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Contribuições da Fonoaudiologia Educacional para a Formação Continuada de Professores / Contributions of Speech Therapy to Teachers Education Continuing Courses

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p. 69507-69521, sep. 2020. ISSN 2525-8761

Contribuições da Fonoaudiologia Educacional para a Formação Continuada de

Professores

Contributions of Speech Therapy to Teachers Education Continuing Courses

DOI:10.34117/bjdv6n9-410

Recebimento dos originais: 08/08/2020 Aceitação para publicação: 17/09/2020

Marília Piazzi Seno

Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista UNESP, de Marília/SP Fonoaudióloga Educacional pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia

Psicopedagoga, Palestrante, Escritora

Assessora e consultora educacional da empresa EDUCATIVA Endereço: Av. Pedro de Toledo, 788 – Centro, Marilia/SP

E-mail: mariliaseno@hotmail.com RESUMO

Este estudo é um relato de experiência, caracterizado como exploratório-descritivo, que teve como objetivo apresentar os resultados de um ciclo de palestras de formação continuada para professores verificando sua contribuição para a prática educacional de acordo com a análise dos seus relatos. Os temas abordados nas palestras foram: “Deficiência auditiva”, “Síndrome de Down” e “Transtornos da aprendizagem”. Participaram 97 professores que estiveram presentes em pelo menos uma delas. Para análise dos resultados considerou-se: escola de atuação; participação nas palestras do ciclo; caracterização das questões fechadas e comentários adicionais. Quanto à escola de atuação, 60% dos participantes lecionavam em Escolas Municipais de Educação Infantil e 40% em Escolas Municipais de Ensino Fundamental; a palestra sobre “Transtornos de aprendizagem” foi a que registrou o maior número de participantes (n=90); 35% dos participantes optaram por assistir as três palestras, 31% duas e 34% uma sendo a preferência o tema “Transtornos de aprendizagem”. Quanto a avaliação da qualidade das palestras assistidas, 63,2% a classificou como “ótima”, 54% como “boa” e 2% como “regular”. Os comentários adicionais confirmaram os resultados positivos da ação. Conclui-se que as contribuições da Fonoaudiologia Educacional são fundamentais para a atuação do professor auxiliando no direcionamento de suas ações, aprimorando sua prática pedagógica e garantindo um ensino de qualidade.

Palavras-chave: Educação, Fonoaudiologia, Educação Continuada, Docentes. ABSTRACT

This study is an exploratory-descriptive experience report, whose objective was to present the results of a cycle of continuous teacher training analyzing their contribution to the educational practice. 97 teachers participated in one of the following lectures: "Hearing loss", "Down Syndrome" and "Learning Disorders". To analyze the results were considered: kind of school; participation in the lectures; characterization of closed questions and additional comments. As for the kind of school, 60% of the participants taugh in Kindergarten and 40% in Elementary School; the lecture on "Learning Disorders" was the one that registered the largest number of participants (n = 90); 35% of the opted to attend the three lectures, 31% two and 34% one being the preference the topic "Learning Disorders". About the quality of lectures, 63.2% pointed "optimal", 54% as "good" and 2% as “regular. Additional comments confirmed the positive results of the action. It is concluded

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that the contributions of the Speech Therapist job are essential for the performance of the teacher assisting in this actions, improving his pedagogical practice and ensure a quality teaching.

Keywords: Education, Language and Hearing Sciences, Education Continuing, Faculty.

1 INTRODUÇÃO

Há algumas décadas, atividades relacionadas à Fonoaudiologia já eram realizadas ligadas à Pedagogia, pelos então “ortofonistas”, que faziam a “correção” da fala, apesar de sua formação e prática estarem vinculadas ao Magistério1. Estes professores faziam cursos de curta duração, de aproximadamente três meses, habilitando-se a trabalhar com os distúrbios da comunicação. Eram também denominados “Terapeutas da Palavra” ou “Logopedistas”2.

Com o passar dos anos houve a necessidade de criar uma profissão específica para tratar os alunos com esses distúrbios, tirando do professor tal responsabilidade e criou-se uma especialidade que, ao adquirir caráter reabilitador, exigiu maior aproximação da área médica1.

Em 1972, já observava-se que, embora a Fonoaudiologia tenha se norteado em seus primórdios por um perfil clínico de intervenção, que caracterizou sua herança médico- organicista, ela tem uma base multidisciplinar sobre a qual se edificou; pois, mantém relações estreitas com outras ciências, tais como a Linguística e a Educação3. Pode-se caracterizá-la como uma disciplina

científica que utiliza dados e informações de disciplinas auxiliares.

O Fonoaudiólogo surgiu inserido no contexto escolar com a finalidade de combater os distúrbios da comunicação. A ideia de tratar essas alterações foi incorporada pelos professores que recebiam orientação de outros profissionais (médicos, psicólogos, educadores, sanitaristas)4. Ao atuarem de forma curativa nesse processo, gradativamente, a imagem dos e educadores foi se modificando para a de terapeutas. Com o aperfeiçoamento desses profissionais surge a oficialização da profissão de Fonoaudiólogo.

A atuação do fonoaudiólogo no contexto escolar tem sido cada vez mais necessária e solicitada. Com aumento do número de pessoas com deficiência matriculadas nas salas do ensino regular, desponta a preocupação com a garantia de que elas estejam incluídas, ou seja, que façam parte do grupo e do processo educacional, sendo oferecidas as mesmas oportunidades de acesso ao conteúdo que seus pares5.

Em 2010, por meio da resolução 387/10, o Conselho Federal de Fonoaudiologia – CFFa, reconhece a Fonoaudiologia Educacional como especialidade e estabelece suas atribuições e competências6. O foco principal de atuação do fonoaudiólogo educacional deve ser centrado no

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desenvolvimento das capacidades, das habilidades e das possibilidades que auxiliem os atores do contexto educacional a executarem seu papel7.

A formação docente - principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de competências e habilidades para atuar em contextos inclusivos é outro tema que tem sido objeto de estudo de vários pesquisadores:

“Um dos desafios que os professores enfrentam em uma turma heterogênea é determinar adaptações curriculares e modificações didáticas importantes que permitam aos alunos com necessidades expressivas serem membros ativos da rotina diária da turma”5.

Nesse contexto, o papel do Fonoaudiólogo torna-se fundamental como especialista em comunicação humana, pois os comprometimentos na linguagem, oral ou escrita, estão frequentemente presentes nos alunos público alvo do atendimento educacional especializado-AEE. O trabalho colaborativo entre profissional e educador serve como subsídio para o planejamento de ações. Compartilhando conhecimentos específicos é possível auxiliar o fazer pedagógico direcionando o olhar do professor e contribuindo com o desenvolvimento do aluno.

A articulação e complementariedade das ações entre educação e saúde são fundamentais para o desenvolvimento global e a qualidade de vida das pessoas com necessidades educacionais especiais, principalmente perante quadros de deficiência ou outras condições orgânicas que interferem na aprendizagem e desenvolvimento8.

Em 2010, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva proposta pelo MEC, investiu na articulação entre a educação regular e a educação especial, objetivando a garantia do acesso à escolarização na sala de aula comum do ensino regular e a oferta do atendimento educacional especializado - AEE complementar aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação9.

Quanto à formação inicial do professor, há referiu uma desconexão entre as ações profissionais e os conhecimentos disciplinares ministrados, que, segundo ele, são produzidos numa redoma de vidro; portanto, a continuidade na formação docente é necessária para que possa, posteriormente, ser aplicada na prática por meio de estágios ou de outras atividades do gênero10.

Considerando os diversos saberes que permeiam o fazer fonoaudiológico, é fato que alterações relacionadas à audição, à linguagem oral e à linguagem escrita, à motricidade orofacial e à voz interferem no processo de ensino-aprendizagem, bem como nas condições de interlocução comunicativa. A resolução nº 309/2005 do Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) aponta várias possibilidades de atuação profissional do fonoaudiólogo no campo da educação, tais como:

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capacitação, e assessoria, planejamento, desenvolvimento e execução de programas, observações; triagens e orientações quanto ao uso da linguagem, motricidade oral, audição e voz; ações junto ao ambiente escolar que favoreçam as condições adequadas para o processo de ensino e aprendizagem; além das contribuições na realização do planejamento e das práticas pedagógicas de instituições educacionais11.

Entende-se que para o Fonoaudiólogo exercer sua função com competência e responsabilidade, de acordo com o disposto no Art. 3º da mesma resolução, é primordial que ele conheça as políticas de educação definidas em âmbito federal, estadual e municipal, bem como os programas, projetos e ações relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem. Deve ter, ainda, conhecimento aprofundado da inter-relação dos diversos aspectos fonoaudiológicos com os processos e métodos de aprendizagem no ensino regular e especial.

Dessa forma, ainda que a Fonoaudiologia esteja inserida na área da saúde, os conhecimentos específicos da formação do fonoaudiólogo se articulam de forma explícita às questões e às demandas que emergem no sistema educacional12.

As disciplinas contidas na grade curricular da pedagogia, muitas vezes não contemplam conhecimentos básicos necessários para que sejam capazes de superarem as dificuldades que encontrarão na prática da docência. A formação do professor é o tema de pesquisa de vários estudiosos (13-15). Como consequência desse despreparo, emerge um número cada vez maior de

alunos com dificuldades na aprendizagem, que, mesmo tendo condições favoráveis para aprender, não se beneficiam das propostas de ensino, que são inadequadas16.

A possibilidade de troca de conhecimentos entre os profissionais de diferentes áreas, oferece subsídios para o aproveitamento do potencial infantil, gerando condições essenciais que propiciam, o desenvolvimento satisfatório da criança17.

Considerando as falhas existentes na formação básica do professor é provável que para suprir essa lacuna, haverá, cada vez mais, a necessidade de orientação de profissionais especializados. Com a aprovação das novas Diretrizes do Curso de Pedagogia, as habilitações foram extintas e se propõe uma formação inicial do professor de forma generalista. Dessa forma, os cursos de pedagogia passaram a oferecer aos alunos: conhecimentos relacionados com as séries iniciais do ensino fundamental, ensinamentos sobre o ensino infantil, gestão e, também, conhecimentos a respeito da educação especial. Isso porque neste documento foi reiterada a ideia do ensino para a diversidade. Assim, apesar de nortear a formação inicial dos professores não faz menção direta e explícita de como deve ser organizada sua formação para atuar na perspectiva da inclusão escolar18.

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Nesse contexto, o presente estudo traz como tema central as possibilidades de contribuição da Fonoaudiologia Educacional junto aos professores. O interesse pelo tema surgiu a partir das dificuldades, relacionadas às práticas pedagógicas, apresentadas pelos próprios profissionais, ao Setor de Fonoaudiologia da Secretaria Municipal da Educação.

O objetivo desta pesquisa foi apresentar os resultados de um ciclo de palestras de formação continuada para professores, oferecido pelo setor de Fonoaudiologia Educacional da Rede Municipal da Educação de um município do interior paulista, analisando sua contribuição para a prática educacional de acordo com a análise dos seus relatos.

2 METODOLOGIA

Este estudo, caracterizado como exploratório-descritivo, faz parte de uma pesquisa registrada na Plataforma Brasil - CEP-CONEP, sob nº CAAE 957998 da qual participaram 97 professores da Rede Municipal da Educação de um município do interior paulista, sendo 58 de Escolas Municipais da Educação Infantil - EMEI e 39 de Escolas Municipais de Ensino Fundamental - EMEF.

Após reunião com a supervisora da Educação Especial da Secretaria Municipal da Educação- SME e, considerando as necessidades dos participantes, o ciclo de palestras de formação continuada foi organizado em três encontros que abordaram os seguintes temas: 1. “Deficiência auditiva”, 2. “Síndrome de Down” e 3. “Transtornos da aprendizagem”. As palestras tiveram a duração de três horas cada e ocorreram no período da noite, no anfiteatro da sede da SME, durante o primeiro semestre de 2016. Os convites foram enviados às 50 Escolas Municipais de um município do interior paulista.

Como critério de inclusão para esta pesquisa o participante deveria ter assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e estar inscrito em pelo menos uma das palestras. Foram excluídos aqueles que não preencheram corretamente o protocolo previamente elaborado. Este foi entregue a todos os participantes e era composto por: campo de identificação (nome, escola e função exercida pelo professor), quatro alternativas fechadas para o julgamento da qualidade da palestra (ruim, regular, boa e ótima) e campo para os “comentários adicionais”, no qual os participantes poderiam registrar sua opinião pessoal sobre a formação.

Posteriormente, a partir dos resultados obtidos e considerando o objetivo do estudo, os protocolos foram numerados aleatoriamente e analisados a partir dos seguintes campos: 1) Escola de atuação, 2) Participação nas palestras do ciclo, 3) Caracterização das questões fechadas com quatro opções de respostas e 4) Comentários adicionais. O conteúdo foi analisado utilizando-se a

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proposta de Minayo (2000) constituída por três etapas: pré-análise; exploração do material e tratamento dos resultados/ interpretação para posterior discussão19.

Após digitação dos dados em planilha específica, os mesmos foram analisados, considerando os valores relativos e absolutos, utilizando-se o programa Statistical Package for Social Sciences -

SPSS em sua versão 17.0.

3 DISCUSSÃO

Desenvolver ações em parceria com os professores visando contribuir para o processo de ensino e aprendizagem é uma das responsabilidades do fonoaudiólogo educacional. Com uma visão diferenciada e privilegiada da criança considerada “diferente”, esse profissional dispõe de conhecimentos que lhe permitem analisar os fatores biológicos e pedagógicos envolvidos nas questões escolares. Sua formação lhe oferece subsídios sobre o desenvolvimento normal e patológico dando-lhe parâmetros de comparação necessários para o diagnóstico. O conhecimento do fonoaudiólogo traz contribuições efetivas para a melhoria da qualidade do atendimento educacional realizado e propicia a construção de estratégias e meios de comunicação, que, muitas vezes, eram impossíveis de serem pensados em contexto escolar20.

Ao promover um ciclo de palestras que abordou temas envolvendo questões específicas da Fonoaudiologia o profissional conseguiu suprir algumas lacunas provocadas por um sistema de ensino que, mesmo “promovendo a inclusão” de alunos com necessidades especiais é falho quanto à garantia da formação do professor.

Por meio de relatos individuais os participantes registraram no campo “comentários adicionais”, contido no protocolo, sua opinião sobre a iniciativa da formação continuada promovida pelo setor de Fonoaudiologia Educacional da Secretaria Municipal da Educação (Quadro 1).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p. 69507-69521, sep. 2020. ISSN 2525-8761 Quadro 1. Relato dos participantes registrado no campo “comentários adicionais”

Relato 1 “Se possível fazer palestras em dois grupos, separando os professores de EMEI e de EMEF” Relato 2 “Muito obrigada pelos esclarecimentos! Vou receber uma aluna Down e me sinto mais tranquila

para recebê-la e de coração aberto para amá-la.”

Relato . “Que tal um curso on-line onde cada um fará o seu tempo?” Relato 4 “Palestra muito boa, clara e objetiva”.

Relato 5. “Muito importante ter participado. Esclareceu várias dúvidas”.

Relato 6. “Experiência maravilhosa que veio para complementar nossa aprendizagem”. Relato 7. “Agradeço a oportunidade de vivenciar esse momento tão rico em aprendizagem”. Relato 8. “Palestra bem explicativa, além de técnica bem pedagógica”.

Relato 9. “Achei ótima a iniciativa de abrir as palestras para todos os profissionais da Educação. Seria bom

nos enviar material impresso ou por e-mail”.

Relato 10. “Boa palestra que deve ser ministradas a todos os educadores, pois vejo que toda informação

contribuirá para a formação do professor.”

Relato 11. “Me interesso por tudo, pois como coordenadora mesmo não tendo neste ano crianças com

deficiência/dificuldade, poderemos ter no próximo ano.”

Relato 12. “Sempre é bom receber orientações de outros profissionais que complementam a formação dos

professores que atuam diretamente com as crianças.”

Relato 13. “Obrigada! Adorei sua forma de palestrar. Gentil, educada, colocações amenas e engraçadas e

muito pontual. Muito conhecimento exposto de forma simples e acessível até para nós que não somos da área.”

Fonte: o próprio autor.

Os registros evidenciam a importância da promoção de ações que venham de encontro aos conflitos vivenciados na sala de aula e que abordem temas e conceitos nem sempre de domínio do professor. Constatou-se, ainda, que profissionais de áreas a fins contribuem de forma positiva para a prática docente, principalmente no que diz respeito ao compartilhamento de informações específicos da aprendizagem que requerem um saber organicista geralmente não abordado nos cursos de graduação da pedagogia.

Com relação ao número de participantes, 97 professores, tanto da Educação Infantil como do Ensino Fundamental, estiveram presentes em alguma das palestras que compuseram o ciclo de formação continuada mencionada neste estudo. A Figura 1 apresenta a distribuição dos participantes nos três encontros que foram ministrados. Verificou-se que a palestra sobre transtornos da aprendizagem teve o maior número de participantes (n=90).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p. 69507-69521, sep. 2020. ISSN 2525-8761 Figura 1. Distribuição dos participantes do ciclo de formação continuada por palestra

Fonte: o autor.

A seleção dos temas abordados no ciclo foi baseada num mapeamento das necessidades da Rede Municipal, que considerou as dificuldades apresentadas pelos professores para lidar com o público da educação especial incluído nas salas de aula regulares, especialmente aqueles com deficiência auditiva e síndrome de Down. O levantamento do diagnóstico institucional é indispensável para a atuação do fonoaudiólogo junto unidade escolar. É necessário investigar seu funcionamento, compreender sua dinâmica, assim como conhecer o perfil da população atendida: condições econômicas, sócio-histórico-culturais, educacionais, ambientais e epidemiológicas. O projeto político pedagógico é um referencial no qual o profissional deverá pautar seu planejamento e suas ações21.

Considerando o interesse e a adesão dos professores da Rede Municipal pelas palestras oferecidas no ciclo de formação continuada, foi possível observar que 65% dos participantes inscreveram-se em pelo menos duas palestras. Na figura 2 observou-se que, dentre aqueles que optaram por presenciarem um único encontro (n=33), a maioria optou por assistir a palestra com o tema “Transtornos da aprendizagem”, 81,9% (n=27).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p. 69507-69521, sep. 2020. ISSN 2525-8761 Figura 2. Distribuição dos participantes segundo sua participação no ciclo de palestras

Legenda: SD, síndrome de Down; DA, deficiência auditiva; TA, transtornos da aprendizagem Fonte: o autor.

Após cinco anos, o Plano Nacional de Educação, destacou que “o grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garantisse o atendimento à diversidade humana”; porém, estudos apontaram um déficit referente à oferta de matrículas, à formação docente, à acessibilidade física e ao atendimento educacional especializado22.

O decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011, dispôs sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e deu outras providências. Em seu §1o do Art.1 considerou como público-alvo da educação especial as pessoas com deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação23.

Os transtornos da aprendizagem não são descritos na legislação como público alvo da educação especial; porém, há de se considerar que esta condição acarreta impedimentos a longo prazo; o que é caracterizado pelo MEC, no Art. 4º da resolução 04/2009, como “deficiência” 24.

Verificou-se que o tema em questão atraiu o maior número de participantes no ciclo de palestras (n=90).

Sobre a formação de professores, constatou-se uma mudança de postura quanto ao direcionamento dos esforços na educação inclusiva que, num primeiro momento, concentravam-se na garantia do acesso e da permanência das pessoas com deficiência na escola e que, com o passar dos anos, tem se concentrado na efetivação de ações que atendam às necessidades individuais desse público uma vez grande parte já frequenta as salas de aula regulares:

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No contexto das políticas públicas para o desenvolvimento inclusivo da escola se insere a organização das salas de recursos multifuncionais, com a disponibilização de recursos e de apoio pedagógico para o atendimento às especificidades educacionais dos estudantes público alvo da educação especial matriculados no ensino regular25.

Quanto à qualidade das palestras ministradas o ciclo foi considerado “ótimo” por 63,2% deles, confirmando a importância da atuação do Fonoaudiólogo Educacional junto ao sistema de ensino (Figura 3).

Figura 3. Avaliação da qualidade das palestras pelos participantes

Fonte: o autor.

O trabalho conjunto de profissionais especializados e professores traz inúmeros benefícios aos alunos uma vez que cada um pode lançar mão de seus conhecimentos específicos unindo forças em prol de um mesmo objetivo: o progresso da criança. Formar professores não é apenas focar a preparação para a regência de classe. Compreendemos que com as diretrizes curriculares para a formação de professores ampliaram-se as exigências para a formação de docentes da educaç ão básica: a pratica reflexiva; abranger o trabalho coletivo junto a outros professores e à comunidade mais ampla na qual se insere a escola; a interdisciplinaridade e o trabalho colegiado(26, 27).

Por meio dos comentários adicionais registrados pelos participantes constatou-se o despreparo do professor para lidar com as especificidades apresentadas pelos alunos, comprovando-se a importância das ações decomprovando-senvolvidas pelo fonoaudiólogo educacional.

É preciso destituir a concepção de reabilitação vinculada à figura do Fonoaudiólogo e apresentar novas vertentes de atuação que estão focadas na prevenção, seja ela primária ou secundária28. Sob uma nova perspectiva e com o foco na prevenção, é necessário que se desvincule

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o papel de reabilitador desses profissionais que compõem as equipes multidisciplinares e que atuam junto à educação. Neste contexto, a denominação de sua área não é relevante já que atuará como agente colaborador educacional oferecendo assessoria e consultoria aos professores e demais funcionários do quadro do magistério.

Com base na compreensão de parceria, a assessoria fonoaudiológica no contexto educacional passa a ser subsidiada pelo conhecimento construído e partilhado de forma colaborativa com os profissionais da Educação e, em particular, com o professor29. Sob esse caráter colaborativo, o fonoaudiólogo tem se comprometido, mais pontualmente, com a promoção de condições favorecedoras da igualdade e equidade no acesso de toda a diversidade de alunos a todas as oportunidades, nas diferentes instâncias sociais30. Em recente estudo31, pesquisadores apresentaram os resultados de um programa de formação continuada denominado “Imersão Docente”, no qual professores em formação acompanharam o trabalho pedagógico realizado em uma turma, auxiliando docentes em diversos componentes curriculares, com diferentes estratégias metodológicas; reforçando a importância da troca de experiências para se apropriar de novos conhecimentos, redescobrir caminhos e alternativas.

Tendo em vista as inúmeras dificuldades vivenciadas pelos professores diante do pouco investimento dos sistemas educacionais em cursos de formação continuada, este estudo apresentou os resultados de um ciclo de palestras de oferecido pelo setor de Fonoaudiologia Educacional da Rede Municipal da Educação de Marília pontuando as contribuições deste profissional para prática pedagógica e a importância do trabalho interdisciplinar na área da Educação.

4 CONCLUSÃO

A formação continuada de professores é um processo necessário não somente para complementar o conhecimento adquirido na graduação como também para auxiliá-lo em demandas específicas que envolvem a aprendizagem. Principalmente diante do público alvo da educação especial, o professor constantemente se depara com situações inéditas, diante das quais não se sente preparado para desempenhar sua função com qualidade e segurança. Tais situações podem, muitas vezes, exigirem saberes peculiares para o direcionamento das ações pedagógicas.

Não é comum as escolas buscarem apoio de profissionais especialistas de áreas a fins ao planejarem as capacitações dos professores. Este estudo apontou para as contribuições da Fonoaudiologia Educacional, que ocorreram por meio da promoção de ações voltadas para a complementação da formação docente inicial, detalhando o interesse e a participação dos professores num ciclo de palestras de formação continuada.

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Conclui-se que as contribuições da Fonoaudiologia Educacional são fundamentais para a atuação do professor auxiliando no direcionamento de suas ações, aprimorando sua prática pedagógica e garantindo um ensino de qualidade.

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Figura 1. Distribuição dos participantes do ciclo de formação continuada por palestra
Figura 2. Distribuição dos participantes segundo sua participação no ciclo de palestras
Figura 3. Avaliação da qualidade das palestras pelos participantes

Referências

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