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Análise multidisciplinar do elemento subjetivo específico do tipo penal nos crimes de violência doméstica

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Academic year: 2021

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

TAIANE LEMOS LORENCENA

ANÁLISE MULTIDISCIPLINAR DO ELEMENTO SUBJETIVO ESPECÍFICO DO TIPO PENAL NOS CRIMES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Ijuí (RS) 2016

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TAIANE LEMOS LORENCENA

ANÁLISE MULTIDISCIPLINAR DO ELEMENTO SUBJETIVO ESPECÍFICO DO TIPO PENAL NOS CRIMES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador (a): MSc. Dhieimy Quelem Waltrich

Ijuí (RS) 2016

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Dedico este trabalho a todos que de uma forma ou outra me auxiliaram e ampararam-me durante estes anos da minha caminhada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

Quero agradecer, еm primeiro lugar, а Deus, pela força е coragem durante toda esta longa caminhada.

À professora e mestre Dhieimy, pelo convívio, pеlо apoio, pеlа compreensão е pela amizade. À minha família, pоr sua capacidade dе acreditar е investir еm mim. Mãe, sеu cuidado е dedicação fоі que deram еm alguns momentos, а esperança pаrа seguir. Pai, suа presença significou segurança е certeza dе qυе não estou sozinha nessa caminhada.

Ao Adriano, pessoa cоm quem аmо partilhar а vida. Obrigado pelo carinho, а paciência е pоr sua capacidade dе me trazer pаz nа correria dе cada semestre.

Ао meu irmão Victor Gabriel, pеlаs alegrias, tristezas е dores compartilhas. Cоm você, аs pausas entre um parágrafo е outro dе produção melhora tudo о quе tenho produzido nа vida.

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“A não violência é a maior forca a disposição da humanidade. Ela é mais poderosa que a mais perigosa das armas de destruição concebida pela ingenuidade do homem. Creio poder afirmar, sem arrogância e com a devida humildade, que a minha mensagem e os meus métodos são válidos, em sua essência, para todo o mundo”.

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RESUMO

O presente trabalho da pesquisa monográfica faz uma análise da figura do agressor na sociedade, identificando o perfil dos agressores e por que praticam ou praticaram tais atos de agressão seja ela qual for a modalidade, física, psíquica, sexual, material ou moral, investigando quais são quais os motivos (elemento subjetivo específico) que os levaram a praticar tal agressão à mulher, verificando a (in) existência de inclusão do agressor em programa de reabilitação, consoante prevê a Lei Maria da Penha (art. 45) e por fim fazendo uma analise como a Penitenciária Modulada de Ijuí/RS, abriga e trata do assunto com os devidos presos, sendo que a penitenciária tem o Projeto Sala do Diálogo- da Violência ao respeito, sendo orientado pela Assistente Social da Susepe, pela Psicóloga da Instituição de Ensino da Unijuí e pela Promotoria de Justiça de Ijuí-RS.

Palavras-Chave: Agressor. Gênero. Violência doméstica.

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RESUMEN

El presente trabajo de investigación monográfico hace un análisis de la figura del delincuente en la sociedad, identificar el perfil de los autores y por qué se practican o han practicado tales actos de agresión sea cual sea el modo, físico, mental, sexual, material o moral, investigar Cuáles son razones (elemento subjetivo específico) que les hizo practicar tal agresión la mujer comprobar (existencia de inclusión del programa de rehabilitación del delincuente en) Según proporciona la Maria da Penha Law (art. 45) y finalmente hacer un análisis como el centro penitenciario de Ijuí modulada/RS, casas cuidar con correcto pegado y la penitenciaría de diseño sala de diálogo de la violencia al respeto, siendo guiados por un trabajador Social de Susepe, por el psicólogo de la Universidad de Unijuí y oficina de Memphis del oeste-RS del fiscal de distrito.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...9

1 IDENTIFICAÇÃO TEMPORAL E HISTÓRICA DA FIGURA DO (A) AGRESSOR (A)NA SOCIEDADE...11

1.1 Análise critica do caso 12.051 na CIDH ...12

1.2 Considerações técnico-jurídicas da lei nº 11.340/2006...15

1.3 Abordagem sociológica da figura do agressor na sociedade...19

2 TIPOS DE AGRESSÕES DE GÊNERO MASCULINO E FEMININO...24

2.1 Elementos subjetivos nos delito de violência doméstica...25

2.2 Tipologia agressiva...29

2.3 Tipologia vitimal...32

3 PESQUISA DE CAMPO ...35

3.1 Apresentação procedimental da pesquisa empírica...35

3.2 Análise e quantificação dos dados...36

3.3 Abordagem qualitativa das informações levantadas...39

CONCLUSÃO...44 REFERÊNCIAS...45 APÊNDICE A...48 APÊNDICE B...51 ANEXOS A...54 ANEXOS B...55 ANEXOS C...56

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INTRODUÇÃO

O presente estudo visa conhecer as motivações do autor à prática de atos violentos e cruéis contra a mulher, bem como elucidar quando da efetiva aplicabilidade da Lei Maria da Penha, com a devida instrução processual e a consequente sanção penal, esta vem a atender os mandamentos da referida lei, em específico o art. 45, que altera o art. 152 da Lei de Execução penal, prevendo que “Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação”?

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas e por meio eletrônico, através da abordagem bibliográfica, apresentar as diferentes formas de violência praticadas contra as mulheres, também a participação do Projeto Sala do Diálogo, demonstrando os projetos de recuperação e reeducação, às vítimas e aos agressores, como tratam os verdadeiros motivos e quais foram os fatores que os levaram a praticar a violência contra a mulher, utilizando a narrativa dada pelos detentos que cumprem pena pela incidência da Lei Maria da Penha fazendo um estudo mais aprofundado dos fatos narrados e suas motivações.

Inicialmente, no primeiro capítulo foi feito a identificação temporal e histórica da figura do (A) agressor (a) na sociedade desde antigamente até os anos atuais, fazendo uma análise do caso 12.051 da CIDH, Comissão Internacional dos Direitos Humanos, onde foi recebido o caso da senhora Maria da Penha Maia Fernandes, sendo responsabilizado o autor das agressões, pelos danos e tentava de homicídio cometido contra sua ex-companheira. Fazendo uma rápida abordagem à lei 11.340/2006 Lei Maria da Penha, abordando e explicando todos os tipos de violência doméstica, e no final deste capítulo uma abordagem do agressor na sociedade, quais os motivos que segundo a doutrina levam os agressores a agredirem suas companheiras, ex-companheiras, filhas, irmãs ou outras pessoas que convivem no ambiente familiar, tratando também os motivos que levam a achar que tem uma

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No segundo capítulo foi analisada especificamente a violência de gênero de ambos os sexos, masculino e feminino, conceituando o que é gênero, dolo e culpa, apresentando dados da violência de ambos os sexos, abordando também as tipologias agressivas e vitimal, trazendo conceitos e quais os tipos de violência de homem contra a mulher e mulher contra o homem, no qual são constatadas diferentes formas de agressão.

Por fim, no terceiro capítulo, no qual foi realizado uma pesquisa de campo na Penitenciaria Modulada de Ijuí, com participação no Projeto Sala do Diálogo, foi aplicado o questionário em anexo, com questões de violência doméstica e familiar, apresentado em texto as respostas e as conclusões, realizando um estudo com as referidas respostas com ênfase na questão 10 que abordava em relação ao delito, quais foram as motivações para o cometimento do ato, as respostas foram o ciúme e a traição, fazendo um estudo sobre o significado destas duas motivações.

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1. IDENTIFICAÇÃO TEMPORAL E HISTÓRICA DA FIGURA DO (A) AGRESSOR (A) NA SOCIEDADE

Só muito recentemente e ainda apenas em alguns países, a violência doméstica passou a ser reconhecida e considerada como um problema social que merece ser enfrentado e combatido. A visão tradicional da família como santuário sagrado, ‘célula- mãe da sociedade’, base do edifício social, acabou gerando uma barreira de proteção contra um tanto desconcertante, e para muitos, ainda hoje inaceitável: o terror e a violência provocados por estranhos, segundo nosso imaginário mesquinho por preconceito e dominado pelo medo, pode não ser diferente daquele experimentado sobretudo por mulheres e crianças, dentro de suas próprias casas. Mais do que isso: é exatamente dentro de suas próprias casas que mulheres e crianças correm maior risco de serem agredidas, estupradas, ameaçadas e mortas. (COSTA, 2007, p. 219).

Durante séculos, em nossa sociedade, o direito de um homem castigar sua mulher estava assegurado pela lei e legitimado culturalmente. Na América colonial e mesmo depois da independência americana, a lei não apenas protegia o marido que ‘’disciplinasse’’ sua esposa através de castigos físicos, como lhe conferia explicitamente esse direito, ainda que sugerisse moderação.

No Brasil, o código criminal do império desautorizou, em 1840, o assassinato como solução legítima para os casos de adultério, que ainda assim, era considerado ‘’crime contra a segurança do estado civil e doméstico. Tanto no código imperial, como no primeiro código Republicano de 1840, o crime de adultério aplica-se, basicamente, as mulheres, já que a pena só era imputável aos homens que comprovadamente sustentassem a amante. O código de 1940 eliminou o tratamento diferenciado por gênero para adultério e reduziu a pena que lhe era aplicada, mas favoreceu a tese de ‘’legítima defesa da honra’’, utilizada ainda nos anos 90 desse século. (COSTA, 2007, p. 220).

Ainda hoje a concepção de família é influenciada por critérios muito tradicionais que fazem uma relação muito forte do conceito de família com elementos místicos e sagrados. Como ela é considerada uma instituição envolvida pelo sagrado, deverá permanecer preservada a todo custo, e neste tipo de concepção está o de manter silêncio em relação a

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agressões e abusos entre parceiros, pais e filhos, ou seja, das pessoas que convivem naquela ‘redoma’’ familiar. (COSTA, 2007, p. 222).

Atualmente, temos no Brasil varias ONGs que ajudam e dão apoio as vítimas de violência doméstica e familiar, no Rio Grande do Sul, por exemplo, temos a Sala Lilás que ajuda as vítimas a superar tais sofrimentos, com uma equipe multidisciplinar de psicólogos, assistentes sociais e assistentes jurídicos.

Não temos somente as organizações e entidades que ajudam e apoiam as vítimas, mas também com os próprios agressores, como é o caso de Ijuí/RS, na própria Penitenciária Modulada da cidade, tem o projeto Sala do Diálogo, que tem como foco de trabalho e estudo os detentos que cumprem Lei Maria da Penha.

1.1 Análise crítica do caso 12.051na CIDH

A Lei Maria da Penha foi criada em 07 de agosto de 2006 pela lei 11.340/2006, para proteger a mulher, vítima da violência doméstica e familiar.

Quando a senhora Fernandes conheceu marco Antonio era um homem generoso, dedicado, sempre prestativo e disposto a ajudar, Maria da Penha, dividia alojamento com duas economistas.

Conheceu Marco Antonio em uma comemoração de aniversário de uns amigos colombianos, e Marco Antonio também era bolsista, e tinha acabado de chegar da Colômbia, não sabia falar muito bem português e por Maria ser uma pessoa muito acolhedora, sempre tentava lhe ajudar da melhor forma possível. Não teve aquele amor à primeira vista, mas foram se envolvendo aos poucos, no começo Maria ajudava ele a se manter pelo fato de o valor que recebia da bolsa de estudos não ser suficiente para o seu sustento. (FERNANDES, 2016).

Sempre quando quebrava ou estragava algo no apartamento das meninas ele ia até a residência e lhes ajudava em tudo que precisavam, chegou até em um momento oportuno, uma das mães das meninas que moravam com a senhora Fernandes, a lhe dizer que’’ era uma

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pena ele não ter escolhido a filha dela para se casar’’, queria que sua filha arrumasse um homem como ele para ser seu companheiro. (FERNANDES, 2016).

Após dois anos juntos, resolveram morar sozinhos, sempre passando por dificuldades, mas um ajudando o outro. Tiveram a primeira filha, ele sempre carinhoso e bondoso, tanto com a sua esposa quanto a filha do casal. Quando Marco se estabilizou profissionalmente e economicamente que suas atitudes mudaram, começou a ser agressivo e intolerante, a palavra da sua esposa não valia mais em relação as suas filhas.

Maria da Penha da Maia Fernandes foi vítima de violência doméstica durante toda a sua vida matrimonial, desde 1983 o mesmo lhe proferia vários tipos de agressões, não somente à vítima, mas também às filhas do casal. (CIDH, 2016).

Em uma ocasião Marco havia plantado um cacto, uma planta espinhosa, e a filha mais velha do casal ao brincar no jardim, caiu sobre essa planta espinhosa, lhe provocando vários ferimentos até teve urticária. Sendo assim, Maria solicitou para que o mesmo retirasse a referida planta, para que as crianças não viessem a se machucar novamente, pedido que não foi atendido, e ele ainda disse que era para Maria cuidar das meninas para que não chegassem perto da referida planta, ela com medo de ser agredida acatou o seu pedido. Não somente neste caso, mas também tentava convencer as meninas para que não chorassem, e se chorassem que engolissem o choro, pois o choro das meninas já era um motivo para serem agredidas com palmadas e gritos. (FERNANDES, 2016).

Nunca teve afeto entre pai e filhas, sempre tiverem aquele medo de fazer alguma coisa e ele não gostar, vindo a agredi-las, sempre que ele chegava em casa as meninas tinham que dar um abraço e um beijo a ele, mesmo contra as suas vontades, a senhora Maria lhes prometia que se dessem um abraço a seu pai quando o mesmo chegasse do trabalho elas iriam ganhar caramelo, onde ela lhes proferia seguinte frase ”Papai esta chegando, quem esquecer de dar o beijo não ganha caramelo”, e assim procediam, faziam não pelo pai, mas sim pela bala de caramelo. (FERNANDES, 2016).

Marco Antonio era economista, depois de certo tempo começou a viajar a trabalho, tudo que a sua esposa e filhas queriam, pois assim, iriam ter sossego, poderiam brincar,

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chorar, ou seja, viver. Chegando até a sua esposa querer que o mesmo arrumasse alguém nestas viagens para que assim lhes deixassem em paz, ela e suas filhas, como a mesma dizia: “O meu maior desejo era o de livrar eu as minhas filhas daquele inferno”. (FERNANDES, 2016).

Maria Fernandes sofria vários tipos de agressões, Marco Antonio chegou em um dos casos a disparar um revólver enquanto a vítima dormia, fator este que a fez ficar paraplégica, quadro irreversível, fora as lesões sofridas, que o fizeram passar por vários tipos de cirurgias. Em relação a uma das cirurgias, adquiriu uma paraplegia irreversível e outros traumas psicológicos e físicos, trazidos pela violência sofrida no seu ambiente matrimonial.

Depois do primeiro atentado, com a volta para casa, estando ela em recuperação, foi vítima pela segunda vez, quando estava tomando banho e seu companheiro tentou eletrocutá-la. (CIDH, 2016).

Foi depois deste fato ocorrido que a Senhoria Maria decidiu se separar judicialmente do seu atual companheiro, segundo ela, não havia se separado antes, no princípio das agressões, pelo fato de se sentir com medo de tomar a iniciativa de se separar, e também, pelo fato que quando conversavam sobre a separação, o mesmo lhe dizia: “deixe de bobagem’’, ela sabia que seria impossível uma separação amigável, pelo fato de o seu companheiro ser agressivo”. (FERNANDES, 2016).

No caso 12.051da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a justiça Brasileira foi ineficaz pelo fato de os peticionários observarem que, apesar da contundência da acusação e das provas, o caso tardou oito anos a chegar a decisão por um Júri, que em 4 de maio de 1991, proferiu sentença condenatória contra o Senhor Viveiros, aplicando-lhe, por seu grau de culpabilidade na agressão e tentativa de homicídio, 15 anos de prisão, que foram reduzidos a dez anos, por não constar condenação anterior. (CIDH, 2016).

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A violência doméstica não era considerada crime específico até a publicação da lei 10.886, editada em 20041, e somente nesse ano a violência praticada no âmbito familiar passou a ter uma tipificação própria, assumindo a forma qualificada na lesão corporal.

Após a condenação do Brasil na CIDH houve a publicação da Lei n. º 11.340 em 07 de agosto de 2006, passando a vigorar em 22 de setembro do mesmo ano, representando um marco na luta pelos direitos da mulher. Esta lei foi “batizada” de Lei Maria da penha, foi uma homenagem à farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes que teve sua tragédia divulgada.

A Lei Maria da penha alcança outros interesses ou direitos que, embora não estejam diretamente relacionados, estarão entrelaçados ao universo feminino, como por exemplo, a proteção aos filhos. (COSTA, 2010, p. 168).

Portanto, busca-se com este trabalho tecer algumas considerações sobre os agressores e suas vítimas, fazendo um estudo mais aprofundado e completo dos casos, para que de alguma maneira seja possível compreender os verdadeiros fatores que os levam a praticar tais delitos, e o que os agressores sentem/sofrem e pensam acerca do encarceramento em face da referida lei.

1.2 Considerações técnicos jurídicas da lei Nº 11.340/2006

A história da mulher no Brasil acompanhou ao longo dos tempos a situação da mulher em outras partes do mundo ocidental, durante vários séculos, caracterizada por um sentimento muito forte de dominação masculina. Por meio de incontáveis lutas, que marcaram, sobretudo,

1 Art. 1o O art. 129 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, passa a vigorar

acrescido dos seguintes §§ 9o e 10:

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena: detenção de três meses a um ano.

Lesão corporal de natureza grave. Violência Doméstica

§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano.

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço)." (NR)

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o século XX, a mulher conquistou paulatina, mas decididamente, direitos dos mais variados, que lhe deram não apenas a necessária igualdade em relação ao homem no que tange à cidadania, mas também e principalmente direitos específicos que lhe cabem por condição.

Cumpre salientar que a violência doméstica e familiar vem revestida de diversas formas, sendo que “a violência psicológica é a mais comum; o gênero é agredido verbalmente com muita frequência, tem seus pertences destruídos e é submetido a ameaças e gritos para resolução dos conflitos. Ela aparece em várias formas: no controle de se vestir, na conversa com vizinhos, piadas machistas, no trabalho, no abuso de poder por parte dos superiores hierárquicos, salários inferiores para as mulheres nas mesmas funções e condições que homens, dentre outras”. (LANGARO, 2009, p. 21-22).

A violência doméstica e familiar ganhou grande proporção nos últimos anos, atingindo grande parcela da população, levando os organismos internacionais a se manifestarem acerca das decorrentes violações de direitos humanos.

A violência passa a ser doméstica quando é praticada no âmbito familiar da unidade doméstica ou em qualquer relação íntima de afeto, independente da orientação sexual da vítima.

É obrigatório que a ação ou omissão ocorra na unidade doméstica e familiar ou em razão de qualquer relação intima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independente de coabitação. (DIAS, 2016, p.45).

Importa resaltar que a lei é taxativa em seu artigo 6º, ao considerar a violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos.

Tem-se a necessidade de não olhar apenas o lado da vítima, mas também tratar do agressor em si, por que a violência sofrida pela mulher não é exclusivamente de responsabilidade do autor. O homem vem desde sua criação com aqueles velhos ditados, pare de chorar, homem não chora, ou melhor, o homem foi feito para ser o chefe da casa, a última palavra sempre deve ser sua, destas e outras ironias que fizeram e fazem com que o homem

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ache que tem poder sobre a mulher, que ela é sua submissa, e ele tem o suposto direito de fazer o uso da sua força física sobre os outros membros da família. (DIAS, 2012, p.18-19).

Consequência da formação cultural de que a mulher sempre foi considerada propriedade do marido, a quem sempre foi assegurado o direito de dispor do seu corpo, da saúde e até da vida de sua esposa. Crimes passionais intitulados como cometidos para “resguardar sua honra’’ são expressão desta mentalidade machista e de impunidade. (COSTA, 2007, p.215).

A sociedade legitima tais condutas violentas e, ainda nos dias de hoje é comum ouvir que as ‘’ mulheres gostam de apanhar’’. (COSTA, 2010, p. 163).

Sabe-se que a cultura também impõe que quando ocorre uma briga, discussões ou até mesmo violência entre os casais, ninguém deve se envolver, e, desse jeito, muitos casos ficam em quatro paredes, ninguém se envolve ou denuncia, pois acredita que a contenda não diz respeito a ninguém, ao não ser do casal, ou daquela família’.

A vítima tem medo e ainda tem a repercussão que pode causar se alguém souber do que se passa no seu ambiente familiar, as ameaças, agressões sejam elas quais sejam e ainda pelos comentários irônicos ou a curiosidade mórbida da vizinhança que teria que suportar.

Com a criação da Lei Maria da Penha, cumpriu-se de uma das recomendações feita pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, quando da emissão do Relatório de Admissibilidade do caso 12.051 - de Maria da Penha Maia Fernandes, que recomendava a intensificação dos processos que evitassem a tolerância estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violência doméstica contra as mulheres no Brasil.

Portanto, tem a lei, neste momento histórico, à função de provocar e acelerar a transformação social, afirmando os direitos humanos fundamentais assegurados às mulheres, mas, além da lei, tem o Estado à obrigação de promover políticas públicas voltadas à transformação do status quo que a mulher vive, e falar em políticas públicas significa discutirmos a cultura política, compreendida como “o padrão de atitudes e orientações

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individuais em relação à política compartilhada pelos membros de um sistema político”. (PRÁ, BAQUERO, 2007, p. 25).

Conforme leciona a Lei Maria da Penha lei 11.340/2006 (BRASIL, 2016), no seu artigo 7º e seus incisos, são formas de violência praticada pelos agressores;

Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

As definições não possuem escopo criminalizador, ou seja, não pretendem definir tipos penais. Sua função no contexto misto da lei, é delinear situações que implicam em violência doméstica e familiar contra a mulher, para todos os fins da Lei Maria da Penha, inclusive para agilização de ações protetivas e preventivas. (HERMANN, 2012, p.105).

As condutas dirigidas à ofensa à integridade física podem ser compreendidas como aquelas que causem ferimentos ou lesões, podendo levar inclusive à morte. (HERMANN, 2012, p.105).

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A violência psicológica, que consiste basicamente em omissivas ou comissivas, que provoquem danos ao equilíbrio psicoemocional da mulher vítima, privando-a de autoestima e autodeterminação. (HERMANN, 2012, p.105).

A violência sexual é considerada conduta violenta não apenas aquela que obriga a prática ou participação ativa em relação sexual não desejada, mas ainda a que constrange a vitima a presenciar, contra seu desejo, relação sexual entre terceiros, também é considerado como violência sexual o induzimento mediante qualquer meio que vicie sua vontade. (HERMANN, 2012, p.107).

Violência patrimonial significa segurar, esconder, sonegar, entrega conservar licitamente fora do alcance da vitima, destruir parcial ou totalmente compreende condutas variadas: rasgar, queimar, amassar, danificar, estragar.

Violência moral consiste na desmoralização da mulher vítima, confundindo-se e entrelaçando-se com a violência psicológica. (HERMANN, 2012, p.109).

1.3 Abordagem sociológica da figura do (a) agressor (a) na sociedade

Os motivos que levam aos agressores a usarem suas forças ou outros meios que machuquem as suas vítimas, por vezes, são motivos fúteis, tentam justificar seu descontrole na conduta da vítima, alegam que foi a própria vítima quem começou, pois não faz nada correto, não faz o que ele manda.

Quando o agressor foi vítima de abuso ou agressão na infância, tem medo e precisa ter o controle da situação para se sentir seguro, por este motivo, usa a sua força na violência, para ter o controle desejado, e é neste ponto que deve existir uma reflexão e análise mais aprofundada quando do encarceramento do indivíduo, trabalhar com ele o seu lado psicológico, querer saber como foi sua infância, se ela foi perturbada ou tranquila, se teve algum tipo de abuso na sua adolescência.

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Não basta a simples imposição da condenação, é necessário um acompanhamento contínuo, voltado à reabilitação deste agressor, com uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, assistentes sociais e assistentes jurídicos.

Ninguém duvida que a violência sofrida pela mulher não seja exclusivamente de responsabilidade do agressor. A sociedade ainda cultiva valores que incentivam a violência, o que impõe a necessidade de se tomar consciência de que a culpa é de todos. (DIAS, 2016, p.18).

Desde o nascimento, o homem é encorajado a ser forte, não chorar, não levar desaforo para casa, ‘‘não ser mulherzinha”. Precisa ser um super-homem, pois não lhe é permitido ser apenas humano. (DIAS, 2016, p.19).

As agressões domésticas contra mulheres são desproporcionadamente maiores do que as que ocorrem contra homens. Um estudo do Movimento Nacional de Direitos Humanos do Brasil compara a incidência de agressão doméstica contra mulheres e contra homens e mostra que, nos assassinatos, havia 30 vezes mais probabilidade de as vítimas do sexo feminino terem sido assassinadas por seu cônjuge, que as vítimas do sexo masculino. A Comissão constatou, em seu Relatório Especial sobre o Brasil, de 1997, que havia uma clara discriminação contra as mulheres agredidas, pela ineficácia dos sistemas judiciais brasileiros e sua inadequada aplicação dos preceitos nacionais e internacionais, inclusive dos procedentes da jurisprudência da Corte Suprema do Brasil. (CIDH, 2016).

De um modo geral a violência doméstica não se dá somente sobre as mulheres, crianças e idosos. Em alguns casos, o homem é vítima da violência da mulher, ocorre que este percentual é bastante reduzido, essa forma de violência quase não aparece nas estatísticas e há pouco reconhecimento que ela existe. O importante a destacar é que a violência doméstica também é bem mais comum do que se pensa, levando-se em consideração que “os gritos e palmadas’’ acompanham o desenvolvimento de muitas crianças. (COSTA, 2010, p. 29).

Estabelece-se uma relação de amor e violência. No entendimento de Strey (COSTA, 2010, p.29), “em nossa sociedade ainda patriarcal, o educador-mor da família, ou seja, a lei, a palavra final, costuma ser a figura masculina em um grande numero de famílias, embora a

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mãe seja a cuidadora oficial’’. Por tanto, quando uma criança testemunha o pai batendo na mãe, associa que ela se portou mal, pois essa é a explicação dada aos castigos que recebe. (COSTA, 2010, p. 29).

E são estas crianças, que crescem em um ambiente perturbado, e acham que os pais estão fazendo o correto, pois ninguém os mostra que aquela atitude está errada, que a melhor maneira não é batendo, xingando ou humilhando a esposa ou até mesmo os filhos; que futuramente será autor de agressões. A melhor maneira sempre foi e será o diálogo entre casais e entre pais e filhos.

Mesmo sem nunca terem trocado uma palavra, duas pessoas constroem, ainda que efemeramente, uma relação de troca de violências ou reações de defesa a tentativas frustradas e bem sucedidas de ferimento físico, emocional ou sexual. As vítimas, embora possam se sentir paralisadas pelo medo ou tratadas como objetos inanimados, não deixam de, pelo menos, esboçar reações de defesa. Com razão, isto se verifica nas relações de convivência frequente ou cotidiana. Consciente ou inconscientemente, a vítima formula e executa estratégias para conviver com a violência. (SAFFIOTI, 1995, p.34-35).

Conforme visto, a vítima na maioria dos casos tenta da melhor maneira possível conviver com o autor, a suportar e superar a violência sofrida, pelo fato de não querer se separar, pois depende financeiramente do autor, ou por achar que o agressor irá mudar seu jeito de ser e de agir para com a vítima, lhe fazendo promessas de mudanças, arrependimento, pedidos de perdão, choro, flores, quando menos espera o ato acontece novamente, sendo, às vezes, pior do que os praticados anteriormente.

Participa, pois, desta posição vitimista, na qual a vítima figura como passiva, sem vontade e inteiramente heterônoma, além de não dar conta da realidade histórica, revela um pensamento extraordinariamente autoritário. Obviamente, se a vítima teve sua vontade anulada pela vontade de seu agressor, cabe a algum iluminado propor soluções capazes de tirá-la da situação de violência vivenciada. (SAFFIOTI, 1995, p.34-35).

Na condição de vítima, ela jamais se livraria sozinha de seu "destino de mulher". (SAFFIOTI, 1995, p.34-35).

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Pelas vítimas passarem por vários tipos de agressões, e acharem que tem culpa pelas agressões sofridas, acabam sendo vítimas de depressão, ansiedade e diversas manifestações de mal estar.

Por esta razão é imprescindível destacar que a violência doméstica compõe-se de ciclos, com três fases distintas. A primeira acontece com a construção da tensão, começando com agressões verbais, ciúmes, ameaças, e até destruição de objetos. Nesta fase, a mulher procura acalmar o agressor, acreditando que pode fazer alguma coisa para impedir os atos violentos do marido. Nesse momento, surge à sensação de culpa da mulher, ela realmente acredita que, de alguma maneira, é responsável pelos atos do companheiro. (COSTA, 2010, p.30).

Em seguida, inicia-se a segunda fase, marcada por agressões mais graves, raramente agressões físicas. Esse momento é recheado de descontrole e destruição. Essa é a maneira mais breve, pois ao acessar os ataques violentos, o agressor mostra-se arrependido, com medo de perder a companheira. Inicia-se então a terceira fase. O homem pede perdão, compra presentes e jura que jamais vai acontecer de novo. Eis, novamente, o homem por quem um dia a vitima se apaixonou. A terceira fase, também conhecida como fase de lua de mel, é marcada por um período de calmaria, sem tensão acumulada. O próprio agressor acredita que não irá mais cometer atos violentos contra a mulher que ama. (COSTA, 2010, p. 30).

Segundo Soares (1999, p.141) em uma citação feita no livro “Mulheres invisíveis’’, nos explica que existe duas soluções básicas para o problema de a mulher continuar com seu companheiro mesmo passando pelas agressões físicas e psicológicas. A primeira é de ordem social e diz respeito aos comportamentos-padrão das vítimas e as atitudes e recursos da comunidade.

A segunda se refere a uma patologia desenvolvida como reação a experiências traumáticas repetidas e, nos casos de violência conjugal, seria produzida pela própria relação abusiva: trata-se da síndrome de estresse pós-traumático. (COSTA, 2010, p.31).

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A mulher que sofre agressões tem em seu pensamento que merece passar por aquilo, por algo errado que fez, ou que é o seu ‘’destino’’, ser humilhada, ameaçada, xingada, maltratada; que muitas vezes não conhece seus direitos. Ademais, por vezes, passa por todo esse sofrimento sozinha, haja vista que familiares e amigos nem sabem da ocorrência destas violências pelo fato da vítima ter medo de contar ou até mesmo pela vergonha de dizer tudo que acontece e como acontece.

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2. TIPOS DE AGRESSÕES DO GÊNERO MASCULINO E FEMININO

Gênero na sua concepção antropológica é uma forma de explicar a diferença sexual entre os sexos na sociedade e em seus papéis de homem e de mulher.

Desde a concepção, o bebê é visto como menino ou menina, sua atividade começa a ser construída sob sua complexa trama de influências que abrangem a linguagem, as atitudes, as expectativas. Seu mundo será conformado pouco a pouco, aprendendo cada criança o que é ser mulher ou homem, de uma maneira aparentemente natural e espontânea, em um processo que dura a vida toda. (DIO BLEICHMAR, 1992).

O conceito de violência de gênero deve ser entendido como uma relação de poder. Demonstra que os papéis impostos aos homens e as mulheres são relações violentas entre os sexos. Muitas vezes demonstra- se que os homens querem que suas companheiras sejam suas submissas, que estejam sempre ali prontas para lhes servir.

Segundo uma pesquisa realizada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), Violência Contra a Mulher e Saúde, em oito países2 as mulheres brasileiras são as que mais revidam as agressões.

Esta organização é uma agência especializada em saúde e seus principais objetivos são a saúde de todos os povos, realizando pesquisa e coletando dados, suas pesquisas não são somente sobre a violência doméstica, mas também a saúde do idoso, alimentação adequada das pessoas e outras áreas que abrangem a saúde; publicam em todo o mundo.

Em uma pesquisa realizada pela OMS, sobre a violência do parceiro íntimo, é o comportamento dentro de uma relação íntima de afeto que causa dano, físico, sexual ou psicológico, incluindo atos de agressões físicas, coerção sexual, abuso psicológico e comportamentos controladores.

2

No Brasil, essa pesquisa foi conduzida pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sob a coordenação de Lilia B. Schraiber e Ana Flavia P.L. d’ Oliveira.

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Entre 15% das mulheres no Japão e 70% das mulheres na Etiópia e no Peru relataram violência física e /ou sexual por um parceiro íntimo; entre 0,3% e 11,5% das mulheres relataram ter sofrido violência sexual por um homem que não o parceiro; a primeira experiência sexual para muitas mulheres foi relatada como forçada – 24% na zona rural do Peru, 28% na Tanzânia, 30% na área rural de Bangladesh e 40% na África do Sul.

Segue gráfico com os dados apurados;

Gráfico: Estudo Multipaíses OMS, 2002 – prevalência da violência por parceiro íntimo. (Compromisso e Atitude, 2014).

O mais recente estudo publicado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) em 2013, afirma que a agressão cometida por parceiro íntimo é o tipo mais comum de violência contra as mulheres em todo o mundo, afetando 30% do total.

De acordo com o relatório, a violência física ou sexual é um problema de saúde pública, porque pode provocar lesões imediatas, infecções, depressão e até transtorno mental. Ainda de acordo com o estudo, cerca de 35% de todas as mulheres devem sofrer violência em casa ou na rua, em algum momento de suas vidas.

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Em nosso ordenamento jurídico temos dois elementos subjetivos gerais, nos delitos de violência doméstica, o tipo doloso e o culposo.

O dolo é a consciência e a vontade de realização da conduta descrita em um tipo penal, o dolo puramente natural, constitui o elemento central do injusto penal da ação, representado pela vontade consciente de ação dirigida imediatamente contra o mandamento normativo. (BITENCOURT, 2011, p. 314).

Ao analisar a conduta, ela é um comportamento voluntário e que o conteúdo da vontade é seu fim. Nessa concepção, a vontade é o componente subjetivo da conduta, faz parte dela e dela é inesperada. A vontade é querer alguma coisa e o dolo é a vontade dirigida à realização do tipo penal. (MIRABETE, 2010, p. 126).

Dolo é à vontade e a consciência de realizar os elementos constantes do tipo penal. Mais amplamente, é a vontade manifestada pela pessoa humana de realizar a conduta. (CAPEZ, 2002, p. 177).

Existem três teorias de dolo, a teoria da vontade, se realiza ação e obtém o resultado, a teoria da representação que para a existência do dolo é suficiente à representação subjetiva ou a previsão do resultado como certo ou provável, (BITENCOURT, 2011 p. 316), e por fim, a teoria do consentimento é aquele que o autor assume o risco de produzi-lo.

O dolo se compõe de apenas dois elementos, elemento cognitivo ou intelectual e volitivo (vontade), que são aqueles dolos que exige-se a consciência daquilo que se pretende praticar, onde esta consciência deve estar presente no momento da ação, o elemento volitivo à vontade, incondicionada, ou seja, depende de representação, deve abranger a ação ou omissão, o resultado e o nexo causal.

São espécies de dolo, o direto e o eventual. No dolo direto o agente quer o resultado como fim de sua ação, como por exemplo, o homicídio, dolo eventual ou quando o agente assume o risco da produção do resultado, o agente prevê o resultado como provável ou, ao menos como possível, mas, apesar de prevê-lo, age aceitando o risco de produzi-lo. (BITENCOURT, 2011, p. 321).

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O dolo alternativo também conhecido como dolo eventual, ocorre quando o agente quer dois ou mais resultados, matar ou ferir por exemplo. Ocorre na doutrina o dolo de dano em que o agente quer ou assume o risco de causar lesões efetiva, e ao dolo de perigo que o autor da conduta quer apenas o perigo. (MIRABETE, 2010, p. 130).

Há duas fases na conduta do dolo, uma interna e a outra externa, a interna opera-se no pensamento do autor, e consiste em; propor-se a um fim, (matar um inimigo); selecionar os meios para realizar essa finalidade e considerar os efeitos concomitantes que se une ao fim pretendido. (MIRABETE, 2010, p. 127).

Uma diferença do dolo direito do dolo eventual é que o primeiro é à vontade por causa do resultado; o segundo é à vontade apesar do resultado.

Um exemplo de dolo eventual é quando o agente que na dúvida a respeito de um dos elementos tipo, se arrisca em concretizá-lo. Conforme artigo 217-A do código penal ter conjunção carnal ou praticar ato libidinoso com menor de 14 anos.

Culpa é o elemento normativo da conduta, a culpa assim chamada porque sua verificação necessita de um prévio juízo de valor, sem o qual não se sabe se ela está ou não presente. (CAPEZ, 2001, p. 183).

Os tipos culposos ocupam-se não com o fim da conduta, mas com as consequências antissociais que a conduta vai produzir no crime culposo o que importa não é o fim do agente, mas o modo e a forma imprópria com que atua. (MIRABETE, 2010, p.132).

Ela é a inobservância do dever objetivo de cuidado manifestado numa conduta produtora de um resultado não querido, mas objetivamente previsível. Observa-se no Código Penal em seu artigo 18, inciso I, crime culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.

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A imprudência é a prática de uma conduta arriscada ou perigosa e tem caráter comissivo, conduta imprudente é aquela que se caracteriza pela intempestividade, precipitação, insensatez ou imoderação do agente. (BITENCOURT, 2011, p. 337).

Na imprudência há visível falta de atenção, o agir descuidado, o agente sabe que esta sendo imprudente, tem consciência de que esta agindo arriscadamente, mas, por acreditar, convictamente, que não produzirá o resultado, avalia mal, e age, e o resultado não querido se concretiza. (BITENCOURT, 2011, p. 337).

A negligência é displicência no agir, a falta de precaução, a diferença do agente, que, podendo adotar as cautelas necessárias, não o faz. É não fazer o que deveria ter feito antes da ação descuidada, quando um autor comete uma negligência não pensa na possibilidade do resultado, por fim a imperícia que é a falta de capacidade, de aptidão, despreparo ou insuficiência de conhecimentos técnicos para o exercício de arte, profissão ou oficio. (BITENCOURT, 2011, p. 338).

São elementos do crime culposo: a conduta, inobservância do dever de cuidado objetivo, o resultado lesivo involuntário, a previsibilidade e a tipicidade.

Dever de cuidado objetivo é quando o agente não observa cuidados indispensáveis a evitar lesões, causando com isso dano a bem jurídico alheio, e a acabará respondendo por ele.

Não existindo resultado não se responsabilizará por crime culposo o agente que inobservou o cuidado necessário, ressalvada a hipótese em que a conduta constituir, por si mesma, um ilícito penal. (MIRABETE, 2010, p.133).

A previsibilidade é a possibilidade de ser antevisto o resultado, nas condições em que o sujeito se encontrava que o agente pudesse prever o resultado de seu ato. (MIRABETE, 2010, P. 134).

O último, a tipicidade determina-se através da comparação entre a conduta do agente e o comportamento presumível que, nas circunstâncias, teria uma pessoa de discernimento e prudência ordinários. (MIRABETE, 2010, p. 136).

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Culpa inconsciente ou com representação, ocorre quando o agente embora prevendo o resultado, espera sinceramente que este não se verifique. O agente não quer o resultado nem assume deliberadamente o risco de produzi-lo, acredita piamente que pode evitá-lo, o que só não consegue por erro de cálculo ou por erro na execução. (BITENCOURT, 2011 p. 339,).

Na culpa consciente ou sem representação quando a própria segurança do agente, eu por sua desatenção, descuido ou mesmo desligamento da realidade, representa um perigo, não apenas para a sociedade, mas para si próprio. (BITENCOURT, 2011, p. 340).

Quando dois indivíduos um ignorando a participação do outro, concorrem, culposamente, para a produção de um fato definido como crime, é chamado de concorrências de culpas.

2.2 Tipologia agressiva

Podemos observar em nosso cotidiano que a violência de gênero atinge homens e mulheres, porém, os estudos e estatísticas mostram que ainda é grande o percentual de violência cometida por homens contra as mulheres.

A concepção de que os homens são seres humanos superiores, construtores da cultura e da história, quanto que as mulheres são seres inferiores, próximas a natureza, devendo, portanto, serem submetidas exatamente como tem sido a natureza, ou por ordem divina ou por direito conquistado pelos seres humanos do sexo masculino, ou seja, esta concepção histórica baseada e sustentada por filosofias, teorias cientificas e ‘’humanísticas’’ e outros apoios ideológicos patriarcas. (STREY, 2004,p.24).

Percebe-se que não é de hoje que os homens são considerados superiores, isso vem desde a antiguidade, e que as mulheres devem ser submetidas a eles. Hoje, depois da criação da Lei 11.340/2006, Lei Maria da Penha, muitas conquistas foram adquiridas em relação à mulher, como a prevenção da violência doméstica e familiar, também, a possibilidade da vítima e seus dependentes serem acompanhados por uma equipe de atendimento

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multidisciplinar, integrada por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde, para acompanhá-los nestes casos de violência doméstica e familiar.

São vários os tipos de agressões sofridas pelas mulheres, são violências físicas (empurrões, tapas, socos, pontapés, enforcamento, facadas, tiros, pedradas, privação de liberdade, etc.); psicológicas (insultos, deboches, ofensas, ameaças, intimidações, promessas de morte, etc.); econômica, (privação de dinheiro, trabalho escravo, etc.) ou sexual (estupro). São vários os tipos de agressões sofridas pelas mulheres, mas não podemos deixar de dizer que os homens também sofrem com estes tipos de violência. (STREY, 2004,p.17).

Segundo a Central de Atendimento à Mulher: 1803, em 2014 foram registradas todos os tipos de agressões contra a mulher, conforme gráfico abaixo;

3 A Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180 é um serviço ofertado pela SPM com o objetivo de receber

denúncias ou relatos de violência, reclamações sobre os serviços da rede e de orientar as mulheres sobre seus direitos e sobre a legislação vigente, encaminhando-as para os serviços quando necessário. Além da importância de um serviço nacional e gratuito, que pode constituir uma importante porta de entrada na rede de atendimento para as mulheres em situação de violência, a Central tem se revelado bastante útil para o levantamento de informações que subsidiam o desenho da política de enfrentamento da violência e para o monitoramento dos serviços que integram a rede em todo o país. Atualmente, a Secretaria conta com informações atualizadas mensalmente sobre a oferta de serviços especializados em todas as unidades da federação, sobre o perfil das mulheres que procuram os serviços, sobre os principais problemas identificados nos serviços integrantes da Rede de Atendimento, sobre o número de relatos de violência recebidos por UFs e o tipo de violência reportada, entre outros.

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Muitas mulheres sofrem todos os tipos de violência de uma só vez, o que tira delas suas características humanas, impedindo que reajam.

Um exemplo de violência é quando um dos cônjuges mata a sua companheira ou sem companheiro. Segundo uma pesquisa realizada por Saunders (2002), claramente as mulheres matam mais em defesa própria que os homens, ou seja, elas foram agredidas antes de alguma maneira e encontraram a morte do parceiro como uma forma de solução para a violência. (STREY, 2004,p.18).

Segundo o autor, o motivo que leva os homens a matarem suas companheiras é o ciúme e o controle que aquele deseja ter sobre aquela mulher, a violência ocorre na maioria das vezes no término do relacionamento, na maior parte dos casos este término não é aceito amigavelmente.

Os homens frequentemente caçam e matam uma esposa que tenha lhe deixado; as mulheres dificilmente se comportam desta maneira. Os homens matam as esposas como parte de um planejamento de assassinato-suicídio; quase não se houve falar em atos semelhantes por parte das mulheres. Os homens matam suas esposas em resposta a descoberta de sua infidelidade; as mulheres quase nunca respondem assim, embora seus parceiros sejam enfieis mais frequentemente. Os homens geralmente matam suas esposas depois de sujeitá-las a longos períodos de abusos e agressões; os papéis em tais casos, raramente são trocados. Os homens massacram a família inteira, matando mulher e filhos; as mulheres não. Ainda mais, parece claro que uma grande proporção de morte por maridos de mulheres foi em

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defesa própria, enquanto que o mesmo não acontece com os maridos que mataram. Diferente dos homens, as mulheres matam seus parceiros após anos de sofrimento de violência física, após terem esgotados todas as fontes disponíveis de assistência, quando se sentiam atrapalhadas em uma armadilha e porque elas sentiam medo pelas suas próprias vidas (SAUNDERS, citando WILSON E DAY, 2002, p.1432).

Verificamos com este trecho do texto, que são formas diferentes de violência de gênero, cada um age de uma maneira diferente ao se deparar com a situação, seja por infidelidade ou até mesmo pelo término do relacionamento.

Os homens que agem com violência contra as suas companheiras, segundo a literatura, são homens jovens, que bebem excessivamente, que tem status ocupacional baixo, que testemunharam ou sofreram violência em sua família de origem, são os que apresentam o maior risco de agredirem suas parceiras mulheres, a homens que não apresentam estas características. (ALDARONDO, 2002, p.429-454).

Há poucos estudos de violência de gênero da mulher contra o homem, ou seja, quando o homem é a vítima e a mulher é a agressora. É muito constrangedor para o homem fazer a denúncia, considera uma ‘’humilhação’’, ‘’vexame’’, uma ‘’vergonha’’. (ARAUJO, 2004, p.38, 49).

São diversos os motivos alegados por eles terem sofrido tais violências, metade deles afirma que tudo começou por causa de ciúmes, ameaça de separação, embriaguez, guarda de filhos e problemas materiais envolvendo dinheiro e pertences, também citam o nervosismo. (ARAUJO, 2004, p.49).

Muitos homens sofrem algum tipo de violência praticada por sua companheira, pelo fato de as mesmas terem visto a traição com outra mulher, e neste momento chamam a mulher traída de louca, desequilibrada, fora do normal, pois para eles é “um comportamento natural do homem’’ trair a mulher, e aí a mulher parte para a agressão”. (ARAUJO, 2004, p.49).

2.3 Tipologia vitimal

A tipologia tem sua origem no direito alienígena, sendo colocada inicialmente como disciplina autônoma da criminologia, impõe que se esclareça totalmente a relação existente

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entre criminoso e vítima, pois sob o critério de apreciação popular estes dois agentes encontram-se em lados radicalmente opostos, considerando-se o grau e a de culpabilidade do primeiro, e evidentemente de inocência do segundo, executando-se os casos de comprovada legítima defesa, injusta provocação ou consentimento do ofendido. (TRIBUNAIS, GARCIA, 88, p. 439).

A vitimologia pode visualizar os aspectos antropológicos, psíquico e social, procurando as condições em que o individuo poderá ser vitimizado por terceira pessoa. (TRIBUNAIS, GARCIA, 88, p.443).

Para Hans Von Hentig (1948, In: GARCIA, p.445), em seu livro O criminoso e sua vítima, em seu quarto capítulo, nos explica que existem três grupos de casos intermediários entre criminoso e a vítima. Primeiro grupo- indivíduo sucessivamente criminoso- vítima- criminoso; segundo grupo – indivíduo simultaneamente criminoso – vítima- criminoso e terceiro grupo – indivíduo que se transforma em criminoso.

No primeiro grupo encontram-se os criminosos em grande maioria, ou seja, aqueles que cometeram algum tipo de crime na sociedade e se encontra em uma situação de vítima ao mesmo tempo, pelo fato que sofre vários preconceitos na sociedade e entre seus próprios familiares, tornando-se vítima do próprio sistema. Ao invés de reeducá-lo para que não cometa mais crimes, aprende na própria casa criminal a voltar a ser criminoso, por isso o termo criminoso- vítima- criminoso. (TRIBUNAIS, GARCIA, 88, p. 445).

Segundo grupo passando de vítima para criminoso sucessivamente, como é o caso das vítimas que sofrem maus-tratos, são exploradas ou abandonadas na infância, convertem-se em criminosos em razão de terem sido vítimas no momento da formação de seu caráter e da personalidade, com exceção no que ocorre legítima defesa em que a vítima se confunde com o agressor. (TRIBUNAIS, GARCIA, 88 p. 446).

O terceiro e último grupo compreende os indivíduos que se transformam em criminosos inesperadamente e de forma totalmente imprevisível, passando também por vítimas, destacando-se neste caso as causas ocasionais, estados crepusculares, atos reflexos, cegueira e o escotoma. (TRIBUNAIS, GARCIA, 88 p. 446).

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Os atos reflexos são aqueles em que o indivíduo sabe que está prestes a cometer um crime e sem possibilidade de reflexo não consegue deixar de agir, já o deslumbramento ou cegueira ocorre quando as paixões humanas prevalecem sobre a razão, provocando delitos que fogem da lógica racional pelo absurdo do comportamento do agente, criando vítimas que se destacam pelo azar ou condição de estar no lugar errado e na hora errada. (TRIBUNAIS, GARCIA, 88 p. 447).

Existem várias outras espécies de vítimas como a latente, representada por aqueles indivíduos que acabam atraindo os criminosos em sua própria direção, também as vítimas depressivas que não enxergam razão para sua existência, sendo vitimizada pelo fatalismo que trazem consigo. (TRIBUNAIS, 88 p. 447).

A prisão como se encontra hoje não reeduca vitimiza, pois em vez de reeducá-lo para que o mesmo não cometa mais tal crime, muito pelo contrário acaba muitas vezes ensinando coisas desnecessárias que não irá trazer nenhuma melhoria, por isso é tão importante à reeducação/reinserção do preso, não somente no meio prisional, mas também no meio social.

No que se tange a violência doméstica e familiar contra a mulher, e o elemento subjetivo especifico a questão será levantada no terceiro capitulo.

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3.1 PESQUISA DE CAMPO

3.1 Apresentação procedimental da pesquisa empírica

Para a realização da pesquisa, foi disponibilizada a participação no Projeto Sala do Diálogo, para apresentação e abordagem do que seria discutido e debatido na presente monografia.

Em todos os encontros, a pesquisadora foi acompanhada pela assistente social da Susepe, na qual participaram de vários encontros do referido projeto, que sempre foram realizados na última sexta-feira do mês, no turno da tarde. Os encontros permitiam o debate sobre a Lei Maria Da Penha e a violência de gênero. No dia do debate da Violência de Gênero teve a presença da Doutoranda Joice Nielsson, Professora de Direito da Unijuí, que realizou uma dinâmica envolvendo os presos e os participantes do Projeto.

Nesta dinâmica, tinha várias frases de gênero como, por exemplo: é dever da mulher cuidar dos filhos, homem não usa roupa rosa, menina não usa roupa azul, é dever da mulher cozinhar, é dever do homem cortar grama, e, no centro da roda estava uma menina, um menino e um ser humano, cada um dos participantes tinham que escolher três palavras que achassem importante e depois cada um a colocava, aonde, no seu ponto de vista, era adequado fazendo uma breve explicação do porquê que escolheu aquela palavra para aquela pessoa.

A maioria dos encarcerados envolvidos no projeto colocou as palavras no ser humano, justificando que é dever tanto do homem quanto da mulher, cuidar da casa, dos filhos.

O único debate que se desenvolveu em relação ao gênero foi na frase ‘’dar banho na filha mulher é dever da mãe”, eles relataram que mesmo tendo respeito pelas suas filhas, sempre tem algum vizinho ou alguém da própria família que irá ver pelo outro lado, o lado da maldade, falando que não deve deixar o próprio pai dar banho na sua filha. Neste ponto, percebe-se que a sociedade precisa melhorar e muito no modo de pensar e ver as coisas em relação ao ambiente familiar.

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O apenado que apresentou tal argumento, disse que nunca deu banho nas filhas dele pelo fato de ser julgado injustamente, pelo fato de já ter passagem na polícia por tráfico de drogas e pela Lei Maria da Penha.

As entrevistas foram realizadas em duas manhãs, com dez apenados dentre eles, os que estavam na prisão preventiva, e, os que já tinham sido julgados, dois deles desistiram de participar da pesquisa, por ter acontecido o fato muito recentemente e não estavam prontos para relembrar o fato. Totalizando assim oito entrevistados. As entrevistas foram feitas individualmente com a presença da assistente social da Penitenciária Modulada de Ijuí/RS.

No primeiro momento da realização da pesquisa, houve a apresentação da pesquisadora, bem como o objetivo da pesquisa, e em seguida a apresentação do termo de consentimento livre e esclarecido, onde os mesmos poderiam optar se queriam ou não participar da referida pesquisa.

A seguir foram feitas as perguntas, onde muitas delas foram respondidas sem nenhum obstáculo, mas também ocorreram momentos que alguns deles não queriam relatar como, por exemplo, os fatos que envolviam a tentativa ou a consumação do homicídio.

Tanto nas entrevistas quanto na participação do projeto, não houve nenhum constrangimento às partes envolvidas para falar sobre a violência doméstica, todos conversavam abertamente, cada um falando sobre o que achavam da eficácia da Lei Maria da Penha, onde muitos deles relataram que ficaram sabendo de como funciona a referida lei depois de ingressaram na penitenciária, e, participando do Projeto Sala do Diálogo, alguns até então sabiam que existia a proteção legal, porém, não sabiam como funcionava.

3.2 Análise e quantificação dos dados

Os entrevistados responderam tais perguntas:

1) Qual o tipo penal da denuncia, crime que foi denunciado; 2) Qual o tipo penal da condenação;

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3) Qual a condenação imposta, o ano e o regime, inicio do cumprimento da pena e se possível à previsão do termino;

4) Discrição fatídica (descrição dos fatos);

5) Você saberia me informar qual a situação da vitima, onde se encontra ou se tem contato com a mesma;

6) Você tem dependentes? Se sim você tem convívio com eles? Com qual frequência? 7) Você foi convidado a participar do Projeto Sala do Diálogo ou compelido (obrigado);

8) Qual a sua motivação para estar participando do projeto?

9) Em relação ao delito, quais foram as motivações para o cometimento do ato? 10) Com a pena recebida, imposta pelo juízo, você se sente verdadeiramente punido; 11) Teria algo que poderia fazer pela vítima nos dias de hoje, que não foi feito. O quê? 12) O que você sente perante a sociedade, de ter cometido tal delito?

13) Além da pena imposta pelo judiciário, você sofreu alguma punição pelo crime cometido;?

14) Você acha que teria alguma coisa a ser feito em relação a sua reabilitação como agressor? Qual;

15) Além deste projeto, você participa de alguma outra atividade que visa a sua reabilitação;

(16) Como o Projeto Sala do Diálogo tem contribuído para sua estadia aqui na penitenciária?

(17) Como se sentiu sendo procurado por esta pesquisadora e respondendo essas questões.

O primeiro entrevistado foi denunciado pelo crime de tentativa de homicídio, sendo o tipo penal da denúncia o artigo 121, combinado com o art. 14, II, ambos do Código Penal, o denunciado e a vítima já estavam separados quando o fato ocorreu, segundo ele, os mesmos se reencontravam, em um destes encontros quando foi conversar com a vítima na frente do estabelecimento onde a mesma trabalhava, estavam conversando e começaram a discutir, sendo que a vítima lhe proferiu varias agressões físicas, onde o mesmo para se defender lhe desferiu várias facadas no tórax, causando assim ferimentos graves. O denunciado lamenta muito pelo fato ocorrido, sendo que se eles tivessem dado um ponto final na história não teria

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chegado a este ponto de ter ocorrido à tentativa. O mesmo irá para júri popular, e no momento está na prisão preventiva.

No segundo caso, o mesmo foi denunciado pelo crime de homicídio, artigo 121 do Código Penal, o denunciado e a vítima estavam separados quando ocorreu o fato, os mesmos foram casados por vinte e sete anos, a mesma tinha medida protetiva, pois já haviam ocorrido agressões entre o casal, se separam amigavelmente, pois tinham quatro filhos em comum, segundo o denunciado, a mesma ia atrás dele para tentar reconciliar o relacionamento, mas o mesmo não queria mais. O fato ocorreu na frente do cemitério, quando o mesmo passou pela frente do referido local e avistou a vitima na garupa de uma moto com um homem, que por sinal era amigo do denunciado, o mesmo sacou uma arma de fogo atirou contra a vítima causando-lhe a sua morte. O mesmo foi julgado em júri popular, sendo condenado a 20 anos de reclusão, como o mesmo trabalha na penitenciaria modulada no pátio.

No terceiro caso, o entrevistado encontra-se em prisão preventiva, já estava separado da sua companheira, foi denunciado pelo delito de tentativa de homicídio (artigo 121, combinado com o art. 14, II, ambos do Código Penal), o mesmo desferiu contra a sua ex companheira um tiro de espingarda no joelho, no momento em que a mesma se dirigia até a casa da mãe dele para ver as crianças, a mesma lhe incomodou tanto que o mesmo pegou a sua espingarda e lhe proferiu o disparo, segundo ele, ela foi traz dele para ver os filhos dela onde no momento quem estava com a guarda das crianças era o denunciado, também segundo ele, ela era usuária de maconha e alcoólatra, trabalhava em uma boate da cidade e não tinha condições nenhuma de cuidar das crianças, deixava ela ver os mesmos, mas não deixava ela em momento algum sair com as crianças. Este acordo foi feito entre ele à mãe da vítima para que o mesmo ficasse com as crianças em sua residência, a vítima sempre ia atrás dele tentando reatar o relacionamento, o mesmo na maioria das vezes voltava com a expectativa que a mesma iria mudar, mas como não houve êxito, resolveu se separar de vez.

No quarto caso ocorreu homicídio qualificado conforme o artigo 121 parágrafo 2º, inciso do Código Penal, I- mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II- por motivo fútil; III- com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV- á traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a

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defesa do ofendido; e V- para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.Segundo o entrevistado ele e a vítima estavam separados, e ela havia ido até a casa do denunciado para conversarem, foi quando um homem desconhecido, segundo ele, foi arrumar o computador dele que havia estragado, enquanto a vítima estava sentada na sala foi pegar um copo de suco para a mesma, e quando voltou, percebeu que o homem havia dado uma coronhada na cabeça dela, e então ele e o homem decidiram concretar a vítima na churrasqueira, segundo relatos dele, não sabe o porquê fez isso e por que ajudou o homem a concreta-la na churrasqueira.

No quinto caso houve um homicídio, artigo 121 o Código Penal, a pena imposta foi de dezessete anos de reclusão, não quis relatar o fato como aconteceu, só relatou que não tinha direito de tirar a vida de alguém.

O sexto caso o envolve um homicídio, denunciado pelo artigo 121 do Código Penal, a pena imposta foi de dezesseis anos de reclusão não quis relatar como ocorreu o fato, apenas mencionou que se não tivesse reatado o relacionamento o fato não teria ocorrido.

O sétimo caso trata-se de uma tentativa de homicídio, o entrevistado e a vítima estavam separados, mas às vezes saiam juntos para beber, o apenado não se lembra de como o fato aconteceu, só se lembra de que os dois estavam embriagados, pois segundo ele, a é dependente química e já tinha sido internada várias vezes, o mesmo cortou a vítima na casa com uma faca, que segundo ele não se lembra da onde saiu. Não foi julgado ainda.

O último caso envolve uma ameaça e o descumprimento de medida protetiva, segundo o entrevistado não houve ameaça, ela fez a denúncia quando ele foi pagar a pensão do filho do casal, e, também relatou que se fez ameaça não lembra, pois o mesmo usa medicação controlada.

3.3 Abordagem qualificativa das informações levantadas

Da análise dos depoimentos prestados pelos colaboradores, é possível se deparar que o elemento subjetivo específico deste delito, ou seja, o (s) motivo (s) que levaram os agressores

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entrevistados a praticar seus delitos foram, quase que na totalidade, ciúmes e a traição, chamados, portanto, de crime passionais ou homicídio privilegiado.

Homicídio privilegiado conforme o artigo 121 parágrafo 1º do Código Penal nos diz que, “ se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço’’.

Não se trata de elementares típicas, mas de causas de diminuição de pena, também conhecidas como minorantes, que não interferem na estrutura da descrição típica, permanecendo esta inalterada. (BITENCOURT, 2012, p.73).

O motivo portador de destacado valor social é o consentâneo aos interesses coletivos. Já o motivo de relevante valor moral é aquele cujo conteúdo revela-se em conformidade com os princípios éticos dominantes em uma determinada sociedade. Ou seja, são os motivos nobres e altruístas, havidos como merecedores de indulgencia. (PRADO, 2006, p.61-62).

Segundo o referido artigo, existe duas figuras privilegiadas, que estão relacionadas aos motivos determinantes do crime, o valor social ou moral. O motivo determinante constitui a fonte propulsora da vontade criminosa, não há crime gratuito ou sem motivo. (BITENCOURT, 2012, p. 73-74).

Os motivos que levam a prática do crime de homicídio podem ser morais, imorais, sociais e antissociais. Quando os motivos têm natureza social ou moral, privilegiam a ação de matar alguém; quando, no entanto, a motivação tem natureza imoral ou antissocial, está-se diante de homicídio qualificado. (HÚNGRIA, 1943, p.66).

A ação continua punível, apenas sua reprovabilidade é mitigada, na medida em que diminui o seu contraste com as exigências ético- jurídicas da consciência comum. A relevância social ou moral da motivação é determinada pela escala de valores em que se estrutura a sociedade. (BITENCOURT, 2012, p. 74).

Referências

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