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Os jovens portugueses no contexto da Ibero-America

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Academic year: 2021

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Os Jovens Portugueses

no Contexto

da Ibero-América

José Machado Pais

Cícero Roberto Pereira

(coordenadores)

(6)

Capa e concepção gráfica: João Segurado Revisão: Soares de Almeida

Impressão e acabamento: Manuel Barbosa & Filhos, Lda. Depósito legal: 418791/16

1.ª edição: Dezembro de 2016

Imprensa de Ciências Sociais

Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 9

1600-189 Lisboa - Portugal Telef. 21 780 47 00 – Fax 21 794 02 74

www.ics.ulisboa.pt/imprensa E-mail: imprensa@ics.ul.pt

Instituto de Ciências Sociais — Catalogação na Publicação Os jovens portugueses no contexto da Ibero-América /

coord. José Machado Pais, Cícero Roberto Pereira. - Lisboa : Imprensa de Ciências Sociais, 2016

ISBN 978-972-671-379-1 CDU 316.3

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Índice

Os autores . . . 15 Prefácio . . . 19 Introdução . . . 21 José Machado Pais

Parte I

Valores, atitudes e perceções

Capítulo 1

Valores e atitudes perante temas socialmente sensíveis . . . 33 Cícero Roberto Pereira

Capítulo 2

Perceções de violência social . . . 53 Simone Tulumello e Cláudia Casimiro

Capítulo 3

Sexualidade e métodos contracetivos . . . 75 Sofia Aboim

Parte II

Confiança nas instituições democráticas e participação

Capítulo 4

A participação social e política . . . 93 Pedro Moura Ferreira

(8)

Capítulo 5

Os jovens frente à democracia e às suas instituições . . . 109

Marcelo Camerlo e Andrés Malamud

Parte III

Educação, trabalho e futuro

Capítulo 6 Educação e inserções profissionais . . . 121

Vítor Sérgio Ferreira e Jussara Rowland Capítulo 7 Uso de novas tecnologias . . . 141

Ana Nunes de Almeida e Ana Delicado Capítulo 8 Diagnóstico do presente, expetativas sobre o futuro . . . 155

Sérgio Moreira Bibliografia . . . 173

Anexos . . . 179

Questionário A . . . 181

Questionário B . . . 191 00 OPJ Intro.qxp_Layout 1 28/11/16 09:32 Page 8

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Índice de quadros e figuras

Quadros

1.1 Ordenação média e desvios-padrão dos problemas que os jovens

consideram mais importantes ... 38

1.2 Coeficientes de regressão multinível que representam os pesos dos fatores

explicativos nas dimensões organizadoras das preocupações dos jovens

ibero-americanos ... 42

1.3 Médias e desvios-padrão das atitudes dos jovens em relação a temas

socialmente sensíveis... 44

1.4 Coeficientes de regressão multinível que representam os pesos dos fatores

explicativos das dimensões das atitudes dos jovens ibero-americanos

em relação a temas socialmente sensíveis... 47

1.5 Indicadores contextuais usados como fatores explicativos nos modelos

de regressão multinível... 51

2.1 Mortalidade por homicídio voluntário em função do género (%) ... 58

2.2 Correlações bivariadas entre a perceção de violência e indicadores

socioeconómicos, de perceção de vitimização social e de insegurança... 63

2.3 Perceções sobre a situação económica do país relativa à situação

antes do 25 de abril (%) ... 65

2.4 Perceções de violência urbana (%) ... 68

2.5 Correlações bivariadas entre ter presenciado a ocorrência de brigas

com uso de armas e indicadores socioeconómicos... 68

2.6 Perceção de violência familiar nos últimos doze meses (%)... 70

2.7 Correlações bivariadas entre a perceção de violência doméstica

e indicadores socioeconómicos ... 72

3.1 Médias e modas da idade da primeira relação sexual entre os jovens

dos 15 aos 29 anos por sexo e país/grupos de países... 78

3.2 Coeficientes de regressão estandardizados que representam a relação

entre a idade da primeira relação sexual e os indicadores sociais... 81

(10)

3.3 Coeficientes de regressão logística não estandardizados que representam

a relação entre não ter relações sexuais e os indicadores sociais... 83

3.4 Jovens que indicaram ter usado métodos contracetivos na primeira relação sexual (%)... 85

3.5 Jovens que indicaram a razão de usar preservativo (%) ... 87

4.1 Participação organizada por sexo, escolaridade e situação perante o emprego (%) ... 99

4.2 Associativismo dos jovens segundo os países (%) ... 102

4.3 Pertença associativa dos jovens por sexo, idade, escolaridade e ocupação (%) ... 103

4.4 Razões da não participação (%) ... 105

4.5 Jovens que indicaram participação em redes sociais (%) ... 107

5.1 Coeficientes de regressão não estandardizados dos preditores da confiança na democracia e nas suas instituições ... 115

5.2 Confiança dos jovens na democracia e suas instituições... 118

7.1 Modo principal de uso da internet por grupos de países (%)... 144

7.2 Modo principal de uso da internet em Portugal por escalões etários (%) ... 144

7.3 Modo principal de uso da internet em Portugal por nível de escolaridade completo (%) ... 145

7.4 Modo principal de uso da internet em Portugal por condição perante o trabalho (%)... 145

7.5 Principais usos da internet por grupos de países (%)... 147

7.6 Principais usos da internet (combinação) por grupos de países (%) ... 148

7.7 Principais usos da internet em Portugal por sexo (%) ... 148

7.8 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por sexo (%)... 148

7.9 Principais usos da internet em Portugal por escalões etários (%) ... 149

7.10 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por escalões etários (%) ... 149

7.11 Principais usos da internet em Portugal por nível de escolaridade completo (%) ... 150

7.12 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por nível de escolaridade completo (%) ... 150

7.13 Principais usos da internet em Portugal por condição perante o trabalho (%)... 151

(11)

7.14 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por condição

perante o trabalho (%) ... 151 7.15 Principais usos da internet em Portugal por tipologia familiar (%)... 151 7.16 Principais usos da internet (combinação) em Portugal por tipologia

familiar (%) ... 152

8.1 Itens (percentagens/médias e desvios-padrão) das variáveis em análise... 158

8.2 Itens das perceções sobre a atualidade e sobre o futuro em Portugal ... 159

8.3 Médias, desvios-padrão e número das perceções sobre a atualidade e sobre

o futuro para a amostra global ... 160

8.4 Médias e desvios-padrão das perceções sobre a atualidade e sobre

o futuro para a Espanha... 162

8.5 Coeficientes de regressão estandardizados dos fatores explicativos

da perceção da atualidade e do futuro em Portugal ... 165

8.6 Coeficientes de regressão estandardizados dos fatores explicativos

da perceção da atualidade e do futuro noutros países... 166

8.7 Coeficientes de regressão estandardizados dos fatores explicativos

da perceção da atualidade e do futuro em Espanha... 167

Figuras

1.1 Hierarquia das principais preocupações dos jovens ... 36

1.2 Dimensões organizadoras das preocupações dos jovens ... 39

1.3 Representação das médias da concordância dos jovens com os temas-alvo

de atitudes socialmente sensíveis ... 44

1.4 Dimensões organizadoras das atitudes dos jovens face a temas

socialmente sensíveis... 46

2.1 Homicídios voluntários por cada 100 000 habitantes, 2000-2012... 57

2.2 Taxa de homicídios voluntários por sexo e faixa etária em Portugal

no ano de 2010... 58

2.3 Perceção dos problemas mais importantes que afetam os jovens (%) ... 60

2.4 Médias da perceção de violência... 61

2.5 Linhas de regressão a representar a relação entre perceção de violência

e taxa de homicídios ... 64

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2.6 Perceções negativas sobre a situação económica do país relativa à situação

antes do 25 de abril por escalão etário (%)... 66

3.1 Rapazes em cada grupo etário que indicaram a idadeda primeira relação sexual (%) ... 79

3.2 Raparigas em cada grupo etário que indicaram a idade da primeira relação sexual (%) ... 79

3.3 Jovens que indicaram ainda não ter relações sexuais por sexo e país/grupos de países (%) ... 82

3.4 Jovens portugueses que indicaram ter feito uso do preservativo e da pílula contracetiva em cada categoria de idade da primeira relação sexual (%)... 86

3.5 Jovens que indicaram não ter usado contracetivos na primeira relação sexual (%) ... 88

5.1 Valores médios da confiança na democracia por país/região ... 111

5.2 Representação da mediana e da dispersão da confiança dos jovens portugueses nas instituições democráticas ... 111

5.3 Valores médios da confiança dos jovens ibero-americanos nas instituições políticas ... 113

5.4 Valores médios da confiança dos jovens ibero-americanos nas instituições não estatais... 113

6.1 Nível de escolaridade por país/região (%)... 123

6.2 Total de estudantes por país/região (%) ... 125

6.3 Condição de estudante por nível de vida subjetivo em Portugal (%)... 126

6.4 Razões de abandono escolar antes de completar o ensino secundário por país/região (%) ... 126

6.5 Médias da perceção sobre a escola por país/região ... 128

6.6 Perceções sobre a escola em Portugal (%)... 128

6.7 Médias das perceções sobre a escola por nível de vida subjetivo em Portugal... 129

6.8 «Tive uma boa educação secundária» por país/região (%) ... 130

6.9 «Por que considera ter tido uma boa educação secundária?» por país/região (%) (resposta multipla)... 130

6.10 «Está a trabalhar atualmente?» por país/região (%) ... 132

6.11 Jovens que não estão atualmente a trabalhar e se encontram à procura de trabalho por país/região (%)... 133

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6.12 Procura de trabalho por nível de vida subjetivo em Portugal (%)... 134 6.13 Jovens trabalhadores incritos na segurança social por país/região (%) ... 134 6.14 Importância atribuída aos descontos da segurança social para obter

uma pensão/reforma no final da vida laboral por país/região (%) ... 135

615 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por país/região (%) ... 136 6.16 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por condição de estudante em Portugal (%) ... 136 6.17 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por grupo etário em Portugal (%) ... 138 6.18 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por nível de vida subjetivo em Portugal (%)... 138 6.19 Perceções sobre condicionantes de inserção no mercado de trabalho

por procura de trabalho em Portugal (%)... 139

7.1 Modo principal de uso da internet em Portugal (%)... 143

7.2 Principais usos da internet em Portugal (%)... 146

7.3 Principais usos da internet (combinação do uso 1 e uso 2) em Portugal (%).. 146

8.1 Representação das médias das perceções sobre a atualidade e sobre

o futuro em Portugal... 159

8.2 Médias das perceções sobre a atualidade e sobre o futuro noutros

países (O) comparados com Portugal (PT)... 161

8.3 Médias das perceções sobre a atualidade e sobre o futuro

em Espanha (ES) comparada com Portugal (PT)... 162

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Os autores

Ana Delicado é investigadora auxiliar do Instituto de Ciências Sociais da

Uni-versidade de Lisboa (ICS-ULisboa). Doutorada em Sociologia, trabalha princi-palmente na área dos estudos sociais da ciência. Tem desenvolvido investigação sobre museus e cultura científica, risco ambiental, mobilidade científica, asso-ciações científicas, energia e alterações climáticas. É vice-coordenadora do OBSERVA – Observatório de Ambiente, Território e Sociedade.

Ana Nunes de Almeida é socióloga e investigadora coordenadora do

ICS-ULis-boa, onde é também presidente do conselho científico. Coordena o programa de doutoramento interuniversitário em Sociologia, OpenSoc (Sociologia – Co-nhecimento para Sociedades Abertas e Inclusivas). Áreas de investigação mais recentes: família e escola, crianças e crise, crianças e novos media, crianças e ca-tástrofes.

Andrés Malamud, doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário

Europeu, Florença, é investigador auxiliar no ICS-ULisboa e professor visitante nas Universidades de Buenos Aires, Católica de Milão e Salamanca. Tem obra publicada sobre integração regional comparada, instituições de governo, política latino-americana e migrações transatlânticas.

Cícero Roberto Pereira é investigador auxiliar no ICS-ULisboa. Doutorou-se

em Psicologia Social Experimental pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE--IUL). A sua investigação analisa o modo como diferentes tipos de jus-tificações são usados pelos atores sociais para legitimar ações e políticas discri-minatórias contra grupos minoritários e a função identitária dessa legitimação nas sociedades democráticas contemporâneas.

Cláudia Casimiro, doutorada em Ciências Sociais, na especialização de

Socio-logia Geral, pelo ICS-ULisboa, é, atualmente, membro integrada do Centro Interdisciplinar de Estudos de Género (CIEG/ISCSP-ULisboa) e professora au-xiliar convidada no ISCSP-ULisboa. Os seus domínios de investigação: socio-logia da família, género, tecnosocio-logias de informação e comunicação, relaciona-00 OPJ Intro.qxp_Layout 1 28/11/16 09:32 Page 15

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mentos online, metodologias qualitativas, violências na intimidade, violência feminina e violência familiar.

José Machado Pais é investigador coordenador do ICS-ULisboa. Foi

coorde-nador do Observatório Permanente da Juventude e vice-presidente do Diretório da Juventude do Conselho da Europa. Tem uma extensa obra publicada, da qual se destacam os seguintes livros: A Prostituição e a Lisboa Boémia; Artes de

Amar da Burguesia; Culturas Juvenis; Sousa Martins e Suas Memórias Sociais. Socio-logia de Uma Crença Popular; Consciência Histórica e Identidade; SocioSocio-logia da Vida Quotidiana; Ganchos, Tachos e Biscates. Jovens, Trabalho e Futuro; Nos Rastos da So-lidão. Deambulações Quotidianas; Lufa-Lufa Quotidiana. Ensaios sobre Cidade, Cul-tura e Vida Urbana; Sexualidade e Afectos Juvenis; Enredos Sexuais, Tradição e Mu-dança: as Mães, os Zecas e os Sedutores de Além-Mar.

Jussara Rowland é doutoranda em Sociologia no ISCTE-IUL e foi

investiga-dora no Observatório Permanente da Juventude do ICS-ULisboa entre 2010 e 2015. Já trabalhou como investigadora em vários projetos de investigação e como consultora na área da responsabilidade social empresarial. Atualmente é bolseira de investigação no projeto CUIDAR – Culturas de Resiliência à Ca-tástrofe entre Crianças e Jovens financiado pelo programa Horizon 2020.

Marcelo Camerlo é coordenador do Presidential Cabinets Project (com Cecilia

Martínez-Gallardo) e atualmente responsável pelo workshop em política com-parada e relações internacionais do doutoramento em Políticas Comcom-paradas do ICS-ULisboa. Doutorado em Ciência Política pela Universidade de Florença, especialista em políticas sociais e licenciado em Comunicação Social pela Uni-versidade de Buenos Aires. Foi investigador auxiliar no Centro de Estudos de Estado e Sociedade (CEDES), docente na Universidade de Buenos Aires e in-vestigador convidado no Helen Kellogg Institute for International Studies da Universidade de Notre Dame.

Pedro Moura Ferreira, doutorado em Sociologia pelo ISCTE-IUL,

investi-gador do ICS-ULisboa e membro do Instituto do Envelhecimento da mesma universidade, é atualmente responsável pelo Arquivo Português de Informa-ção Social. Desenvolve investigaInforma-ção nas áreas do envelhecimento, curso de vida e género. Tem como publicações mais recentes os livros As Sexualidades

em Portugal: Comportamentos e Riscos e Mulheres e Narrativas Identitárias: Mapas de Trânsito da Violência Conjugal. Tem atualmente em curso dois projetos de

investigação: «Processos de envelhecimento em Portugal: usos do tempo, redes sociais e condições de vida» e «Informação sobre saúde da população Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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Os autores portuguesa: conhecimentos e qualidade percecionada das fontes de informa-ção sobre saúde».

Sérgio Moreira é licenciado em Psicologia pela Faculdade de Psicologia da

Universidade de Lisboa e doutorado pelo ISCTE-IUL em Psicologia Social. Tem experiência em investigação fundamental na área da cognição social, em particular no estudo de ilusões de memória e da maleabilidade dos estereótipos. Tem coordenado e executado projetos de caracterização das perceções das co-munidades sobre grandes alterações ambientais, promoção da comunicação de novos empreendimentos e participação pública. Atualmente é professor auxiliar convidado das disciplinas de Estatística na FPUL e, paralelamente, exerce ati-vidade como consultor em psicologia do ambiente.

Simone Tulumello, doutorado em Planeamento Urbano e Regional pela

Uni-versidade de Palermo com uma tese sobre os sentimentos de medo do crime em planeamento urbano, é, desde janeiro de 2013, investigador pós-doc no ICS-ULisboa. O seu projeto principal visa questionar criticamente as políticas de segurança urbana na prática institucional de planeamento urbano. Os seus interesses abrangem: teorias e culturas de planeamento; estudos críticos sobre segurança urbana; poder e políticas de planeamento; estudos de futuros, TICs e governança territorial; tendências urbanas neoliberais; cidades do Sul da Europa; a geografia da crise. É autor de Fear, Space and Urban Planning (2017, Springer).

Sofia Aboim, doutorada em Sociologia (ISCTE-IUL, 2004), é investigadora

auxiliar no ICS- ULisboa e membro do GEXcel − International Collegium for Advanced Transdisciplinary Gender Studies, sediado nas Universidades de Lin-köping, Karlstad e Örebro, na Suécia. Os seus interesses de investigação têm vindo crescentemente a incluir temas como género, sexualidade e cidadania. Tem publicado livros e artigos sobre estas temáticas, coordenando atualmente o projeto «TRANSRIGHTS – Gender citizenship and sexual rights in Europe: transgender lives from a transnational perspective», financiado pelo European Research Council.

Vitor Sérgio Ferreira, doutorado em Sociologia, na especialidade de Sociologia

da Comunicação, Cultura e Educação, pelo ISCTE-IUL (2006) é investigador auxiliar no ICS-ULisboa, coordenador do grupo de investigação LIFE – Per-cursos de Vida, Desigualdades e Solidariedades: Práticas e Políticas do ICS--ULisboa, vice-coordenador do Observatório Permanente da Juventude do ICS-ULisboa e docente no doutoramento em Sociologia – Conhecimento 00 OPJ Intro.qxp_Layout 1 28/11/16 11:24 Page 17

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para Sociedades Abertas e Inclusivas (programa interuniversitário Open-Soc). Tem desenvolvido e coordenado vários projetos de investigação, nacionais e internacionais, na área das culturas juvenis e das transições para a vida adulta. Entre as várias publicações, destacam-se os livros Jovens e Rumos (ICS, 2011),

Tempos e Transições de Vida: Portugal ao Espelho da Europa (ICS, 2010) e Marcas que Demarcam. Tatuagem, Body Piercing e Culturas Juvenis (ICS, 2008). Tem

publi-cado em revistas internacionais de referência na área da juventude, como Youth

& Society e Young – Nordic Journal of Youth Research.

Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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Prefácio

A juventude é uma fase do ciclo de vida que representa essencialmente a transição para a vida adulta, autonomia e independência. Devido a este carácter de transição, as políticas públicas de juventude assumem um carácter de prepa-ração para a vida adulta e têm um impacto que se prolonga no tempo, ao in-fluenciarem não apenas o presente da juventude, mas o futuro de toda a socie-dade. Estão inerentemente vocacionadas para a preparação da vida adulta, focalizadas em compensar as vulnerabilidades da juventude no exercício dos seus direitos, como o acesso à saúde, à habitação e outros. São, por isso, inter-setoriais, pois a transversalidade da juventude faz com que todo o governo – e não apenas a pasta que presentemente tutelo – trabalhe também em prol da ju-ventude. Sempre que, nos diversos setores da governação, as políticas universais e mais ou menos indiferenciadas têm um efeito particular na vida da juventude, deve existir uma preocupação especial em assinalar e controlar os problemas específicos desta população, garantindo assim a equidade e o combate à exclu-são das pessoas jovens, designadamente através da promoção do envolvimento da juventude nos processos de tomada de decisão.

As e os jovens são, assim, atores estratégicos para o desenvolvimento, repre-sentando o capital humano das políticas de transformação social.

Temos hoje a geração mais bem preparada de sempre para intervir no dese-nho, implementação e avaliação das políticas públicas de juventude, uma ge-ração que exerce a cidadania global ao mesmo tempo que promove o desen-volvimento local, intervindo nas suas comunidades, projetando a sua criatividade e capacidade de inovação no mundo. Trabalhar, pois, com as/os jovens na construção das políticas públicas é essencial para estas serem bem--sucedidas.

Essencial também para termos políticas públicas bem-sucedidas é termos po-líticas alicerçadas no conhecimento e numa avaliação prévia da realidade em que intervimos. O presente estudo sobre a juventude portuguesa na região ibero-americana vem dar um importante contributo para todos os atores polí-ticos – governo, administração pública, organizações não governamentais, or-ganizações internacionais, etc. – que trabalham nas políticas públicas de juven-00 OPJ Intro.qxp_Layout 1 28/11/16 09:32 Page 19

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tude. Não só permite um retrato interessante da juventude portuguesa, a partir de entrevistas a 814 jovens portuguesas/es, no quadro do 1.º Inquérito às

Juven-tudes Ibero-Americanas, como possibilita esta perceção comparativa da juventude

do país no quadro dos 160 milhões de jovens ibero-americanos dos 15 aos 29 anos.

Estas entrevistas, realizadas no 1.º trimestre de 2013, merecem-nos a melhor atenção, pois, tendo sido realizadas em plena crise económica, e conforme os autores nos confirmam, refletiram os seus efeitos. A juventude para quem hoje governamos viveu a austeridade no período crítico para a sua emancipação e desenvolvimento da personalidade. Precisamos de trabalhar para restaurar ou construir, nas pessoas jovens, a confiança na democracia e nas instituições, con-trariando a perceção de que o futuro não será muito melhor em matérias tão críticas como as desigualdades sociais, a pobreza, a violência, a instabilidade no emprego e a corrupção. Ter, como companheiros de trabalho, os países da Ibero--América estimula-nos e permite-nos usufruir de uma rede de partilha de boas práticas, pioneira no conhecimento e na produção de trabalho técnico, cientí-fico e político de vanguarda na área das políticas públicas de juventude, na sua maioria devido ao trabalho do Organismo Internacional de Juventude para a Ibero-América, ao qual agradecemos.

Porque este estudo em muito beneficiou da qualidade do trabalho realizado, agradecemos também ao Observatório Permanente da Juventude, na pessoa do Prof. Doutor José Machado Pais e restantes investigadoras/es, pelo empenho e reconhecimento da importância deste estudo como instrumento estratégico para as políticas públicas de juventude.

Termino com o compromisso de agir e mobilizar para a ação todos os atores políticos no desenho e implementação de políticas de juventude que vão ao encontro das expetativas e necessidades da juventude em Portugal, que este es-tudo nos ajudou a diagnosticar.

João Paulo Rebelo Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, 2016 Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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José Machado Pais

Introdução

A presente publicação resulta de um protocolo que envolve o Instituto Por-tuguês do Desporto e Juventude (IPDJ), a Organização Ibero-americana de Juventude (OIJ) e o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa), tendo por objetivo a realização de um estudo sobre a juventude portuguesa, com base no 1.º Inquérito às Juventudes Ibero-Americanas.

Este inquérito pioneiro, realizado na base de uma amostra de um universo de cerca de 160 milhões de jovens ibero-americanos dos 15 aos 29 anos, implicou a realização de entrevistas a 18 935 jovens de vinte países ibero-americanos (ape-nas Cuba esteve ausente da amostra). Em Portugal foram entrevistados 814 jo-vens. O inquérito, coordenado pela Organização Ibero-americana de Juventude, com o patrocínio do Banco Interamericano de Desenvolvimento e do Banco de Desenvolvimento da América Latina, contou com o apoio de especialistas da Comissão Económica para a América Latina e o Caribe, do Programa de De-senvolvimento das Nações Unidas e da Universidade Nacional Autónoma do México. Uma apresentação dos resultados deste inquérito foi disponibilizada, em primeira mão, num informe da OIJ publicado em 2013: El Futuro ya Llegó: 1.ª Encuesta Iberoamericana de Juventudes (AAVV 2013). Este informe constitui um importante acesso aos principais resultados do inquérito realizado.

O trabalho de campo deste 1.º Inquérito às Juventudes Ibero-Americanas reali-zou-se no 1.º trimestre de 2013, a partir de uma amostra probabilística consti-tuída pelos números de telefone residenciais (fixos) dos países envolvidos. Em cada país, a amostra foi estratificada por idades. A constituição da amostra, a realização das entrevistas telefónicas e a codificação dos dados foram da res-ponsabilidade da empresa IPSOS e do seu call center sito no Panamá. Sobre a natureza da amostra impõem-se algumas considerações metodológicas que de-verão ser levadas em linha de conta na interpretação dos resultados. Nas entre-vistas telefónicas, ao contrário do que acontece nas entreentre-vistas presenciais, há uma menor probabilidade de se apanharem pessoas de status baixo. Esta poderá ser uma explicação para que, no inquérito realizado, tenhamos uma sobrerre-presentação de jovens de elevadas qualificações académicas (muitos deles uni-versitários) e residentes em habitat urbano. Apesar das limitações já conhecidas 00 OPJ Intro.qxp_Layout 1 28/11/16 09:32 Page 21

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de cobertura e representatividade estatística das amostras telefónicas, sobretudo quando aplicadas à população jovem, elas asseguram, por outro lado, uma mais rápida obtenção de dados, a custos significativamente inferiores. Esta relação de custos-benefícios terá certamente pesado na opção por uma amostra telefó-nica, dada a magnitude da mesma.

Passando agora ao instrumento de estudo, o inquérito. Baseou-se em dois questionários, com alguns módulos comuns e outros diferenciados (v. anexos). Um dos questionários acolheu questões sobre os seguintes temas: valores ati-tudinais; representações da juventude ibero-americana; confiança nas institui-ções; mercado de trabalho; consumo de drogas; participação. O outro questio-nário contemplava os seguintes temas: diferenças geracionais; sexualidade; situações de violência. Havia também um módulo sobre a integração ibero--americana mas que não se aplicou em Portugal e Espanha. Os temas comuns aos dois questionários incidiram sobre: educação; novas tecnologias; diagnós-tico do presente e perceção do futuro. Ambos os questionários compartilharam perguntas de caracterização sociográfica indispensáveis, envolvendo a idade dos inquiridos, o sexo (género), o habitat de residência (rural ou urbano), a rede fa-miliar ou relacional no espaço doméstico (com quem se vive), a ocupação pe-rante o trabalho e uma avaliação, por parte dos própios inquiridos, da condição socioeconómica familiar. Esta última variável foi constituída a partir de uma avaliação subjetiva das condições de vida familiar: em casa não falta nada ou quase nada; vive-se bem mas cuidando do orçamento; o dinheiro vai dando mas com privações; o dinheiro apenas chega para sobreviver. A vantagem na utilização dos dois questionários foi a de permitir a realização de entrevistas com duração mais reduzida; a desvantagem foi a de impedir análises multiva-riadas, envolvendo a inter-relação entre indicadores de ambos os questionários. Na elaboração do presente estudo, o principal objetivo foi o de analisar as atitudes, os valores e as expetativas dos jovens portugueses no contexto da Ibero--América. Ou seja, embora nos tenhamos centrado nos jovens portugueses, houve sempre a preocupação de os confrontar com jovens de outras latitudes socioculturais e geográficas do espaço ibero-americano. Foi assim aliciante o desafio de investigar através de um instrumento de inquirição «culturalmente independente» (em teoria) perfis e condições juvenis que não deixam de ser culturalmente dependentes. Os próprios efeitos de conjuntura, no período em que o inquérito foi aplicado, não deixaram de interferir nas respostas que os jo-vens deram, o mesmo se podendo dizer dos enquadramentos socio-históricos dos diferentes países ibero-americanos. Assim, e para dar um exemplo, a situa-ção de crise económica vivida em Portugal pesou, como veremos, em muitas das atitudes dos jovens portugueses, desde logo nas perceções do presente e nas expetativas do futuro.

Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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Introdução O que os resultados de qualquer inquérito nos proporcionam é uma aproxi-mação à realidade. Tenha-se em conta que dependendo dos indicadores sele-cionados, das variáveis que os sustentam, dos processos de categorização dessas variáveis e dos procedimentos estatísticos e analíticos usados na interpretação dos dados, estamos definindo distintas realidades juvenis. Os resultados de qual-quer inquérito dependem também da estrutura do questionário, da formulação das perguntas e dos filtros que as sequenciam. No inquérito realizado surgiram alguns problemas pontuais que serão reportados ao longo do estudo, mas que, todavia, não colocam em causa a qualidade das análises realizadas. Deste modo, foi com entusiasmo que acedemos ao desafio de refletir nos dados deste pio-neiro e importante inquérito aos jovens ibero-americanos. Apesar do curto es-paço de tempo acordado para a realização do estudo (apenas cinco meses), não posso deixar de manifestar toda a minha gratidão aos colegas que participaram na equipa de investigação: Ana Delicado, Ana Nunes de Almeida, Andrés Ma-lamud, Cícero Roberto Pereira, Cláudia Casimiro, Jussara Rowland, Marcelo Camerlo, Pedro Alcântara da Silva, Pedro Moura Ferreira, Simone Tulumello, Sofia Aboim e Vítor Sérgio Ferreira. Muitos deles, mesmo estando envolvidos noutros projetos de pesquisa e compromissos institucionais, não deixaram de corresponder ao desafio que lhes lancei. Pedro Alcântara, embora neste livro não assine qualquer capítulo, deu uma preciosa colaboração ao projeto na sua fase de arranque. Por outro lado, de Cícero Roberto Pereira recebi um impor-tante apoio na edição deste livro. A equipa viria ainda a ser reforçada com um jovem colaborador, Sérgio Moreira, graças a um subsídio concedido pela Or-ganização Ibero-americana de Juventude. Todos os restantes membros da equipa deram o seu contributo a este projeto sem qualquer contrapartida financeira. Para além de ter redigido um dos capítulos deste livro, Sérgio Moreira deu um valioso apoio estatístico a boa parte da equipa: procedendo à análise descritiva das variáveis de caracterização da amostra; recategorizando e recodificando al-gumas dessas variáveis em função das análises descritivas; confirmando a vali-dade do ponderador utilizado para a dimensão da amostra; apresentando qua-dros com resultados em valores absolutos e percentagens; propondo modelos de gráficos e de tabelas para apresentação de resultados. Para o efeito, foi criado um site do projeto, servindo de plataforma de comunicação entre todos os membros da equipa.

Avançando agora para uma breve apresentação da estrutura e do conteúdo do livro, os seus oito capítulos distribuem-se por três agregados. Numa primeira parte (valores, atitudes e perceções) são abordados valores e atitudes dos jovens perante temas socialmente sensíveis, dando-se também relevância às perceções de violência social. Haverá ainda lugar para debater o posicionamento dos jo-vens em relação à sexualidade e ao uso dos métodos contracetivos. Numa se-00 OPJ Intro.qxp_Layout 1 28/11/16 09:32 Page 23

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gunda parte (participação e confiança nas instituições democráticas) cotejaremos o envolvimento dos jovens em algumas formas de participação cívica e as suas atitudes perante a democracia, bem como a confiança ou desconfiança reveladas nas instituições democráticas. Finalmente, na terceira parte (educação, trabalho e futuro) aferem-se situações e representações no campo da educação, questio-nam-se inserções profissionais, avalia-se o uso que os jovens fazem das novas tecnologias e, finalmente, confrontam-se as suas atitudes em relação ao presente e as expetativas perante o futuro. Para além dos esforços interpretativos que acompanham a apresentação dos resultados do inquérito, há sempre a preocu-pação de contrastar a situação dos jovens portugueses com a dos jovens de ou-tras latitudes do espaço ibero-americano, principalmente com os jovens da Es-panha (pela sua proximidade geográfica) e os do Brasil (pela sua proximidade cultural). Os dados do inquérito que aparecem profusamente representados nos quadros, gráficos e mapas deste estudo são como fotografias da condição juvenil portuguesa – fotografias que fazem parte de um álbum de família onde também se representam os nossos irmãos ibero-americanos.

Embora aqui e além desejássemos poder analisar indicadores que não apare-cem contemplados no presente inquérito, os dados reunidos são valiosos, inci-tando-nos à reflexão. Sem ter a pretensão de, nesta breve apresentação, antecipar uma súmula das principais conclusões do inquérito, permitam-me adiantar al-guns achados relevantes que emergem de cada um dos capítulos. Assim, no ca-pítulo 1 (valores e atitudes perante temas socialmente sensíveis), desenvolvido por Cícero Roberto Pereira, vemos claramente como a situação de crise vivida em Portugal – relembre-se que a realização das entrevistas ocorreu no 1.º tri-mestre de 2013 – leva a que os jovens portugueses sejam dos que mais preocu-pações manifestam em relação aos problemas do emprego e da economia; em contrapartida, os jovens ibero-americanos do outro lado do Atlântico – mas também os espanhóis – revelam-se mais preocupados com os problemas da de-linquência, da violência e das drogas. Cruzando indicadores do inquérito em análise com indicadores económicos do Banco Mundial (PIB per capita e taxa de crescimento do PIB entre 2008 e 2012) e indicadores culturais do World Value Survey e do European Value Study, Cícero Pereira sugere-nos que, quanto mais acentuado é o crescimento económico de um país, tanto mais a preocupação com o bem-estar social sobreleva a preocupação com os problemas económicos. Entre os jovens portugueses, justamente por efeito da depressão económica que o país tem vivido, os problemas de emprego e da economia estão no centro das suas preocupações, como atrás se referiu. Em relação às atitudes perante temas socialmente sensíveis, é de realçar que os jovens portugueses são, de longe, os mais favoráveis aos casamentos homossexuais, à prática do aborto em condições legais e à aceitação da legalização da marijuana. Em contrapartida, Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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Introdução são os que mais rejeitam a pena de morte e a prática de suborno. Quanto à imi-gração, ressalta o contraste entre os jovens ibéricos, com os portugueses a mos-trarem-se mais recetivos ao reconhecimento dos direitos dos imigrantes.

No capítulo 2 (perceções de violência social), da autoria de Simone Tulumello e Cláudia Casimiro, constatamos que, apesar de os jovens portugueses serem os que pior avaliam a situação de violência no seu país, eles são também os que mais rejeitam a violência como o principal problema das suas vidas. Como atrás se referiu, os problemas que mais reconhecidamente afetam os jovens – pro-blemas económicos e de emprego – acabam por relegar para segundo plano outros problemas que, embora reconhecidos, perdem relevância na hierarquia das suas preocupações. Como quer que seja, a violência não é um fenómeno ausente dos contextos da vida quotidiana dos jovens portugueses. Embora longe dos elevados valores de perceção da violência urbana por parte dos jovens bra-sileiros, as brigas com facas ou armas de fogo foram presenciadas por cerca de 30% dos jovens portugueses nos doze meses que antecederam a realização das entrevistas. Em contrapartida, a violência física em contexto familiar, com re-conhecida visibilidade entre os jovens brasileiros (37%), é muito pouco perce-tível entre os jovens portugueses (apenas por 2%). A violência física em contexto familiar é pelos jovens portugueses mais sinalizada em casais conhecidos ou amigos. E, mesmo assim, apenas 12% dão conta dessas ocorrências, percenta-gem suplantada noutros quadrantes geográficos da Ibero-América.

A violência percecionada pelos jovens acaba por se refletir na sua vida íntima. É isso mesmo que nos sugere Sofia Aboim no capítulo 3 (sexualidade e métodos contracetivos). Com efeito, no caso dos países ibéricos, a violência percecionada em contextos de proximidade quotidiana, isto é, tanto no bairro de residência como em contexto familiar (sobretudo no caso dos jovens espanhóis), é um fe-nómeno que aparece associado a entradas precoces na vida sexual. Em contra-partida, quanto menor é a violência percecionada no bairro de residência, maior é a probabilidade de adiamento da iniciação sexual. A protelação da iniciação sexual também tende a ocorrer quando nas relações familiares há uma conver-gência de opiniões entre pais e filhos. Ou seja, iniciações sexuais precoces pa-recem estar associadas a clivagens ou enfrentamentos de opinião no seio da fa-mília em temas socialmente sensíveis (políticos, sexuais e religiosos). Será que as iniciações sexuais precoces entre os jovens corresponderão a uma tentativa de fuga a ambientes de conflito familiar e de violência urbana, ou, pelo contrá-rio, serão uma decorrência destes ambientes? Como quer que seja, é precisa-mente no Brasil, onde a perceção da violência por parte dos jovens é mais ex-pressiva, que encontramos um maior número de jovens com iniciação sexual precoce (cerca de 40% iniciam-se sexualmente até aos 15 anos), embora, neste caso, sejam os níveis de escolaridade que mais a determinam. Para a maioria 00 OPJ Intro.qxp_Layout 1 28/11/16 09:32 Page 25

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dos jovens ibero-americanos a iniciação sexual concentra-se num curto arco temporal do seu percurso de vida (entre os 16 e os 18 anos), sendo de registar uma maior proximidade entre comportamentos masculinos e femininos, ao contrário do que acontecia no passado. Finalmente, confrontando os jovens portugueses com os espanhóis, os brasileiros, os mexicanos ou os das Américas Central e do Sul, constata-se que é nos países de língua portuguesa que mais propensão existe à perda de virgindade. Com efeito, poucos virgens neste uni-verso existem: menos de 4% entre os jovens brasileiros; pouco mais de 5% entre os jovens portugueses. Entre uns e outros os métodos contracetivos encontram--se mais disseminados entre os jovens de outras regiões.

Na parte II, como se disse, reúnem-se reflexões sobre a participação juvenil e

a confiança nas instituições democráticas. O capítulo 4, desenvolvido por Pedro Moura Ferreira, centra-se na participação social dos jovens. Considerando os jovens que atualmente participam em alguma organização social, os portugueses destacam-se como os mais participativos no contexto ibero-americano, com ex-ceção dos que não possuem mais do que o ensino básico. Um em cada cinco dos jovens inquiridos participa em alguma organização social. Com exceção do Brasil, onde os jovens trabalhadores se envolvem significativamente mais do que os estudantes, a participação em associações atrai, de um modo geral, estudantes e trabalhadores. O dado sociologicamente mais relevante será, por-ventura, o da participação baixar significativamente para todos os jovens ibero--americanos que não trabalham nem estudam. Ou seja, jovens desempregados ou relegados para a domesticidade (trabalhos domésticos) participam muito menos. Donde se poder alvitrar que, para alguns jovens, a exclusão da escola ou do mercado de trabalho tenderá a traduzir-se em exclusão social, pelo menos a nível da participação. De registar também a elevada participação dos jovens portugueses em associações de solidariedade (grupos de ajuda ou de assistência social). Cerca de 30% deles participam neste tipo de associações e em nenhum dos outros países ou regiões a percentagem deste tipo de participação ultrapassa os 10%, não atingindo sequer os 2% em Espanha. Em contrapartida, o associa-tivismo religioso tem muito menos relevância na Península Ibérica do que nas demais regiões ibero-americanas. Finalmente, os jovens portugueses são os que, a larga distância, mais participam em grupos ecológicos, traço de vincado cunho pós-materialista que emerge noutros dados do inquérito realizado.

Andrés Malamud e Marcelo Camerlo avaliam, no capítulo 5 (os jovens frente à democracia e às suas instituições), as perceções dos jovens em relação ao go-verno, aos políticos, à justiça, à polícia, aos media, à universidade, às organiza-ções religiosas, enfim, à democracia. Em termos médios, os jovens portugueses, como os brasileiros, não pendem para situações extremas (de muita confiança ou desconfiança) em relação à democracia. No entanto, os autores assinalam Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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Introdução que, neste caso, os valores médios encobrem uma significativa dispersão de ati-tudes, estatisticamente denunciada pelos desvios-padrão. Ou seja, em alguns segmentos da população juvenil portuguesa há manifestações de acentuada confiança ou desconfiança em relação à democracia. Quanto às demais insti-tuições, a confiança dos jovens portugueses converge sobretudo para a polícia e as universidades, enquanto a desconfiança se concentra nos políticos, no go-verno e na justiça. Aliás, no espaço ibero-americano os jovens portugueses são os mais desconfiados em relação a estas últimas instituições. Cotejando as va-riáveis que mais influenciam a confiança ou a desconfiança na democracia, os autores constatam que a situação socioeconómica familiar é a variável que mais influencia as atitudes dos jovens ibero-americanos em relação à democracia. Quanto mais depauperada é a situação económica dos jovens inquiridos, mais se debilita a sua confiança na democracia e nas demais instituições avaliadas, sejam elas estatais ou não. Os jovens portugueses seguem esta tendência. Aliás, reforçam-na ainda mais. Neste sentido, concluem os autores, o pessimismo dos jovens portugueses em relação à democracia e às instituições democráticas não deixa de ser um produto da crise económica.

Os últimos capítulos deste estudo integram a parte III, sobre educação,

tra-balho e futuro. Vitor Sérgio Ferreira e Jussara Rowland desenvolveram o capí-tulo 6 (educação e inserções profissionais). Uma vez mais, a situação socioeco-nómica familiar aparece como uma variável francamente discriminatória. Com efeito, os autores mostram que entre os jovens portugueses, quanto mais baixo é o nível de vida, indiciado pelo reconhecimento subjetivo das dificuldades económicas, mais negativas são as atitudes em relação à escola. Aliás, quando o dinheiro apenas dá para sobreviver, poucos são os jovens portugueses que permanecem no sistema de ensino (cerca de 30%, contra cerca de 70% que o abandonam). Por outro lado, entre os que abandonaram a escola sem terem completado o ensino secundário, a maior parte deles (63%) invocou como prin-cipal razão de abandono a necessidade de trabalhar para amparar a família. Muito poucos (apenas 3%) invocaram dificuldades de aprendizagem, razão bem mais referenciada pelos jovens espanhóis (10%). Dado significativo é tam-bém o da perceção da violência escolar por parte dos jovens portugueses. À es-cala ibero-americana, eles são os que mais reconhecem que o ambiente escolar é violento: um em cada quatro dos jovens portugueses tem essa perceção. O que não invalida que sejam também os que mais reconhecem ter tido uma boa educação secundária. No que se refere às inserções no mercado de trabalho, os jovens portugueses são dos que, não tendo trabalho remunerado, mais o procuram. Estão nesta situação 60% dos jovens portugueses. Destes, 56% são desempregados e 42% estudantes. Ou seja, entre os jovens portugueses, a per-centagem dos nem-nem, isto é, dos que nem trabalham nem estudam, é de 4%. 00 OPJ Intro.qxp_Layout 1 28/11/16 09:32 Page 27

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Também na busca de emprego se reflete a situação de crise. Com efeito, os au-tores deste capítulo mostram que entre os jovens que não têm trabalho, quanto mais dificuldades económicas existem no agregado familiar, mais se propende à busca de trabalho. Quanto aos fatores que favorecem ou não a obtenção de um trabalho, os jovens ibero-americanos valorizam em primeiro lugar a educa-ção (51%), depois os contactos pessoais (31%) e, finalmente, as oportunidades de emprego (18%). Em contrapartida, os jovens portugueses são os que mais valorizam as oportunidades de emprego (34%), perceção sobretudo sentida por jovens que vivem em situação socioeconómica mais precária (mais de 50%). A educação é apenas valorizada por 37% dos jovens portugueses e 30% dos es-panhóis – dados que indiciam a desconfiança de alguns jovens ibéricos em re-lação ao peso determinante que a educação ou a certificação escolar possam ter na busca de emprego.

O capítulo 7 (uso de novas tecnologias) esteve a cargo de Ana Nunes de Al-meida e Ana Delicado. Para começar, ficámos a saber que os jovens portugueses, no conjunto dos jovens ibero-americanos, são os que mais se encontram co-nectados à internet. Nem um sequer respondeu não ter acesso à internet. Em contrapartida, 4% dos jovens espanhóis e 7% dos brasileiros não têm acesso à internet, percentagem que se eleva nos restantes países da América do Sul (8%), na América Central (11%) e no México (12%). Uma vez que para 70% dos jo-vens portugueses as principais vias de acesso à internet são o computador por-tátil e outros dispositivos móveis, o que se conclui é que para uma boa parte deles o acesso à internet não é necessariamente prejudicado pela sua mobilidade quotidiana. E quais os principais usos da internet? Entre os jovens portugueses, o uso mais frequente é para a consulta e envio de e-mails e, logo a seguir, para aceder às redes sociais, para acompanhar notícias ou novidades e para ouvir ou descarregar músicas. Quando se analisam os contrastes regionais dos usos da internet, o que ressalta é que, enquanto os jovens ibéricos se destacam pela mais frequente consulta e envio de e-mails, os jovens da América Latina, de um modo geral, estão mais envolvidos nas redes sociais. Dado interessante, quando se confrontam os usos diferenciados da internet pelo género dos jovens portugue-ses, é o de as raparigas fazerem uso mais frequente da consulta e envio de e-mails, para além de estarem mais envolvidas nas redes sociais, enquanto os ra-pazes ganham primazia na leitura de notícias e nos jogos eletrónicos. Ou seja, as raparigas estão na vanguarda das novas formas de comunicação interativa que fazem uso das novas tecnologias. Quanto aos desempregados, embora a exclusão do mercado de trabalho possa desmotivar alguns deles de participarem nestas novas formas de comunicação, o que os dados sugerem é que a maioria deles se encontra tanto ou mais conectada do que os que se encontram inseridos no mercado de trabalho ou no sistema de ensino. Com efeito, eles são os que Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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Introdução mais usam a internet para receber ou enviar e-mails e são também os que mais a usam para descarregar revistas e livros ou para os ler. Embora não acedam tanto às redes sociais quanto os estudantes, a elas recorrem mais do que os tra-balhadores. Ou seja, para os jovens portugueses é provável que a internet pro-mova socializações compensatórias para quem, como os desempregados, se en-contra socialmente excluído do mercado de trabalho ou do sistema de ensino, para além de poder constituir, obviamente, uma importante plataforma de busca de trabalho. Enfim, a temática deste capítulo é uma das que no futuro merecem mais aprofundamento. Como as autoras sublinham, não temos indi-cadores de participação social ou de atividades pró-ativas, como a criação de blogs ou a produção de conteúdos para a internet (sites, filmes e bandas sonoras), que mobilizam cada vez mais os jovens. Também não temos indicadores sobre as consequências, positivas ou negativas, do forte vínculo dos jovens e das crian-ças à internet, ainda que na literatura especializada as preocupações abundem, como a da síndrome do défice da atenção e outros problemas mentais (Carr 2010).

Finalmente, no capítulo 8 (diagnóstico do presente e expetativas sobre o fu-turo), da autoria de Sérgio Moreira, teremos ensejo de confrontar as perceções e as expetativas dos jovens em relação ao presente e ao futuro do seu país. An-tecipando alguns resultados, as dimensões do presente mais negativamente ava-liadas pelos jovens portugueses referem-se às desigualdades no país, à corrupção, ao emprego estável, à pobreza e à violência. Quando questionados sobre o fu-turo do país daqui a cinco anos, eles não prognosticam uma melhoria signifi-cativa em nenhuma destas dimensões. Por outro lado, entre as dimensões de vida atualmente mais valorizadas pelos jovens portugueses encontra-se a vida em geral, mas também a saúde, a qualidade de vida, a educação e a participação da juventude. Olhando o futuro, os jovens portugueses anteveem melhorias na vida em geral, na qualidade de vida e na participação da juventude. No entanto, todas estas dimensões de vida – mais positiva ou negativamente apreendidas pelos jovens portugueses, quer no presente, quer no futuro – são mais positi-vamente avaliadas pela média dos jovens ibero-americanos. Com estes confron-tados, os resultados do inquérito sinalizam uma avaliação claramente negativa dos jovens portugueses em relação à realidade vivida no presente. Em relação ao futuro, embora alimentem expetativas de mudança para melhor em algumas facetas de vida (na vida em geral, na qualidade de vida e na participação da ju-ventude), essas expetativas continuam aquém do futuro imaginado pela média dos jovens ibero-americanos. Pode então sustentar-se que, no caso dos jovens portugueses, tanto as perceções do presente quanto as expetativas de futuro se encontram fortemente condicionadas pela situação de crise económica vivida no país. No entanto, as expetativas positivas em relação ao futuro superam as 00 OPJ Intro.qxp_Layout 1 28/11/16 09:32 Page 29

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avaliações negativas do presente. O pessimismo dos jovens portugueses em re-lação ao futuro apenas persiste em áreas como a educação, a violência, a cor-rupção e a saúde. Neste último caso há mesmo a crença de que a situação vai piorar. Em todos os outros itens as expetativas são mais otimistas. A este pro-pósito, Sérgio Moreira convida-nos a refletir numa hipótese que faz sentido: quando os jovens portugueses pensam que no futuro vão estar melhor do que no presente sentem-se globalmente melhor. Talvez por esta razão, quando cha-mados a avaliarem o presente, as perceções mais positivamente avaliadas re-pousem em indicadores como a vida em geral, a saúde e a qualidade de vida. Esta crença funcionará como uma âncora de segurança ontológica, de bem--estar e saúde mental. As expetativas do futuro alimentam as perceções do pre-sente, e vice-versa. Aliás, nas análises prospetivas (Inayatullah 2004), o futuro joga-se no dia a dia, no presente, numa quotidianidade problemática (desigual-dades sociais, desemprego, corrupção, pobreza, violência). Esse presente não é alheio a causas sociais e económicas que atuam como uma negação do futuro e que se refletem na reprodutibilidade do presente. As representações do futuro – como visões do mundo de pendor cognitivo, ideológico ou mitológico –, se conseguem gerar esperança, podem então serenar as perceções do presente em gerações de futuro sombrio (Pais 2012). Para os jovens o futuro é uma realidade por concretizar, mas sempre aberto às possibilidades de o imaginar.

Feita esta breve apresentação, resta-me afirmar que a presente publicação não teria sido possível sem a convergência de importantes apoios institucionais. Em primeiro lugar, agradeço ao secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Dr. João Paulo Rebelo, o interesse e empenhamento na publicação deste estudo. Agradeço também à Organização Ibero-Americana de Juventude (OIJ), nas pes-soas do seu atual secretário-geral, D. Max Trejo Cervantes, do seu predecessor, D. Alejo Ramirez, e também de Paul Giovanni Rodriguez, todas as manifesta-ções de apoio a este projeto, garantindo à equipa de investigação o acesso às bases de dados resultantes do 1.º Inquérito às Juventudes Ibero-Americanas. Não esqueço ainda o impulso inicialmente dado a este projeto por parte do Dr. Ri-cardo Araújo, ex-vogal do conselho diretivo do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Agradeço também ao diretor do Instituto de Ciências So-ciais da Universidade de Lisboa, Prof. Doutor José Luís Cardoso, o acolhimento dado ao protocolo, que possibilitou a realização deste projeto. Finalmente, re-novo o meu sentimento de gratidão a toda a equipa de investigação que parti-cipou neste estudo.

Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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Parte I

Valores, atitudes

e perceções

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Cícero Roberto Pereira

Capítulo 1

Valores e atitudes perante temas

socialmente sensíveis

Quais são as principais preocupações sociais dos jovens nas sociedades ibero--americanas e que posicionamentos assumem perante temas socialmente sen-síveis? A literatura sobre estas questões tem sugerido que a forma como as pes-soas se posicionam perante os vários aspetos da sua vida social reflete os seus valores pessoais porque estes representam forças motrizes capazes de organizar as atitudes e os interesses das pessoas e dos grupos sociais (Schwartz 1992). A centralidade que os valores assumem na organização da vida social é atribuída ao facto de os princípios axiológicos atuarem como fatores estruturantes não apenas da vida das pessoas, mas também da organização da sociedade (Hitlin e Piliavin 2004; Rohan 2000).

Os valores são normalmente definidos como crenças e modos de se posicionar no mundo, isto é, formas de pensar e agir desejáveis e socialmente partilhadas. Por exemplo, Kluckhohn (1968) refere que um valor age na vida das pessoas como se fosse uma conceção de vida sobre «o desejável» enquanto imperativo transcendente às várias esferas da vida social. Posteriormente, Rokeach (1973) simplificou esta ideia e traduziu-a no conceito de crença duradoura sobre com-portamentos (e. g., obedecer às leis) ou princípios-fim (e. g., a liberdade) que uma pessoa acredita que a sociedade prefere que sejam postos em prática. Re-centemente, Schwartz e colaboradores (Schwartz et al. 2012) apresentaram uma teoria sobre a natureza e organização dos valores humanos em que articulam a ideia de Rokeach (1973) sobre valores como uma crença sobre comportamentos e princípios-fim com a proposta de Kluckhohn (1951) de analisar um valor como uma conceção sobre o que é desejável. Desde cedo Schwartz (1992) concebe os valores como motivações individuais que transcendem situações específicas, acreditando que a força motivacional dos valores se expressa nas atitudes e com-portamentos dos indivíduos, o que vem a colocar em relevo o aspeto funcional dos valores já assinalado por Parsons e colaboradores na teoria geral da ação (Par-sons e Shias 1951).

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Uma visão menos funcionalista e individualizante dos valores foi proposta por Pereira e colegas (Estramiana et al. 2013; Pereira, Camino e Costa 2005). De acordo com esta perspetiva, os valores atuam como princípios socialmente compartilhados sobre a forma como a sociedade deve ser organizada. Além de terem força motivacional suficiente para guiar a ação social, os valores tam-bém expressam conceções ideológicas que representam as identificações sociais decorrentes da inserção concreta das pessoas em grupos e contextos cultuais aos quais passam ao longo da vida. Esta conceção de valores remete-nos à ideia de que, além de representarem princípios fundamentais que orientam a ação individual, os valores também representam as prioridades que as sociedades atribuem aos diferentes objetivos e metas a serem atingidos. Assim, para além de os valores poderem ser analisados como crenças duradouras que guiam a vida das pessoas, podem também representar princípios-guias de uma socie-dade, definindo assim a nossa conceção de valores culturais (Pereira e Ramos 2013).

Um exemplo desta forma de analisar os valores foi apresentada por Ronald Inglehart na sua obra A Revolução Silenciosa. Inglehart (1977) propôs que as di-ferenças culturais refletem uma interação complexa entre o desenvolvimento socioeconómico e a prioridade que cada sociedade atribui a dois conjuntos de valores, designados por valores materialistas e pós-materialistas. A ideia central na teoria de Inglehart é a de que o desenvolvimento económico gera mudanças no sistema de valores culturais que, por sua vez, produzem um efeito de feedback, alterando os sistemas económicos e políticos das sociedades. Depois de alcan-çada a estabilidade económica e a segurança da população, a sociedade passaria por uma revolução silenciosa ao nível dos valores culturais, revolução que seria caracterizada pela atribuição de maior relevância a objetivos e metas «pós-ma-terialistas», representados pela prioridade que uma sociedade dá à realização das aspirações individuais dos seus cidadãos, à garantia da liberdade de expres-são irrestrita, à valorização de aspetos estéticos, à participação política e à pro-teção do ambiente (Halman e Morr 1994; Inglehart e Baker 2000).

A ideia fundamental no estudo dos valores culturais é a possibilidade de os valores afetarem a visão do mundo das pessoas em cada contexto social e assim influenciarem as suas preocupações e atitudes em relação aos temas mais im-portantes das suas vidas (Inglehart e Baker 2000; Pereira et al. 2005; Schwartz 1992). Diante desta possibilidade, o foco da análise centra-se em saber em que medida os valores se relacionam com as atitudes e os comportamentos das pes-soas. A investigação empírica a esse respeito tem mostrado o papel central de-sempenhado pelos valores nas avaliações subjetivas que as pessoas fazem sobre aspetos socialmente significativos das suas vidas. Por exemplo, Almeida e cole-gas (2006) mostraram que a classe dirigente está mais próxima do que as res-Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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Valores e atitudes perante temas socialmente sensíveis tantes dos valores da realização pessoal. Vala e colegas verificaram uma relação sistemática entre a adesão aos valores de igualdade e atitudes de maior abertura à imigração, bem como entre os valores de conservação e a oposição à imigração (Ramos 2006; Vala, Pereira e Ramos 2006). No domínio das atitudes políticas, Freire e Kivistik (2012) mostraram a centralidade dos valores na definição dessas atitudes e Almeida (2003) mostrou a relação dos valores de conformidade e abertura à mudança com as atitudes dos portugueses face à socialização das crianças num contexto familiar. Esses estudos mostram que os valores podem ser, de facto, princípios organizadores das atitudes das pessoas face aos mais va-riados aspetos da vida social.

Assumindo a centralidade dos valores na organização da vida social, interessa--nos saber se esses valores desempenham algum papel na vida dos jovens ibero--americanos e se contribuem para a perceção que têm dos principais problemas nos seus países e para a definição das suas atitudes face a temas socialmente sen-síveis, como o aborto, a legalização da maconha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a abertura à imigração, mas também em relação à pena de morte e à prática do suborno, aspetos relevantes na vida quotidiana desses jovens.

Neste sentido, o objetivo deste capítulo é analisar a hierarquia das preo -cupações e atitudes dos jovens portugueses em relação a vários domínios da sua vida social, comparando estas preocupações com as de outros jovens ibero--americanos. Além disso, procuramos identificar se os valores culturais atuam como princípios organizadores dessas preocupações e atitudes. Para o efeito, analisamos dados obtidos no 1.º Inquérito às Juventudes Ibero-Americanas realizado pela Organização Ibero-americana da Juventude durante o 1.º trimestre de 2013. O primeiro conjunto de dados que analisamos é indicador das principais preo-cupações dos jovens nos países em que vivem. O segundo conjunto de dados é indicador de atitudes dos jovens face a seis temas: aborto, legalização da ma-conha, casamento entre pessoas do mesmo sexo, imigração, pena de morte e suborno. A nossa estratégia analítica foi descrever o posicionamento dos jovens, procurando situá-los no contexto das ideias e atitudes dos jovens dos outros países, designadamente os da Espanha, do Brasil e do México, além de posi-cioná-los em relação aos jovens de dois grupos de países: América Central (Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá e República Dominicana) e América do Sul (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela).

Valores e principais preocupações sociais dos jovens

Quais serão os princípios organizadores das preocupações dos jovens ibero--americanos e como podem estes princípios ser descritivos dos valores culturais 01 OPJ Cap. 1.qxp_Layout 1 28/11/16 08:32 Page 35

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mais salientes nos países em que residem? Para responder a esta questão recor-remos a um conjunto de indicadores que foram colocados a metade da amostra de jovens que compõem o 1.º Inquérito às Juventudes Ibero-Americanas. Pediu-se aos jovens que indicassem, de entre uma lista de sete temas, dois dos que

cons-tituem os problemas mais importantes que afetam a juventude no seu país.1As

respostas obtidas permitiram-nos observar uma hierarquia das principais preo-cupações sociais dos jovens portugueses comparativamente com os dos outros países do inquérito. Iniciando pela análise do conjunto da amostra, os aspetos que mais preocupam os jovens ibero-americanos são os problemas relacionados Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

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1Especificamente, pedia-se aos jovens que indicassem «quais são para você os dois problemas

mais importantes que afetam atualmente a juventude do seu país?». De seguida, era apresentada a seguinte lista de situações sociais: problema com o emprego; problemas económicos; delin-quência e violência; uso de drogas e alcoolismo; acesso à educação de qualidade; acesso à justiça. Notamos que a maneira como a questão foi feita e a forma como as alternativas de resposta foram colocadas permitiam aos participantes selecionar uma das alternativas mais do que uma vez e, portanto, não são mutuamente excludentes. Esta possibilidade levou-nos a usar um sistema de codificação ordinal para cada problema selecionado por meio da atribuição dos seguintes va-lores: 0, quando a alternativa de resposta não foi selecionada; 1, quando foi selecionada apenas uma vez; 2, quando foi selecionada mais do que uma vez. Esta estratégia pareceu-nos particular-mente interessante, uma vez que nos permite traçar uma hierarquia das preocupações dos jovens e analisar as suas motivações sociais subjacentes.

Figura 1.1 – Hierarquia das principais preocupações dos jovens* 2

1,5

1

0, 5

0

Médias das ordenações

Domínios das preocupações dos jovens

Violência Emprego Drogas Economia Educação Justiça Saúde

* A diferença na hierarquização das preocupações dos jovens é significativa segundo o teste de Friedman: χ2< 2(gl = 6, N = 9403) = 10 607,20).

(37)

Valores e atitudes perante temas socialmente sensíveis com a violência, enquanto os domínios indicados como de menor preocupação são os relacionados com a justiça, a educação e a saúde. Entre estes dois extre-mos situa-se a preocupação com o emprego, o uso de drogas e a economia em geral (figura 1.1).

A questão que nos colocamos é a de saber se esta hierarquia varia consoante os países onde os jovens vivem, situando a posição dos jovens portugueses no quadro mais geral dos problemas selecionados pelos outros jovens ibero-ame-ricanos. Como podemos observar no quadro 1.1, e de uma maneira geral, o conjunto dos jovens da amostra é relativamente consensual ao situar a educa-ção, a justiça e o acesso à saúde como os domínios da sua vida social que sus-citam menor preocupação, excetuando os jovens brasileiros, para quem estes três aspetos os preocupam mais do que preocupam os jovens dos outros países. No conjunto dos países analisados, os jovens de Portugal e Espanha são os que mostraram menor preocupação com o acesso a uma educação de qualidade.

Olhando para o extremo dos problemas que mais afetam a vida dos jovens, verificamos que a preocupação dos portugueses com o emprego ocupa uma posição central não apenas na hierarquia das suas preocupações, mas também quando comparados com os jovens de outros países. A preocupação com o emprego também afeta os outros jovens, mas com muito menor intensidade do que afeta os jovens portugueses. De facto, ao analisar o padrão geral obser-vado no quadro 1.1, constatamos diferenças significativas na hierarquização dos problemas que mais afetam os jovens em cada país: enquanto os portugue-ses se preocupam mais com os aspetos que nos remetem para uma dimensão valorativa cujo acento tónico parece ser de natureza material, decorrente de ne-cessidades socioeconómicas (emprego e economia em geral), os jovens das Américas situam estes aspetos em segundo plano, dando mais relevância a pro-blemas diretamente relacionados com fontes de ameaça à segurança, como fica evidenciado na preocupação que têm com a violência e com o uso de drogas. A questão do uso de drogas parece ser interpretada por eles como algo intrin-secamente associado à escalada da violência urbana, especialmente em países como o Brasil e o México, mas também nos outros países das Américas Central e do Sul. Os jovens da Espanha apresentam-se como casos particulares, na me-dida em que mostraram um perfil que podemos definir como misto, pois preo-cupam-se igualmente com o estado da economia e com a violência.

Dimensões organizadoras das preocupações

sociais dos jovens

Podemos assim resumir as preocupações dos jovens tentando interpretar o padrão de resultados obtidos sugerindo que a hierarquização destas preocupa-01 OPJ Cap. 1.qxp_Layout 1 28/11/16 08:32 Page 37

(38)

ções segue dois aspetos diferentes da vida social: (a) problemas que nos remetem para preocupações com domínios mais simbólicos da vida social, como a justiça e a educação, o que sugere a possibilidade de estarem a valorizar aspetos mais próximos do que chamamos valores de bem-estar social (Pereira et al. 2005); (b) problemas relacionados com a valorização de aspetos materiais da vida so-cial, o que pode ser descritivo de necessidades materialistas, identificadas por Inglerart (1977), os quais nos remetem para vivências da vida quotidiana mais concreta dos jovens, como são os problemas socioeconómicos e de segurança.

Para analisar se esta interpretação encontra algum respaldo na representação dos jovens sobre os problemas sociais mais importantes nos seus países subme-temos as respostas obtidas a duas técnicas estatísticas, ao escalonamento mul-tidimensional para dados ordinais (Kruskall e Wish 1978) e à análise de clusters (Aldenderfer e Blashfield 1984). Estas técnicas permitem-nos saber se os jovens recorreram a dimensões psicossociais que estariam a atuar como princípios or-ganizadores da hierarquização dos aspetos que os preocupam em cada país. A figura 1.2 mostra a organização dos problemas sociais mais relevantes na vida dos jovens e a sua distribuição em torno de duas dimensões, assim como os agrupamentos resultantes da análise de clusters.

A primeira constatação é a de que a maneira como os jovens selecionaram os problemas sociais mais importantes não é aleatória. Isto significa que hierar-quizaram estes problemas, tentando estabelecer relações de similaridade e dis-similaridade entre tipos de problemas. Isto é, na tentativa de estabelecerem re-Os Jovens Portugueses no Contexto da Ibero-América

38

Quadro 1.1 – Ordenação média e desvios-padrão dos problemas que os jovens

consideram mais importantes

Emprego Economia Violência Drogas Educação Justiça Saúde

Portugal 1,53a 0,81a 0,26c 0,23c 0,11c 0,01b 0,04b (0,71) (0,74) (0,55) (0,55) (0,38) (0,10) (0,24) Espanha 0,47c 0,86a 0,99a 0,53b 0,12c 0,03b 0,01b (0,76) (0,85) (0,87) (0,73) (0,38) (0,20) (0,12) Brasil 0,39c 0,31c 0,66b 0,74a 0,32a 0,13a 0,37a (0,72) (0,62) (0,87) (0,85) (0,62) (0,45) (0,69) México 0,33c 0,63b 1,11a 0,68a 0,19b 0,04b 0,02b (0,66) (0,79) (0,87) (0,80) (0,48) (0,23) (0,15) América Central 0,70b 0,41b 0,97a 0,60a 0,24b 0,03b 0,03b (0,88) (0,71) (0,85) (0,75) (0,55) (0,22) (0,22) América do Sul 0,62b 0,55b 0,94a 0,63a 0,19b 0,05b 0,03b (0,87) (0,81) (0,87) (0,72) (0,47) (0,25) (0,20) Total da amostra 0,65 0,52 0,91 0,61 0,21 0,05 0,05 (0,87) (0,78 (0,87) (0,74) (0,51) (0,25) (0,27)

Nota. As médias com diferentes subscritos representam diferenças estatisticamente significativas, com p < 0,05

após o ajustamento de Bonferroni.

Referências

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