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EMPRESÁRIO INDIVIDUAL E SOCIEDADE EMPRESÁRIA

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Academic year: 2021

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Euler da Cunha Peixoto'

S U M Á R IO : 1. In tro d u ç ã o . 2. N ovo C ó d ig o C iv il

Brasileiro. 3. Sistema Brasileiro e Sistema Italiano. 4. Elemento de Empresa. 5. O bjeto-A tividade Econômica.

RESUMO

A empresa é, no nosso entendimento, toda atividade exercida pro fissio n a lm e n te e, portanto, com habitualidade (ainda que em temporadas - como bares em praias) e intuito de lucro ou de obter vantagens, para o desempenho da qual o titu la r reúne os meios necessários - capital e trabalho, próprio ou de terceiros - para a produção ou circulação de bens ou serviços, visando atender o m ercado, com exceção das atividades intelectuais, de natureza científica, literária ou artística - regulamentadas ou não por lei -, e a rural, cujo titular submeter-se-á aos direitos e obrigações próprias dos t ripresários, se inscrito o seu titular no Registro Público de Empresas Mercantis.

ABSTRACT

Entrepreneurship is every activity that is professionally and habitually (even if seasonally) executed, with the intent of earning profits or advantages, in which the controller puts together the necessary means - capital, work - for the production or circulation of goods or services to the market, with the exception of the intellectual, scientific, literary or artistic labor that are never considered entrepreneur activity, or the rural activity, which will only be ruled by the Entrepreneurs Law if registered in the public registry of merchant entrepreneurs.

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Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais

1. Introdução

Uma das grandes novidades da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (novo Código Civil) foi o de, nos moldes do Código Civil Italiano de 1942, unificar os Direitos Civil e o Comercial, substituindo o conceito de comerciante pelo de empresário.

A alteração não foi apenas semântica, importando, ao contrário em profundas modificações em conceitos tradicionais do direito privado, com repercussões seríssim as no dia a dia daqueles que exercem atividades econômicas, visando atender ao mercado.

De fato, no âmbito do direito com ercial tradicional, com erciante era a q u e le que e x e rc ia h a b itu a lm e n te a m e rc a n c ia , co m o tal considerada aquelas atividades definidas na lei como com erciais. P o rtanto, em bora a d o u trin a c o n s id e ra s s e a e n u m e ra çã o com o exemplificativa, mesmo assim o conceito era excludente, já que ficavam excluídas do âmbito desse direito todas as atividades econômicas não descritas como mercantis.

R e le v a n o ta r que na e n u m e ra ç ã o , ta n to do a rt. 19, do Regulamento 737 de 1850 (n. 3), quanto no art. 633, do Cód. Comercial Francês de 1807 ou art. 8!, do Código Comercial Argentino de 1889 (n. 5!), para citar apenas alguns, algumas atividades são consideradas m e rca n tis, a p enas q u a n d o e x e rc id a s sob a fo rm a de e m p re sa , nascendo, daí a p rim e ira d ú vid a q u anto a c a ra c te riz a ç ã o desse conceito.

Comentando tal dispositivo, Alfredo R occo1, comparando o item específico onde é feita tal exigência, acaba por considerar que existiria empresa somente quando a atividade comercial fosse exercida através da utilização de mão de obra de terceiros. Assim um cam inhoneiro que se encarregasse pessoalm ente do transporte não seria comerciante, enquanto outro que tivesse m otoristas para efetuá-lo já se enquadraria como tal. Segundo os ilustres doutrinadores se o comércio exige sempre uma organização, por mínim a que seja - motivo pelo qual o exercício das demais atividades transform ariam a pessoa que as praticasse em com erciante, independente de outras exigências - a condição de

1 P rin cípios d e D ireito C om ercial, tra d u ç ã o d o Prof. C a b ra l de M o n c a d a , L iv raria A c a d ê m ic a S a r a iv a , SP, 1931, p . 190, n. 46

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empresa, como característica distintiva, só pode ser considerada como a necessidade da atuação de outras pessoas.

A Itália foi o primeiro pais a am pliar o campo de aplicação do direito comercial, substituindo-o pelo direito de empresa, a qual, embora não definida do Código, poderia ser inferida do conceito de empresário, expresso no art. 2.082.

2. Novo Código Civil Brasileiro

O novo Código Civil brasileiro adotou o sistema italiano com pouquíssimas diferenças, pelo que um estudo da empresa aqui, sob pena de pretender-se reinventar a roda, passa necessariamente, como se verá, pelo exame dos doutrinadores modernos peninsulares.

E tal observação é feita porque ao pretenderem interpretar os conceitos do Cód. Civil brasileiro, grande parte dos doutrinadores resolveu construir o instituto, ignorando toda a experiência italiana nesses 52 anos de vigência do código unificado.

Assim, começam por tentar desenvolver o conceito de Asquini2, segundo o qual a empresa apresentar-se-ia sobre 4 perfis: subjetivo, objetivo, funcional e institucional. Ocorre que o ilustre mestre italiano, ao invés de procurar delim itar o instituto, restringiu-se, a nosso ver, ao apresentar a empresa sob esse conceito plurivalente, a destacar os diversos significados com os quais o termo é utilizado no código. Assim nos arts. 2070, 2188 e 2570 empresa é empregado como em presário (perfil subjetivo); nos arts. 2084, 2085, 2196 como atividade (perfil funcional); no art. 2112 como estabelecim ento ou patrimônio aziendal; e, finalm ente, em bora destaque, também, o perfil institucional, não identifica Asquini quais dispositivos o acolheriam

Fiéis ao método adotado iniciemos por examinar a definição de em presário do art. 966 do CCB (cujo caput constitui cópia fiel do art. 2082 do italiano), que dispõe: “Considera-se empresário quem exerce profissionalm ente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual de natureza

2 R e v ista de D ireito M erc an til In d u strial E c o n ô m ico e F in an ceiro , ed . RT, n. 104, o ut-d ez 1996, tra d u ç ã o de F áb io K on d er C o m p a ra to , p. 109)

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Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federai de Minas Gerais

científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constitui elemento de empresa”.

O art. 2082 do Código Italiano não possui parágrafo, mas a e xclu sã o das a tiv id a d e s in te le c tu a is do â m b ito das o b rig a ç õ e s empresariais encontra-se prevista e regulada no Capítulo II - arts. 2229/ 2238 - que trata das profissões intelectuais, inclusive, a ressalva constante da parte final do parágrafo único do art. 966, a qual é repetida no primeiro parágrafo do art. 2238, in verbis: “se o exercício da profissão constitui elemento de uma atividade organizada em forma de empresa, aplicam-se-lhe também as disposições do título II” (sobre a empresa). Entretanto, no direito italiano, para que a atividade intelectual seja excluída do direito de empresa, é necessário que se trate de profissão regulamentada, sujeita a inscrição em órgão controlador e fiscalizador, condição não expressa na lei brasileira. Por outro lado, ao contrário da lei brasileira que, expressam ente, considera irrelevante o fato de serem ou não utilizados os serviços de colaboradores e auxiliares, o segundo parágrafo do art. 2238 do Código Italiano dispõe que tal prática descaracteriza a atividade como puramente intelectual, determinando sejam-lhe aplicadas as norm as próprias da empresa.

3. Sistema Brasileiro e Sistem a Italiano

Portanto, até aqui, a única diferença entre o sistema brasileiro e o italiano é que, para este, a atividade intelectual não empresarial está restrita àquelas profissões sujeitas a registro e controle por órgão próprio, as quais, por outro lado, não podem ser exercidas através de terceiros, exigências essas não adotadas, expressam ente, pela lei brasileira

Por outro lado, a atividade rural, embora tanto aqui como lá, esteja, em tese excluída do direito de empresas, tal exclusão lá é definitiva, enquanto aqui, o art. 971 do CCB permite que o exercente de atividade rural torne-se empresário, com todas as obrigações daí decorrentes, caso se registre no Registro Público de Empresas.

4. Elemento de Empresa

Feitas tais considerações, resta-nos, para conceituar empresa examinar os seus elementos, em especial: (i) o que se entende por

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atividade organizada; (ii) qual atividade deveria ser considerada como in te le ctu a l e, portanto, estranha ao d ire ito das em presas; (iii) e, fin a lm e n te , o que se e n te n d e por “ e le m e n to de e m p re s a ” que transform aria a atividade intelectual em empresária.

A o rganização necessária para ca ra cte riza r a em presa tem dividido os intérpretes do Código Civil Brasileiro. Assim, para José Edwaldo Tavares, Venício Antonio de Paula Salles, Rodrigo Toscano de Brito, Lílian Maciel dos Santos e Fábio Ulhoa Coelho, cujos trabalhos foram publicados no “Jornal da Serjus” , inform ativo da Associação dos Serventuários da Justiça de Minas Gerais (Órgão Representativo dos Notários, Registradores e seus Prepostos), n. 59, de dezembro de 2003, a empresa decorreria da forma como é exercida a atividade, sendo, assim, sua caracterização uma questão de fato. Nessas condições, para eles, haveria empresa quando o profissional ou os sócios não estivessem diretamente envolvidos no exercício da atividade ou o objeto social, restringindo-se a coordená-la ou supervisioná-la.

Nesse sentido, assim se manifesta, forte em José Nadi Néri, Rodrigo Toscano de Brito, refletindo a opinião dos demais:

“A q u e le que e x e rc e r is o la d a m e n te - se d e s e ja rm o s primeiro o conceito de empresário individual - através de um organismo sua atividade, é considerado empresário. Ou s e ja , o o rg a n is m o aqui se s o b re p õ e à id é ia de pessoalidade, de fazer a própria pessoa diretamente. Ao in v é s de a s s im se p o rta r, c ria um a o rg a n iz a ç ã o , arregim entando pessoas, trabalho, capital, matéria-prima, te c n o lo g ia . A re a liza çã o da a tivid a d e não é e xe rcid a diretam ente pelo empresário. Ele é quem coordena, quem organiza os fatores de produção, quem dá as diretrizes, por outro lado, quem aparece aos olhos de todos é o tal organismo criado. Este entretanto, não pode ser confundido com pessoa jurídica, pois o empresário pode ser pessoa física ou jurídica.” 3

3 Jo rn al da Serju s, n. 59, de dezem bro de 2003, p 5 (inform ativo da A sso ciaç ão d os Serven tuários da Ju stiça de M in as G erais, Ó rgã o R epresen tativ o dos N otários, R egistradores e seus Prepostos)

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Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais.

E, para finalizar acrescenta o mestre da PUC-SP:

“ Mas, a rigor, não dá para dizer, nem sequer para imaginar que um médico, um cirurgião dentista, um arquiteto, por exemplo, que atende seu cliente pessoalm ente, ainda que com a ajuda de uma ou duas pessoas - se cre tá ria e enfermeiro, por exemplo - seja considerado empresário. Onde está o organismo, elem ento de empresa, que é o mais im portante.”

No mesmo sentido se manifesta Graciano Pinheiro de Siqueira que, após especificar as diversas etapas na evolução do profissional autônomo à sociedade empresária, assim conclui:

“ P elo e x p o s to , te m o s que um a s o c ie d a d e não será empresária, mas simples, quando a atuação pessoal dos sócios suplantar a organização dos fatores de produção. Na sociedade simples, o critério reside, em princípio, na predom inância da atividade pessoal dos sócios.” 4

Também a p ro faM oem a A u g u sta S oares de C astro parece comungar com tal tese ao residir a característica primordial da empresa na maior com plexidade da organização:

significa dizer que os fatores da produção devem estar o rganizados pelo em presário: capital, tra b a lh o alheio, insumos, tecnologia (não necessariamente a de ponta, mas a de a m p lo s c o n h e c im e n to s do n e g ó cio e x p lo ra d o ), investim entos em marketing, desenvolvim ento de técnicas de adm inistração, com a contratação de profissionais que o ajudem a executar tais tarefas, desenvolvim ento de uma marca que o distinga, utilização da figura do título do e s ta b e le c im e n to , que o fa rá c o n h e c id o pelo p ú b lico , avaliação, investim ento e desenvolvim ento do ponto em que se estabelecerá. Sem alguns desses fatores não há organização.” 5

4 “So cied ad e e Em presa, in w w w l.jus.com .b r/d ou trin a - 0 7/04/2004

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Antes de examinarmos objetivamente a questão é importante que se coloquem dois pontos, a nosso ver, essenciais à sua solução: (a) o conceito de empresa não se encontra adstrito às grandes organizações, mas, como expresso no art. 970 do C ódigo C ivil, deve aplicar-se também ao pequeno empresário; (b) diante das conseqüências do mau enquadram ento - o exercício da atividade seria irregular e, tratando- se de pessoa jurídica a responsabilidade dos sócios, independente do tipo de sociedade ou dos termos do contrato seria ilimitada, para citar apenas algumas - devem ser utilizadas regras objetivas que reduzam ao mínimo a subjetividade e mão implantem a mais caótica insegurança jurídica.

Ora, os conceitos, até agora, expostos, sem dúvida algum a atendem às grandes empresas, com muitos empregados e organização complexa, mas tornam -se extremamente vulneráveis, por excluirem da a tiv id a d e e m p re sá ria ta n to grandes em presas que se destacam , exatamente, pela sim plicidade ou micros ou pequenos empresários.

De fato, se somente existe organização na hipótese de utilização de mão de obra de terceiros, não seriam empresários o “médico que atende seu cliente” , mas também, o dono de um bar que atendesse diretam ente a clie n te la ou a sociedade, titu la r de um restaurante, servido pessoalm ente pelos sócios.

Por outro lado, perderia a condição de em presário quem se desfizesse de seus empregados em decorrência da utilização de novas tecnologias ou de uma organização mais racional como aquele que substituísse em pregados por máquinas operadas por ele próprio, ou em caso de sociedade, pelos sócios, diretam ente movimentadas. Da mesma forma, perderia a condição de empresário o que extinguisse o estabelecimento com vários empresados, passando a receber (a pessoa física ou os sócios), pessoalmente, os pedidos de clientes através da Internet, e adquirindo as mercadorias respectivas de empresários que se e n ca rre ga ria m tam bém de e n tre g á -la s aos a d q u ire n te s. E tal conclusão aplicar-se-ia, ainda que tivesse, no exercício tradicional de sua atividade de compra e venda, um faturam ento infinitamente inferior ao conseguido com a nova forma de comerciar, configurando, assim, verdadeiro absurdo que, como tal, não pode ser admitido.

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Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais.

A questão ainda mais se complica se o profissional ou os sócios, ao invés de simplesm ente coordenarem as atividades, delas também participarem pessoalmente. Nos exemplos dados, se além de atenderem os c lie n te s o dono do bar ou os só cio s da s o c ie d a d e titu la r do restaurante, tivessem uma equipe grande para e fe tu a r a m esm a atividade: seriam ou não empresários. E, se, eventualm ente, o fossem, quando ocorreria tal transmutação? Em que momento a organização adquiriria a relevância necessária para tornar secundário o serviço pessoal do titu la r do capital, a fim de ca ra cte riza r a em presa ? A complexidade que atinge a conceituação da empresa sob tal ângulo pode ser aferida na hipótese de um C hef de cuisine de renome, que utiliza em seu restaurante a mão de obra de outros cozinheiros e

garçons: seria ou não empresário. E se ele for um dos sócios, integrando

os dem ais o grupo de co z in h e iro s e g arçons, seria a so cie d ad e empresária?

Da mesm a form a, a in se g ura n ça ju ríd ic a s e ria a in d a m ais intensificada se enfatizada a tecnologia como suporte da organização. É que não raras vezes o marketing está assentado, exatam ente, na ausência da mesma, como restaurantes que destacam seus quitutes p or se re m p re p a ra d o s em fo g ã o de le n h a . P or o u tro la d o fu i ridicularizado por meus alunos ao revelar-lhes que utilizava em meu escritório um PC 486, segundo eles, verdadeiro dinossauro tecnológico. Tais considerações levar-nos-iam a indagar quando e qual tecnologia seria suficiente para transform ar um profissional em um empresário, salientando-se que a substituição do com putador por uma máquina de escrever ou vice-versa poderá não acarretar a mínima diferença no faturamento ou no lucro, mas seria substancial pela teoria por nós combatida para caracterizar ou não o empresário.

Além do mais, a utilização de mão de obra de terceiros como elemento caracterizador da empresa, está afastada, a nosso ver, pelo próprio parágrafo único do art. 966, quando adm ite o exercício da atividade intelectual através de auxiliares ou colaboradores, sem que, apesar disto, passe a mesma a ser empresa, hipótese que só ocorreria, na redação da norma em apreço, se o seu exercício envolvesse também o “elemento de em presa” .

Ora, se o legislador distingüiu, não poderá o intérprete equiparar os dois term os, devendo, ao contrário, p e rq u irir a diferença entre

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ambos. E, nesse mister, segundo o Aurélio, au xilia r corresponde a

assistente, ajudante, enquanto colaborador seria aquele que trabalha

na mesma obra, ou no nosso caso, na mesma atividade.

N e s s a s c o n d iç õ e s , u tiliz a n d o -s e do e x e m p lo do m é d ic o apresentado por Rodrigo Toscano de Brito, o enfermeiro e a secretária seriam auxiliares, ao ajudarem-no a exercer a sua atividade, enquanto os demais médicos da equipe - que substituem o profissional - seriam colaboradores, donde impor-se a conclusão de que a utilização de mão de obra de terceiros, também chamada de impessoalidade, não constitui elemento caracterizador da empresa.

Na verdade, a nosso ver, a organização expressa no art. 966 do CC é, sim plesm ente, aquela necessária a atender o mercado - de serviços ou de produtos - a que se propõe o empresário ou, em outras palavras, a reunião, pelo mesmo, dos meios de produção - capital e mão de obra (de terceiros ou dele próprio) - capazes de perm itir-lhe cum prir seus objetivos profissionais.

Este, aliás, o entendimento de Alfredo Rocco, quando pretende dem onstrar que o significado do termo empresa empregado no art. 39, ns. 6, 7, 8, 9, 10, 13 e 21 do antigo Cód. Comercial Italiano e destinado a caracterizar os itens ali previstos como atos de comércio, não seria o comum, próprio a todos os “atos de comércio constitutivos” :

“Assim, acha-se na compra para revenda e sucessivas revendas, isto é, no comércio propriamente dito, porque o com ércio é também um ramo da produção econômica e toda a produção comercial implica uma organização dos v á rio s fa to re s da produção d e stin a d a a p ro d u z ir e a produzir para o mercado geral; donde há que concluir que a simples compra para revenda e as sucessivas revendas, o com ércio enfim, são uma empresa não só no sentido mais lato, como no mais restrito.” 6.

No m esm o s e n tid o os m odernos d o u trin a d o re s ita lia n o s - embasados na experiência de mais de 52 anos de vigência do Código

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Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais

Civil - dentre os quais Francesco Galgano para quem a organização seria um pseudo requisito porque:

“ sua fa lta não im p e d e de a s s u m ir a q u a lid a d e de e m presário, com o a re form a trib u tá ria c o n ve n cio n o u , excluindo, no art. 51, d.p.r. 29 de setem bro 1973, n. 597, o requisito da organização na atividade de renda da empresa; a sua presença serve, sim plesm ente, para d istin g u ir o e m p re s á rio não p e q u e n o , q u e te m s e m p re um a organização, do pequeno em presário, que pode não tê- la.” (tra d u z im o s ).7

Mas, não é que exista empresa sem organização; todas elas a têm, ainda que insignificante e restrita, por exemplo, ao controle do tempo, utilização da capacidade do profissional e dos insumos, desde que suficientes a atender o mercado, organização, em suma, própria a todo profissional autônomo ainda que não empresário. Assim, não é possível a “falta” de organização. Entretanto, esta é comum a toda atividade profissional, não sendo particular à empresa, m otivo pelo qual, pela sua generalidade, é cham ada por G algano de “ pseudo elem ento” .

Oportuno o magistério de Francesco Messineo que, após definir estar a organização condicionada a existência de um estabelecim ento (assim entendido como “corrjunto de m eios” , de bens - capitais) ou organização do trabalho alheio, leciona:

“ Isto se deduz, de um lado, no confronto com â figura do pequeno em presário, no qual a organização do trabalho a lh e io ou s u a fa lta a b s o lu ta o u, ao m e n o s n ã o é predom inante (arg. a contrario, art. 2083); de outro lado, da consideração de que o caso do empresário, sem azienda ( e s ta b e le c im e n to ) é in c o n c e b ív e l se se re fe re ao e m p re s á rio o r d in á rio , e é o c a s o - lim ite , e m b o ra a b s tra ta m e n te a d m is s ív e l, se se re fe re ao p e q u e n o empresário, mas fora da realidade econômica, posto que esta se serve sempre, ainda que em medida reduzidíssima,

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de bens instrum entais (o caso da trupe de acrobatas que não usem instalações nem aparatos de ginástica e que trabalhem nas ruas, imaginado para demonstrar o contrário, não tem a p lic a ç ã o ta m p o u co , po rq u e e stes d e v e rã o providenciar ao menos uma licença de exercício e levarão ao menos umas m unhequeiras para proteger as veias contra as varizes; o que im porta em recorrer a meios externos)” 8

Dentro deste entendimento, os que exercem atividade intelectual, somente não se enquadram como empresários, para se submeterem às obrigações próprias da categoria, porque a lei expressam ente os excluiu. Aliás, o Código Italiano adotou idêntica posição para o titular de empresa rural, excluído das obrigações próprias do empresário. No Brasil, o legislador não foi tão inflexível, permitindo que o em presário

rural - n a term inologia empregada pelo art. 971 - possa submeter-se

a tais obrigações e direitos, desde que se inscreva no Registro Público de Empresas Mercantis.

Em suma, a organização, embora presente em toda empresa, não se presta a distinguí-la das atividades não empresariais, vez que também nestas é encontrada. O verdadeiro elemento diferenciador é o exercício profissional da atividade, termo este que traz em si a idéia, não só de intenção de ganhos ou lucros, atividade criativa de riqueza, mas também de atividade com o objetivo de atender ao mercado.

O exposto acima aplica-se, também, às sociedades - exceto as anônim as que, nos termos do parágrafo único do art. 982 do Código Civil Brasileiro, sem pre serão empresárias. Nessas condições, são empresárias, a teor do art 982, as sociedades que não tivessem por objeto, atividade excluída da categoria, quais sejam, as intelectuais e as rurais (estas desde que não inscritas no Registro de Empresas). Ao contrário, seriam simples, as que exercem essas atividades.

O enfoque, portanto, nos moldes da legislação anterior, é o objeto, ou a atividade exercida, salientado, como visto, tanto no caput (atividade própria de empresário), como no parágrafo único do mencionado art.

8 M anual de D erech o C ivil y C om ercial, ed. Jurídicas E uropa-A m ercica, Buen os A ires, 1971, T om o II, p. 200, trad u ção de S an tia g o Sen tis M elen d o (traduzim os para o português)

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Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais

982 (“ independentem ente de seu objeto”). Apenas que no anterior Direito Comercial, as atividades econômicas por ele abrangidas eram as enumeradas na lei, enquanto no atual Direito de Empresas, todas elas a ele estão sujeitas, com exceção das, expressam ente, excluídas pela lei.

Resta, então, exa m in a r quais as a tiv id a d e s in te le c tu a is de natureza científica, literária e artística estariam excluídas do direito de empresas, bem como o que se deve considerar como elem ento de

empresa, cuja presença perm ite caracterizá-las como empresas.

De conformidade com o art. 2229 do Cód. Italiano, as atividades intelectuais não em presárias são aquelas cujo exercício depende da inscrição em órgãos próprios de controle profissional ou, na expressão d as n o rm a s tr ib u tá r ia s b r a s ile ir a s 9, “ p ro fis s õ e s le g a lm e n te regulamentadas” . Tal exigência inexiste no Cód. Civil Brasileiro que se refere sim plesm ente a “profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística.” Nessas condições, o profissional ou a sociedade, cuja atividade seja a de criação e manutenção de software ou programas de computador, apesar da profissão não ser regulamentada, não será considerado empresa, por se tratar de atividade intelectual.

Mas o que pretenderia o legislador referir-se ao utilizar o termo

elemento de empresa, capaz de transform ar a atividade intelectual em

empresa?

Praticamente, todos os autores apresentam como exemplo dessa transm utação a hipótese do médico ou sociedade de médicos que também explora hospital, acrescentando, alguns, que este demandaria uma organização tal que justificaria a transform ação.

Fiéis a nosso ponto de vista, não entendem os que a maior ou m enor c o m p le x id a d e no e x e rc íc io da a tiv id a d e in te le c tu a l seria suficiente para transform á-la em empresa. A nosso ver, o objetivo da parte final do parágrafo único do art. 966 do Cód. Civil foi o de afastar a d is c u s s ã o a c e rb a - e x is te n te no d ire ito a n te rio r q u a n to à classificação do profissional ou da sociedade que tem dupla atividade: uma empresária e a outra não.

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Para Rubens R equião10 deveria prevalecer nessa hipótese a a tiv id a d e p re p o n d e ra n te , te s e na q u a l o ilu s tre c o m e rc ia lis ta paranaense estaria, praticamente, isolado, vez que, segundo a grande maioria, aplicar-se-ia, no caso, a força atrativa do direito comercial, por ser um direito profissional, sendo assim, o exercente das duas atividades considerado comerciante.

O Código Civil atual, no parágrafo único do art. 966, objetivou exatam ente afastar tal discussão, para considerar que o exercício pelo p ro fis s io n a l de duas ou m ais a tiv id a d e s eco n ô m ica s, v isa n d o o mercado, ainda que uma delas estivesse expressam ente excluída do d ire ito e m p re s a ria l, d e v e ria s e r c o n s id e ra d o e m p re s á rio , não im portando qual delas fosse a preponderante. Por isso mesm o, o exercício da m edicina - atividade, sem dúvida intelectual - e a de h o sp ita l - in d is c u tiv e lm e n te e m p re sá ria - le va ria o p ro fis s io n a l respectivo a enquadrar-se como empresário, apesar, frise-se, de uma das atividades não poder assim ser classificada.

Serviria, também, como exemplo a sociedade de engenheiros que além de cálculos, tivesse como objetivo também a construção: embora uma das atividades por ela exercidas não o fosse, a sociedade seria empresária, por força da outra atividade,

R eleva n o ta r que o p ro b le m a não e x is tirá com re la ç ã o à sociedade de advogados ex vi do disposto no art. 16 da Lei 8.906/94 que veda te n h a a m esm a qualquer outro objeto que não seja a advocacia. Independente da quantidade de advogados que a compõe ou dos a ela vinculados em decorrência de relação de emprego ou por força de contrato, nunca será sociedade empresária.

Em resumo, empresa é, no nosso entendimento, toda atividade exercida profissionalm ente e, portanto, com habitualidade (ainda que em tem poradas - como bares em praias) e intuito de lucro ou de obter vantagens, para o desem penho da qual o titu la r reúne os m eios necessários - capital e trabalho, próprio ou de terceiros - para a produção ou c irc u la ç ã o de bens ou se rviço s, visa n d o a te n d e r o m ercado, com e xce çã o das a tivid a d e s in te le c tu a is , de n a tu re za

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científica, literária ou artística - regulamentadas ou não por lei -, e a rural, cujo titular submeter-se-á aos direitos e obrigações próprias dos empresários, se inscrito o seu titular no Registro Público de Empresas Mercantis.

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Referências

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