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O papel da biblioteca na formação de leitores infantis

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Academic year: 2021

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UNIJUI-UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DHE- DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA

O PAPEL DA BIBLIOTECA NA FORMAÇÃO DE LEITORES

INFANTIS

Ijuí/RS 2016

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JULIANE LUIZA SCHONS CORTELETE

O PAPEL DA BIBLIOTECA NA FORMAÇÃO DE LEITORES

INFANTIS

Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul- Unijuí, sobre O

Papel da Biblioteca na Formação de

Leitores Infantis, como requisito para

obtenção do título de graduada em Pedagogia.

Orientadora: Profª Ms. Lídia Inês Allebrandt

Ijuí/RS 2016

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JULIANE LUIZA SCHONS CORTELETE

O PAPEL DA BIBLIOTECA NA FORMAÇÃO DE LEITORES

INFANTIS

Aprovada em 02/ 12 /2016.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Profª Ms. Lídia Inês Allebrandt Mestre em Educação UFSC

__________________________________________________

Profª Ms. Taíse Neves Possani

Mestre em História da Literatura -FURG

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4 AGRADECIMENTOS

Primeiramente а Deus que permitiu que tudo isso acontecesse, ао longo dе minha vida е não somente nestes anos como universitária, mas que em todos os momentos é o maior mestre que alguém pode conhecer.

A esta universidade, seu corpo docente, direção е administração que oportunizaram а janela que hoje vislumbro em um horizonte superior.

À minha professora orientadora Lídia Allebrandt, pelo suporte no pouco tempo que lhe coube, pelas suas contribuições е incentivos.

Agradeço а minha mãe, heroína que mе deu apoio, incentivo nas horas difíceis, de desânimo е cansaço.

Ao meu pai que, apesar das dificuldades, fortaleceu-me, o que foi muito importante. Agradeço principalmente ao meu esposo e ao meu filho que tiveram a paciência e a compreensão da minha ausência quando me deslocava até as aulas e nos momentos de estudo. Muito Obrigado, Marcelo, por tomar conta do nosso filho.

A todos que, direta ou indiretamente, fizeram parte da minha formação, о meu muito obrigado.

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5 RESUMO

Este trabalho, que traz como tema O Papel da Biblioteca na Formação de Leitores Infantis, ressalta a importância que o espaço da Biblioteca tem na formação da cultura da leitura que se inicia na infância, na escola e na família e que deve ser cultivada no decorrer da vida de todos. Para tanto, aprofunda referenciais que se baseiam nos estudos de Abramovich, Busatto, Sisto e Zilbermann, dentre outros, os quais refletem sobre o espaço/tempo da biblioteca, funções da leitura, da literatura e do ato de contar histórias. Evidencia como a prática de contação de história pode proporcionar benefícios e auxiliar aos seus ouvintes a cultivar a prática da leitura como norteadora para as suas vidas. Para tanto, traz a experiência de uma biblioteca pública de um pequeno município gaúcho e suas atividades, dentre elas a de contação de história, que é um projeto adotado pela Secretaria de Educação juntamente com a Biblioteca Municipal. Abrange também pesquisa com professores com a intenção de conhecer as razões pelas quais frequentam a biblioteca com seus alunos e o que pensam sobre o trabalho ali desenvolvido. A opção é pela pesquisa qualitativa e, metodologicamente, pelo estudo de caso, que compreendeu entrevistas com bibliotecárias e professoras; observações de sessões de contação de histórias; registro fotográfico dos espaços de uma biblioteca e registro no diário de campo. Os resultados apontamque a contação de história dentro do ambiente da biblioteca, além de proporcionar aos alunos o contato com diferentes obras literárias que fazem parte do seu acervo, também instiga a curiosidade destes e possibilita que procurem ler para além do horário escolar, fortalecendo a cultura da leitura. Além disso, pelo convívio nesse ambiente os sujeitos passam a frequentar esse espaço também em turnos inversos ao de escola para escolher os livros conforme necessidades e interesses.

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6 LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: AMBIENTE INTERNO DA BIBLIOTECA ... 25

Figura 2: DISPOSIÇÃO DE ALGUNS LIVRO ... 26

Figura 3: AMBIENTE DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA ... 26

Figura 4: TABELA DE FREQUÊNCIA À BIBLIOTECA ... 28

Figura 6: NARRAÇÃO DE HISTÓRIA ... 30

Figura 7: CONTADORA DE HISTÓRIAS ... 31

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7 SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO ... 8

2 - PAPEL DA BIBLIOTECA E A FORMAÇÃO DE LEITORES ... 11

2.1 POR QUE EXISTEM AS BIBLIOTECAS? ... 15

2.2 AS PRÁTICAS DE LEITURA E DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS E A FORMAÇÃO DE LEITORES ... 20

3 PRÁTICAS DE LEITURAS NO CONTEXTO DE UMA BIBLIOTECA PÚBLICA ... 25

3.1 PRÁTICA DA CONTAÇÃO E AUDIÇÃO DE HISTÓRIAS NA BIBLIOTECA ... 34

3.2 A PRÁTICA DE RETIRADA DE LIVROS NA BIBLIOTECA ... 38

3.3 A PRÁTICA DE PESQUISA ESCOLAR ... 40

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 42

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8 1 - INTRODUÇÃO

O grande tema é a Biblioteca, pois a mesma tem papel importante na educação de todos nós por possibilitar a difusão de conhecimentos e da cultura. O foco é o papel que a biblioteca pública exerce na formação de leitores na educação básica. Para tanto, buscamos compreender a origem da biblioteca, atuais características e práticas que desenvolve para atrair usuários e contribuir na formação de leitores. Dentre as práticas desenvolvidas, enfatizamos a contação de história no contexto de uma biblioteca, por criar oportunidade de propiciar a ampliação do campo de conhecimento do ouvinte, trazendo-lhe diferentes temas e obras literárias; resgatar a cultura da leitura e da pesquisa, além de estimular o frequentar esse ambiente que guarda um acervo de conhecimento.

A pergunta que norteou o trabalho foi: Qual é o papel da biblioteca na formação de leitores e como a escola e seus professores desde a Educação Infantil até os Anos Iniciais da Educação Básica dela usufruem para impulsionar a cultura da leitura?

Para tanto, optamos pela pesquisa qualitativa, e, metodologicamente pelo estudo de caso, que compreendeu entrevistas com bibliotecários, professores e a escuta de crianças; observações de sessões de contação de histórias; registro fotográfico dos espaços de uma biblioteca e registro no diário de campo.

No capítulo, O Papel da Biblioteca e a Formação de Leitores, abordamos como a biblioteca interfere na formação de leitores, explicitamos fundamentos que contribuem na compreensão do que é uma biblioteca e o porquê as bibliotecas estão inseridas na sociedade. Mencionamos também qual a função que um bibliotecário tem junto a esse estabelecimento, além de especificar como deve ser esse ambiente educador. Refletimos também o tema da contação de histórias e outras práticas de leitura que contribuem para a formação de leitores infantis. Discorremos sobre algumas dessas práticas que se constituem inspiradoras tanto para os bibliotecários como para os professores no ato de contar histórias e estimular os ouvintes a procurar e querer dar continuidade a essa e outras práticas leitoras que fomentam o frequentar a biblioteca e a querer ler.

No capítulo, Práticas Leitoras no Contexto de uma Biblioteca Pública, relatamos e analisamos a experiência desenvolvida na Biblioteca Pública Municipal Damares Müller de Quadros, de Sede Nova/RS, para tanto, trazemos um pouco da sua história, objetivos, funcionamento e práticas junto aos alunos das escolas públicas municipais e estaduais, bem

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9 como a população que a frequenta, na perspectiva de enfatizar a prática de contação de histórias e sua contribuição na formação de leitores.

Nas conclusões, explicitamos que esse estudo contribuiu para compreender de modo mais aprofundado a função que uma biblioteca desempenha na nossa sociedade junto à comunidade e que a implementação de um trabalho integrado entre a Secretaria Municipal de Educação e a Biblioteca contribui para efetivar a formação de leitores. Nesse sentido, verificamos que a contação de história é uma prática que vem para agregar e instigar a criança a ler e a constitui-se leitor. Por intermédio das observações realizadas constatamos que as crianças gostam de ouvir histórias e interagem com a contadora. Notamos que as crianças, mesmo sem conhecer a narrativa, utilizam as ilustrações para imaginar o enredo e, por meio da fantasia, produzem suas histórias e ficam maravilhadas quando essas se assemelham com aquela que realmente está escrita. Desta forma, identificamos nesses sujeitos o desejo de querer escutar a história e, depois, escolher obras de sua preferência para ler.

Em relação às professoras que frequentam esse espaço, notamos que ficam maravilhadas com o olhar das crianças quando lhes é apresentada a obra a ser contada ou lida, pois todas ficam esperando ansiosas o início da história, independente do grau de complexidade.

Outro aspecto que nos chamou a atenção refere-se ao fato de que a mesma pode ser frequentada por todas as crianças indiferentemente de sua faixa etária e que o silêncio somente é exigido na hora da narração de história, depois deste período cada qual expressa as suas ideias e opiniões desenvolvendo assim o seu pensamento crítico, além de aprender a se expressar em público.

Quanto à pergunta: de que maneira podemos utilizar as tecnologias como instrumentos de apoio para a formação de leitores?, as entrevistas apontaram que são ferramentas que criam possibilidades de leitura de diferentes gêneros textuais, mas é preciso saber usar as fontes seguras e confiáveis, e não se deixar seduzir pelas facilidades. A Escola necessita estar atenta para que os sujeitos não se distanciem da leitura de obras literárias no formato papel, pois esse gera outros sentimentos e interações. Atualmente, há muitos sites que disponibilizam obras, contatos com autores e ilustradores que oportunizam interações lúdicas e cativam os leitores.

A pesquisa também possibilitou-nos diagnosticar que duas bibliotecas públicas possuem espaço, modo de organização e funcionamento diferenciados e, dentre estas diferenças, destacamos: o números de livros em seus acervos, o trabalho desenvolvido com adultos contadores de histórias, a estrutura física, a organização dos espaços e tempos para

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10 atendimento ao público, isso porque pertencem a dois municípios com características e investimentos proporcionais ao seu tamanho e políticas culturais e educativas, sendo uma na cidade de Porto Alegre e outra no município de Sede Nova.

Finalizamos, afirmando que os resultados apontam que a contação de história dentro do ambiente da biblioteca, além de proporcionar às crianças contato com diferentes obras literárias que fazem parte do seu acervo, também instiga a curiosidade destes e possibilita que procurem ler para além do horário escolar, fortalecendo a cultura da leitura. Além disso, pelo convívio nesse ambiente os sujeitos passam a frequentar esse espaço também em turnos inversos ao de escola para escolher os livros conforme necessidades e interesses.

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11 2 - PAPEL DA BIBLIOTECA E A FORMAÇÃO DE LEITORES

Por muitos anos a biblioteca foi vista como um ambiente onde só poderia se fazer presente aquele que tivesse interesse em realizar algum tipo de leitura, e essa, na maioria das vezes, era orientada por alguém, o professor. Então, para aqueles que não possuíam o gosto e a cultura de ler, acabava se tornando algo que não gerava prazer e provocava no indivíduo o desinteresse pela leitura.

Era um ambiente que exigia ordem e silêncio de seus frequentadores, a ação nela executada era a de fazer a retirada de alguns livros e manter no mesmo lugar aquele manuseado, para assim manter a organização do ambiente. Crianças da Educação Infantil eram excluídas e não podiam frequentar a biblioteca, pois acreditavam que as mesmas não sabiam ler e devido a isso não havia necessidade de ir até esse local. Nas palavras de Abramovich, a biblioteca é um lugar de silêncio, de provocações e possibilidades, é só procurar.

E uma biblioteca é um centro de descoberta de silêncio repousante, de provocações para olhar, mexer e encontrar algo de saboroso ou novidadeiro... de possibilidades de sentar numa mesa e ficar por muito tempo virando páginas e páginas de livros raros, não encontráveis em casa... Um lugar onde se possa folhear qualquer espécie de livro publicado, brincar com dicionários e buscar palavras novas, imagens em livros de arte ou em revistas ou jornais de antigamente... Enciclopédias que têm verbetes sobre tudo, imensas, que pedem tantas vezes que se as leia de pé, tal o tamanho delas. E, sobretudo, possibilidades de encontrar toda espécie de livros que proporcionem encantamento, ludicidade, prazer, descobertas... Há tantos!!! É só escolher... (ABRAMOVICH, 2006, p.163).

Pensando sobre essa ideia, podemos concluir que uma biblioteca precisa ser um local que possa ser explorado de diferentes maneiras, que todos possam frequentá-la, sem exclusão de ninguém, seja por idade ou nível de leitura, pois desde muito pequenos temos, sim, a capacidade de ler de várias maneiras, seja lendo as imagens que estão inseridas no livro ou decodificando, compreendendo, interpretando o texto. É necessário proporcionar aos frequentadores da biblioteca experiências significativas com a leitura e contato com diferentes livros e que esses possam ser manuseados e lidos de diferentes maneiras, principalmente possibilitar que a imaginação desses sujeitos flua e vivam o encantamento das histórias.

Quando os PCNs (BRASIL, 1996) propõem a criação de uma biblioteca para servir de instrumento indispensável ao trabalho pedagógico na área de Língua Portuguesa (desenvolvimento da leitura e escrita), estão oficialmente colocando-a em uma posição privilegiada no contexto educacional. De fato, a criança desde pequena precisa ter contato

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12 com obras literárias para assim ter contato com a cultura escrita, desenvolver seu letramento e, ao mesmo tempo, aprender a gostar desta prática. Os PCNs (BRASIL, 1997, p. 58) abordam a temática de que: “Para tornar os alunos bons leitores a escola terá de mobilizar-se internamente, pois aprender a ler (e também ler para aprender) requer esforço”. Assim a escola deve toda se mobilizar e construir projetos que proporcionem práticas de leitura em horas plenamente estipulados, mas que envolvam todas as turmas, desde a Educação Infantil até os anos finais e Ensino Médio, pois cada qual irá realizar a sua leitura e da maneira que sabe executá-la.

Provavelmente, a biblioteca deixará de ser um local de castigo para o estudante infrator ou depósito de livros para tornar-se um ambiente interativo, ou, como afirma Perroti (apud BAJARD, 2002, p. 32):

A BI (Biblioteca Interativa) é instituída não apenas para difundir informações, mas sobretudo para, a partir delas, constituir-se em local de troca, de expressão e de produção. Ela possibilitará não apenas estimular, respeitar, reconhecer a expressão cultural da infância, como instigar, provocar, alimentar de várias formas as relações de crianças e jovens com o conhecimento, a cultura, a leitura, o mundo.

Em conversa com uma das bibliotecárias da Unijuí, Gislaine Nunes dos Santos1, questionamos: “Como na tua opinião é possível tornar a biblioteca um espaço atraente a todos – estudantes, familiares, comunidade em geral – sem esquecer sua finalidade principal: a promoção da leitura?”. Ela defendeu a seguinte ideia:

Primeiramente deve-se identificar o tipo de biblioteca (escolar, pública, universitária ou especializada). Bem como levantar dados sobre o perfil do usuário o qual a biblioteca atende (os gostos, finalidade de uso da biblioteca), além de considerar os objetivos da instituição os quais a biblioteca está vinculada/subordinada. Essas informações aliadas a outros fatores que devem ser considerados (planejamento, direção, avaliação e controle) são fundamentais para a elaboração de um projeto de leitura com seus objetivos claramente identificados e resultados que pretende-se alcançar (SANTOS, 2016).

Concluímos, então, que a biblioteca precisa ser planejada por gestores que realmente entenda qual a sua finalidade e também a sua função tanto na intervenção da educação como também na formação de leitores. Ao observar essas noções, a biblioteca estará apta a atender toda a família, contendo literaturas adultas, infanto-juvenil e infantil, além de proporcionar também diferentes espaços para a realização destas leituras.

A biblioteca também deve ser um local que contenha diferentes materiais, que possam ser utilizados para pesquisa de diversos assuntos que oportunizam informações riquíssimas.

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13 No entanto, atualmente, esses materiais são deixados de lado pelo fato de estarem disponibilizados na internet, que oferece todo e qualquer tipo de informação (em material escrito, audiovisual ou imagens) e com acesso muito mais rápido e fácil (e talvez mais prazeroso). O diferencial de se realizar uma pesquisa em uma biblioteca e não na internet é que o conteúdo do livro retirado de um acervo é de extrema confiança, pois nos mostra a ideia central que um autor possui sobre determinado assunto, já nas redes sociais não é possível de ser a mesma confiança, pois se podem encontrar lá ideias bem distorcidas daquela que pode ser considerada verdadeira, além de abrir uma imensidão de páginas cada qual explicitando o seu entendimento e confundindo ainda mais o seu leitor. Muitas são as possibilidades é preciso saber usar as fontes seguras e confiáveis.

Retornando a conversa com a bibliotecária da Unijuí sobre as novas tecnologias eu interroguei: “Como você vê a relação entre leitura e novas tecnologias nesses espaços educativos e na sociedade em geral?” Para ela,

[...] particularmente gosto de trabalhar com novas tecnologias educacionais, principalmente na questão da acessibilidade (possuo especialização na área bem como especialização em gestão de arquivos com ênfase em preservação). O uso de softwares na organização e disseminação da informação facilita muita a busca, recuperação e o controle de dados, bem como auxilia na preservação e compartilhamento de documentos no suporte digital. Eu tinha projetos de leitura que envolviam o uso de tecnologia assistiva voltada para pessoas com baixa visão e deficiência visual dentro no espaço da biblioteca. Ministrava cursos sobre o incentivo à leitura junta a família, usava como ferramenta auxiliar o moodle, além de softwares como power point e prezi e wiki (SANTOS, 2016).

A tecnologia na biblioteca pode servir com uma ferramenta de leitura, pois podemos trabalhar histórias através de programas disponibilizados nos computadores, mas esses devem ser elaborados e anteriormente programado pelo responsável para que não aconteça de possuir algum conteúdo impróprio para a faixa etárias dos frequentadores. Os livros áudio visuais (áudio books), embora ainda poucos, também envolvem a tecnologia e favorecem aos deficientes visuais ter acesso à literatura, o que favorece a formação de leitores. Além desses, há vasto acervo literário infanto-juvenil e adulto (em formato digital) disponível na internet para acesso on line.

O trabalho de estimulação da cultura da leitura e, sucessivamente, a formação de leitores, deve se ter início quando o sujeito está no útero de sua mãe, pela realização de contações de histórias, dando vida e sons aos personagens e pela voz e carícias em sua barriga transmitirá que isso é algo gostoso. Com o seu crescimento, essa prática deve ter continuidade e, em casa e Escola de Educação Infantil ter acesso a vasto acervo onde se encontra esse mundo de imaginação e fantasia que são os livros, para que possa brincar, olhar, ler do seu

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14 jeito. Pois como cita Abramovich (2006, p. 163), “Ler é um lazer que pode ser saboreado a qualquer hora e que até dispensa companhia... É um dos poucos brinquedos com que se pode brincar sozinho”.

Também é importante que os educadores proporcionem às crianças a possibilidade de interagir com os livros, por meio de leituras, encenações, recontes e pesquisas, mas desafiados de uma maneira lúdica e que realmente surja aquele desejo da procura, do “ir atrás”. Em uma reportagem do Jornal do Almoço, da Rede Globo (ano 2015), uma professora de literatura, desenvolveu um projeto voltado aos livros clássicos da literatura, sendo que cada aluno teve que ler uma obra, depois, juntos, construíram uma pequena exposição no pátio da escola, mostrando para os demais alunos que aqueles livros, apesar de ter uma linguagem mais coloquial, trazem uma história. Essa professora ao propor a seus alunos uma pesquisa, que sempre é vista com algo “ruim”, possibilitou que a mesma fosse construída de uma maneira lúdica e divertida capaz de envolver os alunos para que realizassem a atividade por ela proposta. É o que evidencia Luís Milanesi (2002, p. 58) quando afirma que:

[...] Se a tarefa escolar impõe pesquisas mecânicas resumidas a localizar e copiar, atrofiam-se as possibilidades estimuladoras de um espaço de informação para crianças. Certamente ela optará pela televisão, muito mais lúdica do que as bibliotecas convencionais.

Além de o professor criar oportunidades de leitura é necessário que o mesmo também a faça, servindo como exemplo para seus alunos, trazendo até eles e relatando trechos de obras que já se apropriou e que gostou, criando expectativa e a curiosidade em cada estudante para que procure e realizar também a sua leitura. Frantz (1998, p. 50) argumenta que: “O professor não apenas sugere mas também estimula seu aluno através dos mais diversos recursos ou técnicas. Muito importante é que ele mesmo dê seu testemunho de leitor, relatando aos alunos as suas experiências de leitura”.

Uma prática interessante para atrair leitores é a Contação de História de uma maneira criativa e que faz com que os personagens da mesma se tornem reais, colocando vida e prendendo a atenção do ouvinte. Busatto, em seu livro “Contar e Encantar: pequenos segredos da narrativa”, explica o porquê conta histórias:

Conto história para formar leitores; para fazer da diversidade cultural um fato; valorizar as etnias; manter a história viva; para se sentir vivo; para encantar e sensibilizar o ouvinte; para estimular o imaginário; articular o sensível; tocar o coração; alimentar o espírito; resgatar significados para nossa existência e reativar o sagrado (BUSATTO, 2003, p. 46).

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15 Agindo dessa maneira, com certeza, o professor/educador, juntamente com o trabalho desenvolvido no espaço da biblioteca, contribuirá e estimulará os educandos a serem leitores. E, como enfatiza Martins,

[...] a função do educador não seria precisamente a de ensinar a ler, mas a de criar condições para o educando realizar a sua própria aprendizagem, conforme seus próprios interesses, necessidades, fantasias, segundo dúvidas e exigências que a realidade lhe apresenta. Assim, criar condições de leitura não implica apenas alfabetizar ou proporcionar acesso aos livros (MARTINS apud FRANTZ, 1998, p. 49).

Ao analisar o que a autora afirma, reiteramos que é imprescindível que a biblioteca e o professor trabalhem na perspectiva do protagonismo do leitor que favorece o processo de letramento e no contato intenso com os livros e outros leitores.

2.1 POR QUE EXISTEM AS BIBLIOTECAS?

As bibliotecas surgiram bem antes de Cristo, pois no século IV, no Egito já existia locais onde eram guardados manuscritos da antiguidade, era conhecida como Alexandria e acreditam conter ali todo o conhecimento humano. Mas nesse período esses acervos de conhecimento não possuíam uma definição correta, somente com o passar do tempo surge então o termo Biblioteca que tem sua origem nos termos gregos biblíon (livro) e theka (caixa), significando o móvel ou lugar onde se guardam livros.

Ferreira (1986, p. 253), define a palavra Biblioteca no dicionário como:

1. Coleção pública ou privada de livros e documentos congêneres, organizada para estudo, leitura e consulta. 2. Edifício ou recinto onde se instala essa coleção. 3. Estante ou outro móvel onde se guardam e/ou ordenam os livros.

Dessa maneira consegue-se, então, construir um conceito do que seria uma biblioteca. Passados os anos, Fonseca, em seus escritos no ano de 1992 (p. 60), cita um novo conceito que se define “biblioteca menos como coleção de livros e outros documentos, devidamente classificados e catalogados, do que como assembleia de usuários da informação”.

Na reflexão abaixo, Fonseca nos orienta que não podemos utilizar e ver a biblioteca como um local cheio de livros servindo como um depósito e que somente podem participar e entrar nesse estabelecimento que tem interesse e tempo para ler. Mas que é um ambiente que serve também como um local de pesquisa de lazer de descontração e, principalmente, de adquirir conhecimento.

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16 [...] esse local labiríntico é, entretanto, e acima de tudo uma instituição, onde se desenham desígnios intelectuais, realizam-se políticas de conservação, elaboram-se modelos de recolha de textos e de imagens. Mais que um edifício com prateleiras, uma biblioteca representa uma coleção e seu projeto. Afinal qualquer acervo não só traz embutida uma concepção implícita de cultura e saber, como desempenha diferentes funções, dependendo da sociedade em que se insere (SCHWARCZ apud WISNIEWSKI, 2009, p. 409).

No decorrer dos estudos, constatamos que existem vários tipos de biblioteca e Barker e Escarpit assim as definem:

Existem vários tipos de biblioteca: bibliotecas nacionais e públicas, nas quais o edifício e o estoque são pagos com verbas públicas, como também os salários do pessoal geralmente preparado em cursos especializados. Nelas a utilização de todo esse material é feita gratuitamente pelo público; bibliotecas universitárias, para uso de professores e estudantes; bibliotecas escolares; bibliotecas especializadas, que fazem parte de instituições profissionais ou oficiais; bibliotecas industriais, mantidas por empresas para fornecer material de referência e talvez livros técnicos aos funcionários, bibliotecas comerciais, que emprestam livros mediante pagamento de uma taxa anual de uma pequena taxa de aluguel por livro (BARKER E ESCARPIT apud WISNIEWSKI, 2009, p. 441) .

Pode-se citar além destas, também a Biblioteca Infantil, a qual tem por objetivo o atendimento de crianças e visa despertar o encantamento pelos livros e pela leitura e a formação do leitor. Em Porto Alegre temos a Biblioteca Pública Lucília Minssen2, que oferece um acervo de livros infanto-juvenis e promove atividades culturais voltadas para crianças e jovens, sendo atualmente dirigida por Marília Sauer Diehl. É uma biblioteca referência em nosso Estado devido a sua organização e também espaço onde está inserida, promove a interação dos visitantes os encantando com tanta diversidade de livros e como estes estão organizados, além de encher os olhos com as salas todas montadas em cenários e que possibilitam ao visitante viajar na imaginação. Encontra-se nestas, além das obras expostas, a interação com os escritores das mesmas, onde juntos poderão interagir e discutir sobre os assuntos presentes nas obras.

Possui um acervo de 17 mil volumes, acrescidos de folhetos, periódicos, gibis e jogos. Está dividida em setores: Referência, Empréstimo, Sala Pé de Pilão com Brinquedoteca; Sala Lili Inventa o Mundo para espetáculos teatrais; Sala Tesouro Juvenis – Espaço Ivettte Zietlow Duro, setor obras raras e históricas da Literatura infanto Juvenil. Tem como objetivo principal a formação do jovem leitor e incentivo à leitura. Para tanto promove atividades culturais e de lazer, como: Encontro com escritores, Palestras, Saraus, Seminários, Cursos e Oficinas, Lançamentos de livros, Hora do Conto, Teatro infantil na Sala Lili Inventa o Mundo (sábado e domingo) e Sessões de teatro para escolas (de terça a sexta-feira com agendamento) (RS/SEDAC, 2016, p. 1).

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17 Entender e conhecer os diferentes tipos de bibliotecas nos faz perceber a função social de cada uma, como também ter um conhecimento mais apurado da comunidade na qual a biblioteca está inserida, evidenciando principalmente suas necessidades e seus anseios por informação e hábitos culturais. Está escrito no Manifesto da Unescosobre biblioteca:

Biblioteca é a porta de entrada para o conhecimento, fornece as condições básicas para o aprendizado permanente, autonomia das decisões e para o desenvolvimento cultural dos indivíduos e dos grupos sociais (UNESCO, 1976, p. 158-163).

A biblioteca se torna um ambiente de tomada de decisões no momento em que os seus sujeitos precisam escolher qual o livro que lhes mais interessa e saber selecioná-los quando esse for de uso para pesquisa. É, também, um local onde se encontra uma diversidade de conhecimentos, que abordam as diferenças culturais e mostram também as diferenças sociais que existem em nossas sociedades.

[...] não se pode pretender que as pessoas acostumadas a outras formas de entretenimento se transformem repentinamente em leitores, e muito menos que se possa dirigir o seu gosto literário (ANDRADE & MAGALHÃES, 1979, 57 apud ARRUDA, p. 13).

Pensando assim, podemos entender que para se adquirir o gosto e construir a cultura da leitura o sujeito precisa de um tempo de adaptação, no qual necessita de indicações de literaturas de fácil compreensão e no estilo que lhe agrada é preciso paciência e muita dedicação.

Além de conter livros, uma biblioteca também possui outros instrumentos de suma importância para o seu funcionamento e que estão voltados para a caracterização do ambiente. É preciso ter um prédio adequado de um tamanho que caiba todos os seus frequentadores, como também ser um ambiente organizado com livros expostos de maneira acessível a todas as faixas etárias. É muito importante também ser um local de fácil acesso, onde não se tenha muitas escadas ou seja em um local muito alto, causando assim medo e receio de uma criança em frequentar esse ambiente. Perrotti (apud MARICATO, 2005, p. 25) menciona que: “o espaço de leitura tem de ser extremamente acolhedor, preparado na medida da criança; ela pode encontrar obstáculos nem sentir medo de chegar ali”. A mobília também precisa ser adequada ao público que a frequenta, com prateleiras de fácil acesso e com mesas grandes para trabalhos em grupos como mesas e mais pequenas para realização de trabalhos individuais. Ser bem sinalizada, com placas identificando, tanto no prédio na qual está instalada, como também no trajeto para se chegar até ela. Ter um horário fixo de funcionamento, para que todos consigam encontrá-la aberta e poder desfrutá-la.

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18 Bamberger alerta para uma das deficiências de bibliotecas que prejudica a formação do leitor.

[...] a principal deficiência de muitas bibliotecas escolares é não oferecerem escolhas suficientes. As crianças têm de pegar o que encontram, e, quando o livro não se ajusta aos seus interesses sentem se decepcionada; em lugar de desenvolver- se, os hábitos de leitura são prejudicados (BAMBERG, 1991, p. 78).

É preciso muito cuidado e determinação para que não aconteçam situações em que as pessoas vão até a biblioteca e não encontram nada de agradável se decepcionando e não mais voltando. E, para que a situação acima não aconteça é preciso que as bibliotecas estejam sempre bem atualizadas, recebendo a cada passar de anos acervos diferenciados de livros, de diferentes coleções, tanto infantil como juvenil e adultos, para não acabar ficando sempre nos mesmos e assim não tendo muitas opções para seus frequentadores. Para a infância, procurar conter livros diferenciados, entre eles livros de alto relevo, sanfonados, de banho, de capa dura, coleções de contos clássicos, de poesias, poemas entre outros para que as crianças desde pequenas já estejam em contato com os diferentes gêneros literários existentes.

É difícil falar em biblioteca sem mencionar a figura daquele que toma conta da mesma, o bibliotecário, que durante séculos, se caracterizou como um organizador que estava ali para facilitar as incursões dos curiosos pelo universo do conhecimento e era visto por muitos como um mero guardião do saber. Luís Milanesi (2002, p. 16) retrata que o bibliotecário “[...] secular zelador de livros fixou-se no imaginário como o ser que lê e facilita aos autorizados a ler o acesso à leitura.” É um ser que está à disposição para orientar, ordenar, zelar pelo cuidado dos livros, mas que nunca perde a autoridade, conseguindo impor suas regras e normas para um melhor funcionamento e organização.

Apesar de rumores de que o livro, a biblioteca e, consequentemente, o bibliotecário não teriam mais espaço em uma sociedade em que a tecnologia está quase dominando todo e qualquer tipo de pesquisa, terem assustados as pessoas ela não tomou o lugar das velhas bibliotecas e dos velhos livros.

Além disso, Milanesi também destaca a importância da dimensão educativa e do relacionamento dos bibliotecários com os usuários.

Na área denominada ‘biblioteca escolar’, quase sempre vista como campo menor, uma vez que as técnicas de organização de acervo são elementares, o desafio maior não é o conhecimento dos assuntos que os escolares buscam ou as formas de organização dos acervos. A grande dificuldade é o alto grau de complexidade nas relações com os usuários. Aquele que se volta para atuar nesse campo, intermediando a informação e o processo educacional, deve, necessariamente, compreender muito bem a criança e o adolescente. Sem isso, sem essa dimensão

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19 educacional, o responsável pela biblioteca será, apenas, o agente da ordem dos manuais de regras (MILANESI, 2002, p. 65).

Dessa forma, o perfil de um bibliotecário exige que esse tenha um conhecimento mais aprofundado do que é ser criança e do que é ser adolescente e adultos, podendo, assim, selecionar os conteúdos dos livros e, também, entender o que cada faixa etária procura encontrar em uma leitura. No momento em que o responsável pela biblioteca se coloca à disposição para auxiliar ele precisa saber em qual lugar está o livro que essa pessoa necessita e também saber orientar qual o livro fala sobre o referido tema, facilitando a procura.

Perrotti orienta que o bibliotecário deve:

Processar as informações e criar nexos entre elas é um ato educativo. O responsável, portanto, é um educador para a informação, que nós chamamos de infoeducador, um professor com especialização em processos documentais. Uma rede de bibliotecas tem uma plataforma de apoio técnico-especializado, que é a área do bibliotecário, um especialista em planejamento e organização da informação. Junto com ele trabalham os educadores, que são especialistas em processos de mediação de informação. Dar acesso ao acervo não basta para que o aluno saiba selecionar e processar informações e estabelecer vínculos entre elas (PERROTTI apud REVISTA NOVA ESCOLA, 2006, s/p.).

É necessário que a biblioteca não se torne um simples depósito de livros, mas que esteja totalmente integrada a outras práticas, criando neste ambiente um espaço de leitura, com cenários e contações de histórias, proporcionando assim um bem estar para aqueles que a frequentam. Realizar uma contação de história ou leitura da obra e sem depois explorá-la, com o intuito de construir nos sujeitos curiosidade em ler novamente aquela obra ou procurar outras que sejam da mesma coleção, já modifica aquela rotina de simplesmente escolher um livro fazer a sua retirada e, posteriormente, devolvê-lo e retirar outro novamente.

Em um artigo da Revista Criança intitulado por “O Prazer da Leitura se Ensina”, há uma reflexão sobre a diferença entre atendimento de adultos e crianças pequenas em uma biblioteca.

As regras de uma biblioteca para adultos – silêncio e imobilidade – não valem para crianças, principalmente as mais novas. O espaço deve ser convidativo e confortável, permitir que elas circulem e falem. “E tem de ser um lugar de muita interação, onde adulto apoia e compartilha, ajudando a encontrar o caminho da leitura” (PERROTTI apud MARICATO, 2005, p. 25).

Cada biblioteca tem suas peculiaridades conforme sua função e público. Pensamos que o diálogo contribuiu para o ingresso da criança no mundo da biblioteca e da leitura. No entanto, às vezes, é preciso que haja momentos de silêncios e também de conversas e movimentos. Proporcionando, assim, aos visitadores poder usufruir do silêncio e concentração nos momentos de leitura e liberdade para escolher as obras de

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20 suas preferências e conversa e movimento para compartilhar os seus gostos com os demais colegas. O espaço deve ser confortável e que proporciona prazer no momento da leitura, estimulando esse sujeito a retornar a esse espaço.

2.2 AS PRÁTICAS DE LEITURA E DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS E A FORMAÇÃO DE LEITORES

A contação de história está totalmente interligada ao ato de ler, que tem por objetivo a formação de pessoas críticas, que pensam e saibam expressar suas ideias. FRANTZ (1998, p.18) enfatiza que: “Ler é, pois, atribuir sentidos. Nesse processo não se pode desvincular a capacidade do leitor de decifrar sinais da sua capacidade de atribuir-lhes sentido.” Para ela:

[...] a leitura pode ter duas funções distintas e opostas. A primeira, alienadora, quando fornece ingredientes que alimentam o mundo de aspirações ilusórias, desvinculadas de qualquer intenção questionadora. Uma segunda, reflexiva, que desperta no leitor reações face ao que a obra contém e a tudo que ela revive e evoca fora do sujeito (FRANTZ,1998, p.18).

É dessa maneira que as práticas de leitura, juntamente com uma contação de história de boa qualidade, contribuem para que se formem excelentes leitores. É preciso que se inicie cedo esse incentivo e envolvimento da criança no mundo da leitura, pois assim inicia a sua capacidade de refletir e também construir argumentos sobre a realidade que a cerca manifestando o seu contentamento e também descontentamento sobre o que vê e o ouve. Se constituirá um sujeito crítico e desafiador, procurando investigar e encontrando soluções para problemas de difícil resolução.

Bernard Charlot (1979, p.108-109) orienta que: “A imagem das crianças é, assim, o reflexo do que o adulto e a sociedade pensam de si mesmos. Mas este reflexo não é ilusão, tende ao contrário, a tornar-se realidade”

Refletindo sobre isso, é necessário que haja uma contação de história produtiva e que prenda a atenção de seus ouvintes e para isso o contador necessita conhecer o tema que trata a história e, principalmente, dar vida a essa narrativa, entrando de corpo e alma, usando diferentes sons, se caracterizando e até incluindo o ouvinte nessa narração. Os temas escolhidos, ao retratar a realidade em que esse sujeito está inserido, possibilitam mostrar hipóteses e construir juntos por meio de reflexões alternativas do que pode ser feito para que ocorram mudanças na sociedade atual.

Precisamos também compreender o que é Literatura e que esta abrange diferentes conceitualizações. Por isso trazemos, primeiramente, seu significado:

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21 Quanto a etimologia da palavra literatura, ao procedermos a um estudo, encontramos sua origem no termo em latim Littera, cujo significado é letra. Assim, podemos depreender que a literatura nos encaminha para o significado que nos remete ao desenvolvimento de uma série de habilidades que nos auxiliam tanto a ler como escrever adequadamente os diversificados tipos de produções literárias existentes (STEINLE, NANTES, SILVEIRA, PAGNAN, 2015, p. 10).

Notamos que a literatura proporciona não somente o estímulo à cultura da leitura, mas também favorece a escrita, pois ao ler os sujeitos aperfeiçoam sua escrita e incluem novas palavras no seu vocabulário.

Nas palavras de Louis de Bonald: “a definição de literatura adquire o significado de ser a ‘expressão da sociedade, como a palavra é a expressão do homem” (apud STEINLE, NANTES, SILVEIRA, PAGNAN, 2015, p. 10).

Desta maneira, a literatura é tida como produção que retrata a sociedade mas de uma maneira lúdica e instigante, mediante palavras que falam muitas verdades. Os primeiros contadores de história eram camponeses, lavadeiras, amas, pescadores, pois eram pessoas envolvidas com o povo e transmitiam de forma oral aquilo que acontecia na época, tentando muitas vezes amenizar o que estava sendo difícil de enfrentar. Essas histórias foram sendo escritas e surgindo assim as primeiras obras da literatura.

Compreendido o que é Literatura, é importante também utilizarmos de diferentes práticas de leitura, sendo que uma prática bastante desejada é a contação de história que possibilita, ao ouvir a narrativa, acompanhar as expressões faciais e corporais do contador. Cléo Busatto ao contar histórias aposta em algumas vias que são: ritmo, intenção e imagem, que se divide em verbal, sonora e corporal. Ela acredita que para a narração ter sucesso é preciso cativar o ouvinte para que crie imagens através de palavras, pois é através desta que o ouvinte pode construir em seu pensamento os seus personagens. A imagem sonora quase sempre vem ligada à corporal, a qual deve sempre estar em sintonia com o texto para que não ocorra o desvio da atenção para o movimento, por isso a narração e o corpo devem andar sempre juntos. A história quando narrada sem o uso do livro precisa ser memorizada e não decorada, pois pode acontecer o esquecimento, devemos seguir o que nos sugere Calvino (apud BUSATTO, 2003, p. 58): “Você pensar por imagem, fica fácil incorporar o texto”.

O livro a ser utilizados nas práticas de leitura, além de conter imagens coloridas e atraentes, precisa também apresentar uma linguagem de fácil compreensão, proporcionando assim que seus ouvintes lhe entendam e consigam viajar nessa leitura, como cita Held: “o livro é um segundo caminho, como o sonho, mas é sonho que dura, pois, sendo legível, tem o

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22 poder de se repetir. Ao me representar eu me crio, ao me criar eu me repito (HELD, 1992, p. 18 apud ALLEBRANDT, FEIL, FRANTZ, 1999, p. 83).

Aquele que executa a ação de contar história necessita conhecer o livro e o conteúdo que está impresso neste, pois muitas vezes a capa possui uma ótima ilustração, mas o tema e até a escrita não tem nenhum sentido. Acaba acontecendo o que a Ana Maria Machado afirma que:

Nem todo o livro é bom, e vários livros não valem as árvores que se derrubam para obter a polpa de celulose de que é feito o papel em que são impressos. Nós que gostamos de literatura e de livros, precisamos estar atentos hoje em dia para não sermos manipulados e não virarmos instrumentos da banalização do livro. (MACHADO, 1999, p. 82).

É importante levar em consideração o desejo que o leitor tem de apropriar-se de um determinado conhecimento, o mesmo só se tornará um leitor nato no momento em que esse livro lhe satisfazer o seu desejo, saciar a sua curiosidade e proporcionar um mundo bem diferente daquele encontrado no seu real, pois é isso que a leitura nos proporciona uma relação de real e imaginário. É o que afirma Held “dar à criança o gosto pelo conto e alimentá-la com narrações fantásticas, se escolhidos com discernimentos, é acelerar essa maturação com manipulação flexível e lúcida da relação real-imaginário” (HELD apud ALLEBRANDT, FEIL, FRANTZ, 1999, p. 92-93).

É por meio da contação de história que a criança é estimulada a desenhar, musicar, a sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, o brincar, o escrever e o querer ouvir de novo. É nela também que procuram verdades e informações que sanem a necessidade do momento que está vivendo, encontram ali as respostas para suas dúvidas, é o que nos ensina Abramovich (1997).

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil traduzem o que acima foi mencionado, pois a mesma traz a ideia de que: “possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos” (BRASIL/DCNEI, 2010, p. 25).

É comum as crianças serem isoladas de ambientes onde se encontra diferentes tipos de narrativas, pelo fato de as mesmas não serem letradas e por isso acabam estragando e rasgando as páginas dos livros, por isso as Diretrizes Curriculares, mais especificamente na sua proposta curricular, vem mostrar que essa prática deve ser executada e que todos cada qual da sua maneira realizam as suas leituras, sendo esses alfabetizados ou não, é muito importante também fornecer diferentes gêneros textuais, para ir se criando assim a cultura da leitura e o gosto por essas obras.

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23 Muitas vezes o leitor se encontra na leitura que está fazendo, isso acontece pelo fato de a história que ali está narrada retrata tudo aquilo que o mesmo vive, e faz com que ele se identifique com os personagens e os acontecimentos, estimulando-o a ler e ler, e fica triste quando a mesma acaba. Cada história apresenta uma moral, na qual está contida uma mensagem podendo ser de otimismo ou até da construção de olhar mais crítico sobre determinado assunto, mas o que importa é que o conhecimento é encontrado e aperfeiçoado pela e na prática da leitura.

A prática da leitura não tem local e nem horário para ser executado, é preciso somente haver interesse. E, como argumenta Abramovich (2006, p. 163), “Ler é um lazer que pode ser saboreado a qualquer hora e que até dispensa companhia... É um dos poucos brinquedos com que se pode brincar sozinho”.

Refletindo sobre isso, concluímos que no momento que estamos em posse de um livro, ou qualquer outro tipo de material que proporcione a leitura, estamos brincando, viajando, nos divertindo sozinhos e isso é algo fantástico e encantador. Essa ação é bem mais visível quando os leitores são crianças, já para os adolescentes adotar a cultura da leitura é mais difícil, pois o meio em que estes estão inseridos está a todo o momento oferecendo-lhes outras atividades que lhes proporcionem mais prazer do que ler.

Outro fator que contribui na formação de leitor é a cultura em que a mesma está inserido, isso deve ser considerado, pelo fato de não podermos exigir que as crianças se tornam leitoras se a sua comunidade não é um local onde existem livros, ou qualquer outro meio de leitura. Primeiramente se necessita disponibilizar aos estudantes em geral livros, jornais, revistas entre outros, que retratam as realidades ali encontradas, mostrando-lhes o quanto construímos conhecimento quando realizamos leituras e refletimos sobre o que lemos. Como mencionam Aguiar e Bordini (1988, p.16), em seu livro intitulado Literatura a formação do leitor: “A formação escolar, do leitor passa pelo crivo da cultura em que este se enquadra. Se a escola não efetua o vínculo entre a cultura grupal ou de classe e o texto a ser lido, o aluno não se reconhece na obra, porque a realidade representada não lhe diz respeito”.

O leitor, no momento em passa os seus olhos sobre as palavras descritas, necessita, além de executar essa ação, também ter o entendimento do que essa palavra significa, para assim compreender o que aquele texto quer nos dizer. Aguiar e Bordini (1988, p.15) afirmam que a “[...] formação do leitor de literatura não pode ser idêntica à do leitor genérico ou pragmático. A leitura em si implica o reconhecimento de um sentido, operado deciframento dos signos que foram codificados por outrem para veiculá-lo.”

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24 Paulo Freire, em uma Carta aos Professores, que foi retirada do livro intitulado como Professora sim, Tia não. Cartas a quem ousa ensinar e explica que:

Ler é uma operação inteligente, difícil, exigente, mas gratificante. Ninguém lê ou estuda autenticamente se não assume, diante do texto ou do objeto da curiosidade a forma crítica de ser ou de estar sendo sujeito da curiosidade, sujeito da leitura, sujeito do processo de conhecer em que se acha. Ler é procurar buscar criar a compreensão do lido; daí, entre outros pontos fundamentais, a importância do ensino correto da leitura e da escrita. É que ensinar a ler é engajar-se numa experiência criativa em torno da compreensão. Da compreensão e da comunicação (FREIRE, 1993, p. 27 - 38).

Desta maneira, concluímos que não basta somente ler por ler é preciso entender compreendendo o lido e reestruturando este na sua vida, podendo construir o seu pensamento e se posicionar sobre as ideias principais destacadas. Para que isso aconteça é preciso construir nas crianças desde cedo essa dinâmica de ler ou ouvir uma história e depois saber interpretá-la recontando-a ou reconstituindo-a.

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25 3 PRÁTICAS DE LEITURAS NO CONTEXTO DE UMA BIBLIOTECA PÚBLICA

A pesquisa foi realizada na Biblioteca Pública Municipal Damares Müller de Quadros, localizada no município de Sede Nova, Rua Antônio Lorenzon, número 000021, na parte superior do Prédio, contendo 70 metros quadrados de área. A mesma busca contemplar diferentes públicos, desde o infantil até o adulto; além desses, também tem obras para pesquisa, livros em braile e materiais áudio visuais. No espaço há: duas mesas redondas para estudo e exposição de coleções de livros, mais duas mesas para as bibliotecárias, contém várias que são fixas na parede e nestas estão distribuídas e organizadas por coleções e temáticas os livros do acervo. O espaço para a realização da contação de história tem um grande tapete com algumas almofadas nas quais as crianças podem ficar sentadas, neste também apresenta um cenário com árvores parecendo um lindo bosque com florestas. É um ambiente bem aconchegante e faz com que os ouvintes se sintam participantes da história. Como mostram as imagens abaixo.

Figura 1: AMBIENTE INTERNO DA BIBLIOTECA

Fonte: Dados empíricos produzidos na pesquisa (2016)

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26 Figura 2: DISPOSIÇÃO DE ALGUNS LIVRO

Fonte: Dados empíricos produzidos na pesquisa (2016)

Figura 3: AMBIENTE DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA

Fonte: Dados empíricos produzidos na pesquisa (2016)

A Biblioteca Municipal de Sede Nova foi instituída no dia 10 de dezembro de 2004, sob a lei N.º 728/04, que denominou a Biblioteca Pública Municipal Damaris Müller de Quadros. O prefeito em vigor naquela época era o senhor Walter Marodin Lopes.

A Biblioteca recebeu por nome Biblioteca Pública Municipal Damares Müller de Quadros, pois essa cidadã frequentava esse ambiente assiduamente fazendo a retiradas de diferentes livros, pois seu prazer era ler. Mas isso foi interrompido devido a um acidente de trânsito, que aconteceu no Campus da Unijuí, onde a mesma cursava Letras, levando-a ao óbito.

(27)

27 Os sujeitos dessa pesquisa foram: alunos das Escolas Municipais e Estaduais, da Educação Infantil e Anos Iniciais; duas bibliotecárias/contadoras de história (funcionárias cedidas pela SMEC) e professoras. A contação é desenvolvida pelas auxiliares de bibliotecárias e as professoras e as crianças são ouvintes da obra escolhida pela contadora.

Para entender o papel de uma biblioteca na formação de leitores buscamos analisar os discursos das bibliotecárias e das professoras, bem como as práticas desenvolvidas, interpretar as fotografias e os dados coletados nos registros das atividades desenvolvidas pela Biblioteca no se refere à contação de história, ao empréstimo de livros e /ou periódicos e uso do espaço para consulta de informações.

Em conversa orientada realizada com as bibliotecárias, estas mencionaram que desenvolvem um projeto criado pela Secretaria Municipal de Educação e que abrange a prática da contação de história. O mesmo tem como objetivo geral possibilitar o contato com o universo escrito por meio da contação de histórias aos alunos da Educação Infantil e dos Anos Iniciais matriculados na rede municipal e estadual de ensino em horários definidos para visitação e retiradas de livros. E traz como objetivos específicos:

Ler obras previamente selecionadas utilizando metodologias diversificadas e com obras adequadas para a fase do desenvolvimento do público presente;

Possibilitar o contato com o universo narrado da obra selecionada através da contação do mesmo;

Organizar um espaço agradável e propício para o contato com o universo literário (cantinho da leitura);

Organizar um mural para a exposição de desenhos, textos, propagandas literárias elaboradas em sala de aula pelas professoras e apresentados no dia da visitação à biblioteca, fotos de atividades desenvolvidas pelas auxiliares de biblioteca (SMED, 2016, p.1).

O projeto tem como metodologia oportunizar aos estudantes visitar a biblioteca pública Municipal para efetuar a retirada de livros, entrarem em contato com o acervo disponível e ouvir a leitura de uma obra literária. A atividade denominada “Hora do Conto” é organizada pelas auxiliares de biblioteca que contarão uma história para cada turma da Educação Infantil ao 5º Ano das escolas municipais e estaduais que visitarem o espaço da biblioteca. E, para a realização das visitas, é organizado um cronograma de visitação no qual consta o dia, o horário a turma e também o nome da escola, além de ter turmas que frequentam tanto no turno da manhã como no turno da tarde.

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28 Considerado as observações feitas, construímos uma tabela a qual demonstra quais turmas e professores participam da Hora do Conto, visita à biblioteca e retirada de livros.

Figura 4: TABELA DE FREQUÊNCIA À BIBLIOTECA

Data Turno Escola Ano/Turma Número de

crianças

Professora

30/05/2016 Tarde

Escola Estadual de Ensino Médio Professor Raimundo Almeida

1º Ano Lurdes

Heberarth 31/05/2016 Tarde Escola Estadual de

Ensino Médio Professor Raimundo Almeida

4º Ano 11 alunos Salete Canci

27/06/2016 Manhã

Escola Municipal de Ensino Fundamental João Didoné

Jardim 1 A Liliane

29/06/2016 Manhã

Escola Municipal de Ensino Fundamental João Didoné

1º Ano Elisabete

Hanauer

30/06/2016 Manhã

Escola Municipal de Ensino Fundamental João Didoné

2º Ano Lisiane de

Mattos

05/07/2016 Manhã

Escola Municipal de Ensino Fundamental João Didoné

5º Ano Dora

08/08/2016 Tarde

Escola Estadual de Ensino Médio Professor Raimundo Almeida

2º Ano Lurdes

Fonte: Dados empíricos produzidos na pesquisa (2016)

As duas funcionárias da Biblioteca do Município relataram que não são contratadas com bibliotecárias e sim como auxiliares de biblioteca, pois as mesmas são concursadas e estão em desvio de função por não mais poder exercer o cargo que exerciam anteriormente.

Quando questionadas sobre como definem a importância de uma boa biblioteca para a formação de leitores responderam o seguinte: Auxiliar A e B: “Para ser uma boa biblioteca a mesma precisa ter bons livros, ser bem equipada com computadores para o uso dos funcionários e também dos visitantes com internet, ser bem frequentada, estar em um local de fácil acesso para que todos consigam chegar até ela”.

A biblioteca escolar deve ser encarada como um espaço dinâmico e indispensável na formação do cidadão. É a biblioteca escolar que abrirá, ainda no ensino básico, os caminhos para que os alunos desenvolvam a curiosidade e o senso crítico que os levarão à cidadania plena (PIMENTEL, 2007, p. 28).

(29)

29 Sobre isso, Válio

[...] define biblioteca escolar como uma instituição que organiza a utilização dos livros, orienta a leitura dos alunos, coopera com a educação e com o desenvolvimento cultural da comunidade escolar e dá suporte ao atendimento do currículo da escola (VALIO, 1990 apud PIMENTEL, 2007, p. 28).

Em continuidade à conversa lhes perguntamos sobre o que mais gostam na sua profissão e a auxiliar A logo respondeu: “realizar as contações de história”. Isso porque é ela quem faz a contação de história junto com as turmas e quase sempre utilizando um livro de história e, após, mostrando as imagens. No decorrer da narração, a auxiliar possibilita que os ouvintes interajam dando suas ideias e expondo seus entendimentos.

Embora haja interação, constatamos que a dinâmica usada pela contadora necessita ser aprimorada e seria interessante que aprofundasse seus conhecimentos sobre o ato de contar histórias e a produção de sentidos pelas crianças. Algumas questões que são importantes serem respondidas pelo contador: Por que contar história? Para quem contar história? Como contar histórias? Que efeitos a história exerce na formação da criança?

Respondendo a primeira questão, a escritora Cléo Busatto, em seu livro Contar e Encantar: pequenos segredos da narrativa, como já explicitado anteriormente, nos orienta:

Conto história para formar leitores; para fazer da diversidade cultural um fato; valorizar as etnias; manter a história viva; para se sentir vivo; para encantar e sensibilizar o ouvinte; para estimular o imaginário; articular o sensível; tocar o coração; alimentar o espírito; resgatar significados para nossa existência e reativar o sagrado (BUSSATO, 2003, p. 46).

É importante também informar aos ouvintes quem é o autor e o ilustrador da obra, pois, como se refere Fanny Abramovich:

E quanto é importante dizer o nome do autor, mesmo quando a criança ainda é pequenina, não sabe ler, e só escutar a narrativa... Tornar constante a apresentação do nome verdadeiro e completo da história e do escritor, pois compreender o que é uma obra e o que significa a autoria só pode acrescentar [...] (ABRAMOVICH, 2006, p. 160).

Sisto, em reflexão intitulada por Contar história, uma arte maior, aponta a ideia do papel do contador de história:

E quem é que dá esse status de arte, tão cutânea, ao contar história?

A dignidade de quem conta, ao lidar com a palavra, sua ou do outro. A ética de quem conta, ao usar esse instrumento de sedução, tão aberto aos mecanismos de manipulação. Não é o carimbo da biblioteca, nem a exposição na prateleira dos livros de arte da livraria, nem o lugar fixo entre as dissertações e as teses universitárias (e nós, não temos, nem ao menos, uma crítica especializada no assunto!) que garantem o lugar de arte para o contar histórias. É o fazer, “in vivo”

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30 (que é mais que “in loco”), que é este fazer que permite quase tocar o texto com as mãos, quase roçar nos olhos do ouvinte com a história, quase apresentar as infinitas possibilidades de leitura de um texto. A arte do contar histórias opera antes com a noção de sugestão, de esboço. Nenhum contar é definitivo e pronto e acabado. Toda história contada oralmente é antes de tudo, uma obra em processo, que precisa do outro para ser completada (SISTO, 2007, p. 3).

Assim, constatamos que é preciso encantar o ouvinte com a narração fazendo o olhar deste brilhar com a história e o mais importante é possibilitar que participe da narrativa viajando e imaginando os personagens e os cenários.

Figura 5: HORA DO CONTO

Fonte: Dados empíricos produzidos na pesquisa (2016)

Figura 6: NARRAÇÃO DE HISTÓRIA

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31 Figura 7: CONTADORA DE HISTÓRIAS

Fonte: Dados empíricos produzidos na pesquisa (2016)

Voltando à conversa com as funcionárias, lhes perguntamos quais atividades que as mesmas exercem junto à biblioteca. A auxiliar A3 mencionou que tem como função realizar as contações de história e também atender na retirada dos livros. Isso porque cada criança que vem para a visita à biblioteca pode fazer a retirada de um livro, e este fica anotado em uma ficha e, na próxima visita, terá devolver e poderá então retirar outro novamente. Já a auxiliar B4 informou que somente realiza a retirada dos livros e auxilia na escolha das obras, pois não gosta de contar histórias.

Perguntadas sobre quais as dificuldades encontradas no seu trabalho, as auxiliaresA e B foram unânimes nas respostas, relatando sobre “a falta de materiais para a contação de história, de computadores e de telefone, pois a biblioteca não possui telefone fixo somente os particulares das auxiliares.”

Acreditamos que uma biblioteca precisa estar bem equipada para que seus frequentadores também possam chegar até ela e se sentir bem e satisfeitos por encontrar ali o que realmente necessitam: espaço para pesquisa, livros e acesso às informações e bibliotecas virtuais, além de atendimento qualificado.

Nesse momento, elas expressam necessidades próprias para o exercício da função: materiais permanentes que lhes iria auxiliar na melhor organização do ambiente e na contação de história de maneira lúdica, pois se desenvolvida de modo criativo a mesma contribuirá para

3

Auxiliar da Biblioteca Municipal Damares Müller de Quadros, Cleusa Flach

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32 que ocorra um incentivo maior ao prazer da leitura pelos frequentadores, como relata Carvalho:

[...] algumas pessoas criam o gosto pela leitura pelo exemplo dos familiares, outras, por influência de professores ou por circunstância fortuitas de suas histórias de vida. No entanto, a formação de leitores em grande escala, via escola, só ocorrerá se houver uma política de leitura, traduzida na adequada formação de professores leitores, na oferta abundante de bons e variados materiais escritos, e na instalação de bibliotecas e salas de leitura bem equipadas, dinamizados por bibliotecários (CARVALHO, 2005, p. 67).

Além de emprestar livros, a biblioteca também empresta CD, DVD e livros de pesquisa. Quando questionadas se elas, por estarem dentro do espaço da biblioteca, realizam muitas leituras relataram que sim, pois todo dia pegam um livro qualquer e leem.

A atuação do bibliotecário é de fundamental importância, mas além destes, o incentivo deve partir também do professor, que, além de proporcionar aos seus alunos a prática da leitura de diferentes obras o espaço escolar e familiar, deve desenvolver a cultura permanente da leitura, pois, assim, por si procurará os locais onde estão disponíveis os acervos de livros.

Consciente do papel do educador na formação de leitores também conversamos com a professora5 do 4º ano de uma escola estadual. Perguntamos-lhe sobre qual seria o papel da biblioteca na formação de leitores ela respondeu que [...] é um ambiente muito importante, pois é um local onde se tem acesso aos livros e serve como um ponto de referência e, devido à disposição dos livros, favorece ao aluno a procura e, consequentemente, a leitura de diferentes obras.

Em relação ao ambiente da Biblioteca Municipal Damares de Quadros, afirmou que “é um ambiente bem agradável, onde todos se sentem bem. Os livros estão sempre disponíveis aos usuários, as bibliotecárias deixam com que os alunos manuseiem os livros, podendo haver barulho e conversas entre os alunos”.

Ao refletir sobre esse aspecto de sua fala, recordamos aquilo que evidencia o artigo da Revista Criança intitulado: O prazer da leitura se ensina, segundo o qual,

As regras de uma biblioteca para adultos – silêncio e imobilidade – não valem para crianças, principalmente as mais novas. O espaço deve ser convidativo e confortável, permitir que elas circulem e falem. “E tem de ser um lugar de muita interação, onde adulto apoia e compartilha, ajudando a encontrar o caminho da leitura”, detalha o especialista” (apud MARICATO, 2005, p. 25).

Constatamos que a mesma considera a biblioteca um ambiente importante na formação de leitores e por isso que gosta de trazer seus alunos para que possam ouvir história,

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33 pesquisar e, também, fazer suas próprias escolhas, satisfazendo seus gostos literários. Por isso, no que se refere à participação dela e da sua turma nas sessões da Hora do Conto, mencionou que: “sempre participa e que com a história que foi contada procura trabalhar novamente em sala de aula, envolvendo-a com alguns conteúdos”.

Isso nos mostra que a prática da contação de história não fica totalmente restrita à biblioteca e sim acompanha os alunos até a sua escola, dentro de sala de aula e isso é muito bom, pois nota-se que as professoras também estão dispostas a incrementar os seus planejamentos e buscar na literatura argumentos a serem debatidos em conjunto com seus alunos.

Em continuidade à conversa com as professoras, a educadora Salete Canci, da turma de 4º ano de uma escola pública estadual, assim se manifestou sobre a prática de contar histórias e a contadora de história: “considero a prática de contar história maravilhosa e percebo que a contadora proporciona aos alunos a participação destes na narração, estimulando-os a prestar atenção e também lhes convidando para interagir com os personagens das diferentes obras literárias. Também aprecia que a contadora não impõe regras de silêncio durante a narrativa.”

A fala da professora nos permite refletir sobre como a contadora de história deve agir durante a sua narração: será que quando o ouvinte está em total silêncio ele está entendendo o lido ou simplesmente está calado por que é uma exigência? É importante que, além da fala do contador, o ouvinte também possa participar dando a sua opinião sobre o que pensa que irá acontecer na próxima página instigando assim a sua curiosidade e expressando o seu pensamento, a sua ideia, o que contribuirá na formação de um leitor criativo e crítico. Como assinala Sisto (ano 2007, p. 03) em seu Ensaio contar história, uma arte maior: “tanto a leitura como a narração oral, fazem o ouvinte experimentar o papel de co-autor (sic)”.

A criança quando vai a uma contação de história quer ouvir a narrativa e também entendê-la e, para isso, é importante que essa narração possa ficar presente na vida daquele que a ouviu, servindo como uma lição de vida, como se refere Sisto:

Mas duvido que uma história bem contada não produza ecos no ouvinte! Ecos que se prolongam para além do momento do narrado. Essas marcas, visíveis e invisíveis, nem sempre se pode perceber no calor da hora. Quem ouve uma história quer sempre ser atingido, de alguma forma, quer ser atingido [...] (SISTO, 2007, p. 02).

Perguntamos à professora sobre quais contribuições a biblioteca pode trazer para o aprendizado dos alunos e ela respondeu que: “a criança adquire muitos aprendizados, pois a mesma viaja no mundo da leitura. As crianças já vêm para a sala de aula com noções de alguns conteúdos pelo fato de já terem lido sobre aquele assunto e isso é muito bom pois assim acontece uma troca de conhecimentos entre o aluno e o professor, onde ambos aprendem coletivamente”.

Referências

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