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Não houve arquiteto formado em São Paulo da mesma geração dos pioneiros cariocas que tenha iniciado a sua vida profissional com a linguagem moderna e sem envolvimento com a construção. Todos os paulistas praticaram uma arquitetura eclética antes de se converterem ao modernismo; todos, também, adquiriram grande prática de canteiro, portanto rara era a encomenda de projeto sem a respectiva obra. A introdução de componentes modernos na arquitetura paulista não se iniciou mediante os recursos formais que caracterizaram a linha carioca: foi no tratamento racional e inovador das plantas que certa modernidade

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2.1 Arquitetura Eclética: 1932 – 1943

A trajetória profissional de Eduardo Augusto Kneese de Mello1 teve início no ano de 1932, quando se graduou como Engenheiro-Arquiteto na Escola de Engenharia Mackenzie, integrando uma turma com apenas cinco formandos, a maior do curso até então. Kneese, assim como os principais arquitetos formados em São Paulo, ingressaram no curso de Engenharia, da Politécnica ou do Mackenzie, freqüentando uma disciplina opcional no último ano, intitulada Arquitetura2, este foi o caso de Oswaldo Bratke, Henrique Mindlin, Vilanova Artigas, Luis Saia, Ícaro de Castro Mello, Galiano Ciampaglia, Miguel Forte, Roberto Cerqueira César, Zenon Lotufo, entre outros.

1 Pode-se obter maiores informações sobre toda a trajetória (eclética e moderna) de Eduardo Kneese de Mello

nos anexos 1 e 2 deste trabalho que contêm sua biografia e relação de projetos/obras, respectivamente.

2 O primeiro curso de Arquitetura foi criado pelo Mackenzie, na cidade de São Paulo, em 1947 através do

Decreto Federal nº. 23.275, e no ano seguinte (1948), a Politécnica deu origem ao curso de Arquitetura da Universidade de São Paulo através da Lei Estadual nº. 104.

Figura 48: Projeto-tese de uma policlínica para São Paulo elaborado por Eduardo Kneese de Mello, 1932.

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Eduardo Kneese de Mello foi autor de um grande número de projetos. No entanto, sua produção arquitetônica é muito mais conhecida pela qualidade do que propriamente pela quantidade. A quantidade marcou a primeira etapa de sua vida profissional: a fase das construções ecléticas, das residências de catálogo, que a elite urbana tanto gostava de reproduzir por ser sinônimo de progresso, extremamente vinculada à economia cafeeira.

Assim, podemos ver que a década de 30 apresentou certas peculiaridades: a popularização do Art déco, depois de um intervalo de estagnação devido à crise de 1929, e o rápido esquecimento das manifestações do Neocolonial simplificado, até então de grande aceitação popular. O Neocolonial, digamos, erudito perdurou, como já vimos, como também permaneceram raras manifestações estéticas dos outros grupos atrás descritos, pois sempre existem excêntricos ricos insistindo em soluções personalistas.(LEMOS, 1987, p.98).

Apesar da divulgação dos princípios da Arquitetura Moderna desde meados da década de 1920, ainda se vivia a era de ouro das construções ecléticas, com as residências em

estilo, a abertura de novos loteamentos para as camadas médias urbanas. Nessa década,

vivia-se em plena euforia desenvolvimentista, que teve ainda maior florescimento com a industrialização da era Vargas (1930 – 1945), que em São Paulo assumiu contornos específicos devido à acumulação gerada pela cafeicultura.

Eduardo Kneese de Mello iniciou sua carreira com o ecletismo tardio dos anos de 1930, não por opção, mas em decorrência da própria formação escolar. A formação de engenheiros-arquitetos do Mackenzie College3 era baseada na estrutura de ensino

norte-3 O primeiro curso de Arquitetura foi criado pelo Mackenzie, na cidade de São Paulo, em 1947 através do

Decreto Federal nº. 23.275, e no ano seguinte (1948), a Politécnica deu origem ao curso de Arquitetura da Universidade de São Paulo através da Lei Estadual nº. 104.

Figura 49: Formatura do engenheiro-arquiteto Eduardo Kneese de Mello, na escola de Engenharia do Mackenzie College. São Paulo, 1932.

Fonte: acervo Unicentro.

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americana, e o curso de arquitetura, apesar de vinculado ao de engenharia, era influenciado pelos conceitos da École des Beaux Arts de Paris. Esta influência significou um maior estudo das artes e se caracterizou por uma forte preocupação com uma determinada estética arquitetônica.

Portanto, os futuros engenheiros-arquitetos, discípulos de Christiano Stockler das Neves, crítico voraz das veleidades modernizadoras, aprendiam a ver, sobretudo, a arquitetura como arte e utilizar elementos arquitetônicos buscando composições clássicas regidas pelo princípio da harmonia, equilíbrio e perfeição, produzindo, dessa forma, uma arquitetura eclética, composta por elementos de diversas origens, mas utilizando materiais contemporâneos.

Kneese contava que os engenheiros-arquitetos formados pelo Mackenzie faziam “(...) arquitetura de todos os tipos: neocolonial, normando, mexicano e até moderno ou outro

estilo qualquer, mas sem convicção nenhuma” (depoimento de Eduardo Kneese de Mello.

In: A CONSTRUÇÃO São Paulo 1976, nº. 1497, p. 40).

Seu primeiro trabalho como engenheiro-arquiteto foi na Construtora do Sr. Luiz Espinheira, responsável por importantes projetos na cidade de São Paulo. Colaborou com os engenheiros da firma construtora durante dois anos, como desenhista, em projetos de estilos variados.

Após essa experiência, montou seu escritório, no Largo da Misericórdia, centro de São Paulo. Nessa nova fase, deixou-se acalentar pelo desejo retrógrado da burguesia paulistana, de mostrar no presente o que poderia ter sido no passado. O provincianismo era retratado na paisagem urbana, onde predominavam fazendeiros e industriais, como se a cidade ainda tivesse caráter intermitente e, a casa, o valor social por excelência para

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ser exibido nos dias de festa. A maior prova disso é o fato de que durante os primeiros anos de sua vida profissional foi responsável pela construção de um grande número de residências normandas, californianas,coloniais e até modernistas, atendendo o cliente no estilo de sua preferência. O grande número de construções residenciais que desenvolveu, localizadas nos Jardins América, Europa, Paulista e Paulistano, fez com que ganhasse prestígio e se destacasse frente à sociedade paulistana.

Algumas das residências elaboradas entre os anos de 1932 e 1937 foram publicadas, no ano de 1938, em um álbum impresso pela União Paulista de Imprensa – UPI, com o nome

de Construcções Residenciaes4. A única falha deste álbum é que as residências são

apresentadas somente através de fotografias, não contendo nenhum desenho técnico (plantas, cortes, elevações) e, também, não possuindo data, dificultando assim, a elaboração de uma listagem precisa.

A partir de 1938, com a criação da Revista Acrópole – a qual contou com a participação de Kneese5 – essas residências passaram a ser publicadas, em sua maioria, nesta revista, uma das únicas publicações paulistas especializada em arquitetura realizada nesta época6. Em grande parte dessas residências de catálogo publicadas, tanto pela UPI

4 Existem exemplares desse álbum que podem ser consultados nas bibliotecas da Faculdade de Arquitetura

e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU USP) e do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

5 Segundo Eduardo Corona, no edital do último número da revista Acrópole: “Vejamos a sua vida: em

meados de 1937 o arquiteto Eduardo Kneese de Mello foi procurado pelo Sr. Roberto Corrêa de Brito para a confecção de um álbum impresso das obras daquele arquiteto e que foi realizado nesse mesmo ano. No decorrer das conversações o arquiteto Kneese de Mello, sempre entusiasta das coisas da arquitetura, aventou a possibilidade de ser montada uma revista de arquitetura em São Paulo. O senhor Corrêa de Brito imediatamente interessou no assunto os arquitetos Henrique Mindlin e Alfredo Ernesto Becker, que se puseram à disposição da façanha. E o 1º número saiu em maio de 1938.” (ACRÓPOLE, 1971, nº. 390 e 391, 6).

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como pela revista Acrópole, a organização espacial tinha sempre como modelo o palacete europeu, seguindo o estilo pré-escolhido pelo cliente.

O rigor no cumprimento destes cânones de ordenação formal correspondia à aparente importância da família proprietária. O fachadismo era responsável por traduzir os elementos decorativos numa noção exagerada e mentirosa da posição social do proprietário.

Nas habitações de alto padrão dos chamados bairros jardins, as construções unifamiliares se afastam obrigatoriamente dos limites do lote e sua volumetria se divide em dois corpos: um principal que abriga a casa propriamente dita e um secundário no fundo do lote onde se localizavam as dependências dos criados e a garagem (...). (SILVA, 2003, p. 45).

Estas características estão presentes na primeira obra de Kneese publicada na Revista Acrópole, a residência do Sr. Jean Lecoq à Rua Terra Nova, 8, no Jardim América, de 1938. Em estilo Missões, apresenta telhado em duas águas de empenas perpendiculares à rua, com beirais reduzidos; proporções robustas; revestimentos rústicos; e, profusão de elementos em madeira e ferro fundido, tanto externa como internamente.

Outro estilo muito presente nesta época foi o neocolonial. Seu maior exemplo dentro da obra de Kneese é sua própria residência à Rua Antonio Bento, 399, no Jardim Paulista, publicada na revista Acrópole em 1940.

6 Durante esta pesquisa, foram encontrados exemplares da revista Record – Arquitetura e Decorações,

editada em São Paulo pela empresa Record, que datam dos anos de 1934 (exemplares nº. 7 e 9) e 1935 (exemplar nº. 13), onde foram publicadas algumas residências ecléticas projetadas pelo arquiteto Eduardo

Kneese de Mello. Não foi possível localizar maiores informações sobre a continuidade desta publicação. Figura 53: Álbum 1938. Construcções Residenciaes, União Paulista de Imprensa. São Paulo,

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A fachada, bastante erudita, transpõe a arcada típica da arquitetura religiosa do período colonial para o programa residencial. O partido já se aproxima do volume prismático característico dos solares coloniais; a planta insere-se num quadrado, com um puxado a imitar o agenciamento em varanda. (PINHEIRO, 1997, s/p).

Embora esta sua primeira fase seja curta, com duração de aproximadamente onze anos, foi a época em que Kneese de Mello mais construiu7. Em diversos depoimentos, ao falar desta época se autodenomina construtor-eclético. E, em determinada época, orgulhava-se de poder atender todos estes clientes, cada qual com orgulhava-seu gosto e estilo de preferência.

Saí da escola, comecei a trabalhar como construtor. Fiz algumas casinhas por aí, o Jardim América está salpicado delas, e eu fazia a arquitetura à vontade do freguês. Quando o sujeito entrava no meu escritório, eu perguntava imediatamente: qual o estilo de sua preferência? E eu fazia o estilo do sujeito, nem que nunca tivesse ouvido falar neste estilo. Eu ia estudar, ia me virar, ia perguntar e sapecava no sujeito o estilo que ele tinha pedido. Assim fui um construtor eclético. (KNEESE DE MELLO, 1979[?], p. 13).

Apesar de manifestar esse orgulho, depois de sua conversão ao Movimento Moderno passou a não reconhecer valor na produção das primeiras obras, nas residências para a pequena burguesia e camadas médias urbanas paulistanas, onde contribuiu para a construção da cidade com uma arquitetura de cenário, assim como Oswaldo Bratke e tantos outros. Esse desprezo transparece em alguns depoimentos feitos pelo próprio arquiteto:

7 Foram levantados ao longo da pesquisa 49 obras e projetos realizados e publicados, que se enquadram em

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Quando fazíamos Arquitetura eclética ou acadêmica, havia assim uma certa intenção de exibição e que (...), e depois me pareceu que se chocava com a intenção social que a Arquitetura tem que representar. (...) Hoje estou convencido, absolutamente, que a Arquitetura é profundamente social. (...) Nós temos que esquecer a idéia de fazer grandes palácios e partir para soluções mais simples, mais humanas e sociais.

(depoimento de Eduardo Kneese de Mello. In: SANTOS, 1985, p. 101).

Na segunda etapa de sua vida profissional, passou a criticar os arquitetos ecléticos com voracidade, como se pode verificar em declarações do próprio arquiteto. O trecho abaixo, presente em seu livro Arquitetura Brasileira – Palestras e Conferências, publicado pela FAU USP, ratifica esta afirmação:

Com as convicções que adotei, passei a pregar, junto com outros colegas, a arquitetura contemporânea, combatendo o ecletismo, a cópia, o receituário antigo e estrangeiro. (...). Os copistas de estilos continuam agindo e é preciso combatê-los, mostrando a nossa gente o que é a verdadeira arquitetura. (KNEESE DE MELLO, 1975 b, p. II).

Neste trecho pode-se observar que o arquiteto Eduardo Kneese de Mello começou a se distanciar de sua formação acadêmica, condenando a cópia de estilos estrangeiros. No entanto, como veremos a seguir, sua arquitetura, nos primeiros anos da década de 1940, continuou limitada a um desenho de fachada, sem alterações significativas em sua concepção espacial. Foi nessa mesma época que participou do V Congresso Pan-americano de Arquitetos, em Montevidéu (1940), onde começou sua propalada conversão

em arquiteto moderno.

Figura 55: Residência Jean Lecoq, 1938. Fonte: Acrópole, 1938, nº. 1, p. 27.

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Figura 57: Residência Antonio Pinto Cardoso de Mello. Rua Canadá, São Paulo. Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 58: Residência Eurico Guerrini. Rua Estados Unidos, São Paulo.

Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 59: Residência Ismael Ribeiro de Barros. Rua Canadá, São Paulo.

Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 64: Residência Francisco de Assis e Almeida. Rua Maestro Chiaffarelli, São

Paulo. Fonte:

CONSTRUCÇÕES, 1938. Figura 61: Residência Rodolfo

Kromfeld. R. Cuba, São Paulo. Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 62: Residência Jose Martins Borges. Rua Inglaterra, São

Paulo. Fonte:

CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 63: Residência Altino de Castro Lima. Rua Guacatan, São Paulo.

Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 60: Residência Américo Floriano de Toledo. Rua Terra Nova, São Paulo.

Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 66: Residência Sebastião Ferraz Salles. Rua Atibaia, São Paulo. Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 65: Residência Mario Dias da Costa. Rua do Chile, São Paulo. Fonte: C O N S T R U C Ç Õ E S , 1938.

Figura 67: Residência Marcos Lindenberg. Rua Antonio Bento, São Paulo. Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 68: Residência Elias Fleury. Rua Antonio Bento, São Paulo.

Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 69: Residência Francisco de Paulo Pinto Hartung. Avenida Brasil, São Paulo.

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Figura 70: Residência Theodoro Braga. Rua Boituva, São Paulo. Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 74: Residência João de Souza. Rua Rosa Silva, São Paulo. Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 72: Residência Rudolf Bülau. Rua David Campista, São Paulo.

Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 73: Residência Maria Judith Bernardino de Campos. Rua Estados Unidos, São Paulo. Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938. Figura 71: Residência Rodolpho Magalhães.

Avenida Brasil, São Paulo. Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 79: Residência Oliver Ferreira. R. Itapeva, São Paulo. Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 75: Residência Paulina Muniz. Rua Conselheiro Brotero, São Paulo. Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 76: Residência Luiz Aranha Junior. Rua Bahia, São

Paulo. Fonte:

C O N S T R U C Ç Õ E S , 1938.

Figura 77: Residência Bianôr Figueirôa. Rua Fonseca Telles, São Paulo. Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

Figura 78: Residência Manoel Borges. Rua Espanha, São Paulo.

Fonte: CONSTRUCÇÕES, 1938.

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Figura 80: Residência Jean Lecoq. Rua Terra Nova, São Paulo. Fonte: Acrópole, 1938, nº. 1, p. 27.

Figura 81: Residência Ismael Brandão. Rua Leôncio de Carvalho, São Paulo. Fonte: Acrópole, 1938, nº. 6, p. 16.

Figura 82: Residência. Rua Dona Hypolita, São Paulo. Fonte: Acrópole, 1938, nº. 8, p. 22.

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Figura 84: Residência. Avenida Rebouças, São Paulo. fonte: Acrópole, 1938, nº. 11, p.32.

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Figura 85: Residência Cyro Costa Filho. Rua Maestro Elias Lobo, São Paulo.

Fonte: Acrópole, 1939, nº. 13, p.46.

Figura 86: Residência George Stanley Smith. Rua Honduras, São Paulo. Fonte: Acrópole, 1939, nº. 16, p.16.

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Figura 87: Residência Diogo Martins Ribeiro. Rua Leopoldo Bulhões, São Paulo. Fonte: Acrópole, 1940, nº. 23, p. 25.

Figura 88: Residência Matheus Santamaria. Rua Morro Verde, São Paulo.

Fonte: Acrópole, 1940, nº. 25, p.24.

Figura 89: Residência Manoel Arantes Matheus. Rua Polônia, São Paulo.

Fonte: Acrópole, 1940, nº. 28, p. 125.

Figura 90: Residência Moacyr Moreira. Rua do Ouro, São Paulo.

Fonte: Acrópole, 1940, nº. 30, p.203.

Figura 91: Residência Sylvio Suplicy. Rua Maestro Elias Lobo, São Paulo. Fonte: Acrópole, 1941, nº. 34, p.355.

Figura 92: Residência Eduardo Kneese de Mello. Rua Antonio Bento, São Paulo.

Fonte: Acrópole, 1941, nº. 37, p.9.

Figura 93: Residência Ernesto Soares. Avenida 9 de Julho, São Paulo. Fonte: Acrópole, 1941, nº. 38, p. 69.

Figura 94: Residência Edith de Queiroz Mattoso. Avenida Rebouças, São Paulo.

Fonte: Acrópole, 1941, nº. 42, p.230.

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Figura 99: Projeto e estudo de um Colonial, Jardim América, São Paulo.

Fonte: Acrópole, 1943, nº. 61, p. 469. Figura 98: Núcleo de 24

residências térreas, BHLB. Rua Pedroso de Moraes esquina com Galeano de Almeida, São Paulo. Fonte: Acrópole, 1942, nº. 52, p.159. Figura 96: Residência Horácio Vaz

Guimarães, Avenida Europa, São Paulo.

Fonte: Acrópole, 1942, nº. 48, p.436.

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2.2 Arquitetura Moderna: 1940 – 1994

Conversão abrupta ou transição conciliadora?

Eduardo Kneese de Mello costumava dizer que sua conversão ao Movimento Moderno, no início de sua segunda fase profissional, foi marcado pelo corte abrupto, sem transições conciliadoras. Em depoimentos e entrevistas deixava transparecer uma falsa impressão de que:

Quase seria possível de determinar o dia e a hora em que [Kneese] abandonaria o convencional para ser ‘moderno’. E o moderno aqui assume a importância que vai muito além do repertório formal. Revela na prática a incorporação de um ideário que se contrapõe à experiência anterior. (THOMAZ, 1992/1993, p. 81).

Falsa impressão pois, apesar de afirmar com veemência que sua conversão foi marcada pelo corte abrupto, percebia-se, através de suas obras e projetos, ainda ecléticos,

Figura 100: Eduardo Kneese de Mello (da esquerda para direita, o primeiro sentado na 2ª fileira) durante a sessão inaugural do V Congresso Pan-americano de Arquitetos. Montevidéu, 1940.

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publicados no início da década de 19408, que sua conversão não ocorreu de forma tão radical, foi muito mais branda do que o próprio arquiteto admitia. Como a arquiteta Maria Lucia Bressan Pinheiro coloca em sua tese de Doutorado defendida na FAU USP:

Assim, percebe-se que a propalada “conversão” de Kneese de Mello à causa da arquitetura moderna foi mais gradual do que o próprio arquiteto gostava de admitir, a partir do crescente contato com a vanguarda carioca, e bastante relacionada à sua participação ativa nos recém criados órgãos de classe. E nem poderia ser de outro modo, pois a transformação intempestiva de Kneese de Mello em arquiteto radicalmente moderno só poderia indicar sua incompreensão das novas propostas: a substituição de um formalismo por outro, em suma. (PINHEIRO, 1997, p. 293).

Essa nova fase de sua vida profissional teve um caráter mais humano e social do que a primeira, deixou de representar o desejo retrógrado da burguesia de luxo e exuberância, para atender à coletividade. Portanto, tornar-se moderno, foi, para Kneese, adquirir a consciência de que a arquitetura até então havia sido monopolizada pela burguesia e era necessário, nesse novo momento, questionar qual a função social do arquiteto e o real significado da arquitetura.

Em muitos depoimentos sobre sua conversão ao Movimento Moderno, Kneese explicava, sempre da mesma maneira, que foi o acaso que o colocou em contato direto com os arquitetos cariocas, e dessa forma com o Movimento Moderno. O acaso foi um telefonema de Zico, secretário do Instituto de Engenharia, em fevereiro de 1940, convidando-o para um coquetel promovido para recepcionar o grupo de arquitetos cariocas, dentre eles

8 Na relação de projetos apresentada no item anterior, pode-se notar a publicação de projetos ecléticos nos

anos de 1940, 1942 e 1943. Isso indica que a conversão de Eduardo Kneese de Mello ao Movimento Moderno, não ocorreu exatamente como o arquiteto dizia.

Figura 101: Durante o V Congresso, o arquiteto Julian Levi ofereceu a Don Horacio Acosta y Lara, prefeito de Montevidéu, em nome da delegação norte-americana, dois livros sobre arquitetura americana. Fonte: acervo Unicentro.

Figura 102: Delegação brasileira, presente no V Congresso Pan-americano de Arquitetos, após visita ao MonumentoLa Carreta. Junto ao grupo, o escultor José Belloni, autor do monumento.Montevidéu, 1940. Fonte:acervo Unicentro.

Figura 103: Museu de Arte Moderna de São Paulo. Da esquerda para direita: Alfredo Volpi, Menotti Del P i c c h i a , P o l a R e z e n d e , Alexander Calder, Rino Levi, Lina Bo Bardi, Nonê de Andrade e Kneese de Mello. São Paulo, início da década de 1940. Fonte: acervo EAQM e YMG.

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Nestor Figueiredo (presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil), Paulo Camargo, Marcelo Roberto, Rafael Galvão, Wladimir Alves de Souza, Paulo Candiota e João Kahir, que se dirigia a Montevidéu a fim de participar do V Congresso Pan-americano de Arquitetos.

Me entusiasmei e segui para lá. No Uruguai havia um fato curioso: o presidente da República era arquiteto, dois ministros e o prefeito de Montevidéu também. E eu era engenheiro-arquiteto. Os colegas estavam discutindo Arquitetura contemporânea, porém, eu havia levado fotos de minhas obras em vários estilos para mostrar minha versatilidade. Começou, então, em 1940, em Montevidéu, a minha conversão. Esse contato foi muito importante para minha vida profissional porque, de repente, comecei a perceber que a Arquitetura tem que ser o retrato de seu tempo, como diz Le Corbusier, e eu estava fazendo retratos de outros tempos. Estava mentindo arquitetonicamente.

(depoimento de Eduardo Kneese de Mello. In: SABBAG, 1986, p. 30).

Durante o V Congresso Pan-americano de arquitetos, Eduardo Kneese de Mello recebeu

o Prêmio Honor y Diploma pelo conjunto de suas residências ecléticas paulistanas,

enquanto Marcelo e Milton Roberto receberam por suas residências modernas cariocas, além do ‘Prêmio Medalha de Ouro e Diploma’ pelo projeto da Associação Brasileira de Imprensa (1936). No mesmo evento, foi premiado um dos primeiros conjuntos habitacionais promovidos pelo IAPI (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários), o Conjunto Residencial de Realengo, projeto de Carlos Frederico Ferreira, 1937.

O contato com arquitetos de outros países e com a vanguarda carioca foi definitivo para a reorientação da arquitetura praticada por Kneese de Mello. Não se tratava apenas de uma reorientação estética, exclusivamente formal. Implicava antes de tudo, a adoção de valores e de uma nova atitude profissional. Definiram-se, dessa forma, os traços que

Figura 105: Recepção a Richard Neutra. Da direita para a esquerda, sentados: Kneese de Mello, Richard Neutra e, na outra extremidade, Vilanova Artigas. São Paulo, 1945. Fonte: acervo Unicentro.

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Figura 108: Eduardo Kneese de Mello e Bernardo Saião. Brasília, 1959. Fonte: acervo EAQM e YMG.

Figura 107: Júri de premiação de Arquitetura da 1ª. Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Da esquerda para direita: Junzo Sakakura, Kneese de Mello, Francisco Beck, Sigfried Giedion e Mario Pani. São Paulo, 1951.

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marcariam sua atuação e a personalidade generosa com que ficou conhecido. Sua prática profissional passou a ter um caráter humanista e uma forte preocupação social, diferenciando-o totalmente de sua fase anterior, pois deixou de representar os desejos da burguesia por ostentação, para buscar atender as necessidades da coletividade.

Kneese de Mello, após sua conversão ao Movimento Moderno, demonstrou em diversos projetos sua luta pela democratização da arquitetura e da cidade. A consciência de que seu trabalho, até então, era elitista e que agora conhecera os objetivos reais da arquitetura e a função social do arquiteto, permitiu-lhe repensar o alcance social de sua obra arquitetônica dentro de um conjunto de questões que emergiam da cidade.

Evidentemente, enfrentou muitas dificuldades, pois sua formação acadêmica era eclética. Foi difícil adaptar-se à Arquitetura Moderna, principalmente por ser um renomado arquiteto perante a elite paulistana. “Eu tive que lutar comigo mesmo para me adaptar, mas foi uma

virada muito feliz e eu tenho muito orgulho disso.”. (depoimento de Eduardo Kneese de

Mello. In: SANTOS, 1985, p. 92).

Quando voltei de Montevidéu, em 1940, decidi praticar a arquitetura moderna, com todos os riscos inerentes à mudança, pois até então – como muitos outros – eu era também um construtore fazia projetos de acordo com as preferências do cliente. Mas

era uma questão de convicção. Passei momentos difíceis, perdi clientes, mas mantive meus novos pontos de vista. (depoimento de Eduardo Kneese de Mello. In: A CONSTRUÇÃO São Paulo, 1976, nº. 1497, p. 41).

Em sua produção arquitetônica de projetos e obras modernos, observam-se algumas características, tais como: simplificação das formas arquitetônicas e eliminação de qualquer referência historicista; substituição do ornamento buscando, também, a

Figura 109: Almoço na casa de Romeu Mindlin para comemoração do 20º aniversário de formatura dos engenheiros-arquitetos, 1951. Fonte: acervo Unicentro.

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substituição dos componentes artesanais; processo de interpretação de elementos arquitetônicos relacionados à cultura luso brasileira, expressos na arquitetura tradicional; conscientização de que o elitismo, que até então monopolizara os compromissos do arquiteto, deveria ser repensado diante do alcance social da arquitetura no conjunto dos problemas contemporâneos que envolvem a cidade; defesa da verticalização (adensamento) para contemplar soluções criativas, viáveis em termos econômicos, de impacto minimizado, providas de equipamentos complementares, com forte apelo social e comunitário; preocupação com o conceito de habitar, diferenciando-o do simples espaço da moradia, onde uma série de equipamentos complementares à moradia deveria ser contemplada, como a educação, a saúde, o lazer, o trabalho e o transporte; e, dedicação ao cliente coletivo, aos concursos para projetos de edifícios públicos, ao invés da perversa relação direta com o cliente individual.

Pode-se observar, ainda, sua intensa militância ao difundir o ideário moderno e a profissão

do arquiteto e urbanista nos órgãos de imprensa e veículos de comunicação de massa

defendendo a importância e a particularidade da contribuição social do arquiteto; no mesmo sentido em que sua participação em fóruns e entidades profissionais.

Fundação do IAB-SP: surgimento de uma classe

Durante o V Congresso Pan-americano de Arquitetos, realizado em Montevidéu, 1940, verificou-se a necessidade de criar departamentos estaduais do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), que existia desde 1921 no Rio de Janeiro. A idéia surgiu da conversa de Eduardo Kneese de Mello com outros arquitetos, entre eles Nestor Figueiredo, presidente do IAB e Paulo Camargo de Almeida, futuro presidente.

Figura 111: Programa de televisão

Arquitetos na TV. Da esq. para dir.: Oswaldo Gonçalves, não identif., Fabio Penteado, Vilanova Artigas, não identif., Ícaro de C. Mello, Kneese de Mello e Laureano Fernandes Jr (produtor). São Paulo, 1961/ 1962. Fonte: acervo Unicentro.

Figura 112: Noite de Arquitetura da VII Bienal. Da esq. para a dir.: Kneese de Mello, Gregori Warchavchik, Oswaldo Gonçalves, Sergio Bernardes, Flavio de Carvalho e Alberto Botti. São Paulo, 1963. Fonte: FICHER, 2005, p. 254.

Figura 113: 1ª Bienal de Arquitetura. Estão presentes na foto: Eduardo Kneese de Mello, Ícaro de Castro Mello, Ciccilo Matarazzo, Oswaldo Corrêa Gonçalves e Fabio Penteado. São Paulo, 1973. Fonte: acervo Unicentro.

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Figura 115: Almoço do IAB-SP. Estão presentes na foto: Eduardo Kneese de Mello, Lina Bo Bardi, Vilanova Artigas e Pietro Maria Bardi. São Paulo, 1948.

Fonte: acervo LB e PMB.

Figura 117: Sindicato dos arquitetos portugueses. Lisboa, 1954. Fonte: acervo Unicentro.

Figura 116: IV Congresso de Arquitetos Brasileiros, evento realizado no IAB-SP durante visita de Walter Gropius. Em pé: Walter Gropius, à sua esquerda: Rino Levi e Jorge Machado Moreira, à sua direita: Henrique Lefrèvre, João Cacciola, Gilberto Junqueira Caldas, Ariosto Milla, Leo Ribeiro de Moraes, Eduardo Kneese de Mello, Oswaldo Corrêa Gonçalves, Abelardo de Souza, Jorge Lodi, José Luiz Fleury de Oliveira e Roberto Burle Marx. São Paulo, 1954.

Fonte: ANAIS IV CONGRESSO, 1954, s/p.

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O objetivo dos departamentos estaduais era reunir, em uma única entidade, todos os profissionais, concentrando assim todas as forças, evitando o surgimento de entidades isoladas, o que fragmentaria ainda mais a categoria profissional e já acontecia em São Paulo devido à criação do Instituto Paulista de Arquitetos, presidido por Christiano Stockler das Neves.

De volta à São Paulo, Kneese de Mello continuou em contato com os arquitetos cariocas e começou a divulgar a idéia entre os arquitetos paulistas. Reuniu vários colegas em seu escritório, no Largo da Misericórdia, para estudar a criação do departamento paulista do IAB.

Lembro-me que fui visitar o Artigas que eu não conhecia. Quando falei com ele, entusiasmou-se imediatamente. O Bratke era meu colega, já o conhecia de antes, fomos colegas do Mackenzie. Alguns outros eu também já conhecia, por exemplo, o Leo Ribeiro Moraes, que era meu companheiro na escola de aviação. O Abelardo de Souza, que lutava Jiu-Jitsu comigo. A idéia de nos unirmos foi espetacular. A todos os lugares onde fui encontrei recepção entusiasmada. Rino Levi me disse: ‘Eu não acredito, mas pode contar comigo que eu dou tudo de mim’. E foi um dos grandes colaboradores do IAB durante toda a sua vida, a partir deste dia. (KNEESE DE MELLO, 1979[?], p.14.)

No dia 06 de novembro de 1943, o então presidente do IAB arquiteto Paulo Camargo de Almeida, veio do Rio de Janeiro para presidir a sessão de instalação do IAB - São Paulo. Em uma reunião na Biblioteca Municipal ele declarou fundado o departamento paulista, nomeando Kneese como delegado no Estado. Dessa forma, tem início a transformação do Instituto de entidade centrada no Rio de Janeiro em uma estrutura federativa.

Figura 119: 1ª Mesa redonda Pan-americana de Arquitetos. Lima, Peru, 1961. Fonte: acervo Unicentro.

Figura 120: Eduardo Kneese de Mello recebe o diploma e a medalha de Sócio Honorário do American Institute of Architects. Washington, Estados Unidos, 1965. Fonte: acervo Unicentro.

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Kneese de Mello foi nomeado primeiro presidente do IAB-SP, exercendo três mandatos consecutivos, entre 1943 e 1949. Foram gestões caracterizadas por campanhas entusiásticas de divulgação da Arquitetura Moderna, que visavam, sobretudo, mudar a imagem do arquiteto. Um dos fatos mais importantes deste período foi a construção da sede para a entidade9.

Em seu primeiro mandato, embrenhado na luta pela profissão de arquiteto e na divulgação da Arquitetura Moderna, juntou-se a outros arquitetos modernos para a organização, em 1945 na cidade de São Paulo, do I Congresso Brasileiro de Arquitetos, cujo tema foi Construções de Casas Populares e Organização das Coletividades Humanas, um dos princípios da Arquitetura Moderna Internacional. O documento de conclusão do congresso definiu diretrizes marcantes para os arquitetos e, mais especificamente, para a produção

de habitação. As principais posições foram10: centralização pelo Estado de uma política

habitacional; habitação de aluguel para população de baixa renda; integração com indústria de material de construção / industrialização da construção; habitação em unidades coletivas, preferencialmente em bairros consolidados; e entendimento mais amplo da habitação como questão, envolvendo urbanismo e planejamento.

Entre 1968 e 1970, Kneese de Mello presidiu o Instituto de Arquitetos do Brasil Nacional. A partir deste momento, embrenhou-se nas diversas lutas da categoria profissional. Foi membro da APA (Associação Profissional dos Arquitetos) entre 1967 e 1971; membro fundador do SASP (Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo) em 1971; conselheiro

9 Para a construção do edifício-sede do departamento paulista do Instituto de Arquitetos do Brasil foi realizado

um concurso em 1946. O projeto final foi realizado pelos arquitetos Rino Levi, Abelardo de Souza, Galiano Ciampaglia, Hélio Duarte, Jacob Ruchti, Miguel Forte e Zenon Lotufo.

10 Cf. Acrópole, edição Comemorativa do I Congresso Brasileiro de Arquitetos, nº. 81/82, 1945.

Figura 122: Dr. Gabriel Serrano entrega a Eduardo Kneese de Mello o diploma de Sócio Honorário da Sociedade Colombiana de Arquitetos. Bogotá, 1968. Fonte: acervo Unicentro.

Figura 123: Assinatura do Convênio Cultural e de Amizade entre o IAB, representado pelo arquiteto Eduardo Kneese de Mello, e o Sindicato dos Arquitetos de Portugal, representado pelo arquiteto Ignácio Peres Fernandes, 1969. Fonte: acervo Unicentro.

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federal do Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) a partir de 1974; conselheiro efetivo do CREA (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) entre 1951-52, 1966-69, e 1982-84; e conselheiro da ABEA (Associação Brasileira das Escolas de Arquitetura). Foi, também, sócio honorário de organizações profissionais de Arquitetos em doze países, entre os quais os Estados Unidos e a antiga União Soviética. Foi também considerado membro vitalício do conselho da Federação Pan-americana de Arquitetos, em 1970.

Como incansável defensor das atribuições profissionais dos arquitetos, sua atuação não se limitou ao Brasil. Na busca desse diálogo nacional e internacional, Eduardo Kneese de Mello construiu uma história de participação que praticamente se confunde com a própria fundação e existência do IAB em São Paulo.

O ensino de arquitetura

A contribuição do professor Eduardo Kneese de Mello à formação dos arquitetos caracterizava-se, inicialmente, pelo entusiasmo que conseguia transmitir aos futuros profissionais. Sempre lecionou, mesmo antes de obter seu diploma de engenheiro-arquiteto, em 1932, na Escola de Engenharia do Mackenzie:

Aconteceu no dia em que o diretor do Mackenzie, onde era aluno, me pediu para dar uma aula. Mas eu não tinha ainda capacidade nem o dom de ensinar e a matéria também era sem graça: ‘Tema e detalhes da construção’. Lecionei um ou dois anos e depois abandonei, mas gostei da experiência apesar de convencido de que fui um mau professor. (depoimento de Eduardo Kneese de Mello. In: SABBAG, 1986, p. 28).

Figura 125: XIV Congresso Pan-americano de Arquitetos realizado primeiramente em São Paulo, Brasil e na seqüência em Assunção, Paraguai, 1972. Fonte: acervo Unicentro.

Figura 126: Evento no IAB-SP, da esq. para dir.: Eurico Prado, Kneese de Mello, Oswaldo Bratke, Pedro Paulo Saraiva, Paulo Mendes da Rocha, Oswaldo C. Gonçalves, Benno Perelmutter, Alberto Botti, Júlio Neves, Roberto C. César e Ícaro de C. Mello. São Paulo, 1976. Fonte: acervo Unicentro.

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O início, de fato, de sua carreira como professor aconteceu cinco anos depois de formado, em 1937, por meio de um convite feito pelo seu mestre Christiano Stockler das Neves, para ministrar uma disciplina no curso de arquitetura do Mackenzie College. Ainda em sua fase eclética Kneese era um respeitável engenheiro-arquiteto de residências burguesas e tinha como forte em seu trabalho um caprichoso desenho de detalhes técnicos e rebuscados adornos, o que fez com que o mestre Christiano o convidasse para ser responsável pela disciplina Desenho de Sistema da Construção.

Lecionou durante todo o ano de 1937, porém não foi contratado no início de 1938. Coincidentemente, neste ano, tornou-se consultor técnico da revista Acrópole e em poucos meses passou a ter opiniões bastante opostas às do mestre Christiano das Neves, buscando na arquitetura colonial a representatividade da arquitetura brasileira. Só voltou a lecionar no Mackenzie depois de sua ruptura com o academicismo de estilos, em 1941, ministrando a mesma disciplina e permanecendo novamente, por apenas um ano.

Após a criação do departamento paulista do IAB, em 1943, Kneese dedicou-se integralmente a seu escritório e aos compromissos do Instituto, empenhando-se na divulgação dos ideais do Movimento Moderno. Por esses motivos, passou um longo período afastado das salas de aula.

Conhecido entre seus colegas de profissão por ser um pesquisador incansável, grande estudioso da Arquitetura Colonial Brasileira, recebeu o convite, em 1955, do arquiteto e professor Ícaro de Castro Mello para ocupar a cadeira de Arquitetura no Brasil na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU USP). Pouco antes, em 1953, havia lecionado na recém criada FAU USP (1948) como professor substituto na disciplina de História da Arquitetura. A dedicação à docência foi incorporada definitivamente à sua personalidade e ao seu modo de vida.

Figura 128: Almoço no Hotel Excelsior, mobilização pela criação da FAU USP. Estão presentes na foto: Oswaldo Corrêa Gonçalves, Flávio de Carvalho, Alfredo Ernesto Becker, João Serpa Albuquerque, Gregori Warchavchik, Aníbal Martins Clemente, Carlos da Silva Prado, Plínio Croce, João Batista Vilanova Artigas, Aldo Ferreira, Leo Ribeiro de Moraes, Daniele Calabi, Rino Levi, Alfredo Giglio, Lauro da Costa Lima, Ícaro de Castro Mello, Eduardo Kneese de Mello, João Kahir e Lucjan Korngold. São Paulo, 1947.

Fonte: FICHER, 2005, p. 252.

Figura 129: Cinqüentenário da Semana de Arte Moderna – curso de verão do Instituto de Estudos Brasileiro (IEB) sobre o Modernismo com Di Cavalcanti, João Batista Borges Perin, Orlando Bastos e Kneese de Mello. São Paulo, 1972.

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Durante os anos em que lecionou na FAU USP teve alguns professores-assistentes tais como os arquitetos Benedito Lima de Toledo e Nestor Goulart Reis Filho, que vieram a se tornar importantes professores, historiadores e conhecedores da arquitetura.

Integrou, também, a organização do primeiro curso de pós-graduação da FAU USP, trabalhando arduamente na mobilização de professores e profissionais de alto nível, em diversos pontos do país, para a organização e direcionamento do curso. Foi “coordenador da primeira disciplina oferecida que mobilizou professores e profissionais de alto nível em

diversos pontos do país” (TOLEDO, 1994, p. 103-104).

Destaca-se, ainda, o fato de que esteve entre os fundadores do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), instituição ligada à Universidade de São Paulo, como titular da cadeira

Arquitetura no Brasil. Colaborou com as duas primeiras gestões, a de Sérgio Buarque de

Hollanda (1963-64) e a de Egon Schaden (1965-66). Devido o afastamento do terceiro diretor, José Aderaldo Castello, Eduardo Kneese de Mello exerceu a direção do Instituto de 1971 até meados de 1973. Após esta data, deixou a vice-direção. Entretanto, manteve-se no Conmanteve-selho Diretor até maio de 1976, quando manteve-se apomanteve-sentou.

Na etapa de estruturação do IEB, deixou sua marca ao criar o símbolo e a capa da revista do Instituto. Colaborou também com fotografias para as primeiras edições do periódico, assim como havia feito na revista Acrópole. Em 1969, doou ao Instituto um anteprojeto para sua sede, desenvolvido em parceria com seu sócio, Sidney de Oliveira. O projeto foi publicado11 embora não tenha sido construído.

11 O anteprojeto para a sede do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) foi publicado em: BATISTA, Marta

Rossetti.Kneese de Mello no IEB. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo: 1994, nº. 37, 105-108.

Figura 130: Gregori Warchavchik, Mina Klabin e Eduardo Kneese de Mello no cinqüentenário da Semana de Arte Moderna, curso de verão do IEB sobre o Modernismo. São Paulo, 1972.

Fonte: acervo Unicentro.

Figura 131: Eduardo Kneese de Mello preside a banca do concurso para o cargo de professor titular do Departamento de Projeto da FAU USP a qual foi submetido o arquiteto Vilanova Artigas. São Paulo, 1984.

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Em 1967, além das aulas ministradas na graduação da FAU USP, Kneese ofereceu os primeiros cursos do IEB chamados: Cultura e civilização brasileira e Uma visão de Brasil. Em sua gestão como diretor, em 1972, iniciou uma série de cursos interdisciplinares de férias, denominados Brasil anos 20 e, em 1973, Brasil anos 30, baseados em depoimentos de profissionais que se destacaram e participaram de experiências importantes dessas duas décadas.

Ainda em 1972, durante as comemorações do cinqüentenário da Semana de Arte Moderna, Kneese foi responsável pela exposição Brasil: 1º tempo modernista, montada para o Ministério das Relações Exteriores e a Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo do Estado de São Paulo, em cópias que percorreram a Europa, as Américas e várias cidades do Brasil. Durante a apresentação da mostra no IEB, Kneese de Mello organizou um seminário interdisciplinar sobre o tema, onde ele e seus contemporâneos falaram sobre o Movimento Moderno em diversas áreas.

É de se lembrar aqui o modo democrático e fidalgo com que Kneese de Mello acolhia, incentivava e, com entusiasmo, procurava viabilizar as iniciativas dos pesquisadores. Assim, tornou possível, além da Revista e das publicações programadas, a edição do livro Brasil: 1º tempo modernista hoje obra de referência nos estudos sobre o modernismo brasileiro.(BATISTA, 1994, p. 108).

Destaca-se ainda, em sua gestão, o fato de ter organizado a exposição Panorama da Arquitetura Brasileira Contemporânea, que percorreu os Estados Unidos no início de 1973.

Apesar de ter sido aposentado compulsoriamente em 1976, por ter atingindo a idade limite de 70 anos, na Universidade de São Paulo, onde exerceu o magistério por 21 anos,

Figura 132: Composição da mesa de argüidores da banca de Vilanova Artigas no concurso para professor titular do Departamento de Projeto da FAU USP: Flávio Motta, José Gianotti, Kneese de Mello, Carlos Guilherme Mota e Milton Vargas. São Paulo, 1984.

Fonte: TENDÊNCIAS, 1985, p. 30.

Figura 133: Professor Kneese de Mello e seus alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UMC. Mogi das Cruzes, SP, década de 1980.

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Figura 134: Eduardo Kneese de Mello e Lucio Bittencourt (escultor da obra O Guerreiro), homenagem dos alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Braz Cubas. Mogi das Cruzes, SP, 1988.

Fonte: acervo Unicentro.

Figura 135: Homenagem dos alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Braz Cubas ao professor Eduardo Kneese de Mello por seus 82 anos. Mogi das Cruzes, SP, 1988.

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Kneese de Mello não se afastou dos amigos, estudantes e da vida acadêmica mais consistente.

Aposentado pela USP, continuou com suas aulas de História da Arquitetura no Brasil em outras faculdades – como a de Guarulhos onde foi Diretor – mas não perdeu o contato com o IEB, comparecendo às exposições e acontecimentos maiores da Instituição. Já adoentado, com dificuldades de locomoção, esteve presente, em 1992 – 20 anos depois daquelas que organizara no IEB – às comemorações dos 70 anos da Semana de Arte Moderna. E, em setembro de 1993, na cerimônia de inauguração da nova sede do Instituto de Estudos Brasileiros – sede especialmente adaptada, aproximando-se, em tamanho e importância daquela que o arquiteto projetara e sonhara há 25 anos para abrigar as atividades e os acervo do IEB. (BATISTA, 1994, p. 108).

Após sua aposentadoria na FAU USP, Kneese aceitou novos convites de instituições de ensino que se comprometiam a implantar cursos de arquitetura e passou a contribuir para a afirmação e qualificação desses cursos. O arquiteto já participava, tal como outros professores da FAU USP, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Braz Cubas desde 1971. Foi contratado para participar da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Farias Brito em Guarulhos (atual Universidade de Guarulhos), projetando inclusive, no final da década de 1970, o edifício sede da escola. Além dessas instituições de ensino, integrou o corpo docente da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), e da Faculdade de Belas Artes de São Paulo.

Com dedicação quase que exclusiva ao ensino na década de 1980, sua experiência e militância continuaram a contagiar os colegas arquitetos e, nessa época, os jovens que lotavam as salas de aula dos cursos de arquitetura. À época de seu falecimento, era professor na Faculdade de Belas Artes de São Paulo, Universidade de Mogi das Cruzes e

Figura 136: Aula proferida por Eduardo Kneese de Mello a convite do bisneto Roberto Montenegro na disciplina do professor Dacio Ottoni na FAU USP. São Paulo, 1993.

Fonte: acervo EAQM e YMG.

Figura 137: Aula inaugural com os arquitetos Eduardo Kneese de Mello e Paulo Mendes da Rocha, Universidade Braz Cubas. Mogi das Cruzes, SP, 1992.

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Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Farias Brito, onde exercia também o cargo de diretor, atividades que asseguravam sua subsistência.

As aulas e palestras de Eduardo Kneese de Mello eram antológicas pela veemência de sua conversão ao Movimento Moderno de Le Corbusier, e fartamente ilustradas pela documentação fotográfica que costumava realizar durante suas viagens pelo Brasil e pelo mundo. Acabou constituindo, dessa forma, um dos maiores acervos fotográficos do país.

Pode-se notar a dedicação de Kneese ao magistério através do relato do professor Benedito Lima de Toledo: “Na fase terminal e à véspera de seu falecimento, acordou à noite no

hospital e exclamo: Ajudem-me a levantar, tenho que dar aula” (TOLEDO, 1994, p. 14).

Projetos e obras: um breve relato

A quantidade de projetos e obras que marcou a primeira etapa de sua vida profissional, a fase de construções ecléticas, não foi a mesma como arquiteto moderno. A produção arquitetônica do arquiteto Kneese de Mello não teve o mesmo ritmo de produção do

construtor eclético. Seu primeiro escritório de arquitetura permaneceu no edifício do

Largo da Misericórdia até ser inaugurado o edifício-sede do IAB-SP, quando se mudou para uma das salas.

Nessa nova fase, a prática profissional de Eduardo Kneese de Mello transcorreu em outra busca estética, de atuação na realidade. Em um primeiro momento, a Escola Carioca, recheada de ensinamentos corbusierianos e temperada de cultura brasileira, pareceu mais adequada ou quase inevitável.

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Em sua primeira obra com conceitos e aspectos arquitetônicos modernos, o Edifício MARA, projetado e construído em 1942, Kneese de Mello procurou utilizar elementos

fundamentais da Arquitetura Moderna, tais como os pilotis, as formas geométricas puras, as janelas horizontais e o terraço-jardim; ou seja, claramente direcionada para uma linguagem corbusieriana. Além das questões estéticas ligadas ao Movimento Moderno, o arquiteto trabalhou os diversos elementos construtivos de maneira independente, dentro de uma lógica construtiva que foi uma das principais características da arquitetura do período. Também foi nesse edifício que se aproximou da habitação mínima – conceito amplamente discutido pelos arquitetos modernos durante os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM), em suas primeiras edições.

O primeiro projeto moderno que eu fiz creio que foi o prédio na Rua Brigadeiro Tobias, que foi projetado inicialmente para hotel e foi transformado em apartamentos; em que eu procurei introduzir as coisas mais simples da arquitetura moderna que eu conhecia. Eu tinha estado na Suíça, em Zurique, e vi no centro da cidade os prédios comerciais com muitas flores e achei aquilo muito bonito. Então fiz um prédio nessa Brigadeiro Tobias e toda fachada e toda extensão é de jardineiras. A minha idéia era que cada morador pusesse flores coloridas, de cores diferentes na sua janela para gozar a beleza das flores, mas infelizmente plantaram só verde lá, puseram um gramado lá naquelas jardineiras, não tem nenhuma flor. Creio que esse foi o primeiro. (depoimento de Eduardo Kneese de Mello. In: ARQUITETO, s/d. Cf. Anexo 4).

No Edifício Leônidas Moreira, seu segundo edifício moderno, projetado também em

1942, Kneese procurou mostrar que era, realmente, um arquiteto moderno. O edifício, localizado na rua do Carmo, centro de São Paulo, região valorizada naquela época, revelava, através da peculiar composição de sua fachada frontal, o desejo de fazer uma

Figura 139: Edifício MARA, 1942. Detalhe fachada principal composta, em toda sua extensão, por jardineiras. Fonte: L´architecture d´aujourd´hui – Brésil, 1952, nº. 42-43, s/p.

Figura 140: Edifício Leônidas Moreira. Rua do Carmo, 147, São Paulo, 1942. Fonte: Acrópole, 1942, nº 53, p.169.

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obra original, não pelo mero efeito plástico dos materiais da época, mas como produto direto da sua utilização como elemento responsável pelas condições ideais de conforto para as atividades a que se destinavam as salas.

A fachada principal acentuava claramente a estrutura modulada de concreto armado. Cada módulo (correspondente a uma sala) foi vedado com tijolos de vidro, um acima e outro abaixo de um painel de brises móveis. No piso térreo, foram locadas as instalações da firma proprietária, a Casa Bancária Leônidas Moreira S.A. Era fartamente iluminado, com pé direito duplo, uma sobreloja num piso intermediário e salas menores ao fundo. Os quatro andares acima eram destinados às salas para escritórios. No subsolo, localizavam-se a caixa forte, as instalações do zelador e a garagem.

Depois fiz um prédio na Rua do Carmo, pra um banco. E aí eu queria mostrar que eu era arquiteto moderno: usei brise-soleil, usei tijolos de vidro e fiz a coisa, fazendo questão de me modernizar, de me apresentar modernizado. (depoimento de Eduardo Kneese de Mello. In: ARQUITETO, s/d. Cf. Anexo 4).

Kneese colocava, em seus artigos, conferências e palestras, que a habitação e a moradia se diferem. Segundo o arquiteto, habitar pressupõe uma condição muito maior, de direito à cidadania. Significa ter acesso aos bens fundamentais que garantem a formação de uma consciência urbana, da vida do homem em sociedade. Os trechos abaixo explicitam essa sua noção sobre habitação:

Entendemos por assentamento humano, a habitação.

Mas é necessário esclarecer o que entendemos por habitação.

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Casa é um dos elementos que compõem a habitação – o elemento central, evidentemente.

A expressão habitação está intimamente ligada ao habitat humano. E esse habitat

não se resume simplesmente em um abrigo ou um teto. (KNEESE DE MELLO, 1988 b, p. 39).

Nem sempre casa é habitação.

Habitação é um complexo de que a casa é um dos elementos.

O conceito de habitação evolui no tempo. (KNEESE DE MELLO, 1975 b, p. 121).

Em seu próximo projeto, o Conjunto Residencial para o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários (IAPC) Cidade Jardim, realizado em 1944, publicado

somente três anos depois, sua proposta sobre a habitação está plenamente colocada. Nesse projeto, Kneese de Mello contou com a colaboração do arquiteto Hélio Duarte para elaborar o projeto para a escola e maternidade. Esse conjunto, praticamente horizontal, trata as circulações em separado, diferenciando o fluxo de pedestres e veículos, conforme recomendação da Carta de Atenas12 do IV CIAM (1933), oferecendo opções de passeios cobertos ao longo do conjunto. Escolas e alguns serviços mais imediatos são colocados à disposição dos moradores como parte da proposta de fruição do espaço. O fato deste projeto não ter sido executado sempre o incomodou muito: “Infelizmente, houve mudança na direção do IAPC. O projeto foi considerado inexeqüível. Para receber meus honorários

12 O arquiteto Eduardo Kneese de Mello traduziu este documento para o Instituto de Arquitetos do Brasil –

departamento de São Paulo. Essa tradução foi publicada na Revista Acrópole no ano de 1947, exemplar nº. 109, p. 1-4.

Figura 142: Conjunto Residencial IAPC. Avenida Cidade Jardim x Marginal Pinheiros, São Paulo, 1944. Arquiteto: Eduardo Kneese de Mello. Colaboradores: arquiteto Hélio Duarte (escola e maternidade), arquiteto Roberto Burle Marx (paisagismo). Fonte: Arquitetura Contemporânea no Brasil, 1947, nº. 1, s/p.

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tive que recorrer à Justiça, o que só consegui depois de dez anos, sem correção monetária

(KNEESE DE MELLO, s/d, s/p. Cf. Anexo 6).

Outro conjunto residencial foi desenvolvido, desta vez para o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (IAPI), na Rua Japurá, em 1945. Neste,

estão presentes diversos ensinamentos corbusierianos, tais como pilotis, terraço-jardim e, em especial, o conceito de unidade de habitação (unité d’habitation)13.

O prédio do INPS... eu fui convidado a projetar aquele prédio num lugar onde havia um cortiço chamado Vaticano, era um cortiço enorme, Vaticano, era um buraco, numa rua estreita, rua da abolição. E a intenção era fazer um prédio muito econômico, mas com todo conforto para trabalhadores de pequenas indústrias em volta do centro da cidade. Então eu procurei fazer com o máximo de economia que poderia imaginar sem prejudicar no conforto.

(...), no alinhamento da rua onde eu podia fazer térreo mais dois andares eu pus lojas para servir aos moradores, é um empório, um açougue, enfim, coisas que as famílias que moram lá precisam comprar. E nos dois andares seguintes eu pus salas pequenas que seriam, assim, para uma cabeleireira, um alfaiate, tudo com o objetivo de servir aos moradores. Então o conceito de habitação estava bem próximo. Nós entendemos que habitação não é casa, casa é um dos elementos da habitação. Se você não tem acesso ao trabalho, à escola, à saúde, não é habitação, é apenas um abrigo, não é uma habitação. Então lá eu procurei dar o sentido de habitação, o mais completo possível

13 O conceito unité d’habitation compreende um edifício habitacional concebido como uma unidade urbana,

com moradias funcionais de qualidade, servidas por equipamentos e serviços coletivos (incluindo área de lazer), que tinha entre outras características o terraço-jardim, pilotis e ruas internas.

Figura 144: Conjunto Residencial IAPI. Rua Japurá, 55 e 109, São Paulo, 1945. Arquiteto: Eduardo Kneese de Mello. Colaborador: arquiteto Roberto Burle Marx (paisagismo). Fonte: acervo FAU USP.

Figura 145: Conjunto Residencial IAPI Japurá, 1945. Estudos baseados no Código de Obras Arthur Saboya.

Imagem

Figura  49: Formatura  do  engenheiro-arquiteto  Eduardo  Kneese  de  Mello,  na  escola  de Engenharia  do  Mackenzie  College
Figura  52: Álbum  Construcções  Residenciaes,  União  Paulista  de  Imprensa.  São  Paulo, 1938
Figura  100: Eduardo  Kneese  de  Mello  (da  esquerda  para  direita,  o  primeiro  sentado  na  2ª fileira)  durante  a  sessão  inaugural  do  V  Congresso  Pan-americano  de  Arquitetos.
Figura  105: Recepção  a  Richard  Neutra.  Da  direita  para  a  esquerda,  sentados:  Kneese  de Mello,  Richard  Neutra  e,  na  outra  extremidade,  Vilanova  Artigas
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