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Palavras-chave: Identidade; Representações Sociais; Discurso; Rural; Urbano Introdução

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Academic year: 2019

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O RURAL E O URBANO NOS MERCADOS CENTRAIS DE SÃO PAULO

Ivana Benevides Dutra MURTA mestranda, bolsista CAPES do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFMG. Correspondências para: Faculdade de Ciências Econômicas, sala 4070 - UFMG - Av. Antônio

Carlos, 6627 - Pampulha - BH/MG. ivanabenevides@yahoo.com.br

Alexandre de Pádua CARRIERI doutor, professor da área de Estudos Organizacionais da UFMG. alexandre@cepead.face.ufmg.br

Gabrielle Oliveira ALMEIDA bacharel em turismo pela UFMG.

gabrielleoalmeida@yahoo.com.br

Agradecemos à FAPEMIG pelo financiamento da pesquisa denominada “As Representações Sociais e a (re)construção das identidades em organizações familiares: um estudo nos Mercados Municipais nas capitais da Região Sudeste” e à CAPES pela concessão de bolsa de mestrado.

Resumo

Este artigo foi feito com o objetivo de elucidar algumas formas de resistência identitária por meio do trabalho com o comércio hortifrutícola, em um determinado tipo de espaço: um espaço em que o rural e o urbano convivem lado a lado. Trabalhou-se nesta oportunidade com a dimensão da identidade, por meio das representações sociais materializadas no discurso. Para chegar a essas representações, foram feitas entrevistas de história de vida, visando analisar também como participam os comerciantes da história do lugar de que dependem para sua sobrevivência. Por fim, chegou-se a um rico resultado, em que é possível observar como que no passado as relações eram pautadas pelo modo de vida rural e como que atualmente esses modos de relacionamento convergem naquele lugar. Nesse sentido, o diferencial desses centros de abastecimento, passa a ser a rusticidade das formas de agir, de organizar e de comercializar os produtos. Encontrou-se nesse estudo, a possibilidade de entender metamorfoses urbanas recentes, que são decorrentes de uma necessidade tanto de sobrevivência, como de resistência identitária.

Palavras-chave: Identidade; Representações Sociais; Discurso; Rural; Urbano

Introdução

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seis principais mercados da região Sudeste do Brasil, uma sua fala sobre a memória trouxe instigações que constituíram a inquietação para este artigo. Segundo o autor:

Esses grupos de comerciantes que, como já dissemos, constituem a parte mais atuante da sociedade econômica, pois é entre eles que os valores são elaborados e conservados. Quer estejam reunidos nos mercados, atrás dos balcões ou nas ruas comerciais das cidades, à primeira vista parecerá que estão mais separados do que ligados uns aos outros por uma espécie de consciência comum. Voltados para os clientes, é com eles que se relacionam e não se relacionam com os comerciantes vizinhos, que são concorrentes e a quem fingem ignorar, ou que não vendem os mesmos artigos – embora enquanto vendedores se interessem por eles. Contudo, mesmo não havendo nenhuma comunicação direta entre um e outro, nem por isso deixam de ser agentes de uma mesma função coletiva. Neles circula um mesmo espírito, têm aptidões da mesma ordem, obedecem à semelhante moral profissional. Embora sejam concorrentes, sentem-se solidários quando se trata de impor e manter os preços aos compradores.” (HALBWACHS, 2006, p. 180)

Aí surgiram inquietações, será que os comerciantes têm histórias de vida semelhantes? Como eles seriam amigos ou concorrentes quase inimigos? O espaço os une ou os separa? E para tentar desenvolver o tema, para este trabalho foram escolhidos dois dos seis mercados estudados. A escolha para estes foi devido ao quão conflitante parecia, a noção do rural na cosmopolita, moderna metrópole brasileira.

Os loci foram o Mercado Municipal de São Paulo (Mercadão da Cantareira ou para simplificar, MMSP) e o Mercado Municipal Kinjo Yamato (antigo Mercado da Cantareira, Kinjo). A escolha por São Paulo, para este trabalho não foi ao acaso. Cidade cosmopolita, a maior cidade brasileira em número de pessoas, de relações comerciais, de necessidades urbanas. Hoje primeira metrópole do país, São Paulo é o lugar do movimento, do trânsito turbulento, da loucura, das relações impessoais, porque é necessário economizar tempo. Foi nesta cidade onde se escolheu estudar os antigos Mercados. Foi nela também onde foi possível encontrar nos Mercados um lugar da resistência identitária, um lugar de transição entre o rural e o urbano.

Optou-se na realização desta pesquisa por uma abordagem empírica, buscou-se conhecer no cotidiano dos comerciantes que vivem do Mercado os aspectos que os motivam a permanecer ali e entender qual é o significado de cada mercado, qual é a representação daquele espaço para esses sujeitos que, de certa forma, são também esses Mercados. Trabalhou-se com o método de história de vida, sendo que as entrevistas foram feitas com auxílio de um roteiro semi-estruturado, a partir do qual foi possível explorar questões importantes para os resultados aqui apresentados e para outras contribuições dentro dos estudos organizacionais, principalmente.

Entendeu-se, ao final desta pesquisa que a formação desses Mercados e a representação deles a partir da metáfora da família, estão associados à formação histórica desses centros comerciais. Esses lugares que são a essência da cidade, por permitirem a sobrevivência das articulações urbanas, são também lugares de resistência identitária dos sujeitos que buscam uma reterritorialização após terem vivenciado uma desterritorialização, seja por terem saído de seus países ou das interioranas cidades brasileiras.

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como se chegou a esses resultados. Na seqüência é apresentado um breve histórico dos Mercados no centro da cidade de São Paulo, quando então começa-se a desenvolver cada um dos locus separadamente, em uma análise que se pretendeu contextual. Por fim, são apresentadas algumas considerações finais, enfocando mais no Kinjo, por ter sido ele o que mais representou esse hibridismo entre o urbano e o rural.

1. Identidade

Atualmente discute-se muito sobre as identidades e, segundo Silva et al (2000) esta discussão está bastante associada às crises de identidade. Os autores ainda acrescentam que há diferentes perspectivas acerca da crise, sendo que Guiddens (1990, apud SILVA et al, 2000, p. 20) afirma que a crise de identidade está associada à modernidade tardia. Robins (1997), citado pelos mesmos autores, argumenta que a “transnacionalização da vida econômica e cultural” seria a causadora do colapso nas identidades, gerado pela globalização. Corroborando com Robins (1997) citado por Silva et al (2000), Brito (2006, p. 99) diz que tal como a identidade em si, o processo de identificar-se também está em constante movimento, assim como apontou Hall (2004): “dentro de nós há identidades contraditórias” (HALL, 2004, p. 13, apud, BRITO, 2006, p. 99). Todos esses autores, implicitamente ou explicitamente trabalham a questão da fragmentação gerada pela relação de “compressão espaço-tempo” (MASSEY, 2000), fenômeno intensificado a partir do desenvolvimento das telecomunicações e que tem como conseqüência para o sujeito o que Harvey denomina “aprender a lidar com um sentimento avassalador de compressão de nossos mundos espaciais e temporais” (Harvey, 1989, p. 240). Silva et al (2000) apresentam duas possibilidades que podem ser resultantes da globalização, que está associada à “compressão espaço-tempo”, as quais: (1) fortalecimento e reafirmação de algumas identidades e (2) surgimento de novas posições de identidades. Os conceitos de identidade são definidos em diversas áreas, dentre as quais se destacam: (1) psicologia, que baseia seus estudos na identidade individual e essencial; (2) Filosofia, que assume o início dos estudos considerando-a como atrelada à “permanência em meio à mudança e à unidade em meio à diversidade” (OUTHWAITE; BOTTOMORE, 1996, p.369) e (2) sociologia, que permeará este trabalho. A partir dessa associação, pode-se observar de antemão a orientação teórica deste trabalho, a da identidade como fluida e em constante formação. Entretanto, ainda assim apresentar-se-ão as duas principais correntes conceituais da identidade – essencialista e não-essencialista.

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Já a perspectiva não-essencialista, seria a da identidade relacionada às socializações (BERGER E LUCKMANN, 2008) do sujeito, portanto está em constante formação. Seria aquela que se baseia no passado, porque ele é constantemente transformado em função do presente. Seria a abordagem mais subjetivista (CUCHE, 1999, p. 181), que se desenvolve a partir das representações que os indivíduos fazem da realidade social, associando sentimentos de vinculação ou de identificação com uma coletividade imaginária. Assim, essa perspectiva corrobora com uns dos aspectos das Políticas de Identidade abordada por Hall (sem data) citado por Silva et al (2000, p. 28), quando descreve que a política pode referir-se tanto ao “tornar-se” como ao “ser”, ou seja, aceitando sua formação com o passado que é transformado pelos diversos elementos e situações, nas quais o sujeito é socializado cotidianamente, aproximando-se do que aqui se considerou – perspectiva não-essencialista.

Tendo como base a explanação acima, entende-se que, tanto as concepções fundamentadas no objetivismo, como no subjetivismo, apresentam aspectos enriquecedores de análise, todavia, permanecer abordando apenas uma delas seria negar a amplidão do tema. Partindo-se deste princípio, tem-se a abordagem relacional e situacional, com a qual não se abstrai o contexto, permitindo compreender, por exemplo, por que em determinados momentos uma identidade é afirmada e noutros ela é negada (CUCHE, 1999, p. 181-182), acrescentando-se a análise de possíveis relações de poder (FARIA, 1985; FOUCAULT, 1977) e condições de produção do discurso (PÊCHEUX, 1990; FERNANDES, 2005), haja vista a formação discursiva e a formação de identidades, principalmente a socialização da identidade projetada.

Na abordagem estruturalista (OUTHWAITE e BOTTOMORE, 1996, p.275-276) surge como uma das categorias de análise das identidades a questão da “posição-do-sujeito” (SILVA et al, 2000). Esse conceito está associado à “base” (ALTHUSSER, sem data, apud SILVA et al, 2000, p. 60), ou seja, está associado à perspectiva da fundação material e econômica, que determina as relações sociais e as formações ideológicas. Por conseguinte, a “posição-do-sujeito” está relacionada ao processo sócio-histórico e à subjetividade, que permitem o indivíduo posicionar-se ideologicamente e representar-se por símbolos e rituais, que devem ser observados numa análise identitária, definindo-se então como sujeito. Nesse sentido, Althusser (sem data) citado por Silva et al (2000, p. 60) define que o sujeito é uma “categoria simbolicamente construída”, porque a ideologia “‘recruta sujeitos entre os indivíduos”, transformando-os. Ainda trabalhando-se com o conceito de “posição-do-sujeito” pode-se associá-lo ao que propõe Bourdieu, citado por Silva (2000, p. 49), que o corpo se desenvolve a partir da localização/classe e o indivíduo, acrescentando a noção de habitus, que definiria as posições simbólicas do então sujeito.

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decorrer da vida dos indivíduos, o que também é corroborado por Fernandes (2005), quando aponta que estão imbricados o sujeito, a identidade e sua dinamicidade, demonstrando implicitamente que os discursos e as ideologias são igualmente dinâmicos e heterogêneos.

Acrescenta-se ainda o que apontam sobre o conceito de identidade, Pimentel, Carrieri et al (2005, p. 3):

[...] estaria baseado num processo dialético de interpretação, reconhecimento e legitimação referenciados em outros agentes que, no caso, seriam indivíduos, grupos, organizações ou grupos de organizações que estariam dispersos no macro ambiente social e institucional, e num determinado espaço físico e simbólico.

Nesse conceito, é importante destacar a abordagem dos espaços físicos e simbólicos, já que neles é possível observar as relações de poder pelo tratamento da diferença. Nesse sentido, acrescenta-se a necessidade de se considerar o contexto que culminará nas condições de produção do discurso (PÊCHEUX, 1990) dos sujeitos em seu habitus (BOURDIEU).

E por que estudar a partir de representações sociais a identidade do ser comerciante nos mercados centrais Mercadão e Kinjo? Porque o espaço acabou se mostrando um elemento comum, simbólico, definidor da identidade familiar e próxima das relações mais rurais. Portanto, faz-se necessário estabelecer a conexão também com o espaço, assim, toma-se a concepção de Brito (2006) sobre identidade como sendo “apreendida através da percepção e da apropriação simbólica e material do espaço” (BRITO, 2006, p. 99). Essa apropriação só pode ser apreendida, por meio das representações sociais, tanto materializadas no discurso, como evidentes nas ações dos sujeitos, que foram percebidas nas observações dos pesquisadores in loco.

Segundo Wandscheer, Lindner e Souza (2008) a comida e as festas são elementos muito importantes que acabam por garantir resistência identitária. Neste caso, se está trabalhando com a questão da comida, uma vez que os produtos comercializados são produtos alimentícios com os quais os sujeitos mantinham contato na sua socialização, mas não só dela. Também está se considerando a dimensão do espaço simbólico como um potencial elemento de resistência identitária.

2. O método: no discurso, a busca pelas representações Sociais

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Para alcançar o objetivo, foi necessário usar das contribuições dos estudos de representações sociais, já que eles possibilitariam a apreensão por parte do pesquisador, do sentido dos Mercados para esses comerciantes. E, por representação, entende-se, de acordo com Oliveira (1998):

idéias, imagens, concepções e visões de mundo que os atores sociais possuem sobre a realidade, as quais estão vinculadas às práticas sociais. (...) Representações essas que emergem de seus interesses específicos e da própria dinâmica da vida cotidiana (pp. xi-xii).

A representação social seria, pois, a exteriorização da percepção e, especificamente, como estamos falando de um espaço, seria a exteriorização da percepção ambiental (AMORIM FILHO, 1987), o meio pelo qual se poderiam identificar imagens construídas nos diálogos cotidianos. Em meio e por meio dessas representações, podem-se observar práticas e táticas, ou seja, o saber-fazer de cada dia nas organizações, justificando essa abordagem para nosso trabalho. Concordamos, assim, com Leite-da-Silva (2007), para quem “quando se aproxima das representações sociais dos sujeitos, o pesquisador está se aproximando dos conhecimentos que expõem articulações referentes às suas maneiras de fazer cotidianas” (p.53).

3. O Centro e os Mercados: na tentativa de reconstrução de um histórico

Este breve histórico consta não somente de fontes documentais e bibliográficas, resgatou-se na voz daqueles que também constituem a história dos Mercados estudados fatos importantes que permitem a interpretação das representações sociais. Creditamos muita importância à voz desses sujeitos, já que poucas vezes são ouvidos. Permitir-lhes falar é demonstrar preocupação em ouvir as diferentes verdades, porque existem diferentes percepções em torno de um mesmo acontecimento, vale a pena entender essas diferentes perspectivas.

A vida comercial em São Paulo começou cedo, com a exploração do ouro nas Minas Gerais, São Paulo era a ponte abastecedora, do sul para o estado do ouro. Inicialmente, quando São Paulo já havia desenvolvido a intensidade da vida que se urbanizava, o local do abastecimento era as margens do rio Tamanduateí, as pequenas embarcações atracavam ali bem próximo da região central, institucionalizada já como espaço do abastecimento, de entreposto comercial. Na São Paulo setecentista já quase no século XIX, alguns espaços foram construídos pela municipalidade com o fim de estabelecimento comercial de caráter público, eram os entrepostos comerciais, apelidados de “casinhas”, devido à forma das construções. Todos os mercados anteriores a este eram parecidos na estrutura, na frente eram arcos e atrás chiqueiros, onde, a despeito da significação contemporânea para este semantema, se comercializavam os produtos de origem vegetal.

Havia outros mercados situados em alguns pontos na região central, próximos uns dos outros e com características muito semelhantes. Esses locais mais tarde cederam seu espaço a outras instituições e comércios dos quais carecia a cidade. A praça do Mercado, por exemplo, funcionou até 1907, tendo sido demolida posteriormente para construção de um novo mercado.

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1928 entraram no país mais de três milhões e meio de estrangeiros, sendo que um terço é composto de italianos, seguidos pelos portugueses, espanhóis, alemães e japoneses” (p.25). Não é por acaso que nos dois mercados investigados na cidade de São Paulo, foram encontradas famílias com essas nacionalidades que ajudaram a construir a história dos dois mercados.

Juntamente com a imigração e o desenvolvimento de atividades comerciais e produtivas no estado de São Paulo, a capital começa a ser representada pela importância econômica. Os mercados, os centros de abastecimento, nesse sentido, não estavam adequados para a nova rica cidade. Foi nesse contexto que surgiram projetos grandiosos, arquitetonicamente elaborados com materiais importados, que fizessem jus à riqueza da cidade e que de certa maneira atingissem interesses políticos. Em 1933 foi inaugurado o Mercado Municipal de São Paulo, cuja construção havia sido iniciada em 1928, e em 1936 foi inaugurado o Mercado Municipal Kinjo Yamato, ambos dentro de um processo de mudança na lógica do abastecimento de uma das maiores centralidades econômicas da América do Sul.

Buscar-se-á nos próximos dois tópicos desenvolver um pouco do que é cada um desses mercados, qual sua composição. Acredita-se que estudar a fala de quem compõe esses Mercados é muito importante para compreender o cotidiano da época em que se formou esse relevante centro comercial como também é imprescindível para o deslindamento, como dito, das práticas estratégicas. Neste caso foi impensável tentar separar a história do Mercado da história dos comerciantes.

A noção de que, a história do Mercado é a própria história dos comerciantes ali organizados, esteve presente em todo o trabalho. Para exemplificar, destaca-se um trecho relacionado ao Mercado Municipal de São Paulo, cujo conteúdo fez-se presente também para o Kinjo. E19, ao ser questionado se sabia a história do lugar, acaba demonstrando que a do lugar isoladamente não, mas que a daqueles que fazem parte do lugar, ele sabe bem:

Ó, a gente conhece mais a história do pessoal que trabalha aqui dentro, né? É, necessariamente quem projetou o mercado, quem teve essa idéia a gente desconhece um pouquinho, mas a história do pessoal aqui dentro é sabida por nós. (E19)

Não é por acaso que E19 (filho de portugueses) conhece mais a história dos comerciantes, do que do Mercado em si, simplesmente porque foram esses comerciantes quem construíram a história e são, indubitavelmente, parte dela. Ele, mais adiante na entrevista, conta a história da formação do Mercado a partir dos imigrantes e de seus produtos comercializados. Assim, já se pode inferir a existência de uma identidade percebida nos produtos, porque eles geralmente são símbolos das histórias de vida das famílias que o comercializam, mas sobre o tema detalhar-se-á adiante.

4. Mercado Municipal de São Paulo

A história que apresentamos a seguir esteve sempre escondida nos vitrais do Mercado, quem quisesse olhar, através deles poderia compreender alguma coisa sobre os sujeitos, mas esse era um esforço que, como vimos na elaboração deste trabalho e na consulta a distintas bibliografias, pouco se fazia.

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mercado foi um setor que chamava-se Baretos, era a Ilha do Bare, que é na Itália, e eles eram típicos pescadores lá. E eles tinham num bairro aqui perto do Mercado que era do Brás, e eles se dedicavam ali, eram, conviviam juntos, e foram eles que deram inicio ao pescado dentro do Mercado. Na outra parte, vamos dizer assim, lingüiçaria, salgados, isso tinha portugueses e espanhóis. Na parte do açougue em si, que era o inicio também, que era o abate de gado, suínos eram mais também alguns espanhóis, mas a maioria também eram mais italianos, e no setor de frutas, que era também uma parte espanhóis e italianos. E tinha o setor de legumes e verduras, eram os japoneses que começaram quando... depois da imigração japonesa, aí eles se dedicavam muito, muito à plantação de legumes, então eles é que detinham o maior número de boxes de legumes. (E08)

Veja que, além da relação entre a história do espaço e as histórias de vida dos sujeitos, há neste trecho indícios de relações identitárias. A inserção dos setores é marcada por modos de saber de cada comunidade, de imigrantes ou de brasileiros. Ao dizer que o começo do MMSP foi característico, logo no início de sua fala, o entrevistado cria uma estratégia de persuasão que instiga o interlocutor na busca por certa peculiaridade. Essa distinção do Mercado Municipal de São Paulo se configura na diversidade de produtos e de pessoas envolvidas.

No trecho a seguir, muito semelhante ao que E08 falou, E18 mostra, acrescentando uma relação já feita para o Mercadão de Madureira por Murta et al (2008). Essa contribuição está constituída da associação de identidade cultural com resistência após a imigração:

Aqui no mercado ele foi... basicamente, ele foi basicamente formado por italiano, espanhol e... japonês. No período que vieram para o Brasil, vieram pra esse comércio de lavoura, de agricultura, de comércio de gênero alimentício, né. E... foi basicamente... criado por eles. Aí depois como tudo começou a quebrar, e entrar outro tipo de pessoa no... Mas ainda hoje predomina essas três raças no comércio, não só aqui no mercado, como no Ceasa, e outros mercados é, normalmente são essas três, essas três raças. (E18)

Inicialmente, E18, assim como E08 mostra por quem foi formado o Mercado, dando destaque para italianos, espanhóis e japoneses na área do cultivo agrícola. Acredita-se que muitos dos imigrantes chegados nessa época em São Paulo fossem lavradores em busca de melhores condições de vida ou fugidos de guerras. Nesse sentido, pode-se inferir que a socialização com a produção agrícola foi o motivador do uso desse produto no Mercado como forma não somente de sobrevivência, mas de resistência identitária, em meio à turbulenta mudança de um país para outro, de uma cultura para outra.

E22 ao contar a história de sua família no local, mostra que os avós, italianos, foram os que começaram a trabalhar no Mercado e que contribuíram para essa bela história de vida e de sobrevivência a partir daquele lugar:

Veja bem, tanto de parte de mãe como de parte de pai somos de descendência italiana. Meus pais são nascidos em São Paulo, só meus avós, só meus avós que eram nascidos na Itália, vieram como imigrantes aqui para São Paulo. (E22)

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Meu pai era português, eu sou brasileiro. Minha mãe era brasileira também, mas filha de português. (E26)

Teve imigrante em busca de trabalho, em busca de emoção e em busca de uma saída para a sua situação. E30 foi um dos que veio de Portugal em busca de melhores condições de trabalho e inclusive foi no Mercadão onde conheceu sua esposa, que à época comprava em seu negócio:

Tem 55 anos [que estou no Mercado]. Cheguei aqui em 1952. (...) Eu vim de Portugal para aqui direto. (...) Em Portugal eu trabalhava com o mesmo ramo daqui. Então foi fácil me adaptar aqui. A língua é a mesma, os costumes são os mesmos, então é fácil. (...) Eu trabalhei dos 13 aos 22 anos. (...) Vim para aqui, tentar a vida. (E30)

A seguir, um sucessor de uma organização (terceira geração) conta a história onde não é possível separar história de vida e história da organização:

A origem do [bar do E09] se deu quando o meu avô veio de Portugal, ele veio sozinho, veio ele e... Na realidade o primo e o irmão dele já estavam aqui no Brasil e ele veio em busca de aventura. Então quando chegou aqui se estabeleceu junto com o primo dele, trabalhava de empregado e foi se estabelecendo em uma feira que tinha aqui fora, que era o mercado antigo, né? E... Nesse meio tempo o mercado municipal estava sendo construído, e também para abrigar, esse mercado ficava fora daqui, né? (...) Era um mercado aberto, né? Um mercado aberto. Então... Logo que esse mercado foi feito o pessoal de lá veio para cá, para dentro do mercado. Foi quando meu avô e o primo dele se estabeleceram aqui dentro. Aí meu avô se estabelecendo ele trouxe o resto da família de Portugal, seriam a minha avó e os meus tios. E em cima ficou um negócio de família, trabalhando sempre em família, com os meus tios, tudo. E estamos aí até hoje, já faz setenta e cinco anos de bar, de história. (E09)

A história começada pelo avô chega à terceira geração com muito sucesso e reconhecimento. Nos lanches mais famosos do Mercadão aparece o negócio de E09. E não é somente pela fama, o ambiente que cruza modernidade e tradição se mostra atrativo, a lanchonete, com fotos antigas e alguns objetos da época de seu avô chamam a atenção de quem se senta nos banquinhos ao balcão para degustar as delícias do lugar. E09 aproveita bastante da história da constituição do Mercado, da qual participou sua família, como um atrativo para a organização, destacando sempre elementos das histórias que se misturam. Atualmente E09 já incorpora um discurso sustentado na história da sua família, portanto na sua própria. Quando criança freqüentava o local e teve sua socialização próxima das famílias que se uniam lá, famílias consangüíneas ou famílias simbólicas, compostas pelos imigrantes.

No ramo de frutas não foi diferente, muitas histórias de família compuseram a história do Mercado. No trecho a seguir, exemplificamos, com a fala de um gestor de terceira geração, como sua família participou no processo:

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que ta comigo também aqui. E... a coisa vai, sempre trabalhando. Quarenta e um anos sem tirar uma férias... (E18)

Nesse trecho conseguimos observar que, além de o entrevistado claramente mesclar as duas histórias, a da família com a do mercado, observamos o percurso da sucessão no espaço

É interessante que como vimos muitos comerciantes são imigrantes e a forma como eles chegaram até o Mercado converge para um mesmo contexto. Pessoas que são desterritorializadas, buscando soluções para sobrevivência com os conhecidos. Nesse sentido, o Mercadão se torna uma teia, é uma rede composta por sujeitos que foram chamando seus amigos, uma vez que acreditavam que ali poderiam desenvolver uma atividade, principalmente porque muitos desses imigrantes já haviam trabalhado em lavoura ou no comércio. O caso de E27 é muito interessante, ele é um português que tem 74 anos e está há 54 no Mercadão, foi levado para lá por E01 que entrou como sócio e depois de ter engatado o negócio deixou que E27 andasse com as próprias pernas e com a ajuda da família, compondo então mais um negócio familiar na grande família que é a organização estudada.

Que ele [E01] é muito meu amigo, então amizade, minha com ele, era tão grande que ele achou por bem comprar o ponto sem minha autorização e depois falou para mim que tinha comprado para nós dois. E eu paguei a minha parte e fizemos amigos, continuamos amigos, a mesma coisa e só. Até hoje nós somos grandes amigos. (E27)

4.1. A metáfora da família no MMSP

A metáfora da família ilustra muitas situações nesta pesquisa, ela é usada nas representações sociais dos comerciantes em relação ao espaço e às relações que se estabelecem nele. Depois a metáfora da família é usada como projeção identitária, na tentativa de fazer com que o cliente reconheça essa imagem e, por fim a metáfora da família associada à organização familiar, às interações que ali acontecem.

O trecho a seguir, mostra a analogia do Mercado como casa, entendendo que as relações ali estabelecidas são íntimas, próximas daquelas familiares:

Ah, o mercado é meio que...que nem eu falo, como uma segunda casa, né? Você fica mais tempo aqui do que com a família, então, você acaba tendo um relacionamento bom com os vizinhos... (E53)

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E é tão legal esse mercado. O legal de todo mercado é que aqui trabalha uma família pra atender a sua família. É você chegar no meu boxe nós ali somos uma família, pra atender a sua família, e se você chegar nesses empórios é isso. Ali tem pessoas de sessenta anos de mercado, uma vida inteira atendendo o cliente sabe? É diferente de que você vai no supermercado. O supermercado você entra pega o que você quer e sai, e o cartão. Ninguém te falou bom dia e ao menos te olhou nos olhos. Esse mercado não, você tem alguém alegre, alguém contando histórias sabe? É que nem a feira em São Paulo, a feira, a feira jamais poderia acabar! É um local que quando a dona, por exemplo: você foi a segunda vez na banca, você já se familiarizou com o pessoal, aquela alegria que, ao vender, porque é diferente. O supermercado é ir num banco. Que sentimento eles tem com o cliente? Eles tão sempre melhorando pro cliente, mas eu falo assim, e o calor humano! Então esse contato por exemplo: Olá! Bom dia! Chamando as pessoas pelo nome com esse carinho né? É introcável, né? (E60)

Nesse trecho conseguimos observar um pouco da incorporação do discurso dos comerciantes mais antigos e que trabalham com o varejo. Ele incorpora a fala de outrem, usa até mesmo a fala de cliente. Apesar de trabalhar à noite, como atacadista, mantém contato com os comerciantes e participa do discurso pela manutenção do mercado como tal e não como ponto turístico. Demonstrando a possibilidade de se manterem as relações comerciais com produtos que são maneiras de resistência identitária, partindo da perspectiva estratégica do retorno ao modo de vida humanizado e ao bucolismo do que outrora era vivido, de uma relação mais próxima dos laços possibilitados pelo modo de vida rural.

A questão da família fica muito fortemente marcada quando estamos tratando das representações sociais do Mercado Municipal de São Paulo. Um exemplo é o trecho que se segue:

A relação, como eu vou dizer... O mercado é bastante contagiante, você... Tem toda essa, essa história, né, que vocês devem conhecer um pouco, essa, essa questão de família... Isso daí contagia bastante, então você, é, quando vem para o mercado é difícil você abandonar. (E06)

Mesmo que este entrevistado não tenha sido socializado desde a infância (o que ocorreu com vários outros) ele foi para o local trabalhar com um cunhado e seu irmão, e atualmente percebe o Mercadão como um espaço onde a questão familiar acaba por ser um elemento de identidade. A partir do momento que o sujeito se insere naquele cotidiano ele passa a fazer parte da família e daí criar uma identificação com o espaço simbólico.

Mas não é somente nesse aspecto que deve ser analisado a questão da identidade e das representações sociais em torno do aspecto do rural. Percebeu-se que na socialização dos produtos e das artes do fazer, foram formadas identidades dos comerciantes ali estabelecidos. Destaca-se a seguir, como o cotidiano pode ou não influenciar na comercialização de um determinado produto, que acaba por repercutir na forma de tratamento e de relacionamento entre os comerciantes e os fregueses. Em alguns casos, por exemplo, como no caso de E01, encontrou-se uma relação entre a forma de socialização no trabalho e o produto comercializado, como se pode observar:

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Neste artigo, tem-se a preocupação de colocar os contextos, para propiciar ao leitor uma análise mais fluida. Nesse sentido, destaca-se que o trecho (anterior) responde à pergunta do por que de ele trabalhar mais especificamente com laticínios (apesar de ter outros produtos). Aparece aqui uma relação de identidade a partir da socialização, do costume em se trabalhar com esse produto ao longo do tempo.

Muitas famílias trabalham com frutas, verduras e leguminosas e neste caso também observamos a associação entre produção e comercialização e sua relação entre identidade e táticas cotidianas. No caso da família de E06, uma parte cuida da produção de mexerica poncan e de manga, enquanto que a outra parte se envolve mais diretamente com o comércio desses produtos. E06 atualmente faz parte do corpo da associação e talvez por isso, se preocupa mais com a associação do que com o negócio em si, mas implicitamente percebemos toda a família em torno do negócio do comércio que é a atividade fim.

Quando eu vim para a associação era na época da reforma, então eu tinha que deixar, né, o serviço, a família foi tocando e aí foram acontecendo algumas coisas eu fui me envolvendo cada vez mais com a administração porque não dava para conciliar naquele momento as duas coisas, o box e a associação, ne? E trabalho aqui há muito tempo. E, então, hoje é a minha família que toca e a gente conversa muito pouco. (E06)

Percebe-se então que há membros da família-organização que estão envolvidos em diferentes partes do processo que constitui a organização comercial. A associação, sendo uma importante organização política se converte em uma posição estratégica para o membro da família.

Outro caso relacionado às frutas como produto e por causa da socialização é o da organização de E22 e de seus filhos, que compõem a quarta geração da mesma família no local. Apesar de atualmente não terem produção, fica subentendido o intenso aprendizado com o manejo das frutas que culminou na escolha desse produto como foco desde anos atrás:

Sempre trabalhei com frutas, nacionais e estrangeiras. (...) [Se tem produção] Não, mas já fomos produtores, nós tivemos fazenda em [Nome do Lugar], em Araraquara, tivemos um sítio em Valinhos que nós produzíamos uva, figo, e hoje, há mais ou menos 15 anos atrás, meus filhos também se estabeleceram com um box no Mercado Central. (...) Com isso configura a quarta geração dentro de uma mesma família no mercado de comércio de frutas. (E22)

Ao apresentar o tipo de produção e descrever os locais, E22 tende a mostrar ao interlocutor seu saber-fazer em relação ao produto. Ao dizer que já teve produção há algum tempo, permite que o interlocutor infira que pelo menos lida muito bem com o manejo das frutas.

5. Japoneses na história de um Mercado: o caso do Kinjo

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Ainda hoje é possível perceber isso, mas, o mais interessante é observar como que a vinda para o Brasil implicou em resistência identitária pela comida e pelos lugares de sobrevivência. Para a manutenção da comida, era necessário, por conseguinte, produção dos ingredientes básicos, já que em São Paulo pouco era produzido e aí entram os japoneses não somente adaptando-se ao lugar, mas mudando a rotina e os hábitos de vida deste lugar, à medida em que levou às feiras cada vez mais hortifrutícolas:

As atividades hortifrutigrangeiras, hortigrangeiras, que por iniciativa de imigrantes japoneses tiveram desenvolvimento acelerado nos arredores de São Paulo aos poucos foram ampliando seu domínio a outras áreas metropolitanas e iniciaram-se com a plantação de batatinhas, depois vieram o tomate e outras hortaliças, a fruticultura, a floricultura e a agricultura. Para incentivar e sustentar essa atividade os imigrantes formaram cooperativas. (MUSEU DA IMIGRAÇÃO, 2009)

Os japoneses em geral se alocavam nas atividades de agricultura não somente pela facilidade que tinham no manejo da terra e do que era possível nela cultivar. Deve-se acrescentar também duas coisas: a primeira delas seria a socialização com os sujeitos provenientes do mesmo país em um tipo de trabalho, a proximidade entre eles tornaria o trabalho menos penoso. O segundo aspecto que não deve ser jamais esquecido é que, a maioria dos japoneses, ao chegarem ao Brasil, não falavam português, foi aí que encontraram nas colheitas uma atividade de sobrevivência, onde a comunicação verbal era pouco ou nada utilizada.

E daí, dessa confluência dos imigrantes japoneses no campo, observa-se também, como mencionado no trecho anterior, que na agricultura houve forte influência do cooperativismo japonês. Segundo consta na exposição do Museu da Imigração, os japoneses não permaneceram todo o tempo atrelados ao cultivo e colheita, o que pode ser comprovado com esta pesquisa:

Mais tarde muitos deles deixaram a vida rural e motivados por vários fatores procuraram outros ramos de atividade como o comércio e a indústria. (MUSEU DA IMIGRAÇÃO, 2009)

Foi justo na década de 30, na mesma década da abertura do Mercado Kinjo Yamato e do Mercado Municipal de São Paulo que se viu o aumento da presença dos japoneses no comércio. E10 chega a mencionar, ao descrever como era o Mercado antigamente, que havia muito mais japoneses e que, inclusive, a organização teria sido fundada por um grupo de pessoas dessa nacionalidade:

Antigamente, quem comandava o mercado eram os japoneses. Aí foram morrendo, foram saindo, se aposentando, aí o que ficou foi pouco japonês aqui no mercado. (EK10)

Eles acompanharam muito bem a mudança do tempo, isso porque a essa época a cidade já havia começado seu boom da urbanização e o crescimento da população já se mostrava próximo. Assim, fazia-se necessário o aumento do comércio de produtos alimentícios, estes encontrados nos Mercados, que passaram a ter grande importância na época. É aí que se pode observar mais nitidamente a interdependência do rural com o urbano.

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começam a se dedicar a empreendimentos comerciais e industriais. (MUSEU DA IMIGRAÇÃO, 2009)

Boa parte dos Japoneses ao chegarem ao Estado de São Paulo foi direcionada para as lavouras que estavam localizadas, em grande medida, nas cidades de interior. E que, claro, acabavam abastecendo a metrópole que crescia. Mas, como dito no trecho 09 esses imigrantes e descendentes mais tarde passam a participar mais efetivamente da parte comercial do Estado, foi quando alguns saíram das lavouras e começaram a migrar para o comércio, principalmente o comércio de hortifrutícolas. O mais interessante e instigante é que como nada é natural, mais tarde descobriu-se quais os motivos pelos quais muitos descendentes de japoneses saíram de algumas regiões, entre as quais da região de Santos e se estabeleceram na capital, a saber, nas próprias palavras de uma das senhoras muito antigas no Mercado Kinjo Yamato:

Ah, eu trabalho aqui há mais de cinqüenta anos. (...) Sabe quando teve a Segunda Guerra Mundial? Que teve aquela retirada de todo aquele pessoal que tava no litoral? Eu morava em Santos, né. E tive que vir pra São Paulo. (...) Porque diz que vinha, ah, como a gente era, como dizia? Do eixo, né, que falava, né, italiano, japonês, alemão, tava junto na Segunda Guerra Mundial, né? E achava que se tivesse estrangeiro lá na... no litoral, vinha nazista, vinha bombardear Santos, lá, né. Naquela, naquela época, mil novecentos e quarenta e seis, por aí. Foi quando, assim, terminou a guerra. (EK06)

Na história de vida de E06 aparece um pouco da história silenciada do Mercado Kinjo Yamato e da própria história de São Paulo. O contexto a direcionou para o Mercado, junto com outros vários japoneses. Alguns deles ainda permanecem lá, enquanto que outros faleceram e alguns se aposentaram e deixaram seus espaços, não absolutamente porque ainda vão passear e rever amigos, mas deixaram seu trabalho.

O Mercado da Cantareira passa a ser denominado Mercado Municipal Kinjo Yamato a partir de 1988, em comemoração aos 80 da imigração Japonesa, pelo decreto nº 26.574/88. Apesar de ele ter sido reconhecido a partir desse decreto, recebendo um nome Japonês como símbolo também da história dos comerciantes no local, pouco se tem escrito sobre ela. Infelizmente, sequer na exposição visitada dos 100 anos da imigração japonesa no Brasil, foram encontrados materiais específicos sobre o referido Mercado, assim entendemos que neste trabalho, esta parte da pesquisa, contribui não somente para os estudos organizacionais, mas também para a tentativa de despertar a busca pela história desse lugar que representa muito da história de São Paulo e de seus citadinos.

E07 conta um pouco, sem detalhar sobre o assunto, mas deixando indícios para interpretação a respeito da sua chegada ao Mercado:

Eu comecei a vir aqui com dezessete, dezoito anos, né. Porque eu morava em Santos. Eu mudei pra cá, porque a família da minha mãe, a maioria trabalhava aqui no mercado. Meus tios trabalhavam, tinha uns quatro ou cinco que trabalhavam aqui e fizeram força pra minha mãe vir pra cá, né. Aí meus pais vieram pra cá, e nós viemos também. (EK07)

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acostumados na lida diária, aliás eles foram inclusive alguns dos responsáveis pela mudança de hábitos de alimentação na capital paulista.

Os Mercados em meados do século passado eram muito importantes para as cidades, eram os lugares onde a vida urbana se mantinha, onde a vida urbana encontrava seu sustento, sua sobrevivência. Isso porque era tanto o local do abastecimento, como um local de trabalho. Ao ser questionado sobre a importância da organização para a cidade, E01 responde:

Ah, tinha [mais importância]! Agora o centro desvalorizou muito, né?! Você vê varejões, agora, no centro, sacolões, supermercados, que antigamente supermercado não vendia esses produtos in natura, né?! E hoje, eles vendem de tudo, né?! Os pequenos, (...) sumiram, acabaram uma boa parte. (EK01)

Ao responder à pergunta usando o verbo ter no pretérito imperfeito, permite o pressuposto de que atualmente ele não é tão mais importante para a cidade, o que se confirma logo em seguida com os explícitos. Fica aparente nesse trecho o cenário concorrencial entre o Mercado e os supermercados e sacolões, ou as organizações de abastecimento da modernidade. Esse antes foi confirmado também por E07 ao descrever a importância do Mercado para a cidade em tempos passados:

Aqui era um tipo CEASA, né. Então, quando não tinha o CEASA, era aqui que era feita a, o comércio. É a parte mais antiga do mercado. (E07)

O Mercado fazia pulsar o sangue da cidade, permitia que ela vivesse, dava os nutrientes necessários à urbe, ao corpo. Era também lugar de algo da vida social, com as influências nos hábitos alimentares dos habitantes. Para São Paulo, o Mercado Municipal Kinjo Yamato, outrora Mercado da Cantareira tinha grande importância, como é dito por E08, complementando E07. No trecho a seguir o comerciante trata de demonstrar como essa grande organização foi perdendo sua importância e com muitas dificuldades, tentam os comerciantes revê-la, mais ainda, revivê-la.

Naquela época era muito bom de movimento, de venda, é, porque, como todos sabem, né, os supermercado, né, os grandes, as lojas agora entraram com legumes, frutas, verduras né. Então todos foram castigados, do nosso produto. Então com isso diminuiu sensivelmente a nossa venda aqui. Mas mesmo assim, né, tem vindo toda essa região através desse mercado. (...). Antigamente só existia este mercado, e feira livre, mais nada. Então o povo era obrigado a ir na feira ou vir aqui, né? Então a parte de varejo era bem, bem, bem melhor. (E08)

O Mercado na cidade hoje é só mais um local de abastecimento e nostalgia, é também o retorno ao que seria mais próximo do rural, do interiorano, porque é naquele local onde algumas das relações de confiança ainda são estabelecidas, mas talvez justamente por ser um Mercado vazio. Para o morador do centro é uma solução eficiente, quando falta uma coisinha ou outra, porque as compras grandes são feitas nos supermercados, onde se pode pagar com cartão e por todas as mercadorias juntas. Para a maioria dos hotéis e restaurantes do centro, já não é mais tão importante. Kinjo os abastecera por longos anos, mas agora não é tão viável comprar lá, para alguns sim, mas o caso específico veremos na parte das novas estratégias. Sobre esse tema, da mudança da função do Mercado, E05 percorre brevemente:

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outras coisas. Andar no centro da cidade, muitos abusam do estacionamento, né? Então, não demoram muito por causa da multa daqui. (E05)

No diferente, no bucolismo das relações de confiança naquele local é possível reviver a nostalgia dos velhos tempos, em que se podia confiar na palavra das pessoas. No Kinjo, os comerciantes saem e voltam de suas bancas sem precisa de por alguém em seu lugar, os vizinhos o ajudam, sem serem solicitados, jamais roubam os clientes. Mas, assim como no caso do Mercadão, neste pequeno Mercado também a relação com o produto é muito forte e importante de ser analisada.

EK05, por exemplo, é português, veio para o Brasil no final da década de 70. Veio ao país porque seus irmãos já estavam aqui e se davam bem no comércio no Mercado Kinjo Yamato, foi nesse contexto que entrou EK05, que permaneceu no local. Toda a família, em Portugal, está envolvida em atividades pecuárias ou de agricultura. Ao virem, acabaram ficando muito próximos daquilo com o que foram socializados. De certa maneira permaneceram próximos do produto da terra e mais ainda aqueles familiares é que fornecem, que produzem no interior e passam para EK05 comercializar.

Nós temos familiares que produzem, por isso que a gente ainda tem a parte de legumes. Mas a gente compra a maior parte, também compra algumas coisas, a gente não pode generalizar, mas tenho muita coisa dos familiares que produzem e a gente tem mais acesso a... negociar. (EK05)

Além de ser uma questão de aprendizado, da socialização da família com o tipo de trabalho, a relação entre EK05 e seus irmãos com o resto da família é de complementaridade, sendo esse caráter também estratégico. Isso fica explícito quando ele diz que a parte da produção que compra da família “tem mais acesso a... negociar”.

No caso de EK08 fica ainda mais evidente a questão da identidade sendo delineada por meio do produto. Ele que na infância com a família trabalhava numa lavoura no interior, passando por dificuldades foi em busca de oportunidades na capital e é no Mercado, na zona limítrofe do rural com o urbano que encontrou sua sobrevivência. Tendo sido socializado com a produção hortifrutícola, certamente foi mais fácil seguir com esse tipo de produto, mas mudando o trabalho.

Olha, eu comecei a trabalhar aqui porque não tinha outra opção. Eu vim do interior com onze anos, no ano de mil novecentos e quarenta e seis, que eu me mudei pra cá, e não tinha a possibilidade de estudar, né. A gente já viemos pra cá, porque lá já não tava dando mais, na lavoura, então viemos aqui com uma mão na frente a outra atrás, e não tinha condições de estudar e fiquei desde os onze anos, quer dizer, a gente começou a trabalhar e até hoje, né, felizmente a gente ta aqui, trabalhando. (EK08)

Ademais do que se interpretou pelos implícitos pressupostos e subentendidos, a respeito da socialização com o produto e de ela se converter numa questão identitária, mais adiante, quando foi questionado sobre como é trabalhar como comerciante naquele Mercado, ele responde, fazendo referência à identidade pelo produto:

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Daqui aponta-se um tópico de análise interessante, a “mesma área” representa um elemento de segurança. Foi justamente o que lhe aconteceu tempos atrás ao sair do interior e tentar ganhar a vida na capital. As amarras com o rural predominaram, fazendo com que o sujeito optasse por trabalhar com hortifrutícolas. Essas amarras são também as do conhecimento e do medo do diferente, do receio de não se conseguir desenvolver.

Para EK24 o principal produto que comercializa, as pimentas, é muito mais do que um produto, é toda uma história, como ele diz “cria” as pimentas, desde a reprodução até às conservas, dá novos sabores, faz novos cruzamentos e tem na sua banca uma diversidade imbatível naquele Mercado. Comercializa um pouco de outras coisas, mas o forte são as pimentas. Abaixo segue um trecho que mostra o que comercializa e o que as pimentas significam para ele:

[Comercializo] chuchu, abobrinha, pimentão, vagem, pimenta. (...) Pimenta nós criamos a pimenta, é uma coisa muito boa, ta? Coisa muito boa, legal, deixa você à vontade, deixa você com bastante astral, e... Já vinha de tradição. (...) Já vinha meus velhos, já vinha de tradição deles vender as pimentinhas. (EK24)

E nesse pequeno trecho fica muito evidente o que colocamos como cerne deste tópico, a questão da socialização influenciando no produto comercializado. A história acaba por representar tanto os laços afetivos, como os de sobrevivência, porque quanto mais socializado está com um tipo de trabalho e um tipo de produto, mais táticas e estratégias se pode desenvolver, uma vez que de fato se conhece o comportamento das pessoas diante do que é comercializado.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao fazer as representações dos mercados, os sujeitos entrevistados, nos dois casos, acabaram apontando para elementos do rural, para elementos da identidade rural. Ambos mercados surgiram numa época em que era imprescindível esse contato com a oferta rural, a cidade dependia dela. Os comerciantes que atualmente são habitantes da cosmopolita São Paulo, acabam buscando naquele espaço a oportunidade de uma vida mais calma, de um trabalho em que se possam estabelecer relações deveras pessoais. Nesse sentido, observamos como está implícita a questão da memória, no tema da identidade. As histórias de vida dos sujeitos estão inter-relacionadas e são medidas naquele espaço.

Nos dois mercados estudados houve influência direta e relevante da cultura e da necessidade de sobrevivência de imigrantes na cidade. Esses imigrantes vieram tanto de outros países como de outras cidades (quando brasileiros, em geral vieram do campo ou de pequenas cidades interioranas). É interessante observar como que os Mercados eram e ainda são espaços de resistência identitária, lugares que unem esses sujeitos desterritorializados. Os dois mercados unem pelos produtos e pelas relações “familiares”, considerando-se aqui a família simbólica, sujeitos com a mesma necessidade: de sobreviver num ambiente estranho, movimentado demais, urbano demais e cada vez mais impessoal.

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urbano, principalmente considerando os maiores negócios e aqueles nos quais os gestores são jovens.

Já o Mercado Kinjo Yamato, permanece comercializando os mesmos tipos de produto, sem mudar muito o foco dos clientes. Nesse sentido, as relações rurais naquele espaço ficam mais evidentes, até mesmo por ser menor. Aquele lugarzinho perdido no mundo da correria, da competição é uma extensão da vida interiorana em São Paulo. O Mercado Municipal Kinjo Yamato é um daqueles que conserva o contato do rural com o urbano. Não pelas carroças ou burros de carga que levavam o colhido nas fazendas, isso não, porque no mundo moderno os sobre rodas movidos a combustível tomaram todo o lugar. Mas pelas relações ali estabelecidas entre os comerciantes, pela confiança que um deposita no outro, de poder dar uma saída e ter certeza de que algum dos vizinhos tomará conta de sua casa. É um pedacinho do rural incrustado na maior metrópole brasileira também pelas pessoas que ali estão, por suas histórias de vida onde os limites entre urbano e rural quase inexistem de tão tênues.

Pode-se nessas considerações finais fazer uma analogia com as análises da história da arte, feitas por Wölflin (2000). Deve-se lembrar para tanto, o que para ele era pictórico e linear no estudo das artes. O modo de ver linear está caracterizado segundo o autor pela busca da beleza nos limites, nos traços bem definidos. “o modo de ver linear separa uma forma de outra radicalmente”, porque a arte desse estilo tem “linhas uniformes e claras que se separam” (Wölflin, 2000, p.57). Já “As possibilidades da arte pictórica começam no momento em que a linha é desvalorizada enquanto elemento delimitador” (Wölflin, 2000, p.26). A arte pictórica é compreendida por “limites desvanecidos que favorecem a fusão” (Wölflin, 2000, p.57) pela emancipação das massas de claro e escuro, na qual uma busca à outra. “Ausência de nitidez (...). Triunfo da aparência sobre a realidade” (Wölflin, 2000, p.30).

Considera-se o Mercado de Kinjo como uma obra de arte, uma obra de arte do cotidiano, em que os artistas, aqueles que o vivem e que dele vivem produzem uma paisagem pictórica, onde não é possível distinguir até onde vai e onde começam as relações rurais e urbanas. Ademais dessas relações outras paisagem pictóricas podem ser contempladas naquele local, seja em uma visita ou, mais profundamente, por meio desta pesquisa e de outras esperadas no porvir. A mistura de culturas, entre portugueses, brasileiros e japoneses pode ser observada entre os vizinhos. A influência das maneiras de agir de um e de outro e de uma família e de outra, construindo, por fim, um cenário familiar complexo e abrangente, uma paisagem ampla, onde as cores, sabores e aromas se misturam. Separá-las, desmembrá-las é olhar com olhos muito distantes daqueles que são os personagens dessa arte. Separá-las e distanciar-se dessa arte e não conhecê-la melhor, para ter sucesso em uma análise da história dessa arte é necessário ver justamente no jogo de claro e escuro, na mistura dos borrões com alguns tênues traços, enfim, é necessário desvalorizar a linha enquanto elemento delimitador.

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contexto e está totalmente associado às metamorfoses urbanas. Esta é uma clara adaptação de modos de relações rurais a um urbano tão dinâmico como o é São Paulo.

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