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A METROPOLIZAÇÃO DA POBREZA

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Academic year: 2021

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A METROPOLIZAÇÃO DA POBREZA

Fausto Brito1 Joseane de Souza2

1 INTRODUÇÃO

A emigração das capitais em direção aos outros municípios das regiões Metropolitanas tem sido analisada com grande interesse pela literatura demográfica (IBGE, 1991; Cunha, 1991; Brito, 1996). Neste artigo vamos voltar a este importante tema procurando não só quantificar a emigração mas, também, qualificá-la segundo as suas características demográficas, econômicas e sociais mais importantes, dentro da dinâmica espacial do crescimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Uma novidade importante que introduziremos é a incor-poração à análise dos dados da “mobilidade residencial” – migração intra-urbana, se assim quisermos chamar – dentro de Belo Horizonte, mostrando a sua articulação com a emigração intermunicipal.

Esta inovação vai proporcionar uma melhor compreensão das emigrações como uma expressão do processo de exclusão social e espacial, que tem se ampliado com a recente intensificação do processo de metropolização. O nosso artigo está dividido em quatro partes:

a) A dinâmica demográfica da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

b) Quem são os emigrantes metropolitanos.

c) A expansão urbana e as emigrações de Belo Horizonte para a RMBH.

d) A mobilidade espacial da população em Belo Horizonte. e) Conclusões.

1 Professor do Departamento de Demografia – CEDEPLAR/UFMG. 2 Mestranda em Demografia – CEDEPLAR/UFMG.

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2 A DINÂMICA DEMOGRÁFICA DA RMBH

A Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a terceira maior do Brasil, tem tido uma dinâmica populacional seme-lhante a das outras grandes regiões metropolitanas, caracterizada pelo acentuado declínio das suas taxas de crescimento. Desde a década de 70, quando no seu auge alcançaram quase 7,0% ao ano, elas vêm se reduzindo e, entre 1991/96, a sua taxa de crescimento caiu para 3,8 ao ano. Também, seguindo o padrão das outras regiões metropolitanas, o seu núcleo, ou a capital Belo Horizonte(BH), tem tido uma redução do seu crescimento demográfico ainda mais acentuado, desde os anos 50 quando, também, no seu ápice, crescia a 7,0% ao ano. Os resultados da Contagem da População de 1996, revelaram que BH cresceu so-mente 0,7% entre 1991/96 (Tabelas 1 e 2).

Tabela 1

POPULAÇÃO DE BELO HORIZONTE, RRMBH* E RMBH 1940-1996 População Período BH RRMBH* RMBH 1940 211.377 157.407 368.784 1950 352.724 170.195 522.919 1960 693.328 237.955 931.283 1970 1.235.030 423.452 1.658.482 1980 1.780.855 828.665 2.609.520 1991 2.020.161 1.415.899 3.436.060 1996 2.091.770 1.701.995 3.793.765 Fonte: FIBGE – Censo Demográfico, 1940, 1950, 1960, 1960, 1970, 1980 e 1991;

FIBGE – Contagem da População de 1996. * RMBH, com exceção de BH.

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Quais foram as razões desta redução tão acentuada do ritmo de crescimento da RMBH? Uma das causas, sem dúvida, foi um dos fenômenos estruturais mais importantes deste final de século no Brasil: o declínio generalizado das taxas de fecundidade. Na RMBH a Taxa de Fecundidade Total era de 3,84 em 1980 e passou para 2,14 em 1991 (Oliveira, Wong, 1998). Mas, este fator, apesar da sua importância, não será o objeto de nossas análises neste artigo. Um outro fenômeno, também de grande relevância estrutural, será o nosso tema: a modificação do padrão migratório, certamente a causa mais importante do declínio das taxas de crescimento da RMBH.

Voltando às informações sobre a dinâmica populacional, verificamos que as taxas de crescimento dos outros municípios da RMBH, desde a década de 60, têm ficado muito acima das taxas da capital, mostrando um claro processo de inversão espacial do

crescimento demográfico. O que fica ainda mais nítido, quando

observamos a participação relativa no crescimento absoluto da popu-lação, que estamos chamando de delta. Nos anos 40, BH era respon-sável por quase 92,0% do crescimento absoluto das sua região metro-politana. Recentemente, entre 1991/96, a sua contribuição caiu para apenas 20,0%.

Tabela 2 BH, RRMBH E RMBH:

TAXA DE CRESCIMENTO E DELTA 1940-1996

Taxa de crescimento Delta*

Período BH RRMBH RMBH BH RRMBH RMBH 1940/50 5,25 0,78 3,55 91,70 8,30 100,00 1950/60 6,99 3,41 5,94 83,41 16,59 100,00 1960/70 5,94 5,93 5,94 74,49 25,51 100,00 1970/80 3,73 6,94 4,64 57,39 42,61 100,00 1980/91 1,15 4,99 2,53 28,95 71,05 100,00 1991/96 0,70 3,75 2,00 20,02 79,98 100,00 Fonte: FIBGE – Censo Demográfico, 1940, 1950, 1960, 1960, 1970, 1980 e 1991;

FIBGE – Contagem da População de 1996.

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Na raiz do processo de inversão espacial do crescimento demográfico estão as migrações, que podem ser observadas em duas perspectivas. Em primeiro lugar, BH e sua região metropolitana têm se constituído num dos destinos preferenciais dos emigrantes do interior de Minas Gerais: na década de 70 eles somaram 601.653, dos quais BH obteve a maior fatia estimada em cerca de 340.134 (Mato, 1996). Entre 1981-1991, o volume desta imigração foi muito menor, 273.297 habitantes, e BH continuou recebendo a maior parte, 156.531. Parece lógico que o processo de inversão espacial do crescimento demográfico não pode ser atribuído a esta grande redução da imigra-ção intra-estadual, pois BH continuou sendo o lugar preferido dos imigrantes.

Observemos, então, de uma outra perspectiva, a das mi-grações intrametropolitanas. Na década de 70, quando BH crescia a 3,73% ao ano, 154.300 dos seus habitantes emigraram para os outros municípios da RMBH, o equivalente a 8,7% da sua população no final do período considerado (Tabela 3). E a capital mineira recebeu apenas cerca de 15.000 imigrantes de seus municípios vizinhos metropolita-nos. Isto lhe proporcionou um enorme saldo migratório negativo intrametropolitano, que só não reduziu ainda mais o seu crescimento populacional, porque ele foi fartamente alimentado pelas imigrações intra-estaduais que chegaram, como já mencionamos, a mais de 340.000 imigrantes. Tabela 3 BH: MIGRAÇÃO INTRAMETROPOLITANA 1970/1996 Migração 1970/80 1986/91 1981/91 Emigração 154.300 119.116 229.788 População BH 1.780.855 1.861.298 2.020.161 Taxa de emigração 8,70 6,40 11,40 Imigração 14.934 7.663 15.709 Saldo –139.366 –111.453 –214.079

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Entre 1981/91 a emigração de BH para os outros municí-pios da RMBH aumentou muito, chegando a 11,4% da sua população em 1991, que era de 2.020.161 habitantes. Como a imigração intrame-tropolitana continuou irrelevante, o saldo negativo de BH quase que dobrou, acusando uma perda populacional de 214.079 habitantes. Como a imigração do interior do estado se reduziu a mais da metade, ela não foi capaz de compensar o saldo migratório negativo intrame-tropolitano, e a taxa de crescimento de BH diminuiu para apenas 1,15% ao ano, muito abaixo da taxa de 4,99% dos restantes dos municípios da RMBH. E a sua participação relativa no crescimento absoluto, na década passada, se reduziu, praticamente, à metade em relação aos anos 70.

Esta maciça transferência de população de BH para o restante da RMBH tem sido, sem dúvida, a grande responsável pelo

processo de inversão espacial do crescimento demográfico.

Mas, uma outra questão se coloca: quem são estes emigrantes que saem de BH em direção aos outros municípios metropolitanos, quais são as suas características demográficas e sócio-econômicas?

3 QUEM SÃO OS EMIGRANTES INTRAMETROPOLITANOS?

Com as informações disponíveis no Censo Demográfico de 1991 foi possível reconstituir algumas das características essenciais do fluxo de emigrantes de BH para os outros municípios da RMBH no decênio anterior ao Censo.

2.1) Em primeiro lugar, podemos observar as suas carac-terísticas demográficas básicas, isto é, sua composi-ção por sexo e idade. Havia uma ligeira predomi-nância do sexo feminino, 2,0% a mais do que o mas-culino. Mas, o que chama mais a atenção é a maior proporção de mulheres nas faixas etárias onde mais se concentra a força de trabalho (Gráfico 1). O que não quer dizer que a força de trabalho feminina, entre os emigrantes, fosse maior que a masculina, pelo contrário, como veremos mais adiante quando anali-saremos as taxas de atividade. Apenas, destacamos a supremacia das mulheres, em idade ativa, entre os

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que se deslocam de BH para a RMBH. Do ponto de vista da posição no domicílio, a maior parte dos chefes eram homens, as mulheres chefiavam apenas 20,0% dos domicílios e a maioria das emigrantes eram côn-juges.

Gráfico 1

ESTRUTURA ETÁRIA DOS EMIGRANTES DE BH PARA RRMBH 1981-1991

Fonte: FIBGE – Censo Demográfico de 1991.

2.2) Para caracterizar o nível educacional dos emigrantes, utilizamos de dois indicadores: a porcentagem de analfabetos e o número de anos de estudo da popula-ção com mais de 20 anos de idade. O índice de anal-fabetismo era de 13,4% entre os homens e 15,5% entre as mulheres e as informações sobre o tempo de estudo revelam que 53,0% da população adulta, tinha apenas entre 0 a 4 anos de estudo (Tabela 4). Se considerarmos os que ultrapassaram o primário, mas que não superaram os 8 anos de estudo, esta propor-ção chega a mais de 80,0%. As mulheres têm uma situação educacional pior que a dos homens, com uma maior concentração na faixa de 0a 4 anos de estudo.

AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA A A A A AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAA AAA AAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAA AAA AAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AA AA AA AA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA A A A AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AA AA AA AA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAA AAA AAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA A A A A AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAA AAA AAA AAA AAAA AAAA AAAA A A A AAAA AAAA AAAAAAA AAA AAA AAA AAA AAA AAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA A A A AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAA AAA AAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAA AAA AAA AAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AA AA AA AA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AA AA AA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AA AA AA AA AAAA AAAA AAAA A A A AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA AAAA A A A -8,00 -6,00 -4,00 -2,00 0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 0 a 4 5 a 9 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 54 55 a 59 60 a 64 65 a 69 70 e + AA AAmas c ulino AA AAf eminino

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2.3) A taxa de atividade dos emigrantes, homens maiores que 10 anos, era de 56,8%, bem superior à das mu-lheres (Gráfico 2). Aliás, vale a pena sublinhar, que as taxas de atividades masculinas estavam bem aci-ma, inclusive, nos grupos etários onde as mulheres eram mais predominantes.

Gráfico 2

EMIGRANTES DE BH PARA RMBH – TAXAS DE ATIVIDADES 1981-1991

Fonte: FIBGE – Censo Demográfico de 1991.

Tabela 4

ANOS DE ESTUDO DOS EMIGRANTES DE BH PARA A RMBH 1981-1991

Anos de Estudo Homens Mulheres Total

Absoluto % Absoluto % Absoluto % 0 a 4 33.071 50,83 38.753 55,45 71.824 53,22 4 a 8 19.135 29,41 17.451 24,97 36.586 27,11 8 a11 9.974 15,33 11.299 16,17 21.273 15,76 11 a 16 2.638 4,05 2.259 3,23 4.897 3,63 17 ou + 244 0,38 122 0,17 366 0,27 Total 65.062 100,00 69.884 100,00 134.946 100,00 Fonte: FIBGE – Censo Demográfico de 1991.

0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00 100,00 10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70 + Homens Mulheres

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Quando levamos em conta o setor da atividade econômica da população emigrante, ela se distribuía, na sua grande maioria – 73,0% – entre a prestação de serviços, que absorvia um quarto dos emigrantes, a indústria, o comércio e a construção civil (Tabela 5). De fato, uma realidade extremamente condicionada pela predominância masculina na força de trabalho, cerca de 67.0%. Quando destacamos as mulheres, verificamos que elas tinham uma distribuição bem mais concentrada: 60,0% estava trabalhando na prestação de serviços ou nos serviços sociais. Entre as que estavam na prestação de serviços, 57,0% eram empregadas domésticas ou estavam em serviços correla-tos, como faxineiras e lavadeiras. Para sublinhar mais ainda a impor-tância do emprego doméstico, ele ocupava 25,0% do total das mulheres que participavam da força de trabalho.

Tabela 5

EMIGRANTES DE BH PARA RMBH, SEGUNDO SEXO E SETOR DE ATIVIDADE

1981-1991

(%) Setor de atividade Homens Mulheres Total

Agropecuária 1,53 0,77 1,28 Indústria 22,22 13,58 19,34 Construção Civil 17,87 1,64 12,46 Comércio 15,87 15,05 15,60 Transporte e comércio 9,90 1,61 7,14 Serviços Auxiliares 3,43 3,81 3,56 Serviços 17,09 42,46 25,54 Serviço Social 3,64 15,73 7,67 Administração pública 5,11 2,65 4,29 Outras 3,33 2,69 3,12 Total 100,00 100,00 100,00

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2.4) Quando analisamos a posição no mercado de traba-lho, verificamos que a porcentagem de emigrantes sem carteira de trabalho assinada alcançava 23,0%. Esta porcentagem entre as mulheres – 32,2% – era bem maior do que a masculina, 18,3%, devido a grande concentração das suas atividades econômicas no setor serviços, onde se localizavam cerca de 50,0% do total de trabalhadores sem carteira.

Se analisamos a evolução, segundo a idade, da participação no setor formal da economia – aqui medido pela posse da carteira de trabalho assinada – observamos que há uma queda brusca na partici-pação, para os homens, a partir dos 34 anos, e para as mulheres, menos acentuada, mas já desde os 29 anos (Gráfico 3). Quando comparamos a evolução das taxas de atividade com a evolução da posse da carteira assinada, verificamos que, depois dos 30-34 anos, o declínio da parti-cipação dos que têm carteira é muito mais acelerado O que sugere que entre os emigrantes de BH para RMBH, depois de uma certa idade, decrescia rapidamente a participação no setor formal da economia.

Gráfico 3

EMIGRANTES DE BH PARA RMBH – CARTEIRA ASSINADA 1981-1991

Fonte: FIBGE – Censo Demográfico de 1991.

0 ,0 0 2 ,0 0 4 ,0 0 6 ,0 0 8 ,0 0 1 0 ,0 0 1 2 ,0 0 10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70+ HO MENS S im HO MENS N ã o MU L H ERES S im MU L H ERES N ã o

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O trabalho por conta própria estava fortemente concentra-do, 76,0%, nos setores de prestação de serviços, no comércio e na construção civil, sendo que dois terços destes trabalhos era executado pelos homens. Se somamos o número de trabalhadores emigrantes intrametropolitanos, entre 1981/91, sem carteira e conta própria eles chegavam a 42,0%.

2.5) A distribuição dos rendimentos da ocupação principal dos emigrantes revelava que um terço deles recebia, no máximo, um salário mínimo, e 62,% somente até dois (Gráfico 4). E esta proporção ainda era maior entre as mulheres, 77,0%. Os níveis superiores de rendimento, acima de 10 salários mínimos, contem-plavam uma porcentagem muito baixa, 3,24%, mas se consideramos somente as mulheres, estes números se reduzia para 1,14%, somente.

Gráfico 4

EMIGRANTES DE BH PARA RMBH – RENDIMENTOS MENSAIS 1981-1991

Fonte: FIBGE – Censo Demográfico de 1991.

2.6) Em síntese, apesar da sua heterogeneidade, podería-mos concluir que os emigrantes de BH para RMBH eram, na sua grande maioria, pobres, com quase dois terços recebendo menos que dois salários mínimos

0 ,0 0 5 ,0 0 1 0,00 1 5,00 2 0,00 2 5,00 3 0,00 3 5,00 4 0,00 4 5,00 5 0,00 A T É 1SM 1 A 2SM 2 A 3SM 3 A 5SM 5 A 10SM 10 A 15SM 15 A 20SM > Q UE 20SM h ome n s mu lh er es

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pela sua ocupação principal. O nível de desemprego era relativamente alto, 9,4% da população emprega-da, e cerca de 42,0% dela não tinha carteira assinada ou era constituída de trabalhadores por conta pró-pria. Em outras palavras, mais da metade dos emi-grantes, provavelmente, estavam fora do mercado de trabalho considerado formal. Quando consideramos a situação das mulheres, que eram predominantes, mas que representavam apenas 20,0% dos chefes de domicílio e um terço da população empregada, a situação de pobreza ainda era mais insinuante.

Certamente, um nível educacional tão baixo contribuía para a pobreza: mais de 65,0% da população adulta emigrante eram analfabetos ou tinham no máximo quatro anos de estudo. Para estes, a sociedade e os mercados, costumam reservar apenas a exclusão social. E a grande maioria da emigração de BH para RMBH expressam esta exclusão na sua dimensão espacial.

Para compreender melhor esta exclusão social e espacial, vamos analisar os processos sociais e econômicos, articulados à expan-são urbana, que estão na origem das emigrações.

4 A EXPANSÃO URBANA

E AS EMIGRAÇÕES DE BH PARA RMBH

Seria importante fazer uma rápida digressão sobre a for-mação histórica de BH e da RMBH, que estão intimamente associadas: realmente o desenvolvimento metropolitano tem se alimentado da própria expansão de Belo Horizonte (Brito, 1996). O primeiro grande vetor de crescimento da RMBH teve a sua origem na Região Oeste da capital mineira, com a criação, em 1941, da Cidade Industrial, no Município de Contagem, mas se consolidou com o crescimento indus-trial do bairro do Barreiro, a partir da implantação da usina siderúr-gica da Mannesmann em 1953.

A industrialização regional levou a uma diversificação econômica e a uma grande oferta de empregos para os trabalhadores. Como conseqüência, proliferaram os loteamentos para os operários e os conjuntos populacionais para a população de baixa renda. Já nos anos setenta, a Cidade de Betim, também na Região Oeste da RMBH,

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que na década anterior tinha recebido a Refinaria Gabriel Passos, se transformou num local privilegiado para os investimentos industriais, estimulados pela implantação da fábrica da FIAT Automóveis.

“Se consolidou assim o ‘corredor industrial oeste da RMBH’, onde a industrialização e a precária urbanização dos loteamentos e dos conjuntos habitacionais para a população de baixa renda, provocaram a articulação espacial urbana – co-nurbação, como dizem os urbanistas – do bairro do Barreiro, em Belo Horizonte, com os Municí-pios de Contagem e Betim. A expansão dos lotea-mentos periféricos acabaram por incorporar, também, a Cidade de Ibirité, onde eram mínimas as restrições legais a eles” (Brito, 1996).

Estes três Municípios, Contagem, Betim, e Ibirité, juntos, entre 1980/1991, foram responsáveis por 37,0% do crescimento abso-luto da RMBH, acima de BH que contribuiu com 29,0%. Entre 1991/96 a participação deles no crescimento absoluto aumentou para 41,0%, enquanto a de BH se reduziu para a 20,0%. A interação populacional destes três municípios com BH é tão intensa que, entre 1981/91, eles receberam 48,0% dos seus 229.788 emigrantes intrametropolitanos (Tabela 6).

O outro grande vetor de expansão da RMBH teve a sua origem na Região Norte de Belo Horizonte, principalmente, nos bair-ros Pampulha e Venda Nova, se desdobrando em direção aos Municí-pios de Ribeirão das Neves, Santa Luzia e Vespasiano. Estes dois últimos chegaram mesmo a receber alguns investimentos industriais, porém os determinantes da expansão do Vetor Norte foram os conjun-tos habitacionais e os loteamenconjun-tos para a população de baixa renda.

A política habitacional do governo colaborou, decisivamen-te, para o crescimento demográfico através da localização, na região, de vários conjuntos habitacionais, com o propósito de retirar a popu-lação mais pobre das áreas mais valorizadas de Belo Horizonte. Por outro lado os agentes do mercado imobiliário se aproveitaram da fragilidade da legislação de alguns municípios, como Ribeirão das Neves, para implementar loteamentos sem a mínima infra-estrutura urbana.

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Os conjuntos habitacionais e os precários loteamentos criaram um verdadeiro “pólo de atração da pobreza”. Gradualmente expulsa de BH onde os preços da terra e dos imóveis se tornavam cada vez mais inacessíveis, os mais pobres têm sido atraídos, cada vez mais, pelo itinerário em direção à Região Norte da RMBH. Não seria por outra razão, que os seus municípios têm crescido a uma taxa mais acelerada do que os da Região Oeste e, em 1980/91 já participavam com 22,3% do crescimento absoluto da RMBH, proporção que aumen-tou entre 1991/96 para 24,0%. O número de emigrantes de BH para o Vetor Norte foi de 93.092, 40,5% do fluxo total.

Tabela 6

EMIGRAÇÃO DE BH PARA RMBH 1970/80 E 1981/91

Município de destino Período

1970/80 1981/91 Betim 10.648 20.641 Brumadinho – 1.125 Caeté 569 914 Contagem 167.023 69.985 Esmeraldas – 2.859 Ibirité 8.192 19.003 Igarapé – 3.238 Lagoa Santa 1.352 3.076 Mateus Leme – 2.428 Nova Lima 1.675 1.984 Pedro Leopoldo 1.290 1.597 Raposos 248 248

Ribeirão das Neves 32.692 41.649

Rio Acima 67 380

Sabará 13.109 9.218

Santa Luzia 14.305 36.915

Vespasiano 3.130 14.528

Total 154.300 229.788

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Estes dois Vetores, o Oeste e o Norte, em conjunto, recebe-ram 88,5% dos emigrantes intrecebe-rametropolitanos de BH entre 1981/91. A mesma porcentagem dos anos 70, só que, entre estes dois períodos, os municípios da Região Oeste reduziram a sua participação – ela era de 55,7% – e os do norte aumentaram, passando de 33,1 para 40,5%.

Poderíamos acrescentar, também, o Município de Sabará, o mais importante do Vetor de expansão Leste que, embora, tenha uma relevância demográfica inferior a do Oeste e a do Norte, já está integrado ao espaço físico urbano de BH, através dos seus loteamentos para a população de baixa renda. O número de emigrantes de BH para Sabará era bem menos expressivo, 9.218, apenas 4,% do total, porcen-tagem menor do que na década de 70 quando atingiu 8,5%. Mas do ponto de vista do seu crescimento populacional, esta emigração tem sido decisiva, sendo responsável por mais de um terço dele no decênio 1981/91.

Acrescentando o município mais importante do Vetor Les-te aos do OesLes-te – Contagem, Betim e Ibirité – e aos do NorLes-te – Ribeirão das Neves, Santa Luzia e Vespasiano – eles absorviam, no seu conjun-to, 92,% dos emigrantes de BH para a sua região metropolitana, entre 1981/91. Estes fluxos de alta densidade demográfica podem ser ainda melhor compreendidos, dentro do processo de expansão urbana, se forem melhor caracterizados social e economicamente.

As variáveis renda e educação, também obtidas no Censo Demográfico, para melhor qualificarem os fluxos de emigração de maior densidade, podem ser desdobradas nos seguintes indicadores : rendimentos da ocupação principal até dois salários mínimos; rendi-mentos maiores que dez salários mínimos; porcentagem de analfabe-tos; porcentagem com baixa ou alta educação, isto é, a população maior que 20 anos com no máximo quatro anos de estudo ou que estão na universidade ou já passaram por ela (Tabela 7).

Cada um dos fluxos era razoavelmente heterogêneo, en-tretanto, na sua grande maioria, era a emigração de uma população de um nível social extremamente baixo, onde 63,0% da população ocupada tinha um rendimento que não ultrapassava dois salários mínimos e, somente, 2,7% recebiam acima de dez. Do ponto de vista educacional, a taxa de analfabetismo chegava a mais de 14,0% e, entre os que estudaram, 53,0% não ultrapassaram quatro anos de estudo e, apenas, 3,2% passaram pela Universidade.

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Apesar das diferenças entre os fluxos de emigrantes de BH para RMBH, eles podem ser agrupados segundo algumas característi-cas comuns. Os que se destinavam a Ribeirão das Neves, Ibirité e Vespasiano – e que representavam um terço do total dos emigrantes – são os que têm indicadores sociais mais desfavoráveis. Era uma população pobre, empurrada de BH em função dos processos seletivos comandados, principalmente, pelo mercado imobiliário, e que eram atraídos pela oferta de loteamentos e conjuntos habitacionais extre-mamente precários. Os que se destinavam a Santa Luzia tinham condições sociais ligeiramente superiores devido as oportunidades oferecidas pelo seu incipiente distrito industrial.

Os que se destinavam a Sabará, merecem uma análise a parte, pois este município se constitui numa “cidade dormitório”, não só para a população mais pobre, que passou a residir na periferia da sua zona urbana ou mesmo na sua área considerada rural, mas também para setores da classe média que optaram por residir na tranqüilidade de uma das mais antigas cidades de Minas.

Contagem e Betim, como já mencionamos se constituem no núcleo do “corredor industrial da RMBH”, portanto, além de local de residência para a população mais pobre, se tornaram um importan-te espaço do mercado de trabalho metropolitano e, conseqüenimportan-temenimportan-te,

Tabela 7

EMIGRAÇÃO DE BH PARA RMBH FLUXOS DE ALTA DENSIDADE DEMOGRÁFICA, SEGUNDO O RENDIMENTO E A EDUCAÇÃO (%)

1981-1991

Indicadores Betim Contagem Ibirité das NevesRibeirão Sabará SantaLuzia Vespasiano Total Até 2 SM 62,9 50,7 75,7 73,3 66,9 65,4 72,2 62,6 > que 10 SM 3,2 4,5 1,2 0,6 3,5 1,7 0,9 2,7 Analfabetos 13,2 10,3 19,5 19 14,3 13 18,3 14,3 Baixa Educação 54,5 40,8 67,5 64,4 53,8 55,5 62,2 53,3 Alta Educação 3,5 5,7 0,9 0,9 4,4 2,1 0,9 3,2 Fonte: FIBGE – Censo Demográfico de 1991.

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um sítio de oportunidades ocupacionais diversificadas para os emi-grantes. Não seria por outra razão, os que emigraram para Contagem, principalmente, apesar da nítida predominância dos mais pobres, eram os que apresentavam os melhores níveis econômicos e sociais.

Os restantes dos emigrantes de BH para RMBH, que representavam 8,0% do total, podem ser agrupados em dois tipos de fluxos de baixa densidade demográfica. O primeiro, chama a atenção pelos níveis baixíssimos de renda e educação dos emigrantes (Tabela 8). Os que foram para Igarapé apresentavam uma melhor participação nos níveis mais altos de educação e renda, relativamente aos que se destinaram aos outros municípios deste grupo. Trata-se de uma região onde predomina a produção de hortigranjeiros que abastece a BH e o seu mercado de trabalho agrícola é razoavelmente desenvolvido, den-tro dos padrões da região meden-tropolitana.

O outro tipo de fluxos de baixa densidade demográfica, tem os mais altos índices de educação e renda (Tabela 9). Com a ressalva de Pedro Leopoldo, que devido a sua distância de BH, reduz muito o movimento intermunicipal cotidiano, nos outros municípios se locali-zam os principais condomínio da classe média e alta, que na maioria dos casos, servem apenas de residência para o emigrantes, com o local

Tabela 8

EMIGRAÇÃO DE BH PARA RMBH FLUXOS DE BAIXA DENSIDADE DEMOGRÁFICA E MENOR NÍVEL DE RENDIMENTO E EDUCAÇÃO (%)

1981-1991

Indicadores Igarapé Mateus Leme Esmeraldas Raposos Rio Acima

Até 2 SM 79,5 72,3 81,4 59,5 69,8

> que 10 SM 4,2 1,4 1,7 0,0 0,0

Analfabetos 21,4 14,9 21,1 17,6 12,3

Baixa Educação 73,1 61,9 70,4 58,5 71,0

Alta Educação 4,3 3,5 2,0 0,0 0,0

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de trabalho se mantendo em BH. O caso mais expressivo era os emigrantes para Nova Lima, que possuíam as mais altas porcentagens de pessoas com os rendimentos da ocupação principal acima de 10 salários mínimos, 36,7%, e mais de 40,0% com nível universitário. Estes emigrantes engrossam as fileiras dos 12,2% da população de Nova Lima que entram e saem, diariamente,de Belo Horizonte, prin-cipalmente, em função do trabalho. Não podemos deixar de sublinhar que a mudança de residência para os municípios vizinhos de BH, em busca de regiões com uma melhor qualidade de vida é um privilégio reservado a uma proporção demograficamente inexpressiva, quando consideramos o conjunto dos emigrantes.

O movimento pendular cotidiano que encontramos entre os que emigraram para os condomínios de Nova Lima, pode ser encontrado em outros municípios Os dados da Pesquisa Origem – Destino nos permite estimar esta mobilidade diária das pessoas que entram e saem diariamente de BH, provenientes de municípios da RMBH. Selecionando aqueles municípios com os quais BH mantém uma grande emigração, ou como chamamos, para onde saem os fluxos de alta densidade, observamos que quase 20,0% do total da população destes municípios, cerca de 284.430 pessoas, vinham a BH e retorna-vam no mesmo dia.

Tabela 9

FLUXOS DE BAIXA DENSIDADE DEMOGRÁFICA E MAIOR NÍVEL DE RENDIMENTO E EDUCAÇÃO (%)

1981-1991

Indicadores Nova Lima Brumadinho Caeté Lagoa Santa LeopoldoPedro

Até 2 SM 32,4 51,7 32,2 46,0 56,7

> que 10 SM 36,7 19,3 10,9 12,3 12,1

Analfabetos 10,6 9,5 23,1 13,1 10,4

Baixa Educação 30,0 45,1 49,3 32,2 43,8

Alta Educação 40,2 17,7 15,2 17,0 12,1

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A dinâmica econômica da região metropolitana, como já mostramos, tem levado a expulsão da população da capital, a mais pobre em sua grande maioria, em direção aos municípios vizinhos. Empurrada para fora da cidade, fundamentalmente, pelo mercado imobiliário, uma grande parte dela retornava diariamente a BH para trabalhar – a maior parte, 57,0% – ou para ter acesso ao comércio ou a algum serviço de educação ou saúde.

Os dados são notáveis, quase cem mil pessoas de Contagem vinham diariamente a BH e retornavam. O mesmo ocorria com mais de um quarto da população de Ribeirão das Neves, Ibirité e Sabará e, um pouco menos, com os habitantes de Santa Luzia. O que se constitui num bom indicador da importância do mercado imobiliário como causa da emigração, principalmente, da população mais pobre, que compunha a grande maioria dos emigrantes para estes municípios.

Betim é um caso interessante, somente 6,6% dos seus moradores realizavam o movimento pendular, apesar dele ter atraído

Tabela 10

MOVIMENTO PENDULAR COTIDIANO DA RMBH PARA BH 1996

Município Entram e saem de BH Motivo: Emprego % da Pop.

Betim 16.509 10.532 6,6

Contagem 99.334 55.340 20,2

Ibirité 32.675 14.632 27,4

Ribeirão das Neves 54.802 31.051 27,8

Sabará 25.459 14.253 25,3 Santa Luzia 35.817 23.703 23,5 Vespasiano 8.196 4.611 11,3 Subtotal 272.792 154.122 19,7 Outros 11.638 – – Total 284.430 – – Fonte: CEDEPLAR/PBH, 1997.

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uma quantidade razoável de imigrantes de BH. Isto mostra a impor-tância, também, do mercado e trabalho na região do “corredor indus-trial da RMBH” – o que já havíamos chamado atenção no caso de Contagem.

A importância deste mercado de trabalho pode também ser observada numa outra perspectiva. Belo Horizonte, também, era origem deste movimento pendular, ainda que numa quantidade muito menor, aproximadamente, 76.435 dos seus habitantes circulavam diariamente na RMBH. A grande maioria, 80,0%, saiam – e voltavam no mesmo dia – para Contagem e Betim, ou seja, em direção ao “corredor industrial” para trabalhar.

As evidências nos levam a supor que os emigrantes de BH para RMBH, na sua enorme maioria, com baixo nível de renda e educação, foram excluídos da capital mineira, principalmente, pelos mecanismos seletivos do mercado mobiliário, mas tendem a retornar diariamente a Belo Horizonte em função do emprego, a grande parte, ou na procura de algum serviço de educação ou saúde. No caso de Betim e Contagem havia, também, o peso da atração de um mercado de trabalho bastante diversificado. Mas mesmo estes municípios – o caso mais excelente é o de Contagem – não ficavam de fora da intensa circulação metropolitana da população mais pobre.

5 A MOBILIDADE ESPACIAL DA POPULAÇÃO EM BELO HORIZONTE

Para concluir, seria interessante analisar, do ponto de vista da mobilidade espacial da população, como se articulam o cres-cimento das diferentes regiões de BH com os grandes Vetores de expansão da RMBH.

Comecemos avaliando a dinâmica demográfica de Belo Horizonte, numa perspectiva espacial. Já havíamos mencionado o acentuado declínio das suas taxas de crescimento populacional em função da grande redução das taxas de fecundidade, das imigrações intra-estaduais e, principalmente, das emigrações de BH para o res-tante da RMBH. Entretanto, este declínio não tem sido homogêneo, observamos uma grande diversidade no comportamento demográfico diversas regiões da cidade (Tabelas 11 e 12).

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Tabela 11

POPULAÇÃO DAS REGIÕES DE BH 1970-1991 Regiões de BH* População 1970 1980 1991 1 Central 98.154 85.525 72.616 2 Centro-Sul 123.081 176.521 204.109 3 Betânia (Oeste 2) 11.680 33.300 48.070 4 Oeste 1 134.442 156.517 156.188 5 Noroeste 106.391 108.979 100.176 6 Nordeste 167.124 187.647 181.287 7 Leste 245.053 281.299 269.860 8 Pampulha (Norte) 52.855 99.388 137.615 9 Barreiro. 113.854 232.756 299.972 10 Ressaca (Noroeste) 66.579 134.160 160.160 11 Venda Nova (Norte) 38.175 117.269 170.114 12 Aarão Reis (Nordeste) 77.642 167.495 219.994

Total BH 1.235.030 1.780.855 2.020.161

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1970,1980 e 1991. * Oeste 1 = Calafate + Barroca + Gameleira

Noroeste = Carlos Prates + Padre Eustáquio Nordeste = Lagoinha + Cachoeirinha + Renascença Leste = Floresta + Horto + Santa Efigênia

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Houve uma diminuição generalizada nas taxas de mento de todas as regiões, e algumas delas, que já tinham um cresci-mento muito baixo na década de setenta, entre 1981/91, passaram a perder população em termos absolutos. Neste caso se incluem as regiões Central, parte da Oeste, Noroeste, Nordeste e Leste. Aquelas que se incluem dentro dos Vetores de expansão da capital mineira – e da sua região metropolitana – tiveram um crescimento razoável: a Betânia e o Barreiro, que se situam dentro do itinerário do “corredor industrial Oeste da RMBH”, e a Pampulha, Venda Nova e Aarão Reis, articuladas ao Vetor de expansão Norte.

Se consideramos a participação relativa no crescimento populacional, as regiões associadas ao Vetor Norte foram responsá-veis, entre 1980/91, por 60,0% do crescimento absoluto de BH, e

Tabela 12

TAXA DE CRESCIMENTO E DELTA DAS REGIÕES DE BH 1970-1991

Regiões de BH Taxa de crescimento Delta

1970-80 1980-91 1970/80 1980/91 1 Central –1,37 –1,48 –2,31 –5,39 2 Centro-Sul 3,67 1,33 9,79 11,53 3 Betânia (Oeste 2) 11,05 3,39 3,96 6,17 4 Oeste 1 1,53 –0,02 4,04 –0,14 5 Noroeste 0,24 –0,76 0,47 –3,68 6 Nordeste 1,17 –0,31 3,76 –2,66 7 Leste 1,39 –0,38 6,64 –4,78 8 Pampulha (Norte) 6,52 3,00 8,53 15,97 9 Barreiro 7,41 2,33 21,78 28,09 10 Ressaca (Noroeste) 7,26 1,62 12,38 10,86 11 Venda Nova (Norte) 11,88 3,44 14,49 22,08 12 Aarão Reis (Nordeste) 7,99 2,51 16,46 21,94

Total BH 3,73 1,15 100,00 100,00

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aquelas dentro do “corredor industrial oeste” por 45,0%. A Região Centro-Sul, também, teve uma participação importante, nela coexis-tem algumas favelas de grande porte e bairros das classes média e alta. Não devemos nos surpreender se o somatório das porcentagens das contribuições destas regiões para o crescimento ultrapassa os 100,0%, pois algumas delas tiveram uma participação negativa.

As informações da pesquisa Origem-Destino, a que já nos referimos, nos possibilita analisar a mobilidade residencial entre as diversas regiões e, conseqüentemente, estimar as “taxas líquidas de migração”. As aspas são propositais, já que a mobilidade intramunici-pal não corresponde ao conceito clássico de migrações, mas, com a devida licença teórica, utilizaremos da denominação – e não do con-ceito – para facilitar a compreensão. Também gostaríamos de advertir que as informações sobre a mobilidade residencial se referem ao período 1980/92, portanto diferente do tempo intercensitário. Em termos, do rigor analítico necessário, vale sublinhar que estamos supondo que a mobilidade entre 1980/92 obedecia a uma lógica seme-lhante a de 1981/1992. Conhecendo a dinâmica da RMBH, a hipótese é, certamente, realista. Os dados da pesquisa Origem-Destino nos possibilitam, também, diferenciar a mobilidade entre as diferentes regiões de BH – a intramunicipal – e aquela entre cada região e os municípios da RMBH – a intermunicipal.

As taxas “líquidas de migração intramunicipais” mostram como as regiões que mais contribuíram para o crescimento de BH, tem sido fortemente alimentadas pela mobilidade espacial da população dentro da própria cidade (Tabela 13). Aquelas associadas a expansão do Vetor Norte, tinham as taxas positivas mais altas, Aarão Reis, 11,3%, Venda Nova,14,0% e a Pampulha, com uma taxa relativamente menor, 5.2%. Eram altas, também, as taxas líquidas das regiões articuladas ao “corredor industrial oeste”: Betânia, 10,3%, Ressa-ca,7,7% e o Barreiro, 5,4%.

Observando as taxas líquidas intermunicipais, verificamos que todas as regiões tinham as suas taxas negativas, a exceção da Centro – Sul, mesmo assim muito baixa. Mas, o mais interessante, do ponto de vista analítico, é que aquelas regiões ligadas à expansão dos Vetores Norte e Oeste, que tinham altas taxas intramunicipais, quan-do observadas a partir quan-dos seus fluxos intermunicipais, apresentam taxas negativas e relativamente altas.

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Isto sugere que através dos grandes vetores de expansão de BH e da RMBH, funciona uma força social centrífuga – de expulsão – comandada pelos mecanismos seletivos dos mercados de trabalho e imobiliário –, que empurra, principalmente, as popula-ções mais pobres, em direção às regiões periféricas da cidade e, posteriormente em direção aos municípios vizinhos. Esta força social, pela sua potência, pode mesmo deslocar a população direta-mente, sem a etapa de uma região periférica, diretamente para outra. As altas taxas de migração intermunicipal das regiões mais velhas da cidade, como a Oeste1, Noroeste e Nordeste, e que já se constituíram num lugar de residência preferencial dos trabalhado-res, que se ocupavam nas indústrias de bens de consumo e nas atividades comerciais que nelas se localizavam.

Tabela 13

TAXAS LÍQUIDAS DE MIGRAÇÃO INTRAMUNICIPAL, INTERMUNICIPAL 1981-1991

Regiões de Belo Horizonte Taxas líquidas

Intramunicipal Intermunicipal Intra+Inter

1 Central –6,89 –4,76 –11,65 2 Centro-Sul –1,53 1,32 –0,21 3 Betânia (Oeste 2) 10,28 –2,79 7,49 4 Oeste 1 –7,68 –11,52 –19,20 5 Noroeste –14,57 –7,78 –22,35 6 Nordeste –9,01 –8,01 –17,02 7 Leste –15,32 –7,06 –22,38 8 Pampulha (Norte) 5,20 –10,50 –5,30 9 Barreiro 5,43 –5,94 –0,51 10 Ressaca (Noroeste) 7,66 –6,39 1,27

11 Venda Nova (Norte) 14,00 –10,06 3,94

12 Aarão Reis (Nordeste) 11,32 –6,11 5,21 Fonte: CEDEPLAR/PBH, 1997.

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Esta força social de exclusão pode, também ser observada através da análise da mobilidade residencial intramunicipal (Tabela 14). Considerando as regiões que mais recebem população, em ambos os Vetores, notamos que a maior parte dos seus “imigrantes” vêm das regiões Oeste 1, Noroeste, Nordeste e Leste.

Tabela 14

BELO HORIZONTE: MOBILIDADE INTRAMUNICIPAL (%) 1980-1992

Regiões de BH Regiões de destino

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Total 1 Central 0,00 33,59 0,00 15,74 7,20 6,72 12,33 5,72 2,03 1,52 1,56 3,13 7,75 2 Centro-Sul 40,89 0,00 7,03 22,06 12,00 7,56 15,97 5,90 7,88 4,25 4,70 5,00 10,01 3 Betânia (Oeste 2) 0,00 1,17 0,00 5,56 0,97 1,18 1,12 1,62 8,27 1,04 2,55 0,48 2,13 4 Oeste 1 8,13 21,60 45,16 0,00 15,05 9,83 8,80 7,61 22,23 11,06 7,23 2,77 11,15 5 Noroeste 7,51 3,26 7,63 12,97 0,00 13,81 6,95 7,80 6,52 31,00 6,38 2,62 8,83 6 Nordeste 7,72 4,98 3,52 5,66 21,70 0,00 23,47 23,04 8,95 10,38 15,87 25,93 13,38 7 Leste 21,46 20,84 11,49 11,28 13,80 27,15 0,00 14,77 16,86 17,17 18,04 28,94 17,84 8 Pampulha (Norte) 7,29 3,50 1,23 5,87 4,55 10,04 5,16 0,00 4,30 6,72 24,54 13,18 8,31 9 Barreiro 1,07 3,63 16,05 10,97 3,81 4,05 6,10 3,01 0,00 8,49 2,84 3,17 4,57 10 Ressaca (Noroeste) 1,83 2,33 3,62 3,96 13,12 3,38 7,08 4,92 8,08 0,00 5,43 5,68 4,83 11 Venda Nova (Norte) 2,70 3,47 0,99 4,10 5,07 5,84 3,23 17,41 7,31 5,09 0,00 9,09 5,81 12 Aarão Reis (Nordeste) 1,40 1,63 3,30 1,82 2,74 10,44 9,79 8,20 7,56 3,27 10,86 0,00 5,39 Total BH 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 Fonte: CEDEPLAR/PBH, 1997.

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É claro que não devemos desconhecer que uma parte, certamente bem menor, destes fluxos obedeciam a uma força social inversa, ou seja, se moviam em direção a áreas socialmente mais valorizadas. Um bom exemplo é o caso da Centro-Sul, onde residem boa parte da população de renda mais alta da capital mineira: para lá se mudaram cerca de 9,2% do total dos que se moveram de residência, vindo, principalmente, das regiões Central, Oeste 1 e Leste. Já mencionamos, também, que nesta região existe um con-junto de favelas que devem ter recebido uma porção destes fluxos, mas na sua maioria, provavelmente, eles não teriam como origem as regiões que citamos.

Os dados revelam que existe uma outra força social – no caso centrípeta – que estimula a uma certa inércia espacial e social, e que faz com que a população transfira de residência dentro de sua própria região ou para uma próxima, numa porcentagem que variava, segundo cada região, de 39,0% a 70,0%. Estas altas porcentagens mostram, como na configuração do espaço urbano, esta força atua no sentido de estabelecer vizinhanças sociais mais estáveis ou de tornar mais rígida a estratificação do espaço social.

A pesquisa Origem – Destino, como já nos referimos, possibilita a análise das migrações intermunicipais, especificando a região de origem. Vamos considerar somente os fluxos de alta densi-dade, pois eles representam mais de 90,0% dos emigrantes de BH para RMBH e neles estão representados os municípios mais importantes dos Vetores de Expansão (Tabela 15).

Mais uma vez, as evidências empíricas indicam que as emigrações de BH para a RMBH expressam uma força social de exclusão espacial que pode ocorrer em duas etapas. Se consideramos os municípios articulados à expansão do Vetor Oeste, eles eram alimentados, principalmente, pelos emigrantes das regiões da zona oeste de BH que mais receberam “migrantes”intramunicipais – os casos mais notáveis eram o Barreiro e a Ressaca. A Região Oeste 1 poderia ser considerada uma exceção, a sua vizinhança com os muni-cípios da Região Oeste, provavelmente facilitaria uma emigração direta, sem uma etapa intermediária na própria capital mineira.

No caso dos município do Vetor Norte e Leste, o mesmo fenômeno pode ser observado: os seus imigrantes, tinham como ori-gem, principalmente, as regiões de Venda Nova, Aarão Reis,

(26)

Pampu-lha, as mais importantes regiões de atração migratória intramunicipal de BH. A Região Leste seria um caso a parte, sua proximidade espacial com Sabará e Santa Luzia facilitava a emigração direta.

Tabela 15

EMIGRANTES DE BH PARA RMBH,

FLUXOS DE ALTA DENSIDADE REGIÃO DE ORIGEM DOS EMIGRANTES 1980-1992

Regiões de BH*

Municípios da RMBH

Betim Contagem Ibirité das NevesRibeirão Sabará Santa Luzia Vespasiano 1 Central 3,03 2,95 0,00 0,80 2,08 2,29 0,00 2 Centro-Sul 11,46 2,55 2,43 5,63 1,66 5,73 2,87 3 Betânia (Oeste 2) 0,91 2,34 4,37 0,67 0,12 0,50 1,22 4 Oeste 1 12,84 12,95 2,77 5,69 2,50 5,99 16,51 5 Noroeste 3,75 11,04 0,00 5,09 3,71 5,76 9,09 6 Nordeste 4,45 7,50 1,89 7,72 7,84 11,50 3,80 7 Leste 6,68 11,47 7,33 12,37 33,80 19,27 8,93 8 Pampulha (Norte) 5,82 6,71 1,36 9,97 0,12 12,09 8,87 9 Barreiro 32,42 20,75 64,41 4,78 8,46 6,22 8,43 10 Ressaca (Noroeste) 6,54 15,38 8,29 6,75 1,99 4,05 10,79 11 Venda Nova (Norte) 5,35 3,37 1,44 31,05 6,96 9,90 18,90 12 Aarão Reis (Nordeste) 6,74 3,00 5,73 9,47 30,77 16,69 10,60 Total BH 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 Fonte: CEDEPLAR/PBH, 1997.

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6 CONCLUSÕES

A emigração de Belo Horizonte, para a sua região metro-politana, tem sido decisiva para a redução do seu crescimento popula-cional, certamente a causa mais importante. Mas o seu significado ultrapassa a sua relevância demográfica, esta intensa interação popu-lacional, estimulada pela periferização da população mais pobre, tem sido uma marcante força social determinante na configuração do espaço urbano, reforçando a sua dimensão metropolitana. A conurba-ção é só a expressão espacial da metrópole, o seu significado maior é proporcionado pelas intensas interações sociais – onde as migrações são o fato mais marcante – e pelas fortes interrelações das atividades econômicas devido a sua realocação no espaço metropolitano (Brito, 1996).

Nesta perspectiva, os dados que analisamos estão longe de mostrar qualquer forma de desmetropolização, o que poderia ser falsamente deduzido pela redução das taxas de crescimento populacio-nal. Motivado, em grande parte, pelo crescimento das emigrações da capital em direção aos outros municípios metropolitanos, o processo de desconcentração urbana é uma das faces da intensificação do processo de metropolização. Na verdade, as emigrações e a inversão espacial do crescimento demográfico têm mostrado, com maior clare-za, é a sua face mais perversa: a metropolização da pobreza.

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7 BIBLIOGRAFIA

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Referências

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