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A APLICAÇÃO DE MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO EM AMBIENTES LITORÂNEOS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA SOBRE DIFERENTES

CONCEPÇÕES

Debora Silva QUEIROZ¹, Cenira Maria Lupinacci da CUNHA²

¹ Aluna do curso de graduação em Geografia, campus Rio Claro, IGCE/UNESP, e-mail: deborasilvaqueiroz@yahoo.com.br

² Docente do Depto. Planejamento Territorial e Geoprocessamento, campus Rio Claro, IGCE/UNESP, e-mail: cenira@rc.unesp.br

Resumo

Os mapas geomorfológicos são importantes instrumentos de pesquisa para compreender o relevo. Porém, estes apresentam complexidade na sua elaboração, pois há várias concepções de acordo com a taxonomia do relevo, o nível de escalas e o objetivo do pesquisador. Deste modo, para o desenvolvimento desta pesquisa, foram utilizadas duas concepções de mapeamento geomorfológico que se baseiam na ordenação do relevo proposta no Projeto RADAMBRASIL e estão apresentadas nas obras de Nunes et al (1994) e Argento (1995). Assim, o objetivo desta pesquisa é realizar uma análise comparativa entre estas duas concepções para verificar qual concepção proporciona um melhor entendimento das formas do relevo. Para tanto, foram elaborados mapas geomorfológicos, em escala de detalhe, de acordo com cada concepção, de um setor do município de Mongaguá/SP. Contudo, estas representações cartográficas são apresentadas sobre a ortofotocarta digital, fonte dos dados mapeados, buscando proporcionar uma melhor legibilidade das formas do relevo. Como resultados têm-se uma comparação entre os dois mapeamentos realizados e uma discussão sobre as vantagens do emprego de ortofotocarta digital no mapeamento geomorfológico.

Introdução

Os ambientes litorâneos são áreas em que as características litológicas, hidrológicas, biogeográficas, climáticas, assim como geomorfológicas, apresentam suscetibilidade às alterações ambientais. Porém, no Brasil, os ambientes litorâneos são áreas de densa urbanização o que provoca alterações na dinâmica do terreno. Nesse contexto insere-se o litoral paulista, que abrange o município de Mongaguá, apresentando altos índices de urbanização e intensa atividade turística, principalmente de temporadas. Assim, o estudo das formas do relevo é de grande importância para uma melhor análise da qualidade ambiental desta área, uma vez que tais formas constituem o substrato físico sobre as quais se desenvolvem as diversas atividades.

Assim, como instrumento que permite realizar análises do relevo tem-se os mapas geomorfológicos que apresentam tanto dados qualitativos do relevo (como a forma), quanto dados quantitativos (como declividades, altitudes, etc). Porém Ross (1991, pg. 17), alerta que

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“... interpretar o relevo não é simplesmente saber identificar padrões de formas ou tipos de vertentes e vales, não é simplesmente saber descrever o comportamento geométrico das formas, mas saber identificá-las e correlacioná-las com os processos atuais e pretéritos, responsáveis por tais modelados, e com isso estabelecer não só a gênese, mas também sua cronologia, ainda que relativa”.

Portanto, um mapa geomorfológico deve indicar todos estes elementos, de modo que permita ao pesquisador a realização de análises para uma melhor compreensão do relevo.

Contudo, o mapa geomorfológico é uma forma de representação cartográfica cuja complexidade está relacionada com as formas que serão mapeadas. Esta complexidade é intrínseca a variedade de tipos de formas e gênese, as quais são geradas por diversos processos internos ou externos que atuam ou atuaram no relevo. Tal complexidade é marcada por duas dificuldades principais: a primeira é representar em um plano de duas dimensões o relevo, que se apresenta em três dimensões (esta dificuldade é solucionada com o uso de símbolos e tramas) e a segunda dificuldade é apresentar em um mesmo mapa a identificação, classificação, gênese e os processos dinâmicos morfogenéticos atuantes no relevo (esta dificuldade é minimizada com o uso de diferentes símbolos e cores).

Assim, como a indicação de tais informações em uma única representação cartográfica compõe-se de um trabalho árduo a ser elaborado, não há um padrão de mapeamento geomorfológico. Conforme Argento (1995, pg. 366) “no contexto operacional, os mapeamentos geomorfológicos não seguem um padrão predefinido, tanto em nível de escalas adotadas, como quanto à adoção de bases taxônomicas a elas aferidas”.

A escolha da escala e da divisão da taxonomia do relevo que será mapeada é de suma importância no mapeamento geomorfológico, pois tal escolha indicará ao pesquisador a maior ou menor possibilidade de obter informações sobre o terreno. Convém lembrar que os procedimentos técnicos terão que ser adaptados de acordo com as características do terreno mapeado, a escala adotada e os objetivos do pesquisador.

Assim, para desenvolver esta pesquisa foi escolhido um setor do município de Mongaguá (Figura 1) que se insere no litoral paulista. Trata-se de uma área de grande urbanização, que se apresenta como uma zona de interação do oceano com o continente, ou seja, uma área em que os fenômenos naturais ocorrem de forma conjunta com as ações antrópicas. Deste modo, o município de Mongaguá é caracterizado por terrenos vinculados a sedimentação recente (planície quaternária) e as escarpas da Serra do Mar o

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que dá origem à uma morfodinâmica vinculada à ambientes litorâneos, gerando dificuldades na normatização do mapeamento geomorfológico.

Figura 1 – Localização do Município de Mongaguá. Fonte: SATO, 2008.

Após a escolha da área a ser mapeada, foram selecionadas duas concepções de mapeamento geomorfológico que tem como princípio o Projeto RADAMBRASIL: Nunes et al (1994) e Argento (1995). Assim, pretende-se realizar uma comparação entre tais concepções verificando qual proporciona um melhor entendimento das formas do relevo. Convém lembrar que as representações cartográficas serão apresentadas sobrepostas a uma ortofotocarta digital buscando proporcionar uma melhor legibilidade das formas do relevo.

Procedimentos técnicos

Método - Para o desenvolvimento dessa pesquisa foi utilizada a abordagem sistêmica. De acordo com Christofoletti (1971, p. 43) a Teoria Geral dos Sistemas é um “modelo análogo, utilizado amplamente na pesquisa científica, favorecendo a

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aplicabilidade de princípios e noções estabelecidos em determinado ramo científico aos demais”. Assim, o seu emprego na Geomorfologia é de suma importância uma vez que é impossível entender o relevo sem considerar os fluxos de matéria e energia responsáveis pela modelagem. Deste modo, as formas de relevo são entendidas como o resultado da interação da estrutura geológica, clima (atual e passado) e, recentemente, da ação antrópica, que interferem nas características pedológicas e da cobertura vegetal, sendo que a visão sistêmica permite estabelecer e verificar tais inter-relações, bem como compreender os vínculos de dependência entre esses fatores.

Metodologia – Nesta pesquisa foram utilizadas as metodologias de mapeamento geomorfológico propostas por Nunes et al (1994) e Argento (1995).

A proposta de Nunes et al (1994) compila a técnica de mapeamento do Projeto RADAMBRASIL que apresenta uma disposição dos fatos geomorfológicos em : domínios morfoestruturais (caracterizados por aspectos geomorfológicos de dimensão regional, constituindo conjuntos estruturais de formas variadas, mas que apresentam relações de causa entre si), regiões geomorfológicas (possuem uma dimensão regional, constituem-se em áreas relativamente homogêneas do ponto de vista climático), unidades geomorfológicas (caracterizadas por formas de relevo oriundas de uma evolução comum) e tipos de modelados (conjunto de formas de relevo cuja origem é comum, seja por processos de acumulação, aplainamento, dissecação ou dissolução).

Ao analisar as áreas litorâneas do estado de São Paulo, é destacada a ocorrência dos seguintes tipos de modelados: modelados de acumulação e modelados de dissecação. Os modelados de acumulação são divididos de acordo com a sua origem: fluvial (planície e terraço), marinha (planície e terraço), fluviomarinha (planície) e eólica (dunas e planos arenosos). Os modelados de dissecação são apresentados de três formas: homogênea, estrutural ou diferencial e em ravinas. Já os fatos geomorfológicos que Nunes et al (1994) afirmam que podem ser encontrados em ambientes litorâneos são: Acumulação Deltáica, Borda de Terraço Marinho, Cordão ou Dique Arenoso, Falésia, Falésia Morta, Feixe de Cordões Arenosos, Marca de Paleolitoral, Recifes, Restinga e Duna.

Em relação às simbologias, Nunes et al (1994) apresenta os símbolos que indicarão as formas de relevo no mapa geomorfológico. Após esta apresentação, os autores indicam algumas etapas para a elaboração da carta geomorfológica: selecionar as imagens de sensores remotos que melhor atenda aos objetivos do pesquisador; caracterizar a área de estudo através de levantamento bibliográfico; consultar diferentes mapas temáticos; traçar a drenagem com os rios principais e afluentes e delimitar os tipos de modelados.

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A fase seguinte é a realização da análise da morfometria das fáceis de dissecação. Assim, de acordo com Nunes et al (1994, p. 53) morfometria é a “ medição da densidade de drenagem e do aprofundamento das incisões buscando-se obter, através de tratamento estatístico, uma classificação das fáceis de dissecação”. Concluída a análise da morfometria, faz-se a análise da influência litoestruturais da área estudada e delimitam-se as áreas com mesma característica morfoestrutural; posteriormente traçam-se as unidades geomorfológicas. Já o emprego das cores obedece ao critério de representatividade das unidades geomorfológicas na região em que se inserem.

Em relação ao trabalho de campo, Nunes et al (1994) recomenda a realização de uma descrição da paisagem que deve incluir o perfil topográfico, a identificação dos tipos de modelados, a drenagem, os processos atuantes no relevo e a coleta de amostras de formações superficiais. Deste modo os dados obtidos no trabalho de campo irão complementar as análises realizadas das imagens de sensores remotos, que serão reintrepretadas para revisar as unidades mapeadas, a legenda e os símbolos.

Ao realizar o mapeamento geomorfológico segundo a proposta de mapeamento geomorfológico de Nunes et al (1994) utilizando a ortofotocarta digital com escala 1:10.000, como base para o mapeamento geomorfológico, foi possível identificar os tipos de modelados.

Deste modo, foi realizada uma delimitação das áreas cristalinas e das áreas sedimentares através da visualização das formas de relevo representadas na ortofotocarta digital. Através da interpretação visual das feições foi possível identificar as linhas de cumeada e subdividir o setor cristalino em unidades menores; estas unidades correspondem ao modelado de dissecação proposto por Nunes et al (1994). Tal subdivisão ocorreu de acordo com a visualização da textura do relevo, das drenagens e das diferentes tonalidades de cinza.

Após a delimitação das unidades, fez-se o cálculo da densidade de drenagem. Para realizar tal cálculo, foi quantificada a distância entre as drenagens e calculada a média dessas para cada unidade de modelado de dissecação. O valor resultante deste cálculo representa a textura da densidade de drenagem.

O próximo passo consistiu em calcular o aprofundamento da drenagem de cada subunidade do cristalino. Para a realização deste cálculo foi necessário utilizar a carta topográfica Folha Mongaguá SG-23-V-A-III-2, com escala 1:50.000. O cálculo foi realizado subtraindo o valor da curva de nível mais elevada pelo valor da curva de nível de menor altitude.

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Após o cálculo destes valores, procedeu-se a classificação e hierarquização destes, os quais são apresentados na Tabela 1, que aponta a textura do relevo em cada unidade:

Intensidade do aprofundamento

da drenagem

Dimensão interfluvial média

Muito fina 0-100 m Fina 101-200 m Média 201- 300 m Grosseira 301-400 m Muito grosseira ≥ 400 Muito fraca 0-50 m 5.1 4.1 3.1 2.1 1.1 Fraca 51-100 m 5.2 4.2 3.2 2.2 1.2 Mediana 101-150 m 5.3 4.3 3.3 2.3 1.3 Forte 151-200 m 5.4 4.4 3.4 2.4 1.4 Muito forte ≥ 200 m 5.5 4.5 3.5 2.5 1.5

Tabela 1: Textura da densidade de drenagem e do aprofundamento da drenagem para cada unidade de dissecação do setor cristalino.

Na Tabela 1, os valores que estão inseridos indicam a textura do relevo, conforme Nunes et al (1994). O primeiro algarismo refere-se à textura da densidade de drenagem, e o segundo algarismo refere-se à intensidade de aprofundamento da drenagem.

As subdivisões do setor cristalino foram classificadas, também, de acordo com o formato do topo. Esta classificação consistiu em agrupar as unidades em duas categorias de dissecação: dissecação com topos em colinas (Dc) e dissecação com topo aguçado (Da). As unidades dissecadas com topos em colinas são um conjunto de formas de relevo de topos convexos. As unidades dissecadas com topo aguçado são um conjunto de formas de relevo com topos estreitos e alongados, vales encaixados e vertentes com declividade acentuada.

A interpretação visual da ortofotocarta digital no setor sedimentar possibilitou a identificação dos modelados de acumulação. Assim, foram identificados os seguintes modelados de acumulação: acumulação coluvial (Ac), acumulação de terraço marinho (Atm I e Atm II), acumulação de terraço fluvial (Atf) e acumulação de planície fluvial (Apf).

A acumulação coluvial ocorre nos sopés de escarpas, resultado da concentração de sedimentos trazidos das partes mais altas pelas enxurradas. A acumulação de terraço marinho ocorre nas baixadas litorâneas, resultado das diversas transgressões no nível do mar, sendo possível registrar dois níveis de acumulação de terraço marinho. A acumulação

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de terraço fluvial ocorre nos vales fluviais, resultado de mudanças no escoamento fluvial e consequente retomada erosiva. A acumulação de planície fluvial ocorre em vales fluviais, caracterizando-se por ser uma área de sedimentação fluvial sujeita a inundações.

No setor cristalino foi possível verificar as concavidades pronunciadas nas vertentes que indicam drenagens. Já no setor sedimentar foi possível verificar a existência de cursos d’água, identificados devido à coloração mais escura.

Nunes et al (1994), mostra os símbolos a serem utilizados nos mapeamentos geomorfológicos. Assim, foram inseridos símbolos na borda de terraço fluvial e na borda de terraço marinho; este símbolo é composto de retas paralelas, perpendiculares ao contorno do terraço fluvial e do terraço marinho. O símbolo de linha de cumeada diferencia-se do símbolo do limite de modelado devido à espessura da linha. A linha de cumeada tem maior espessura em relação à linha de limite de modelado. As drenagens são representadas no mapa por uma linha contínua na cor azul.

A proposta de Nunes et al (1994) aponta para o uso de cores para diferenciar os modelados de dissecação e os modelados de acumulação. As cores utilizadas foram extraídas da Folha SD.24 Salvador do Projeto RADAMBRASIL (1983). Nesta folha os modelados de dissecação recebem cores em tonalidades de vermelho e os modelados de acumulação recebem cores em tonalidades de amarelo. Deste modo, nesta pesquisa foi utilizado o tom vermelho claro para os modelados de dissecação e os modelados de acumulação recebem tons de amarelo. As cores foram inseridas através do software CorelDRAW X3 com o uso do recurso de “transparência” a fim de propiciar condições para se observar a ortofotocarta digital adjacente.

Para finalizar foi elaborada a legenda onde constam as cores e as letras utilizadas nos modelados de dissecação e nos modelados de acumulação, bem como a definição de cada modelado e os símbolos utilizados.

Já o mapeamento geomorfológico proposto por Argento (1995) utiliza a ordenação do relevo apresentada no projeto RADAMBRASIL adaptada por Nunes et al (1994), deste modo “... os agrupamentos constituídos de tipos de modelados permitem a identificação de unidades geomorfológicas, assim como os agrupamentos dessas unidades constituem as regiões geomorfológicas, e, dos agrupamentos das regiões geomorfológicas, surgem os grandes domínios morfoestruturais” (ARGENTO, 1995, pág. 368).

Após a ordenação do relevo, Argento (1995) orienta que se devem interpretar visualmente as feições geomorfológicas a partir de produtos de sensores remotos, mapas temáticos e cartas topográficas.

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É válido lembrar que a interpretação do modelado irá variar de acordo com a escala adotada, sendo que o autor propõe mapeamentos em escalas macro (1:100.000) , meso (1:50.000 ou 1:30.000) e micro (1:25.000 ou 1:10.000) e demonstra que quanto maior for o detalhe da escala utilizada, maior será o detalhamento da interpretação das formas do relevo; lembrando que as feições encontradas em uma escala micro também serão encontradas em uma escala macro, com a diferença que as feições estarão subdivididas na escala micro em função do maior detalhamento.

Em relação às legendas, Argento (1995) afirma que estas não precisam ser seguidas com exatidão, uma vez que não possuem padronização em diferentes níveis de escalas; portanto recomenda que sejam utilizadas simbologias já propostas por outros autores. Para a elaboração de mapas geomorfológicos em macro-escalas, Argento (1995, p.371-373) faz uso das legendas propostas no Projeto RADAMBRASIL e de simbologias oriundas de outros mapeamentos já realizados.

Argento (1995) propõe que se organizem três níveis de identificação do relevo: o primeiro nível apresenta a feição geomorfológica ocasionada por eventos geotectônicos, o segundo nível mostra o processo gerador e a morfografia resultante; em terceiro nível estão agrupadas feições geomorfológicas que fornecem informações complementares, proporcionando maior detalhamento.

Deste modo, na proposta de Argento (1995) são mostrados os princípios básicos para a elaboração de um mapa geomorfológico: base conceitual das formas de relevo, interpretação visual das feições geomorfológicas e identificação dos processos geradores.

Para a execução do mapeamento geomorfológico seguindo a proposta de Argento (1995) foi utilizada uma ortofotocarta digital na escala 1:10.000. Ao utilizar tal escala foi possível identificar as feições do primeiro, segundo e terceiro nível de identificação do relevo propostos pelo autor.

Considerando o primeiro nível de análise proposto por Argento (1995), no qual se devem identificar feições geomorfológicas ocasionadas por eventos geotectônicos, na área de estudo este nível foi caracterizado pela separação entre os terrenos cristalinos e sedimentares. Tal delimitação ocorreu através da diferenciação de tons de cinza na imagem que denota a presença de uma área mais elevada e outra mais rebaixada. Esse primeiro nível de identificação é essencial para o mapeamento, pois é a partir da separação destas feições que se identificam as dinâmicas responsáveis pela elaboração dos diferentes modelados.

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O segundo nível consiste em identificar o processo gerador e as formas resultantes. Inserido na área cristalina encontra-se um esporão rochoso, que é uma continuidade da Serra do Mar, e possibilita o reconhecimento e a delimitação da linha de cumeada. Na área sedimentar encontram-se as formas de relevo do modelado de acumulação. O modelado de acumulação na área pesquisada tem origem fluvial e origem marinha. Como modelado de acumulação de origem fluvial têm-se a planície fluvial e o terraço fluvial, que foram identificados através da diferenciação de tonalidade. O terraço fluvial possui uma tonalidade mais esbranquiçada se comparado com a planície fluvial.

No modelado de acumulação de origem marinha foram identificadas feições vinculadas terraço marinho que se caracteriza por ser uma área de sedimentação passada, que indicam as diversas fases transgressivas do oceano.

Segundo a proposta de Argento (1995), o terceiro nível de identificação é formado por informações complementares que proporcionam maior detalhamento. Assim, no setor cristalino foi identificada a linha de cumeada e a área de colúvio. Convém esclarecer que, para Argento (1995), as rampas de colúvio estão vinculadas ao embasamento cristalino visto que é fruto de sua erosão. O colúvio (constituído de sedimentos provenientes do setor cristalino) foi identificado pela diferenciação da tonalidade de cinza que indica uma altimetria mais elevada em relação às áreas sedimentares circunvizinhas; lembrando que sua delimitação é imprecisa mesmo com uma imagem de maior detalhamento.

Na área sedimentar, o terceiro nível de identificação é marcado pelas bordas de terraço marinho. As drenagens foram identificadas por apresentarem coloração escura proveniente do corpo d’água.

A simbologia utilizada foi adaptada do Projeto RADAMBRASIL e do mapeamento realizado por Souza (2008), sendo que alguns símbolos foram modificados em função da escala de maior detalhamento. Estas adaptações ocorrem porque na proposta de Argento (1995) o autor aconselha que cada pesquisador utilize simbologias empregadas em manuais de mapeamento ou mapas já confeccionados.

Para representar no mapa a área cristalina, o colúvio, a planície fluvial e o terraço fluvial foi criado um preenchimento para cada uma das feições geomorfológicas no software CorelDRAW X3. O terraço marinho não apresenta preenchimento como consta na proposta de Argento (1995). Entretanto, os dois níveis de terraço marinho se diferenciam por letras inseridas em cada nível: Atm I para o nível de menor altitude e Atm

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com pequenas retas perpendiculares que procuram demonstrar a existência de um desnível topográfico entre este e os outros terrenos.

A área de colúvio, a planície fluvial e o terraço fluvial, além do preenchimento, ainda recebem letras. O colúvio Ac, a planície fluvial Apf e o terraço fluvial Atf. A drenagem é marcada por um traço contínuo azul. Para identificar as formas de fundo de vale, foram inseridos símbolos que mostram os diferentes tipos de fundo de vale. A linha de cumeada foi demarcada por uma linha contínua. Na proposta de Argento (1995) não há a utilização de cores, assim apenas as drenagens são coloridas e as outras representações são pretas.

Resultados e Discussões

Para a realização da análise comparativa entre as concepções de mapeamento geomorfológico propostos por Nunes et al (1994) e Argento (1995) foram realizados mapeamentos (Figuras 2 e 3), em um setor do município de Mongaguá (SP). Na Tabela 2 encontram-se as legendas dos mapeamentos. Como já esclarecido, esta representação não é apresentada de forma tradicional, mas de forma que as simbologias estão sobrepostas a ortofotocarta digital a fim de avaliar novas formas de representação cartográfica do relevo.

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Figura 3: Mapeamento realizado segundo a concepção de Argento (1995).

Feição Geomorfológica Tipos de modelados Nunes et al (1994) Argento (1995) Nunes et al (1994) Argento (1995) Cristalino Linha de Cumeada Colúvio Drenagem Terraço Marinho (Primeiro nível) Borda de Terraço Marinho Terraço Marinho (Segundo nível) Borda de Terraço Fluvial Não utiliza simbologia Terraço Fluvial Formas de fundo de vale Não propõe simbologia Planície Fluvial

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Para representar as áreas cristalinas Nunes et al (1994) sugere o uso de cores e Argento (1995) utiliza símbolos; estes dois recursos gráficos sobrepostos a ortofotocarta digital passam a idéia ao leitor de uma área mais elevada do que a área circunzinha.

Já na representação das áreas sedimentares Nunes et al (1994) e Argento (1995) se assemelham ao proporem a separação entre acumulação de terraço marinho, acumulação de terraço fluvial e acumulação de planície fluvial, mas divergem quanto à classificação da área coluvionar. Nunes et al (1994) insere o colúvio no setor sedimentar por compreender tal feição geomorfológica como uma área de sedimentação, já Argento (1995) compreende que o colúvio está inserido no cristalino, uma vez que é formado por sedimentos oriundos do cristalino.

Nunes et al (1994) propõe que as unidades geomorfológicas, neste caso os modelados de acumulação, sejam representados por diferentes tonalidades de uma cor. Já Argento (1995) indica que os setores sedimentares sejam representados por letras, pontos e traços horizontais; assim as áreas de acumulação de terraço marinho são representadas por letras; já as áreas de acumulação de planície fluvial, acumulação de terraço fluvial, acumulação marinha e o colúvio são representados por letras, pontos e traços horizontais.

É importante salientar que Nunes et al (1994) não propõe simbologia para as formas de fundo de vale, enquanto que Argento (1995) indica que o pesquisador deve utilizar as simbologias, já existentes, que representem tal feição geomorfológica. Em relação às bordas de terraço, as duas concepções de mapeamento geomorfológico analisadas utilizam simbologias diferentes; o mesmo acontece com as linhas de cumeada.

Ao comparar os mapas confeccionados constatou-se que o mapa geomorfológico realizado segundo a orientação de Argento (1995) sobreposta a ortofotocarta digital proporciona uma melhor legibilidade do que o mapa realizado com as simbologias propostas por Nunes et al (1994) sobrepostas a ortofotocarta digital. Esta melhor legibilidade ocorre, pois, no mapa que segue a orientação de Argento (1995), os símbolos possibilitam a visualização das feições geomorfológicas que estão retratadas na ortofotocarta digital, enquanto que no mapa de Nunes et al (1994) devido as cores, esta visualização pode ser comprometida, uma vez que as cores dificultam a visualização das formas de relevo.

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Em relação à utilização da ortofotocarta digital sotaposta aos símbolos propostos pelos autores, essa foi considerada de suma importância para uma melhor leitura do mapa, pois o produto de sensor remoto possibilitou uma maior facilidade na leitura. Tal facilidade ocorreu porque a ortofotocarta digital proporciona a visualização da textura que indica a tridimensionalidade do relevo, em comparação à imagem bidimensional, representada na cartografia geomorfológica tradicional através de cores e símbolos. Ao utilizar a ortofotocarta digital sob os símbolos, o leitor tem a possibilidade de realizar uma associação entre o símbolo e a feição geomorfológica que este representa. Além disso, é possível identificar com maior clareza as mudanças de altitude do terreno e o entalhamento dos fundos de vale. É válido lembrar que a ortofotocarta digital permite a visualização do curso d’água e não apenas os limites do leito menor do rio.

Considerações Finais

A partir da elaboração dos mapeamentos geomorfológicos segundo a orientação de Nunes et al (1994) e Argento (1995), foi realizada uma análise comparativa entre esses, buscando identificar as simbologias que melhor representam as feições geomorfológicas e apresentam uma melhor legibilidade. Assim, o mapa geomorfológico proposto por Nunes et al (1994) ao utilizar as cores fornece um número maior de informações, do que o mapa realizado segundo a orientação de Argento (1995), o que resulta em uma aproximação maior com as feições geomorfológicas existentes; já o mapa geomorfológico proposto por Argento (1995), quando sobreposto a ortofotocarta digital, apresentou-se como o mapa que proporciona uma melhor legibilidade em relação ao mapa realizado com as simbologias propostas por Nunes et al (1994).

Convém lembrar que a proposta de Nunes et al (1994) ao utilizar cores, compromete a leitura do mapa. Contudo deve-se destacar a análise morfométrica do setor cristalino que Nunes et al (1994) propõe. Assim, o cálculo de aprofundamento da drenagem e da dimensão interfluvial média fornece informações morfométricas detalhadas que a proposta de Argento (1995) não contempla.

Deste modo, a representação cartográfica do relevo segundo a proposta de Nunes et al (1994) resultam em um mapa em que o leitor deve recorrer constantemente à legenda para saber o que cada símbolo e cor representa. Já no mapa geomorfológico confeccionado com as orientações de Argento (1995) o leitor, tendo certo conhecimento geomorfológico, usando a visualização das formas de relevo proporcionada pela

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ortofotocarta digital, pode associar o símbolo à feição geomorfológica que representa sem recorrer constantemente à legenda.

Referências bibliográficas

ARGENTO, M.S.F. Mapeamento geomorfológico. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S.B. da (org.) Geomorfologia: Uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.

CHRISTOFOLETTI, A. A Teoria dos Sistemas. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, v. 1, n.2, p. 43-60. 1971.

NUNES, B. de A., et. al. Manual técnico de geomorfologia. Rio de Janeiro: IBGE, 1994. (Manuais Técnicos em Geociências).

PROJETO RADAMBRASIL. Departamento Nacional de Produção Mineral. Folhas

SD.24 Salvador: geologia, geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da

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ROSS, J. L. S. Geomorfologia: Ambiente e planejamento. São Paulo: Contexto, 1991. SATO, S. E. Zoneamento Geoambiental do Município de Mongaguá – Baixada

Santista (SP). Rio Claro, 2008. Dissertação (Mestrado em Geografia) – UNESP, Rio

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SOUZA, T. A. de. Uma contribuição ao conhecimento geomorfológico do litoral

Referências

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