jogo mencionando o trabalho, ao invés de rebater duramente, “mas o que você quer que eu faça, abandone o emprego?”, o marido tentaria compreender as necessidades da mulher: “O fato de eu ter passado muito tempo no trabalho tem feito com que você se sentisse sozinha, estou certo? E então achou que não a amo mais. O que eu poderia fazer para mostrar o contrário?”. É necessário humildade e paciência para que a outra pessoa se sinta compreendida e segura para seu desabafo.

Consegue perceber a importância de termos de fato uma comunicação com as pessoas? A maioria apenas discute, ou cria enigmas na esperança de que sejam desvendadas, mas, como dito anteriormente, as pessoas não adivinham simplesmente, às vezes acontecesse, mas podemos evitar tanta coisa sendo claros e objetivos no que estamos sentindo e precisando.

Lendo assim parece simples, você pode me dizer, mas o complicado é a aplicação. E eu concordo com quem fizer tal colocação, conviver não é uma tarefa tão fácil, conquistar as coisas através da paz e do consenso pode ser mais trabalhoso do que simplesmente fazer exigências e se usar da força violenta para fazer valer suas palavras, mas devemos nos lembrar de que somos seres racionais, de que estamos nesse mundo para evoluirmos, alcançarmos o melhor de nós mesmos, e eu não acho que conseguiremos deixar boas marcas por onde

passarmos se usando de violência ou grosserias. Por isso sugiro que você tente modificar sua forma de se comunicar, sua maneira de se expressar, a forma como se coloca diante das pessoas. Escute as palavras, vá além, ouça os sentimentos por trás delas, por mais doloroso que seja ouvi-las, por mais que você precise respirar fundo três vezes para não

fechar os punhos, sempre valerá a pena oferecer ao outro um pouco de empatia, de compreensão. Carl Rogers, citado por Marshall em seu brilhante livro sobre a CNV, diz o seguinte: “Quando alguém realmente o escuta sem julgá-lo, sem tentar assumir a responsabilidade por você, sem tentar moldá-lo, é muito bom. Quando sinto que fui ouvido e escutado, consigo perceber meu mundo de uma maneira nova e ir em frente. É

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espantoso como problemas que parecem insolúveis se tornam solúveis quando alguém escuta. Como confusões que parecem irremediáveis viram riachos relativamente claros correndo, quando se é escutado”.

Os conceitos da CNV podem ser aplicados em diferentes contextos, na sua família, no seu local de trabalho, em uma escola, até mesmo no meio político! A única exigência, ao meu ver, é que todos tenham disposição para ouvirem a si mesmos e ouvirem os outros, mas ouvirem de verdade, reconhecendo que temos uma grande responsabilidade tanto no fracasso quanto no sucesso de nossos relacionamentos. Boa vontade é a palavra. Portanto, sugiro fortemente que você leia o livro que serviu de base e inspirou todo esse texto: “Comunicação Não-Violenta: Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais” escrito por Marshall B. Rosenberg. Nele há exemplos bastante claros de diversas situações do cotidiano nos quais poderíamos evitar desavenças se utilizássemos a CNV, além disso, o autor explica sobre tantos conceitos como empatia de uma maneira clara, tocante e motivadora! Vale a pena folhear com atenção cada página, o mundo que queremos melhorar não depende apenas do desejo, da esperança, dos sonhos, precisamos nos mexer, precisamos construir esse mundo de mais solidariedade, compreensão e paz! Fica o irrecusável convite, vamos juntos melhorar nossas relações!

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O amor está extinção

Poderíamos sobreviver sem o maior dos valores humanos?

Falar sobre amor implica fazer um mergulho dentro de nós mesmos, identificar nossas experiências com tão grandioso sentimento que inspirou maravilhosos poetas a versejarem artisticamente. Todos sabem o que é o amor, ou então imaginam o que significa esse sentimento denominado por uma palavrinha tão pequena, mas de significado e essência imensas. Como disse Platão, “ao toque do amor, todas as pessoas se tornam poetas”.

Mas não me refiro apenas ao amor romântico, aquele que embriaga os apaixonados, que arranca suspiros, que causa formigamentos no estômago e que arrasta multidões às livrarias ou aos melhores cinemas. Esse é apenas um tipo de amor. Há muitos outros sobre os quais precisamos refletir, precisamos pensar e reconsiderar a forma como os interpretamos ou vivemos. É o amor de amigos, o amor de pai para filho, o amor de irmãos e até o amor fraterno, aquele que temos pelos nossos semelhantes sem nem ao menos tê-los vistos em alguma época de nossas vidas, o amor que nos motiva e estender a mão a um desconhecido, o amor que nos causa dor quando vemos injustiças.

Ou deveria causar dor.

Talvez você concorde comigo, talvez não, não tem problema, o importante é que nas páginas a seguir você possa ter um momento de reflexão, de entendimento, que você pare para analisar a forma como temos vivido nossos amores nesses últimos tempos, tempos nos quais parece que o ódio irracional (não que algum tenha razão para existir) tem se proliferado como uma epidemia, tempos nos quais a soberba humana tem se sobreposto às atitudes como compaixão, empatia e compreensão. Vivemos tempos nos quais as pessoas parecem ter se perdido na filosofia do amor, esqueceram como se ama ou nunca aprenderam o que é amar. Tempos nos quais a dor do outro já não incomoda tanto, a dificuldade do outro não é vista como nosso problema, tempos em que apenas o texto de Amilton Júnior

Refletindo

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Cada um tem o seu caminho, tem a sua missão, acredito muito na

máxima de que cada um tem a sua própria história e se tentamos impor o nosso enredo

sobre os outros tudo o que causamos é dor e sofrimento

nosso “Eu” quer ser notado e acariciado. Nosso comportamento nesses últimos tempos tem sido de um egoísmo intenso e profundo. Parece não existir mais espaço para a paz dos afetos humanos. Aos meus olhos o amor está em extinção, tem dado lugar a contendas e segregações, já não somos um só, somos vários uns, como se estivéssemos todos em nossas próprias ilhas ignorando o fato de compartilharmos o mesmo mundo.

Amor incondicional

Incondicional quer dizer sem condições, sem “mas”, sem “poréns”. Incondicional vai além de qualquer razão, vai além de qualquer motivo, o que é incondicional apenas existe e persiste. Sim, persiste. Muito se fala sobre o amor incondicional de uma mãe pelos seus filhos, são capazes de tudo por amá-los, são até mesmo capazes de castigá-los mesmo que doa em suas almas, tudo por amá-los e por a eles quererem o melhor que a vida pode oferecer. Para o que é incondicional não há limites, ao menos não deveria haver.

Mas o que temos visto no seio de nossas famílias? Elas têm resistido a esses tempos de puro egoísmo e mesquinharia? Ou será que um projeta no outro a sua verdade sobre a vida e exige que tal verdade seja vivida de maneira inquestionável? As pessoas dentro de uma mesma casa se respeitam e se compreendem a partir da forma como cada um pensa e vive? Eu acho que não.

Em muitas famílias há a ideia de orgulho, um pensamento que, na minha concepção, apenas traz prejuízos à estrutura familiar. Muitos pais, na ânsia de verem seus filhos felizes, projetam a própria felicidade nesses seres que são independentes, que são autônomos, que possuem o direito de decidirem sobre as próprias escolhas. Idealizam uma vida, num primeiro momento os convencem de que é o melhor, de que devem viver uma realidade que nem ao menos foram questionados se aceitariam ou não. Mas os anos passam. Os filhos crescem e, então, surgem as decepções e o amor incondicional, lindo de se falar, de se imaginar, não passa de uma ideia longínqua e abstrata da realidade de muitos.

Decepção a quem é contrariado, revolução para quem se liberta.

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Ao crescerem, descobrirem o que é o mundo e as infinitas possibilidades do existir, esses jovens descobrem, também, quem de fato são, com quais pessoas realmente querem se envolver, qual profissão querem seguir, quais escolhas querem fazer e quais experiências precisam viver. Precisam porque cada um tem o seu caminho, tem a sua missão, acredito muito na máxima de que cada um tem a sua própria história e se tentamos impor o nosso enredo sobre os outros tudo o que causamos é dor e sofrimento, o outro não se enquadra, sente-se culpado e fazemos questão de exibir um desapontamento por uma expectativa que não é do outro, mas nossa.

Esses jovens, então, optam por um dentre os dois caminhos que são impostos como possíveis: viver uma vida infeliz ou, numa concepção injusta e infundável, magoar aqueles que dizem “eu sempre fiz tudo por você”. O amor incondicional deveria se sobrepor a tal questão, deveria impedir que um pensamento tão doloroso se manifestasse, mas o amor está em extinção, inclusive o que existe entre as famílias.

Se escolhem uma vida infeliz desenvolvem outros problemas, sentem-se sempre insuficientes, cansados, exaustos por concretizarem um projeto que não foi de sua autoria, para o qual nem mesmo palpitaram. Lá na frente, exauridos por viverem alheios a si mesmos, culpam os pais. Ou então, se insistem em viver a própria história, em se moldar à própria versão, ainda que estejam felizes, ainda que se sintam em sintonia com o mundo e com quem são, precisam também conviver com os julgamentos, com a culpa silenciosa de ter desapontado, de ter aborrecido quem, equivocadamente, “deixou tudo pronto”.

O amor incondicional que precisa existir dentro das famílias deve ser o gatilho para que a liberdade permita que cada um viva em seu melhor caminho, que cada um assuma a sua melhor e mais preciosa versão, que cada um transmita ao mundo a sua essência. Somos diferentes, não é porque compartilhamos do mesmo sangue que teremos os mesmos gostos, os mesmos trejeitos, a mesma maneira de pensar. E conviver em família implica exatamente nisso, que todos possam se aceitar acima de qualquer diferença, de qualquer desavença, que a diversidade do ser possa ser respeitada e consiga fortalecer um elo tão sagrado quanto o elo familiar.

As melhores famílias não são aquelas que nunca enfrentaram conflitos, que nunca experimentaram discordâncias, são aquelas que resolveram seus problemas permitindo que o outro subisse em seu próprio palco e explicasse o porquê de sua apresentação.

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Não estamos neste mundo para agradar aos outros, nem mesmo para que sejamos agradados a

todo instante, mas para que agrademos a nós mesmos, que

vivamos a nossa própria verdade, que sejamos realmente

felizes nessa efêmera passagem pela frágil e instável vida

Uma realidade que muito me incomoda é ver o quanto questões tão pequenas e simplórias são capazes de destruírem famílias inteiras. Falta diálogo, falta compreensão,

falta a consciência de que não estamos neste

mundo para agradar aos outros, nem mesmo para

que sejamos agradados a todo instante, mas para

que agrademos a nós mesmos, que vivamos a

nossa própria verdade, que sejamos realmente

felizes nessa efêmera passagem pela frágil e

instável vida. Frágil porque qualquer coisa

pode tirá-la de nós, instável porque a

qualquer momento pode mudar. Vamos

desperdiçar essa oportunidade que temos de viver e fazer nascer o amor nos corações impondo o nosso jeito de pensar?

Para encerrar sobre o amor familiar, há uma verdade que percebo e que talvez você já tenha notado também. Em quantas famílias os pais não conhecem seus próprios filhos e o contrário também ocorre? Apenas sabem o nome, apenas chamam de pais ou filhos porque aprenderam a assim chamar, mas o sentimento de ser filho e de ser pai parece inexistente. Ou porque não se entendem, não se respeitam, ou porque não convivem, não experimentam a vida juntos. É muito fácil querer encontrar os errados da história, é muito fácil tentar responsabilizar apenas um por uma culpa que também é nossa. Ao invés de repetirmos aos quatro ventos que o outro não nos entende, talvez nós também não entendamos o outro. Olhe para dentro de você. Como tem experienciado o amor incondicional com seus familiares? Para o amor incondicional não é necessário que nos desvistamos de quem somos para nos moldarmos ao outro, basta que tenhamos a compreensão de que o outro é livre para escrever o próprio livro e que seremos gratos se pudermos ajudar a escrever capítulos agradavelmente inesquecíveis.

Unidos pelo Amor

Há quem considera os amigos uma extensão da família, alguns só conseguem fazer belos desabafos com seus melhores amigos, pessoas nas quais confiam segredos que jamais contariam nem para um familiar de sangue. E eu concordo com essa concepção.

Já ouvi falar tantas vezes e repito que nossos amigos são a família do coração, uma família

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que não é unida por sangue, por DNA ou por documentos que oficializam as coisas, uma família que não depende de biologia ou de justiça para existir, é a família que nós escolhemos para que nos acompanhe em nossa jornada. O combustível para essa família, o que a mantém em pé, é o amor. Um amor que não é romântico, não faz cobranças, um amor que simplesmente surge com o tempo, vai se solidificando, ficando consistente e, quando nos damos conta, já não enxergamos nossas vidas sem aquelas pessoas que tão repente surgiram para que estejam ao nosso lado até o dia do nosso último suspiro.

No entanto, como o amor está em extinção, nos dias hodiernos o que tenho percebido ou até vivido é a falta de amor na amizade, é a falta de lealdade, de cumplicidade, de sinceridade e honestidade. É a falta de humildade, é o excesso de egoísmo e egocentrismo. Egoísmo porque queremos tudo para nós. Egocentrismo porque nos achamos o centro do mundo, os únicos merecedores de afeto e atenção. As pessoas querem amigos verdadeiros, mas não são verdadeiras, querem amigos eternos, mas não se fazem eternos, querem atenção e cuidado, mas não se atentam àqueles que estão ao seu redor nem cuidam das feridas daqueles que choram ao seu lado. Nessa cultura egoísta e mesquinha que temos cultivado, a amizade, esse sentimento que sobretudo depende de reciprocidade, simplesmente tem sido banalizada, descuidada, negligenciada, feita de pouca coisa já que há bilhões de pessoas no mundo e qualquer uma delas pode se tornar minha amiga.

Percebe a banalidade? Amizade é algo puro e intenso demais para que qualquer um se coloque na posição de nossos amigos. Somos simplórios demais ao não valorizarmos as pessoas que se dispõem a nos ouvir, a nos emprestar o ombro e a estenderem a mão quando muito precisamos. Acreditar que há uma infinidade de pessoas com as quais possamos nos envolver, leva-nos ao erro de depositar confiança em quem não é digno, em quem não tem nada de bom a oferecer. Confundimos amizade com coleguismo, mas, diferente do amigo, o colega estará ao seu lado apenas enquanto lhe convier, enquanto ele tirar algum proveito, mas no primeiro momento partirá e nos trará triste constatação. Amizade envolve confiança e confiança é um tesouro valioso demais para que o deixemos em qualquer lugar.

Ser amigo não é apenas ser, mas estar. Estar amigo é oferecer conforto, é conceder atenção, é permitir que o outro exponha seus anseios, seus receios, é oferecer os ouvidos para ouvir, ouvir de verdade, pronto para falar quando possível ou silenciar

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As pessoas querem amigos verdadeiros, mas não são verdadeiras, querem amigos

eternos, mas não se fazem eternos, querem atenção e cuidado, mas não se atentam àqueles que estão ao seu redor nem cuidam das feridas daqueles

que choram ao seu lado.

quando necessário, mas sempre oferecendo companhia e zelo. As pessoas não querem ser amigas, não querem estar amigas, querem apenas ter. Ter é bom demais, o ser humano possui a tendência de quanto mais tem mais querer ter, e não há problema em desejar, a infelicidade está no gesto individualista daqueles que querem estar rodeados por bajuladores, que querem ter infinitas amizades, mas que em seus comportamentos deixam claro: “não conte comigo quando precisar”.

Querem amigos, exigem isso, mas não passam de colegas.

Outro ponto. Um bajulador não é seu amigo.

Desconfie daqueles que só te elogiam, que tudo o que você faz está bom, que sua existência é mais do que primorosa, que você é um exemplo que a humanidade precisa seguir. Quem age assim tem

interesses por trás, insignificantes talvez, perigosos quem sabe, mas não estão sendo sinceros. Somos humanos. E parte do ser humano é ser imperfeito. Não tenha por inimigas as pessoas que te criticam quando precisam criticar, mas que sempre oferecem um conselho para sua melhora, que sempre o elogiam no momento oportuno, quando te mostram quando você estiver errado, mas que estarão lá para te aplaudir quando você acertar. Isso é amizade. Essa é a família do coração. Quando um zela pelo outro, cuida do outro, e cuidar não quer dizer passar a mão na cabeça, é servir de apoio em todos os momentos.

As pessoas estão se dirigindo a uma vida solitária, não no bom sentido, no de aproveitar alguns minutos para se conectar consigo mesmo, mas por exigirem tanto e doarem tão pouco estão se afastando umas das outras, estão se isolando umas das outras, acreditando que não vale a pena viver uma história com alguém, que não faz sentido dar importância às relações. Aqueles que exigem muito nunca se dão por satisfeitos. Aqueles que em muito são exigidos uma hora se cansam de serem insuficientes. Lembra-se do amor incondicional que deve imperar em nossos relacionamentos familiares? Não estamos falando nesse momento da família do coração? Esse amor tão nobre entra aqui também, mas, cuidado, incondicional não quer dizer banal, ninguém o amará seja da forma que for se você retribui esse amor com desdém ou descuido, para funcionar a incondicionalidade deve existir dos dois lados. Ela quer dizer que eu te aceito como você

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é e sou aceito por você como sou e, assim, nessa aceitação mútua, vamos fortalecendo, construindo e vivendo nossas muitas relações.

Simplesmente Amor

Essa forma de amor da qual agora falaremos me chama muito a atenção e me emociona quando vejo gestos dele serem exibidos ao redor do mundo. É um amor profundamente incondicional, que não depende de absolutamente nada a não ser do sentimento de humanidade que deve haver em nossas almas. É um amor puro em essência, talvez seja o amor apregoado por tantas religiões sem que ninguém o compreendesse de fato, sem que ninguém o entendesse em seu imenso significado. É um amor que é simplesmente isso, amor.

O amor fraterno. O amor da caridade. O amor da solidariedade. Aquele amor que dá sem receber, que dá sem esperar receber. Um amor que também está em extinção.

Aquela força que nos motiva a fazer doações, a sair pelas avenidas oferecendo comida para nossos semelhantes que se encontram em situação de rua, a juntar o maior número possível de pessoas para levantar fundos para uma instituição ou construir a casa de alguém que tanto precisa, essa força que brota dentro de nós quando vemos a necessidade de alguém e nos dispomos a ajudar de alguma forma é o amor fraterno, esse amor que simplesmente existe, nasce, sem que nada o force a nascer, sem que nenhum interesse se sobreponha a ele a não ser o de ajudar, de ver o sorriso no rosto do outro e se sentir bem por estar ofertando o bem. É o amor que mais se aproxima do significado de altruísmo, é um amor que concedemos a quem não tem nada a nos dar, a quem também nem ao menos conhecemos e que possivelmente depois do nosso gesto desaparecerá de nossos caminhos, é o amor que nos faz nos sentir humanos, é o amor que reúne a humanidade em uma só corrente: gentileza, solidariedade, fraternidade.

É bonito falar sobre ele, é bonito escrever sobre ele, é bonito imaginá-lo permeando nossos dias, mas seria ainda mais bonito se ele fosse posto em prática, saísse do campo das palavras, dos discursos bem preparados e se manifestasse em gestos concretos e humanos. Algumas pessoas possuem esse amor dentro de si e sentem o peito arder quando não tem nada que possam fazer para ajudar, mas muitas pessoas pouco se

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A ausência desse amor tem motivado a guerra,

no passado matou milhões de judeus, e no

presente continua matando milhões de

pessoas

importam com esse tipo de amor, aliás, se não receberão nada em troca, para quê ofertá- lo? É o que pensam. E nos últimos dias temos visto o quanto esse amor tem se tornado inexistente. Legitimam a maldade em seus discursos, são frios e desprezíveis ao desejarem a morte daqueles que pensam de forma diferente, são igualmente calculistas e cruéis quando culpam os outros por seus aparentes fracassos sem nem ao menos procurarem conhecer a história daqueles que julgam.

A ausência desse amor tem motivado a guerra, no passado matou milhões de judeus, e no presente continua matando milhões de pessoas. A ausência desse amor colocou a economia sobre qualquer aspecto humano, faz as pessoas brigarem por dinheiro como os animais que, em seu instinto selvagem, brigam por um pedaço de carne. Não éramos nós a espécie racional? A deficiência desse amor deu força aos preconceitos, as pessoas são feridas ou mortas sem nem abrirem a boca, apenas são julgadas e condenadas sem o direito de se defenderem. Morrem por serem quem são.

Sofrem a dor de estarem no corpo que possuem. A inexistência do amor humano tem causado polarizações numa sociedade que se divide entre os bons e os maus, uma sociedade que não percebe que estamos todos no mesmo barco e que é mais do que urgente que aprendamos a conviver em harmonia, respeito e consideração para que o sistema opressor não continue disseminando sua violência estrutural, aquela incentivada por quem deveria promover a paz, fazendo vítimas e legitimando o exercício do mal. Ou será que ninguém percebe que para alguns poucos que detém o poder nas mãos não é mais do que oportuno manter a sociedade nessa guerra que não levará ninguém a lugar algum a não ser quem já tem bastante?

Mais do que sonhar com um mundo no qual “sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”, como pontuou Rosa Luxemburgo, ou um mundo no qual todas as pessoas viveriam em paz compartilhando o mundo, como cantou John Lennon, precisamos construir esse mundo. Precisamos alimentar o amor fraterno que, mais do que os outros, está em um processo de extinção massivo. As pessoas não se entendem, não se compreendem, sendo fracas brigam pelos fortes, nada tendo brigam por aqueles que querem ter cada vez mais. A mão estendida se encolheu, o ombro amigo se retraiu e as palavras de consolo deram lugar ao ódio que já não escondem mais.

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Além disso, desse cenário de guerra que assistimos assustados o desastre que tem causado, há aqueles que forçam uma caridade inexistente apenas para acariciar suas vaidades quando, montados em seu prepotente ego, fazem uma boa ação para que as câmeras registrem. São pobres de espírito. Talvez tenham muito na dimensão material, mas espiritualmente estão tão vazias que já não veem sentido na vida a não ser o de se exibirem, de se promoverem, de serem tidos como benfeitores enquanto não passam de oportunistas. Escondam as câmeras! Proíbam as plateias! Não pasmem se as boas ações desaparecerem.

O Sonho de Todo Humano

Por fim, depois de muito falarmos sobre o amor, ou dos amores, vamos encerrar nossa reflexão pensando nele que é o mais conhecido e trabalhado dos outros, o que inspirou poemas tocantes, músicas envolventes, danças intensas, histórias incansavelmente repetidas e recontadas. Aquele que enfeita álbuns de casamentos, que faz as pessoas terem uma caixinha de cartas, ou de papéis de balas. Aquele que arranca suspiros, lágrimas, sorrisos e ardências. Aquele com o qual muitos de nós, para não falar todos, sonham em viver.

É o amor romântico. Aquele que une romântica, sentimental e intensamente pessoas que, em um momento qualquer, se descobrem apaixonadas e envoltas num relacionamento que parece eterno. Tanto parece eterno que as juras de amor não focam nos dez anos seguintes, são feitos com a expressão “para sempre” encerrando cada diálogo. Tudo bem que o para sempre não existe, não estaremos nesse mundo pela eternidade para amar a quem nos dispusemos a amar, porém o para sempre traz consigo a ideia do ponto final da existência humana, inconscientes ou conscientes sobre o que dizem, as pessoas prometem se amar até essa linha de chegada, esse é o nosso para sempre, é o maior tempo possível que as coisas aguentam suportar. No entanto, os anos passam, e o que era para sempre não resiste mais a cinco anos, não resiste mais as dificuldades, o que antes fortalecia agora mina as forças, o que antes era o combustível da vida agora se torna motivo para tristezas amargas e sofredoras. O que estamos fazendo com esse amor? Seria ele apenas dramatúrgico? Estaria presente apenas nas páginas de um livro que nos leva a sonhos agradáveis? Ele existe, sim, ele está aí para quem quiser

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Quem ama se adapta no sentido de saber que seu próprio “Eu” precisará ser diminuído para que os dois “Eus” coexistam

e se fundam num só.

vivê-lo, mas também se encontra em extinção, tem sido mais uma vítima do egoísmo e do desinteresse humanos.

As pessoas acham que amar alguém é como nos filmes que, durante todo o enredo, o casal protagonista sofre com as investidas da vida, mas no final se beijam e são envoltos pela luz cinematográfica que remete à ideia do para sempre. Na vida real as dificuldades existirão até o nosso último momento, e só o amor verdadeiro consegue rompê-las para sobreviver. Na vida real amar envolve tantas outras ações, ações para as quais as pessoas se sentem cansadas, exauridas, desinteressadas, desmotivadas, querem o final feliz, mas não se ocupam em escrevê-lo.

Amar não é dizer eu te amo, embora para algumas pessoas seja difícil, isso é relativamente fácil de falar, são apenas três minúsculas palavras, mas o eu te amo verdadeiro se manifesta nas ações que objetivam manter esse amor vivo, aceso, mais forte e poderoso que qualquer obstáculo. Amar envolve compreender, aceitar, adaptar-se, compreender que além do nosso há o mundo do outro.

Quem ama compreende. Quem ama compreende as palavras do outro, as vontades do outro, os sonhos do outro e nunca minimiza a existência do outro. Se precisar enxugar lágrimas, lá estará. Se precisar promover gargalhadas, também lá estará.

Quem compreende nunca diminui a dor do outro, não a tem por drama, mesmo que seja uma dorzinha na ponta do dedo, quem ama se dispõe a cuidar dela.

Quem ama aceita que o outro tenha seu próprio molde, sua própria forma, seu próprio jeito de funcionar e não tenta enquadrar o amado em sua caixinha tão limitada e simplista para o formato extraordinário que o outro possui. Isso porque cada um de nós detém uma essência fantástica, mas ela é única, ímpar, cada um tem a sua, todas são grandiosas ao ponto de não caberem em frascos que não os seus. Quem ama aceita o outro como ele é, com suas qualidades e defeitos, com cada uma de suas pequenas características, quem ama aprende a reconhecer o outro até mesmo no escuro.

Quem ama se adapta. Isso mesmo. Quem ama não se molda ao outro, não se transforma para ser suficiente para o outro, não deixa a própria essência para agora exalar a essência do outro, isso é impossível. Mas aprende a se adaptar ao outro. Aprende os gostos do outro, aprende as

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preferências do outro, aprende que às vezes será necessário ceder a um passeio no parque com o outro, ou então que precisará aprender um jogo de videogame porque isso faz parte de quem o outro é e é importante para ele. Quem ama se adapta no sentido de saber que seu próprio “Eu” precisará ser diminuído para que os dois “Eus” coexistam e se fundam num só.

Tudo isso nos leva ao grande segredo do amor romântico: entender, literalmente, que além do nosso umbigo há o do outro. Sim, como nós possuímos o nosso universo o outro também possui o seu. Como nós temos os nossos objetivos o outro também possui os seus. Como nós temos os nossos interesses o outro também possui as coisas que o fazem feliz e a gente precisa entender isso, precisa entender que para um relacionamento persistir e vencer o tempo é necessário que sejamos todos respeitados em nossas particularidades, em nossas vontades, em nossas conquistas. Quem ama, por mais que considere pequena a conquista do outro, sabe que para ele ela é imensa e importante, e.

então, estará lá para aplaudi-la porque o amor não depende de coisas grandiosas para sobreviver, não depende de esforços extraordinários, ele se mostra e se comprova nos pequenos gestos, nas sutis demonstrações, nas mais delicadas maneiras de anunciá-lo.

Esse amor tão inspirador tem se extinguido velozmente. Casais que antes pareciam inseparáveis passam a não se suportar, palavras que juravam um amor eterno e denunciavam a idealização de um futuro apaixonado são simplesmente jogadas no lixo como se tivessem sido ditas apenas em um momento de torpor. Isso porque, insisto, o egoísmo leva o ser humano a querer ser amado constantemente e a amar o menos possível. Mas não é assim que funciona. Precisa haver reciprocidade, mutualidade, precisa haver a consciência de que o amor é uma construção constante que necessita de manutenção enquanto estivermos dispostos por fazê-lo durar. O amor é fortalecido em conjunto, não pode depender de apenas um, precisa existir em todos os lados que se dispuseram à sua nobreza tão banalizada. A gente precisa reaprender a amar.

Como precisamos aprender a ser dignos de sermos amados.

Sim, precisamos alcançar a dignidade do amor, de qualquer amor. Em um dos meus escritos falei algo parecido, as pessoas que só querem para si o amor das outras não sabem o que é o amor, não sabem amar, consequentemente, por não entenderam nada sobre algo tão sublimemente humano, não são dignas de serem amadas. Não porque são pessoas monstruosas, horripilantes, mas se não entendem que assim como elas

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necessitam de amor todas as outras pessoas também necessitam, não podem se render a um sentimento tão poderoso, ficarão cheias enquanto deixarão alguém vazio, sugarão algo que mantém a vida em seu sentido. Então, que aprendamos a amar, que façamos o necessário para combatermos esse desejo de termos tudo sem dar nada, o amor está em extinção, tem se acabado nos diferentes contextos, precisamos evitar a tragédia porque quando o amor acabar, acabará também nosso senso de humanidade.

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Oração ao Tempo

Sabe quando uma música relaxa sua mente, acalma seu espírito, faz as coisas parecerem tão

mais fáceis e traz de volta a esperança? Pois é, tive essa experiência ouvindo uma canção que, não sei como fui capaz disso nesses vinte anos de existência, nunca valorizei como deveria. Já havia ouvido em outros momentos, mas recentemente, prestando uma atenção especial aos seus versejares, ao que o compositor queria passar com palavras tão singelas cercadas por uma melodia tão sutil, percebi um tesouro até então escondido. Estou falando da música Oração ao Tempo, cantada originalmente pelo incrível Caetano Veloso, mas que também tem seus encantos na voz de Maria Gadú. Não importa o cantor que você escolha, apenas ouça a recomendação dessa edição da Revista Coisas da Vida e, então, adoraria saber quais foram suas impressões. Seriam as mesmas que as minhas?

Eu poderia ficar horas escrevendo sobre os sentimentos que a música incitou em mim, sobre as reflexões que fui levado a fazer, ou, ainda, sobre as recordações que me voltaram com toda sua força nostálgica. Mas quero me atentar à penúltima estrofe, nela tive uma grande constatação, talvez pelo momento que estamos vivendo enquanto escrevo esse texto, ou por outras experiências que passei nesses últimos meses, fato é que, para mim, tais palavras transmitem um forte pensamento, uma convicção que faz da continuidade da vida uma grande e consoladora verdade.

“Ainda assim acredito Ser possível reunirmo-nos Tempo, tempo, tempo, tempo

Num outro nível de vínculo Tempo, tempo, tempo, tempo”

Por tantas razões precisamos nos distanciar das pessoas que amamos, não é verdade? Uma hora por desentendimentos, em outro momento porque precisamos

texto de Amilton Júnior Sugestão de Música

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mudar de cidade ou país, talvez por questões de força maior que impõem um isolamento social como o que temos vivido, ou ainda porque o inevitável fim da existência humana se apresentou no nosso caminho. Estamos sujeitos a diferentes formas de distanciamento, de separação, o comum a todas elas é que doem, machucam, incomodam e são indesejáveis. Queremos que para sempre estejam ao nosso lado as pessoas que amamos.

O problema é que o para sempre é apenas um modo de falar, bem sabemos disso apesar de tentarmos ignorar tal verdade, mas ainda assim acredito que num outro nível de vínculo, numa outra forma de encontro, poderemos estar com as pessoas com amamos, com as pessoas que nos cercam, com as pessoas que construíram uma história conosco, que nos fizeram felizes de alguma maneira em algum momento da nossa existência.

Vimos nos últimos dias, por exemplo, que o distanciamento social foi encurtado através das ligações de vídeo que podemos fazer a pessoas que moram do outro lado do planeta, essa é a apenas uma forma de reencontro, possível entre nós, que estamos vivos.

Mas e quanto àqueles que se foram? Que não estão mais entre nós? Que fazem morada somente em nossos corações? Também acredito, mesmo que às vezes pareça impossível por conta da saudade que nos oprime e faz as dúvidas surgirem, acredito que de um jeito novo, nunca antes por nós experimentado, poderemos rever nossos entes queridos, as pessoas que daríamos tudo para sentirmos em nossos braços. Nada é tão perdido. Essa música, nesse ponto específico, me fez pensar sobre isso, sobre os reencontros que gostaríamos ardentemente por viver, e que, sim, num outro nível de vínculo, numa outra forma de vida, numa dimensão diferente da que vivemos, acontecerão e nos aliviarão da dor da separação.

E quanto aos que ainda vivem, mas que se afastaram, dos quais nós também nos afastamos por razões, às vezes, insignificantes, por orgulhos que poderiam ser vencidos.

Seria possível nos reunirmos? É claro que sim. Para tanto, necessitaríamos de forças para romper as barreiras e humildade para reconhecer que também tivemos responsabilidade no abismo que se formou entre nós. Talvez a intensidade dos sentimentos não seja como antes, ao menos estaremos de bem com o nosso passado, e se sentimos falta de quem ficou para trás é porque nos importamos. Um novo vínculo pode se formar entre nós, menos ou mais profundo que antes, ainda assim valioso!

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E você? Quais reflexões conseguiu fazer com tão belos versejares?

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