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PROBLEMAS DA PSICOLOGIA ECOLÓGICA

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Academic year: 2019

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PSICOLOGIA ECOLÓGICA:

A TEORIA DOS

BEHAVIOR

SETTINGS

Ψ

CAPÍTULO 1

PROBLEMAS DA PSICOLOGIA ECOLÓGICA

ROGER GARLAND BARKER

Tradução: Prof. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto, FAUUnB.

A Estação Psicológica de Campo do Meio-Oeste (Midwest Psychological Field Station) foi criada para facilitar o estudo do comportamento humano e seu ambiente in situ,

trazendo para a ciência psicológica o tipo de oportunidade que tem sido utilizada há tempos pela biologia: acesso facilitado aos fenômenos em estudo, sem que sejam alterados pelos procedimentos de seleção e preparação que ocorrem nos laboratórios. A Estação de Campo permitia oportunidades promissoras. Mas também levantava questões novas para a psicologia: como seriam coletados os specimens do comportamento? Que partes haveria na

corrente incessante dos comportamentos individuais, como deveríamos enumerá-los e descrevê-los ? Entre os ilimitados atributos dos lugares que cercam as pessoas, quais são os mais relevantes para seu comportamento, e como poderíamos identificá-los e medi-los?

Esses novos problemas metodológicos e conceituais surgem de forma articulada a um amplo espectro de fenômenos psicológicos, dado que a psicologia ecológica preocupa-se com o comportamento molecular e molar1, e tanto com o ambiente psicológico (o

1 Por “molecular” e “molar”, Barker significa níveis de análise de fenômenos individuais e coletivos. Para

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espaço-vida, nos termos de Kurt Lewin; o mundo como uma pessoa particular percebe e que a afeta) quanto com o ambiente ecológico (o contexto objetivo, pré-perceptual, do comportamento; as circunstâncias reais nas quais as pessoas se comportam). Neste trabalho estaremos preocupados com algumas dessas questões, em especial, os métodos e conceitos que lidam com o ambiente ecológico do comportamento humano molar.

A psicologia tem sido, predominantemente, uma ciência experimental. Os primeiros psicólogos foram experimentadores que trabalharam em laboratórios. Mesmo os psicólogos clínicos e industriais, em suas pesquisas, trabalharam como experimentadores, ordenando e variando as condições de ocorrência de comportamentos, de maneira a poderem testar suas hipóteses e intuições. A fase de investigação mais descritiva e ecológica, mais relacionada à história natural dos fenômenos observados, teve um papel menor na pesquisa psicológica, o que implica em sérias limitações à ciência. Procedimentos experimentais revelam aspectos das leis do comportamento, mas eles não esclarecem – ou não podem esclarecer – como as variáveis consideradas nessas leis se distribuem nas mais variadas condições e tipos de pessoas. O trabalho experimental produziu uma multidão de proclamações do tipo “se... então...” como os seguintes:

Se um cubo vermelho de uma polegada de aresta for colocado sobre uma mesa e

diante de uma criança de oito meses de idade, então ela tentará agarrar o cubo (Halverson,

1943).

Se uma pessoa for frustrada, então ela exibirá um comportamento agressivo e

regressivo (Barker, Dembo, Lewin, 1941; Dollard, Doob, Miller, Mowrer, Sears, 1939).

Se a crianças com quatro anos de idade fizermos a pergunta “por que temos casas?”, então elas nos responderão das seguintes formas: “para entrar nelas”; “para que não chova

sobre nós”; “para cozinhar”; “para ficar nelas”; “para dormir”; “para brincar”; “para sentamos”; “para jogar com elas”; “esta é uma casa”; “casas”; “nas casas temos aquecedores e também tapetes, temos nossos brinquedos e uma porção de outras coisas” (Terman, Merrill, 1937, pg. 212).

A psicologia sabe como as pessoas se comportam sob condições experimentais, ou nos procedimentos clínicos, mas sabe pouco sobre os comportamentos sob outras condições, sobre como os resultados experimentais e os eventos clínicos se distribuem, fora dos laboratórios e das clínicas.

As coisas se passam de forma diferente em outras ciências. Os químicos conhecem as leis que governam a interação do oxigênio e do hidrogênio, e também sabem como esses elementos se distribuem na natureza. Os entomologistas conhecem os vetores biológicos da malária, e também conhecem a ocorrência desses vetores em escala planetária. Em

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contraste, os psicólogos conhecem pouco mais que os leigos acerca da distribuição e grau de ocorrência de seus fenômenos mais básicos: os comportamentos punitivos, hostis, amigáveis, recompensadores, de pressão social sobre as pessoas, de medo, de frustração.

Apesar de termos registros diários das concentrações de oxigênio em nossos rios, das temperaturas do solo nos campos de trigo, da atividade vulcânica, do comportamento dos pássaros que nidificam, a taxa de absorção do iodeto de sódio pelos caranguejos, entre tantos outros registros, não temos tantos registros científicos acerca de como as mães humanas cuidam de seus filhos, de como os professores se comportam em suas salas de aula (e como seus alunos respondem a esse comportamento), do que as famílias dizem fazem, o que conversam quando jantam juntas, ou de como as crianças vivem suas vidas, desde o momento em que acordam até quando vão para a cama no começo da noite.

Dado que não temos tais registros, nós somente podemos especular acerca de importantes questões tais como: quais as mudanças que podem ter ocorrido ao longo das gerações, na participação das crianças na vida das comunidades? Como as vidas dos membros das famílias diferem, quando essas famílias são grandes ou quando são pequenas? Com que freqüência as pessoas alcançam êxitos em suas vidas cotidianas, e quais as conseqüências dos sucessos e fracassos nos seus subseqüentes comportamentos ? Como o ambiente difere para os que residem em áreas rurais, em vilas ou cidades? As crianças norte-americanas são educadas de forma diferente das crianças inglesas ou francesas? Se há diferença na educação, como isso afeta o caráter nacional de americanos, de ingleses, de franceses? Antes de podermos responder esses tipos de perguntas, devemos conhecer mais que as leis do comportamento. Nós precisamos conhecer mais sobre as distribuições das condições relevantes do comportamento observado entre as pessoas.

Além disso, a ausência de dados ecológicos limita a descoberta de algumas das leis do comportamento. É impossível criar em laboratório a freqüência, a duração, a amplitude, a complexidade, a magnitude de importantes condições de vida humana. Nesse aspecto, a psicologia tem algo em comum com a meteorologia. Alguns dos princípios dos redemoinhos e dos relâmpagos podem mesmo ser estudados em laboratório, mas para que estendamos esse estudo até os elevados valores que suas forças alcançam na realidade, com todos os fatores complicadores que efetivamente se associam às suas ocorrências, é necessário ir ao campo aberto, às grandes planícies, e observar os redemoinhos e tempestades de raios tal como ocorrem em condições naturais. Isso também é verdadeiro para a psicologia; algumas condições freqüentes na vida cotidiana são de difícil reprodução experimental; contudo, os experimentos naturais ocorrem diante de nós diariamente, e seu estudo pode nos instruir acerca das técnicas e instrumentação necessárias ao seu registro e análise.

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contêm descobertas especiais, métodos e teorias desenvolvidos2. Nós acreditamos que é muito importante apresentar um relato sistemático dos métodos e conceitos necessários para as investigações sobre o ambiente ecológico no presente, pois o ambiente ecológico tornou-se um importante conceito para as ciências comportamentais.

Quando o ambiente é relativamente uniforme e estável, as pessoas são uma fonte óbvia de variabilidade comportamental, e o problema científico dominante nos campos de aplicação das ciências comportamentais pode ser compreendido por muitas questões como: que são pessoas? Qual a natureza e quais as fontes das diferenças individuais? Como as pessoas podem ser selecionadas e distribuídas nos espaços e oportunidades abertos pelas burocracias, pelas escolas, pelos negócios, pelos exércitos? Quais as necessidades e capacidades das pessoas que devem ser consideradas nas adaptações representadas por rodovias, por leis, por currículos, etc.? considere que nos dias de hoje aos ambientes são mais instáveis e variados que antigamente, e que sua contribuição para a variância do comportamento foi ampliada. Tanto a ciência quanto a sociedade perguntam-se com mais urgência do que nunca: que são ambientes? Como os habitats humanos diferem, por exemplo, em países desenvolvidos e em países subdesenvolvidos, em escolas grandes e em escolas pequenas, em edifícios comerciais sem janelas ou em edifícios completamente envidraçados, em salas de aula integradas ou segregadas? Como os ambientes selecionam e modelam as pessoas que participam deles ? Quais são as propriedades estruturais e dinâmicas do ambiente, às quais as pessoas devem se adaptar? Essas são questões a serem respondidas pela psicologia ecológica e, em particular, elas se referem ao ambiente ecológico e às suas conseqüências para os seres humanos.

Pode-se pensar que a psicologia tornou-se mais informada acerca da natureza fundamental do ambiente ecológico ao longo dos estudos do contexto do comportamento. Mas não é o caso. Não é o caso porque a psicologia tem dado sua atenção, de forma quase exclusiva, àqueles elementos do ambiente que são úteis para os estudos dos comportamentos que não passam da pele de seus sujeitos de estudo. A psicologia sabe o bastante acerca das propriedades físicas dos instrumentos de exploração ambiental que usa para esse propósito; por exemplo, sobre os objetos distais da percepção, ou sobre as alterações de energia nas superfícies de um receptor. Mas de acordo com os princípios das pesquisas experimentais, os elementos ambientais associados à complexidade das situações reais em que ocorrem – situações como os jogos esportivos, os simpósios universitários, os pedágios, os cursos de aritmética.

O resultado é que, inevitavelmente, a ciência da psicologia não possui o conhecimento adequado do ambiente do comportamento humano livre-de-psicólogos. Uma visão que não é incomum entre os psicólogos, é de que o ambiente onde ocorre o comportamento é relativamente não-estruturado, passivo, uma arena probabilística de objetos e eventos na qual os seres humanos se comportam de acordo com os programas que

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eles trazem consigo (Brunswik, 1955; Leeper, 1963; Lewin, 1951). Mas a pesquisa que conduzimos na Midwest Field Station e em outros lugares indicou que quando nós olhamos para o ambiente onde ocorre o comportamento como um fenômeno que é valioso para a investigação, e não como uma instância que se presta à depuração do programa comportamental contido nas pessoas, a situação é outra. Deste ponto de vista, o ambiente passa a consistir em ordenamentos altamente estruturados, onde os arranjos casuais de eventos e objetos que estão associados ao comportamento humano, que o apóiam e condicionam, são improváveis, e nos levam a concluir que está em jogo um processo dinâmico de organização de padrões.

Quando, logo no início de nosso trabalho na Field Station, nós criamos extensos

registros do comportamento das crianças em seus ambientes cotidianos, seguindo ainda uma abordagem centrada nas pessoas, descobrimos que alguns atributos do comportamento variavam menos entre crianças num mesmo ambiente ou circunstância comportamental, do que entre ambientes ou circunstâncias comportamentais, ao longo do tempo de observação dessas crianças. Nós descobrimos, em resumo, que nós poderíamos predizer com maior precisão alguns aspectos do comportamento das crianças desde o conhecimento sobre o funcionamento das salas de aula, das lojas, dos jogos de que participavam do que do conhecimento das tendências comportamentais de cada criança em particular (Ashton, 1964; Barker & Gump, 1964; Raush et al., 1959, 1960). Foi essa experiência que nos levou

a observar o ambiente cotidiano, real, onde o comportamento das pessoas ocorria, e que nos levou às conseqüências metodológicas e teóricas que expomos neste trabalho.

REFERÊNCIA:

Barker, R. G. (1968). Ecological psychology. Concepts and methods for studying the environment of human behavior (pp. 1 - 4). Stanford, Califórnia: Stanford University

Referências

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