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Os recursos e a celeridade processual: quadro comparativo a partir do novo código de processo civil

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

MATEUS HAMILTON SILVEIRA LAZARI

OS RECURSOS E A CELERIDADE PROCESSUAL:

QUADRO COMPARATIVO A PARTIR DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Ijuí (RS) 2014

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MATEUS HAMILTON SILVEIRA LAZARI

OS RECURSOS E A CELERIDADE PROCESSUAL:

QUADRO COMPARATIVO A PARTIR DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Mestre Lisiane Beatriz Wickert

Ijuí (RS) 2014

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Aos professores de processo civil da UNIJUÍ, especialmente à minha orientadora Lisiane Beatriz Wickert, que com a clareza de seus ensinamentos despertam em inúmeros acadêmicos o gosto pela matéria.

A todos que me auxiliaram profissionalmente durante a jornada acadêmica, com ênfase ao pessoal da OAB, da Vara do Trabalho, da 2ª Vara Criminal e da Promotoria de Justiça Especializada de Ijuí.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, sobretudo aos meus pais, Clóvis e Ana, por tudo o que fizeram por mim durante todos os anos da minha vida, sem os quais nada disso seria possível. O afeto, o orgulho e a admiração que tenho por vocês é algo imensurável.

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“Se uma Justiça lenta demais é decerto uma Justiça má, daí não se segue que uma justiça muita rápida seja necessariamente uma Justiça boa. O que todos devemos querer é que a prestação jurisdicional venha a ser melhor do que é. Se para torná-la melhor é preciso acelerá-la, muito bem: não, contudo, a qualquer preço.”. José Carlos Barbosa Moreira.

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica visa analisar os rumos trilhados pelo Legislador na busca da celeridade processual através da inovação do sistema recursal do novo Código de Processo Civil (Projeto de Lei 8.046/2010). Para tanto, faz-se, em dois capítulos, uma análise acerca da morosidade processual a das alternativas até então disponibilizadas pelo Legislador objetivando auferir a celeridade, bem como um quadro comparativo entre o atual e o novo Código de Processo Civil no tocante à parte recursal e, sobretudo, se efetivamente o Legislador terá êxito em sua pretensão a partir destas mudanças.

Palavras-Chave: Código de Processo Civil. Sistema recursal. Inovação. Morosidade. Celeridade.

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ABSTRACT

This monographic research work aims to analyze the course trodden by the legislator in the pursuit of speedy trial through the appellate system innovation of the new Code of Civil Procedure (Bill 8.046/2010). To do so, it is to, in two chapters, an analysis of the procedural delays until then the alternative offered by Legislator order to obtain speed, as well as a comparison chart between the current and the new Code of Civil Procedure regarding the appeal of and especially if the Lawgiver effectively succeed in its claim from these changes.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...9

1 A MOROSIDADE DO JUDICIÁRIO E AS VÁRIAS REFORMAS PROCESSUAIS COM VISTAS A EFETIVAR A CELERIDADE DO PROCESSO...11

1.1 A morosidade processual e sua possível relação com a letra da Lei...11

1.2 Alternativas buscadas pelo Legislador...17

2 ANÁLISE ENTRE O ATUAL E O NOVO SISTEMA RECURSAL COM VISTAS A POSSIBILIRAR A CELERIDADE DO PROCESSO...26

2.1 Comparativo entre o atual e o inovado sistema recursal...26

2.1.1 Recursos em primeiro grau...28

2.1.2 Recurso em nível de Tribunal...34

2.2 A esperada efetividade do sistema recursal a partir do novo código...42

CONCLUSÃO...46

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INTRODUÇÃO

Grande parte dos cidadãos brasileiros que vão ao Poder Judiciário em busca do bem necessário à manutenção de seu direito se deparam com um problema já conhecido: a morosidade da justiça brasileira, fato este que vem sendo enfrentado há anos e é temerariamente crescente no cenário nacional.

Mesmo não sendo de exclusividade brasileira, já que atinge a grande maioria dos países – inclusive os chamados de primeiro mundo – a morosidade da justiça vem gerando profunda descrença na população, que, no mais das vezes, relaciona a lentidão processual com a ineficácia da legislação atualmente existente.

E no processo civil não seria diferente. Instituído no ano de 1973 e ainda vigente no ordenamento jurídico pátrio, o Código de Processo Civil não conseguiu acompanhar a evolução da sociedade contemporânea e acabou por ficar desatualizado, embora o Legislador tenha realizado inúmeras reformas com vistas a efetivar a celeridade processual.

Após várias reformas processuais, foi elaborado, no ano de 2010, através de uma comissão de juristas, o anteprojeto do novo Código de Processo Civil (PLS 166/2010) que, se sancionado, instituirá no ordenamento jurídico brasileiro um novo códex processual, o qual traz em seu âmago, em soberbíssima exposição de motivos, a promessa da efetividade do provimento jurisdicional, especialmente no tocante aos recursos.

Sabe-se que o sistema recursal, no imaginário popular, é o fator determinante que induz à morosidade processual, sendo esta a principal queixa dos cidadãos litigantes, motivo

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pelo qual o Senado Federal e a Câmara dos Deputados, pretendendo a celeridade processual, realizaram o estreitamento das vias recursais existentes.

E o objetivo do referido estudo é justamente analisar se a elaboração de um novo Código de Processo Civil, sobretudo da condensação do sistema recursal, efetivamente trará ao cidadão litigante o bem pretendido em tempo aceitável ou se a inovação de todo este aparato será apenas cosmético.

Com base nisso, será realizada uma análise acerca da morosidade processual no cenário brasileiro desde a elaboração do Código de Processo Civil de 1974 e sua eventual relação com a legislação atualmente existente, bem como dos mecanismos até então disponibilizados pelo Legislador visando auferir a celeridade processual.

Noutro tanto, será realizado um quadro comparativo entre o atual e o novo sistema recursal do Código de Processo Civil, discorrendo sobre a nova sistemática das normas com as vindouras alterações propostas pela comissão de juristas para, ao final, em uma análise empírica, abordar se efetivamente haverá êxito nesta pretensão.

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1. A MOROSIDADE DO JUDICIÁRIO E AS VÁRIAS REFORMAS PROCESSUAIS COM VISTAS A EFETIVAR A CELERIDADE DO PROCESSO

A morosidade processual é um triste fenômeno que atinge quase que a maioria dos litigantes do judiciário brasileiro, que durante considerável tempo apenas observam o vagaroso girar da máquina judiciária sem, todavia, terem a certeza da resolução do conflito posto em juízo em tempo aceitável.

Isto se dá pela multiplicidade de percalços a serem enfrentados durante este processo, dentre os quais pode-se elencar o complexo sistema recursal do código de processo civil, bem como a falta de estrutura física do judiciário brasileiro para acompanhar a crescente demanda processual.

Embora presentes tais dificuldades, o Legislador brasileiro, desde a instituição do Código de Processo Civil de 1973, e até antes, durante a vigência do Código Processualista de 1939, procurou disponibilizar para as partes em conflito diversos mecanismos para combater a morosidade processual e entregar ao seu titular o bem da vida do qual necessita à manutenção de seu direito.

E neste capítulo será feito um panorama acerca da morosidade processual no judiciário brasileiro desde a instituição do Código de Processo Civil de 1973 (Lei 5.869/1973) e se estes guardam relação com os recursos hoje existentes, bem como algumas das reformas processuais de grande notoriedade realizadas pelos congressitas com o intuído de auferir a celeridade processual (BRASIL, 1973).

1.1 A morosidade processual e sua possível relação com a letra da Lei

“Mas a justiça atrasada não é justiça; senão injustiça qualificada e manifesta.”, já dizia Rui Barbosa, em discurso na Faculdade de Direito de São Paulo, no ano de 1920. E efetivamente, a “justiça atrasada” enseja aquela sensação de que a verdadeira justiça não foi feita. Não apenas por este motivo, mas também, é que de longa data o Poder Judiciário vem sofrendo duras e pesadas críticas por conta da morosidade processual, não sendo novidade que a grande maioria dos processos se arrastam ao longo dos anos sem que haja uma solução ao conflito posto em juízo em tempo aceitável.

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Aliás, de frisar que o próprio Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em pesquisa realizada no final do ano de 2009, divulgou que a morosidade da justiça brasileira foi a principal queixa dos cidadãos junto à Ouvidoria do referido Órgão, representando quase que a metade dos atendimentos realizados, o que não é pouco (AGÊNCIA CNJ DE NOTÍCIAS, 2009).

É manifesto que o problema em comento não é de exclusividade deste país, bem pelo contrário. A problemática se revela de caráter praticamente universal. Nesse sentido, pontua José Carlos Barbosa Moreira (2004, p. 2):

O submito nº 1 é a crença, bastante difundida, de que se cuida de fenômeno exclusivamente brasileiro, ou quando nada de que a posição de nosso país, na escala planetária, é aí tão escandalosamente ruim como a que cabe em tema de distribuição de renda. Sem de longe insinuar que isso nos sirva de consolo, ou nos permita dormir o sono de boa consciência, ouso assinalar que o problema é praticamente universal e alarma não poucos países do chamado primeiro mundo. Há décadas frequente congressos internacionais de direito processual, e a nenhum assisti em que não ouvisse ao propósito gemidos e lamentações, vindo dos mais diversos quadrantes.

É fato notório, no entanto, que no Brasil a situação está se agravando gradativamente com o passar dos anos de maneira temerária, fazendo com que cada vez mais o Poder Judiciário entre em descrédito com a população, que está fadada com a demora nos julgados. E não é preciso ir muito longe para verificar tal mazela.

Em meados dos anos 1970, o Código de Processo Civil de 1939 (Decreto-Lei n.º 1.608/39), que vigeu até o final de 1973, já sofria por não haver a real efetividade e não mais acompanhar os anseios da população, tampouco a evolução da sociedade brasileira, conforme ficou expresso na exposição de motivos para a elaboração de um novo Código:

Os princípios informativos do Código, embora louváveis do ponto de vista dogmático, não lograram plena efetivação. A extensão territorial do País, as promoções dos magistrados de entrância para entrância, o surto do progresso que deu lugar à formação de um grande parque industrial e o aumento da densidade demográfica vieram criar considerável embaraço à aplicação dos princípios da oralidade e da identidade da pessoa física do juiz, consagrados em termos rígidos no sistema do Código. Os inconvenientes resultavam não do sistema, mas de sua adaptação às nossas condições geográficas, a cujo respeito falharam as previsões do legislador. Não se duvidava, pois, da

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excelência do princípio da oralidade, mas se apontavam os males de uma aplicação irrestrita e incondicional à realidade brasileira. (BRASIL, 1974, p. 12).

Neste período, já pretendia o Legislador “simplificar a estrutura do Código, facilitar-lhe o manejo, racionalizar-facilitar-lhe o sistema e torná-lo um instrumento dúctil para a administração da justiça.”, o que veio a concretizar-se, de certa forma, um ano após sua elaboração, com a vigência do novo Código (BRASIL, 1974, p. 33).

Com efeito, a instituição do Código Processualista Civil de 1973 (Lei 5.869/73 e a subsequente retificação dada pela Lei 5.925/73) trouxe grandes e benéficas inovações aos operadores do Direito e, consequentemente, ao cotidiano forense.

Destaca-se, como um bom exemplo, a criação do instituto do “julgamento do processo no estado em que se encontra”, ferramenta que se revelou de grande proveito ao ordenamento jurídico pátrio, objetivando, dentre outros aspectos, a efetividade do provimento jurisdicional, sendo amplamente utilizado pelos julgadores ainda nos dias atuais.

O que o processo ganha em condensação e celeridade bem podem avaliar os que lidam no foro. [...] Assim, não se pratica ato inútil. De outra parte, não sofre o processo paralisação, dormindo meses nas estantes dos cartórios, enquanto aguarda uma audiência, cuja realização nenhum proveito trará ao esclarecimento da causa, porque esta já se acha amplamente discutida na inicial e na resposta do réu. Com a adoção desta nova técnica, bem se vê quanto ficou simplificado o sistema do processo civil. (BRASIL, 1974, p. 22)

Mas igualmente como ocorreu com o codex de 1939 anos após sua inserção no ordenamento jurídico brasileiro, o atual Código não acompanhou a evolução da sociedade contemporânea, que cada vez mais vai ao Judiciário para tentar resolver seus conflitos, o que vem ocasionando o enxerto de novas regras com vistas a efetivar o andamento do processo.

Nesse sentido, as palavras de Jaqueline Mielke da Silva e José Tadeu Neves Xavier (2006, p. 200) bem retrataram a relação das demandas processuais e da sociedade moderna.

É inegável que o Direito Processual Civil está em descompasso com a realidade contemporânea, em que pese termos alguns exemplos de tentativa de adequação. O nosso modelo de processo foi elaborado a partir de teorias

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que sustentam a modernidade. Todavia, a sociedade se transformou. Vivemos hoje em uma sociedade globalizada, onde os conflitos de massa – com ações absolutamente idênticas – se dão em larga escala. Temos hoje um verdadeiro “festival” de “recorta e cola”, o que sobrecarrega tremendamente os foros, impedindo a efetividade da prestação jurisdicional. São pilhas e pilhas de processos intermináveis, com todos os atos jurisdicionais idênticos. Trata-se de uma verdadeira perda de tempo a apresentação de peças com o conteúdo extremamente igual em todos eles.

Sobre o assunto, José Eduardo Carreira Alvim, Leandro Ribeiro da Silva e Antônio Campos (2005, p. xi), entendem que:

É até possível que os grandes codificadores tenham imaginado que estavam elaborando obras definitivas, senão eternas pelo menos duráveis, mas o tempo revelou o contrário. O certo é que os Códigos envelheceram e aos poucos cederam espaço aos novos direito.

E efetivamente, as demandas em massa, como acima citado, são um problema real enfrentado no Judiciário nacional. Em que pese algumas tentativas de adequação articuladas – com a elaboração de novas normas processuais – as demandas continuam aumentando de forma flagrante, além de inúmeros outros fatores externos que colaboram para a demora processual.

Sob esta ótica, José Carlos Barbosa Moreira (2004, p. 4), com a clareza que lhe é peculiar, bem exemplifica os fatores externos que, a seu ver, contribuem com a morosidade do Judiciário brasileiro. Nota-se, no ponto, que o doutrinador absolve a letra da Lei, não lhe atribuindo culpa total em relação à morosidade processual:

No entanto, a demora resulta da conjugação de múltiplos fatores, entre os quais não me parece que a lei, com todas as imperfeições que tem, ocupe o lugar de máximo relevo. Recordemos, antes de mais nada, a escassez de órgãos judiciais, a baixa relação entre o número deles e a população em constante aumento, com a agravante de que os quadros existentes registram uma vacância de mais de 20%, que na primeira instância nem a veloz sucessão de concursos públicos consegue preencher. Teríamos de incluir no catálogo das mazelas o insuficiente preparo de muitos juízes, bem como o do pessoal de apoio;

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Distante não é o entendimento de Daniel Ustárroz e Sérgio Gilberto Porto (2011, p. 45), referindo que:

Claro que essa conta não pode ser imputada apenas ao processo civil – tampouco ao sistema recursal – afinal as principais causas são muito mais agudas e, em última análise, remontam a própria estrutura social. Todavia, também tem o processo civil a sua parcela de responsabilidade, competindo-lhe criar meios hábeis à realização de um processo justo, limitando o uso dos recursos àqueles casos em que efetivamente valha a pena pagar pelo seu alto custo social.

Neste contexto, infere-se que a morosidade processual é uma conjugação de vários fatores, incluindo a falta de preparo da serventia e dos próprios julgadores, não podendo a Lei ser tida como a principal agente causadora do estancamento das demandas judiciais, mesmo que seja inegável que a complexidade deste sistema acarreta, em parte, o retardo dos processos.

Dito de outro modo, a lei (incluindo os recursos) colabora, em parte, para o atraso na solução do conflito posto em juízo. Contudo, como exposto recentemente, os fatores externos à legislação dão azo à maior demora dos julgados, seja pela escassez de magistrados e servidores (ou até mesmo a falta de preparo destes), seja pelo aumento das demanda judiciais, seja pela própria legislação em vigor. Enfim, problemas estruturais.

E o entendimento de Fredie Didier Júnior (2011) é correlato com o pensamento acima exposto, sendo que, sob seu ponto de vista, a legislação paira em segundo plano, uma vez que os fatores externos influenciam de forma elevada quando o assunto é a morosidade processual atualmente enfrentada.

Eu acho que a legislação de todas é a menos culpada. Você tem problema estrutural, você tem problema de despreparo na argumentação. Você tem problema de chicana e o problema regulatório. É preciso resolver o problema regulatório no que diz respeito aos profissionais dos serviços públicos, que são os principais litigantes do Brasil e isso tem que ser resolvido. Assim como é preciso redefinir o regramento dos entes públicos em juízo, exigir deles um comportamento mais em conformidade com a boa-fé.

Novamente, vê-se que um dos percalços enfrentados é a carência de servidores públicos para atender a demanda processual, o que contribui significativamente para a

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morosidade do processo. É certo que o número de servidores aumenta ano após ano, mas, em contrapartida, as demandas judiciais aumentam em uma proporção imensamente maior do que a mão de obra cartorária.

Este problema é facilmente constatado junto ao cotidiano forense, em que os cartórios judiciais estão abarrotados de processos, ao passo que a celeridade processual parece estar cada vez mais longe de ser alcançada, caindo o Judiciário em descrédito com a população brasileira.

Segundo entendimento de Jorge, Didier Jr. e Rodrigues (2006, p. 104):

Havia – e ainda há – uma crise na credibilidade na Justiça, resultantes de diversos fatores sociais, culturais, políticos e econômicos, e um deles – mas não certamente o mais grave – o enferrujado e liberal sistema processual de 1973, que precisava e ainda precisa de reformas.

Neste cenário, entretanto, de frisar que o Legislador não ficou de braços cruzados, eis que ocorreram, especialmente após os anos de 1990, inúmeras reformas no Código de Processo Civil objetivando auferir a celeridade processual e, também, dar uma resposta às críticas que o Judiciário estava (e, em verdade, ainda está) sofrendo.

Nesta senda de reformas, Cândido Rangel Dinamarco (1996, p. 32), tomando por base a doutrina de Sálvio de Figueiredo Teixeira, aponta que:

Por outro lado, as mini-reformas visam, como transparece daquelas palavras de Sálvio de Figueiredo Teixeira, a remover óbices à efetividade do acesso à

justiça. Sabe-se que esses óbices se localizam em quatro fundamentais pontos sensíveis do sistema, representados (a) pela admissão em juízo, (b)

pelo modo-de-ser do processo, (c) pela justiça das decisões e (d) pela sua efetividade ou utilidade.

Assim sendo, faz-se uma abordagem acerca dos mecanismos utilizados a fim de acompanhar os anseios da sociedade moderna e, sobretudo, as demandas judiciais que são um verdadeiro crescente no sistema judiciário brasileiro, como se verá seguir.

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1.2 Alternativas buscadas pelo Legislador

Com mencionado anteriormente, o Legislador reuniu forças e trabalhou com o objetivo de criar mecanismos que pudessem saciar as necessidades postas pelas partes em juízo, disponibilizando ao cidadão uma prestação jurisdicional que se revelasse eficaz.

Estes “mecanismos” se concretizaram através de reformas processuais, as quais alteraram o Código de Processo Civil, a legislação esparsa e até mesmo a Constituição Federal de 1988, esta última através de Emenda Constitucional, evidentemente.

Passa-se, então, ao estudo de algumas das reformas processuais de grande notoriedade ocorridas desde a instituição do Código de Processo Civil de 1973 aos dias atuais, perpassando pela criação da antecipação dos efeitos da tutela, dos Juizados Especiais Cíveis, da Emenda à Constituição 45/2004, da súmula impeditiva de recurso, dentre outros.

E como demonstrado até então, a resposta do Poder Judiciário ao conflito posto em juízo não é imediata, bem pelo contrário. Entretanto, em muitos casos não há a possibilidade de a parte requerente esperar todo o andamento processual, para, então, conseguir alcançar o bem pretendido.

Nesse sentido, de acordo com os ensinamentos de José Roberto dos Santos Bedaque (2001, p. 113):

O tempo decorrido entre o pedido e a concessão da tutela satisfativa, em qualquer de suas modalidades, pode não ser compatível com a urgência de determinadas situações, que requerem soluções imediatas, sem o quê ficará comprometida a satisfação do direito.

E para estes casos houve a criação do instituto da antecipação da tutela. A antecipação de tutela restou consagrada no artigo 273 do Código de Processo Civil de 1973, a partir da redação dada pela Lei n.º 8.952 de 1994 que, por pertinente e oportuno, vai colacionado:

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Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou

II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu.

Tratou-se de inegável avanço na prestação da tutela jurisdicional do Estado (aqui em sentido amplo), uma vez que o Legislador concedeu ao julgador o poder de antecipar – em qualquer tempo durante o tramite do processo de conhecimento, ainda que provisoriamente e revogável – os efeitos que a vindoura sentença eventualmente produziria, desde que convencido da verossimilhança da alegação e restasse caracterizada uma das hipóteses previstas em seus incisos.

Para Cândido Rangel Dinamarco (1996, p. 140, grifo nosso):

O novo art. 273 do Código de Processo Civil, ao instituir de modo explícito e generalizado a antecipação dos efeitos da tutela pretendida, veio com o

objetivo de ser uma arma poderosíssima contra os males corrosivos do tempo no processo.

Dentro desde contexto, é indiscutível que a criação do instituto antecipatório de tutela veio a ser inserido no ordenamento jurídico para combater a morosidade processual, e visando, desde logo, a satisfação do direito ambicionado pela parte requerente, revelando-se uma criação de suma importância e proveito às partes e aos operadores do direito.

Também foi satisfatória a elaboração da Lei nº 9.099/95, a qual estabeleceu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito nacional. Tais juizados foram instituídos para a conciliação, processamento, julgamento e execução das chamadas “pequenas causas”, como ficou popularmente conhecido (já que proveniente do antigo juizado de pequenas causas), e, sobretudo, com o fito de desafogar os cartórios judiciais cíveis da pesada demanda processual existente, desburocratizando a justiça através da conciliação entre as partes (BRASIL, 1995).

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Para José Eduardo Carreira Alvim, Leandro Ribeiro da Silva e Antônio Campos (2005, p. 2-3):

A nova lei dos juizados especiais deu particular relevância à conciliação das partes – a respeito da qual era silente a antiga lei do juizado de pequenas causas – criando a figura do conciliador, como auxiliar da justiça, contribuindo, assim, para emprestar maior celeridade na resolução das controvérsias. A partir da nova lei, em vez de as prestações materiais das partes desaguarem necessariamente no processo e, consequentemente, na sentença, passaram a desaguar num dos equivalentes jurisdicionais, que é a conciliação, permitindo que as próprias partes, por meio da transação, ponham termo aos seus conflitos. Além do mais, duas foram as grandes sacadas do Legislador, sendo a primeira delas a limitação da matéria objeto da demanda processual (artigo 3º) e, a outra, a limitação da interposição de recursos perante os Juizados Especiais, eis que prevê, juntamente com a Constituição Federal, apenas três recursos cabíveis, sendo eles: o recurso inominado, os embargos de declaração e o recurso extraordinário; fazendo com que o processo ganhe celeridade, cujo princípio é norteador da norma em testilha.

Na relação entre os recursos cabíveis e a celeridade do Juizado Especial, Athos Gusmão Carneiro (2001, p. 105) referia que:

Nas causas que, sob o procedimento sumaríssimo tramitam perante os Juizados Especiais, previstos no art. 98, I, da Constituição Federal, são cabíveis somente embargos de declaração e, da sentença, recurso inominado para o próprio juizado.

Mas, além da celeridade, os Juizados Especiais Cíveis trouxeram ao ordenamento jurídico outros princípios que hoje estão sedimentados em qualquer que seja o rito processual utilizado, como a oralidade, a informalidade e a economia processual, objetivando, em todo caso, a autocomposição (conciliação) entre as partes litigantes, conforme esculpido no artigo 2º da Lei 9.099/95.

Não obstante os princípios explícitos elencados no artigo 2º da lei em comento, há, ainda, princípios implícitos que também norteiam os Juizados Especiais Cíveis, como o imediatismo, a equidade, a concentração, a identidade física do juiz, a irrecorribilidade das decisões interlocutórias, dentre outros garantidos no ordenamento jurídico.

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E a ideia foi tão bem recebida pela comunidade jurídica que houve sua expansão para outras áreas abordadas pelo Processo Civil, instituindo, no ano de 2001, os Juizados Especiais Federais - Lei nº 10.259 (BRASIL, 2001), e no ano de 2009, os Juizados Especiais da Fazenda Pública - Lei nº 12.153 (BRASIL, 2009).

Sinala-se que a Lei nº 9.099 (BRASIL, 1995) é utilizada de maneira subsidiária tanto nos Juizados Especiais Federais quanto nos Juizados Especiais da Fazenda Pública, o que deixa claro que a elaboração dos Juizados Especiais Cíveis foi um grande acerto por parte dos congressistas brasileiros.

Nesse sentido, Humberto Dalla Bernardina de Pinho (2012, p. 637-8) cita que:

Os princípios fundamentais que norteiam os Juizados Especiais estão previstos no art. 2º da Lei 9.099/95, que instituiu os Juizados Especiais no âmbito estadual, mas que devem ser aplicados também aos Juizados Especiais Federais e da Fazenda Pública [...]. São eles: a oralidade, a simplicidade, a informalidade, a economia processual e a celeridade, e o estímulo à conciliação ou à transgreção.

Assim, verifica-se que a criação dos Juizados Especiais Cíveis, bem como dos Federais e da Fazenda Pública, trouxeram grande proveito aos operadores do Direito, seja pela celeridade na resolução das demandas, seja pela condensação de seu tramite, seja pelos próprios princípios norteadores da lei.

Igualmente, em uma das alterações de grande notoriedade e relevância no âmbito jurídico, tem-se a Emenda Constitucional n.º 45 de 2004 (BRASIL, 2004) que, dentre suas várias alterações, elevou o princípio processual da celeridade ao âmbito constitucional, assegurando às partes a razoável duração do processo.

Incluído no artigo 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal de 1988, capítulo atinente aos direitos e deveres individuais e coletivos, referido princípio assim restou sedimentado: “A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.” (BRASIL, 2004).

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Novamente está-se diante de uma ferramenta utilizada pelo Legislador que busca auferir a celeridade processual, eis que elevou um princípio até então apenas processual ao âmbito da Constituição Federal.

Nestes três tópicos, pode-se dizer que o avanço foi deveras significativo. Contudo, o instituto da antecipação de tutela, por exemplo, não é a regra processual, e sim, a exceção, ao passo que o processo em si permaneceu com o seu trâmite extremamente moroso, ao menos até o ano de 2005 que, com o advento da Lei 11.232, efetivou, em parte, o andamento processual (BRASIL, 2005).

Isso, pois, do ajuizamento da ação até a quem sabe satisfação do direito pretendido, as “burocracias” a serem superadas não eram poucas. A exposição de motivos à elaboração da lei supracitada bem resumiu como era, até então, o trâmite do processo (SILVA; XAVIER, 2006, p. 39):

Com efeito: após o longo contraditório no processo de conhecimento, ultrapassados todos os percalços, vencidos os sucessivos recursos, sofridos os prejuízos decorrentes da demora [...], o demandante logra obter ao fim a prestação jurisdicional definitiva, com o trânsito em julgado da condenação da parte adversa. Recebe então a parte vitoriosa, de imediato, sem tardança maior, o ‘bem da vida’ a que tem direito? Triste engano: a sentença condenatória é título executivo, mas não se reveste de preponderante eficácia executiva. Se o vencido não se dispõe a cumprir a sentença, haverá iniciar o processo de execução, efetuar nova citação, sujeitar-se à contrariedade do executado mediante ‘embargos’, com sentença e a possibilidade de novos e sucessivos recursos.

Dito de grosso modo, em muitos casos o requerente teria de ingressar em juízo por três oportunidades (conhecimento; liquidação e; execução) para, então, quiçá, estar apto a alcançar o bem jurídico pretendido. E neste contexto, fácil é a percepção de que o processo se estenderia por um longo tempo.

A Lei 11.232/05, no entanto, alterou significativamente o Código de Processo Civil e, como consequência, este panorama, visto que “unificou” os três processos em apenas um, ou seja, ao invés de três morosos procedimentos autônomos, passou-se a ter três fases no mesmo processo, o que a doutrina denominou de sincretismo processual, restando evidente a pretensão pela celeridade (BRASIL, 2005).

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E seguindo a esteira das grandes reformas processuais ocorridas após a inserção do Código de Processo Civil de 1973, há de se enfatizar a Lei 11.276 de 2006, que incluiu a chamada súmula impeditiva de recurso no ordenamento jurídico brasileiro, instituto que visa obstar a “subida” dos processos às demais instâncias quando as decisões de primeiro grau estão em conformidade com as súmulas dos Tribunais superiores (BRASIL, 2006a).

É bem verdade que tal instituto já existia no âmbito de segundo grau desde 1998, previsto no artigo 557, com redação dada pela Lei 9.756 (BRASIL, 1998), vinculando o Relator ao recebimento ou não do recurso interposto. Contudo, apenas em 2006 houve sua inclusão também ao juízo de primeiro grau, aonde se revelava extremamente necessário.

Assim, a súmula impeditiva de recurso, incluída no parágrafo primeiro do artigo 518 do Código de Processo Civil, objetiva regulamentar a atuação do magistrado de primeiro grau no tocante à admissibilidade do recurso interposto contra decisão que está em conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal e quando esta impugnar apenas a tese jurídica sumulada.

Nesse sentido, bem conceituam Neves, Ramos, Freire e Mazzei (2006, p. 358):

O § 1.º do artigo 518, acrescentado pela Lei 11.276/2006, instituiu a chamada “súmula impeditiva de recurso”, ao estabelecer que o magistrado de primeira instância negue seguimento ao recurso de apelação interposto contra sentença por ele proferida, quando esta se conformar com súmula do Supremo Tribunal Federal ou Superior Tribunal de Justiça. Trata-se, pois, como novo requisito de admissibilidade da apelação, a ausência de conformidade da sentença com súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça.

E os autores continuam (2006, p. 367), estendendo o conceito do impedimento não apenas para a não admissão do recurso de apelação interposto em específico, mas sim, a todos os recursos de maneira geral que atacam decisões em conformidade com as súmulas dos tribunais superiores.

Fundada a ação recorrida em súmula do Supremo Tribunal Federal ou Superior Tribunal de Justiça, o recurso, qualquer que seja, não deve ser admitido, pois o § 1.º do art. 518, não obstante localizado no capítulo do Código destinado ao recurso de apelação, se destina a todos os recursos,

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como acontece com outros dispositivos deste mesmo capítulo [...]. Pode-se dizer que a disciplina do recurso de apelação corresponde, em um certo sentido, a uma teoria geral dos recursos.

É dizer: havendo decisão de primeiro grau fundada em súmula do STJ ou STF e o recurso impugnar apenas a tese jurídica sumulada, o juiz negará segmento ao recurso interposto, pois não há a necessidade de o processo seguir às instâncias superiores quando já se tem conhecimento do entendimento que será adotado.

Dentro deste contexto, infere-se que o Legislador pretendeu, também em 2006, estreitar a possibilidade da interposição dos recursos, objetivando, em verdade, evitar que os Tribunais superiores ficassem sobrecarregados de processos, acarretando o retardo dos demais julgamentos. Novamente, buscou-se a celeridade processual, neste caso, limitando a “subida” dos recursos.

Por fim, é de se consignar que no ano de 2010, através da Lei nº 12.322, a súmula impeditiva de recurso também foi estendida aos tribunais superiores, consoante artigo 544, § 4º, inciso II, alínea “b”, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2010b).

Na mesma senda das reformas processuais expostas até então, tem-se a criação da resolução imediata do processo, que restou incluída no artigo 285-A do Código de Processo Civil de 1973, a partir da redação dada pela Lei n.º 11.277 de 2006 (BRASIL, 2006b), nos termos seguintes:

Art. 285-A. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo já houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos, poderá ser dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da anteriormente prolatada.

E o artigo em apreço é bem esclarecido por Jorge, Didier Júnior e Rodrigues (2006, p. 58-9), pois, em um primeiro momento, a causa precisa ser unicamente de direito, ou seja, trata-se de causa cuja matéria fática possa ser comprovada pela prova documental e, também, se a conclusão do magistrado for pela improcedência do pedido. No segundo momento, o julgamento antecipado é autorizado quando a matéria em tela tratar-se de causa repetitiva, ou seja, causa que verse sobre questão jurídica objeto de processos semelhantes, notadamente os litígios de massa, como as causas previdenciárias e tributárias, pois normalmente se discutem

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a mesmas teses jurídicas.

Neste tópico, pertinente transcrever ensinamentos de Neves, Ramos, Freire e Mazzei (2006, p. 374), que bem pontuam acerca da questão:

A previsão de resolução imediata me parece que é a mais inovadora alteração pontual imposta pela recente Reforma ao Código de Processo Civil. Não só pela novidade em si mesma, o que já é algo notável, mas também por permitir a um só tempo, a solução imediata daquilo que já está solucionado pela atuação dos juízes e/ou jurisprudência. O art. 285-A é um importante mecanismo de racionalização do exercício da jurisdição civil e acompanha a tendência de valorização dos poderes do juiz de primeiro grau.

Dito de outro modo, quando há entendimento pacificado sobre determinada matéria no juízo competente para proferir o seu julgamento e, negrita-se, sendo este de improcedência, poderá o julgador desde logo decidir pelo não acolhimento do pedido do autor.

Ademais, agregam Jaqueline Mielke da Silva e José Tadeu Neves Xavier (2006, p. 200) que “É preciso (re) construir o Direito Processual Civil a partir da sociedade em que atualmente vivemos [...]. Entendemos que o artigo 285-A é uma dessas tentativas de contextualizar o Direito Processual Civil à realidade contemporânea.”.

Nesse contexto, vê-se que o Legislador pretendeu afastar de forma brusca aquela demanda cuja tese já restou ventilada naquele juízo e já se decidiu pela sua improcedência, evitando todo o caminhar (oneroso) do processo para, ao final, chegar-se à mesma conclusão.

Estes e outros mecanismos foram criados com vistas a efetivar a celeridade do processo, já que, por evidente, a redação original do CPC de 1973 não conseguiu acompanhar o crescimento das demandas judiciais, como amplamente exposto até então, sendo que o atual sistema recursal do Código de Processo Civil também contribui à morosidade do Judiciário, eis que elenca um vasto rol de recursos existentes, pelo que se torna pertinente o estudo de cada um deles.

Do exposto até o momento, constata-se que com o passar dos anos houve a modificação da redação original do Código Processualista de 1973, sendo criando e inserindo

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diversos mecanismos processuais com vistas a efetivar a prestação da tutela jurisdicional ofertada pelo Estado, estreitando, em muitos casos, o moroso trâmite do processo.

É certo que os recursos atualmente existentes no Código de Processo Civil possuem um girar lento e, principalmente, muito oneroso ao Estado. Não se está aqui dizendo que o sistema recursal é a causa exclusiva da morosidade dos processos, pois indiscutivelmente não o é, mas que sem dúvidas contribui à sua ocorrência. Mesmo assim, as reformas processuais – sobretudo no sistema recursal –, são de fato necessárias para que haja uma prestação jurisdicional mais célere, ao menos temporária, ao jurisdicionado.

Passa-se, então, ao estudo discriminado dos recursos atualmente existentes no Código de Processo Civil, realizando um quadro comparativo com o novo pergaminho processual, no que tange ao sistema recursal, bem como se o Legislador poderá ter êxito a partir das inovações trazidas com a elaboração no novo codex.

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2. ANÁLISE ENTRE O ATUAL E O NOVO SISTEMA RECURSAL COM VISTAS A POSSIBILIRAR A CELERIDADE DO PROCESSO

Como visto até então, no primeiro momento deste trabalho foi realizado um panorama acerca da morosidade processual no Judiciário brasileiro e sua possível relação com a legislação existente, sendo exposto, na sequência, alguns dos mecanismos criados pelo Legislador com o objetivo de efetivar a prestação jurisdicional e, consequentemente, alcançar a celeridade.

Neste capítulo, dando-se prosseguimento na presente pesquisa, será feito um quadro comparativo entre o atual e o novo sistema recursal do Código de Processo Civil, elencando os recursos um a um e discorrendo sobre eles, especialmente se houve alterações de grande notoriedade e, finalmente, se efetivamente o Congresso Nacional terá êxito em suas pretensões a partir da inovação recursal.

1.1 Comparativo entre o atual e o inovado sistema recursal

Inicialmente, sinala-se que na clássica definição de José Carlos Barbosa Moreira (1999, v. 5, p. 231), recurso é o “remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna.”.

Em sentido mais amplo, Daniel Ustárroz e Sérgio Gilberto Porto (2011, p. 47) lecionam que “Recurso, portanto, é a forma disponibilizada pelo devido processo constitucional ao jurisdicionado para corrigir a incorreta aplicação do direito. O próprio vocábulo pode ser decomposto nos vocábulos re e curso, o que transmite a ideia de percorrer novamente.”.

No ponto, é importante atentar que os recursos se diferem, e muito, das ações autônomas de impugnação (rescisória, por exemplo), não havendo relação entre os dois conceitos, vez que as primeiras são peças vinculadas ao próprio processo e, as outras, ações totalmente independentes (outra relação processual).

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O objetivo do recurso, como se infere na definição preliminarmente exposta que, diga-se de passagem, é autoexplicativa, é reformar, invalidar, esclarecer ou integrar qualquer tipo decisão judicial. Importante destacar também que é cabível apenas um recurso de cada decisão proferida pelo julgador, o que é conhecido pelo princípio da unicidade/unirrecorribilidade recursal (excepcionado nos casos de fungibilidade recursal que, embora sem previsão legal, já está incorporado como princípio em nosso país).

E aproveitando a linha de raciocínio do parágrafo anterior, insta mencionar que os recursos devem preencher algumas condições para serem interpostos. Em outras palavras, devem observar requisitos de admissibilidade, sob pena de não serem admitidos pelo órgão competente para proferir o julgamento, que sequer analisará o seu mérito.

Nesse sentido, Humberto Dalla Bernardina de Pinho (2012, p. 602) explica que:

O julgamento dos recursos encontra-se dividido em duas fases. Na primeira, denominada juízo de admissibilidade, verifica-se a existência dos requisitos de admissibilidade dos recursos. Presentes tais requisitos, o recurso será admitido, passando-se, imediatamente, para a segunda fase do julgamento, denominada juízo de mérito, na qual será examinada a procedência ou não da pretensão recursal deduzida, para dar ou não provimento ao recurso.

Além do princípio da unicidade acima listado (cabimento), integra a admissibilidade recursal a legitimidade; o interesse; a tempestividade; o preparo; a inexistência de fato impeditivo ao direito de recorrer e, por fim; a regularidade formal.

Os recursos existentes no Código de Processo Civil são taxativos, ou seja, estão expressamente previstos na legislação, cujo rol encontra-se no artigo 496 do codex processualista de 1973, sendo eles: (I) apelação; (II) agravo; (III) embargos infringentes; (IV) embargos de declaração; (V) recurso ordinário; (VI) recurso especial; (VII) recurso extraordinário e, finalmente; (VIII) embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário.

Necessário destacar que os recursos, à luz do novo Código de Processo Civil (Projeto de Lei 8.046/2010), estão elencados nos incisos do artigo 1.007, a saber: (I) apelação; (II) agravo de instrumento; (III) agravo interno; (IV) embargos de declaração; (V) recurso

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ordinário; (VI) recurso especial; (VII) recurso extraordinário; (VIII) agravo extraordinário e; (IX) embargos de divergência (BRASIL, 2010a).

Observa-se, de plano, que houve a exclusão de alguns e a inclusão de outros recursos, sendo necessário, em todo caso, o estudo discriminado de cada um deles, os quais estão aqui divididos, para uma melhor compreensão, em recursos de primeiro grau de jurisdição e em nível de tribunal.

2.1.1 Recursos em primeiro grau

Preliminarmente, salienta-se que a partir da redação dada pelo artigo 1.008, parágrafo único, do novo Código de Processo Civil, as decisões judiciais que forem objeto de recurso não mais terão efeito suspensivo, ou seja, a interposição do recurso não impedirá a eficácia da decisão, salvo, todavia, se o juízo superior lhe atribuir tal efeito, sendo esta uma das grandes inovações trazidas para o sistema recursal, especialmente em primeiro grau.

Art. 1.008. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso. Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade do provimento do recurso (BRASIL, 2014).

Amplamente utilizado pelos operadores do Direito, o recurso de apelação (I), atualmente previsto nos artigos 513 a 521 do Código de Processo Civil, é cabível para atacar a sentença proferida pelo juiz de primeiro grau, seja ela com (definitiva) ou sem (terminativa) resolução de mérito (artigos 269 e 267, do CPC, respectivamente), seja qual for o procedimento utilizado.

Na linha de definição de Fredie Didier Jr. e Leonardo José Carneiro Da Cunha (2007, p. 91):

A apelação, então, é o recurso cabível para se impugnar os atos do juiz que ponham termo ao procedimento, com ou sem julgamento do mérito; ou seja, serve para impugnar as sentenças definitivas ou terminativas. Em qualquer procedimento, seja ele ordinário, sumário ou especial, seu encerramento encerra-se por uma sentença, que é apelável.

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O conceito exposto pode ser integralmente aproveitado para o estudo do recurso de apelação do novo Código de Processo Civil, previsto, agora, nos artigos 1.022 a 1.027 do referido codex processual, já que suas hipóteses de cabimento não restaram alteradas, diferentemente, todavia, em relação à sua sistemática.

No início deste tópico, tomando por base o artigo 1.008, parágrafo primeiro, do novo CPC, abordou-se acerca da imediata eficácia da decisão, já que, de regra, não há mais o efeito suspensivo da decisão impugnada. Porém, o artigo 1.025, do mesmo código, não segue este caminho, conferindo ao recurso de apelação o efeito suspensivo da decisão, excetuando-se as regras contidas em seus incisos. Ou seja, a regra é o efeito suspensivo.

Não obstante, se a parte pretender auferir o efeito suspensivo, terá de elaborar uma petição autônoma (requerimento) dirigida diretamente ao Tribunal respectivo, quando, então, diante das peculiaridades do caso concreto e enquadramento legal, o Relator poderá ou não atribuir efeito suspensivo à decisão hostilizada. Caso já distribuída a apelação no órgão ad quem, o requerimento será encaminhado diretamente ao Relator. Está expresso na Lei:

Art. 1.025. A apelação terá efeito suspensivo. § 1º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que: I – homologa divisão ou demarcação de terras; II – condena a pagar alimentos; III – extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; IV – julga procedente o pedido de instituição de arbitragem; V – confirma, concede ou revoga tutela antecipada; VI – decreta a interdição [...].§ 3º O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1º poderá ser formulado por requerimento dirigido ao: I – tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la; II – relator, se já distribuída a apelação. § 4º Nas hipóteses do § 1º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso, ou, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou difícil reparação (BRASIL, 2014).

Seguindo a ordem estabelecida pelo Código de Processo Civil, depara-se com o agravo (II), recurso altamente utilizado pelas partes atuantes no processo tanto em primeiro quanto em segundo grau de jurisdição, cujo tema demanda um estudo bastante aprofundado para sua completa compreensão, que se revela de complexidade elevada, em especial após as

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alterações trazidas pela Lei 9.139/95, que modificou inteiramente este recurso em relação à redação originária de 1973, sem olvidar das alterações trazidas pelo novo CPC.

Dize-se que em primeiro grau de jurisdição (agravos de primeiro grau), o agravo se divide em duas modalidades, a saber: retido e instrumento. Ambas as modalidades deste recurso são utilizadas para atacar decisão interlocutória proferida pelo magistrado; não, contudo, simultaneamente.

A atual regra estabelecida pelo Código de Processo Civil, artigos 522 e seguintes, é da interposição do agravo em sua modalidade retida, quer dizer: não será apreciado imediatamente pelo respectivo Tribunal, pois o recurso ficará “retido” nos autos para, posteriormente, quando houver eventual julgamento da apelação, o órgão ad quem analisar se o recurso interposto merece ou não prosperar. Evita-se, com isso, a preclusão da matéria em desavença, que será oportunamente reanalisada.

Segundo ensinamentos de José Carlos de Moraes Salles (1999, p. 60): “Agravo retido é o que se interpõe nos próprios autos da ação e ali se processará, no momento oportuno, ou seja, por ocasião do julgamento da apelação, preliminarmente à apreciação desta pelo órgão ad quem.”.

Nas palavras de Daniel Ustárroz e Sérgio Gilberto Porto (2011, p. 179):

O agravo é isento de preparo, interposto no primeiro grau de jurisdição e autuado nos próprios autos do processo que motivou sua interposição. Somente após a sentença é que, quiçá, o agravo será apreciado, caso a parte reedite seu interesse em razões ou contrarrazões da primeira apelação que seguir à sentença.

Ocorre que nem sempre a parte recorrente poderá aguardar a reapreciação da decisão sem que isso lhe cause algum tipo de prejuízo grave e de difícil reparação, como no caso do indeferimento do pedido liminar em demanda de medicamentos, em que, de fato, a parte não pode esperar todo o tramite do processo até alcançar o bem pretendido.

Para estes casos de verdadeira urgência, o Legislador trouxe a exceção ao agravo retido, que é a interposição deste recurso através de instrumento, sendo cabível “quando se

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tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida”, conforme estabelece o artigo 522 do Código Processualista Civil.

E diferentemente do agravo em sua modalidade retida, nesta o recurso é protocolizado diretamente no respectivo Tribunal para análise imediata da irresignação do agravante, a qual será instruída juntamente com outras peças de cunho obrigatório exigidas pelo artigo 525, do CPC, sob pena de não conhecimento do recurso, tudo em atenção ao princípio da regularidade formal.

Nessa esteira é o que preceitua José Carlos de Moraes Salles (1999, p. 60) que, por bem pontuar a questão, vale novamente ser citado:

Contrapõe-se, assim, à modalidade do agravo de instrumento, que é apresentada diretamente ao tribunal competente, por petição que será autuada à parte, deverá conter os requisitos mencionados nos incisos do art. 524 e será instruída com as cópias e peças a que alude o art. 525.

Assim, vê-se que a regra do atual Código é a interposição do agravo em sua forma retida e, quando se tratar de decisão interlocutória que tenha o condão de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, é permitida sua modalidade através do instrumento, além dos casos de inadmissão da apelação ou em relação aos efeitos em que esta é recebida.

É o que define Elpídio Donizetti (2014, p. 807):

A regra geral é a interposição do agravo na forma retida. Nessa modalidade, o recurso permanece retido nos autos, para ser apreciado por ocasião da apelação. Apenas quando se tratar de decisão interlocutória suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, será admitida a interposição por instrumento diretamente no tribunal ad quem.

Porém, na sistemática do novo Código de Processo Civil, as alterações são deveras grandiosas, já que, em relação aos agravos de primeiro grau, houve a extinção do agravo retido e a limitação ao agravo de instrumento, estando o remanescente previsto nos artigos 1.028 a 1.033 do novo codex.

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As decisões interlocutórias não sujeitas ao agravo de instrumento, a partir da aprovação do novo código, serão hostilizadas em eventual recurso de apelação ou em contrarrazões (artigo 1.022, §§ 1º e 2º), condicionadas a prévia apresentação de protesto no primeiro momento de a parte poder se manifestar nos autos, sob pena de preclusão da matéria a ser vergastada. Sinala-se que se suscitadas em contrarrazões, caberá vista dos autos à parte adversa.

De outro norte, nos incisos do artigo 1.028 estão elencadas as possibilidades da interposição do agravo de instrumento, cujo Legislador atribuiu um rol taxativo ao referido recurso e baniu deste tópico a figura genérica da “lesão grave e de difícil reparação”, a qual restou inserida na também inovada “tutelas de urgência e de evidência”.

Para a doutrina de Daniel Amorim Assumpção Neves (2013, p. 612), a exclusão de um e a alteração de outro recurso não foi a melhor proposta elaborada, alertando, ainda, acerca da possibilidade de banalização do mandado de segurança, já que, a seu ver, será uma forma de atacar uma decisão interlocutória que, na prática, se revelará irrecorrível.

Lamenta-se que o projeto procure acabar com um problema pontual de alguns tribunais com a limitação de um relevante recurso, expondo a parte a ilegalidades praticadas pelo juízo de primeiro grau [...]. Na realidade, os tribunais serão colocados diante de um dilema: se acolherem a preliminar de contestação ou contrarrazões, dão um tiro de morte no principio da economia processual; se fizerem vista grossa e deixarem de acolher a preliminar pensando em preservar tal principio, cometerão grave injustiça, porque tornarão, na prática, a decisão interlocutória irrecorrível. Seja como for, aguarda-se a popularização do mandado de segurança, que passará a ser utilizado onde atualmente se utiliza do agravo quando este tornar-se incabível.

Como assinalado no início deste tópico, o recurso de agravo pode ser interposto tanto em primeiro quanto em segundo grau de jurisdição. As possibilidades de interposição do recurso de agravo em primeiro grau estão elencadas acima, sendo que perante o segundo grau de jurisdição será exposto oportunamente.

Em seguimento ao estudo dos recursos, pontua-se a figura dos embargos de declaração (IV), recurso que é utilizado em não raras vezes pelas partes integrantes do processo, possuindo uma sistemática simples para compreensão, impugnação que também

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poderá ser interposta tanto em primeiro quanto em segundo grau, mas que poderá ser tranquilamente analisada neste tópico.

Atualmente previsto nos artigos 535 a 538 do Código de Processo Civil, os embargos de declaração são cabíveis em face de qualquer pronunciamento judicial que tenha caráter decisório1, ou seja, decisões interlocutórias e monocráticas, sentenças e acórdãos, cujo objetivo é sanar eventual obscuridade, contradição e/ou omissão por parte do julgador, que pode, então, exercer o juízo de retratação.

Nesse sentido, Cássio Scarpinella Bueno (2010, p. 228-229) refere que:

Os embargos de declaração são o recurso cabível de qualquer decisão jurisdicional que se mostre obscura, contraditória ou que tiver omitido questão sobre a qual seu prolator deveria ter se pronunciado [...]. Assim, os embargos declaratórios cabem, com observação de seu regime jurídico, de sentenças, de decisões interlocutórias, de acórdãos e decisões monocráticas proferidas no âmbito dos Tribunais.

Pontos característicos que merecem ser destacados neste recurso são de que (I) a sua interposição tem o condão de interromper2 o prazo para a interposição de qualquer outro recurso, sendo o prazo restituído na íntegra para ambas as partes após o julgamento da irresignação e, também, (II) que o órgão competente para julgá-lo é o mesmo que proferiu a decisão hostilizada.

No tópico, sinala-se que na nova sistemática recursal, o Legislador manteve a redação de interrupção do prazo para interposição de outros recursos. Porém, relativamente à redação original do novo CPC, quando os embargos declaratórios fossem intempestivamente interpostos, a interrupção do prazo não aproveitaria ao embargante (artigo 980, § 2º, PLS 166/2010), o que não restou sedimentado na Câmara dos Deputados.

1 Parcela da doutrina entende que não há necessidade do caráter decisório para a interposição de embargos de

declaração, podendo aludido recurso ser interposto em face de despachos de mero expediente, contrariando, assim, a previsão do artigo 504 do Código de Processo Civil.

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O assunto foi bem pontuado por Neves (2013, p. 728), porém, a redação não vingou:

Interessante notar a redação do [...] dispositivo ora comentado, com a previsão de que, na hipótese de intempestividade dos embargos, a interrupção não aproveitará ao embargante, demonstrando o legislador preocupação com o embargado que nada contribui para o vício formal dos embargos.

Importante mencionar que o novo Código de Processo Civil adiciona mais um inciso no caput que trata deste recurso, que passará estar previsto nos artigo 1.035 a 1.039, para os casos de correção de erro material por parte do magistrado (artigo 1.035, inciso III). Em verdade, apenas se insere na parte recursal algo que já está consolidado no artigo 463, inciso I, do atual Código Processualista.

Ainda, formaliza que se a decisão, por força dos embargos declaratórios, sofrer eventual efeito infringente, o julgador, antes de proferir o seu julgamento, deverá conceder vista dos autos à parte adversa para que esta se manifeste (artigo 1.036, § 2º), o que já é feito comumente no cotidiano forense.

2.1.2 Recurso em nível de Tribunal

Não obstante ao exposto no tópico dos recursos em primeiro grau de jurisdição, o recurso de agravo poderá, também, ser interposto em segunda instância (agravos de segundo grau), levando a nomenclatura de agravo interno/legal/regimental e agravo nos próprios autos (ou agravo de decisão denegatória).

Salienta-se, neste tópico, que as inúmeras reformas processuais realizadas nos últimos anos concederam aos Relatores do recurso, sejam eles Desembargadores ou Ministros, um poder maior de decisão. Assim, pode o Relator, monocraticamente, negar seguimento e dar ou não provimento ao recurso interposto, caso esteja diante das hipóteses dos parágrafos do artigo 557, do Código de Processo Civil, não havendo necessidade de ser uma decisão colegiada (acórdão).

Contudo, o agravo interno (legal ou regimental) foi criado justamente para atacar a decisão proferida monocraticamente pelo Relator do recurso (artigos 545 e 557, § 1º, do

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CPC), havendo, inclusive, a possibilidade de retratação por parte do Relator, remetendo-se os autos, em todo caso, para decisão conjunta da Câmara/Turma.

Nota-se que é chamado de agravo interno/legal por estar expressamente previsto em Lei Federal, como no caso de artigos do próprio Código Processualista de 1973, ao passo que o agravo regimental leva esta nomenclatura por constar, apenas, nos regimentos internos dos Tribunais de Justiça e Superiores.

Sob este tema, disciplinam Jorge, Didier Júnior e Rodrigues (2006, p. 242):

O agravo regimental [...] é uma espécie de recurso de agravo, interposta contra decisões monocráticas proferidas pelos tribunais, com procedimento disciplinado pelos regimentos internos dos respectivos tribunais. Não se confunde com o agravo interno porque o procedimento desde encontra-se na legislação federal, tal como passo nos arts. 4º da Lei 4.348/64 e nos 557 e 532, ambos do CPC.

Segundo Elpídio Donizetti (2014, p. 807):

Esses agravos internos (impropriamente chamados de regimentais), diferentemente do agravo regulado pelo art. 522, devem ser interpostos no prazo de cinco dias, ficam encartados nos autos e são julgados órgão colegiado do tribunal que teria competência para apreciar o recurso julgado singularmente pelo relator.

Já o agravo nos próprios autos (ou agravo de decisão denegatória) é, teoricamente, o mais simples de ser compreendido, pois é utilizado apenas para atacar as decisões que não admitirem a interposição do Recurso Especial ou o Recurso Extraordinário, de acordo com o que preceitua o artigo 544, do Código de Processo Civil. Ou seja, possui apenas o objetivo de “destrancar” o recurso inadmitido para futura apreciação dos Tribunais Superiores.

Registra-se que na redação do novo Código de Processo Civil, ambos os recursos se desprenderam da modalidade genérica de agravo e passaram a ocupar lugar de relevância no rol taxativo dos recursos (artigo 1.007, incisos III e VIII), estando o agravo interno previsto no artigo 1.034 e, o agravo nos próprios autos, que agora detém a nomenclatura de agravo extraordinário, no artigo 1.055, mantendo-se suas respectivas sistemáticas.

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E seguindo a ordem estabelecida pelo artigo 496 do Código de Processo Civil, têm-se os embargos infringentes (III), o qual é cabível, a teor do artigo 530, “quando o acórdão não unanime houver reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito ou houver julgado procedente a ação rescisória.”. Dito de grosso modo, é quando o julgamento estiver “empatado” (reforma da decisão por dois votos a um) ou, ainda, quando do julgamento de uma ação rescisória.

Nesse sentido, ensina Cássio Scarpinella Bueno (2010, p. 240-241):

Os embargos infringentes são recurso que, na evolução do direito processual civil brasileiro, tiveram suas hipóteses de cabimento, gradativamente, reduzidas. Na atualidade, por força da Lei n. 10.352/2001, eles só cabem de acórdão não unânime que houver reformado, em grau de apelação, sentença de mérito ou de acórdão não unânime que houver julgado procedente ação rescisória (art. 530).

A partir disso, verifica-se que tal recurso é manifestamente contrário à celeridade processual, já que sua função é única e exclusivamente a reapreciação da causa apenas por conta de um voto vencido, contrariando, assim, a efetividade jurisdicional. Ou seja, a matéria será novamente reapreciada.

Vale mencionar que há muito já se falava sobre a desnecessidade da existência dos embargos infringentes, recurso banido do ordenamento jurídico de inúmeros países, inclusive no Direito Português onde teve sua origem, mas mantido pelo Legislador brasileiro apesar das várias oportunidades de extingui-lo em favor da celeridade processual.

Nessa mesma toada, lecionam Fredie Didier Jr. e Leonardo José Carneiro Da Cunha (2007, p. 185):

A manutenção dos embargos infringentes no sistema processual civil brasileiro sempre foi objeto de críticas por parcela considerável da doutrina, avultando vozes e letras que defendem, de maneira candente, sua extinção [...]. É que, com a interposição dos embargos infringentes, haveria, mais uma vez, o rejulgamento da causa, prolongando, ainda mais, o andamento do processo. Tal reapreciação da causa, dizem as críticas, já é feita no exame da apelação, sendo excessivo e repetitivo proceder-se a ela, outra vez, com os embargos infringentes. Ademais, não poderia admitir-se o cabimento de um

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recurso apenas em razão da existência de um voto vencido, eis que contrário à efetividade do processo um recurso com tal finalidade.

Porém, da análise do rol de recursos apresentados pelo novo Código de Processo Civil (artigo 1.007), parece que o Legislador foi feliz em sua redação e aboliu de vez os embargos infringentes do ordenamento jurídico brasileiro, o que pode ser considerado um ato em prol da celeridade da prestação jurisdicional, ainda que em detrimento da segurança jurídica.

E doravante analisando os recursos para os Tribunais Superiores, chega-se ao Recurso Ordinário Constitucional (ROC) (V), atualmente disposto nos artigos 539 e 540 do Código de Processo Civil, bem como na Constituição Federal de 1988, especificamente nos artigos 102, inciso II; e 105, inciso II.

Adianta-se que as regras norteadoras do Recurso Ordinário Constitucional, assim como dos demais recursos excepcionais, foram mantidas em quase que sua integralidade na redação do novo Código de Processo Civil, cujo recurso, em relação ao novo codex, encontra-se previsto nos artigos 1.040 e 1041.

E aludido recurso tem cabimento em hipóteses bastante restritas, sendo possível sua interposição em face de decisões denegatórias de ação constitucional originária dos Tribunais, como, por exemplo, mandado de segurança e de injunção, habeas corpus e habeas data. Vale ressaltar, no ponto, que é cabível de decisão que não conceder a ordem e quando proposta diretamente nos Tribunais, pois, do contrário, outro será o recurso.

Há, ainda, outra hipótese de cabimento do ROC, prevista expressamente no artigo 539, inciso II, alínea “b”, do Código de Processo Civil, que será nas “causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.”, julgados, neste caso, após o tramite na Justiça Federal, pelo Superior Tribunal de Justiça.

Nessa esteira, acrescentam Daniel Ustárroz e Sérgio Gilberto Porto (2011, p. 280):

O recurso ordinário constitucional goza de prestígio no direito brasileiro, servindo para instrumentalizar o duplo grau de jurisdição naquelas importantes situações nas quais os tribunais atuam mediante competência

Referências

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