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Hipocalcemia em efetivos leiteiros: Inquérito no terreno sobre a incidência, tratamento e prevenção

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Academic year: 2021

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Relatório Final de Estágio

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

HIPOCALCEMIA EM EFETIVOS LEITEIROS: INQUÉRITO NO TERRENO

SOBRE A INCIDÊNCIA, TRATAMENTO E PREVENÇÃO

Catarina Ribeiro dos Santos Ferreira

Orientador

Prof. Doutor Paulo Pegado Cortez

Co-orientadores

Dra. Ana Paula Peixoto Dr. John Borzillo

Dr. Mário Jorge Fontes da Silveira

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Relatório Final de Estágio

Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

HIPOCALCEMIA EM EFETIVOS LEITEIROS: INQUÉRITO NO TERRENO

SOBRE A INCIDÊNCIA, TRATAMENTO E PREVENÇÃO

Catarina Ribeiro dos Santos Ferreira

Orientador

Prof. Doutor Paulo Pegado Cortez

Co-orientadores

Dra. Ana Paula Peixoto Dr. John Borzillo

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iii

Agradecimentos

“Que um dia possas ser uma boa treinadora de vacas”, Rosa Teresa de Castro Ribeiro, 2018

Este foi um dos percursos mais difíceis da minha vida, com percalços e obstáculos que julguei nunca ter de ultrapassar e sei que sem vocês eu não seria nada.

Queria agradecer à minha mãe, que sempre me apoiaste e deste a mão, que foste a fonte da minha força até agora, mesmo já não estando a meu lado. És a minha inspiração e espero um dia ter metade do coração que tiveste.

À minha família, em destaque à minha tia, avó e prima Lena. Obrigada por me terem proporcionado todas as oportunidades para poder chegar aqui e por todo o amor incondicional que me dão.

Às minhas irmãs, que são as minhas companheiras de guerra. Juntas até à morte.

À Mimi, meu grande símbolo de paz, deixo um agradecimento especial por estar comigo sempre, por ser inabalável nas suas convicções e por acreditar e ver sempre o melhor das pessoas. Porque é a amiga que todos desejam e que poucos estimam. Porque foi e é um pilar na minha vida.

À Di, a minha Dianinha, que com o seu coração de ouro me incluiu na sua vida quando menos esperava. Somos a família que escolhemos. E serás minha irmã para sempre.

À Ju, a minha querida Joana, obrigada por me ajudares sempre. Obrigada por todas as boleias que me deste, até quando eu estava de muletas. Obrigada por todas as vezes que me animas e pelas horas que perdemos a conversar sobre a vida.

À minha homónima Catarina Ferreira, por ter tido a paciência de me aturar. Obrigada por seres uma pessoa excecional, por me aceitares exatamente como sou e por nunca me deixares cometer um erro sem antes me chamares à atenção.

Obrigada por serem as minhas amigas para a vida. Obrigada pelos risos, pelo companheirismo, pela motivação, por me ajudarem sempre a ser uma pessoa melhor.

Ao Flávio, por ser o meu parceiro na vida. Agradeço-te do fundo do meu coração toda a paciência, amor, carinho e investimento que fizeste em mim. És o meu alicerce, o meu companheiro, o meu futuro.

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Obrigada ao Prof. Doutor Paulo Cortez que aceitou ajudar-me neste trajeto final, orientar-me e aconselhar-me para tirar o melhor proveito possível do período de estágio. Obrigada pela inspiração e por me motivar a seguir esta área.

À Drª. Ana Paula Peixoto, por me ter mostrado a sua incomparável dedicação e paixão, por me ter ajudado a crescer como futura Médica Veterinária e por me ter ensinado a nunca me esquecer da humanidade e compaixão desta profissão.

Ao Dr. Mário Silveira, ao Dr. João Fagundes e a toda restante equipa da UNICOL® por me

mostrar a beleza da prática clínica na ilha Terceira. Ao Dr. Mário, por me ajudar no período que descreve a maior pandemia dos nossos tempos e por sempre se disponibilizar para me ajudar.

To Dr. John Borzillo, thank you for teaching me how to be a wholesome veterinarian, for receiving me in your home and taking the time to teach me and treat me like family from day one. Thank you for the friendship we built, for the laughter on our way to the farms and for giving me the tools to be a strong and confident professional.

A todos os amigos que fiz pelo caminho, a todas as pessoas com que me encontrei e que tornaram este meu percurso, uma experiência inesquecível. Ao Nacho, Tatcho, El Gordo, à Pati, à Jessi, ao Pollo e a todos os outros que me ajudaram a crescer e a aprender.

Obrigada Marta e Mariana por me terem acompanhado neste percurso e orgulho-me em ser vossa futura colega.

Em especial queria agradecer ao Dr. Pablo Payo que me ensinou o que é trabalhar em equipa e que um veterinário só é tão bom, pelo quão bom ele é com os seus colegas e parceiros. À Drª. Carla Mendonça, que foi a minha inspiração e com ela me motivei a seguir por este campo da Medicina Veterinária.

Por fim, obrigada ao ICBAS e UP por me terem proporcionado um percurso académico do qual me orgulharei para o resto da minha vida.

Obrigada aos SASUP pela bolsa e pelo investimento que fizeram em mim, pelos serviços de saúde que disponibilizam para os alunos de graça, e que para mim foram uma linha de segurança. Obrigada por ajudarem a pessoa como um todo e não só mais uma estatística.

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v

Resumo

O objetivo deste relatório é a descrição da casuística de 16 semanas de estágio, no âmbito de Medicina, Cirurgia e Maneio Reprodutivo de Espécies Pecuárias, com ênfase para os bovinos leiteiros no Entre Douro e Minho, na Ilha Terceira e no Wisconsin (EUA), e a descrição do estudo realizado no terreno para ter uma melhor perceção do impacto da hipocalcemia nas explorações leiteiras dessas regiões.

A hipocalcemia puerperal é uma patologia ubiquitária com grande impacto na saúde animal das explorações leiteiras. Nesse sentido, revi a bibliografia existente até à data para me inteirar das recomendações mais recentes para diminuir a sua incidência, nomeadamente no panorama português. Adicionalmente, estudei a fisiologia do cálcio, a patogenia, os sinais clínicos e os protocolos terapêuticos da hipocalcemia, bem como os seus fatores de risco e as afeções secundárias, de modo a entender as suas consequências como um todo.

Assim, contactei produtores e questionei-os, sobretudo, sobre os seus protocolos de prevenção. Participei também no tratamento de vacas com hipocalcemia clínica (HC), registando todos os procedimentos e compreendendo melhor quais os fatores de risco preponderantes e, deste modo, quais as vacas mais suscetíveis a esta patologia metabólica. Ao longo da minha estadia em Barcelos, colhi sangue a 25 vacas em 2 explorações (12 e 13 em cada), para avaliar os valores de cálcio total no pós-parto. Desta maneira, não só se diagnosticou hipocalcemia clínica – a mais evidente –, mas também se avaliou a incidência da forma subclínica (HSC) nessas explorações.

Por fim, foi possível concluir que ainda há um longo caminho a percorrer no sentido de informar e sensibilizar o produtor a investir na prevenção da hipocalcemia, alertando-o sobretudo para os benefícios da suplementação PP de cálcio em vacas do grupo de risco e para os cuidados a ter na dieta da vaca seca, pois um correto maneio nutricional nesta altura é a estratégia mais eficaz para reduzir o impacto económico deste distúrbio metabólico nas explorações leiteiras.

(6)

Abstract

The purpose of this report is to describe my 16-weeks of externship, in the scope of Medicine, Surgery and Reproductive Management of Livestock Species, with emphasis on dairy cattle in the Portuguese region of Entre Douro e Minho, Island of Terceira (Azores, Portugal) and in the state of Wisconsin (USA), and the description of the study carried out in the field to have a better perception of the impact of hypocalcemia on dairy farms in these regions.

Puerperal hypocalcemia is a ubiquitous pathology with a major impact on the animal health of dairy farms. In this sense, I studied the calcium physiology, its pathogenesis, clinical signs and therapeutic protocols of hypocalcemia, as well as its risk factors and secondary diseases, in order to understand its consequences as a whole. In addition, I reviewed the existing bibliography to date to understand how to reduce its incidence, namely in Portugal.

So, I observed farmers and questioned them, namely about their prevention protocols. I took part in the cows’ hypocalcemia treatments, recording all procedures and understanding better which are the predominant risk factors and, thus, which cows are most susceptible to this disease. During my stay in Barcelos (Portugal), I collected blood from 25 cows of 2 herds (12 and 13 in each), to assess the total calcium values in the postpartum period. With this procedure, not only was clinical hypocalcemia diagnosed - the most evident -, but the incidence of the subclinical form (HSC) in these farmers was also assessed.

Finally, it was possible to conclude that there is still a long way to go in order to inform and convince Portuguese farmers to invest in the prevention of hypocalcemia, alerting them mainly to the benefits of calcium supplementation of PP cows belonging to the risk groups and to the care to be taken in the dry cow's diet, as correct nutritional management at this time is undoubtedly the most effective strategy to reduce the economic impact of this metabolic disorder on dairy farms.

(7)

vii

Índice

Agradecimentos ... iii Resumo ... v Abstract ... vi Índice ... vii Índice de ilustrações ... ix

Lista de símbolos, abreviaturas e siglas ... xi

Casuística ... 1

Barcelos, Portugal ... 1

Wisconsin, Estados Unidos da América ... 1

Ilha Terceira, Portugal ... 2

Introdução ... 3

Fisiologia do cálcio ... 4

Homeostasia do cálcio ... 4

Paratiróide e paratormona ... 5

Vitamina D3 e seus metabolitos ... 6

Calcitonina ... 7 Serotonina ... 7 Sinais clínicos ... 8 Hipocalcemia subclínica ... 8 Grau I ... 8 Grau II ... 9 Grau III ... 9

Diagnósticos diferenciais para hipocalcemia ... 10

Tratamento... 11

Afeções secundárias a hipocalcemia ... 12

Cetose ... 12 Metrite e mamite ... 12 Retenção placentária ... 13 Prolapso uterino ... 13 Deslocamento do abomaso... 14 Fatores de risco ... 14 Magnésio ... 14 Fósforo ... 15

(8)

Alcalose metabólica ... 15 Idade ... 15 Raça ... 15 Condição corporal ... 16 Alimentação ... 16 Prevenção ... 16 Dieta aniónica ... 16

Dieta pobre em cálcio ... 17

Suplementação no periparto ... 18

Suplementação oral de cálcio ... 19

Suplementação de vitamina D ... 19

Estudo ... 20

Material e métodos ... 20

Questionário ... 20

Incidência da hipocalcemia subclínica em duas explorações de Barcelos ... 21

Resultados ... 22 Portugal ... 22 Barcelos ... 24 Wisconsin ... 25 Açores ... 26 Discussão e conclusão ... 27 Bibliografia ... 29

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ix

Índice de ilustrações

Índice de figuras

Figura 1 - Fisiologia do Cálcio simplificada – resposta à hipocalcemia... 6 Figura 2 - Vaca B: grau 2 de hipocalcemia clínica. Decúbito esternal; deprimida e com a cabeça virada para o flanco direito. ... 9 Figura 3 - Vaca “A”: grau 3 de hipocalcemia clínica. Decúbito lateral com pescoço estendido e em posição de esforço respiratório. ... 9 Figura 4 -Vaca A com timpanismo devido a acumulação de gás no rúmen. ... 9 Figura 5 - vaca A após tratamento IV com Calzium®. ... 11

Índice de gráficos

Gráfico 1 - Procedimentos médico-veterinários realizados em Barcelos. ... 1 Gráfico 2 - Procedimentos médico-veterinários realizados em Wisconsin ... 2 Gráfico 3 - Procedimentos médico-veterinários realizados na ilha Terceira ... 2 Gráfico 4 - Histograma relativo à produção média diária de leite (MDL) L) das explorações questionadas em Portugal. A produção média é de 30,3 ± 6,2 l. ... 22 Gráfico 5 - Gráfico circular sobre a prevenção de hipocalcemia nas explorações portuguesas. 28% (9 explorações) não fazem prevenção; as restantes 72% (23 explorações) fazem prevenção, estando descriminado quais os tratamentos administrados. * Relativamente à profilaxia com Ca PO, 8 explorações (25%) usavam complementarmente vit D3 1000®. Contudo, este tratamento complementar não era instituído em todas as vacas,

ficando ao critério do produtor quais os animais que recebiam a vitamina. ... 23 Gráfico 6 - Gráfico circular relativo à abordagem terapêutica de vacas com hipocalcemia clínica. 65 % das explorações chamava o MV, 19% eram os próprios a realizar o tratamento de HC e, por fim, 16% recorria tanto ao MV como eles próprios travam os casos de HC. 23 Gráfico 7 - Gráfico circular que descreve as vias preferenciais para o tratamento com Ca em HC utilizado pelos proprietários. 100% usam a via IV para o tratamento, suplementando por vezes por outras vias: 9% complementa com PO; 37% com SC; 27% com PO e SC. 23

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Índice de tabelas

Tabela 1 - Análise dos resultados tendo em conta um cut-off de 8,0 mg/dl, num estudo de

12 vacas, com um nível de alarme de 30%. ... 21

Tabela 2 - Caracterização das explorações em Barcelos. ... 24

Tabela 3 - Exploração A: resumo da análise da concentração sérica de Ca no pós-parto das amostras recolhidas. (dados gentilmente cedidos pela Drª. Paula Peixoto e analisados pela SEGALAB®). ... 25

Tabela 4 - Exploração B: resumo da análise da concentração sérica de Ca no pós-parto das amostras recolhidas. (dados gentilmente cedidos pela Drª. Paula Peixoto e analisados pela SEGALAB®). ... 25

Tabela 5 - Caracterização das explorações em Wisconsin. ... 25

Tabela 6 - Protocolos de prevenção e suplementação de cálcio após o parto. ... 26

Índice de anexos Anexo I – Questionário ao produtor ... 31

Anexo II – Casuística do estágio curricular ... 32

Anexo III – Caracterização dos casos clínicos tratados em Portugal ... 33

Anexo IV – Inquérito realizado à exploração A ... 34

(11)

xi

Lista de símbolos, abreviaturas e siglas

ºC – Graus Celsius % – Percentagem # – Número ≤ – Menor ou igual ± – Mais ou menos

® – Produto ou marca registada

β – Beta

A

ATP – Adenosina Trifosfato

B

bpm – Batimentos por minuto BoPV – Papilomavírus Bovino

C

Ca – Cálcio

cAMP – Adenosina 3',5'-monofosfato cíclica CC – Condição Corporal

Cl – Cloro

Cruz. Leite – Cruzada de leite

D

DA – Deslocamento de Abomaso

DAD – Deslocamento de Abomaso à Direita DAE – Deslocamento de Abomaso à Esquerda

DCAD – Diferença catião-anião na Dieta DEL – Dias em Leite

Dl – Decilitro DU – Dose Única

E

EUA – Estados Unidos da América

F F – Fêmea H h – Hora(s) HC – Hipocalcemia Clínica HF – Holstein Frísia HSC – Hipocalcemia Subclínica I IA – Inseminação Artificial IC – Intervalo de Confiança IM – Via intramuscular IV – Via intravenosa K K - Potássio Kg – Quilograma(s) L l/L – Litro(s) M M – Macho

MDL – Média Diária de Leite mEq – Miliequivalente(s) min – Minuto(s) Mg - Magnésio mg – Miligrama(s) ml – Mililitro(s) MS – Matéria Seca MV – Médico Veterinário

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N

Na – Sódio

nmol – Nanomol(es) N/A – Não avaliado

P

pH – Potencial de hidrogénio PO – Per os, via oral

PP – Pré-parto PTH – Paratormona PTHrP – Proteína Hormona-relativa da Paratiroide PV – Peso Vivo S S – Enxofre SC – Via subcutânea SID – Uma vez por dia

SNC – Sistema Nervoso Central

V

Vit D – Vitamina D

(13)

1

Casuística

O meu estágio teve início a 2 de janeiro de 2020 e terminou a 8 de maio de 2020. Comecei o meu percurso em Barcelos na empresa AnaVet, Lda., com a Dr.ª Ana Paula Peixoto, onde permaneci 1 mês. Posteriormente, estive 1 mês a acompanhar a atividade profissional do Dr. John Borzillo na Central Wisconsin Ag Services no estado do Wisconsin, Estados Unidos da América, e, finalmente, 2 meses na UNICOL, Cooperativa Agrícola da ilha Terceira dos Açores, com o Dr. Mário Silveira.

Barcelos, Portugal

O meu primeiro estágio, com início a 2 de janeiro de 2020 e fim a 31 de janeiro de 2020, foi uma excelente oportunidade para aprender e conhecer um pouco mais sobre a realidade da clínica de campo. Fui orientada pela Dra. Paula Peixoto, onde comecei por assistir e praticar palpação transretal em controlos reprodutivos de algumas explorações, participei em consultas e em tratamentos médico-cirúrgicos (Anexo II). Tive ainda a oportunidade de consolidar a minha prática nos diagnósticos de gestação e raciocínio clínico e de realizar análise de sangue em 2 explorações para o estudo de níveis de cálcio nas mesmas.

Wisconsin, Estados Unidos da América

Neste período de 29 dias, que perfizeram o mês de fevereiro, tive a oportunidade de trabalhar e aprender com o Dr. John Borzillo e o Dr. Dave Hamman, que fazem ambos parte de uma empresa que disponibiliza não só serviços veterinários como também de agronomia no estado do Wisconsin dos Estados Unidos da América (EUA). Aí, pude praticar exame reprodutivo de forma intensiva, com recurso a um ecógrafo da marca Easy Scan®, com ambos os médicos

veterinários, o que compôs a maior parcela do meu estágio. Com o Dr. John Borzillo, exercitei a minha capacidade de raciocínio clínico, participando no tratamento de alguns casos clínicos, entre eles um surto de criptosporidiose em vitelos. Uma vez que o Dr. John Borzillo era sócio de uma exploração leiteira, a Heller’s Farm, surgiu a oportunidade de poder praticar inseminação artificial, a maioria realizada a tempo fixo devido à implementação de programas reprodutivos de sincronização. Adicionalmente, vacinei, ordenhei e entendi um pouco melhor o trabalho e dia-a-dia de um ordenhador e a sua importância na qualidade do leite. Pude ainda assistir a partos durante o quotidiano da exploração e atender a vitelos e vacas doentes (Anexo II). Além disso,

Reprodução 55% Medicina Clínica 43% Cirurgia 2%

Gráfico 1 - Procedimentos médico-veterinários realizados em Barcelos

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pude assistir a exames dinâmicos e estáticos de sala de ordenha, com o Dr. Hamman, não só na Heller’s Farm, como também numa outra exploração que tinha mudado recentemente o seu sistema de ordenha robotizado para manual. A componente cirúrgica foi a menos abordada neste período.

Ilha Terceira, Portugal

Nesta ilha, perfiz um total de 8 semanas de estágio curricular, de 2 de março a 8 de maio de 2020, com uma interrupção de uma semana no meio devido à pandemia da Covid-19. Neste local, realizei o meu estágio na cooperativa agrícola UNICOL, onde acompanhei 5 médicos veterinários, sendo o Dr. Mário Silveira o coorientador deste estágio. Visto que os serviços eram prestados a qualquer sócio da cooperativa, atendi não só a explorações leiteiras, como também explorações de vacas de carne e de pequenos ruminantes. Os procedimentos passavam por controlos reprodutivos agendados, pontuais e consultas médico-veterinárias, que incluíam tratamentos médico-cirúrgicos (Anexo II). Neste período, adquiri uma maior e melhor perspetiva sobre a bacia leiteira dos Açores, que é responsável por 1/3 da produção nacional de leite bovino, compreendendo melhor as nuances de produção de pastagem e de leite biológico.

Reprodução 45% Medicina Clínica 50% Cirurgia 5%

Gráfico 3 - Procedimentos médico-veterinários realizados na ilha Terceira

Gráfico 2 - Procedimentos médico-veterinários realizados em Wisconsin Reprodução 99% Medicina Clínica 1% Cirurgia ~0% 1%

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3

Introdução

A hipocalcemia é uma patologia que se desencadeia no período puerperal e que, geralmente, se manifesta imediatamente no pós-parto ou nos 2 a 3 dias seguintes. A sua incidência acarreta prejuízos não só pelo tratamento da patologia, como também pelas afeções secundárias que se podem desenvolver, tais como: distocia, retenção placentária, prolapso uterino, mastites, deslocamento do abomaso, entre outras. Cumulativamente, a deficiência em cálcio (Ca) conduz, direta ou indiretamente, a dois grandes fatores responsáveis pelo impacto económico numa exploração: (1) diminuição da fertilidade e (2) diminuição da quantidade de leite produzida. A percentagem de hipocalcemia subclínica (HSC) é variável de acordo com a literatura, variando entre 30 a 50% nas vacas paridas com mais de duas lactações. Por outro lado, a hipocalcemia clínica (HC) observa-se com menos regularidade, tendo esta uma taxa de prevalência de cerca de 5% no norte dos Estados Unidos da América e de 8% na Europa1–3.

Esta doença metabólica foi mencionada pela primeira vez em 1793 por um agricultor e ao longo dos anos referiam-se à mesma como sendo a razão pela qual as vacas eram incapazes de se levantar durante o periparto. Contudo, a sua patofisiologia não era ainda compreendida, pelo que, em 1897, especulavam que a causa era o envenenamento da componente nervosa na região do úbere após o parto, disseminando-se para o resto do corpo e resultando assim em sintomatologia sistémica. Como tal, o tratamento consistia na administração de potássio iodado, por via intramamária, que apesar de sabermos hoje não ser o tratamento indicado, diminuía a mortalidade em 30 a 36%. Somente em 1925 é que se associou a falta de cálcio no soro a alterações da paratiroide, especulando-se que se deveria a toxinas exógenas. Foi pelos esforços de Dryerre e Grieg, em 1925, e de Pulles, em 1933, que se começou a implementar o tratamento com borogluconato de cálcio, via IV e SC, para vacas em estado agudo e subagudo, sendo ainda atualmente o tratamento de eleição para a maioria dos casos de hipocalcemia. Em 1932, Little concluiu que as necessidades de Ca de vacas leiteiras no pré-parto (PP) eram 6 vezes superiores aos valores requeridos para manter a homeostasia. Nas décadas seguintes, foram realizadas investigações sobre a importância da paratiroide e da vitamina D no metabolismo do Ca e também do efeito das concentrações de fósforo e magnésio no soro na libertação e concentração sérica de Ca. Apenas no último terço do século passado é que se começou a explorar a prevenção da febre do leite através da biodisponibilidade de Ca na alimentação durante o período seco. Assim, foi possível concluir que uma dieta com baixas concentrações de Ca estimula a paratiroide a mobilizar as reservas de Ca ósseo, independentemente da absorção intestinal, bem como as dietas aniónicas em vacas no PP4.

Sabe-se agora que a sua fisiopatologia depende dos níveis de Ca no sangue, que são regulados por 3 intrincadas vias, dependentes principalmente da paratormona (PTH), tendo em conta a sua concentração e o seu efeito sobre a vitamina D e os rins. Desta forma, o Ca

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encontra-se disponível a nível ósencontra-seo e é possível encontra-ser captado também através da absorção intestinal e renal3.

O correto funcionamento destes mecanismos depende, assim, de diversos fatores, tais como: o maneio (e.g. alimentação no período seco); fatores genéticos (e.g. as vacas de raça Jersey têm uma maior predisposição do que as Holstein Frísian (HF)); e fatores do indivíduo (e.g. idade, número de partos (e consequentes lactações), entre outros)1.

Fisiologia do cálcio

Os níveis séricos de Ca são mantidos através de 3 vias essenciais: (1) as reservas esqueléticas de Ca, (2) a absorção intestinal e (3) a reabsorção renal do mesmo. Estes processos são regulados principalmente pela concentração da PTH que, por sua vez, está implicada na produção de 1,25-dihidroxivitamina D3, produzida a nível renal. A calcitonina exerce mecanismos

de feedback negativo, regulando a excreção renal de Ca5. A absorção intestinal ocorre,

essencialmente, no intestino delgado. No entanto, os pré-estômagos possuem também um papel ativo na sua captação6.

O Ca inativo circula ligado à albumina, enquanto que o ativo circula livremente sob a forma ionizada. Por vezes, na presença de hipoproteinemia (especialmente hipoalbuminemia), o Ca total sérico pode encontrar-se diminuído, com o Ca ionizado a apresentar valores normais. Há ainda uma pequena percentagem de Ca que está ligada a outros compostos aniónicos, tais como bicarbonato, citrato, fosfato e sulfato7.

O Ca é responsável pela estabilidade da contração muscular, atuando também nos nervos periféricos como estabilizador de membrana. Desempenha ainda um papel na libertação de acetilcolina a nível das junções neuromusculares, que é por sua vez responsável pela transmissão do impulso nervoso ao longo do músculo. Por último, o Ca é essencial na contratibilidade das células musculares1,5.

Homeostasia do cálcio

Para se poder realizar uma boa comparação das necessidades fisiológicas e de uma boa observação do equilíbrio mineral de uma vaca leiteira, ter-se-á como base de estudo uma vaca (HF) de 600 kg ao longo desta dissertação.

Uma vaca tem no total do seu organismo entre 19,8 a 21,5 g de Ca, dos quais 3 g se encontram na corrente sanguínea, 8 a 9 g nos líquidos extracelulares, 7,8 a 8,5 g no esqueleto e apenas . Assim, a concentração sérica de Ca apresenta um intervalo normal entre os 8,5-10 mg/dl. Tendo em conta as necessidades físicas diárias deste mineral, uma vaca HF requer 22 g de Ca por dia3,7.

(17)

5

O Ca é absorvido no trato gastrointestinal por duas vias, sendo que a mais importante é regulada pela vitamina D (vit D), permitindo o transporte ativo do Ca através das células intestinais. A outra dá-se pela passagem passiva do Ca nas junções intercelulares.

As perdas de Ca das vacas leiteiras centram-se em 4 vias: (1) na lactação (colostro ou leite), (2) no crescimento do feto, (3) nas perdas renais e (4) nas perdas fecais. Assim, uma fêmea perde entre 5,2 a 14 g através da urina e fezes, requer aproximadamente 1,1 g por cada litro de leite produzido (sendo que para a produção do colostro esse valor duplica) e providencia até 9 g de Ca/d para a mineralização da componente óssea do feto, pelo que se verifica um incremento exponencial nas necessidades da vaca nas últimas semanas de gestação, o que pode originar um balanço negativo de Ca. Assim, é normal que os valores plasmáticos deste mineral estejam diminuídos nas primeiras 12 a 24 h pós-parto7,8.

Paratiróide e paratormona

A paratiróide é o principal órgão responsável pela regulação do Ca e do fósforo. Nos ruminantes esta é composta por 2 pares de glândulas que se localizam ao redor da tiroide: o par cranial situa-se cranialmente à tiroide, enquanto que o par caudal se encontra na superfície medial tiroide. Esta glândula possui dois tipos de células: as oxifílicas, que se encontram inativas ou em estado de degeneração, e as principais, ou “chief cells” que são responsáveis pela produção de PTH5.

A PTH é composta por 84 aminoácidos e é produzida através de conversões processadas no retículo endoplasmático rugoso e complexo de Golgi das células principais, como outras hormonas de origem proteica. Esta hormona, altamente sensível a alterações dos níveis de Ca ionizado, é secretada, por exocitose, quando se verifica um decréscimo sérico deste mineral. Uma vez em circulação, esta hormona tem um tempo de semivida curto, de 5-10 min, visto que o fígado e o rim rapidamente a metabolizam5. Em contraste, é de relevância referir a associação

entre hipomagnesemia e hipocalcemia. Tal deve-se ao facto de a deficiência em magnésio inibir a resposta da PTH à quebra nos valores de Ca, pelo que não haverá resposta e assim perpetuar-se-á a hipocalcemia3.

A PTH ativa a passagem de Ca através das membranas dos osteócitos e osteoblastos, assim como o aumento da reabsorção óssea, por ação dos osteoclastos. Desta forma, estes processos são efeitos diretos da hormona no esqueleto ósseo que, simplificando, diminui a atividade osteoblástica e aumenta a atividade osteoclástica, promovendo uma libertação para o sangue de fósforo e Ca3,5. Tal mobilização vai provocar osteoporose transitória que,

posteriormente, se recupera durante a lactação mas que, num período inicial, resulta na perda de 9-13% do Ca total presente na estrutura óssea da vaca9.

(18)

A resposta renal repõe o nível sérico de Ca, desde que a diminuição do mesmo seja pequena e corresponda às perdas fisiológicas pela urina (menos de 1-2 g/vaca/dia). Contudo, perdas superiores de Ca estimulam a secreção da paratormona, durante um período de horas a dias, provocando alterações do metabolismo do osso. A produção de vitamina D3 (vit D3) aumenta, o

que irá conduzir a uma resposta indireta à PTH por parte do sistema

gastrointestinal e renal (figura 1). Em casos de alteração de absorção intestinal, como anorexia, úlceras abomasais ou indigestão do intestino delgado, pode surgir, portanto, sintomatologia de hipocalcemia devido a uma absorção deficitária2,3,5.

Vitamina D

3

e seus metabolitos

A vit D3, também comumente denominada colecalciferol, é uma molécula formada a partir

do dehidrocolesterol na pele que, aquando da incidência de luz solar, desencadeia a produção de vit D3. Recentemente, este composto passou a ser considerado uma hormona e não uma

vitamina visto ter inúmeros efeitos em locais distantes de onde foi produzida, sendo classificada como um pró-esteroide5.

A vit D3 é um precursor semelhante ao colesterol e pode ser encontrada na superfície da

pele, contudo o seu metabolito mais relevante, o calcitriol ou 1,25(HO)2D3, encontra-se nos rins,

onde sofre um processo de hidrólise. O 1,25(HO)2D3 é o metabolito ativo e principal agente no

mecanismo de mobilização de Ca. É devido à estimulação de PTH que se produz a enzima 1α-hidroxilase que vai permitir a conversão da vit D3 em 1,25(HO)2D3. O 1,25(HO)2D3 circula no

plasma, ligado à proteína de ligação de vit D, pelo que apenas 5% do seu total se encontra livre em circulação10.

Outras formas do organismo obter vit D são através da sua produção nos rins e da sua absorção intestinal sob a forma de vit D3 (20.000-30.000 UI/dia) ou sob a forma de vit D2,

tratando-se esta última de uma vitamina de origem vegetal. Alguns estudos revelaram que o metabolito desta hormona pode ser produzido concomitantemente na placenta da vaca gestante. Para obter uma melhor resposta à suplementação com vit D3 é necessário atingir uma dose que

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7

a 7 dias que antecedem o parto. Níveis altos desta vitamina podem ainda causar calcificação metastática dos tecidos moles9–11.

Calcitonina

Como mecanismo inverso ao da PTH, a tiroide secreta uma hormona, a calcitonina, que reage como mecanismo de feedback negativo. Assim, quando a quantidade de Ca aumenta no espaço extracelular, é estimulada a expressão genética desta proteína, composta por 32 aminoácidos, tal como a sua secreção de grânulos, de onde é secretada por exocitose5,12.

Outro mecanismo que desencadeia a libertação desta hormona é o aumento de hormonas do trato gastrointestinal, tais como a secretina, o glucagon e a gastrina, sendo a última a que possui o efeito mais potente. Esta é uma ferramenta que o organismo usa de modo a prevenir a hipercalcemia pós-prandial5.

O efeito ósseo é provocado maioritariamente pela afinidade desta hormona aos osteoclastos que, deste modo, resulta na sua inibição, diminuindo a velocidade de reabsorção óssea e, por isso, promovendo uma menor libertação de Ca e fosfato para o meio. Ademais, a calcitonina estimula ainda a retenção de fosfato pelo osso, o que exacerba a sua capacidade de provocar hipofosfatemia5.

Estudos recentes como o de Rodriguez et al., em 2015, demonstraram que, numa situação de HSC os valores de calcitonina eram superiores em hipocalcemias mais graves nos primeiros dias após o parto, do que em hipocalcemias de menor magnitude. Concomitantemente, registaram-se picos de calcitonina imediatamente ou após o aumento de PTH, devido a mecanismos de feedback negativo. Nesta situação, a vaca que apresentava níveis séricos de Ca diminuídos, pela ação da calcitonina ao contrariar os efeitos da PTH, teve dificuldade na recuperação da normocalcemia12.

Serotonina

A serotonina (5-HT) é uma monoamina com capacidade neurotransmissora no Sistema Nervoso Central (SNC) que, além das diversas funções já conhecidas, tem sido recentemente estudada quanto ao seu papel na homeostasia do Ca em vacas leiteiras. Laporta (2015) abordou a atividade da 5-HT na glândula mamária, onde é produzida e secretada, atuando como reguladora da expressão génica da proteína do leite e da indução da proteína hormona-relativa da paratiroide (PTHrP). Assim, trata-se de uma via independente da PTH na mobilização do Ca, pelo que não altera os valores da hormona no sangue13,14.

Adicionalmente, a serotonina estimula a produção de melatonina, que por sua vez afeta negativamente a produção de prolactina no período seco, provocando também uma mais relevante diminuição da produção de leite a meio do período de lactação. No entanto, estes efeitos só se verificam se a melatonina atingir concentrações elevadas13.

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Sinais clínicos

Estipula-se um nível de corte de concentrações de Ca sérico entre os 2 e os 2,3 mmol/l para HSC, dependo da literatura consultada. Considera-se hipocalcemia clínica no momento em que a vaca começa a demonstrar sintomatologia clínica. Contudo alguns autores referenciam Ca total <1.50 mmol/l como determinante para HC15.

A hipocalcemia pode manifestar-se em vacas com afeções concomitantes como cetose (em vacas de CC elevada) e costuma surgir entre as 24 h e as 72 h após o parto, cursando com diferentes níveis de gravidade e dividindo-se em 4 grupos: subclínica e clínica de grau I, II e III. Vacas não tratadas podem perecer da doença num intervalo mínimo de 12 h desde o início da exibição de sinais clínicos por asfixia (secundária a timpanismo) ou por colapso cardíaco1,3.

Hipocalcemia subclínica

As vacas com HSC apresentam uma concentração sérica de Ca abaixo do limite supramencionado, não demonstrando sinais clínicos de hipocalcemia. Contudo, a HSC pode ter efeitos negativos na fertilidade e produtividade dos animais afetados1,3,7.

Grau I

Numa fase mais inicial a vaca apresenta-se em estação e alerta, podendo demonstrar fraqueza muscular, tremores - geralmente mais visíveis nos grupos musculares maiores como os da região da coxa -, anorexia e temperamento nervoso. Algumas vacas exteriorizam a língua quando estimuladas na região da cabeça. Estes sinais clínicos podem passar despercebidos, parecendo simplesmente inquietação e demonstrando uma mudança constante de peso de um membro posterior para o outro. Nesta fase, é percetível a perda gradual da capacidade de manter a temperatura corporal (a vaca estará sujeita à temperatura ambiente), pelo que em quase todas as regiões de Portugal a vaca apresentará hipotermia3,16.

Em vacas com diminuição de magnésio (Mg) coexistente, poderão demonstrar sinais de tetania, uma vez que o Mg compete com Ca a nível juncional dos neurónios, inibindo a sua ação. Quando as vacas exibem hipomagnesiemia, não há competição entre estes minerais e, por isso, provoca-se uma aceleração dos impulsos nervosos e uma crescente instabilidade da membrana destas células8.

Os bovinos com HC e indigestão associadas podem apresentar as extremidades frias e estase marcada do trato gastrointestinal, o que se deteta na auscultação. A hipocalcemia pode evoluir para grau II e III, sendo por vezes fatal. Estes animais apresentam também desidratação, hiperglicemia e taquicardia3,8,16.

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Grau II

À medida que a hipocalcemia progride, a vaca tende a deitar-se em decúbito esternal e apresenta dificuldade em levantar-se, muitas vezes sem o conseguir. Há que ter em conta que em situações de decúbito, desencadeia-se a síndrome da vaca caída, onde os músculos e os nervos que estão contra o solo irão entrar em isquemia, e consequente necrose. O animal encontra-se deprimido, encostando a cabeça ao flanco. As contrações ruminais estão visivelmente diminuídas e as vacas começam a perder a capacidade de eructação, pelo que se pode observar timpanismo do flanco esquerdo, por acumulação de gás no rúmen. Em alguns casos, poderá ser necessário entubar ou a trocaterização do rúmen para libertar a pressão causada pelo gás ou líquidos acumulados. Em alguns bovinos, pode ainda observar-se uma dilatação pupilar, por incapacidade de contração da mesma, pelo que quando se avalia a reação pupilar com uma luz, encontra-se diminuida1,3,8,16.

A taquicardia sinusal é um sinal clínico recorrente nestas vacas. Surgem ainda arritmias cardíacas bem como contrações atriais prematuras secundárias à hipocalcemia e hipocalemia. Estas alterações cardíacas podem também ser secundárias à compressão do nervo vago, devido aos distúrbios gastrointestinais desencadeados ao longo da doença. Quando existe hipocalemia concomitante, podem detetar-se também sinais de fibrilação atrial (que pode variar dos 88 a 140 bpm)3.

Grau III

No estadio terminal da hipocalcemia, as vacas estão caídas e em decúbito lateral, geralmente com o pescoço esticado, devido a dificuldade respiratória. Os animais estão frequentemente em estupor ou coma e com um grau elevado de timpanismo. Nesta fase, podem vomitar devido ao aumento contínuo da pressão intra ruminal e incapacidade da manutenção do tónus muscular do músculo liso. A principal causa de morte por HC é a pneumonia por aspiração, Figura 2 - Vaca B: grau 2 de hipocalcemia

clínica. Decúbito esternal; deprimida e com a cabeça virada para o flanco direito.

Figura 3 - Vaca “A”: grau 3 de hipocalcemia clínica. Decúbito lateral com pescoço estendido e em posição de esforço respiratório.

Figura 4 -Vaca A com timpanismo devido a acumulação de gás no rúmen.

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já que as vacas vomitam em decúbito e propicia-se a aspiração de conteúdo ruminal, morrendo, geralmente, poucas horas após o decúbito lateral se não receberem tratamento1,3,16.

A frequência cardíaca aumenta durante o desenrolar da doença, mas o músculo cardíaco enfraquece e o retorno venoso fica comprometido, auscultando-se um pulso fraco e diminuição do débito cardíaco3.

Vacas em ambientes muito quentes e húmidos, ao invés de demonstrarem hipotermia, sofrem de hipertermia (pois não conseguem regular a sua própria temperatura), podendo mesmo padecer de golpe de calor. O stress térmico, exacerbado pela humidade alta e associado ao stress cardíaco, provoca o decúbito e degradação progressiva do quadro do animal3.

Diagnósticos diferenciais para hipocalcemia

Na abordagem à hipocalcemia devem ser incluídos alguns diagnósticos diferenciais. Dependendo do grau de HC, podemos considerar diferentes afeções3.

1. Deslocamento de abomaso à esquerda (DAE) devido à flacidez muscular que leva ao timpanismo no flanco esquerdo, com diminuição do som dos movimentos ruminais. Os animais podem exibir temperamento nervoso e taquicardia devido à dor3;

a. No tratamento médico (não cirúrgico) de DAE poderá estar recomendada a administração de Ca, via IV ou SC, já que podem surgir casos simultâneos de DA e HC. Assume-se que se pode desencadear HC por anorexia que diminui a ingestão de Ca e a sua consequente absorção intestinal.

2. Cetose nervosa, uma vez que quando a vaca está caída pode exibir sinais clínicos que se enquadram no quadro de HC ou mesmo hipomagnesemia. Costuma surgir no período puerperal, levando a ataxia e decúbito, além de que algumas vacas podem demonstrar nervosismo, tanto em HC como cetose nervosa. Há que considerar que frequentemente se tratam de vacas com elevada CC, o que implica descartar com tiras reativas para corpos cetónicos e glicemia. Nestes casos, uma patologia não exclui a outra podendo uma vaca apresentar ambas 3;

3. Neoplasias compressivas podem afetar a espinal medula, podendo surgir casos agudos com progressão continua de ataxia que pode levar a decúbito, pois a sintomatologia de ataxia em compressão da medula, nestes casos, costuma ser bilateral e simétrica. Contudo, é fácil de descartar, uma vez que estes casos não vão exibir mais nenhum sinal de quadro hipocalcémico, como hipotermia, tremores musculares, arritmias cardíacas, nem hiperglicemia3.

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Tratamento

O tratamento destas vacas deve ser implementado o mais rapidamente possível, especialmente se a vaca estiver caída. A administração de Ca, por via IV, permite repor rapidamente a concentração sérica de Ca mas pode ser fatal se administrada a uma taxa demasiado elevada pois pode provocar arritmias cardíacas e as vacas morrem durante a sístole cardíaca16.

Existem vários compostos químicos que permitem o tratamento de Ca por diferentes vias, mas o borogluconato (ou gluconato) de cálcio é a forma menos cardiotóxica para a vaca, especialmente se o objetivo for a administração rápida do mesmo. A dose recomendada por Goff (2008) é de 2 g Ca/100 kg PV, a uma velocidade de 1 g/min. Alguns exemplos de formulações são o Calcio Braun®, o Calzium®

e o Calciovet®. Esta via de administração permite manter

os níveis sanguíneos durante um período de 4 h pelo que se aconselha complementar a terapia com Ca por outras vias16.

A via SC, uma alternativa à IV, é muitas vezes preferida por produtores que não se encontram confortáveis em utilizar a via IV. No entanto, a circulação periférica pode estar comprometida pelo que a velocidade de absorção pode variar. A dose injetada por local varia entre os 50-75 ml e usam-se os mesmos produtos supracitados16. Tal como a via anterior, é

possível manter os níveis de Ca no sangue durante um intervalo de 4 h, devendo evitar-se formulações com cloreto de Ca e elevadas concentrações de glucose17.

A via PO constitui a forma mais fácil de muitos produtores administrarem ao seu gado o Ca que necessitam. Apesar de não ser o tratamento de eleição, pode ser usado como complemento a tratamentos IV ou em casos de HC grau I. O princípio deste tratamento é criar um gradiente forte o suficiente que provoca a absorção do Ca por transporte passivo ao longo do trato intestinal. As doses recomendadas rondam os 50 e os 125 g. O Ca pode ser administrado sob a forma de bolos ou líquido. A desvantagem de usar drench em vacas com hipocalcemia clínica é o facto de apresentarem diminuição do reflexo de deglutição e estarem, por isso, mais suscetíveis a pneumonias por aspiração2,7. No caso do Bovikalc®, recomenda-se a aplicação de um bolo

imediatamente no pós-parto e repetir a dose 12 h depois. Cada bolo deste produto contém 43 g de Ca, na forma de cloreto de cálcio e sulfato de cálcio. A percentagem de recidivas em vacas tratadas por via PO em relação à via IV é menor, pelo que em casos menos graves, pode ser benéfico o recurso a esta via3.

Figura 5 - vaca A após tratamento IV com Calzium®

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Por fim, existem preparações para uso IM mas esta via raramente é utilizada já que elevadas doses de Ca podem causar necrose dos tecidos, além de que marcam a carcaça e diminuem o seu valor económico16.

Existem outras medidas que podem ser implementadas para diminuir as perdas de Ca, como por exemplo, ordenhar parcialmente as vacas, mas neste caso é necessário considerar o aumento da probabilidade de mamites ambientais3.

Em casos de HC grau I, a administração de Ca por via SC está recomendada para compensar a diminuição da absorção intestinal de Ca e as contínuas perdas através do leite3.

Afeções secundárias a hipocalcemia

As situações de hipocalcemia predispõem a outras afeções que, no seu conjunto, vão contribuir para a deterioração progressiva da condição física do animal, o que resulta em prejuízos económicos, pelos tratamentos, e diminuição da produção de leite. A literatura suporta que há um maior risco de refugo tendo em conta os primeiros 60 DEL, para concentrações sanguíneas de Ca iguais ou abaixo às concentrações indicativas de HSC18,19.

As vacas com hipocalcemia, especialmente com HC, têm uma maior probabilidade de exibir complicações ou afeções como distocia (por inércia uterina), retenção das membranas fetais, metrite, entre outras3,20.

Cetose

A hipocalcemia provoca uma diminuição da produção pancreática de insulina, o que vai ter duas repercussões: (1) aumento da glicose no sangue – hiperglicemia; e (2) diminuição da inibição da lipase hormono-sensível21. Esta enzima mobilizará uma maior quantidade de energia

por via adiposa, pelo que está associada a valores séricos de β-hidroxibutirato e de ácidos gordos não esterificados aumentados. Os níveis elevados de β-hidroxibutirato18, geralmente superiores

a 1,2 mmol/l, em tiras rápidas de cetose indicam a presença de metabolismo cetogénico, podendo levar a sinais clínicos de cetose, nomeadamente sintomatologia nervosa – cetose nervosa3.

Metrite e mamite

A HSC aumenta em 224% a probabilidade de metrite. De facto, a taxa de incidência, em vacas até 12 DEL, de metrite é de 64,9% e de metrite puerperal é de 44,4%. O sinal clínico que permite diferenciar ambas e as classifica como puerperais é a temperatura corporal acima dos 39,5ºC22.

A deficiência em Ca provoca atonia dos tecidos musculares, pelo que tanto a capacidade de contração uterina como a contração dos esfíncteres dos tetos estarão diminuídas ou ausentes.

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ambientais e contagiosos no úbere (em algumas explorações a taxa de incidência de mamites é igual ou superior a 30%)3.

O decréscimo da concentração de Ca sanguíneo afeta negativamente os neutrófilos e linfócitos dos bovinos. De facto, um estudo de Martinez (2014) demonstrou uma redução na concentração de Ca ionizado no interior dos neutrófilos, tal como uma diminuição da sua atividade fagocitária e apoptótica. Relativamente aos linfócitos, não foi registada uma diminuição do seu desempenho, mas sim um decremento do seu número21,23.

Pelos motivos supracitados, as vacas com hipocalcemia apresentam uma resposta diminuída no combate a possíveis infeções, aumentando assim o risco de metrites e mastites. No estudo anterior, os neutrófilos de vacas com HSC foram confrontados com Escherichia coli, registando-se uma diminuição na expressão da capacidade oxidativa destas células, bem como uma diminuição da capacidade de fagocitose, em 8,1% e 7,2%, respetivamente, quando comparados com os neutrófilos das vacas do grupo de controlo21.

Retenção placentária

A retenção placentária surge, maioritariamente, após complicações durante o parto, que podem resultar em distocia, trauma ou atonia uterina, entre outros. Contudo, alguns autores consideram a imunossupressão como a causa principal de RP. Além disso, existe uma associação entre valores de ácidos gordos não esterificados elevados e hiporexia PP com a prevalência de retenção24.

Num estudo, vacas com retenção de membranas fetais alimentadas com uma dieta aniónica, apresentaram no pós-parto valores inferiores de Ca sérico, do que aquelas sem esta patologia19.

Se a placenta não for expulsa no período normal, a probabilidade de desenvolvimento de infeções uterinas aumenta, desencadeando-se metrites ou endometrites. Estas afeções irão diminuir a produtividade e poderão causar problemas reprodutivos futuros para as vacas e, consequentemente, levar a um prejuízo económico avultado para os produtores24.

Prolapso uterino

O prolapso uterino tem como principais causas a perda da contração e motilidade uterina, com consequente atraso na involução do útero. Estas condições são provocadas maioritariamente pela hipocalcemia ou distocia. Devido à inibição da libertação da acetilcolina pela falta de Ca a nível neuronal, a contratibilidade muscular estará comprometida3.

Esta patologia tem uma incidência baixa – aproximadamente 0,3-0,5% –, e uma taxa de mortalidade que ronda os 25%. Num estudo de 2020, por Augusto Carluccio, observaram-se apenas 4,2% de prolapsos uterinos secundários a hipocalcemia. Contudo, estudos anteriores registam valores mais elevados25.

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Deslocamento do abomaso

A hipocalcemia provoca estase gastrointestinal como consequência da diminuição da contratibilidade muscular, pelo mesmo motivo supramencionado. Os animais exibem hiporexia com consequente diminuição da ingestão e esvaziamento do rúmen - fatores predisponentes para DA. Esta diminuição da mobilização do conteúdo dos diferentes compartimentos gástricos provoca uma acumulação gradual de líquidos e gases no abomaso, sendo este o fator principal para o órgão se deslocar do seu local anatómico. Dá-se o aprisionamento de ácido clorídrico, produzido a nível abomasal ou por refluxo do reticulo e/ou rúmen, sendo que o último apresenta movimentos ruminais diminuídos. Assim, observa-se, simultaneamente, alcalose metabólica, pelo que o pH e concentração de bicarbonato séricos estarão aumentados2,3,8.

Pelos motivos supracitados relativos à cetose, conclui-se ainda que a hipocalcemia predispõe a DA através do aumento de β-hidroxibutirato e de ácidos gordos não esterificados18.

Desta forma, vacas com HSC e HC têm 4,8 vezes mais probabilidade de desenvolver DA do que vacas sem hipocalcemia20. Mesmo usando um limiar de concentração até 2,3 mmol/l de Ca, é

possível relacionar diretamente o aumento da % de incidência de DA e metrite com hipocalcemia18. Alguns estudos concluem que 12,4% das vacas com DA apresentam,

concomitantemente, hipocalcemia. Ou seja, 1 em cada 8 vacas com DA cursa com falta de cálcio8.

Fatores de risco

Magnésio

Nas vacas, o valor sérico de magnésio (Mg) normal varia entre os 1,8 e os 2,4 mg/dl. O Mg tem um papel importante na resposta dos tecidos à PTH e na sua produção, pelo que, em casos de hipocalcemia, haverá uma pior resposta do organismo em situações de carência deste mineral6. Por esse motivo, a hipomagnesemia é considerada um dos principais fatores de risco

de hipocalcemia, uma vez que a adenil ciclase necessita de se ligar ao Mg para poder converter ATP em cAMP e só assim é que a molécula se torna estável o suficiente para sofrer processos de catálise. Tal vai ter efeito a dois níveis: (1) na produção de PTH (dependente do cAMP), e assim, a paratiroide não irá conseguir responder adequadamente à diminuição de Ca; e (2) vai diminuir a sensibilidade dos tecidos à hormona que ambos os minerais precisam para se mobilizar.7 Para se considerar a hipomagnesemia um fator predisponente de hipocalcemia, os

valores de Mg têm de ser menores do que 1,5 mg/dl16.

O Mg é absorvido no rúmen e no retículo – a única fonte de reposição deste mineral –, mas se o pH do conteúdo destes compartimentos for superior a 6,5, a capacidade de absorção diminui. Um outro exemplo que afeta a captação de Mg é a hipercalemia, uma vez que

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alterações gastrointestinais é a segunda maior causa de hipocalcemia puerperal e é a principal causa de hipocalcemia a meio do período de lactação2,16.

Fósforo

Os níveis séricos de fósforo superiores a 2 nmol/l de fósforo vão ter um efeito direto no sistema renal, inibindo a enzima que produz o 1,25(HO)2D3. Apesar do organismo ser capaz de

responder a alterações na concentração sanguínea de Ca, não é capaz de aumentar a absorção intestinal9.

Alcalose metabólica

A alcalose metabólica provoca alterações da conformação da PTH, o que dificulta a sua ligação aos recetores e diminui a sensibilidade dos tecidos à hormona. Se o tecido ósseo responder inadequadamente à PTH, aquando de descidas de Ca, não terá capacidade para desencadear a reabsorção de Ca. Além disso, o sistema renal não reabsorverá mais Ca nos túbulos renais e também não irá aumentar a produção de 1,25(HO)2D3, o que terá repercussões

na absorção intestinal de Ca2.

Esta alteração metabólica pode ser provocada por hipercalemia induzida pela alimentação, o que no fundo se resume a um balanço catiónico, devido ao desequilíbrio catião-anião. Por este motivo, a dieta aniónica é um bom método preventivo pois não só contraria a alcalose, como provoca uma acidose metabólica transitória16.

Idade

As vacas com maior número de partos estão mais predispostas a febre do leite. Por um lado, as primíparas produzem menos colostro, que consome 2,2 g de Ca/l, e possuem uma resposta mais rápida na mobilização de Ca ósseo. Por outro lado, as multíparas produzem mais colostro e mais leite no total, apresentando menor capacidade de reabsorção de Ca esquelético porque têm menos osteoclastos disponíveis quando comparadas com vacas mais jovens. Além do mais, apresentam uma pior resposta à 1,25(OH)2D3, pela diminuição dos recetores da vit D e dos seus

metabolitos no intestino1.

Em suma, vacas a partir do 3º parto estão mais predispostas a hipocalcemia, sendo esta rara nas novilhas de 1ª lactação. Por cada parição calcula-se que o risco de hipocalcemia aumenta em 9%1.

Raça

Raças de vacas mais rústicas têm menos probabilidade de exibir hipocalcemia do que vacas de raças de leite. Tal deve-se aos maiores níveis de produção de leite das últimas, tal como à menor capacidade de responder a diminuições séricas de Ca1.

Mais importante ainda, as vacas de raça Jersey pura são geneticamente mais suscetíveis a hipocalcemia do que as vacas HF. Para além disso, apresentam uma menor concentração de recetores do metabolito da vit D no trato intestinal. Assim, mesmo que o animal responda a

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descidas de Ca e produza mais 1,25(OH)2D3, estes mecanismos não vão ser suficientes para

aumentar a absorção de Ca intestinal. Ademais, as vacas Jersey têm um rácio de litros de leite por kg de PV maior, o que aumenta as necessidades fisiológicas diárias de Ca1.

Condição corporal

CC superiores a 3,5 predispõem a hipocalcemia por dois motivos: (1) vacas mais gordas distinguem-se por uma maior produção de leite e, consequentemente necessitam de mais Ca; (2) após o parto, estas vacas apresentam geralmente menores níveis de ingestão de alimento devido à anorexia PP, comprometendo a absorção de Ca na fase crucial de produção1.

Alimentação

A alimentação é um fator fulcral na prevenção da febre do leite, especialmente nas últimas 3 semanas precedentes ao parto3. Por esse motivo, ao longo das últimas décadas foram-se

desenvolvendo várias estratégias e dietas que permitem uma suplementação equilibrada de minerais no período de secagem. Um dos conceitos mais importantes, e talvez contraintuitivo, é que a diminuição do fornecimento de Ca nos últimos dias PP, especialmente na semana que o antecede, permite diminuir a incidência desta enfermidade. Um estudo retrospetivo registou uma subida de 327% na ocorrência desta patologia perante aumentos progressivos de Ca, de 5 para 10 g/kg de MS ingerida no período em questão. Uma das explicações para este fenómeno prende-se com o facto da vaca poder preparar-se previamente para défices de Ca nos períodos que se seguirão ao parto, através de um aumento gradual da PTH, que consequentemente irá possibilitar uma reabsorção mais eficiente de tecido ósseo quando essa necessidade surgir6.

Prevenção

Quando a incidência de HC supera os 10% no grupo de vacas de risco, devem-se implementar protocolos de prevenção e de tratamento da patologia. Além disso, o mecanismo de adaptação às necessidades de Ca demora pelo menos 2 dias a maximizar o seu potencial e a disponibilizar a quantidade correta de Ca20, pelo que a preparação antes do parto é crucial para

um bom começo no período de lactação. Dos vários métodos disponíveis, 4 são comumente implementados: (1) dieta aniónica; (2) dieta pobre em Ca; (3) suplementação com Ca via PO; (4) suplementação de vit D no PP1,7,9.

Dieta aniónica

A dieta aniónica, também conhecida como dieta acidogénica, tem como princípio usar as diferentes cargas dos minerais importantes para a alimentação de vacas leiteiras, de modo a que a soma total da carga elétrica seja negativa. Além do mais, a disponibilidade de Ca ionizado é superior em pH mais baixos, sendo que pode atingir os 48% da sua concentração na circulação

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1), nomeadamente o efeito alcalinizante. Assim, o ideal é criar um equilíbrio entre os 10 e os -15 mEq por cada 100 g de MS e, apesar de alguma controvérsia em diferentes estudos, é recomendado fazê-la por um período mínimo de 15 dias, uma vez que esta adaptação só começa a surtir efeito a partir do décimo dia7,26.

A fórmula que permite determinar a diferença catião:anião na dieta (DCAD) é27:

𝐷𝐶𝐴𝐷 =

% ,

+

% ,

% ,

+

% ,

Evidentemente, estes agentes não são os únicos que, na corrente sanguínea, possuem capacidade de alterar o balanço eletrolítico e ácido-base, mas são sem dúvida os mais relevantes. Dentro dos componentes acidificantes, o cloro é o mais potente, enquanto que o enxofre apresenta apenas 60% dessa capacidade7.

Este método pressupõe a necessidade de ajustar as concentrações de minerais, tendo em consideração o conteúdo mineral já presente nas silagens e forragens administradas. Todavia, esta mistura deve ser implementada no unifeed, já que a sua suplementação afeta grandemente a palatibilidade do alimento e é importante não prejudicar a quantidade de ingesta neste período de preparação para uma nova lactação. Os fatores que mais influenciam o paladar são as quantidades de cloro e enxofre que, além de diminuírem o consumo de alimento, podem ainda criar situações de intoxicação. Para contrariar este obstáculo, procura-se uma produção de alimentos com menor quantidade em potássio, o que permitirá baixar as percentagens dos aniões adicionadas à dieta. Uma outra alternativa que atenua a probabilidade de toxicidade é o uso de diferentes sais, como por exemplo o uso combinado de sulfato de magnésio e sulfato de amónia. Por estes motivos, na grande maioria das situações, somente o K e o Cl é que são variáveis na equação. O que se procura obter, e que permite reduzir significativamente não só a ocorrência da forma clínica como também subclínica da hipocalcemia, é manter meio ponto percentual de diferença entre o potássio disponível no alimento e o cloro adicionado, isto é, se o K for de 1,5%, o Cl adicionado deverá ser de 1%, sendo que valores de potássio acima de 2% dificultam grandemente o ajuste de acidificação, sob pena de diminuir a ingestão de alimento7,27.

Para um controlo correto da alimentação, é aconselhado analisar a urina, mais especificamente o seu pH. A acidificação da ração tem consequências diretas neste parâmetro, provocando uma diminuição do mesmo na urina. Em condições ótimas para prevenção de hipocalcemia subclínica, o pH deve rondar os 6,2 a 6,8 na última semana PP. Com uma boa implementação da dieta, Goff especula que apenas 25% das vacas multíparas caiam no intervalo de hipocalcemia subclínica e 12,5% em primíparas, onde somente 1% do total demonstrará sinais clínicos7,16.

Dieta pobre em cálcio

O uso de uma dieta pobre em Ca está documentado como alternativa à dieta aniónica, tendo por base a preparação do organismo à deficiência no mineral, ou seja, a paratiroide irá reagir à

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hipocalcemia induzida, numa situação controlada, e assim iniciar a produção precoce de PTH. Deste modo, o tecido ósseo vai iniciar o processo de reabsorção antes da vaca leiteira estar em situação de elevado défice. Além disso, a PTH criará um incremento na produção renal de vit D. A vantagem desta dieta face a uma alimentação aniónica é o facto de a vaca ser capaz de se preparar para os requisitos adicionais de Ca, mesmo quando se encontra em níveis catiónicos altos e com uma consequente alcalose metabólica. A somar a isso, a vaca apresentará uma célere resposta à reposição de Ca, visto que já possui os mecanismos necessários para tal em funcionamento7,9.

Ao longo das duas semanas PP, a vaca não só melhorará a sua capacidade de aproveitar Ca de origem óssea, pois os osteoclastos já se apresentarão em maior número e num nível mais elevado de atividade, como também absorverá uma quantidade superior através do trato gastrointestinal. Contudo, para tais condições se proporcionarem, é necessário reduzir a captação de Ca para menos de 20 g/dia, o que tendo em conta que uma vaca HF ingere 13 kg/MS/dia, corresponde a menos de 0,15% do unifeed. Por este motivo, denota-se uma maior facilidade de cumprir os requisitos para esta abordagem em situações de pastoreio, onde os níveis de Ca podem alcançar um mínimo de 4 g/kg de MS. Isto deve-se ao facto de uma vaca apresentar uma menor ingestão de MS neste regime (de cerca 6-7 kg/dia), perfazeria um total máximo de Ca de 28 g, o que devido à sua biodisponibilidade corresponderia a cerca de 10 g/dia. Não obstante, é importante realçar que após o regime de PP, é imperativo suplementar as vacas paridas com Ca para que possam rapidamente repor os níveis fisiológicos7,9. Além disso, as

pastagens tendem a ser pobres em magnésio, pelo que é necessário avaliar os pastos e reajustar os níveis deste composto, visto que o magnésio inibe a reação do corpo a decréscimos de Ca.16

Noutros casos que excluem o sistema de pastagem, é possível observar-se os mesmos resultados através do uso de agentes que irão atuar como quelantes do Ca, impedindo a sua absorção através da parede intestinal. São estes uma partícula silicatada, que é capaz de se ligar ao Ca até que este seja expelido pelas fezes e o outro óleos vegetais que têm o mesmo principio e permitem uma redução até 15 g de Ca absorvível numa dieta que apresenta um intervalo de 30-50 g/dia9.

Suplementação no periparto

A suplementação pode ser realizada apenas com Ca ou vit D, ou ambos. Nestes casos, é comum excluir as vacas primíparas e de segunda lactação, porque apresentam menor risco de hipocalcemia do que vacas com 3 lactações ou mais. Nas pequenas explorações, há a vantagem de se poder fazer tratamentos isolados e escolher as vacas que necessitam de ser suplementadas. Além disso, pode ser aplicada em simultâneo com outros métodos preventivos,

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Suplementação oral de cálcio

Goff (2008) debate a ideia de que a administração de Ca aquando do parto não é de facto, uma medida preventiva, mas sim terapêutica. Segundo este autor, é necessário ter em conta que se as vacas já estiverem em dieta aniónica, deve ser reduzida a administração de Ca sob a forma de cloreto de cálcio, uma vez que o conjunto destes fatores vai provocar acidose metabólica secundária ao aumento de cloro. Assim, nestes casos está recomendado o propionato de cálcio via PO, em drench ou bolos. Uma ótima alternativa é o recurso ao Bovicalk®, que pode ser

administrado como indicado no capítulo de tratamento ou na altura do parto e 24 h depois16.

Um estudo realizado por Martinez et al., em 2016, permitiu analisar os benefícios da suplementação oral em diferentes aspetos e tendo em conta a paridade das vacas estudadas. Estes autores concluíram que diminuía a incidência de HSC nos primeiros dias após o parto. Relativamente à fertilidade, foi possível concluir que apenas se verificam efeitos positivos na suplementação PO em vacas multíparas, aumentando a % de prenhez à 1ª inseminação e a taxa de prenhez, resultando numa redução de dias em aberto em vacas até 210 DEL. Nesse mesmo estudo, estipula-se ainda que tal se deve à diminuição de afeções secundárias à HSC, como por exemplo metrite e cetose. Contudo, registaram-se efeitos negativos no uso de Ca, via PO, em vacas primíparas, sugerindo que estas vacas não sofrem HSC, e que devido à administração de Ca passam por uma hipercalcemia transitória que deteriora o seu estado físico e reprodutivo. Deste estudo, a conclusão mais importante a reter é a recomendação exclusiva de suplementação de Ca para vacas multíparas28.

Suplementação de vitamina D

A forma mais segura de suplementar esta hormona é recorrendo ao seu metabolito 1,25(HO)2D316.

Há um equilíbrio muito delicado na dose a administrar de vit D, estando documentado que doses entre os 500.000-1.000.000 UI não previnem hipocalcemia e sim o oposto, aumentando a sua probabilidade. Tal pode dever-se à habituação do organismo à vit D exógena, pelo que os rins deixam de produzir 1,25(HO)2D3. Já doses superiores a 10.000.000 UI podem provocar

calcificação metastática nos tecidos moles16.

Dito isto, fármacos como o Duphafral® Vit D

3 1000 demonstram um bom nível de prevenção,

mesmo quando comparados com o regime de dieta aniónica. O suplemento supramencionado é administrado por via IM, num frasco de 10 ml, 1 ml contém 1.000.000 UI, perfazendo assim um total de 10.000.000 UI/DU11.

Uma outra alternativa é adicionar na alimentação (14 dias PP) 20.000-30.000 UI de vit D/dia, realizando um desmame após a parição, de forma a estimular o sistema renal a produzir vit D16.

A desvantagem desta suplementação como ato isolado é que se torna difícil encontrar a altura certa da suplementação, especialmente se o touro é usado para cobrir as vacas em vez de IA16.

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Estudo

O estudo efetuado ao longo do período de estágio teve como principal objetivo entender o maneio envolvido na prevenção de hipocalcemia realizada, por norma, nos diferentes locais por onde estagiei. Assim, foram recolhidos inquéritos sobre o maneio PP, alimentação das manadas e abordagens terapêuticas, tal como se registaram todas as hipocalcemias clínicas que foram assistidas durante este período.

Material e métodos

Questionário

Recorreu-se a um breve inquérito de caráter anónimo realizado a todos os produtores que se disponibilizaram a responder, relativamente ao mês anterior. Este divide-se em 3 partes (Anexo I):

1. A primeira secção tinha, portanto, como objetivo entender a dimensão das vacarias visitadas e analisadas, pelo que se inquiriu sobre o número de vacas em lactação, a sua média de leite produzido por dia, a quantidade de partos no último mês e quantas destas vacas paridas sucumbiram a febre de leite;

2. A segunda componente abordou os procedimentos e protocolos que os produtores tinham implementado nas suas explorações para a prevenção, como e a partir de que parição. Além disso, teve-se também em conta a abordagem a casos clínicos, isto é, como tratavam quando um animal com sinais clínicos de deficiência de Ca, que vias usavam, quais os medicamentos que usavam no caso de serem eles próprios a tratar a vaca, ou se recorriam a serviços médico-veterinários para o tratamento das mesmas;

3. O terceira e última componente do inquérito foi apenas realizado quando o MV e eu socorríamos animais com HC de modo a registar possíveis fatores de risco e a altura em que a vaca começava a demonstrar sinais clínicos.

Outra nota relevante é que se a vaca estivesse ainda na fase de produção de colostro, (a maioria) não era possível saber a quantidade exata de produção de colostro, uma vez que os produtores não sabiam esses valores (muitas vezes não as ordenhavam em máquinas que permitem quantificar e não eram contabilizadas no contraste leiteiro). Por esse motivo, considerou-se 0 L na produção de leite e assumiram-se os valores de produção registados na bibliografia revista.

Análise estatística

Os dados estatísticos foram analisados com o recurso ao programa Microsoft Excel®. Os

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