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ALIMENTADORES DE ALMAS: A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA CULTURA RELIGIOSA POPULAR NO POVOADO JENIPAPO, EM LAGARTO-SE. Resumo

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ALIMENTADORES DE ALMAS: A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA CULTURA RELIGIOSA POPULAR NO POVOADO JENIPAPO, EM LAGARTO-SE

Venícius Ferreira Santos1

Resumo

A cultura religiosa popular do município de Lagarto-SE, cuja história ultrapassa quatro séculos, está impregnada no devocionário e nas práticas culturais de sua gente. Entre elas, destaca-se a encomendação das almas, que no Povoado Jenipapo assumiu, por volta dos anos 1950, uma faceta muito particular. Essa singularidade chama atenção e mereceu, de nossa parte, um estudo que busca compreender a sua construção histórica e os efeitos disso na identidade e no sentimento de pertencimento da comunidade, ainda muito presentes na atualidade.

Palavras-chave: cultura religiosa – encomendação das almas – Lagarto- SE.

1 Licenciado em História pela Universidade Federal de Sergipe.

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História de Lagarto na Perspectiva Religiosa

No presente artigo, se debruça sobre o estudo em relação a importância de um grupo cultural e tradicional, denominado As Irmandades dos Penitentes2, que se localiza no Povoado Jenipapo3, Município de Lagarto-SE4, onde, com sua tentativa de ressurgimento, vem se destacando com sua representatividade, buscando exaltar e reafirmar uma prática cultural de longa data.

Mas para entender sobre a perspectiva do grupo, deve-se focar em alguns pontos específicos para se ter uma ideia de como foi a sua construção histórica e a sua formação religiosa no município de Lagarto, em companhia disso sabe se que houve um aumento significativo sobre a produção de diversos trabalhos a respeito da formação religiosa, a representatividade da Igreja Católica no brasil e o catolicismo em si e suas transformações:

Em que pese o contrário, em grande medida pode – se que ela teve uma significativa parcela na invenção do Brasil. Questionado, é bem verdade, servindo algumas vezes para alicerçar as bases do poder e do Estado, a Igreja Católica foi a primeira instituição que em solo brasileiro viu na educação uma ferramenta poderosa de conversão e de dominação. Ela definiu o

2 Um outro tipo de irmandade, surgida no século XII, constitui as irmandades de penitentes, que congregavam de leigos casados ou solteiros, que viviam em suas próprias casas segundo um programa de vida cristão, um compromisso assumido de forma pública de dedicação a Deus. Este compromisso buscava a união a vida ordinária com o ideal de vida evangélico. Seus membros vestiam-se de roupas simples, faziam períodos de penitência, nos quais abstinham-se de festas, teatro, danças e comprometiam-se a ter uma vida de oração regular, além de confissão e comunhão ao menos três vezes ao ano. A admissão à comunidade pressupunha a devolução de bens injustamente adquiridos e a renúncia a atividades consideradas desonestas, como a agiotagem. A procissão destas irmandades ocorria na Semana Santa. BENKE, C. Breve história da espiritualidade cristã. Editora Santuário, 2007, São Paulo.

3 Povoado Jenipapo, município de Lagarto, Estado de Sergipe (SE), Localizado a vinte um quilômetros da sede do município. ARAÚJO, Edilson dos Santos. Povoado Jenipapo Ontem e Hoje – Sergipe: Dimgraf. 2005. p. 8

4 Lagarto é um município brasileiro localizado no estado de Sergipe, na Região Nordeste do país. Encontra-se na região centro-oeste e é a maior cidade do interior do estado, com uma população estimada em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 103 576 mil habitantes. Terceiro município mais populoso de Sergipe, a cidade fica localizada a 75 km da capital, Aracaju.

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33 | R E V . A L L . N . 4 / V . 1 - 2 0 1 9 perfil de muitas cidades e, por meio de seus agentes, sejam leigos, sejam clérigos, contribuíram para forjar um jeito brasileiro de ser cristão, de ser católico.5

E com essa mesma explanação é possível notar que a Igreja Católica foi o firmamento de hábitos na sociedade brasileira, exposta em diversos trabalhos historiográficos que além de ajudar a revelar novas mudanças para o aprendizado sobre o campo religioso. Nesse sentido, são produzidos diversos estudos sobre a ação da Igreja Católica no campo social.

A guisa de referência, mas também de discussão inicial, destaco alguns deles: Sob o Olhar diligente do pastor: A Igreja Católica em Sergipe6, O Eclipse de Um Farol7, e o cerne deste trabalho, Contradições da Romanização da Igreja no Brasil8 e entre outros, e bem no início do livro Temas de História e Educação Católica em Sergipe.

Como uma das instituições mais importantes do mundo, ela tem, em Sergipe, seus braços e em seus braços, histórias que vem ao longo do tempo sendo desveladas. As que aqui estão sendo dadas a ler, são algumas poucas das inúmeras nuanças que deixou transparecer e que e hoje, graças a esses pesquisadores sai do campo da própria igreja e dos muros da universidades e chega ao mais distinto público leitor que tem nela um objeto de interesse. O esforço de reunir esses artigos visa contribuir com a construção da historiografia de Sergipe. 9

5 BARRETO, Raylane Andreza Dias Navarro, I (Org.). SANTOS, Claudefranklin Monteiro, II (Org.). Temas de História e Educação Católica em Sergipe – Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2013. p. 13

6 ANDRADE, Péricles. Sob o olhar diligente do pastor: a Igreja Católica em Sergipe – São Cristóvão: Editora UFS, 2010.

7 SOUSA, Antonio Lindvaldo. O Eclipse de Um Farol: contribuição aos estudos sobre a romanização da Igreja Catolica no Brasil (1911 – 1917) – São Cristóvão: Editora UFS:

Aracaju: Fundação Oviedo Teixeira, 2008.

8 SANTOS, Claudefranklin Monteiro. Contradições da Romanização da Igreja no Brasil - a Festa de São Benedito em Lagarto-SE (1771-1928), Aracaju: Edise, 2016.

9 BARRETO, Raylane Andreza Dias Navarro, I (Org.). SANTOS, Claudefranklin Monteiro, II (Org.). Op. cit. p. 14

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É a partir desse campo ideológico que busco constatar questões relativas às práticas culturais das manifestações populares que surgiram no período medieval europeu e vivem até os tempos de hoje, se sobressaindo de forma inovadora. Nosso interesse está entender as formas de desempenho sobre as práticas de uma religiosidade popular que fora capaz de transferir um sentimento de ligação entre a instituição e a sociedade.

À propósito das festas, se diz que a partir da Idade Média elas se transformaram em uma clara oportunidade de evangelização, passando por um processo de doutrinamento e normatização, o qual pudesse controlar os instintos profanos da cristandade10.

Concomitante à criação e implantação das festas religiosas em substituição ás chamadas festas pagã, crescia o número dos santos e de cultos e festas dedicados a eles. Esse tipo de preocupação da Igreja Católica, naquele momento, revela também a necessidade de uniformizar suas ações sobre os convertido. A partir do século IX, por exemplo, deu-se um considerável aumento de festas em honra a Nossa Senhora.11

Baseado nessa “estratégia”, as festa religiosas despertaram proveito sociável e comunicativo de aspectos religiosos que produzem heterogeneidade entre as comunidades. Formando assim parte de uma similaridade cultural, que fazem componente de uma admirável conjuntura histórica que se apresenta até os dias de hoje. Evidente que houve alterações nessas representações de devoção, essa temática vem sendo objeto de estudo para pesquisas que aplicam diferentes métodos possíveis

Em que pesem tais considerações, festejar sempre foi uma constante na História do Brasil. Por todo o território nacional, diversos eventos, de diversas ordens (civis, militares e religiosas), são realizados reunindo uma variedade de atos, ritos, feitos, que demonstram o espirito celebrativo da cultura brasileira. As festas no Brasil se revestem de uma

10 SANTOS, Claudefranklin Monteiro. Op. cit. p. 23

11 Idem. p.24

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35 | R E V . A L L . N . 4 / V . 1 - 2 0 1 9 extravagancia que dão a tônica da ideia de espetáculo. Nesse sentido, sobressai-se seu aspecto teatral e o efeito visual que pode causar no público, cuja simbologia e seus significados se escondem nas alegorias, nos movimentos, cantos, dança, como que a hipnotizar e enfeitiçar, arrebatando o brincante ou devoto a um universo de êxtase.12

Salientamos e realçamos a citação acima, sobre o contexto religioso no Brasil, numa região do Brasil, onde essas expressões tradicionais dos ritos populares da fé trouxeram uma simplicidade e naturalidade histórica representativa para cultura popular brasileira.

Em todo o Nordeste (como se convencionou chamar hoje) houve e há diversos grupos que representam movimentos regionais que adornam toda uma cultura popular, nesse caso trabalhando as religiosidades como ponto central, com especial destaque aqui para Sergipe, onde diversas pesquisas sobre festas religiosas, catolicismo popular, devoção avançaram

Outro ponto que destacamos diz respeito às irmandades, na maioria das vezes conhecida grupos de religiosos ou leigos, de diferentes níveis sociais e carismas e que foram determinantes em certos aspectos da história do Brasil e se fazem presente até os dias de hoje.

Muitos desses eventos foram organizados por irmandades de negros. Durante o período colonial, eles foram decisivos para a integração do “homem de cor’ no convívio social. Além disso, possibilitam apreender como certos costumes africanos foram absorvidos na formação da cultura sergipana, a partir de apropriações culturais verificadas em manifestações como a coroação do Rei do Congo13.

12 SANTOS, Claudefranklin Monteiro. Op. Cit. p.26

13 Idem. p.28

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Claudefranklin Monteiro Santos14 toca no decorrer do seu livro;

Contradições da Romanização da Igreja no Brasil, importantes elementos a respeito da perspectiva religiosa. Um dos pontos decisivos e cruciais da obra é tentar entender o panorama de formação do social e religiosa da Vila de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto, para assim melhor debruçar e destacar todas as questões culturais. De forma prática e objetiva, no discorre dessa temática ele debruçou-se sobre história da fundação da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto e fazendo que o leitor construa uma convicção e aceitação sobre toda sua gênese.

A partir da colonização portuguesa, no ano de 1590 de Sergipe Del-Rei15, foram criadas diversas Vilas que foram essenciais para o crescimento regional. A atual cidade de Lagarto surge num contexto, cujas terras se inserem no processo de necessidade urgente de conquistas de Sergipe, localizadas nos domínios da Capitania de todos os Santos16. Dentro desses locais era predominante o catolicismo conduzido por diversas ordens terceiras, grupos denominados por Jesuítas, Capuchinhos e Franciscanos.

Mas de fato o que chama mais atenção por ter sido uns dos propulsores que ajudaram a formar a aparência desta região foi a Ordem Terceira do Carmo, que não só constitui uma presença religiosa no lugar.

Outro ponto da formação da região surgiu por simultâneos acontecimentos que fruíram século XVII que transformaram a aparência da região. Os habitantes da pequena localidade quase sucumbiram ao surto contagioso, os carmelitas tomaram um procedimento de debandada do ponto inicial da povoação, situando-se numa colina onde rogaram e

14 Professor no departamento de história (DHI) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Pesquisador do GPCIR (Grupo de Pesquisa Cultural, Identidades e Religiosidades). Membro da Academia Sergipana de Letras. Responsável pelo projeto PET. Licenciado em História e Mestre em Educação pela Universidade Federal De Sergipe. Doutorado em História pela UFPE

15 A Capitania de Sergipe del-Rei foi criada em 1590, durante a União Ibérica, pelo rei de Espanha e Portugal Filipe II e subordinada diretamente à Capitania da Baía de Todos os Santos. Seu primeiro mandatário foi Cristóvão de Barros. À época contava com um território de aproximadamente o dobro do atual estado de Sergipe. NUNES, Maria Thetis; SANTOS, Lourival Santana (orgs.). Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania de Sergipe (1619-1822). São Cristóvão: Ed. UFS, 1999.

16 SANTOS, Claudefranklin Monteiro. Op. Cit. p.64

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37 | R E V . A L L . N . 4 / V . 1 - 2 0 1 9 Naquela ocasião, os frades teriam invocado a Nossa Senhora da Piedade para ir em auxilio dos convalescentes e perseguidor pela moléstia. As preces foram atendidas e em pouco tempo a população não mais apresentaria a doença.

(MONTEIRO, 2016, p.78).

Posteriormente a graça se realizaria e em reconhecimento, os habitantes fundaram um templo em honra à santa. Percebe-se que até os dias de hoje há um profundo sentimento que manifesta a representação mariana, pois propicia uma reflexão dos fatos do passado que desperta um sentimento nobre de fé e veneração para os devotos católicos lagartenses.

É essencial destacar que dos temas que vem ocupando, nos últimos anos, os espaços gerados pelas discussões e trabalhos historiográficos no campo da relação entre a história e religiosidade, as irmandades ocupam um lugar de destaque. Uma. em especial, recebera maior atenção nesta pesquisa: as festas religiosas populares, notadamente a Festa de São Benedito17. A escravaria que habitava em Lagarto nesse contexto trouxe contigo elementos religiosos de sua especificidade cultural. Em contato com a forte presença da orientação católica dessas terras, como já foi salientado anteriormente, tais elementos foram sendo suplantados ou diluídos em crenças e devoções sugeridas ou impostas pela igreja católica a partir das irmandades religiosas18.

A cerimonia festiva de São Benedito possui selo memorável para identificação histórica em relação à antiga Vila de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto, quem vem da época colonial brasileira, possuindo traços particulares de uma população, afora reunir diversas pessoas de diferentes posições sociais recorrendo ao propósito da fé e da devoção.

Na celebração da festa São Benedito em Lagarto é possível ter uma compreensão prática e mais próxima sobre a questão do distanciamento dos leigos nas ações que fazem presente a Igreja Católica dada a reformulação no clero que moldaram os aspectos sociais e culturais da região. E esse fenômeno, que ocorreu em Lagarto e resultado de um amplo processo de clericalização19.

17 SANTOS, Claudefranklin Monteiro. Op. Cit. p.29

18 Idem. p.94

19 Idem. p.31

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Seguindo por esse viés, é possível perceber que o surgimento dessa nova forma de viver o catolicismo foi transmitida pela romanização, possibilitando desiquilíbrios em ambas as manifestações (clerical e popular), se espalhando entre agentes da própria Igreja, ou seja dentro do Clero, e posteriormente com os leigos, onde se deparam com um discernimento das diferentes práticas. Nesta reforma, o catolicismo popular passou cada vez mais a não ser reconhecido pelos agentes moralizantes. As mudanças deveriam atingir evidentemente a vida moral dos clérigos – conduzindo-os a uma observância mais estrita do celibato e das atividades especificamente religiosas – e do povo, substituindo suas crenças devocionais, de cunho marcadamente familiar por expressões de caráter mais clerical. Dito de outro modo, as mudanças implementadas possuíam dois eixos principais: definição da ortodoxia católica no campo destinatário e reforma dos costumes morais da Igreja, estendendo-se desde a hierarquia eclesiástica até os fiéis20.

Com uma cautelosa interpretação das fontes sobre as quais se debruçou, Claudefranklin Monteiro discorre sobre as questões como da afeição e das práticas populares e principalmente da festa de São Benedito, que acontecia na Vila de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto.

Portanto como podemos notar com a clericalização, movimentos culturais como a festa de São Benedito perderam força para a afirmação da sua tradição clerical, sem que isso tivesse determinado o fim das práticas populares de fé que resistiram ao tempo ou se reinventaram em todo território brasileiro.

No presente artigo, é o caso e de se pensar sobre a Irmandade dos Penitentes, do povoado Jenipapo, em Lagarto-SE, criada em 1950 e que mereceu, recentemente, a atenção do historiador Eduardo Bastos, em artigo para a Revista da Academia Lagartense de Letras21, que colaborou para lançar luzes sobre nossa pesquisa, que busca entender suas origens e suas permanências à luz da história local e tendo como mote depoentes que fazem parte do grupo.

20 ANDRADE, Péricles. Op. cit. p.21

21BASTOS, Eduardo. Os Penitentes do Povoado Jenipapo. In: Revista da Academia

Lagartense de Letras, 3, vol. 1, 2018.

http://www.allrevista.com.br/index.php/allrevista/article/view/73/70. pp. 73-87.

Acessado em 27 de dezembro de 2018.

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Povoado Jenipapo – Aspectos Históricos

Não há como falar da ação do grupo Irmandades dos Penitentes destacado em algumas situações anteriormente sem salientar a criação do Povoado Jenipapo. Para tanto, me valho, inicialmente, de uma de suas principais referências:

O povoado jenipapo teve seu início com a implantação dos Engenhos de Açúcar, nas Margens do rio vaza Barris, que segundo alguns moradores tudo se deu com os escravos fugitivos das fazendas e casa grande dos senhores e senhorias donos dos engenhos. Os escravos fugitivos se aglomeravam nas margens do rio Garangau sobre a proteção de João Quirino, sendo que buscavam o fruto “jenipapo” para sua alimentação que tinham em quantidade suficiente na região. Com o passar do tempos foram caminhando de mata adentro, chegando aos locais de terra muito rica e de fruto abundantes. Daí foram construídas palhoças e casas de madeira com cipó.22 Após a assinatura da Lei Áurea, no ano 13 de maio 1888, muitos escravos ficaram sem assistência, pois o Estado não foi capaz de resolver a situação desses “homens livres”. Então muito desses homens libertos estariam também sem perspectivas alguma e procuravam diferentes formas de se manter. Já outros continuavam com as suas condições nas fazendas ou em suas redondezas. O Povoado Jenipapo teve no seu desenvolvimento a participação de muitos desses escravos como homens livres. Assim, uma pequena aglomeração foi se fazendo pelos escravos e pessoas vindos de outros lugares. Por haver várias árvores de jenipapo na região e por ser um fruto gostoso sabe-se que barracos de palhas foram construídos ao longo dos anos23.

Além de ter uma construção histórica muito especial, tem no seu nome Jenipapo sinônimos de confirmação de identidade;

A origem do nome “Jenipapo” segundo os moradores antigos tem várias versões, entre elas a mais considerada é. A dos negros fugitivos dos engenhos localizado entre o rio Vaza Barris, Garangau e fazenda

22 ARAÚJO, Edilson dos Santos. Op. cit. p.8

23 ARAÚJO, Edilson dos Santos. Op. Cit. p.9

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40 | R E V . A L L . N . 4 / V . 1 - 2 0 1 9 hoje Santo Antônio, e da abundância do fruto jenipapo na região.24

O povoado era um lugar acolhedor, propicio para a subsistência da população. De fato, a região foi se organizando aos poucos onde a população buscou na agricultura de diversos alimentos a composição inicial para o progresso da comunidade as mudanças ocorreram de maneira progressivamente e com o movimento de centralização da região, a mesma desenvolveria ainda mais:

[...] Foi roçado uma área centralizada entre as estradas que dava acesso a Comunidade Jenipapense, ela não surgiu naturalmente, mas sim por decisão de uma pessoa que morava próximo deste local, esta matava criação e vendia para as pessoas. Então Zé do Virgem, João de Barba e Joaquim Tanazo derrubaram os matos e debaixo de uma delas fizeram um girol e começou-se a cortar as criações.25

Segundo este mesmo autor nesse período o início do desenvolvimento era claro e que contava com apoio e incentivo de pessoas públicas da comunidade para região:

[...] As primeiras casas foram construídas pelos três pioneiros que passaram a morar no local ondem faziam negócios, vendas e trocas. Anos depois foi construído um barraco por ordem do chefe político de Lagarto (Acrísio Garcez), o senhor José Silvestre dos Santos (novo) fez quatro cancelas e colocou ao redor dos quatros cantos da comunidade, para que os animais não obstruíssem ou deixasse restos de fezes de frentes as casa e barracos[...]26.

24 Idem. p.9

25 Idem. p.13

26 ARAÚJO, Edilson dos Santos. Op. Cit. p 13

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No decorrer do tempo, a sociedade jenipapense foi crescendo e se expandido. As transformações eram constantes. Uma das mais destacáveis foi a construção do cemitério Senhor do Bonfim, e a capela de São José, instituição importante pela presente ação e disseminação do catolicismo no Brasil. Na pequena capela eram realizadas as diversas celebrações, missas e cultos, onde o sentimento pelo santo era de grande significado para o povo da região já que;

São José foi o padroeiro do Povoado Jenipapo por muitos anos Seus Novenários participávamos pelos devotos do Santo Milagroso dos Nordestinos (o Santo da Chuva) suas festas as mais bonitas, as vivenciadas e aplaudidas por todos que o visitavam nas noites de Novenários. 27

Esse sentimento de veneração, respeito e devoção continuaria presente até depois da construção da segunda igreja, em 19 de março de 1983, esta já realizada pelo Monsenhor Mario Rino Sivieri28 uns dos líderes de importância para o desenvolvimento do Povoado Jenipapo, com sua admirável forma de administrar e por lidernaça espiritual, além de instruir os fiéis sobre os ensinamentos do catolicismo, encaminhando diversos projetos para a vida social da comunidade e para a educação.

Com sua forte influência perante os governantes da época, o sacerdote obteve uma ampliação na escola de ensino fundamental Irmã Maria Cândida da 1ª a 8ª para a região onde e notável a marca de desenvolvimento já que muitos jovens para conseguir estudar além da 4ª série se locomoviam para a sede do Município e na época era um feito muito difícil dos estudantes, com essa ação a sociedade

27 idem. p 14

28 Dom MÁRIO RINO SIVIERI nasceu em Castelmassa (Itália) em 15 de Abril de 1942, filho de Osvaldo Sivieri e Natalina Mazzetto. Fez os estudos secundários no Seminário Diocesano de Biella, Itália. Cursou o propedêutico no Seminário Arquidiocesano de Torino; o primeiro ano de Teologia no Seminário de Biella, concluindo o curso no

“Studium Zenonianum”, de Verona, onde freqüentou, também, o Seminário Nossa Senhora de Guadalupe para a América Latina. O Papa João Paulo II o nomeou Bispo para a Diocese de Propriá (SE) no dia 18 de março de 1997. Foi eleito vice-presidente do MEB (Movimento de Educação de Base) em 1999. Em 2000, eleito presidente do Sub-regional de Sergipe do NE 3 da CNBB, hoje em dia e Bispo emérito. Encontrado no site http://www.angelfire.com/pro2/propria/index2.html

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presenciava uma grande evolução na educação para região e lugares adjacentes.

No século XXI, com administração do Bispo Dom Marco Eugênio29 na Diocese de Estância, houve criações de novas paroquias e o Povoado Jenipapo seria uma delas. Para que isso acontecesse, a mesma deveria mudar o seu padroeiro. São José passaria a ser co- padroeiro, manteria suas festas agora não mais como novenário mais sim tríduo, e na escolha do seu lugar a comunidade católica da região escolheria como padroeira, Nossa Senhora das Graças, em 2012.

Outro dador que traduz o desenvolvimento da região foi a implantação do abastecimento hídrico. O território é repleto de resquícios de Mata-Atlântica e rico em afluentes de água, tais como:

Jatobá, poço dos cavalos ou riacho das velhas, Riacho Grande e o mais principal para a região a Taboca30. Esses inúmeros pontos de abastecimentos significaram um grande meio de sobrevivência e de evolução para comunidade. Em fevereiro de 1995, a companhia de saneamento de Sergipe (DESO), se responsabilizou pelo tratamento e distribuição da agua a população31. A principal nascente Taboca continua abastecendo o Povoado até os dias de hoje sem dúvidas que importantíssima para a sobrevivência, mas em meio falta de organização e ao desmatamento esse fluxo de agua sofreu grandes traumas.

A falta de planejamento de distribuição desta agua a invasão de proprietários vizinhos, a destruição de 70% da vegetação, e outras agressões ambientais tem causados uma diminuição gradativa no volume de agua, sendo assim, em 05 de agosto de 2003, foi criada a Associação Ambientalista tabicas, de caráter civil sem fins lucrativos32.

29Dom Marco Eugênio Galrão Leite de Almeida (Aracaju, 30 de janeiro de 1959) é um bispo católico brasileiro. Foi o quarto bispo de Estância e é bispo auxiliar da arquidiocese de São Salvador da Bahia. Por motivo de saúde renunciou ao governo diocesano de Estância no dia 22 de setembro de 2013, sendo nomeado pelo Papa Francisco bispo auxiliar da Arquidiocese de São Salvador da Bahia. Encontrado no site http wikipedia.org/wiki/Marco_Eugênio_Galrão_Leite_de_Almeida e http://arquidiocesesalvador.org.br/

30 ARAÚJO, Edilson dos Santos. Op. Cit. p 16

31 Idem. p 16

32 Idem. p 17

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Essa organização foi essencial para a manutenção e preservação do manancial. Foi traçado uma luta contra fazendeiros que deterioravam o habitat e até civis que não tinham uma noção de como seria e continua sendo principal fluxo de agua da região que desmatavam sem pensar no futuro, o incentivo contra esses problemas foram extensos no meio social, escolas vizinhanças, igrejas e outros tiveram uma seria participação para difusão e planejamento de como deveria ser preservado aquela região, a partir disso a população ajudaria fiscalizar e preservar o reflorestamento diariamente até nesse tempo presente.

A comunidade do Jenipapo transformou-se muito.

Principalmente na questão econômica. No princípio, existiram diversas formas de sobrevivência econômica a laranja, maracujá, fumo e a criação de gado sem muito destaque foram fontes importantes de manutenção do mercado interno e externo. Destaque a expressividade do comercio atual: farinha de mandioca.33 Este recurso gerou um grande crescimento financeiro de subsistência até os dias de hoje na comunidade.

A mandioca representou para Jenipapo não só o principal produto de sobrevivência, mais um gerador de riquezas ao longo de seu tempo. Sua produção contribuiu para o sustentáculo de vida para a maioria das pessoas da região.34

Com o passar dos anos, o agronegócio35 foi uma dos traços marcantes para o fortalecimento do comercio na comunidade. Para

33 A farinha de mandioca é um dos componentes essenciais da dieta da população brasileira, notadamente das regiões Norte e Nordeste. A partir da raiz da mandioca (Manihot esculenta), são produzidas: as farinhas seca, d'água e mista; a goma ou fécula; o tucupi; e a farinha de tapioca. O processamento da raiz da mandioca é, frequentemente, realizado segundo métodos tradicionais, herdados dos indígenas, que foram os primeiros cultivadores da espécie. No entanto, a transformação industrial vem aumentando. BEZERRA, Valéria Saldanha. Farinhas de Mandioca Seca e Mista. Brasília: Embrapa, 2006.

34 ARAÚJO, Edilson dos Santos. Op. Cit. p 25

35 Agronegócio (em inglês: Agribusiness) é toda a relação comercial e industrial envolvendo a cadeia produtiva agrícola ou pecuária. No Brasil, o termo é usado para se referir às grandes propriedades monocultoras modernas que empregam tecnologia avançada e pouca mão de obra, com produção voltada principalmente para o mercado externo ou para as agroindústrias e com

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tanto, vale ressaltar o processo de financeiro, que foi decisivo para as ações na pecuária existente, se expandindo para o campo com trabalhos envolvendo hortifrutigranjeiros, tudo isso são moldes que contribuem para exportação e ligações com grandes e pequenas empresas existentes na sua região e lugares vizinhos como Itabaiana, Aracaju, entre outros lugares do país. As tradicionais e presentes feiras livres realizadas nos domingos os diversos mercadinhos de grandes portes e as casas de farinhas são outros meio deconsolidação ações contribuem com diversos empregos para a população colaborando intensamente para progresso econômico da região.

Um fator modificante na agricultura presente na região foi a transferência produção da farinha de mandioca que foi importante evolução econômica para implantação do fruto da acerola36. A valorização desse fruto cresceu sobrepondo os outros produtos e sendo de vasto destaque para o setores comerciais.

Os relatos dos agricultores que plantam atualmente a acerola contam que no início tiveram uma rejeição, porém o grande elemento motivador para a mudança foram os exemplos de prosperidades dos que já cultivavam o fruto, sendo os grandes incentivadores para a realização da transição das velhas práticas para esse novo contexto37.

A comercialização do produto no povoado Jenipapo é feita por intermediários que atuam na região, comprando toda a produção, repassando para as indústrias de sucos localizados nos estados de Pernambuco e Sergipe. Portanto todas essas atividades de subsistência presentes permaneceram beneficiando a economia e avanço da sociedade na região do Jenipapo.38

Em companhia desse desenvolvimento econômico o povoado adquiriu diversos representantes políticos expressos no livro Povoado finalidade de lucro. A Modernização da Agricultura no Brasil e os Novos Usos do Território. Acesso em 22 de Janeiro de 2019.

36 A acerola, azerola, cerejeira-do-pará, cerejeira-de-barbados ou cerejeira-das-antilhas (Malpighia emarginata) é um arbusto da família das malpighiáceas. O fruto se dá numa árvore chamada Aceroleira. Tem origem nas Antilhas, América Central e norte da América do Sul. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição.

Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 27, 384.

37 OLIVEIRA, Elis Regina Silva dos Santos. VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária, GT IX – Organização, mobilidade espacial e degradação do trabalho no campo. 2017

38 OLIVEIRA, Elis Regina Silva dos Santos. Elis Regina Silva dos Santos. VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária, GT IX – Organização, mobilidade espacial e degradação do trabalho no campo. 2017

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Jenipapo Ontem e Hoje, onde exerceram papeis fundamentais para intercomunicação com representantes do nossos poder público na sede de Lagarto, nos tempos de hoje ainda continuam buscando evoluções para local. Outro campo muito importante seria o cultural, devo destacar e enaltecer alguns grupos que existiram num passado não muito longe no qual a ação representativa tem sinal educativo e artístico para comunidade, O Reisado39, Quadrilhas de São João 40e a Dança do São Gonçalo foram alguns desses que estiveram presente no nosso meio social;

Jenipapo teve também o privilegio de ter a Dança de São Gonçalo com as rezadeiras, Dona Conceição, Dona Vitoria e Dona Petú, que era uma espetáculo em palcos e festas populares. Tendo como objetivo, o pagamento de promessas, conta assim os entrevistados e que também no final do ritual um almoço era oferecido aos dançantes. O ritual acontecia normalmente, num dia de domingo. Pela manhã se efetua o chamado “ensaio geral”. No interior da casa ou no terreiro, diante da imagem do santo, o grupo executa as sete jornadas, os

39 Folia de Reis, Reisado ou Festa de Santos Reis (em Portugal diz-se Reisada ou Reiseiros[1]) é uma manifestação católica, cultural e festiva, classificada sobretudo no Brasil como manifestação folclórica, comemorativa da festa religiosa da Epifania do Senhor ou Teofonia, caracterizada por celebrar a Adoração dos Magos ao nascimento de Jesus Cristo. CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro 10ª ed.

Rio de Janeiro: Ediouro. 774 páginas.

40 De acordo com historiados e pesquisadores da cultura popular, a quadrilha surgiu na França do século XVIII. Principalmente em Paris ocorriam danças coletivas, formadas geralmente por quatro casais, que tinham o nome de quadrille. Estas danças ocorriam em grandes salões palacianos e contavam com a participação exclusivamente de membros da aristocracia francesa. A quadrilha chegou ao Brasil no final da década de 1820 e, assim como em seu país de origem, foi muito comum entre as classes sociais mais ricas da sociedade brasileira da época (principalmente entre os integrantes da corte brasileira residente no Rio de Janeiro). Foi somente no final do século XIX que a quadrilha se popularizou e tornou-se comum entre as camadas populares da sociedade. Porém, ao tornar-se popular, agregou diversos elementos culturais populares, principalmente os relacionados às tradições e modo de vida no campo.

Ganhou também, neste momento, um caráter mais divertido, com pitadas de momentos descontraídos e engraçados. Acessado no site:

https://www.suapesquisa.com. Em 22 de janeiro de 2019.

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46 | R E V . A L L . N . 4 / V . 1 - 2 0 1 9 dançarinos fazem o sinal da cruz e no final ajoelham- se diante do Santo41

E se sobressaindo desse esquecimento cultural e patrimonial ainda existente no povoado um denominado grupo que fez presente no processo histórico da localidade vem se revelando e empenhando – se em manter todas suas manifestações instrutivas, As Irmandades dos Penitentes cuja sua formação tradicional ligada homens devotos do catolicismo popular que buscam transmitir o sentido religioso de dedicação, fé e devoção.

Os Alimentadores de Almas

As Irmandades Penitentes mostraram formas de representar traços da cultura popular que ainda são existentes no Povoado Jenipapo, onde, com a iniciativa de homens e mulheres dedicam-se a preservação deste patrimônio imaterial.

Nas origens destes grupos, há muito misticismo, provindo a prática do período Medieval Europeu onde membros de irmandades flagelantes defendiam a ação dos sacrifícios como forma de penitencia alcançando assim o reino de Deus.

O movimento dos flagelantes tem como base a flagelação, um tipo de penitencia admitida pela Igreja e cuja origem era a chamada penitencia magna, uma devoção popular ortodoxa. A prática de flagelações, comum no século XIII, não tinha até então entrado em choque com as hierarquias eclesiásticas.42

Essa condutas perpetuaram por diversos lugares na Europa como forma de acatamento entre a população, a pratica desse ato não seria bem vista posteriormente pela Igreja pois não comungava com ações que fazia preceitos ao seu campo ideológico:

[...] das heresias, os flagelantes tinham o conteúdo místico exacerbado; mas ao contrário dos heréticos,

41 ARAÚJO, Edilson dos Santos. Op. Cit. p 22

42 QUEIROZ, Tereza Aline Pereira de. As heresias medievais – São Paulo; Atual, 1988.

Pg.80

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47 | R E V . A L L . N . 4 / V . 1 - 2 0 1 9 invocavam o auxílio da Virgem e dos santos.

Utilizavam-se dos mesmos meios de Salvação proposto pela Igreja, como procissões, uso da cruz, orações, cantos, sermões e a própria flagelação.43

E demonstrado que uma determinada sociedade passava por provações nas suas esferas de vida e fora que as intuições como a Igreja e Monarquia desse período não foram capazes de salientar os devidos problemas que ocorriam, então muitas pessoas buscaram socorro em seus preceitos:

[...] a difusão dessa pratica ligava – se diretamente as tensões sociais e econômicas do período: as guerras, a peste negra de 1348, alta de preços, o desemprego, as tensões urbanas, serviam como pano de fundo para o movimento.44

Através do tempo e lugar. essa pratica instrutiva foi se modificando criando formas diversas de preceito religiosos, no Brasil principalmente na região do Nordeste a presença dessas ordens missionarias estimulara a geração dos grupos de penitentes

Dizem que os penitentes começaram seu ritual no Brasil em 1710, com a vinda dos frades capuchinhos à região de Juazeiro, na Bahia, antes de um padre trazer essa cultura para a região do Ceará. 45

Bezerra atribui à formação religiosa sertaneja que foi bastante influenciada pelas missões populares ou missões itinerantes, identificadas principalmente pelo estímulo ao sentimento de pecado e a valorização da mortificação corporal como processo de purificação da alma. (2010, p.1)

43 QUEIROZ, Tereza Aline Pereira de. Op. Cit. p 80

44 QUEIROZ, Tereza Aline Pereira de. Op. Cit. p 80

45 Penitência um movimento religioso no Cariri, https://iranfelipe09.jusbrasil.com.br.

Acesso em 24 de Janeiro 2019

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E quando Bezerra destaca a condição da população sertaneja alegrava-se com a chegada dos missionários, pois, além de ser um momento em que todos se reuniam, Só a partir de meados do Século XIX, começa a tomar corpo à ação missionária dos Padres Diocesanos brasileiros, um dos seus principais representantes foi Maria Ibiapina, que durante quase trinta anos missionou nos estados da Paraíba, Ceará, Pernambuco e Piauí, exercendo grande influência na região do Cariri Cearense. (2010, p.4-5)

A formação atual desse modelo de grupo que se revestiam dos pês a cabeças e com seus cantos e atos penitentes surgiram no final do século XIX ondem o Brasil vivia momento de instabilidade política, a região do Nordeste seria umas das mais atingidas além dessa mudança, aconteceria uma grande epidemia de cólera e seca onde causou grandes catástrofes, para a população que vinha passando por esses males teria sintomas que seria um castigo divino e que necessário livrar desse problema.

Não se sabe ao certo como foi o surgimento dessa manifestação cultural dos penitentes no Povoado Jenipapo, crendo-se que se deu devido a contatos com membros de grupos de outras regiões ondem praticavam essa atividade transmitindo assim seus atos de devoção.

O que se sabe é que por volta dos anos de 1950, os penitentes surgiram na comunidade, no qual acredita se um dos primeiros grupo ou cordões nasceu com o rezador benzedeiro o Senhor Dionísio, ele era um tipo de curandeiro da região com o passar dos anos cria-se um segundo grupo comandado pelo Senhor Pedrinho e consecutivamente apareceria o terceiro e quarto regido pelo Senhor Raimundo de Honório e o Senhor Alfredo e visível que nesse período este movimento de devoção cresceu entre todas circunvizinhas da comunidade, o tempo quaresmal seria o tempo exposto por todos esses grupos no qual;

Essas práticas davam início na Quarta-feira de Cinzas e terminava Sexta –feira da paixão sabe se que seus grupo percorria a comunidade de Jenipapo e região, eles rezavam nas casas das famílias mais de modo especial no cemitério, cruzeiros, encruzilhadas (forma uma cruz), e capelinhas. O grupo do saudoso Senhor Dionísio, foi o mais falado e comentados durante o

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49 | R E V . A L L . N . 4 / V . 1 - 2 0 1 9 longo dos tempos, pois trazia respeito e muita devoção entre aqueles que os acompanhavam.46

Uma coisa em comum entre as Irmandades são regras participante firmavam com o compromisso de nunca revela seu nome e de seus membros por isso usa-se sempre o capuz para prevenir seu anonimato outra ação seria não deixar o grupo antes sete anos de permanência pois se existe uma crença que;

Quando você faz um voto de fé e termina não cumprindo algo pode acontecer, o que eu não sei, só Deus pode responder. Eu digo que é perigoso mas não afirmo nada sei que segundo o que ouvir dizer não aconselho a ninguém deixar a irmandade sem uma razão superior. Nada pode interromper o juramento feito diante de Deus.47

Os grupos eram independentes de qualquer intuição religiosa, porém como a maioria dos membros são católicos e o berço do surgimento e no catolicismo onde eram respeitados as doutrinas, normas e dogmas. A roupagem e objetos usados pelos devotos eram praticamente iguais.

Nas vestes brancas era passado um sentido de pureza e realeza, era o sinal que Jesus não tá morto e sim vivo já no roxo transpassava um sinal de penitencia ou promessa a escolha era feita por gosto de cada participante, os objetos no qual todos os grupos carregavam tinham diversas representações.

No sino apresentava um convite a quem estava dormindo para acordar e ouvir os clamores de Jesus, o cipó caboclo relembra as chicoteadas que Jesus levou em caminho ao Calvário, a matraca adverte a cada batida as dores e gritos de Jesus na cruz tudo aqui faz parte do ritual e devoção ao sagrado.

Apesar de haver tantos grupos, chegou um período que não se deu continuidade diversas histórias tem sido contadas, mais a que fica

46 Entrevista realizada com Edilson Santos Araújo em 12 de julho de 2017

47 Idem

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presente e com a morte dos mediadores (Líderes das Irmandades), os outros participantes não interessavam se na continuação nisso os grupos paravam de praticar o rito, outro fator importante foi demonstrado no início do artigo as ideias romanização da Igreja Católica foram essenciais para uma mudança nas religiosidades populares ligadas a elas.

Segundo Claudefranklin Monteiro, em Lagarto, com o esvaziamento dos eventos promovidos pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, entre eles, a festa de São Benedito, os padres romanizadores encamparam um processo de criação de uma série de congregações de cunho mariano, afastando de cena a influência de grupos considerados populares, de seus cultos e devoções, da Igreja.

(2011, p.8)

Outro fator interessante para confirma a ideia da citação acima foi ocorrido na reconstrução da Igreja do Povoado Jenipapo;

Padre responsável no decorrer do tempo que ficou aqui não dava atenção para os penitentes, o que ele mais preocupava era na questão da catequização do povo da comunidade lembro que no dia da inauguração da Igreja em 1983, um determinado grupo chegou para reza ele proibiu, não me lembro o motivos mais se que ele proibiu.48

Vejamos que algumas razões seriam contribuintes para o desaparecimento destes grupos que representam tanto a cultura popular da comunidade jenipapense, essa ausência foi sentida ao longo tempo. Sendo assim no ano 2016, com a contribuição de um novo mediador Edilson Santos Araújo,49 coletou todos dados possível desta tradição buscando contatos com as pessoas ainda vivas que participaram das irmandades do passado,

Como os cordões ou grupo de penitentes eram apreciados pela comunidade e região, eu como

48 Entrevista realizada com Jorge Jose dos Santos, em 12 de Janeiro de 2019.

49 Professor de matemática, representante ativo da comunidade sendo historiador de ofício contribui muito para a história e cultura do Jenipapo e adjacentes

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51 | R E V . A L L . N . 4 / V . 1 - 2 0 1 9 professor na comunidade de Jenipapo desde 1988, não poderia deixar uma cultura tão bonito ficar ainda adormecida aos olhos de nossos estudantes e região de modo geral, esse é um dos motivos principais do resgate do grupo50

Penitentes Senhor do Bomfim51. Esse Foi o nome de batismo dado para a nova Irmandade, que aderiu todos as práticas usadas pelos grupos passados, com o intuito de renovar e se sobressair das “falhas”

antigas, construindo pouco a pouco um campo inovador, mas atento à tradição.

REFERÊNCIAS Bibliográficas

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Dimgraf. 2005.

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http://www.allrevista.com.br/index.php/allrevista/article/view/73/70.

pp. 73-87. Acessado em 27 de dezembro de 2018.

BENKE, C. Breve história da espiritualidade cristã. São Paulo: Editora Santuário, 2007.

BEZERRA, Valéria Saldanha. Farinhas de Mandioca Seca e Mista.

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FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986.

50 Entrevista realizada com Edilson Santos Araújo em 12 de julho de 2017

51 Nome dado por representar o primeiro padroeiro da comunidade de Jenipapo por volta de 1879, quando os novenários, missas, Santa Missões, casamentos e batizados eram celebrado do cemitério. Entrevista realizada com Edilson Santos Araújo em 12 de julho de 2017

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52 | R E V . A L L . N . 4 / V . 1 - 2 0 1 9

NUNES, Maria Thetis; SANTOS, Lourival Santana (orgs.). Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania de Sergipe (1619-1822).

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QUEIROZ, Tereza Aline Pereira de. As heresias medievais – São Paulo;

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SOUSA, Antonio Lindvaldo. O Eclipse de Um Farol: contribuição aos estudos sobre a romanização da Igreja Catolica no Brasil (1911 – 1917) – São Cristóvão: Editora UFS: Aracaju: Fundação Oviedo Teixeira, 2008.

Entrevistas

Edilson Santos Araújo em 12 de julho de 2017.

Jorge Jose dos Santos em 12 de Janeiro de 2019

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