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Representação social dos discentes de enfermagem sobre a profissão e profissional enfermeiro

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(1)Revista de Educação Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008. Patrícia Madalena Vieira Hermida Faculdade Anhanguera de Indaiatuba. REPRESENTAÇÃO SOCIAL DOS DISCENTES DE ENFERMAGEM SOBRE A PROFISSÃO E PROFISSIONAL ENFERMEIRO. RESUMO. patricia.vieira@unianhanguera.edu.br. Pesquisa exploratória-descritiva que buscou identificar a percepção dos discentes de enfermagem sobre a profissão e profissional enfermeiro, realizada com 29 estudantes da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba, na disciplina “História e Exercício da Enfermagem”, no primeiro semestre de 2008. Os dados foram coletados utilizando-se um questionário e os resultados apontaram: perfil dos alunos predominantemente feminino, de 20 a 29 anos, moram no município onde estudam, possuem formação profissionalizante em enfermagem e exercem alguma atividade profissional; na definição dos discentes acerca da enfermagem emergiram as categorias: “Ações de enfermagem” e “Sujeitos, Qualificações e Resultados das ações de enfermagem”; a enfermeira foi definida nas categorias: “Sujeito enfermeira”; “Ações da enfermeira à equipe e aos pacientes”, e “Qualificações e Resultados das ações da enfermeira”. A análise crítica do docente das representações dos estudantes sobre os fenômenos (enfermagem e enfermeira), pode contribuir para formação de uma imagem profissional positiva e prática profissional mais valorizada socialmente. Palavras-Chave: Representações sociais, enfermagem, enfermeiro, estudantes de enfermagem.. ABSTRACT. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 29/6/2008 Avaliado em: 3/8/2008. Exploratory-descriptive research with the objective of identifying the nursing course pupil’s perception of the profession and of professional nurses. The study was conducted with 29 students in the “History and Practice of Nursing” course at Anhanguera College in Indaiatuba in the first semester of 2008. The data was collected by a questionnaire and the results showed us that the pupil’s profile was predominantly females, aged 20-29, who lived and studied in the same city, had a degree from a professionalizing nursing course, and had some professional experience. In relation to the nursing course’s definition, two categories were identified: nursing actions and subjects, and qualifications and results from nursing actions. According to the meaning of nurse, this professional was defined in the following categories: nurse’s participation with the team and effects on the patients and results from the nurse’s actions. Critical analysis of the student’s perceptions of the meanings of the terms nursing and nurse can contribute to a positive professional image and to a more socially valued practical professional. Keywords: Social representations, nursing, nurse, students of nursing.. Publicação: 19 de novembro de 2008 137.

(2) 138. Representação social dos discentes de enfermagem sobre a profissão e profissional enfermeiro. 1.. INTRODUÇÃO A história e o exercício da enfermagem estão inseridos na história das práticas de saúde desde os primórdios da humanidade. Marcada por práticas variadas de cuidados à saúde, as quais acompanham a evolução da própria história da humanidade, a enfermagem vivenciou três fases distintas da sua evolução tradicionalmente conhecidas como fase empírica, evolutiva e de aprimoramento, partindo-se de cuidados muito simples e de práticas baseadas em experiências de leigos, atingindo certo grau de evolução com as contribuições de Florence Nightingale no século XIX, e aprimorando-se com a profissionalização e construção de um corpo de conhecimento científico próprio, no século XX. Dentro de contextos sócio-econômicos e políticos diferenciados, cada momento histórico da enfermagem mundial, desempenhado por diversos agentes, de mulheres a escravos, religiosos a categorias profissionais de enfermagem (auxiliares, técnicos de enfermagem e enfermeiros), contribuiu para a construção da imagem e representação social dos agentes e da profissão de enfermagem, como hoje é entendida. Aspectos históricos explicam, por exemplo, porque a enfermagem dentro da área da saúde sempre teve menos prestígio social em relação à medicina e porque a imagem da enfermeira freqüentemente é utilizada principalmente pela mídia televisiva como símbolo sexual. Geovanini (2005) explica que um dos fatores que reforça a dificuldade do reconhecimento social da Enfermagem é a divulgação distorcida de alguns veículos de comunicação que, por intermédio de contos e novelas, desprestigiam a classe, ao exibíla de forma depreciativa, ora como grotesca e vulgar, ora como dócil e submissa, fortalecendo idéias pré-concebidas e errôneas a seu respeito. Isso contribui para diminuir ainda mais o status profissional e o poder de barganha da Enfermagem na defesa de seus interesses. [...] não há como negar a utilização da imagem profana da enfermeira como símbolo de erotização sexual na publicidade, nos programas de televisão e similares. Ora aparece fazendo propaganda de calcinhas e soutiens, ora atende a um cliente no hospital com uma touca na cabeça e uma saia curta, evidenciando todos os seus atributos físicos e sexuais. (BERARDINELLI; SANTOS, 2006, p. 264).. Berardinelli e Santos (2006) acrescentam que os leigos costumam associar a imagem da enfermeira a qualquer pessoa de branco, independente de trabalhar ou não no hospital: se não for médico(a), é enfermeira. Dessa forma, as secretárias de consultórios, as babás, acompanhantes de pessoas idosas ou outras pessoas prestadoras de ser-. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155.

(3) Patrícia Madalena Vieira Hermida. viços que vestem roupas brancas, são todas designadas como enfermeiras. Essas imagens culturais arcaicas ainda afetam a enfermagem e são indicadores do descrédito e deturpação da imagem da profissional, perante o senso comum. Segundo essas autoras, uma das mais fortes razões da insatisfação no exercício profissional e de desconforto para os enfermeiros é a prática depreciativa, de desvalorização e conseqüente falta de reconhecimento pela sociedade. Portanto, é preciso enfrentar os estigmas estabelecidos pela sociedade e veiculados pela mídia. Diante do exposto, entende-se como relevante identificar qual a percepção dos discentes de enfermagem sobre a profissão de enfermagem e a figura do enfermeiro, pois essas percepções podem influenciar na formação e prática profissional dos futuros enfermeiros, logo, precisam ser analisadas criticamente e discutidas em sala de aula. Compreendendo a percepção dos estudantes acerca desses fenômenos (enfermagem e enfermeiro) acredita-se que é possível estimulá-los a analisar de maneira crítica e reflexiva suas representações sobre a enfermagem, contribuindo para a formação de uma imagem profissional positiva.. 2.. OBJETIVO Identificar a percepção dos discentes do curso de enfermagem sobre aspectos relacionados à profissão enfermagem e profissional enfermeiro.. 3.. SUJEITOS E MÉTODOS. 3.1.. Delineamento do estudo. Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, baseado no preenchimento de um questionário sobre a profissão de enfermagem e o profissional enfermeiro, sob a percepção de alunos de graduação em enfermagem. Para Leopardi (2002) a pesquisa exploratória permite ao investigador aumentar sua experiência sobre certo problema e necessita de uma revisão de literatura, além de entrevistas, emprego de questionários, entre outros. Com esse tipo de estudo é possível formular sugestões para melhorar, por exemplo, práticas educacionais e de saúde. Pesquisas do tipo descritivas são caracterizadas. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155. 139.

(4) 140. Representação social dos discentes de enfermagem sobre a profissão e profissional enfermeiro. [...] pela necessidade de se explorar uma situação não conhecida, da qual se tem necessidade de maiores informações. Explorar uma realidade significa identificar suas características, sua mudança ou sua regularidade. (LEOPARDI, 2002, p. 120).. Para a autora, existe uma série de pesquisas dessa natureza, tais como as de opinião, forma de pesquisa que será utilizada neste estudo. Todas as fases de realização da pesquisa, inclusive a aplicação do questionário, foram desenvolvidas pela professora da disciplina que também é a idealizadora e autora deste trabalho, o qual foi desenvolvido em três fases:. 1ª Fase Nesta fase, realizou-se a coleta de dados com aplicação na íntegra do questionário de Bizarro e Chamma (2005), o qual contempla questões abertas e fechadas referentes ao conhecimento da profissão enfermagem e a identificação da profissional enfermeira, seu papel e suas funções. Esse questionário é dividido em duas partes, quais sejam: “Caracterização da população” e “Opinião dos participantes”. A primeira parte caracteriza a amostra deste estudo, ou seja, os graduandos de enfermagem, enquanto a segunda, aborda a percepção dos discentes sobre os aspectos relacionados à enfermagem e enfermeira. A aplicação do questionário foi realizada apenas no primeiro dia de aula da disciplina “História e Exercício da Enfermagem”, do curso de graduação em enfermagem, durante o primeiro semestre letivo do ano de 2008.. 2ª Fase Os dados levantados a partir do questionário previamente preenchido pelos alunos foram agrupados e organizados sob a forma de gráficos, quadros e tabelas, facilitando a posterior análise. Especificamente sobre os dados de opinião dos discentes acerca do conceito de enfermagem, identificados na segunda parte do questionário, esses permitiram criar cinco categorias de respostas para análise, quais sejam: “Ações de enfermagem”; “Sujeito das ações de enfermagem”; “Qualificações nas ações de enfermagem”, “Resultados das ações de enfermagem” e, “Outros”. A opinião dos alunos sobre quem é a enfermeira fez emergir outras cinco categorias de respostas, denominadas: “Sujeito enfermeira”; “Qualificações das ações da enfermeira”; “Ações da enfermeira à equipe e aos pacientes”; “Resultados das ações da enfermeira” e, “Outras”.. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155.

(5) Patrícia Madalena Vieira Hermida. 3ª Fase Nesta última fase, os dados já organizados foram analisados e discutidos.. População do estudo - Esta pesquisa foi realizada com todos os alunos que estavam presentes na primeira aula da disciplina “História e Exercício da Enfermagem”, da primeira série do curso de graduação em enfermagem, da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba, totalizando uma amostra de 29 discentes estudados.. Aspectos éticos da pesquisa - Foi respeitada a livre escolha do aluno em participar ou não do estudo. Antes de iniciar a aplicação do questionário informou-se os estudantes sobre a importância do estudo, seu objetivo e a possibilidade de anonimato, ou seja, os alunos poderiam não se identificar, se assim desejassem. Os discentes foram informados ainda que as respostas seriam analisadas e discutidas posteriormente por ocasião de uma futura publicação na revista institucional das Faculdades Anhanguera. Após esses esclarecimentos os alunos preencheram um termo de consentimento livre e esclarecido, respeitando-se assim a Resolução 196/96 que trata sobre as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas em Seres Humanos (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 1996). Convém destacar que, esta pesquisa não traz nenhum risco à população estudada, para a qual poderá trazer como benefícios a formação de uma postura crítica e reflexiva acerca da futura profissão que desejam exercer e do futuro profissional que pretendem ser. O projeto desta pesquisa foi analisado pelo diretor executivo da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba, recebendo seu parecer favorável para implementação na respectiva Unidade, e após isso, foi encaminhado ao Comitê de Ética de Pesquisa em Seres Humanos, das Faculdades Anhanguera, do qual recebeu autorização para a realização da pesquisa e publicação dos resultados.. 4.. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados desta pesquisa são apresentados sob a forma de gráficos, quadros e tabelas e as discussões dos dados apontadas concomitantemente.. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155. 141.

(6) 142. Representação social dos discentes de enfermagem sobre a profissão e profissional enfermeiro. Participaram deste estudo 29 discentes da primeira série do curso de enfermagem, os quais estavam cursando o primeiro semestre letivo de 2008, da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba.. F M. 24,1%. 75,9%. Gráfico 1. Sexo dos discentes ingressantes do curso de enfermagem da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba, no primeiro semestre de 2008.. Os estudantes caracterizam-se por serem na grande maioria mulheres, totalizando 22 alunos (75,9%) do sexo feminino, conforme Gráfico 1. Este resultado é corroborado por outras pesquisas que apontam o perfil dos alunos de enfermagem como sendo predominantemente feminino (OGUISSO et al., 2006; SANTOS; LEITE, 2006). No estudo de Oguisso et al. (2006), realizado com alunos ingressantes em 2003 no curso de enfermagem de uma universidade pública de São Paulo, 90,2% dos estudantes eram mulheres, e no trabalho de Santos e Leite (2006) quando estudado o perfil do aluno que ingressou em 2004 numa universidade particular da cidade de São Paulo, 92% dos alunos também eram do sexo feminino. Teixeira et al. (2006) em um trabalho analisando o perfil do estudante de graduação de enfermagem que participou do Exame Nacional de Cursos (ENADE) de 2004, mostram que os dados encontrados reforçam duas tendências já constatadas pela literatura, uma delas quanto à relação historicamente construída entre a mulher e o cuidar e a outra refere-se à relação socialmente construída entre a mulher e a opção pelos cursos de enfermagem. Entretanto, identificou-se no presente estudo algo que Oguisso et al. também já observou em 2004, em relação ao número de alunos do sexo masculino. Oguisso et al. (2006) revelaram que 9,8% dos estudantes eram do sexo masculino e nesta pesquisa, ainda mais atual, percebeu-se que 24,1% dos ingressantes do curso superior de enfermagem são homens, o que parece estar mesmo em ascensão, considerando-se décadas passadas, quando esse percentual oscilava em torno de 5%.. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155.

(7) Patrícia Madalena Vieira Hermida. Teixeira et al. (2006) também destacam que há um crescente interesse por estudantes do sexo masculino pelo curso, já visível nos indicadores de alunos ingressantes (16%), segundo o ENADE realizado em 2004. Tabela 1. Faixa etária dos graduandos da primeira série em enfermagem, da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba, no primeiro semestre de 2008. Faixa Etária (em anos). Nº. alunos. % alunos. < 20. 01. 3,4. 20 – 24. 10. 34,5. 25 – 29. 11. 37,9. 30 – 34. 04. 13,8. 35 – 39. 01. 3,4. > 40. 02. 6,9. Total. 29. 100. Os discentes apresentam idades que variam de 17 a 42 anos, sendo que a maioria (72,4%) tem entre 20 e 29 anos. Outros dois estudos encontraram que a maioria dos alunos ingressantes nos cursos superiores de enfermagem estavam na faixa etária de 20 a 25 anos, em uma universidade pública (OGUISSO et al., 2006), e entre 21 e 30 anos, numa universidade particular (SANTOS; LEITE, 2006), correspondendo a 95% e 64% do total de ingressantes, respectivamente. Do total de alunos pesquisados, 26 moram no município onde estudam, sendo apenas três de outras duas cidades da região. Essa distribuição pode indicar a forte inserção da faculdade na comunidade onde está localizada e que existe uma demanda pelo curso na própria cidade, talvez pelo fato de não haver nenhum outro curso de enfermagem de nível superior no município, apenas cursos técnicos de enfermagem.. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155. 143.

(8) 144. Representação social dos discentes de enfermagem sobre a profissão e profissional enfermeiro. Tabela 2. Grau de escolaridade e área de formação dos discentes da primeira série em enfermagem, da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba, no primeiro semestre de 2008. Formação. Nº. alunos. Ensino médio completo. 06. Técnico de enfermagem. 16. Auxiliar de enfermagem. 04. Ensino profissionalizante. 04. Superior (Letras). 01. A maioria dos alunos que participaram deste estudo já tem algum grau de formação profissionalizante em enfermagem (n. 20). Dentre os técnicos de enfermagem, dois deles possuem também outras formações, sendo um formado em técnico de administração e o outro no ensino superior de Letras. Os três alunos que não têm formação profissional em enfermagem, mas realizaram outros cursos profissionalizantes, são formados em Segurança do Trabalho, Radiologia ou Vendas, Turismo. Considerando-se os alunos que possuem formação técnica em enfermagem e em outras áreas, identifica-se que a grande maioria (n. 23) dos alunos ao ingressarem no curso superior de enfermagem já havia freqüentado uma escola técnica, e apenas seis do total de alunos concluíram somente o ensino médio. Esses dados diferem de outro estudo que revela que apenas 30% dos estudantes haviam freqüentado escola técnica enquanto 70% freqüentaram o ensino médio (OGUISSO et al., 2006). É preciso considerar que esses estudos foram realizados em contextos educacionais distintos, sendo que o primeiro trata-se do perfil de alunos ingressantes em uma faculdade privada, enquanto o segundo, refere-se a estudantes de uma universidade pública. Talvez isso explique os resultados praticamente contrários evidenciados nessas pesquisas. É possível inferir que muitos estudantes buscam primeiramente uma formação técnica profissionalizante que lhe possibilite ter uma renda para poder cursar um ensino superior privado, o que aponta os dados da Tabela 3. Porém, cabe interrogar por que esses alunos não buscam essa formação superior em instituições públicas? Talvez por se tratar de alunos que na sua maioria vêm do ensino público, que já estão “afastados” da escola há alguns anos e que com essas características dificilmente conseguiriam êxito em um processo seletivo de uma universidade pública. Vale destacar que no Brasil o ensino superior público ainda é bastante concorrido e que algumas. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155.

(9) Patrícia Madalena Vieira Hermida. medidas governamentais vêm sendo implementadas para se garantir o acesso, pelo menos para alguns grupos menos favorecidos, como é o caso das cotas para negros nas universidades públicas. Para Teixeira et al. (2006, p. 485), Se considerarmos o agravamento das condições de vida da população brasileira, seu empobrecimento, e dado que a democratização do acesso ao ensino superior se deu às custas do sistema privado de ensino, será possível supor que para se manterem nos cursos, os estudantes necessitarão, de forma cada vez mais crescente, trabalhar para se sustentar no seu processo de formação. E esta parece ser uma tendência na profissão, qual seja, a de ter como sua clientela preferencialmente, estudantes que trabalham.. Convém ainda esclarecer que, a grande maioria dos alunos (n. 23) não estão cursando atualmente nenhum curso de nível profissionalizante, concomitantemente com a graduação, entretanto seis deles não responderam a esta questão. Tabela 3. Atividades exercidas pelos graduandos da primeira série em enfermagem, da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba, no primeiro semestre de 2008. Atividades. Nº. alunos. % alunos. Auxiliar de enfermagem. 09. 31,0. Técnico de enfermagem. 07. 24,1. Estudante. 03. 10,3. Vendedora. 02. 6,9. Relações públicas. 01. 3,4. Técnico em radiologia. 01. 3,4. Secretária. 01. 3,4. Auxiliar financeiro. 01. 3,4. Atendente de farmácia. 01. 3,4. Não responderam. 03. 10,3. 29. 100. Total. A grande maioria dos graduandos (79,3%) desta pesquisa apontam que exercem alguma atividade profissional, ou seja, trata-se de alunos trabalhadores, o que difere do estudo de Oguisso et al. (2004), em cujo trabalho poucos discentes estudados (8,3%) exerciam trabalho remunerado, pois 40% deles recebia ajuda financeira da família. Outro estudo, porém, corrobora que a maioria (56%) dos estudantes de enfermagem são trabalhadores, apesar de uma minoria trabalhar na área da saúde (SANTOS; LEITE, 2006), dado esse que na presente pesquisa se mostra contrário, sendo mais da metade dos alunos trabalhadores da área da saúde.. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155. 145.

(10) 146. Representação social dos discentes de enfermagem sobre a profissão e profissional enfermeiro. Teixeira et al. (2006) ao analisar o ENADE de 2004, constataram que o estudante ingressante no curso de Enfermagem, na sua maioria, já está inserido no mundo do trabalho quando começa a fazer a graduação. Assim, esses alunos passam a conviver com uma dupla jornada: trabalhar e estudar, pois ser estudante é ter um ofício, ou seja, ter uma ocupação, e ser aluno, é ter tarefas e horários a cumprir, é ser supervisionado, orientado e avaliado pelos mais experientes, é prestar contas de direitos e deveres. Nakamae apud Oguisso et al. (2006), em seu estudo realizado na década de 1980, já haviam encontrado curva ascendente com relação aos estudantes que exerciam atividade remunerada. Dentre os estudantes deste trabalho que já são auxiliares ou técnicos de enfermagem, 16 trabalham na sua área de formação. Porém, identifica-se também que o ramo de atividade dos graduandos é diversificado, sendo que sete deles não trabalham na enfermagem. Católico Evangélico. 5. Espírita Outros. 2. 17. 5. Gráfico 2. Crença religiosa dos ingressantes do curso de enfermagem da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba, no primeiro semestre de 2008.. No aspecto da crença religiosa, a maioria dos alunos (58,6%) afirma ser católico, mas existe uma variedade de respostas para essa questão, pois alguns alunos são evangélicos, espíritas, crente, adventista do 7º dia, budista, cristã evangélica. Apenas um aluno apontou ter mais de uma crença religiosa (católico e espírita), sendo incluído no Gráfico 2 nas duas crenças.. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155.

(11) Patrícia Madalena Vieira Hermida. Tabela 4. Distribuição da renda familiar dos graduandos da primeira série em enfermagem, da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba, no primeiro semestre de 2008. Renda Familiar (em reais). Nº. alunos. % alunos. 241 a 500. 03. 10,3. 501 a 1.000. 09. 31,0. 1.000 a 2.000. 11. 37,9. > 2.000. 06. 20,7. 29. 100. Total. A renda familiar da maioria dos alunos está entre 501 a 1.000 e 1.000 a 2.000 reais, totalizando um número de 20 alunos com tais rendas. Considerando-se que a mensalidade do curso de enfermagem com os possíveis descontos está entre 450 e 550 reais, esse dado pode significar quase ¼ até o total dos rendimentos de alguns alunos, o que pode impactar em dificuldades financeiras para custear suas despesas pessoais e o seu ensino superior, culminando no trancamento ou desistência do curso no decorrer dos períodos letivos. A segunda parte do questionário respondido pelos discentes aponta as opiniões destes em relação à profissão de Enfermagem, para a qual estão cursando a graduação, portanto, são apontadas a seguir as representações sociais dos estudantes ingressantes em relação à Enfermagem e profissional Enfermeiro. Precisa-se considerar na análise dos dados, o fato da maioria dos estudantes já possuírem algum grau de formação profissionalizante na enfermagem, pois a percepção destes pode apontar um padrão de respostas diferenciado em relação ao restante da amostra.. 4.1.. Definindo a Enfermagem. O conceito de enfermagem elaborado pelos alunos permitiu identificar dentro das suas respostas quatro categorias, que juntas definem a enfermagem. Essas categorias foram denominadas: “Ações de enfermagem”; “Sujeito das ações de enfermagem”; “Qualificações nas ações de enfermagem”, “Resultados das ações de enfermagem” e “Outros”. No Quadro 1 identifica-se os padrões de respostas apresentadas em cada uma das categorias.. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155. 147.

(12) 148. Representação social dos discentes de enfermagem sobre a profissão e profissional enfermeiro. Quadro 1. Conceito de enfermagem dos graduandos de enfermagem da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba, no primeiro semestre de 2008, segundo as categorias: “Ações de enfermagem”, “Sujeitos das ações de enfermagem”, “Qualificações nas ações de enfermagem”, “Resultados das ações de enfermagem” e “Outros”. Categorias. Padrões de respostas. Ações de enfermagem. Assistir, cuidar/cuidado, ajudar/auxiliar, trabalhar em equipe, orientar, promover, colocar-se no lugar, ação humanitária.. Sujeitos das ações de enfermagem. Ser humano, sociedade, pessoas, indivíduo, o próximo, paciente, doentes, enfermo.. Qualificações nas ações de enfermagem. Doação, amor, paciência, dedicação, missão, carinho, atenção, respeito, habilidades, técnica, criatividade, cuidar bem.. Resultados das ações de enfermagem. Recuperação e volta ao ciclo de vida normal, vida, melhorar a saúde, possibilidade de trazer melhorias na vida de alguém, prevenção e tratamento, promover à saúde, restabelecimento e volta as atividades normais, prevenção de danos físicos e mentais.. Outros. Profissão, área de atuação, arte, ciência/estudo.. Identificou-se na categoria “Ações de Enfermagem” que várias respostas apontam a enfermagem como uma arte de cuidar, de assistir as pessoas, indivíduos, ser humano ou o doente, paciente. A categoria “Qualificações nas ações de enfermagem” aponta uma série de atributos necessários à enfermeira para desenvolver as suas ações, atributos esses que estão bastante ligados às exigências morais e ao trabalho caritativo, conforme Quadro 1. Segundo Stacciarini et al. (1999), as “exigências morais” fazem parte da profissão desde o seu início, já o “trabalho caritativo” sempre fez parte da assistência de enfermagem, desde muito antes de seu surgimento no mundo como profissão. No trabalho dessas autoras sobre quem é o enfermeiro para a população em geral, observou-se que as “exigências morais” como representação do enfermeiro aparecem quando a ele é associado entre outras características à pessoa boa, protetora e dedicada, como se fosse algo inerente à profissão. Essa representação da figura do enfermeiro é evidente no momento que estamos vivendo, por certa preocupação que se tem demonstrado com os valores éticos. Em relação ao “trabalho caritativo”, as autoras identificaram que trata-se de uma representação sobre a função do enfermeiro que mostra que esse profissional é alguém que se doa integralmente, mesmo nas relações profissionais. Sugere que o enfermeiro deve ter a vocação de abrir mão de si em função do outro. Em outro estudo similar, revelou-se que 42,1% das respostas relativas ao conceito de enfermagem estavam relacionadas à doação, amor, dom, carinho (BIZARRO;. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155.

(13) Patrícia Madalena Vieira Hermida. CHAMMA, 2005), o que reforça que esses requisitos ainda nos dias de hoje estão presentes nas representações sociais acerca do que vem a ser a Enfermagem. O trabalho caritativo na enfermagem está vinculado à vertente religiosa, na qual a enfermagem encontrou a base para desempenhar as suas atividades durante um longo período de sua história, especialmente após o advento do cristianismo. Já as exigências morais na enfermagem estão relacionadas a uma fase conhecida como período negro da enfermagem mundial, na qual a ação de cuidado aos doentes era realizada por mulheres consideradas imorais e desqualificadas (bêbadas, prostitutas, etc.). Essas raízes históricas da enfermagem no mundo podem de certa forma explicar as representações que hoje é possível evidenciar em relação à imagem profissional do enfermeiro. Entretanto, Berardinelli e Santos (2006, p. 263) mostram que, [...] a entrada da enfermeira no território da qualificação técnico-científica trouxe elementos significativos para a definição do seu papel político administrativo no âmbito institucional e para a dissociação gradativa de sua imagem pública, centrada no caráter vocacional e essencialmente de abnegação caritativa.. Observa-se pelas respostas encontradas na categoria “Resultados das ações de enfermagem”, que o objetivo do trabalho da enfermagem vai da promoção da saúde e prevenção de danos ao tratamento e recuperação das condições normais de vida, o que indica uma visão ampla e atual voltada para a integralidade do trabalho em saúde, inclusive de acordo com os objetivos do Sistema Único de Saúde.. 4.2.. Definindo a Enfermeira. Na definição dos estudantes acerca da enfermeira, identificou-se dentro das respostas cinco categorias: Sujeito enfermeira; Qualificações das ações da enfermeira; Ações da enfermeira à equipe e aos pacientes; Resultados das ações da enfermeira e, Outras. No Quadro 2 apresenta-se o padrão de respostas que surgiram em cada uma dessas categorias.. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155. 149.

(14) 150. Representação social dos discentes de enfermagem sobre a profissão e profissional enfermeiro. Quadro 2. Definição de enfermeira dos graduandos de enfermagem da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba, no primeiro semestre de 2008, segundo as categorias: Sujeito enfermeira; Qualificações das ações da enfermeira; Ações da enfermeira à equipe e aos pacientes; Resultados das ações da enfermeira e Outras. Categorias. Padrões de respostas. Sujeito enfermeira. Líder ou coordenadora, profissional, pessoa, a responsável, alguém, ser humano, um funcionário, encarregada, graduada.. Qualificações das ações da enfermagem. Humana, dedicada, prestativa, tem um conhecimento amplo.. Ações da enfermeira. À equipe. Auxilia, direciona, orienta, coordena funções ou pessoas, ajuda, distribui e organiza tarefas, delega.. Aos pacientes. Procedimentos de maior complexidade; orienta, previne, cura, cuida, promove, proporciona, leva, ajuda, assiste o paciente, transmite amor e doação; auxilia, está mais próxima do paciente para ajudálo e entendê-lo; pratica o que aprendeu (assepsia, amor, respeito ao próximo).. Resultados das ações da enfermeira. bem-estar ao paciente; saúde; conforto; melhora do trabalho e do atendimento; educação; momentos melhores.. Outras. Implanta idéias; organiza, dá suporte em determinadas áreas da saúde; cuida da parte administrativa; planeja ações.. Na categoria “Sujeito enfermeira” foi mencionada apenas uma vez a enfermeira como profissional graduada. Fato similar foi identificado no estudo de Stacciarini et al. (1999) quando as autoras observaram baixo percentual de respostas de representação social do enfermeiro ligada à formação de nível superior. Silva apud Stacciarini et al. (1999) aponta que esse fato pode encontrar uma das justificativas na própria história da enfermagem brasileira, pois a formação de nível superior de enfermagem no Brasil é recente, passando-se ao nível de terceiro grau apenas em 1962. Em outro estudo (BIZARRO; CHAMMA, 2005), os sujeitos pesquisados, os quais têm ligação com a enfermagem por serem estudantes ou profissionais, vêem a enfermeira, de uma maneira geral, como uma gerente, uma gestora, administradora de cuidados ou serviços. Essa percepção sobre a figura da enfermeira encontra alguma correspondência com os dados desta pesquisa, quando os discentes de enfermagem apontaram a enfermeira como uma líder ou coordenadora, a responsável, encarregada. Por outro lado, identifica-se que os alunos utilizam termos diversos para a definição do sujeito Enfermeira, algumas vezes não muito apropriados, como ao tratar-se da enfermeira como encarregada. Identificou-se que as “Ações da enfermeira aos pacientes” envolvem ações de cunho caritativo (transmite amor e doação) às ações técnico-científicas (procedimentos de maior complexidade; pratica o que aprendeu – assepsia).. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155.

(15) Patrícia Madalena Vieira Hermida. As “Ações da enfermeira à equipe” são citadas muitas vezes como ações direcionadas à equipe de enfermagem, mais especificamente aos auxiliares e técnicos de enfermagem. Em algumas respostas essas ações foram apontadas como ações voltadas à equipe de uma maneira genérica, sem especificar a constituição da mesma. O trabalho de Stacciarini et al. (1999) corroboram essa representação social do enfermeiro quando a população estudada observou esse profissional como “membro de equipe”, o que levou ao entendimento de que o enfermeiro exerce suas atividades em conjunto com o médico, psicólogo, assistente social, entre outros. Percebeu-se o enfermeiro como um profissional que tem função específica e interage com outros profissionais para prestar serviços integrais. Ainda na categoria “Ações da enfermeira à equipe” e “Outros”, a representação dos discentes em relação à enfermeira apontou entre outras respostas que ela distribui e organiza tarefas, delega e planeja ações, o que também foi identificado por Stacciarini et al. (1999) como representação que os autores denominaram “administra a enfermagem”. A administração da assistência de enfermagem encontra-se definida dentro do processo de trabalho do enfermeiro, e a ela alguns autores (BERARDINELLI e SANTOS, 2006; CARBONI e NOGUEIRA, 2006) atribuem o distanciamento do enfermeiro do cuidado direto ao paciente, que vem sendo realizado predominantemente pelos auxiliares e técnicos de enfermagem. Berardinelli e Santos (2006) explicam que, em alguns momentos a enfermeira é forçada a delegar a outros profissionais a função mais importante de provedora de cuidados. Esses profissionais nem sempre possuem um treinamento em serviço atualizado e habilidades científico-profissionais desenvolvidas para as demandas que se apresentam. Identificou-se pelos padrões de respostas enquadrados nas categorias “Ações da enfermeira aos pacientes” e “Resultados das ações da enfermeira” que o trabalho dessa profissional está relacionado às situações ora de saúde ora de doença, cuidando, prevenindo, promovendo, curando, e proporcionando conforto e bem-estar. Stacciarini et al. (1999) destacaram em seu estudo, na representação de que o enfermeiro “trabalha com saúde”, que o termo saúde pode se referir tanto às questões preventivas quanto de cura, ou seja, à saúde em si e à doença. As autoras sugerem que a imagem do enfermeiro cuidando de pessoas está relacionada à promoção da saúde.. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155. 151.

(16) 152. Representação social dos discentes de enfermagem sobre a profissão e profissional enfermeiro. Acredita-se que essa representação pode ser um reflexo dos meios de comunicação, que nos dias atuais tentam salientar a necessidade da prevenção em detrimento dos cuidados com a doença já adquirida. Tabela 5 - Profissionais que compõem a equipe de enfermagem de acordo com os graduandos da primeira série em enfermagem, da Faculdade Anhanguera de Indaiatuba, no primeiro semestre de 2008. Categorias de Respostas. Nº. Respostas. % Respostas. Auxiliar de Enfermagem, Técnico de Enfermagem e Enfermeiro(a). 19. 65,5. Auxiliar e Técnico de Enfermagem. 02. 6,9. Auxiliares, Técnicos, Médicos. 01. 3,4. Enfermeiro. 01. 3,4. Auxiliares de Enfermagem, Técnicos de Enfermagem, Profissionais do setor de higiene e copa. 01. 3,4. Auxiliar, Técnico de Enfermagem, Enfermeiro, Higiene, Social. 01. 3,4. Equipe da higiene, Auxiliares e Técnicos de Enfermagem. 01. 3,4. Auxiliar, Técnico, Enfermeiro, Assistente Social, Agente Comunitário, Equipe de limpeza. 01. 3,4. Auxiliar de Enfermagem, Técnico de Enfermagem, Enfermeiro e Agente de Saúde. 01. 3,4. Não sabe. 01. 3,4. Total. 29. 100,0. Pela quantidade de respostas diferenciadas (n. 11) apresentadas pelos alunos de enfermagem em relação à composição da equipe de enfermagem é possível inferir que há um desconhecimento sobre os profissionais que legalmente podem constituir essa equipe. O trabalho de Bizarro e Chamma (2005) reforça que tanto estudantes quanto profissionais de enfermagem desconhecem a composição da equipe de enfermagem, pelo número de respostas equivocadas apontadas no respectivo estudo. Para essas autoras, essa situação indica um descompasso na (in)formação do enfermeiro, seja no nível acadêmico ou de educação continuada, embora não seja possível afirmar que o ensino da profissão tenha total responsabilidade pelas informações e conhecimentos adquiridos. É preciso considerar, para tanto, o (des)conhecimento geral da população, carregado de preconceitos, o que mostrou-se nítido no estudo de tais autoras, por meio dos dados obtidos com leigos em enfermagem e estudantes de biologia, no que se refere ao quesito composição da equipe de enfermagem. Bizarro e Chamma (2005) chamam a atenção para a necessidade de um maior aprofundamento sobre essa questão, lembrando-se que todo cidadão tem o direito de saber quem é o profissional que o atende e o assiste durante uma intervenção no pro-. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155.

(17) Patrícia Madalena Vieira Hermida. cesso saúde-doença, direito esse que lhe é garantido, por meio da legislação federal do Sistema Único de Saúde – SUS. Vale destacar que, a Lei nº. 7.498 que regulamenta o exercício da profissão de enfermagem no Brasil, aprovada desde 1986, define exatamente quem são os profissionais de enfermagem que compõem essa equipe, quais sejam: os auxiliares e técnicos de enfermagem, os enfermeiros e as parteiras (COREN/SP, 2007). Talvez essa lei precise ser mais difundida entre os estudantes não só no ensino de graduação, mas também no nível técnico profissionalizante de enfermagem. Na opinião dos graduandos deste estudo quanto ao papel e a função da Enfermeira na equipe de saúde, as respostas mais mencionadas foram, nessa ordem: Coordenar, gerenciar, liderar e/ou supervisionar a equipe de enfermagem ou de saúde; Estar junto, apoiar, auxiliar, conduzir, dar suporte, orientar, instruir ou ensinar a equipe ou os profissionais; Prevenir, orientar, educar, ajudar e/ou cuidar/assistir o paciente. Dentre os papéis e funções da enfermeira apontados apenas uma ou duas vezes, mas que merecem destaque por indicar um conhecimento mais aprofundado sobre essa questão, estão: avaliar, realizar diagnóstico do paciente, avaliar pessoas e/ou equipamentos, estrutura física de um hospital ou (PS) UBS; fazer evolução e avaliação dos pacientes, promover treinamentos (educação continuada); realização de procedimentos específicos à enfermeira; responsável pela parte burocrática; organizar e aprimorar os métodos para prevenção de doença; fazer ligação (ponte) entre o paciente e o médico; papel fundamental entre a equipe e os procedimentos médico; delega certas funções aos subordinados; faz prognóstico. Além disso, chama a atenção o papel da enfermeira como educadora e pesquisadora ter sido citado apenas uma vez. Ressalta-se que o papel e a função da enfermeira na equipe é visto quase que exclusivamente sendo exercido dentro da própria equipe de enfermagem, não sendo visualizado nas respostas apresentadas, muitas vezes de maneira incompleta, o enfermeiro na equipe de saúde como um todo, ou seja, na sua interação e inter-relação com outros profissionais como o médico, psicólogo, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, etc. O trabalho de Bizarro e Chama (2005) também demonstrou essa falta de cultura para o trabalho em conjunto, multiprofissional, trans e interdisciplinar na representação social do papel e função da enfermeira na equipe de saúde.. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155. 153.

(18) 154. Representação social dos discentes de enfermagem sobre a profissão e profissional enfermeiro. 5.. CONCLUSÕES O perfil dos alunos deste estudo é predominantemente feminino (75,9%), de 20 a 29 anos (72,4%), moram no município onde estudam (89,7%), possuem algum grau de formação profissionalizante em enfermagem, exercem alguma atividade profissional (79,3%), são católicos (58,6%) e têm renda familiar entre 501 a 2.000 reais (69%). Acredita-se que este estudo proporcionou compreender a percepção dos estudantes acerca dos fenômenos (enfermagem e enfermeiro), o que favorece ao docente estimulá-los a analisar de maneira crítica e reflexiva suas representações sobre a enfermagem, contribuindo para a formação de uma imagem profissional positiva e busca de uma prática profissional mais valorizada socialmente. Alguns resultados do presente estudo apontaram divergências em relação à pesquisa de Oguisso et al. (2004), talvez por terem sido desenvolvidos em contextos educacionais distintos, o primeiro em uma faculdade privada e o segundo numa universidade pública. Dentre os principais achados diferenciados estão a formação prévia dos estudantes ingressantes e a prática de atividades remuneradas pelos discentes.. 6.. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo está longe de buscar esgotar as possíveis percepções/ representações sociais que os alunos de enfermagem possam ter acerca da profissão e do profissional enfermeiro, no entanto, apontou aquelas próprias de um grupo de alunos para o qual o professor da disciplina “História e Exercício de Enfermagem” pôde direcionar discussões e análises críticas sobre a temática. Os docentes em enfermagem, como formadores de futuros profissionais, precisam conhecer as percepções dos estudantes de enfermagem sobre a profissão e o profissional enfermeiro, pois acredita-se que, a partir disso seja possível redirecionar o ensino da enfermagem com o objetivo de produzir uma imagem/representação social mais positiva. Nesse sentido, pensa-se que este estudo possa contribuir na transformação da prática social da profissão e por isso, sugere-se que o mesmo seja aplicado rotineiramente nas instituições de ensino de enfermagem. Para Stacciarini et al. (1999, p. 8) os “estudos de representação social podem efetivamente respaldar os questionamentos acerca da enfermagem rumo a transformação profissional”. Dessa forma, acredita-se que esta pesquisa de compreensão dos fe-. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155.

(19) Patrícia Madalena Vieira Hermida. nômenos da enfermagem, pode ainda possibilitar, a partir de posteriores discussões e reflexões em sala de aula, produzir mudanças positivas no cotidiano da profissão por meio de posicionamentos, atitudes e comportamentos dos futuros enfermeiros. Poderá também contribuir, junto com outros estudos semelhantes, na caracterização das representações sociais da enfermagem. Berardinelli e Santos (2006) destacam que: [...] a valorização social das enfermeiras não pode prescindir de canais de difusão como a mídia, que reproduz uma imagem de consumo da enfermeira como um objeto para ser descartado e não como sujeito de subjetividade do campo da saúde e do cuidado.. REFERÊNCIAS BERARDINELLI, L. M. M.; SANTOS, M. L. S. C. Cultura, imagem e cuidado: reflexos da invisibilidade da enfermeira. Revista Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 25, n. 4, 2006, p.261-6. BIZARRO, P. B.; CHAMMA, R. C. Reconhecimento profissional e social da enfermeira: visão da comunidade acadêmica, profissional e leiga em enfermagem. Tratados de Enfermagem, São Paulo, v. 2, n. 3, dez. 2005, p.57-70. CARBONI, R. M.; NOGUEIRA, V. O. Reflexões sobre as atribuições do enfermeiro segundo a lei do exercício profissional. Revista Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 25, n. 2, abr. 2006, p. 117-22. CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução n.196, de 10 de outubro de 1996. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Disponível em: <http://www.conselho.saude.gov.br/docs/reso196.doc>. Acesso em: 23 mar. 2008. CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO. Principais legislações para o exercício da enfermagem. São Paulo: Demais Editora, 2007. GEOVANINI, T. A enfermagem no Brasil. In: GEOVANINI, T.; MOREIRA, A.; SHOELLER, S.D.; MACHADO, W. C.A. (Orgs). História da enfermagem: versões e interpretações. 2. ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2005. p. 29-58. LEOPARDI, M.T. Fundamentos gerais da produção científica. In: LEOPARDI, M. T; autores convidados: BECK, C. L. C.; NIETSCHE, E. A.; GONZALES, R. M. B. (Orgs.) Metodologia da pesquisa na saúde. 2. ed. rev. e atual. Florianópolis: UFSC/Pós-Graduação em Enfermagem, 2002. p. 108-149. OGUISSO, T.; LIRA, P. S.; VIEIRA, A. P. M.; PEREIRA, K. C. M.; MESQUITA, M. M. C.; SILVA, P. J. P. Perfil do estudante ingressante no curso de graduação da escola de enfermagem da Universidade de São Paulo. Revista Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 25, n. 2, abr. 2006, p. 109-16. SANTOS, C. E.; LEITE, M. M. J. O perfil do aluno ingressante em uma universidade particular da cidade de São Paulo. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 59, n. 2, mar.-abr. 2006, p. 154-6. STACCIARINI, J. M.; ANDRAUS, L. M. S.; ESPERIDIÃO, E.; NAKATANI, A. K. Quem é o enfermeiro? Revista Eletrônica de Enfermagem (online), Goiânia, v. 1, n. 1, out.-dez. 1999. Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/revista>. Acesso em: 23 mar. 2008. TEIXEIRA, E.; VALE, E. G.; FERNANDES, J. D.; SORDI, M. R. L. Trajetória e tendências dos cursos de enfermagem no Brasil. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 59, n. 4, jul.-ago. 2006, p. 479-87.. Revista de Educação • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 137-155. 155.

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