E FITOQUÍMICA
Fernando Mateus Scremin
1, Paulo Rodrigo Fabro
1, Jéssica
Zomer Debiasi
11
Centro Universitário Barriga Verde – UNIBAVE, Curso de Farmácia, Orleans/SC, Brasil.
Endereço para correspondência Fernando Mateus Scremin
Rua Pe. João Leonir Dall´Alba, s/n - Bairro Murialdo, Centro Universitário Barriga Verde.
CEP 88870-000 - Orleans/SC – Brasil. Fone: (48) 3466 5600.
E-mail: screminfm@yahoo.com.br
RESUMO
Leonurus sibiricus é uma planta herbácea popularmente denominada como Motherwort ou erva de Macaé, e é muito utilizada na medicina chinesa. Há divergências em alguns estudos realizados quanto à morfologia e anatomia de Leonurus sibiricus, além disso, diversos estudos a confundem com outras espécies de Leonurus. Sua constituição fitoquímica é composta principalmente por substâncias que possuem ação antimicrobiana. A planta possui também atividade antiinflamatória e perspectivas no tratamento de neoplasias mamárias. O presente artigo analisa as características e aplicações farmacológicas da Leonurus sibiricus através de uma extensa revisão bibliográfica.
Palavras-chave: Leonurus sibiricus L., farmacobotânica, fitoquímica, fitoterapia.
ABSTRACT
Leonurus sibiricus is an herbal plant popularly known as Motherwort herb or Macae, and is widely used in
Chinese medicine. There are divergences in some studies about morphology and anatomy of Leonurus
sibiricus, furthermore, several studies confuse it with other species of Leonurus. Its phytochemical
constitution is mainly composed of substances with antimicrobial activity. The plant has also anti-inflammatory activity and perspectives in the treatment of breast neoplasms. This manuscript analyzes the characteristics and pharmacological applications of the Leonurus sibiricus through an extensive literature
review.
Key-words: Leonurus sibiricus L., pharmacobotany, phytochemical, phytotherapy.
RPIF
2012
04
32
INTRODUÇAO
Leonurus sibiricus L. é uma planta herbácea
perene, originária da Ásia, onde tem sido largamente utilizada na área medicinal, como por exemplo, na medicina popular coreana, sendo denominada Motherwort1 (erva de mãe). No Brasil a espécie adaptou-se muito bem, tanto ao solo quanto ao clima, podendo, praticamente ser considerada uma planta brasileira (Chu et al., 1926; Wadt et al., 1996; Duarte e Lopes, 2005; Shin et al., 2009).
O uso de plantas com finalidade terapêutica em preparações caseiras, como chás, cataplasmas, unguentos, vem recebendo crescente atenção de pesquisadores dedicados à identificação botânica, bem como ao potencial terapêutico dos componentes e dos princípios ativos. Entre 65% e 80% da população mundial, especialmente nos países em desenvolvimento, se beneficiam do uso das plantas medicinais na atenção primária à saúde, o que equivale a 3,5 a 4,0 bilhões de pessoas que usam plantas para o tratamento de doenças (Wong e Townley, 2011).
O mercado mundial de fitoterápicos gira em torno de 22 bilhões de dólares por ano (Yunes et al., 2001). No Brasil, representa apenas 5% de todo o consumo de medicamentos, movimentando mais de 400 milhões de dólares anualmente, mas nos últimos anos vem crescendo a uma taxa duas vezes superior em relação aos fármacos sintéticos (Tomazzoni et al., 2006; Leite e Branco, 2010). As vendas de fitoterápicos nos Estados Unidos resultam em aproximadamente 4 bilhões de dólares por ano, porém, neste país os fitoterápicos são registrados e comercializados como suplementos alimentares, não podendo assim garantir-se a qualidade destes (Rates, 2001). Em países que classificam fitoterápicos como medicamentos, lideram o mercado internacional, Alemanha com vendas de 2,5 bilhões de dólares e França com 1,6 bilhões de dólares (Bello et al., 2002).
Ao longo da história da civilização, as plantas não foram somente fonte de alimentação, mas também fonte de cura para o ser humano, utilizando-se das plantas in natura ou atualmente como fitoterápicos. Desta forma, o ser humano
1
A espécie Leonurus cardíaca também é popularmente designada Mothewort, o que demonstra a dificuldade de diferenciação de espécies por pessoas que fazem uso de plantas medicinais.
sempre obteve da natureza o necessário para acalmar suas dores e curar seus males. Dentro desta perspectiva as plantas sempre foram objeto de estudo na tentativa de descobrir novas fontes de princípios ativos (Rocha e Rocha, 2006). Neste contexto se enquadra a espécie Leonurus sibiricus
L., objeto deste estudo, com atividades
empiricamente atribuídas contra edemas e sangramentos (Almeida, 2006), contra males gastrointestinais, bronquites e coqueluche (Wadt, 1996), nos casos de sangramento pós-parto, menstruação excessiva, bem como contra abscessos e problemas renais (Almeida, 2006), sendo algumas das atividades citadas comprovadas cientificamente. Assim, a Leonurus
sibiricus surge como mais uma perspectiva na
área de produtos naturais ativos.
Seguindo os desígnios expostos, o presente estudo, teve por objetivo realizar uma revisão da literatura no que diz respeito à
Leonurus sibiricus L., pertencente à família
Lamiaceae, e vulgarmente denominada rubim ou erva-macaé (Duarte e Lopes, 2005; Almeida, 2006).
METODOLOGIA
Para o levantamento de dados da literatura pertinentes à Leonurus sibiricus, foram utilizadas as bases de dados Scientific Electronic Library
Online (SCIELO, 2012), PubMed (2012),
MedlinePlus (2012) e Google acadêmico (2012),
com o objetivo de selecionar artigos de conteúdo idôneo.
As datas de publicação dos artigos não foram utilizadas como critério de exclusão para os mesmos, já que estaremos tratando não somente de fatores envolvidos à Leonurus sibiricus perante aspectos científicos, mas também frente a aspectos empíricos do conhecimento popular.
Aspectos botânicos
A família Lamiaceae é originária principalmente de países do Mediterrâneo e Oriente Próximo e consiste de cerca de 200 gêneros e 3200 espécies (Duarte e Lopes, 2005). Esta família é composta por árvores, arbustos e ervas (Mendes, 2007). Entre os mais de 200 gêneros pertencentes a esta família, destaca-se o Leonurus, que inclui diversos
33
representantes de utilização na terapêutica (Duarte e Lopes, 2005).
Classificação botânica
Leonurus sibiricus L. é uma planta vascular,
terrestre pertencente à família Lamiaceae, a ordem Lamiales e a classe magnoliopsida (Almeida, 2006; Itis, 2012). L. sibiricus encontra-se registrada no Integrated Taxonomic Information
System sob o número de série 32550 com todas as
informações pertinentes à sua classificação taxonômica (Itis, 2012).
A família Lamiaceae é também denominada Labiatae ou Labiada, em consonância à morfologia das pétalas ou corolas das espécies que a compõem: trilobuladas, sendo o lábio inferior mais alongado, alargado e oblíquo na boca, o que permite a perfeita adaptação dos bicos de pássaros polinizadores. É possível determinar a família por meio dos pelos glandulosos que revestem quase toda a planta e exalam aroma, possuindo ainda um caule quadrangular, com folhas cruzadas opostas não estipuladas (FMC, 2012), fatores, estes, importantes no processo de identificação do
Leonurus sibiricus.
As plantas pertencentes a esta família produzem terpenóides e substâncias fenólicas com efeitos alelopáticos, com isso algumas das plantas desta família são consideradas invasoras de culturas agrícolas, como cafezais e pomares (Almeida et al., 2011). Muitas espécies desta família vêm sendo testadas em relação à sua atividade antimicrobiana devido a seus flavonóides ou óleos essenciais, inclusive a L.
sibiricus. Algumas plantas aromáticas da família
Lamiaceae, das quais são extraídos óleos essenciais são Mentha, Lavandula, Ocimum, Rosmarinus, Salvia, Satureja, Thymus (Wadt et al., 1996; Mendes, 2007).
Leonurus sibiricus L. é uma planta
Magnoliophyta ou Angiospermae (angiospermas) (Itis, 2012). As angiospermas caracterizam-se pelo enorme poder de adaptação às diversas condições ambientais, sendo características muito marcantes das angiospermas a dupla fecundação, presença de estames, estigmas, endosperma triplóide, entre outras características. L. sibiricus pertence à classe Magnoliopsida, também conhecida como dicotiledôneas, à subclasse Asteridae, que possui como principal característica a gamopetalia, o número reduzido
de estames e o ovário geralmente bicarpelar. É classificada de forma taxonômica ainda, na ordem Lamiales, ordem composta por 6 famílias, sendo a família mais importante a Lamiaceae a qual a
Leonurus sibiricus L. pertence (UCB, 2007).
Possui como sinonímias científicas
Leonurus tataricus, Leonurus multifidus, Pazeria multifida, Stachys artemisia (UNIMEP, 2012). Habitat
Leonurus sibiricus L. é uma erva anual ou bianual,
nativa da China, Sibéria, Coréia, Vietnã, Japão, além de outros países do sudeste asiático, onde é amplamente distribuída (Duarte e Lopes, 2005; Wu et al., 2011). Naturalizada em praticamente todo o território brasileiro, mas principalmente no Sul e Sudeste, onde se adaptou plenamente ao clima e desenvolveu fácil reprodução, podendo ser considerada uma planta brasileira (Bonatto et al., 2009; UNIMEP, 2012).
Cresce espontaneamente em áreas abandonadas, nas proximidades das habitações e em lavouras (Bonatto et al., 2009; UNIMEP, 2012). Azevedo e Silva (2006) classificam Leonurus
sibiricus L. como uma planta ruderal, que consiste
em plantas que crescem em locais perturbados, como áreas com cascalho, pedregulhos, beiras de estrada, etc. Em regiões agrícolas as plantas ruderais também ocorrem em pastagens e em meio a áreas de cultivo. Se não manejada de maneira adequada Leonurus sibiricus transforma-se em planta invasora de culturas, podendo levar à diminuição da produtividade de algumas culturas agrícolas, ou seja, acaba se tornando uma “praga” para a atividade econômica rural. Porém, se manejada de maneira correta pode aumentar a produtividade de alguns tipos de culturas. Esses fenômenos ocorrem devido ao poder alelopático da L. sibiricus, o que explica seu potencial invasivo e de fácil reprodutibilidade (Wadt, 2008; Bonatto, 2009).
Em estudo para observar a germinação de sementes de Leonurus sibiricus L. frente a diversas variações de luminosidade e temperatura, Almeida e colaboradores (2011) explicitaram que a mesma apresenta caráter fotoblástico positivo com melhor germinação (93%) a 20 oC, enquanto que a germinação em ambiente escuro na mesma temperatura apresentou uma porcentagem de germinação, de apenas 45,5%. Germinações a temperaturas de 20 a 35 oC foram superiores àquelas encontradas em 15 oC, isso indica que
34
temperaturas mais elevadas aumentam a velocidade de germinação. Essas faixas de temperatura adequadas à germinação de L.
sibiricus explicam sua origem de regiões
temperadas. Em temperaturas extremas, a 5 e 40oC a germinação de L. sibiricus foi inibida. Essa inibição da germinação pode ser atribuída à desnaturação térmica das proteínas, acima de 40oC, ou ainda, temperaturas extremas podem induzir as sementes à dormência secundária, o que impediria a germinação em temperaturas baixas do inverno, ou nas condições de estresse hídrico do verão. Pelos resultados obtidos por Almeida e colaboradores (2011) observa-se que a espécie tem condições de germinar em uma ampla faixa de temperatura, o que constitui vantagem no seu estabelecimento em diversas regiões.
Morfoanatomia
Leonurus sibiricus é uma planta herbácea ereta,
de 30-100 cm de altura, cujo caule possui secção quadrangular e filotaxia oposta cruzada. O sistema de revestimento é representado pela epiderme, que é unisseriada e recoberta por cutícula estriada. As células epidérmicas são poligonais, alongadas tangencialmente. Estômatos localizam-se em posição relativamente elevada às demais células epidérmicas. Apresenta folhas com acentuado heteromorfismo, sendo lobadas com lobos arredondados em plantas novas e profundamente lobadas com lobos lanceolados e ápice agudo em plantas maiores, possuindo nervuras proeminentes na face dorsal (Procópio et al., 2003; Duarte e Lopes, 2005). Apresenta flores labiadas e inflorescência axilares fasciculadas (Almeida, 2006).
A epiderme foliar possui células com contorno ondulado, revestidas por cutícula delgada e estriada. Em ambas as faces da epiderme ocorrem numerosos tricomas tectores e glandulares. A epiderme é uniestratificada e o mesófilo é dorsiventral, consistindo de parênquima paliçádico com cerca de um ou dois estratos celulares e parênquima esponjoso multisseriado, correspondendo a 50-60% do mesófilo. O pecíolo, em secção transversal, possui formato praticamente plano-convexo, com duas projeções ou alas laterais expandidas na região distal (Duarte e Lopes, 2005).
Há divergências entre as investigações de Procópio e colaboradores (2003) e Duarte e Lopes
(2005) em relação a alguns aspectos sobre a morfoanatomia de Leonurus sibiricus. Procópio e colaboradores (2003) mencionam a presença de tricomas tectores consistindo de apenas uma célula, enquanto que Duarte e Lopes (2005) caracterizam a presença de mais de uma célula. Os tricomas peltados presentes em Leonurus
sibiricus secretam um óleo-resina que consiste de
terpenóides e flavonóides, que se acumula em um espaço formado pela elevação da camada péctica mais externa da parede celular juntamente com a cutícula, conferindo a este tricoma formato esférico. Os caracteres morfoanatômicos de
Leonurus sibiricus, como tricomas tectores e
glandulares peltados e capitados, estômatos anomocíticos em ambas as faces epidérmicas, mesófilo dorsiventral, caule quadrangular com colênquima conspícuo nas costelas e cristais de oxalato de cálcio coincidem com os mais diferentes gêneros de Lamiaceae (Duarte e Lopes, 2005).
Aspectos agronômicos
A interação química entre plantas é conhecida como alelopatia e está relacionada com a liberação de substâncias para o ambiente. Os aleloquímicos sintetizados pela rota de metabolismo secundário influenciam no desenvolvimento de culturas agrícolas. Os aleloquímicos presentes na planta Leonurus
sibiricus são terpenóides e substâncias fenólicas.
Isto explica o comportamento invasor e daninho em vários tipos de plantações, principalmente em pomares e cafezais, assim como o extrato aquoso das folhas de Leonurus sibiricus inibe a germinação de milho e crescimento de plântulas de tomate. Porém, esta espécie não apresenta apenas efeitos alelopáticos maléficos, apresenta liberação de exsudatos radiculares que aumentam a germinação de arroz, trigo e mostarda (Almeida, 2006). Flavonóides existentes nas folhas de
Leonurus sibiricus agem atrasando e retardando o
crescimento de plântulas de pepino (Bonatto et al., 2009). O interesse agrícola em torno da planta
Leonurus sibiricus, está relacionado, portanto,
com o impacto que esta pode causar no crescimento de lavouras.
Leonurus sibiricus é obtida através de
extrativismo em áreas ruderais, ou seja, sua obtenção é feita através deste recurso natural pré-existente, não em regiões de mata, mas sim em áreas rurais de pastagens, beiras de estrada,
35
locais de cascalho, etc. (Homma, 1982; Azevedo e Silva, 2006).
Medicina popular
O ser humano desde os primórdios sempre obteve da natureza o necessário para acalmar suas dores e curar suas enfermidades. O uso dos vegetais como medicamento é, provavelmente, quase tão antigo quanto à existência do ser humano na Terra. Toda planta que é administrada de alguma forma e, por qualquer via ao homem ou animal exercendo sobre eles uma ação farmacológica é denominada de planta medicinal (Rocha e Rocha, 2006).
As plantas medicinais sempre foram objeto de estudo na tentativa de descobrir novas fontes de obtenção de princípios ativos. Muitas plantas possuem atividades tóxicas e o seu uso irracional pode causar sérios problemas.
Rocha e Rocha (2006) relatam que com os avanços científicos, esta prática milenar perdeu espaço para os medicamentos sintéticos, entretanto, o alto custo destes fármacos e os efeitos colaterais apresentados contribuíram para o ressurgimento da terapia através das plantas, a chamada fitoterapia.
Segundo Duarte e Lopes (2005) Leonurus
sibiricus L. é amplamente utilizada por diferentes
populações na medicina tradicional como erva estomáquica, diurética, hipotensora e reguladora da circulação, mas também muito utilizada em diversas outras áreas, inclusive como inseticidas de extratos obtidos das folhas. No Brasil, a espécie é tão bem adaptada ao clima e solo que pode ser considerada como uma planta tipicamente brasileira, sendo utilizada em diversas regiões do país para tratamento de males gastrintestinais, em tratamentos de bronquites, coqueluche e em algumas regiões, nos ataques de febre palustre, contudo, no sul do Brasil é mais conhecida pela sua ação antiinflamatória (Wadt et al., 2008).
Almeida (2006) esclarece que as propriedades medicinais de L. sibiricus estão presentes em diferentes órgãos, tais como folhas, que combatem reumatismo crônico e possuem atividade antibacteriana, evitando dermatites e outros problemas dermatológicos. Na medicina chinesa, as sementes são consideradas afrodisíacas e a planta seca é prescrita como tonificante e usada em disfunções menstruais. As folhas e flores são capazes de combater vômitos e
diarréias, além de serem eficientes contra resfriados, bronquites e reumatismo. As folhas são amplamente utilizadas também na China para o pós-parto e hemorragias, o suco das mesmas é bom para a hemoptise, e a infusão para problemas menstruais. Sob a forma de tintura alcoólica ou xarope é indicada na asma, além disso, atribuem-lhe propriedades tônicas, antiespasmódicas e béquicas.
Fitoquímica
Leonurus sibiricus produz terpenóides e substâncias fenólicas que possuem efeito alelopático (Bonatto, 2009). Realizando experimentos de isolamento de constituintes em partes aéreas de Leonurus sibiricus, Satoh e colaboradores (2003) obtiveram 2 novas furano-diterpeno lactonas, juntamente com outras 4 novas diterpeno lactonas já conhecidas (leonotinina, leonotina, dubiina, nepetaefurano).
Nos primeiros estudos fitoquímicos sobre
L. sibiricus foi isolado o alcalóide estaquidrina,
posteriormente diterpenos e furano lactonas, além disso, compostos fenólicos, como o ácido cafeico, foram encontrados nas folhas, raízes e sementes de Leonurus sibiricus (Almeida et al., 2005). Almeida e colaboradores (2005) identificaram a presença de 13 compostos em estudo realizado com o óleo essencial de Leonurus
sibiricus. Observou-se a predominância dos
sesquiterpenos trans-cariofileno, alfa-humuleno e germacreno-D, que representam 70% da constituição do óleo. Mas, além destes, foi observada a presença de tricicleno, alfa-copaeno, beta-bouboreno, gama-cadineno, e outros 6 constituintes não caracterizados devidamente.
Em estudo realizado por Moon e colaboradores (2010) reportou-se o isolamento de seis novas estruturas das partes aéreas de
Leonurus sibiricus. Essas estruturas são diterpenóides tipo bis-espirolabdano (preleosibirona A, 13-epi-preleosibirona A, isopreleosibirona A, leosibirona A, leosibirona B, e 15-epi-leosibirona B) (Figura 1) (Moon et al., 2010; Wu et al., 2011).
Na constituição química de L. sibiricus são encontrados alcalóides como leorunina (Figura 2),
leonuridina, estaquidrina, o polissacarídeo
estaquiose, glicosídeos apolares, iridóides, ácido ursólico, saponinas triterpenicas, três diterpenos (leosibirina, isoleosibirina, leoribicina) e flavonóides glicosídeos p-coumaril como a apigenina e a
36 Figura 1. Estruturas quimícas de seis diterpenóides labdano: 1 (preleosibirona A); 2 (13-epi-preleosibirona
A); 3 (isopreleosibirona A); 4 (leosibirona A); 5 (leosibirona B) e 6 (15-epi-leosibirona B) (Wu et al., 2011).
a presença majoritária de rutina e seus derivados nos extratos polares de Leonurus sibiricus, além de flavonas metoxiladas, as quais são consideradas marcadores taxonômicos.
Figura 2. Estrutura química do alcalóide Leorunina
(1)(Lin et al., 2007).
Atividade biológica
Leonurus sibiricus (Motherwort) é popularmente e
amplamente utilizada como antiinflamatória, mas sua atividade sobre a liberação de citocinas dos mastócitos não está bem elucidada. Shin e colaboradores (2009) investigaram o efeito antiinflamatório de Leonurus sibiricus sobre a liberação de citocinas inflamatórias de mastócitos e observaram a inibição da secreção do fator de necrose tumoral (TNF-alfa) e interleucina (6;
IL-8), provavelmente por inibir a liberação de NF-kB (do inglês, nuclear factor kappa B). O NF-kB é um fator de transcrição que foi primeiramente observado em Linfócitos-T, mas sabe-se hoje que está presente em todas as células dos mamíferos. O papel mais importante desse fator está ligado à capacidade imunológica, na qual regula a expressão de genes inflamatórios e na defesa contra parasitas (Franco, 2010).
A atividade antiedematogênica sistêmica foi observada no teste de edema em pata de rato induzida por carragenina 1%. A atividade antiinflamatória foi observada após 4 horas da administração do medicamento por via oral. No teste de tratamento tópico, Leonurus sibiricus inibiu o edema induzido por óleo de cróton, sendo o efeito máximo (semelhante ao da dexametasona) observado entre 0,2 mg e 2mg/Kg. Leonurus sibiricus possui iridóides e ácido ursólico que agem inibindo as ciclooxigenases (Almeida, 2006; UNIMEP, 2012).
A família Lamiaceae é muitas vezes reconhecida como uma família de plantas com importante papel na medicina. Todas as plantas desta família possuem compostos com atividade
37
antimicrobiana (Pin e Abdullah, 2011). Wadt e colaboradores (2008) utilizaram extrato hidroalcoólico desta planta para realizar estudo da atividade antimicrobiana de Leonurus sibiricus, em culturas de Staphylococcus aureus, Escherichia
coli, Pseudomonas aeruginosas, Candida albicans
e Aspergillus niger. Apenas três, das bactérias anteriormente designadas foram inibidas na concentração de extrato hidroalcoólico de 0,1 mg/mL a 0,5 mg/mL de Leonurus sibiricus. As bactérias inibidas foram Staphylococcus aureus,
Pseudomonas aeruginosas e Candida albicans. Pin
e Abdullah (2011) observaram o impacto direto da água e do álcool como extratores de Leonurus
sibiricus para uso como antimicrobiano em quatro
diferentes concentrações, sendo os testes realizados em Bacillus cereus, Staphylococcus
aureus, Escherichia coli, Salmonella typhimurium,
a levedura Saccharomyces cerevisiae e Aspergillus
niger. O extrato de Leonurus sibiricus em água
inibiu uma maior quantidade de bactérias com menores concentrações; Staphylococcus aureus em concentração de 100 mg/mL; Aspergillus niger
e Saccharomyces cerevisiae (levedura) em todas
as quatro concentrações (10, 25, 50 e 100mg/mL) e Escherichia coli. O extrato em etanol inibiu somente as bactérias Staphylococcus aureus em concentração de 50 a 100 mg e Escherichia coli em concentração de 100 mg. As substâncias trans-cariofileno, alfa-humuleno e germacreno-D presentes no óleo essencial de Leonurus sibiricus apresentam esqueleto carbônico com ampla atividade antibacteriana, antifúngica e inibidora enzimática (Almeida, 2006).
Ahmed e colaboradores (2005) demonstraram que, em testes de sono induzido com extrato metanólico de Leonurus sibiricus, houve diminuição significativa do tempo de início de sono e potencialização do tempo de sono com pentobarbital em doses de 200 a 400 mg/kg. Oga e colaboradores (1986) observaram que o extrato bruto das partes aéreas do material florido prolonga a indução do sono induzido por pentobarbital, na dose de 400 mg/Kg, enquanto o tempo de início do sono foi reduzido. Além disso, o extrato exibiu baixa toxicidade, não causando efeitos letais, nem sinais agudos de intoxicação mesmo com a dose de 3g/Kg. Esses estudos demonstram a potencial atividade de Leonurus
sibiricus no sistema nervoso central. As folhas de Leonurus sibiricus colhidas juntamente com as
flores são secas e fumadas como substituto da maconha. Os efeitos são classificados pelos
usuários como narcótico e ligeiramente semelhante ao efeito da Cannabis sativa (Mustata, 2009; Wu et al., 2011).
Nagasawa e colaboradores (1990) observaram os efeitos de Motherwort sobre o crescimento de pré-neoplasias e neoplasias mamárias em camundongos. O tratamento inibiu fortemente o crescimento de cânceres mamários que se originaram de nódulos alveolares hiperplásicos, sendo que a adenomiose uterina também foi inibida.
DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Leonurus sibiricus é uma planta pertencente à
família Lamiaceae, sendo originária da Ásia e amplamente difundida em território brasileiro. No Brasil é considerada erva daninha por invadir terrenos, plantações e pastagens, por seu efeito alelopático. Este efeito alelopático é ocasionado por terpenóides e substâncias fenólicas originadas no metabolismo secundário desta planta. Esta causa prejuízos pelo efeito alelopático principalmente em pomares, cafezais, plantações de tomate e milho.
Segundo as condições de habitat, apresentou enorme facilidade na incorporação ao clima subtropical e apresenta melhores germinações em temperaturas mais quentes (não excedendo aos 40oC) e se adéqua aos mais variados tipos de terrenos (cascalho, beiras de estrada, pastagens, etc.).
Considerando, portanto, a área agrícola e pecuária, a Leonurus sibiricus resulta em um entrave para essa área, contribuindo para a diminuição de produção agrícola; porém deve ser considerado seu uso na área medicinal e plantações desta espécie com o intuito exclusivo de produção de matéria prima para produção de fitoterápicos ou droga vegetal.
Observaram-se divergências entre as análises das características morfológicas de
Leonurus sibiricus, além disso, são poucos os
estudos existentes relatando as características morfológicas e anatômicas desta planta. Alguns autores não reconhecem a diferenciação entre as espécies de Leonurus, e acabam por classificá-las como única espécie, principalmente entre L.
sibiricus e L. cardiaca. Esta visão extremamente
38
colocando em questão as informações presentes em alguns artigos, por isso, a necessidade do senso crítico e de argumentação perante aquilo que se lê. A confusão entre espécies é admissível perante a medicina popular, onde se trata de um conhecimento mais rústico passado de geração a geração, porém trabalhos publicados devem prestar informações que correspondam unicamente com a realidade daquela espécie.
Leonurus sibiricus, ou popularmente
denominada pela medicina tradicional chinesa,
Motherwort, possui dentre suas ações mais
importantes e comprovadas por estudos in vivo/in
vitro, antiinflamatória e antibacteriana. Embora
existam estudos que comprovem a possível ação antiinflamatória e antimicrobiana, estes ainda são escassos e necessitam de maiores comprovações científicas. Essas características, antiinflamatória e antimicrobiana, merecem a atenção de pesquisadores visto que existem muitas complicações relacionadas a antiinflamatórios sintéticos, além disso, a ocorrência de cepas de bactérias resistentes aos antibióticos atuais representam problema de saúde pública, por isso a melhor compreensão destas duas atividades de
Leonurus sibiricus podem levar, potencialmente,
ao descobrimento de uma nova forma de tratamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Almeida, LFR. Composição química e atividade alelopática de extratos foliares de Leonurus
sibiricus L. (Lamiaceae) [Tese]. Botucatu: UNESP –
Universidade estadual paulista; 2006.
Almeida, LFR; Poletto, RS; Pinho, SZ; Delachiave, MEA. Metodologia para germinação de sementes de Leonurus sibiricus L. Rev Bras Plantas Med. 2011; 13(2):190-6.
Azevedo, SKS; Silva, IM. Plantas medicinais e de uso religioso comercializadas em mercados e feiras livres no Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Acta Bot
Bras. 2006; 20(1):185-4.
Bello, C. M.; Montanha, J. A.; SchenkeL, E. P. Análise das bulas de medicamentos fitoterápicos comercializados em Porto Alegre, RS, Brasil. Rev
Bras Farmacogn. 2002; 12(2):75-83.
Bonatto, IC; Warchowicz, CM; Parolin, LC. Ação alelopática de extratos de Rubim (Leunurus
sibiricus) na germinação e crescimento inicial de
agrião, feijão e milho. ANAIS DO IX CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL. São Lourenço; 2009. Chu, FT; Chen, SM; Chen, KK. A Preliminary Study of Leonurus Sibiricus (I-Mu-Tsao). Exp Biol Med. 1926; 24(1):4-5.
Duarte, MR; Lopes, JF. Morfoanatomia foliar e caulinar de Leonurus sibiricus L., Lamiaceae. Acta
Farm Bonaer. 2005; 24(1):68-74.
Google acadêmico. 2012. Disponível em: < http://scholar.google.com.br/>. Acesso em: 07 maio 2012.
FMC. Fmcdireto. 2012. Disponível em: <www.fmcdireto.com.br/portal/manuais/infestan tes_hf/files/assets/downloads/page0252.pdf> Acesso em: 07 maio 2012.
Franco, DG. Fator de transcrição nuclear kappa B no sistema nervoso central: do fisiológico ao patológico. Rev Biol. 2010; 4:35-9.
Homma, AKO. Uma tentativa de interpretação teórica do extrativismo amazônico. Acta Amaz. 1982; 12(2):251-5.
ITIS. Integrated Taxonomic Information System. Taxonomic serial n. 32550. Washington, DC; 2010.
Disponível em:
<http://www.itis.gov/servlet/SingleRpt/SingleRpt ?search_topic=TSN&search_value=32550>. Acesso em: 07 maio 2012.
Leite, T. C. C.; Branco, A. Análise das bulas de medicamentos à base de Ginkgo biloba L. Rev
Cienc Farm Básica Apl. 2010; 31(1):83-87.
MedlinePlus. National Library EUA; National Institutes of Health. 2012. Disponível em: < <http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/>. Acesso em: 07 maio 2012.
Mendes, MDS. Caracterização química e molecular de espécies da família Lamiaceae e Apiaceae da flora aromática de Portugal [Tese]. Lisboa: Universidade de Lisboa; 2007.
Moon, HT; Jin, Q; Shin, JE; Choi, EJ; Han, H; Kim et al. Bis-spirolabdane-type diterpenoids from
Leonurus sibiricus. J Nat Prod. 2010; 73:123-6.
Mustata, C; Torrens, M; Pardo, R; Pérez, C; The psychonaut web mapping group; Farré, M. Spice drugs: los cannabinoides como nuevas drogas de diseno. Adicciones. 2009; 21(3): 181-6.
Nagasawa, H; Onoyama, T; Suzuki, M; Hibino, A; Segawa, T; Inatomi, H. Effects of motherwort
39
(Leonurus sibiricus L) on preneoplastic and neoplastic mammary gland growth in multiparous GR/A mice. Anticancer Res. 1990; 10(04): 1019-23. Oliveira, LFS. Prospecção de novos produtos naturais e sintéticos bioativos com atividade antimicrobiana frente a helicobacter pylori [Monografia]. São Paulo: Universidade Bandeirante de São Paulo; 2010.
Pin, CH; Abdullah, A. Penentuan Aktiviti antimicrob herba kacangma Leonurus sibiricus.
Sains Malays. 2011; 4 (8): 879-85.
Procópio, SO; Ferreira, EA; Silva, EAM; Silva, AA; Rufino, RJN. Anatomical Studies of Leaves in Weed Widely Largely Occurring in Brazil. V –
Leonurus sibiricus, Leonotis nepetaefolia, Plantago tomentosa and Sida glaziovii. Planta Daninha.
2003; 21(3):403-411.
PubMed. EUA National Library of Medicine National Institutes of Health. 2012. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/>. Acesso em: 07 maio 2012.
Rates, S. M. K. Promoção do uso racional de fitoterápicos: uma abordagem no ensino de farmacognosia. Rev Bras Farmacogn. 2001; 11(2):57-69.
Rocha, GM; Rocha, MEN. Uso popular de plantas medicinais. Saúde e Ambiente em Revista 2006; 1(2):76-85.
Satoh, M; Satoh, Y; Isobe, K; Fujimoto, Y. Studies on the constituints of Leonurus sibiricus L. Chem
Pharm Bull. 2003; 51(3):341-42.
SciELO. Scientific Electronic Library Online. 2012.
Disponível em:
<http://www.scielo.org/php/index.php>. Acesso em: 07 maio 2012.
Shin, HY; Kim, SH; Kang, SM; Chang, IJ; Kim, SY; Jeon, H; Leem et al. Anti-inflammatory activity of Motherwort (Leonurus sibiricus L.). Immunopharmacol Immunotoxicol. 2009; 31 (2):
209-13.
Tomazzoni, M.; Negrelle, R. R. B.; Centa, M. L. Fitoterapia popular: a busca instrumental enquanto prática terapêutica. Texto contexto-enferm. 2006; 15(1):115-21.
UCB, Universidade Castelo Branco (Brasil). Sistemática de angiospermas. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: <http://ucbweb2.castelobranco.br/webcaf/arquiv os/Sistematica_de_angiospermas.pdf>. Acesso em: 08 maio 2012.
UNIMEP. Universidade Metodista de Piracicaba. [Internet]. Disponível em: <http://www.unimep.br/phpg/mostraacademica/ anais/4mostra/pdfs/377.pdf>. Acesso em: 08 maio 2012.
UNIMEP. [Internet]. Disponível em: <http://www.unimep.br/phpg/mostraacademica/ anais/4mostra/pdfs/384.pdf>. Acesso em: 08 maio 2012.
Wadt, NSY; Ohara, MT; Sakuda-kaneko, TM; Bacchi, EM. Atividade antimicrobiana de Leonurus
sibiricus L. Rev Bras Farmacogn. 1996;
5(2):167-74.
Wadt, NSY. A imigração japonesa e a sua contribuição à saúde. Saúde Coletiva. 2008; 5 (23):134.
Wong A, Townley SA. Herbal medicines and anaesthesia. Contin Educ Anaesth Crit Care Pain. 2011; 11(1):14-7.
Wu, H; Fronczek, FR; Burantd CL, Jawiony, JK. Labdane Diterpenoids from Leonurus sibiricus. J
Nat Prod. 2011; 74 (5)831-36.
Yunes, R. A.; Pedrosa, R. C.; Filho, V. C. Fármacos e fitoterápicos: a necessidade do desenvolvimento da indústria de fitoterápicos e fitofármacos no Brasil. Quim Nova. 2001 24(1):147-52.