• Nenhum resultado encontrado

Envelhecimento, poupança e previdência: relações macroestruturais a espera de uma teorização pertinente

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Envelhecimento, poupança e previdência: relações macroestruturais a espera de uma teorização pertinente"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

uma teorização pertinente

Resumo expandido

Resumo

Em sua quase totalidade, estudos demográficos e econômicos acerca do envelhecimento populacional destacam seus efeitos, invariavelmente, negativos, sobre a produção e a acumulação de poupanças para o desenvolvimento, se reformas estruturais, tais como a da previdência social, não forem previamente implementadas. A redução da oferta de força de trabalho, na etapa final da transição demográfica brasileira, implicaria menos produção, renda e recursos para o financiamento dos gastos públicos sociais se, durante a fase ativa, não houver estímulos para o aumento da poupança das famílias. Entretanto, essa visão apoia-se em fundamentos teóricos pré-keynesianos e pré-kaleckianos que não refletem as características atuais das modernas economias capitalistas, constituídas por sistemas financeiros complexos e sofisticados. Incorrem assim em vários equívocos interpretativos e conceituais, destacando-se: a ausência de diferenciação entre poupança produtiva e poupança improdutiva, a confusão entre variáveis de fluxo e de estoque e a concepção de que a formação de poupança pode e deve preceder o investimento, e não o inverso. Com a disseminação dos processos de financeirização das economias ao redor do mundo, o exame dessa problemática tornou-se incontornável para as pesquisas que pretendam construir referenciais teóricos adequados a uma interpretação pertinente dos verdadeiros desafios na busca pela melhora sustentável das condições de vida das populações.

(2)

1. Introdução

O diagnóstico de insuficiência de poupança na economia brasileira é antigo e recorrente nas análises convencionais que se baseiam em fundamentos teóricos neoclássicos1.

Entretanto, o exame dos fatos estilizados do período recente mostra que as regularidades macroeconômicas relativas ao comportamento da poupança no Brasil não são compatíveis com as concepções pré-keynesianas. Não é surpreendente que, frequentemente, seus proponentes os considerem, como puzzles.

Este artigo discute a problemática da formação e da alocação de poupança no plano teórico, relacionando-a, em seguida, ao processo de transição demográfica brasileira. Analisam-se os determinantes da taxa de poupança agregada, a partir de sua desagregação por setores de atividade econômica. Os resultados mostram que os referenciais teóricos adequados para uma correta compreensão das relações envelhecimento-poupança-crescimento econômico são os propostos por Keynes, Kalecki e Kaldor e não aqueles derivados da escola neoclássica. Apesar de sua argumentação lógica e intuitiva, a concepção neoclássica da formação de poupança não a apreende corretamente no contexto dos sistemas bancário-financeiros atuais. Em consequência, não é capaz de conferir à dinâmica das operações de crédito a relevância que de fato possui nas economias reais, independentemente dos níveis de poupança vigentes.

Após examinar criticamente a literatura neoclássica sobre o tema, discute-se a teoria do ciclo de vida de Ando-Modigliani (TCV), modelo de referência amplamente utilizado para embasar as visões pré-keynesianas da poupança. O grande atrativo despertado pela TCV nos estudos demográficos é que ela apreende a formação de poupança como uma variável dependente da estrutura etária da população. Todavia, como as estruturas econômicas de produção e de demanda também se modificam em sua dinâmica de longo prazo, os resultados esperados pela TCV não se materializam, necessariamente, em todas as épocas e lugares. A formulação da TCV refletia as

1 Referem-se à escola de pensamento econômico cujos principais proponentes fundadores são Léon Walras, William

S. Jevons, W. Paretto e Alfred Marshall. A escola neoclássica dominou, praticamente sozinha, os meios acadêmicos em Ciência Econômica até o advento da revolução teórica desencadeada por John Maynard Keynes, com a publicação em 1936 de sua principal obra, A Teoria Geral, do Emprego, do Juro e da Moeda, que funda a análise macroeconômica moderna. Atualmente, contudo, graças à hegemonia e interesses do setor financeiro no mundo, muitas das proposições neoclássicas tem sido recuperadas, embora sob novas formulações em modelos econômicos matematicamente sofisticados.

(3)

características do padrão de crescimento e de acumulação de capital vigentes na Golden Age do capitalismo do pós-segunda guerra (1945-1975). Suas hipóteses refletem o funcionamento das “economias de rendas de atividade”, derivadas do modo de desenvolvimento fordista. Atualmente, as características estruturais das economias são diferentes, predominando as “rendas de propriedade”, características dos processos de financeirização.

2. Métodos

O trabalho desenvolve-se através de três etapas:

2.1 Análise econômica teórica e econométrica - uma análise comparativa da concepção teórica neoclássica da poupança com a abordagem inovadora desenvolvida por Keynes, Kalecki e Kaldor. Destacam-se as especificidades das economias contemporâneas com seus mercados bancário-financeiros complexos e sofisticados. Implicações das definições de poupança produtiva e poupança improdutiva no contexto da transição demográfica. Análise da TCV (1963) em sua aplicação ao caso brasileiro.

2.2 Análise demográfica - o processo de envelhecimento populacional é analisado tanto em seus efeitos sobre a oferta e demanda de força de trabalho (mudanças no mercado de trabalho), quanto por seus impactos sobre a produção e demanda de novos bens e serviços (mudanças no mercado de produto). Entretanto, diferentemente dos estudos tradicionais que tratam dessa problemática, a razão de dependência demográfica utilizada incorpora a produtividade em sua definição. Trata-se de uma variável-chave para compensar a contínua redução da PIA, decorrente da mudança da estrutura etária brasileira.

Seja 𝒅 =𝑨

𝑳 a razão de dependência demográfica, onde A é o número de indivíduos

aposentados e L o número de indivíduos ocupados na produção. A produtividade do trabalho pode ser definida por 𝝋 = 𝒀

𝑳, onde Y é a renda nacional. Considerando-se

que o aumento da produtividade do trabalho equivale a um aumento no número de trabalhadores efetivos (𝑳𝒆), o crescimento de 𝝋 compensará a redução da

oferta de força de trabalho decorrente do envelhecimento demográfico. Consequentemente, pode-se obter a definição de razão de dependência

(4)

demográfica efetiva 𝒅𝒆 = 𝑨

𝑳𝒆. Se 𝑳

𝒆 crescer, a razão de dependência 𝒅𝒆 cairá. Com

𝑳𝒕+𝟏𝒆 = 𝑳𝒕. (𝟏 + 𝝋𝒕+𝟏̇ + 𝑳𝒕+𝟏̇ ). Sendo 𝑳𝒕+𝟏 função da taxa de atividade e da taxa de

utilização da capacidade produtiva instalada, ponderada pelo coeficiente de emprego.2

2.3 Análise dos efeitos de interação das dinâmicas demográfica e macroeconômica sobre a previdência social brasileira - os componentes da poupança agregada (poupança familiar, poupança empresarial, poupança governamental e poupança externa) em suas interdependências macroeconômicas; a formação e a alocação de poupança numa economia financeirizada de alta taxa de juros e acumulação rentista; determinantes do fluxo de caixa da previdência social e da previdência privada.

3. Resultados e discussão

Trabalhos acerca dos impactos do envelhecimento populacional sobre as condições de financiamento da previdência social se equivocam ao permanecerem circunscritos à abordagem pré-keynesiana, cujos fundamentos teóricos são neoclássicos e walrasianos.

A produtividade é o principal fator de melhoria das condições de vida da população, sendo uma variável estrutural resultante do investimento e não do acúmulo de poupanças financeiras, decorrentes de aplicações em ativos desvinculados das atividades produtivas. Mesmo que o argumento em defesa da acumulação de poupanças na fase ativa fosse pertinente, ainda assim, seus efeitos supostamente positivos sobre o financiamento da previdência e do investimento produtivo estariam comprometidos pela natureza e lógica da revalorização rentista-patrimonial que o processo de financeirização da economia brasileira impõe. A visão catastrofista dos impactos do envelhecimento traz analogias flagrantes com o pessimismo malthusiano. Enquanto, neste último, o “excesso de população em geral”, independentemente das coortes etárias, é portador de consequências socioeconômicas deletérias; no primeiro, é o “excesso de população de idosos”, que reduzirá a oferta de força de trabalho e, consequentemente a renda per capita necessária à solvência dos sistemas de previdência social. Como os sistemas

2 O coeficiente de emprego é calculado como número máximo de postos de trabalho gerados por setor de atividade

(5)

produtivos atuais tornam-se cada vez mais capital-intensivo, mesmo que, numa situação hipotética, a população permanecesse jovem para sempre, taxas significativas de desocupação dos jovens e de adultos tornar-se-iam persistentes se o crescimento econômico continuar fraco e instável.

4. Referências bibliográficas

ANDO, A. MODIGLIANI, F. The life cycle hypothesis of saving, American Economic Review, v. 53, n.1, p. 55-84,1963.

BRUNO, M. CAFFE, R. Estado e financeirização no Brasil: interdependências macroeconômicas e limites estruturais ao desenvolvimento. Economia e Sociedade, Campinas, v. 26, Número Especial, p. 1025-1062, dez. 2017.

GRAGNOLATI, M. et al. Growing old in an older Brazil: implications of population ageing on grwoth, poverty, public finance and servisse delivery. The World Bank, 2011.

DEATON, A. Franco Modigliani and the life cycle theory of consumption. Presented at the Convegno Internazionale Franco Modigliani, Accademia Nazionale dei Lincei, Rome, 2005.

LEE, R. D., MASON, M. e MILLER, T. Saving, Wealth and Population, mimeo, Outubro de 2002.

MASON, A. National Saving Rates and Population Growth: A New Model and New Evidence, em "Population Growth and Economic Development: Issues and Evidence", The University of Winsconsin Press, 1987

QUEIROZ, B. et al. The opportunities we cannot forgot: economic consequences of population changes in Brazil. XV Encontro da ABEP, Caxambu, 2006

QUEIROZ, B. TURRA, C. Window of opportunity: socioeconomic consequences of demographic changes in Brazil, may 2010.

KALECKI, M. The theory of economic dynamics. 2.ed. Londres: Allen & Unwin, 1965. KEYNES, J. M. A distinção entre poupança e investimento. In Keynes, Economia, Atlas, 1978

Referências

Documentos relacionados

b) 0,5% (cinco décimos por cento) sobre o valor contratual, por infração a quaisquer das cláusulas do contrato. c) 2% (dois por cento) do valor contratual, na hipótese de

No código abaixo, foi atribuída a string “power” à variável do tipo string my_probe, que será usada como sonda para busca na string atribuída à variável my_string.. O

Garšva niekur nemini, kad šiuos dalykus būtų užrašęs, o skyriai „Iš Antano Garšvos užrašų" egzistuoja ne tik kaip tekstas, kurį perskaitome

Este estudo teve por objetivo realizar análise ergonômica dos trabalhadores nas atividades de colheita florestal em área com madeira danificada pelo vento, visando melhoria

O equilíbrio financeiro e o atuarial devem ser preservados; isto é, os recursos financeiros , arrecadados em um exercício financeiro ,devem ser suficientes para atender às

As entidades fechadas de previdência complementar (EFPC) se caracterizam como formadores e acumuladores de poupança, oriunda das contribuições mensais vertidas por seus

Um segmento de mercado consiste em um grande grupo de consumidores que compartilham as mesmas necessidades e os mesmos desejos (KOTLER; KELLER, 2012).. Segmento de

12.3 A nota final no concurso para o cargo 15: Técnico de Tecnologia da Informação, cargo 17: Técnico em Audiovisual, e para o cargo 20: Técnico em Segurança do Trabalho será a