Defini¸c˜ao 0.207. Seja V um espa¸co vetorial com produto interno h, i. Para cadav ∈V, chamamos o n´umerop
hv, vi ∈Rdenorma dev e o denotamos por ||v||.
Exemplo 0.208. Consideremos Rn com o produto interno (canˆonico) h(x1, x2, . . . , xn),(y1, y2, . . . , yn)i=x1.y1+x2.y2+· · ·+xn.yn. Ent˜ao
||(x1, x2, . . . , xn)||=p
x21+x22+· · ·+x2n. Com efeito, ||(x1, x2, . . . , xn)|| = p
h(x1, x2, . . . , xn),(x1, x2, . . . , xn)i = px21+x22+· · ·+x2n.
Exemplo 0.209. Consideremos C([a, b],R) com o produto interno hf, gi=Rb
a f(x).g(x)dx∈R. Ent˜ao
||f||=qRb
af(x)2dx.
De fato, ||f||=p
hf, fi=qRb
af(x)2dx.
Proposi¸c˜ao 0.210. Seja V um espa¸co vetorial com produto interno h,i. Ent˜ao:
1. ||v||>0, para todo v ∈V
2. ||v||= 0 se, e somente se, v =→0
3. ||α.v||=|α|.||v||, para todo α∈R, v ∈V
Com efeito, por um lado, se v =→0 , ent˜ao hv, vi =h→0,→0i = 0, donde ||v|| = phv, vi = √
0 = 0. Por outro lado, se v 6=→0 , ent˜ao, por (P3), hv, vi > 0 e portanto ||v|| = p
hv, vi > 0. Logo, em qualquer caso, ||v|| > 0. Agora, notemos que, com esta argumenta¸c˜ao, tamb´em j´a mostramos que v =→0 se, e somente se, ||v|| = 0. Mostremos, finalmente, (3). De fato, ||α.v|| = phα.v, α.vi = p
α.α.hv, vi = √ α2.p
hv, vi = |α|.||v||, para todo α ∈ R, v ∈V.
Proposi¸c˜ao 0.211. Seja V um espa¸co vetorial com produto interno h,i. Sejam u, v ∈V. Ent˜ao:
1. hu, vi= 14||u+v||2− 14||u−v||2
2. |hu, vi|6||u||.||v||, e a igualdade vale se, e somente se, {u, v} ´e LD 3. ||u+v||6||u||+||v||
Com efeito, mostremos (1). Temos que
||u+v||2 =hu+v, u+vi (P=1) hu, u+vi+hv, u+vi
= hu, ui+hu, vi+hv, ui+hv, vi
(P2)
= hu, ui+hu, vi+hu, vi+hv, vi
= ||u||2+ 2hu, vi+||v||2,
||u−v||2 =hu−v, u−vi (P1)= hu, u−vi − hv, u−vi
= hu, ui − hu, vi − hv, ui+hv, vi
(P2)= ||u||2 −2hu, vi+||v||2. Logo, ||u+v||2− ||u−v||2 = 4hu, vi, donde o resultado segue.
Mostremos agora (2). Se α, β ∈R, ent˜ao
06hαu−βv, αu−βvi (P=1) αhu, αu−βvi −βhv, αu−βvi
= α2hu, ui −αβhu, vi −βαhv, ui+β2hv, vi
(P2)
= α2||u||2−2αβhu, vi+β2||v||2.
Tomando α:=||v||2 e β :=hu, vi, obtemos que
06(||v||2)2.||u||2−2||v||2.hu, vi.hu, vi+hu, vi2.||v||2, isto ´e, 0 6 ||v||2. ||u||2.||v||2 − hu, vi2
, donde, como ||v|| > 0, segue que
||u||2.||v||2− hu, vi2 >0. Da´ı, |hu, vi|=p
hu, vi2 6p
||u||2.||v||2 =||u||.||v||. Agora, por um lado, se {u, v} ´e LD, ent˜ao v =λu, para algum λ ∈R. Da´ı,
|hu, vi|=|hu, λui|=|λhu, ui|=|λ|.hu, ui=|λ|.||u||2 =||u||.||v||, pois ||v||=
|λ|.||u||. Por outro lado, se|hu, vi|=||u||.||v||, ent˜ao 0 =hαu−βv, αu−βvi, onde α := ||v||2 e β := hu, vi. Logo, αu+βv =→0 . Se v =→0 , acabou, pois {u,→0}´e LD. Se v 6=→0 , ent˜ao α =||v||2 6= 0 e portanto u = βαv, ou seja, u´e um m´ultiplo de v e da´ı{u, v}´e LD.
Finalmente, mostremos (3). De fato, por (2), temos que ||u+v||2 =||u||2+ 2hu, vi +||v||2 6 ||u||2 + 2|hu, vi| + ||v||2 6 ||u||2 + 2||u||.||v|| +||v||2 =
||u||+||v||2
. Logo, ||u+v||6||u||+||v||.
Observa¸c˜ao 0.212. A igualdade do item (1) acima ´e a chamada de iden- tidade de polariza¸c˜ao (para R). A desigualdade do item(2) acima ´e cha- mada de desigualdade de Schwarz. E a desigualdade do item (3) acima
´e chamada de desigualdade triangular.
Observa¸c˜ao 0.213. Seja V um espa¸co vetorial com produto interno h,i. Definindo d :V ×V → R por d(u, v) = ||u−v||, para todo u, v ∈V, temos que d ´e uma m´etricaem V, pois:
1. d(u, v)>0, se u, v ∈V
2. d(u, v) = 0 se, e somente se, u=v 3. d(u, v) =d(v, u), se u, v ∈V
4. d(u, v)6d(u, w) +d(w, v), se u, v, w ∈V
Exemplo 0.214. Consideremos R3 com o produto interno
h(x1, x2, x3),(y1, y2, y3)i∗ = 17x1.y1+ 13x2.y2+ 11x3.y3
(verifique que de fato h, i∗ ´e um produto interno). Ent˜ao ||(x1, x2, x3)||∗ = p17x21+ 13x22+ 11x23 e portanto ||(1,0,0)||∗ = √
17, ||(0,1,0)||∗ = √ 13 e
||(0,0,1)||∗=√
11. Da´ı, ||(√117,0,0)||∗=1, ||(0,√1
13,0)||∗=1 e ||(0,0,√1
11)||∗=1.
Consideremos agora R3 com o produto interno canˆonico. Ent˜ao||(1,0,0)||= 1, ||(0,1,0)||= 1 e ||(0,0,1)||= 1.
Exemplo 0.215. SejaV um espa¸co vetorial com produto internoh, i. Sejam u, v ∈V tais que:
a) ||u|| = 3, ||v|| = 4 e ||u+v|| = 7. Calculemos hu, vi e ||u−v||. Como 72 =||u+v||2 =hu+v, u+vi=hu, ui+hu, vi+hv, ui+hv, vi= 32+2hu, vi+42, ent˜ao hu, vi= 12. Da´ı, como ||u−v||2 =hu−v, u−vi=hu, ui+hu,−vi+ h−v, ui+h−v,−vi= 32−2.12 + 42 = 1, ent˜ao ||u−v||= 1.
b) ||u||= 3, ||v||= 4 e ||u−v||= 5. Calculemos hu, vi e ||u+v||. Desde que 52 =||u−v||2 = 32−2hu, vi+ 42, ent˜ao hu, vi= 0. Da´ı, como ||u+v||2 = 32+ 2.0 + 42 = 25, ent˜ao ||u+v||= 5.
c)||u||= 0e||v||= 1. Calculemoshu, vie||u−v||e||u+v||. J´a que||u||= 0, ent˜ao u=→0, donde hu, vi=h→0, vi= 0, ||u−v||=|| −v||=| −1|||v||= 1 e
||u+v||=||v||= 1.
d) ||u −v|| = 2 e ||u+v|| = 4. Calculemos hu, vi. Temos que hu, vi =
1
4||u+v||2+14||u−v||2 = 1442− 1422 = 3.
Observa¸c˜ao 0.216. Seja V um espa¸co vetorial com produto interno h,i. Se, para todo v ∈ V, hu, vi = 0, ent˜ao u =→0. Com efeito, tomando em particular v =u, obtemos que hu, ui= 0 e portanto u=→0.
Ortogonalidade
Defini¸c˜ao 0.217. Seja V um espa¸co vetorial com produto interno h,i. 1. Sejam u, v ∈V. Dizemos que u e v s˜ao ortogonais se hu, vi= 0.
2. Um subconjunto S de V ´e chamado de ortogonal se hu, vi= 0, para todo u6=v, u, v∈ S
3. Um subconjunto S de V ´e chamado de ortonormal se for ortogonal e
||u||= 1, para todo u∈ S
Observa¸c˜ao 0.218. Notemos que, se V ´e um espa¸co vetorial com produto interno h, i, ent˜ao o vetor nulo de V ´e ortogonal a todos os vetores de V, pois h→0, vi = 0, para todo v ∈V. Al´em disto, mostramos que se hu, vi = 0, para todo v ∈V, ent˜ao u=→0, donde →0 ´e o ´unico vetor de V que ´e ortogonal a todos os vetores de V.
Exemplo 0.219. A base canˆonica de Rn (este com o produto interno canˆo- nico) ´e ortonormal.
A base canˆonica de Mm×n(R) (este com o produto interno canˆonico) ´e or- tonormal. De fato, para m = n = 2, lembremos que h(aa1121 aa1222), bb11b12
21b22
i = a11.b11+a12.b12+a21.b21+a22.b22 e BC ={(1 00 0),(0 10 0),(0 01 0),(0 00 1)}. Como h(1 00 0),(1 00 0)i= 1.1 + 0.0 + 0.0 + 0.0 = 1, ent˜ao ||(1 00 0)||= √
1 = 1. Analo- gamente, ||(0 10 0)||= 1, ||(0 01 0)||= 1 e ||(0 00 1)||= 1. Logo, os quatro vetores de BC s˜ao unit´arios. Agora, desde que, h(1 00 0),(0 10 0)i = 1.0 + 0.1 + 0.0 + 0.0 = 0, ent˜ao (1 00 0) e (0 10 0) s˜ao ortogonais. Analogamente, obtemos que h(1 00 0),(0 01 0)i = 0,h(1 00 0),(0 00 1)i = 0,h(0 10 0),(0 01 0)i = 0,h(0 10 0),(0 00 1)i = 0 e h(0 01 0),(0 00 1)i= 0, donde BC ´e ortonormal.
Proposi¸c˜ao 0.220. Seja V um espa¸co vetorial com produto interno h,i. SejaS um subconjunto ortogonal deV formado por vetores n˜ao nulos. Ent˜ao:
1. Se v ∈[v1, v2, . . . , vn], com v1, v2, . . . , vn ∈ S, segue que v = h||v,vv 1i
1||2v1 +
hv,v2i
||v2||2v2 + · · · + h||v,vv ni
n||2vn 2. S ´e LI
De fato, se v ∈[v1, v2, . . . , vn], ent˜ao existem escalaresα1, α2, . . . , αntais que v =α1v1+α2v2+· · ·+αnvn. Mashvi, vji= 0, sei6=j, poisv1, v2, . . . , vn ∈ S eS ´e ortogonal. Da´ı,hv, v1i=hα1v1+α2v2+· · ·+αnvn, v1i(P1)= α1hv1, v1i+ α2hv2, v1i+· · ·+αnhvn, v1i = α1hv1, v1i. Como v1 6=→0 , ent˜ao hv1, v1i 6= 0, donde α1 = hhvv,v1i
1,v1i = h||v,vv 1i
1||2. Da mesma forma, α2 = h||v,vv 2i
2||2, . . . , αn = h||v,vv ni
n||2. Logo, v = α1v1 +α2v2 + · · ·+αnvn = h||v,vv 1i
1||2v1 + h||v,vv 2i
2||2v2 +· · · + h||v,vv ni
n||2vn. Mostremos (2). Seja c:=β1u1 +β2u2 +· · ·+βmum uma combina¸c˜ao linear qualquer de vetores de S (com u1, u2, . . . , um ∈ S e β1, β2, . . . , βm ∈ R).
Suponhamos que c ´e o vetor nulo. Da´ı, →0 = β1u1 +β2u2 + · · ·+ βmum. Pela prova de (1), como →0∈ [u1, u2, . . . , um], obtemos que β1 = h
→0,u1i
||u1||2, β2 =
h→0,u2i
||u2||2, . . . , βm = h
→0,umi
||um||2, donde β1 =β2 =· · ·=βm = 0 e portanto S ´e LI.
Corol´ario 0.221. SejaV um espa¸co vetorial com produto internoh, i. Seja B := {v1, v2, . . . , vn} uma base ortonormal de V. Ent˜ao, para cada v ∈ V, v =hv, v1iv1+hv, v2iv2+· · ·+hv, vnivn.
Com efeito, desde queB ´e uma base deV, ent˜ao [v1, v2, . . . , vn] = V. Agora, comoB´e, em particular, um subconjunto ortogonal deV formado por vetores n˜ao nulos, ent˜ao, pelo resultado anterior,v = h||v,vv 1i
1||2v1+h||v,vv 2i
2||2v2+· · ·+h||v,vv ni
n||2vn, para todo v ∈ [v1, v2, . . . , vn] = V. Finalmente, desde que ||v1|| = ||v2|| =
· · ·=||vn||= 1, poisB ´e ortonormal, ent˜ao o resultado segue.
O pr´oximo resultado nos fornece um modo de obtermos um conjunto orto- gonal a partir de um conjunto LI.
Teorema 0.222. Seja V um espa¸co vetorial com produto interno h,i. Se S:={v1, v2, . . ., vn}´e um subconjunto LI deV, ent˜ao existeSe:={w1, w2, . . ., wn} um subconjunto ortogonal de V tal que [Se] = [S].
Fa¸camos por indu¸c˜ao em n.
Se n = 2, tomemos w1 := v1 e w2 := v2 − h||vw2,w1||12iw1. Notemos que w2 6=→0 , pois v2 n˜ao ´e um m´ultiplo dew1 =v1, j´a que {v1, v2}´e LI. Comohw1, w2i=
hv1, v2i − h||vv21,v||12ihv1, v1i = hv1, v2i − hv2, v1i = 0, ent˜ao {w1, w2} ´e ortogo- nal. Ainda, como w1, w2 ∈ [v1, v2], ent˜ao [w1, w2] ⊂ [v1, v2]. Da´ı, desde que dimR[w1, w2] = 2 = dimR[v1, v2] (pois {w1, w2}´e base para [w1, w2] e {v1, v2}
´e base para [v1, v2]), segue que [w1, w2] = [v1, v2].
Suponhamos por hip´otese de indu¸c˜ao (HI) que o resultado vale para n−1.
Seja S :={v1, v2, . . . , vn} um subconjunto LI de V. Como {v1, v2, . . . , vn−1}
´e LI, ent˜ao, por (HI), existe {w1, w2, . . . , wn−1} um subconjunto ortogonal de V tal que [v1, v2, . . . , vn−1] = [w1, w2, . . . , wn−1] (*). Tomemos wn :=
vn−Pn−1 i=1 hvn,wii
||wi||2 wi. Seja Se:={w1, w2, . . ., wn}. Notemos quewn6=→0 , pois vn n˜ao ´e combina¸c˜ao linear de v1, . . . , vn−1, j´a que S ´e LI, e portanto tamb´em n˜ao ´e combina¸c˜ao linear de w1, . . . , wn−1, por (*). Agora, para todo j = 1,2, . . . , n−1,
hwn, wji = hvn−Pn−1 i=1 hvn,wii
||wi||2 wi, wji
= hvn, wji −Pn−1 i=1 hvn,wii
||wi||2 hwi, wji
= hvn, wji − h||vwn,wj||j2ihwj, wji
= 0,
poishwi, wji= 0, se i6=j, uma vez que {w1, w2, . . . , wn−1}´e ortogonal. Da´ı, Se´e ortogonal. Ainda, como, pela constru¸c˜ao dewne por (*),w1, w2, . . . , wn ∈ [v1, v2, . . . , vn], segue que [Se] ⊂ [S]. Da´ı, desde que dimR[Se] = n = dimR[S] (pois Se´e base para [Se] eS ´e base para [S]), segue que [Se] = [S].
Observa¸c˜ao 0.223. A constru¸c˜ao feita na prova acima ´e chamada de pro- cesso de ortogonaliza¸c˜ao de Gram-Schmidt.
Observa¸c˜ao 0.224. Se V ´e um espa¸co vetorial com produto interno h, i e v ∈ V \ {→0}, ent˜ao o vetor ||vv|| ´e um m´ultiplo por escalar de v tal que
||||vv||||= 1, pois ||||vv||||=|||1v|||.||v||= ||1v||.||v||= 1.
Corol´ario 0.225. Todo espa¸co vetorial (de dimens˜ao finita maior do que 0) com produto interno tem uma base ortonormal.
De fato, sejaV um espa¸co vetorial com produto interno, com dimRV =n >0.
Seja B := {v1, v2, . . . , vn} uma base de V. Pelo resultado anterior, existe Be := {w1, w2, . . . , wn} um subconjunto ortogonal de V tal que [Be] = [B].
Tomemos C :={||ww11||, w2
||w2||, . . . , wn
||wn||}. Como C ´e LI, pois ´e um subconjunto ortonormal de V, e gera V, pois [C] = [Be] = [B] = V, segue que C ´e uma base ortonormal de V.
Exemplo 0.226. Consideremos R2 com o produto interno canˆonico h,i. Temos que {(1,1),(1,2)} ´e uma base de R2. Vamos construir uma base ortonormal de R2. Sejam v1 := (1,1) e v2 := (1,2). Tomemos w1 := v1. Temos que ||w1||2 =hw1, w1i= 1.1 + 1.1 = 2 e hv2, w1i= 1.1 + 2.1 = 3. Da´ı, tomemos w2 :=v2− h||vw2,w1||12iw1 = (1,2)− 32(1,1) = (1− 32,2− 32) = (−12,12).
Logo, {w1, w2} ´e ortogonal (pelo processo acima). Da´ı, {||ww11||, w2
||w2||} ´e uma base ortonormal de R2 (pois ´e um conjunto LI com dois vetores). Notemos que ||ww1
1|| = (1,1)√2 = (√22,√22) e ||ww2
2|| = (−√122,12)
2
= (−√22,√22).
Defini¸c˜ao 0.227. Seja V um espa¸co vetorial com produto interno h, i. Seja S um subconjunto de V. Chamamos de ortogonal a SSS ao conjunto S⊥ :=
{v ∈V|hv, ui= 0,para todou∈ S}.
Proposi¸c˜ao 0.228. SejaV um espa¸co vetorial com produto interno h, i. Se S ´e um subconjunto de V, ent˜ao S⊥ ´e um subespa¸co de V.
De fato, →0∈ S⊥, pois h→0, ui= 0, para todo u∈V. Sejam λ∈R, v, w∈ S⊥. Como hλv+w, ui =λhv, ui+hw, ui=λ.0 + 0 = 0, para todo u ∈V, ent˜ao λv+w∈ S⊥. Assim, S⊥ ´e um subespa¸co de V.
Observa¸c˜ao 0.229. Notemos que S⊥ ´e sempre um subespa¸co de V, mesmo que S n˜ao o seja.
Ainda, se S = {→0}, ent˜ao, para todo v ∈ V, hv,→0i = 0, donde V ⊂ S⊥ e portanto S⊥=V.
Se S cont´em uma base ortogonal {u1, u2, . . . , un} de V, ent˜aoS⊥ ={→0}. De
fato, se v ∈ S⊥, existem escalares α1, α2, . . . , αn tais que v =α1u1+α2u2+
· · ·+αnun. Da´ı,0 = hv, ui=α1hu1, ui+α2hu2, ui+· · ·+αnhun, ui, para todo u ∈ S. Em particular, 0 = hv, u1i = α1hu1, u1i, donde, como hu1, u1i > 0, segue que α1 = 0. Analogamente, obtemos que α2 =· · ·=αn= 0. Portanto, neste caso, se v ∈ S⊥, ent˜ao v =→0, isto ´e, S⊥ ={→0}.
Exemplo 0.230. Consideremos R3 com o produto interno canˆonico h,i. SejaS :={(1,1,1),(1,1,2)}. CalculemosS⊥e mostremos queR3 = [S]⊕S⊥. Se (x, y, z)∈ S⊥, ent˜ao h(x, y, z),(1,1,1)i= 0 e h(x, y, z),(1,1,2)i= 0, isto
´e,
( 1x+ 1y+ 1z = 0 1x+ 1y+ 2z = 0
Logo, z = 0 e y=−x, donde S⊥={(x,−x,0)|x∈R}= [(1,−1,0)].
Agora, [S] = [(1,1,1),(1,1,2)] = {α(1,1,1) +β(1,1,2)|α, β ∈ R} = {(α+ β, α+β, α+ 2β)|α, β ∈ R}. Se (α+β, α+β, α+ 2β) = (x,−x,0), ent˜ao α+β = x = −(α+β) e α+ 2β = 0. Da´ı, β = 0 e α = 0, donde (α+ β, α+β, α+ 2β) = (0,0,0) e portanto [S]∩ S⊥ ={(0,0,0)}. Ainda, como {(1,1,1),(1,1,2),(1,−1,0)} gera R3 (verifique), segue que R3 = [S] +S⊥. Portanto, R3 = [S]⊕ S⊥.
O pr´oximo resultado nos d´a uma caracteriza¸c˜ao dos vetores do ortogonal a um subespa¸co.
Proposi¸c˜ao 0.231. Seja V um espa¸co vetorial com produto interno h,i. Sejam W um subespa¸co de V e B := {w1, w2, . . . , wk} um conjunto gerador de W. Ent˜ao v ∈W⊥ se, e somente se, hv, wii= 0, para todo i= 1, . . . , k.
De fato, se w ∈ W, ent˜ao existem escalares α1, α2, . . . , αk tais que w = α1w1+α2w2+· · ·+αkwk. Da´ı, se v ∈V, ent˜ao hv, wi=hv, α1w1+α2w2+
· · · + αkwki = α1hv, w1i +α2hv, w2i + · · · +αkhv, wki. Por um lado, se hv, wii = 0, para todo i = 1, . . . , k, ent˜ao hv, wi = 0, para todo w ∈ W, e
portanto v ∈ W⊥. Por outro lado, se v ∈ W⊥, ent˜ao, para todo w ∈ W, hv, wi= 0 e da´ıhv, wii= 0, para todo i= 1, . . . , k, pois w1, w2, . . . , wk ∈W.
Observa¸c˜ao 0.232. Seja V um espa¸co vetorial com produto interno h,i. Se S ´e um subconjunto de V, ent˜ao [S]⊥ = S⊥. De fato, por um lado, se w ∈[S]⊥, ent˜ao, em particular, hw, ui= 0, para todo u∈ S, donde w ∈ S⊥ e portanto [S]⊥ ⊂ S⊥. Por outro lado, se w ∈ S⊥, ent˜ao hw, ui = 0, para todou∈ S. Da´ı, comoS ´e um conjunto gerador de [S], ent˜ao, pelo resultado anterior, w∈[S]⊥ e portanto S⊥ ⊂[S]⊥. Logo, [S]⊥ =S⊥.
Proposi¸c˜ao 0.233. Seja V um espa¸co vetorial com produto interno h,i de dimens˜ao finita. Se W ´e um subespa¸co de V, ent˜ao V =W ⊕W⊥.
Com efeito, se V = {→0}, ent˜ao {→0} = {→0} ⊕ {→0} e o resultado segue.
Seja ent˜ao V 6= {→0}. Seja W um subespa¸co de V. Se W = {→0}, ent˜ao W⊥ = V e portanto V = {0} ⊕V. Seja ent˜ao W 6= {0}. Como W ´e um subespa¸co de dimens˜ao finita maior do que 0, segue que W possui uma base ortonormal B :={w1, w2, . . . , wk}. ComoB ´e LI, existe uma base de V que cont´em B, digamos {w1, w2, . . . , wk, v1, v2. . . , vn}. Aplicando o processo de ortogonaliza¸c˜ao de Gram-Schmidt, obtemos C :={u1, u2, . . . , uk+n}, com
u1 := w1,
u2 := w2−hw||u21,u||12iu1 =w2 ...
uk := wk−Pk−1 i=1 hwk,uii
||ui||2 ui =wk,
pois hwj, wii= 0, para todo j 6=i. Verifiquemos que W⊥ = [uk+1, . . . , uk+n].
De fato, como huk+1, wii = 0, para todo i = 1, . . . , k, pois C ´e ortogo- nal, ent˜ao pela proposi¸c˜ao anterior segue que uk+1 ∈ W⊥. Da mesma forma, uk+2, . . . , uk+n ∈ W⊥, donde, como W⊥ ´e um subespa¸co, segue que [uk+1, . . . , uk+n]⊂W⊥. Mas sew∈W⊥, ent˜ao sabemos quew=Pk+n
i=1 hw,uii
||ui||2ui,
pois em particular w∈[u1, . . . , uk+n] = [C] e C ´e um conjunto ortogonal for- mado por vetores n˜ao nulos. Da´ı, desde que, hw, wii = 0, pois w ∈ W⊥ e wi ∈ W, para todo i = 1, . . . , k, ent˜ao w = Pk+n
i=k+1hw,uii
||ui||2ui e portanto w ∈ [uk+1, . . . , uk+n]. Logo, W⊥ = [uk+1, . . . , uk+n]. Finalmente, notemos que V = W +W⊥ pois C gera V, e W ∩W⊥ = {→0} pois C ´e LI. Portanto, V =W ⊕W⊥.
Observa¸c˜ao 0.234. Seja V um espa¸co vetorial com produto interno h, i de dimens˜ao finita. Se S ´e um subconjunto de V, ent˜ao, pelos resultados anteriores, V = [S]⊕ S⊥, pois V = [S]⊕[S]⊥ e [S]⊥=S⊥.
Exemplo 0.235. Consideremos R2 com o produto interno canˆonico h,i. Seja S:={(11,13)}. CalculemosS⊥. Se(x, y)∈ S⊥, ent˜ao h(x, y),(11,13)i= 0, isto ´e, 11x+ 13y= 0. Logo, y =−1113x, donde S⊥ ={(x,−1113x)|x∈R}= [(1,−1113)]. Pela observa¸c˜ao anterior, R2 = [S]⊕ S⊥ = [(11,13)]⊕[(1,−1113)].
Corol´ario 0.236. Seja V um espa¸co vetorial com produto interno h, i de dimens˜ao finita. Se W ´e um subespa¸co de V, ent˜ao dimRV = dimRW + dimRW⊥.
Com efeito, seja W um subespa¸co de V. Ent˜ao, pelo resultado anterior, V = W ⊕W⊥. Da´ı, dimRV = dimRW + dimRW⊥−dimR(W ∩W⊥) = dimRW + dimRW⊥−0 = dimRW + dimRW⊥.
Programa de Ver˜ao 2012 04/01/2012 a 17/02/2012
B.6 - ´Algebra Linear (turma 2) 2a a 6a das 19h `as 21h - sala B-16
Gustavo de Lima Prado - glprado@ime.usp.br - www.ime.usp.br/ glprado
Programa: Vetores noRn. Espa¸cos vetoriais e subespa¸cos. Transforma¸c˜oes lineares e matrizes. Semelhan¸ca e Diagonaliza¸c˜ao. Determinantes. Produto interno e ortogonalidade.
Pr´e-requisitos: 1 a 2 anos de gradua¸c˜ao em Ciˆencias Exatas.
P´ublico: Alunos de gradua¸c˜ao em Ciˆencias Exatas.
Carga Hor´aria: 120h Bibliografia:
F. U. Coelho e M. L. Louren¸co, Um curso de ´Algebra Linear, EDUSP, 2010;
C. A. Callioli, H. H. Domingues e R. C. F. Costa, ´Algebra L. e Aplica¸c˜oes, Editora Atual, 1998;
K. Hoffman e R. Kunze, ´Algebra Linear, LTC, 1979;
A. Howard e R. C. Busby, ´Algebra L. Contemporˆanea, Editora Bookman, 2006.