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OUROBOROS: CULTURA, MEMÓRIA E PERMANÊNCIA. RESTAURO E CONSERVAÇÃO DA ROTUNDA DE LINS COMO CIDADE CULTURAL.

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SAGRADO CORAÇÃO – UNISAGRADO

JOSÉ HERMANO AMENDOLA CUNHA

OUROBOROS: CULTURA, MEMÓRIA E PERMANÊNCIA. RESTAURO E CONSERVAÇÃO DA ROTUNDA DE LINS COMO CIDADE CULTURAL.

BAURU 2022

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OUROBOROS: CULTURA, MEMÓRIA E PERMANÊNCIA. RESTAURO E CONSERVAÇÃO DA ROTUNDA DE LINS COMO CIDADE CULTURAL.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte dos requisitos para obtenção do título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo - Centro Universitário Sagrado Coração.

Orientadora: Prof.a M.a Lilian Massumie Nakashima.

BAURU 2022

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

Cunha, José Hermano Amendola C972o

Ouroboros: Cultura, memória e permanência. Restauro e conservação da Rotunda de Lins como cidade cultural / José Hermano Amendola Cunha. -- 2022.

141f. : il.

Orientadora: Prof.a M.a Lilian Massumie Nakashima

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) - Centro Universitário Sagrado Coração - UNISAGRADO - Bauru - SP

1. Lins. 2. Rotunda. 3. Patrimônio industrial. 4. Patrimônio ferroviário. 5. Restauro. I. Nakashima, Lilian Massumie. II. Título.

Elaborado por Lidyane Silva Lima - CRB-8/9602

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OUROBOROS: CULTURA, MEMÓRIA E PERMANÊNCIA. RESTAURO E CONSERVAÇÃO DA ROTUNDA DE LINS COMO CIDADE CULTURAL.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte dos requisitos para obtenção do título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo - Centro Universitário Sagrado Coração.

Aprovado em: ___/___/____.

Banca examinadora:

___________________________________________________

Prof.a M.a Lilian Massumie Nakashima Centro Universitário Sagrado Coração

___________________________________________________

Prof.a M.a Tatiana Ribeiro de Carvalho Centro Universitário Sagrado Coração

___________________________________________________

Arq. M.a Ellen Beatriz Santos Fonseca de Castro Arquiteta e Urbanista convidada

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Dedico este trabalho à minha família e amigos próximos, que não mediram esforços para que eu chegasse até aqui.

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Acredito que na vida nenhum resultado seja individual, mas um esforço coletivo, mesmo que discreto. A minha família, agradeço pelo amor incondicional e pelas oportunidades disponibilizadas. Aos meus tios e primos, agradeço pelo carinho e apoio em todas as situações. Aos meus irmãos, agradeço por se fazerem presentes mesmo quando distantes. Em especial, agradeço minha mãe, cujo caráter e sabedoria foram essenciais para a minha formação como pessoa.

Durante minha formação, tive o privilégio de contar com professoras e professores maravilhosos que impactaram diretamente na minha formação para além das instituições de ensino. Ao corpo docente da Universidade do Sagrado Coração, agradeço por todo o respaldo e conhecimento compartilhado ao longo desses cinco anos de curso. Destaco minha orientadora, Prof.a M.a Lilian Massumie Nakashima, a ela agradeço pelo apoio desde e o primeiro dia de aula e por acreditar em mim mesmo quando eu não acreditava. Sua dedicação e orientação foram imprescindíveis para minha formação e para o desenvolvimento deste trabalho. A senhora, toda minha gratidão e respeito.

Por fim, aos meus amigos agradeço pela parceria nessa jornada. Muitos foram os laços criados durante o curso e aguardo ansiosamente pelos frutos dessa linda conexão. Agradeço em especial à Gabriela Paes Rosa, Gabriele Cristina dos Santos Silva e Jéssica Fernandes Orestes pela amizade verdadeira e pelo apoio incondicional, as lembrarei para sempre com enorme carinho.

(7)

“Ars longa, vita brevis, occasio praeceps, experimentum periculosum, iludicium difficile”. (HIPÓCRATES).

(8)

O presente trabalho visa a elaboração de um projeto de restauro e reuso para a Rotunda do Município de Lins, São Paulo, importante monumento da arquitetura industrial ferroviária do Estado, que atualmente versa em condição de degradação completa. A edificação é a última remanescente da área residual do antigo entroncamento ferroviário urbano, em um fundo de vale onde confluem os córregos Campestre, Barbosa e Barbosinha, parcialmente canalizados por conexões viárias secundárias, que dão origem a problemáticas e inundações em tempos de chuvas, além de desvirtuarem a potencialidade paisagística destes rios. O sucateamento e subutilização dos complexos ferroviários e industriais do país, causadores da transformação de áreas vitais do tecido em vazios urbanos e brownfields é uma das grandes problemáticas da pauta dos estudos urbanos no Brasil. Se constitui igualmente como uma das discussões mais significativas sobre a conservação do patrimônio nacional. Atualmente, a área de intervenção escolhida, além de desconfigurada, encontra-se em um estado inverossímil de decadência e insegurança, constituindo-se como elo segregador na malha urbanizada. A recuperação do conjunto tombado remanescente e das áreas livres do entorno direto, como parque de replantio da vegetação nativa, se apoia na ideia de uma cidade cultural e verde, estruturada por eixos de conexão e mobilidade culminantes todos no fulcro da proposta, o restauro da Rotunda como espaço de cultura. A proposta se imposta como programa gerador de oportunidades e condutor de benefícios culturais, sociais, ambientais e econômicos para a população. A elaboração da pesquisa demandou a consulta de fontes bibliográficas como livros, revistas, jornais, artigos, dissertações, teses de mestrado e doutorado, além de visitas in loco, a arquivos audiovisuais e levantamentos fotográficos.

Palavras-chave: Lins. Rotunda. Patrimônio industrial. Patrimônio ferroviário.

Recuperação. Restauro. Reuso.

(9)

The present work aims at the elaboration of the restoration and reuse project for the Roundhouse of the Municipality of Lins, São Paulo, an important monument of the industrial railway architecture of the State, which is currently in a condition of complete degradation. The building is the last remnant of the residual area of the old urban railway junction, in a valley bottom where the Campestre, Barbosa and Barbosinha streams converge, partially channeled by secondary road connections, which give rise to problems and floods in times of rain, in addition to to distort the landscape potential of these rivers. The scrapping and underutilization of the country's railway and industrial complexes, causing the transformation of vital areas of the fabric into urban voids and brownfields, is one of the major issues on the agenda of urban studies in Brazil. It is also one of the most significant discussions on the conservation of national heritage. Currently, the chosen intervention area, in addition to being unconfigured, is in an unlikely state of decay and insecurity, constituting itself as a segregating link in the urbanized network. The recovery of the remaining heritage site and the free areas of the direct surroundings, as a park for the replanting of native vegetation, is based on the idea of a cultural and green city, structured by axes of connection and mobility culminating in the fulcrum of the proposal, the restoration of the Roundhouse as a cultural space. The proposal is imposed as a program that generates opportunities and leads to cultural, social, environmental and economic benefits for the population. The elaboration of the research demanded the consultation of bibliographic sources such as books, magazines, newspapers, articles, dissertations, master's and doctoral theses, in addition to on-site visits to audiovisual archives and photographic surveys.

Keywords: Lins. Roundhouse. Industrial heritage. Railway heritage. Recovery.

Restoration. Reuse.

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Figura 1 - Brasília, Distrito Federal ... 19

Figura 2 - Impressão antiga da Estação Euston mostrando o telhado de ferro forjado de 1837 ... 21

Figura 3 - Altos-fornos da Fábrica de Ferro de São João de Ipanema ... 22

Figura 4 - Sesc Pompeia ... 25

Figura 5 - Estação da Luz, São Paulo ... 27

Figura 6 - Mapa de vazios urbanos de Campo Grande - MS em 2017 ... 29

Figura 7 - Bairro industrial do século XVIII ... 30

Figura 8 - Fotografia da Estação Ferroviária de Burgos em 1920 ... 33

Figura 9 - Dossel de aço e vidro antes de ser removido na década de 1950 ... 34

Figura 10 - Planta térrea da intervenção ... 35

Figura 11 - Corte longitudinal da intervenção ... 35

Figura 12 - Elevação da intervenção ... 36

Figura 13 - Fotografia a partir da atual avenida ... 36

Figura 14 - Fotografia a partir do Pátio dos Viajeros ... 37

Figura 15 - Passarelas internas no eixo linear ... 38

Figura 16 - Núcleo de comunicações ... 38

Figura 17 - Marquises atuais ... 39

Figura 18 - Passarelas atuais ... 40

Figura 19 - Pórticos estruturais ... 40

Figura 20 - Armazém em seu estado original ... 41

Figura 21 - Armazém em seu estado antes do restauro ... 42

Figura 22 - Armazém e barracões em seu estado atual ... 43

Figura 23 - Novo centro de exposições ... 43

Figura 24 - Jardim terraço ... 44

Figura 25 - Paredes internas do Armazém Macedo ... 45

Figura 26 - Nova pintura das fachadas dos barracões ... 45

Figura 27 - Foro Annonario com a biblioteca ao fundo ... 46

Figura 28 - Planta do projeto implantado ... 47

Figura 29 - Polígonos de escritórios na elipse esquerda ... 48

Figura 30 - Área de leitura na elipse direita ... 48

Figura 31 - Corredores formados a partir de estruturas em metal e vidro ... 49

(11)

Figura 33 - Fachada após a retirada das estruturas recentes e a aplicação da

Sagramatura ... 51

Figura 34 - Fachada Galpões revitalizados ... 52

Figura 35 - Vista interna dos Galpões revitalizados ... 53

Figura 36 - Planta térrea ... 54

Figura 37 - Planta Primeiro Pavimento ... 54

Figura 38 - Corte longitudinal ... 55

Figura 39 - Cobertura adicionada ... 55

Figura 40 - Cobertura adicionada, em perspectiva ... 56

Figura 41 - Vista interna ... 57

Figura 42 - Vista da estrutura superior ... 58

Figura 43 - Vista da estrutura inferior ... 59

Figura 44 - Diagrama entre estruturas existentes e adicionadas ... 60

Figura 45 - “Floresta interna” ... 60

Figura 46 - Fachada ... 61

Figura 47 - Vista aérea da Fábrica Pompeia antes da reforma ... 63

Figura 48 - Sesc Pompeia após a intervenção ... 64

Figura 49 - Bicicletário do Sesc Pompeia ... 64

Figura 50 - Rua interna Sesc Pompeia ... 65

Figura 51 - Tótem informativo Sesc Pompeia ... 66

Figura 52 - Planta informativa ... 66

Figura 53 - Vista inferior a rua principal ... 67

Figura 54 - Rampas de acesso ao deck sobre o córrego ... 67

Figura 55 - Passarelas Sesc Pompeia ... 68

Figura 56 - Novas torres em relação aos galpões originais ... 69

Figura 57 - Torres adicionadas ... 69

Figura 58 - Vista posterior do Sesc Pompeia ... 70

Figura 59 - Área de convívio Sesc Pompeia ... 71

Figura 60 - Área de exposição Sesc Pompeia ... 71

Figura 61 - Lareira do Sesc Pompeia ... 72

Figura 62 - Localização de Lins no estado de São Paulo ... 73

Figura 63 - Região administrativa de Bauru ... 74

Figura 64 - Crescimento do PIB de Lins ... 76

(12)

Figura 66 - Fotografia atual de Lins-SP ... 78

Figura 67 - Percurso da CEFNOB na época de sua inauguração ... 79

Figura 68 - Construção da rotunda de Lins por volta de 1946 ... 81

Figura 69 - Estado atual da rotunda de Lins ... 82

Figura 70 - Mapa de localização por satélite ... 84

Figura 71 - Mapa de localização e acessos ... 85

Figura 72 - Estado de degradação da Rotunda de Lins ... 86

Figura 73 - Vegetação descuidada invadindo a estrutura da Rotunda de Lins ... 86

Figura 74 - Mobiliários e calçadas do entorno da Rotunda de Lins ... 87

Figura 75 - Canalização dos córregos do entorno da Rotunda de Lins ... 88

Figura 76 - Mapa de zoneamento ... 89

Figura 77 - Gráfico de uso e ocupação do solo ... 90

Figura 78 - Mapa de uso e ocupação do solo ... 91

Figura 79 - Mapa de gabaritos ... 92

Figura 80 - Mapa de cheios e vazios ... 94

Figura 81 - Mapa de topografia ... 95

Figura 82 - Mapa de hidrografia ... 96

Figura 83 - Corte A ... 97

Figura 84 - Corte B ... 98

Figura 85 - Mapa de vegetação, insolação e ventos ... 100

Figura 86 - Mapa de fluxos e vias ... 101

Figura 87 - Croqui inicial ... 102

Figura 88 - Programa de necessidades Implantação ... 102

Figura 89 – Implantação geral esquemática ... 103

Figura 90 – Cortes esquemáticos da implantação geral ... 104

Figura 91 - Programa de necessidades das plantas esquemáticas ... 104

Figura 92 - Plantas esquemáticas pavimento térreo, 1° pavimento, 2° pavimento e 3° pavimento ... 104

Figura 93 - Plantas esquemáticas 4° pavimento, 5° pavimento e cobertura ... 104

Figura 94 - Planta esquemática subsolo ... 105

Figura 95 - Vista geral em voo de pássaro ... 105

Figura 96 - Vista do estacionamento aberto ... 106

Figura 97 - Vista da Rua Minas Gerais ... 106

(13)

Figura 99 - Vista do edifício adicionado ... 107

Figura 100 - Vista da praça ... 108

Figura 101 - Vista da passarela lateral ... 108

Figura 102 - Programa de necessidades da Implantação ... 110

Figura 103 - Implantação ... 111

Figura 104 - Mapa de alterações viárias ... 112

Figura 105 - Tabela de vegetação ... 113

Figura 106 - Programa de necessidades geral ... 113

Figura 107 - Planta Rotunda ... 114

Figura 108 - Planta edifício adicionado pavimento térreo ... 115

Figura 109 - Planta edifício adicionado 1° pavimento ... 116

Figura 110 - Planta edifício adicionado 2° pavimento ... 116

Figura 111 - Planta edifício adicionado 3° pavimento ... 117

Figura 112 - Planta edifício adicionado 4° pavimento ... 117

Figura 113 - Planta edifício adicionado 5° pavimento ... 118

Figura 114 - Planta edifício adicionado cobertura ... 118

Figura 115 - Planta subsolo... 119

Figura 116 - Corte A ... 120

Figura 117 - Corte B ... 120

Figura 118 - Corte C ... 120

Figura 119 - Corte D ... 120

Figura 120 - Detalhe fachada 01 ... 121

Figura 121 - Detalhe fachada 02 ... 121

Figura 122 - Detalhe floreiras ... 122

Figura 123 - Vista geral ... 123

Figura 124 - Vista do pedestre, praça interna ... 123

Figura 125 - Vista do pedestre, Rotunda ... 124

Figura 126 - Vista do pedestre, edifício adicionado ... 124

Figura 127 - Vista do pedestre, edifício adicionado ... 125

Figura 128 - Vista do pedestre, caminho pedonal ... 125

Figura 129 - Vista interna, biblioteca pública ... 126

Figura 130 - Vista interna, edifício adicionado... 126

Figura 131 - Vista do usuário, terraço ... 127

(14)

Figura 133 - Vista interna, edifício adicionado... 128

(15)

ALESP - Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo AVAC - Aquecimento, ventilação e ar condicionado

CERCLA - Comprehensive Environment Response, Compensation, and Liability Act CEFNOB - Companhia de Estrada de Ferro Noroeste do Brasil

DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte DPI - Departamento do Patrimônio Imaterial

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH-M - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional MTUR - Ministério do Turismo

PIB - Produto Interno Bruto

PRESERFE - Programa de Preservação do Patrimônio Histórico Ferroviário RFFSA - Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima

SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo SESC - Serviço Social do Comércio

TFG - Trabalho Final de Graduação

TICCIH - The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(16)

1 INTRODUÇÃO ... 12

1.1 JUSTIFICATIVA ... 13

1.2 OBJETIVOS ... 14

1.2.1 Objetivo geral ... 14

1.2.2 Objetivos específicos ... 14

1.3 MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA ... 15

2 REVISÃO DE LITERATURA ... 16

2.1 PATRIMÔNIO ... 16

2.1.1 Patrimônio Industrial ... 19

2.1.2 Patrimônio ferroviário ... 25

2.2 VAZIOS URBANOS ... 27

2.3 BROWNFIELDS ... 30

3 ESTUDO DE OBRAS CORRELATAS ... 31

3.1 BURGOS RAILWAY STATION ... 32

3.2 ARMAZÉM MACEDO ... 41

3.3 SENIGALLIA PUBLIC LIBRARY ... 46

3.4 CENTRO CULTURAL DAOÍZ Y VELARDE... 51

3.5 KB BUILDING IPKW ... 57

4 VISITA TÉCNICA ... 62

4.1 SESC POMPEIA ... 62

4.1.1 A VISITA ... 64

5 CONTEXTUALIZAÇÃO URBANA ... 72

5.1 DADOS GERAIS ... 73

5.2 ECONOMIA ... 75

5.3 HISTÓRIA DO MUNICÍPIO ... 76

5.4 A FERROVIA E A ZONA NOROESTE ... 78

5.5 A ROTUNDA DE LINS ... 80

6 ESTUDO PRELIMINAR E LEVANTAMENTOS ... 82

6.1 ÁREA DE INTERVENÇÃO ... 83

6.2 MAPA DE ZONEAMENTO ... 88

6.3 MAPA DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO... 89

6.4 MAPA DE GABARITOS ... 91

(17)

6.6 MAPA DE VEGETAÇÃO ... 99

6.7 MAPA DE FLUXOS E VIAS ... 100

6.8 MACROZONEAMENTO ... 102

7 ANTEPROJETO ... 108

7.1 CONCEITO E PARTIDO ... 109

7.2 IMPLANTAÇÃO GERAL ... 110

7.3 ROTUNDA, EDIFÍCIO ADICIONADO E SUBSOLO ... 113

7.4 CORTES E DETALHAMENTOS ... 119

7.5 VOLUMETRIA ... 122

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 128

REFERÊNCIAS ... 130

(18)

1 INTRODUÇÃO

O desbravamento e a fixação territorial do município de Lins e de extensa parte da região do Estado de São Paulo advêm da construção da Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (CEFNOB), em direção ao Mato Grosso do Sul.

A formação de núcleos urbanos era tanto de interesse da Ferrovia, que buscava ramificar novos polos de escoamento da produção agrícola futura, quanto dos latifundiários, que visavam a valorização de suas terras e futuros empreendimentos na região (GHIRARDELLO, 2002).

O rápido e crescente desenvolvimento urbano do país, juntamente com a modernização e diversificação dos meios de transporte, em especial o rodoviário, culminaram na substituição gradual e posterior sucateamento do transporte ferroviário e de suas estruturas, hoje abandonadas e em processo de degradação.

Sucessivamente, as transformações provenientes da Revolução das Tecnologias de Informação alteraram a estrutura de produção global típica da Revolução Industrial do século XVIII, tendo como reflexo o esvaziamento de uma vasta gama de territórios industriais abandonados em áreas urbanas centrais, a chamada desindustrialização (VASQUES, 2009).

A concomitância do abandono de zonas industriais, em especial as ferroviárias, e de um mau planejamento urbano reforçou a produção de cidades espraiadas, morfologia refém da especulação imobiliária e produtora por excelência de vazios urbanos centrais e periféricos. Além disso, o descaso para com o patrimônio edificado presente em tais áreas, assim como o desinteresse por solucionar a problemática, somam para um cenário de desenvolvimento urbano ilógico, tendo em vista a quantidade e a qualidade de estudos e informações disponíveis para a aplicação de políticas públicas inteligentes e responsáveis.

No Brasil, intervenções em áreas de vazios urbanos e industriais ainda são pouco frequentes e limitam-se a grandes cidades. Todavia, seu potencial é evidente nos processos de requalificação urbana, sendo essas as áreas portadoras da verdadeira identidade urbana. Nesse sentido, intervenções em áreas centrais históricas e a preservação do patrimônio cultural, histórico, industrial e ferroviário transcende a recuperação de um fragmento urbano, atuando de maneira a relacionar a memória e a identidade do local com o desenvolvimento futuro desejado.

(19)

O desenvolvimento do presente Trabalho Final de Graduação elegeu a área da Rotunda do Município de Lins, uma estrutura histórica ferroviária abandonada e em grave processo de degradação. A intervenção proposta leva em consideração toda a pesquisa teórica e prática desenvolvida no decorrer do Trabalho para elaborar uma proposta projetual que reestruture o tecido urbano do entorno, de maneira a valorizar o fragmento e a cidade. O programa proposto é de uso misto com prevalência do aspecto cultural; a estrutura presente é restaurada e um novo complexo é anexado à pré-existente, abrigando uma variedade de usos, como oficinas, laboratórios, espaços culturais, comércios e serviços. A topografia do entorno passa por uma grande intervenção paisagística, devolvendo o leito original dos córregos presentes no entorno. Se ramifica pelo terreno como uma grande praça pública em níveis, que reconecta o lote anteriormente abandonado à malha urbana existente. A proposta desenvolvida busca portanto requalificar e recuperar o vazio urbano e suas estruturas, com o objetivo de devolver sua função social como área de produção de cultura.

1.1 JUSTIFICATIVA

Lins tem sua história marcada pelo desenvolvimento urbano sucessivo à chegada da ferrovia da Companhia de Estrada de Ferro Noroeste do Brasil; apesar de sua importância epocal, a gradual decadência e eventual abandono conduziu suas instalações ao desusou e à degradação severa.

Além de seu papel histórico e estruturador do município, as áreas oriundas do processo de abandono das ferrovias se configuram atualmente como um grande e degradado vazio na malha urbana, que não apenas influência diretamente na condição precária do seu entono direto e indireto, mas também acentua problemáticas socioespaciais de inacessibilidade, segregação, subutilização, insegurança e abandono.

A área da Rotunda de Lins, para além de constituir um vazio estratégico na malha do município, comporta estruturas e construções industriais e ferroviárias históricas patrimoniais relegadas ao descaso e à degradação, que dão espaço a um cenário incompreensível e inaceitável de ameaça ao conjunto de valor histórico urbano.

(20)

O presente trabalho propõe neste sentido a recuperação, o restauro e a reutilização do conjunto edificado e do entorno da área de implantação, com base em levantamentos e estudos teóricos, bibliográficos e in loco. A intervenção busca, em termos gerais, requalificar as estruturas presentes com um novo programa cultural e misto; agregar um projeto de ampliação ao complexo, que aumentem a área de uso e a abrangência de maneira respeitosa ao patrimônio existente;

redesenhar a hierarquia viária do entorno e reestruturar o tecido urbano, a partir de soluções paisagísticas e de acesso.

1.2 OBJETIVOS

Os objetivos traçados de maneira a direcionar a pesquisa do Trabalho Final de Graduação, sendo divididos entre objetivo geral e uma série de objetivos específicos, estruturam e direcionam etapas para o alcance dos resultados esperados pelo projeto.

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral do projeto traduz-se pela elaboração de um modelo de intervenção de recuperação e requalificação urbana pautada pelos conceitos de valorização do patrimônio e desenvolvimento urbano sustentável, a partir de usos culturais, comerciais, educacionais e de serviço. Busca melhorias nos âmbitos social, econômico e ambiental do município e da região de forma a preservar e valorizar o potencial do patrimônio ferroviário histórico existente, além de solucionar questões de vazios urbanos e brownfields e adensamento urbano na área central da cidade de Lins.

1.2.2 Objetivos específicos

a) Desenvolver pesquisa bibliográfica a respeito das temáticas abordadas tendo em vista respaldar teoricamente a estruturação do trabalho;

b) Estudar a definição e os conceitos de Patrimônio, Patrimônio Industrial e Patrimônio Ferroviário;

c) Compreender a produção e o desenvolvimento dos vazios urbanos e de brownfields;

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d) Estabelecer necessidades ambientais e sociais através de diretrizes de recuperação urbana;

e) Estudar e analisar de maneira critica obras de referência sobre restauro e revitalizações de estruturas ferroviárias e industriais;

f) Apresentar e incorporar o processo de formação e desenvolvimento do município de Lins, desde sua origem até sua situação atual;

g) Compreender a importância do patrimônio arquitetônico industrial e ferroviário da cidade de Lins;

h) Realizar visita técnica e analise da área da Rotunda de Lins e de seu entorno direto;

i) Propor a recuperação e a revitalização da Rotunda de Lins e seu entorno direto;

j) Desenvolver a proposta arquitetônica e urbanística de um espaço de caráter funcional público educacional, cultural e de lazer.

1.3 MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA

A metodologia aplicada no desenvolvimento do presente trabalho parte de uma diversa base de informações existentes e levantadas pelo autor em busca da produção de um conteúdo apropriado de conceitos, abordagens e referências. A princípio foi realizado um levantamento bibliográfico através de livros, artigos científicos de periódicos de prestígio, trabalhos acadêmicos como dissertações e teses, matérias jornalísticas e mídias audiovisuais online.

Posteriormente foram efetuados estudos de caso de projetos arquitetônicos e urbanísticos que condissessem com os ideais para a proposta de recuperação e revitalização da Rotunda de Lins, assim como o seu entorno direto. Uma visita técnica ao Sesc Pompéia em São Paulo também foi efetuada afim de melhor compreender a produção do espaço e o funcionamento de uma intervenção implantada e de sucesso com os mesmos objetivos do atual trabalho, tendo em vista que a presente proposta busca compor primordialmente uma intervenção que reúna conservação e requalificação.

Além disso, a fim de compreender a dinâmica espacial e o desenvolvimento urbano da área escolhida previamente à concepção do atual projeto arquitetônico e urbanístico, um levantamento in loco foi efetuado pela Rotunda de Lins e pelo seu

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entono direto e indireto, buscando identificar e analisar as características de uso e ocupação do solo, estado de conservação das estruturas históricas presentes, densidade construtiva, gabarito urbano, topografia característica do fundo de vale, vegetação urbana existente e hierarquização dos fluxos viários.

2 REVISÃO DE LITERATURA

A fundamentação teórica é a base para o desenvolvimento de pesquisas de qualidade, especialmente em propostas arquitetônicas e urbanísticas cujo impacto excede a materialidade do edifício e interage direta e indiretamente com a sociedade, sua cultura e seus valores. Partindo deste pressuposto, os tópicos que seguem buscam compreender melhor contextos e esclarecer conceitos gerais sobre a temática.

Primeiramente buscou-se explanar conceitos referentes a patrimônio, percorrendo desde as origens do termo até suas aplicações na atualidade. Também foram introduzidas as diferentes especificações de patrimônio com base na temática do trabalho, sendo assim, discorre-se sobre patrimônio industrial, patrimônio, ferroviário, patrimônio material e patrimônio imaterial.

Em um segundo momento, busca-se compreender a produção e a disseminação dos vazios urbanos a fim de trazer à tona suas causas e efeitos, tendo em vista seu impacto direto no tecido urbano contemporâneo. Por fim, aborda-se a conceituação de brownfields como consequência da desindustrialização trazida pelos avanços tecnológicos pós industriais.

2.1 PATRIMÔNIO

O termo patrimônio tem origem no latim patrimonium: que deriva de pater, e referia-se ao conjunto de bens pertencentes ao paterfamilias, pais de família que deixam o patrimônio aos seus sucessores. Nesse sentido, representava aquilo que se herdava, aproximando-se idealmente a conceitos como continuidade, entrega x recebimento e tradição (MENDES, 2012). O termo também possui origem atrelada ao direito de propriedade, um valor aristocrático e privado, que compete à transmissão de bens da elite patriarcal romana, onde grande parte da população não

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dispunha de patrimônio por não deter terras ou escravos (FUNARI; PELEGRINI, 2009).

Com a difusão do cristianismo na Idade Média, o caráter simbólico e coletivo do religioso estruturou-se nas sociedades. De tal maneira, o culto aos santos e a valorização de relíquias acresceram o caráter de singularidade coletiva ao patrimônio, que se estende até os dias atuais por meio da valorização de lugares e objetos como rituais coletivos. No Renascimento, a valorização do patrimônio atingiu um dos seus principais momentos, tendo em vista o ideal da época de resgate da cultura greco-romana, com destaque para o Antiquariado renascentista. O conceito moderno de patrimônio surge na França a partir da Revolução de 1789, onde a nova ordem política estabelecida deu à população um sentido de nova nação e nacionalidade, sobretudo por meio da difusão do idioma nacional, o francês, ensinado nas escolas instauradas (FUNARI; PELEGRINI, 2009).

O nome genérico de “Patrimônio Histórico” ou “artístico” representava as gerações passadas, suas construções e pertences, e era, até então, a expressão usual para representar o que hoje é chamado de Patrimônio Cultural, que compreende uma diversificada gama de bens de representação e frequentemente sofre ampliações e adaptações quanto às categorias de preservação (LEMOS, 1981).

O professor francês Hugues de Varine-Boham sugere a divisão do Patrimônio Cultural em três grandes categorias. A primeira compreende os elementos pertencentes à natureza e ao meio ambiente: os recursos naturais que possibilitam a habitabilidade do sítio. A segunda arrola elementos intangíveis, como o conhecimento, as técnicas, o saber e o saber fazer; engloba a capacidade de sobrevivência dos indivíduos no meio ambiente. A terceira e mais importante das categorias reúne os denominados “bens culturais”, que compreendem “toda sorte de coisas, objetos, artefatos e construções obtidas a partir do meio ambiente e do saber fazer”, portando, as resultantes do primeiro e segundo grupo, o meio ambiente e o saber fazer (LEMOS, 1981).

Em âmbito nacional, o conceito de patrimônio estabelecido pelo Decreto-lei n°

25, de 30 de novembro de 1937, foi ampliado pela Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 216, substituindo a nominação de Patrimônio Histórico e Artístico, por Patrimônio Cultural Brasileiro:

(24)

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.

§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.

§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.

§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.

§ 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos (BRASIL, 1988).

Tal alteração incorporou o conceito de referência cultural e a definição de bens passíveis de reconhecimento, sobretudo os de caráter imaterial. Ainda, a Constituição estabelece a parceria entre poder público e comunidades em prol da promoção e proteção do Patrimônio Cultural Brasileiro, mas mantém a gestão e a documentação dos bens sob responsabilidade da administração pública (IPHAN, 2014).

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional classifica o patrimônio material como um conjunto de bens culturais, classificando-os conforme sua natureza e com base nos quatro Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas. Os bens materiais por sua vez podem ser classificados como imóveis: como cidades históricas (Figura 1), bens individuais e sítios arqueológicos e paisagísticos; ou como móveis: coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos. Já o patrimônio imaterial é definido como as práticas e domínio da vida social por meio de manifestações em saberes, ofícios e modos de fazer, celebrações, formas de expressões, músicas e lugares, que são difundidos de gerações a gerações e transformados pela comunidade e grupos de acordo com o seu ambiente e interação com a natureza e sua história (IPHAN, 2014).

(25)

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) definem patrimônio imaterial como:

as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos os indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural"

(IPHAN, 2014).

A partir da criação do Departamento do Patrimônio Imaterial (DPI) em 2004, uma política de salvaguarda estruturada e sistemática começou a ser implementada pelo Iphan, tendo em vista o reconhecimento adequado a preservação dos bens imateriais (IPHAN, 2014).

Figura 1 - Brasília, Distrito Federal

Fonte: Treze (2019).

2.1.1 Patrimônio Industrial

(26)

A Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII, marcou um período de desenvolvimento tecnológico, gerando transformações importantes que redefiniram as estruturas sociais. Seus efeitos implicaram em um processo de afirmação do capitalismo industrial, contribuindo para mudanças no setor econômico e no estilo de vida das sociedades, principalmente nos conceitos de consumo e produção. Com a difusão da desindustrialização, o fechamento de fábricas, abandono de construções, equipamentos, maquinários e edifícios resultou no acumulo de estruturas em estado de degradação e abandono nos tecidos urbanos.

Catalisada pela destruição de edifícios significativos - como o Mercado Central de Paris e a Bolsa de Carvão e a Estação Euston (Figura 2), em Londres – a preocupação para com o legado da industrialização cresceu, acirrando discussões e promovendo iniciativas de preservação (KÜHL, 2010). Dentro do contexto apresentado, a Arqueologia Industrial torna-se alvo de estudos, e a Grã-Bretanha surge como o primeiro país a entender a necessidade de se proceder ao inventário do patrimônio industrial (MENEGUELLO, 2011), sendo definida:

[...] arqueologia industrial é um campo de estudo relacionado com a pesquisa, levantamento, registro e, em alguns casos, com a preservação de monumentos industriais. Almeja, além do mais, alcançar a significância desses monumentos no contexto da história social e da técnica. Para os fins dessa definição, um ‘monumento industrial’ é qualquer relíquia de uma fase obsoleta de uma indústria ou sistema de transporte, abarcando desde uma pedreira de sílex neolítica até uma aeronave ou computador que se tornaram obsoletos há pouco. Na prática, porém, é útil restringir a atenção a monumentos dos últimos duzentos anos, aproximadamente [...] (ANGUS BUCHANAN, 1972 apud KÜHL, 2010).

(27)

Figura 2 - Impressão antiga da Estação Euston mostrando o telhado de ferro forjado de 1837

Fonte: ESTAÇÃO FERROVIÁRIA EUSTON (2022).

As propostas sobre a temática seguiram numerosas, incluídas de modo sutil até mesmo nas considerações da Carta de Veneza (1964), mas foi em julho de 2003, na cidade de Nizhny Tagil, Rússia, que o processo de percepção da necessidade de proteger e avaliar os vestígios da indústria realmente foi firmado. A Conferência de 2003 do TICCIH ou The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage (Comitê Internacional para a Conservação do Patrimônio Industrial, em tradução para o português) consolidou a Carta Patrimonial, voltada particularmente para a preservação do patrimônio industrial, estabelecendo a fundamental importância de todos os traços das atividades industriais (MENEGUELLO, 2011). A Carta de Nizhny Tagil conceitua patrimônio industrial da seguinte maneira:

O patrimônio industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico.

Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de tratamento e de refinação, entrepostos e armazéns, centros de produção, transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas, assim como os locais onde se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de educação. [...]. (TICCIH, 2003).

A Carta de 2003 também toca em questões relacionadas à arqueologia industrial:

(28)

A arqueologia industrial é um método interdisciplinar que estuda todos os vestígios, materiais e imateriais, os documentos, os artefatos, a estratigrafia e as estruturas, as implantações humanas e as paisagens naturais e urbanas, criadas para ou pelos processos industriais. A arqueologia industrial utiliza os métodos de investigação mais adequados para aumentar a compreensão do passado e do presente industrial. [...]. (TICCIH, 2022).

O Brasil também foi pioneiro nos estudos, levantamentos e reflexões sobre arqueologia industrial. O tombamento da Real fábrica de ferro São João de Ipanema (Iperó, São Paulo) (Figura 3), sob a justificativa de um traço da arqueologia industrial do primeiro conjunto funcionante na exploração e fabricação de ferro no país, ocorreu no mesmo ano em que o afamado Journal of Industrial Archaeology começou a ser veiculado na Inglaterra. Além disso, ainda dentro do reconhecimento da imagem do patrimônio nacional e sua associação às Minas Gerais e às riquezas do ouro promovida pelos modernistas, em 1938, a Fábrica de Ferro Patriótica de São Julião, localizada nas proximidades de Ouro Preto, e seus engenhos, em 1940, foram tombados (MENEGUELLO, 2011).

Figura 3 - Altos-fornos da Fábrica de Ferro de São João de Ipanema

(29)

Fonte: Iansen (2018).

Apesar do aumento do interesse pela temática do patrimônio industrial, percebe-se um acumulo de experiências quantitativas sem um equivalente salto qualitativo na compreensão e debate sobre o tema; não existem estudos multidisciplinares efetivos quanto à identificação e preservação de bens, nem que possibilitem a compreensão do processo de industrialização e sua fundamentação projetual para futuras intervenções (KÜHL, 2010).

A retomada de questões de método se apresenta necessária, permitindo uma melhor articulação e o estabelecimento de linhas temáticas que possibilitem o aprofundamento tanto em aspectos específicos, quanto em contextos mais abrangentes, aprofundando a compreensão do processo de industrialização de maneira interdisciplinar. Além disso, a inserção dos bens no espaço e suas relações socias, antropológicas, históricas e temporais também devem ser articuladas de maneira a melhor estruturar o estudo da temática, que atualmente se limita a uma

“mono-interdisciplinaridade” no plural (KÜHL, 2010).

Os critérios de intervenção no patrimônio industrial são ainda vagos. Diversos textos retomam a importância da preservação, mas não mencionam como fazê-la.

Sintomática é ainda a raridade da discussão à luz dos princípios regentes das intervenções nos bens culturais nos últimos anos, que se restringem a discrição do novo projeto, sem tocar ou fundamentar aspectos referentes a alterações e possíveis destruições, de maneira pontual e justificada (KÜHL, 2010).

As formas de intervir nos bens de maneira a preservá-los e respeitá-los, através de processos de restauração, conservação e manutenção, tem sido pouco de batido. A discussão de tais questões por meio de referenciais teórico- metodológicos e técnico-operacionais próprios à restauração é imprescindível, evitando interesses imediatistas e elitistas, e entendendo a intervenção como um ato de cultura verdadeiro (Figura 4). Desse modo, a consideração da obra, ou conjunto de obras, em sua variedade de aspectos (material, documental, formal, simbólico e de memória), sua identificação como bem cultural e seus processos sociais, que implicam necessariamente um processo multidisciplinar, é fundamental para a elaboração de um projeto de intervenção em patrimônios industriais (KÜHL, 2010).

A multidisciplinaridade necessária e reiterada retoma conceitos expostos desde a Carta de Nizhny Tagil:

(30)

“O patrimônio industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico.

Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de tratamento e de refinação, entrepostos e armazéns, centros de produção, transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas, assim como os locais onde se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de educação.

“A arqueologia industrial é um método interdisciplinar que estuda todos os vestígios, materiais e imateriais, os documentos, os artefatos, a estratigrafia e as estruturas, as implantações humanas e as paisagens naturais e urbanas, criadas para ou pelos processos industriais. A arqueologia industrial utiliza os métodos de investigação mais adequados para aumentar a compreensão do passado e do presente industrial.

“O período histórico de maior relevo para este estudo estende-se desde os inícios da Revolução Industrial, a partir da segunda metade do século XVIII até os nossos dias, sem negligenciar suas raízes pré e proto-industriais. [...]”

(TICCIH, 2022).

A Carta de Nizhny Tagil também reforça aspectos sobre manutenção e conservação dos bens, salientando a possibilidade de reversão das intervenções em complexos industriais, produzindo impactos mínimos, assim como sua reconstrução:

VI - As intervenções realizadas nos sítios industriais devem ser reversíveis e provocar um impacto mínimo. Todas as alterações inevitáveis devem ser registadas e os elementos significativos que se eliminem devem ser inventariados e armazenados num local seguro. Numerosos processos industriais conferem um cunho específico que impregna o sítio e do qual resulta todo o seu interesse.

VII - A reconstrução, ou o retorno a um estado anteriormente conhecido, deverá ser considerada como uma intervenção excepcional que só será apropriada se contribuir para o reforço da integridade do sítio no seu conjunto, ou no caso da destruição violenta de um sítio importante (TICCIH, 2022).

Portando, afim de assegurar o respeito e a valorização do bem arquitetônico de forma a preservá-lo para gerações presentes e futuras, garantindo seus aspectos materiais, documentais, temporais e sua memória coletiva, a promoção do patrimônio industrial é salvaguardada por um rigoroso estudo de fundamentação.

Tendo em vista o impacto da preservação dentro e fora do seu campo de inserção, no urbano, social, econômico e residencial, embasados no campo técnico construtivo e no campo teórico, a intervenção se justifica em detrimento das razões pelas quais é preservada (KÜHL, 2010).

(31)

Figura 4 - Sesc Pompeia

Fonte: ArchDaily (2013).

2.1.2 Patrimônio ferroviário

As ferrovias brasileiras, com a criação da Rede Ferroviária Federal S. A.

(RFFSA) em 1957, eram totalmente nacionalizadas e estatizadas. A partir da década 1990, o processo de privatização ferroviário, sobre a justificativa de sua inviabilidade econômica e como resultado da pressão em apoio ao transporte rodoviário, culminou na crescente privatização do setor e até mesmo da própria RFFSA, em 2007 (PRONCHNOW, 2013).

Em 1980, o Ministério dos Transportes desenvolveu um programa denominado PRESERVE, com o objetivo de preservar a memória dos transportes no Brasil, elegendo exemplares representativos de cada modal, cabendo a cada órgão ou ministério estatal a elaboração de projetos sob sua área. Com o fim do projeto, a extinta RFFSA absorveu a ideia e criou o PRESERFE em 1986, ligado à Superintendência do Patrimônio e com o objetivo de restaurar a memória histórica ferroviária nacional (PRONCHNOW, 2013). O arquiteto Cláudio Bacalhau, em 1991, ressalta a importância do resguardo a memória da história da arquitetura no Brasil, tendo em vista a marcante influência do prédio na evolução urbana. Segundo ele:

Por suas próprias características, os antigos prédios das estações, oficinas, casas para empregados etc., do final do século passado e princípio do presente, utilizavam novas técnicas de construção, materiais e padrões de arquitetura, na maioria das vezes importados de outros países, que, direta

(32)

ou indiretamente, influenciaram o espaço urbano e o ‘modus vivendi‘ das populações que os circundavam (MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, 1991 apud PRONCHNOW, 2013).

Assim, as ações implantadas até então apontam para a existência de uma preocupação com o patrimônio histórico da RFFSA e, por parte do governo, uma preocupação em demonstrar ações que minimizassem o caráter negativo da privatização aos olhos da sociedade (PRONCHNOW, 2013).

Em 31 de maio de 2007, a Lei 11.483 encarregou ao IPHAN a responsabilidade de recebimento e administração dos bens móveis e imóveis de valo artístico, cultural e histórico, oriundos da extinta RFFSA, assim como o dever de zelar pela sua manutenção e guarda (IPHAN, 2014). Assim sendo, o instituto avalia, dentre a totalidade do espólio proveniente da extinta RFFSA, a valoração dos bens especificados pelo Art. 9° da lei 11.483:

Caberá ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN receber e administrar os bens móveis e imóveis de valor artístico, histórico e cultural, oriundos da extinta RFFSA, bem como zelar pela sua guarda e manutenção.

§ 1o Caso o bem seja classificado como operacional, o IPHAN deverá garantir seu compartilhamento para uso ferroviário.

§ 2o A preservação e a difusão da Memória Ferroviária constituída pelo patrimônio artístico, cultural e histórico do setor ferroviário serão promovidas mediante:

I - Construção, formação, organização, manutenção, ampliação e equipamento de museus, bibliotecas, arquivos e outras organizações culturais, bem como de suas coleções e acervos;

II - Conservação e restauração de prédios, monumentos, logradouros, sítios e demais espaços oriundos da extinta RFFSA.

O patrimônio ferroviário transferido à gestão do IPHAN engloba bens materiais e imateriais, incluindo uma variedade de bens que percorrem desde edificações até acervos documentais (Figura 5). O inventário efetuado pela PRESERFE classifica mais de 52 mil bens imóveis e 15 mil bens móveis e, para responder a demanda da nova gestão do acervo, foi constituída uma nova atribuição ao IPHAN, a Lista do Patrimônio Cultural Ferroviário, por meio da Portaria Iphan n°

407/2010, com previsão de 639 bens inscritos até o fim de 2015 (IPHAN,2014).

Os bens não operacionais são transferidos ao instituto, enquanto os bens operacionais permanecem sob responsabilidade do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte) que, em parceira com o IPHAN, visa a preservação desses bens. Já os bens que não pertenciam à Rede não são enquadrados nesse

(33)

legislação, mas podem, entretanto, ser objeto de tombamento (Decreto Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, aplicado a bens móveis e imóveis) ou Registro (Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000, aplicado ao Patrimônio Cultural Imaterial) (IPHAN, 2014).

Figura 5 - Estação da Luz, São Paulo

Fonte: ArchDaily (2021).

2.2 VAZIOS URBANOS

Em meados do século XX, a industrialização das cidades brasileiras acarretou uma expansão urbana acelerada, caracterizada por um padrão de ocupação periférico, um crescimento de baixa densidade habitacional e funcionalidade pouco diversificada, culminando em um processo de migração das áreas centrais formadoras das cidades para os novos centros de desenvolvimento urbano (CLEMENTE, 2012). A configuração espraiada resultou na formação de vazios em diversas porções da cidade, tanto nas áreas periféricas, com o surgimento de loteamentos “salteados” (CLICHEVSKY, 2000), quanto nos centros, significativamente abandonados e subutilizados (VAZ; SILVEIRA, 2007). De tal maneira, os vazios urbanos são considerados um fenômeno multifacetado, que

(34)

abrange “desde a inexistência de construção, à não ocupação, à desocupação, à decadência, ao não uso e ao subaproveitamento dos espaços”, e devem ser investigados conforme sua origem histórico-social e regional (BELTRAME, 2013).

Segundo LYNCH (2007), esses espaços são dotados de potencialidades onde “coisas novas começam”, dialogando com as diferentes temporalidades e espacialidades, evidenciando o caráter de potência dos vazios urbanos. Todavia, quando diante a necessidades reais como terra-moradia, a realidade é a composição de espaços sem função social, especialmente quando ociosos intencionalmente (BELTRAME, 2013).

Outro fator de impacto direto na produção dos vazios urbanos é o mercado imobiliário, que subjuga a criação e permanência dos vazios às constantes alterações capitalistas relacionadas a investimentos desenfreados e desinvestimentos efêmeros, seja em decorrência de crises ou da própria especulação (Figura 6). Ainda nesse sentido, duas ordens de vazios edificados se configuram: os novos imóveis edificados e contidos no aguardo de valorização; e os imóveis edificados abandonados vítimas das novas centralidades (BAUDRILLARD apud VAZ; SILVEIRA, 1999). Tais vazios edificados, segundo pesquisa da Fundação João Pinheiro (2005), seriam capazes de suprir o déficit habitacional do país.

Assim sendo, o processo especulativo, via de regra, é conduzido pelo mercado imobiliário, que por sua vez assegura a tendência à expansão espraiada e à formação dos vazios urbanos, configurando uma relação de causa e consequência e vice-versa. Segundo DIAS & FIGUEIREDO (2018, apud BELTRAME, 2013), tal processo de ocupação urbana direcionada e guiada pelas dinâmicas do mercado imobiliário é denominada “adensamento urbano laissez-faire”, onde o Estado não intervém na economia e a produção e comercialização possuem liberdade absoluta, explicitando como a falta de planejamento urbano sobre problemáticas imobiliárias causam grande impacto negativo na disseminação e no desenvolvimento saudável das cidades.

Por fim, devido à complexidade do assunto e a dificuldade em encontrar conceituações científicas específica sobre a temática, SANTOS (2004) classifica os vazios urbanos em critérios gerais e específicos, hierarquizando-os conforme seu contexto. Vazios municipais ficam a critério da sua densidade e produtividade, subdivididos em vazios em áreas rurais, vazios em áreas de expansão urbana e vazios em áreas urbanas. Por sua vez, os vazios em áreas urbanas são subjugados

(35)

em vazios sem interesse público e vazios de interesse público, diferenciando-se na relação de área mínima que estabelecem para com as áreas públicas existentes da área analisada, possuindo ou não potencial para atendimento das demandas públicas. Já os vazios de interesse público seguem critérios gerais de classificação e se subdividem em vazios locais e vazios estratégicos. Finalmente, segundo critérios específicos, os vazios locais se ramificam em vazios de saúde, de educação, de esportes, de lazer e de educação; e os vazios estratégicos em vazios de sistema viário, de meio ambiente e de equipamentos urbanos.

Figura 6 - Mapa de vazios urbanos de Campo Grande - MS em 2017

Fonte: Arruda (2017).

(36)

2.3 BROWNFIELDS

A Revolução industrial é marcada pela passagem do modo de produção artesanal para o modo de produção fabril, onde máquinas substituem a força humana e o capitalismo se fortifica e expande, disseminando centros industriais extensos (Figura 7). Com a Revolução das Tecnologias de Informação e a globalização a até então estrutura de produção sofre grandes impactos diretos, tendo em vista a maior flexibilização dos meios de produção e comunicação e a crescente competitividade no setor. Nesse contexto surgem as áreas industriais desativadas, como resultado de um período de mutações econômicas, técnicas e de diversas crises (VASQUES, 2009).

Figura 7 - Bairro industrial do século XVIII

Fonte: Mais de quinze livros da Revolução Industrial Grátis (2022).

Segundo KIVELL (1992), o declínio industrial reúne as principais causas para o surgimento dos brownfields: as mudanças tecnológicas, econômicas e sociais que readaptaram a estrutura de utilização do espaço; a flutuação e o funcionamento deficiente do mercado; a fragmentação das propriedades; a negligência do setor público e suas políticas instáveis; e os impostos elevados. Entende-se então que a

(37)

formação dos brownfields possui dois âmbitos: o geral, a nível global e nacional, e o específico, a nível regional e local.

Ainda, a globalização e a reestruturação industrial desempenham um grande papel na produção de brownfields. Enquanto a primeira possibilitou uma grande abertura de mercado a nível internacional, a segunda coordenou as mudanças internas necessárias para a composição de uma nova forma de produção como maneira de sobrevivência. Assim sendo, ambas colaboraram para um contexto onde a competitividade industrial e a internalização do capital resultaram em um processo de desindustrialização regrado na busca de vantagens oferecidas e a eventual troca das centralidades industriais por uma rede espraiada de polos industriais a mercê da especulação das propriedades e benefícios políticos (VASQUES, 2009).

Partindo do contexto supracitado, entende-se que, em todos os casos, a desvalorização das áreas produtivas, acrescida pelos fatores expostos, foi responsável pela transferência, abandono, falência e encerramento de estabelecimentos que, com o tempo se degradaram fisicamente, transformaram-se em brownfields (VASQUEZ, 2009). Contudo, apesar de sua origem primária residir no setor industrial, a natureza de um brownfield não é necessariamente fabril. A definição mais disseminada e aceita é da seção 101 da CERCLA (Comprehensive Environment Response, Compensation, and Liability Act) de 1980, que define brownfields como: instalações industriais ou comerciais abandonadas, ociosas e subutilizadas cujo (re)desenvolvimento é dificultado devido à contaminação real ou percebida, mas que tem potencial ativo de reuso (CONGRESS OF THE UNITED STATES OF AMERICA, 2001).

Portanto, o estudo dos brownfields para o desenvolvimento do Trabalho Final de Graduação (TFG) se dá necessário para a melhor compreensão do contexto histórico que resultou na produção do espaço degradado e abandonado escolhido para o desenvolvimento da temática deste trabalho, assim como para melhor intervir nas estruturas industriais presentes na área de intervenção, considerando suas condições específicas e características industriais e ferroviárias.

3 ESTUDO DE OBRAS CORRELATAS

O desenvolvimento de um projeto é pautado por conhecimentos prévios e pelo repertório estudado e acumulado, indispensável como referência para a

(38)

produção arquitetônica, urbanística ou paisagística. Os projetos analisados a seguir são essenciais para o desenvolvimento do tema proposto para o atual Trabalho Final de Graduação.

Cada uma das 5 obras analisadas possui programas de necessidade e abordagens de projeto distintas; a maioria dos programas tem um viés cultural e colaboram como material de referência para a proposta final de intervenção. A primeira obra selecionada foi a Burgos Railway Station, na Espanha; a intervenção realizada na estrutura original compõe um jogo harmônico de volumes e materialidades que se complementam, exemplificando uma maneira respeitosa de responder a um programa de necessidades contemporâneo instaurado em uma estrutura de valor histórico.

A segunda obra refere-se ao Armazém Macedo, no Brasil, e foi selecionada como exemplo direto de intervenção em âmbito nacional, tendo em vista que o atual trabalho está inserido em um contexto bastante similar e submetido à condições econômicas e culturais semelhantes. A terceira obra, intitulada Senigallia Public Library, na Itália, possui um programa de necessidades similar ao do atual trabalho e uma volumetria semelhante à da Rotunda presente na área de intervenção selecionada, somando para uma melhor compreensão de como atuar em estruturas com formas únicas de maneira inteligente e esteticamente correta.

A quarta obra trata-se do Centro Cultural Daíoz y Velarde, também na Espanha; foi selecionada pela sua materialidade, similar à da estrutura presente no atual trabalho, e pela sua abordagem perspicaz em acomodar a nova demanda na estrutura existente, além de ser um exemplo de como a tecnologia pode contribuir para o desempenho das novas intervenções em estruturas históricas. Por fim, a quinta obra, a KB Building IPKW, na Holanda, retrata possibilidades de associação entre estruturas existentes e estruturas adicionadas removíveis de maneira complementar. Possibilita a retomada da condição original da área de intervenção, outro ponto importante para o desenvolvimento do atual trabalho tendo em vista seu desenvolvimento em uma estrutura ferroviária histórica.

3.1 BURGOS RAILWAY STATION

Dados técnicos:

Autor: Contell-Martínez Arquitectos;

(39)

Localização: Burgos, Espanha;

Área: 2347m²;

Ano: 2013 - 2016.

No início do século XX, tendo em vista a relevância do equipamento e o considerável impacto na organização da cidade, a implantação da Rede Ferroviária e da Estação dos Viajantes pela Compañía de Ferrocarriles del Norte, na cidade de Burgos, na Espanha, é considerada um marco (Figuras 8 e 9). Apesar de seu impacto foi perdendo importância com o passar dos anos, até culminar em uma situação de total descaso e abandono (ArchDaily, 2019), assim como ocorreu com a Rotunda do Município de Lins.

Figura 8 - Fotografia da Estação Ferroviária de Burgos em 1920

Fonte: REHABILITACIÓN DE LA ANTIGUA ESTACIÓN DE FERROCARRIL DE BURGOS (2022).

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Figura 9 - Dossel de aço e vidro antes de ser removido na década de 1950

Fonte: REHABILITACIÓN DE LA ANTIGUA ESTACIÓN DE FERROCARRIL DE BURGOS (2022).

Tendo em vista a reabilitação do edifício da Antiga Estação de Burgos, a Câmara Municipal selecionou o grupo Contell-Martínez Arquitectos para desenvolver a intervenção. O projeto se estende, por um lado, à Plaza de la Estacíon (antigo Pátio de Viajeros), criando um espaço de relacionamento pedonal; por outro a antiga área ocupada pelos trilhos do trem, transformada em avenida, busca albergar utilizações recreativas e de lazer, destinadas primeiramente a crianças e jovens (Contell-Martínez, 2022).

Afim de integrar o edifício ao boulevard, uma pérgola metálica foi instalada na fachada, de forma a relacionar a escala do edifício à escala dos espaços livres ajardinados. Retoma também a memória do grande dossel de ferro e vidro que protegia os trilhos e plataformas, servindo de apoio para uma cafeteria e diluindo o limite do edifício. De tal maneira, a intervenção (Figuras 10, 11, 12, 13 e 14) busca recuperar a essência do local, adaptando-o ao novo programa, reinterpretando sua concepção espacial e as relações físicas e visuais entre os componentes do conjunto arquitetônico (ArchDaily, 2019).

(41)

Figura 10 - Planta térrea da intervenção

Fonte: ArchDaily (2019).

Figura 11 - Corte longitudinal da intervenção

Fonte: ArchDaily (2019).

(42)

Figura 12 - Elevação da intervenção

Fonte: ArchDaily (2019).

Figura 13 - Fotografia a partir da atual avenida

Fonte: ArchDaily (2019).

(43)

Figura 14 - Fotografia a partir do Pátio dos Viajeros

Fonte: ArchDaily (2019).

Estruturado em um eixo linear, o edifício é dividido em áreas que incorporam o programa (Figura 16), composto por área infantil na ala leste, espaço de restauração na ala poente, acesso ao nível do antigo mezanino, administração no primeiro andar e área da juventude, onde passarelas com escadas unem três torres da construção. Além disso, o posicionamento central do núcleo de comunicações e serviços verticais (Figura 15) concentra instalações e evita a duplicação de elementos de comunicação ou sanitários (ArchDaily, 2019).

(44)

Figura 15 - Passarelas internas no eixo linear

Fonte: ArchDaily (2019).

Figura 16 - Núcleo de comunicações

Fonte: ArchDaily (2019).

(45)

Marquises no acesso ao edifício (Figura 17), a partir do Pátio do Viajeros, reinterpretam a geometria original e funcionam como quebra-ventos. Assim como no interior, as paredes de suporte do piso térreo são seccionadas, permitem um espaço fluido e criam continuidade visual dentro do edifício (Figura 18). Já o mezanino, mal executado em meados do século XX, foi completamente eliminado e não mais fragmenta a altura original do térreo. Pórticos estruturais (Figura 19), ritmados pelas sólidas paredes, são instalados para suportar as novas lajes e coberturas das naves, enquanto as passarelas apoiam-se nas paredes de suporte das torres e pendem dos pórticos da estrutura do transepto (Contell-Martínez, 2022).

As coberturas foram substituídas, recuperando decisões originais e as telhas cerâmicas pretas. Os revestimentos são completamente removidos, em busca da exposição das fábricas de pedra e tijolo permitindo a diferenciação clara das partes existentes do edifício e das novas. De tal maneira, as diversas operações realizadas buscam possibilitar espaços e compartimentações mais flexíveis, capazes de evoluir de forma simples ao longo do tempo (ArchDaily, 2019).

Figura 17 - Marquises atuais

Fonte: ArchDaily (2019).

(46)

Figura 18 - Passarelas atuais

Fonte: ArchDaily (2019).

Figura 19 - Pórticos estruturais

Fonte: ArchDaily (2019).

Referências

Outline

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