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Teoremas Ergódicos

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(1)

Noélia Sofia Rodrigues Soares

TEOREMAS ERGÓDICOS

M

Faculdade de Ciências da Universidade do Porto Abril 2001

(2)

Noélia Sofia Rodrigues Soares

TEOREMAS ERGODICOS

Dissertação submetida à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto para obtenção do grau de Mestre em Matemática - Fundamentos e Aplicações

Trabalho realizado sob Orientação do Prof. Doutor José Ferreira Alves

Faculdade de ciências da Universidade do Porto Abril 2001

(3)

Aos meus Pais A minha irmã

(4)

Ao terminar este trabalho gostaria de agradecer a todos os que, de alguma forma, contribuíram para a sua elaboração.

Em primeiro lugar, e particularmente, ao meu orientador, Prof. Doutor José Ferreira Alves, pela sua disponibilidade, paciência e motivação, demonstradas ao longo do tempo que decorreu a dissertação.

Agradeço aos meus Pais e à minha Irmã pelo seu suporte humano.

Gostaria também de agradecer ao Manuel Flores, pelo carinho, incentivo e apoio incondicionais mesmo nos momentos mais difíceis.

(5)

Introdução

Um dos grandes objectivos dos Sistemas Dinâmicos visa o estudo do comportamento das órbitas {Tn(x): n > 0} de uma transformação T: X —> X, onde T° = idx e

rpn+i _ rp Qrpn ^aia n > 0. Frequentemente esse estudo incide sobre a medição das quantidades f(Tn(x)) para alguma função / : X —»• E, pelo menos em termos da média

-. n—l

-J2foTH

n t—J

n

Uma questão básica da Teoria Ergódica é a existência do limite destas médias quando

n —> oo. E claro que a média existe sempre que z for um ponto periódico de T, isto

é, quando Tfc(x) = x para algum fc > 1. Em 1931 Birkhoff provou um resultado que assegura que se T tem alguma medida de probabilidade invariante /i, isto é,

li(T~l(A)) = /i(A) para todo o mensurável A, e f é integrável com respeito a fj,, então estas médias existem para quase todo o ponto i 6 l (isto é, eventualmente exceptuando um conjunto com medida [i nula). Este resultado é conhecido como o Teorema Ergódico de Birkhoff. Uma condição necessária e suficiente para que o valor do limite seja o mesmo em quase todo o ponto é que não exista nenhum mensurável

A com 0 < /J,(Á) < 1 e T~1(A) = A. Nestas condições, a média temporal

n - l """x\

lim - y / o T

j n—*r*~, Ti ^-—^ e a média espacial n—>oo n 3=0 fdfi

coincidem em quase todo o ponto x G X. A transformação T diz-se, neste caso, ergódica. De um ponto de vista de aplicações práticas, pode ser interessante saber se o recíproco deste resultado também vale: será que pelo facto de / ter um com-portamento assimptótico bem definido em termos médios ao longo das órbitas de T podemos concluir que / tem uma média bem definida em X? Buczolich [6] mostra que a resposta a esta questão é, em geral, negativa, dando um contra-exemplo para

(6)

ii

o recíproco do Teorema Ergódico de Birkhoff. No entanto, se T é ergódica e / é não negativa, então o recíproco vale neste caso.

Uma classe importante de transformações, não só pela sua riqueza dinâmica como também pelas aplicações a que se prestam, são as rotações do círculo. Neste contexto, definimos Tf, o conjunto de rotação de uma função / : R —> R de período 1, como o conjunto dos a G M tais que a média

.. n—l

3=0

converge, quando n —> oo, para quase todo o x € IR. Buczolich [5] mostra que se o conjunto de rotação tiver medida Lebesgue positiva, então a função é integrável

(Lebesgue). Assim, do ponto de vista da medida, um conjunto de rotação "grande" (medida de Lebesgue positiva) é suficiente para garantir a integrabilidade da função. Por outro lado, é fácil verificar que Q C Tf, qualquer que seja a função / de período 1, ficando claro que, de um ponto de vista topológico, um conjunto de rotação "grande" (denso) não é suficiente para garantir a integrabilidade da função / . Buczolich [5] vai mais longe, exibindo uma função / não integrável com um conjunto infinito de irracionais independentes (sobre o corpo Q) contidos em IV Ainda neste contexto, Svetic [23] prova que existe uma função não integrável definida no círculo, cujo conjunto de rotação é localmente não numerável, ficando assim demonstrado que, do ponto de vista de numerabilidade, um conjunto de rotação "grande" (localmente não numerável) não é suficiente para garantir a integrabilidade da função. Uma questão interessante que permanece em aberto é a de saber se um conjunto de rotação com dimensão de Hausdorff positiva implica a integrabilidade da função.

Este trabalho está estruturado da seguinte forma: no primeiro capítulo são re-vistos alguns conceitos fundamentais sobre medida e integração, séries de Fourier e fracções contínuas. Os resultados são apresentados sem demonstração, uma vez que estas podem ser facilmente encontradas nas referências bibliográficas, sendo a sua introdução feita neste trabalho apenas com o intuito de uniformizar notação e esclarecer algum tópico menos claro para o leitor. No capítulo seguinte apresenta-mos uma prova simples do Teorema Ergódico de Birkhoff proposta recentemente por Petersen [19] e demonstramos um recíproco desse teorema para funções não nega-tivas. Terminamos esse capítulo apresentando um contra-exemplo para o recíproco no caso geral. Finalmente, no terceiro capítulo é estudada a integrabilidade de uma função definida no círculo em função do "tamanho" do seu conjunto de rotação. São abordados os seguintes pontos de vista: conjunto de rotação com medida de Lebesgue positiva, conjunto de rotação contendo infinitos irracionais linearmente independentes (sobre Q) e conjunto de rotação localmente não numerável.

(7)

Conteúdo

1 Preliminares 1 1.1 Medida e integração 1 1.2 Medidas invariantes 6 1.3 Séries de Fourier 8 1.4 Fracções contínuas 9

2 O Teorema Ergódico de Birkhoff 13

2.1 Uma prova simples 13 2.2 Recíproco para funções não negativas 18

2.3 Contra-exemplo para o recíproco 20

3 Rotações do círculo 33

3.1 Conjunto de rotação com medida positiva 33 3.2 Conjunto de rotação com infinitos irracionais 40

3.3 Conjunto de rotação não numerável 54

Bibliografia 69

(8)

Capitulo 1

Preliminares

Neste capítulo apresentamos diversos resultados preliminares que serão necessários no desenvolvimento deste trabalho. Em particular, faremos uma breve introdução à Teoria da Medida e Integração com o objectivo de servir com referência para os enunciados e definições básicas. Como referência para este capítulo tomamos os trabalhos [3], [9] e [14].

1.1 Medida e integração

Sejam X um conjunto e A um subconjunto das partes de X. Dizemos que A é uma cr-álgebra se forem válidas as seguintes condições:

1.

X

eA;

2. se A£ A então X \ A € A;

3. se Ai 6 A para i = 1, 2 , . . . , então UÍ>IAÍ G A.

Se a condição 3 se verificar apenas para uniões finitas dizemos que A é uma

álgebra de subconjuntos de X. Denominamos de espaço mensurável um par (X, A), onde A é uma cr-álgebra de X, e chamamos mensuráveis aos elementos de

A. Uma medida em A é uma função [i : A —> [0, +oo] tal que

1. M0) = O;

2. Se Ai E A para i = 1,2,... e Ai f] Aj = 0 para i ^ j , então oo oo

M(U4) = I > W

i=l i=l

(9)

CAPÍTULO 1. PRELIMINARES 2

Se Ao é um subconjunto das partes de X, dizemos que A é gerada por Ao se

Ao C A e toda a c-álgebra A' de subconjuntos de X tal que Ao C A' satisfaz A C A'. Ou seja, A é a menor (no sentido da inclusão) a-álgebra que contém

,4o-Se X é um espaço topológico, denominamos de cr-álgebra de Borel a cr-álgebra gerada pelos abertos de X. Designamos os elementos desta cr-álgebra por

bore-lianos. Ainda neste contexto, definimos o suporte de uma função / : X —> R como

a aderência do conjunto dos pontos x G X tais que f(x) ^ 0.

No resultado que se segue definimos uma medida na a-álgebra dos borelianos de Rn, a qual chamamos medida de Lebesgue.

Teorema 1.1.1. Seja B a a-álgebra de Borel em Rn. Existe uma única medida A : B —* [0, +oo] tal que se I\,..., In são intervalos de R, então

n

\(l[l

i

) = \I

1

\...\I

n

\,

1=1

onde, para cada i, |7j| designa o comprimento de li.

Um espaço de medida é um terno (X, A, JJL) onde (X, A) é um espaço

men-surável e \i é uma medida definida em A. O espaço de medida (X, A, /i) diz-se finito se fi(X) < oo. Se fi(X) = 1 dizemos que \i é uma probabilidade e (X,A,/J,) é um espaço de probabilidade. Se A é um elemento de A, podemos considerar o espaço

de medida (A,A\A,^\A), onde A\A é a a-álgebra formada pelos subconjuntos de X

do tipo AC] B, com B £ A, e /J,\A(B) = /i(-B) para B G A\A- Um espaço de medida (X, A, li) diz-se não atómico se, para todo o conjunto A € A tal que fi(A) > 0,

existe um conjunto mensurável B C A tal que fi(B) > 0.

Proposição 1.1.2. Seja (X,A,fi) um espaço de medida.

1. Ac B e n(B) < oo ^ fi(B \ A) = n(B) - (i(A).

2. /i(Un>iAn)

<En>lMA0-5. Ai c A2 C • • • =>• //(Un>iAn) = lim/i(An).

^. A D A 2 D . . . e //(Ai) < oo => fJ.(nn>iAn) = \im fi(An).

Se (X,A,fi) é um espaço de medida e A um subconjunto de X, dizemos que A tem medida nula, se existe B G A tal que A C B e fJ,(B) = 0. Diz-se que uma propriedade sobre os elementos de X vale em quase todo o ponto (qtp simpli-ficadamente), se o conjunto dos pontos onde a propriedade não vale tem medida nula.

Seja (X, A) um espaço mensurável. Dizemos que uma função / : X —> R, onde R = RU {—oo, +oo}, é uma função mensurável, se para todo o boreliano A de R

(10)

CAPÍTULO 1. PRELIMINARES 3

tivermos f~l(A) G A. São exemplos imediatos de funções mensuráveis, as funções constantes e as funções características dos elementos de A. Se X for um espaço topológico e B for a a-álgebra de Borel, então as funções contínuas são mensuráveis.

Para as operações com os símbolos +00 e —00, além das convenções usuais, faremos as seguintes convenções: (±00).0 = 0 e O.(±oo) = 0. Não atribuiremos significado a 00 — 00.

Proposição 1.1.3. Se c eR e f,g: X -^> R são funções mensuráveis, então f + c,

cf> f + 9 (sempre que façam sentido) e fg são também mensuráveis.

Proposição 1.1.4. Se (fn)n é uma sucessão de funções mensuráveis, então são

mensuráveis:

1. supfn e inf/„;

n > l n^1

2. limsup fn e lim inf fn.

Seja (X, A, ji) um espaço de medida. Dizemos que uma sucessão de funções mensuráveis (fn)n converge em medida para a função mensurável / , se para todo o e > 0

\imfi({xeX: | /n( x ) - / ( x ) | > e } ) = 0. n—»oo

As convergências em medida e em qtp relacionam-se pelo resultado que se segue. Teorema 1.1.5. Toda a sucessão que converge em medida possui uma subsucessão

que converge em qtp. Se o espaço de medida for finito, a convergência em qtp implica a convergência em medida.

Seja (X, A,fi) um espaço de medida. Se A C X denotamos por XA a função característica de A. Dizemos que uma função mensurável não negativa ip é uma

função simples, se pudermos escrever

n

onde ai G M e Al G A, com os A^s disjuntos dois a dois. Definimos o integral de

uma função simples </? = Xw=i aiXAi como

/

n

ifdji = ^aifj,(Ai).

i = i

Este valor não depende da representação de ip como combinação linear de funções características. De facto, se

(11)

CAPÍTULO 1. PRELIMINARES 4

então terá que ser a^ = bj em Ai D Bj. Donde

n n l I n l

i=l i—l j—l j=l i=l j=\

Se f é uma função mensurável não negativa, definimos o integral de / como

/ fd/j, = sup < / cpdfj, : ip função simples e ip < f

Proposição 1.1.6. Seja f uma função mensurável não negativa. Então J fdji = 0 se e somente se f = 0 qtp.

O resultado que apresentamos a seguir dá uma condição suficiente para que o integral do limite de uma sucessão de funções coincida com o limite dos integrais dessas funções.

Teorema 1.1.7 (Convergência Monótona). Se(fn)n é uma sucessão de funções

mensuráveis não negativas tais que /i < fi < ..., então

lim fndfi = lim / fndfi.

n—>oo n—>oo /

Dada uma função mensurável / podemos escrevê-la como diferença de duas funções não negativas, mais precisamente, f — f+ — f~ com

f+(x) = max{f(x), 0} e f~(x) = max{-/(x), 0}.

E imediato verificar que |/| = f+ + f~. Dizemos que uma função mensurável / é

integrável se

/ f+dfi < oo e / f~dp, < oo, ou seja, f \f\dfx < oo. Dizemos que / é semi-integrável se

f+dp, < oo ou / f~dfi < oo. Em qualquer um dos casos acima, definimos o integral de /

fdp= / f+dfi - J f~dfi.

Sejam A um conjunto mensurável e / uma função mensurável. Dizemos que / é integrável em A, se f\A for integrável. Definimos o integral de / em A por

fdp. = / fXAdii. A J

(12)

CAPÍTULO 1. PRELIMINARES 5

Proposição 1.1.8. Sejam c 6 M. e f,g funções integráveis. 1. cf é integrável e f cfdji — cffd/J,.

2. f + g é integrável e J(f + g)d[i = J fd/j, + J gdfx. 3. f < g => / fd/j, < J gdfi.

4- Se A e B são conjuntos mensuráveis disjuntos, então l fdfj, = / fdfj, + / d\i.

JAUB J A JB

Proposição 1.1.9. .Se / é uma função integrável, então

I J fdn\ < J'\f\dfM,

e temos a igualdade se e só se f > 0 qtp ou f < 0 qtp.

O resultado abaixo dá uma condição suficiente para a integrabilidade do limite de uma sucessão de funções.

Teorema 1.1.10 (Convergência Dominada). Seja (/n)n uma sucessão de

fun-ções mensuráveis tais que \fn\ < g, onde g é integrável, e f = lim^oo fn qtp. Então

f é integrável e

lim / fndfj, = / fdfj,. n—>oo

O teorema seguinte dá a relação entre a noção de integral de uma função real de variável real segundo Lebesgue (em relação à medida de Lebesgue nos borelianos de R) com a noção de função integrável segundo Riemann.

Teorema 1.1.11. Se f é integrável segundo Riemann, então f é integrável segundo Lebesgue e os integrais coincidem.

Facilmente se prova que o recíproco deste teorema não é válido. De facto, basta considerarmos no intervalo [0,1] a função característica dos irracionais, que denota-mos por Xi- É claro que \i não é integrável segundo Riemann. Por outro lado, \i é uma função mensurável e \i — 1 Qtp, donde se conclui que f XidX = 1 (A denota a medida de Lebesgue). Deste modo, acabamos de ver que a integrabilidade segundo Riemann é mais exigente do que a integrabilidade segundo Lebesgue.

Seja (X,A,fi) um espaço de medida. Se 1 < p < oo, denotamos por Lp(fi) a classe de todas as funções mensuráveis / tais que \f\p é integrável, com a identificação de funções que coincidam em quase todo ponto. Definimos para / G Lp(fi)

I/P

l/pV

(13)

CAPITULO 1. PRELIMINARES G

(note-se que, pela definição dada, são iguais os integrais de duas funções que coin-cidam em qtp).

A Desigualdade de Minkowski estabelece que se /,g G Lp(fi), então ||/ + g\\p < II/HP + IMIpi donde resulta em particular que / + g G LP(/J,) se /,g G Lp(/j,) e ||.||p é uma norma. Note-se ainda que, se não identificarmos duas funções mensuráveis que coincidam qtp, ||.||p será apenas uma semi-norma em Lp(fj,).

Definimos L°°(fj,) como a classe das funções mensuráveis / tais que existe algum

M > 0 tal que \f(x)\ < M qtp, mais uma vez com a identificação de duas funções

que coincidam em quase todo ponto. Denotamos por ||/||oo ° ínfimo dos valores M com esta propriedade; mais precisamente,

||/||oo = i n f { M > 0 : \f(x)\<M}. É fácil verificar que || H^ define uma norma em L°°(/i).

Para 1 < p < oo, se / G Lp(/i), resulta do modo como definimos estes espaços que / está identificada com uma função mensurável que nunca toma os valores ±oo. Basta notar que, se ||/||p < oo para algum 1 < p < oo, então o conjunto dos pontos onde / toma os valores ±oo terá que ter medida nula. Assim, podemos identificar / com uma função mensurável que não toma nunca os valores ±oo. Deste modo, faz sentido falar de / ± g, com /, g G Lp(/j,), para algum 1 < p < oo, considerando se necessário representantes de / e g que não tomem os valores ±oo.

Terminamos esta secção com uma breve indicação de como a teoria apresentada anteriormente se estende a funções tomando valores complexos. Sejam (X, A, fJ.) um espaço de medida e / uma função definida em X e tomando valores em C. Sejam R e / e I m / , respectivamente, a parte real e a parte imaginária de / , isto é, / = Re / + % Im / com Re / e Im / tomando valores reais. Dizemos que / é mensurável se e só se Re / e Im / são mensuráveis e, similarmente, / é integrável se e só se R e / e I m / são integráveis. No caso da integrabilidade de / , definimos

/ fdfi = / Re fdjd + i / Im fd/j,.

Com estas definições, os resultados apresentados anteriormente aplicam-se (com algumas alterações óbvias) a funções tomando valores complexos.

1.2 Medidas invariantes

Nesta secção, faremos uma breve referência às medidas invariantes por uma trans-formação, que assumem um papel de primordial importância na Teoria Ergódica. Começamos com uma generalização da definição de função mensurável.

Sejam (X, A, y) e (Y, B, v) espaços de medida e T: X —> Y. Dizemos que T é uma transformação mensurável se T~1(B) e A para todo B G B. Dizemos que a

(14)

CAPITULO 1. PRELIMINARES 7

transformação mensurável T preserva as medidas /t e v se /i(T~1(B)) = u(B) para todo B G B. Estaremos particularmente interessados no caso em que T: X —> X é uma transformação mensurável do espaço (X, A, ji) em si mesmo. Neste caso, diremos que /i é T-invariante quando T preserva \x.

Um espaço de probabilidade (X,A,fL) diz-se um espaço de Lebesgue, se for isomorfo mod 0 ao espaço de probabilidade ([0,1],B, A), onde À é a medida de Lebesgue. Por isomorfo mod 0 entenda-se a existência de conjuntos X' C X e M C [0,1] com n{X') = l e A(M) = 1 e uma função bijectiva tp : X' —* M mensurável com

Lp~l mensurável preservando as medidas \L e A restritas a X' e M, respectivamente.

Teorema 1.2.1 (Rokhlin). Qualquer espaço de probabilidade na o-álgebra dos bore-lianos de um espaço métrico separável completo é um espaço de Lebesgue.

Sejam (X,A,fï) um espaço de medida e T: X —> X uma transformação que preserva \i. Se / : X —> M. é uma função mensurável, então / o T é também uma função mensurável. Dizemos que / é uma função T-invariante se / o T = f qtp.

Proposição 1.2.2. Sejam (X, A, fi) um espaço de medida e T: X —» X uma trans-formação que preserva /i. Se f G Ll(n), então f o T G Ll{ji) e

j foTd(i = J /d/x.

Sejam (X, A, /i) um espaço de probabilidade e T uma transformação que preserva

ji. Um conjunto A G A diz-se T-invariante se T_1(y4) = A. Dizemos que T é

ergódica (com respeito a /t) se todos os conjuntos T-invariantes de „4 têm medida

igual a 0 ou 1. A ergodicidade de uma transformação pode ser formulada em termos da constância das funções em Lp(fj,).

Proposição 1.2.3. Sejam (X,A,fi) um espaço de probabilidade, T: X —> X uma transformação que preserva ji e 1 < p < oo. São equivalentes:

1. T é ergódica.

2. Se f G Lp(/j,) é T-invariante, então f é constante qtp.

Sejam S1 — IR/Z o círculo unitário e A a medida de Lebesgue em S1. Dado a ê l , definimos a rotação de ângulo a

x i—> x + a (modi).

Temos que Ra preserva A, para todo a G M. e é ergódica com respeito à medida de Lebesgue A se e só se a G R \ Q . Temos ainda que S1 — [0,1]/ ~, onde ~ é a relação de equivalência que identifica 0 com 1. Assim, o integral de uma função / definida em S1 poderá ser indicado por

/ fdX ou / f(x)dx.

(15)

CAPITULO 1. PRELIMINARES 8

1.3 Séries de Fourier

0 objecto de estudo desta secção é o espaço das funções complexas definidas em [0,1], de quadrado integrável (Lebesgue). Veremos que estas funções podem ser representadas por uma série de Fourier, no sentido da convergência em I?.

Seja H um espaço vectorial sobre o corpo C. Um produto interno em H é uma função (.,.) definida em H x H e tomando valores em C, satisfazendo as seguintes condições para todos x,y,z£He\£C:

1. (x, x) > 0 e (x, x) — 0 se e só se x = 0 2. {x + y,z) = (x,z) + (y,z)

3. (Xx,y) = X(x,y) 4- (x,y) = (y,x)

Um espaço vectorial H munido de um produto interno diz-se um espaço

pré-hilbertiano. Facilmente se prova que a função x £ H i-> \\x\\ = (x, y)1^2 define uma norma em H. Se o espaço pré-hilbertiano H com a métrica dada por esta norma é completo, dizemos que H é um espaço de Hubert.

Dado um espaço de Hilbert H, dizemos que dois vectores x,y G H são

ortog-onais se (x,y) — 0. Um subconjunto S C H diz-se ortonormal se (x,x) = l e {x, y) = 0 para x ^ y. Se S é maximal para a inclusão, isto é, S não está

estrita-mente contido em nenhum outro conjunto ortonormal, dizemos ainda que S é uma

base ortonormal de H. Prova-se que:

Teorema 1.3.1. Todo o espaço de Hilbert tem alguma base ortonormal.

Teorema 1.3.2. Seja H um espaço de Hilbert e {ea}aej uma base ortonormal.

Então para cada x E H

x = ^2(x,ea) e \\x\\2 = ^ | ( x , eQ) |2.

ael ael

Seja (X,A,fi) um espaço de medida. O produto interno em L2(fi) dado por

(f,9) = jfgdfi (1.1)

produz a norma ||.||2 em L2(fi), donde se conclui que L2(/i) é um espaço de Hilbert. O produto interno (1.1) está bem definido pois, se g G L2(/J,) também g G L2{jj).

Daqui por diante, até ao final desta secção, concentrar-nos-emos no espaço de Hilbert L2(X), associado à medida de Lebesgue À no intervalo [0,1] que denotamos por L2[0,1]. De seguida iremos descrever uma base ortonormal de L2[0,1].

(16)

CAPITULO 1. PRELIMINARES 9

Seja {/n}nez uma colecção de funções em L2[0,1] definidas para cada n G Z por

fn(x) = e2*inx.

Facilmente se prova que {/n}nez é um conjunto ortonormal, basta notar que, para

m,n G Z se tem

— I 1 S e Til -— 7Z /m/ndA = | 0 g e m ^ n^ Prova-se ainda que:

Teorema 1.3.3. A família {fn}nez é uma base ortonormal de L2[0,1]. Seja / G L2[0,1]. Definimos, para cada Î Î G Z

/(") = </, In) = j iTndX.

Estes números são chamados de coeficientes de Fourier de / € L2[0,1]. Do Teorema 1.3.2 obtemos

\f\

2

dX= li/Hl = £ | / ( n ) |

a

.

raGZ

Corolário 1.3.4. Se f £ L2[0, l], então YLn^i í (n) fn converge para f na norma de L2[0,1], quando n —>• 00.

A série Xlnez f(n)fn é chamada série de Fourier de / . Pelo Corolário anterior, resulta que a série de Fourier de / representa a função / no sentido da convergência em L2[0,1].

1.4 Fracções contínuas

Nesta secção faremos uma breve referência às fracções contínuas, indispensável à apresentação da terceira secção do Capítulo 3. Estaremos particularmente interes-sados em fracções contínuas infinitas que representam, como veremos mais adiante, os números irracionais.

A uma expressão da forma

a0 -\ ;—, onde a0 G Z e Oj G N para todo i > 1

ai H y—

(17)

CAPÍTULO 1. PRELIMINARES 10

denominamos fracção contínua e representámo­la por [ao; ai, a2, ■ ■ ■ ]. Se o número de aj's for infinito diz­se fracção contínua infinita, caso contrário, diz­se fracção

contínua finita e escrevemos

ao H ; î = [ a0; a i , . . . , an] , (1.2) ai H ;

a2+

+

-±-A fracção contínua (1.2) também chamamos fracção contínua de ordem n. Toda a fracção contínua finita é o resultado de um número finito de operações racionais com os seus elementos a/s, e pode ser representada sob a forma de uma fracção p/q, que designamos de representação canónica. É claro que esta representação não é única. Vejamos, por indução, como definir uma tal representação canónica. Se tivermos uma fracção contínua de ordem 0, isto é,

[a0] = a0

consideramos a fracção ao/l. Suponhamos agora que a representação canónica está definida para fracções contínuas de ordem menor que n. Podemos escrever

[a0; ai, a2, . . . , an] = [a0; ri] = a0 H ,

n

onde ri = [a^ a2, . . . , a„] é uma fracção contínua de ordem n — 1, e portanto a sua representação canónica está definida, isto é,

pi

n =

- .

Q Assim, a o ; a i , . . . ,an] — ÜQ­\—■ p

Fazendo p = a^p' + q' e q = p', temos

[ao; a i , . . . ,an] ­

Deste modo, temos definidas representações canónicas de fracções contínuas de todas as ordens.

Vamos agora concentrar­nos nas fracções contínuas infinitas. Consideremos a fracção contínua infinita

_ a0p' + q' pi

p

(18)

CAPÍTULO 1. PRELIMINARES 11

Chamamos /c-ésima a p r o x i m a ç ã o da fracção contínua (1.3), à fracção contínua finita

[ao; c i i , a 2 , . . . , Ofe],

cuja representação canónica denotamos por Pk/qk­ Deste modo, à fracção contínua (1.3) corresponde u m a sequência de aproximações

Po Pi Pk

<7o 9i Qk

Se a sucessão acima converge para um número a, consideramos esse a como o "valor" da fracção contínua (1.3), e escrevemos

a = [a0;ai,a2,...].

T e o r e m a 1.4.1. Para k > 1,

1. pk+i = ak+xpk +Pk­i­

2­ qk+i — «fc+iÇfc + Qk­i­ 3. qkPk­i ­PkQk­i = ( ­ l )f c­

, r ! PkTk+l+Pk­l , r ! 4. [a0;a1,a2,. ■■ = ; , onde rk+x = [ak+ù af c + 2, . . . .

Ofcffc+i + Ofc­i

Vejamos agora como todo o irracional pode ser representado por uma fracção contínua infinita. Seja a G R \ Q. Denotemos por ao o maior inteiro não superior a. Temos

a = a0­\ . (1.4)

ri

E claro que r\ > 1, pois 1/Yi = a — CLQ < 1. Como a é irracional, também r i é irracional. Podemos assim aplicar o mesmo método a r\. Deste modo, denotando por ai o maior inteiro não superior r i , obtemos r2 pela relação

1 ri = ai H .

r2

Mais geralmente, para n > 1, como rn é irracional, denotando por an o maior inteiro

não superior a rn, obtemos rr a +i pela relação

1 rn+ l

(19)

CAPÍTULO 1. PRELIMINARES 12

(Note­se que o facto de a ser irracional implica que o processo descrito acima é infinito). Ora,

a = [ a o ; a i , o2, . . . , an_ i , rn] . (1.5) Seja

ao; Oi, 0 2 , . . . , on_i, an = —,

onde a fracção pn/ çn é irredutível e qn > 0. Por (1.5) e pelo Teorema 1.4.1 temos, para n > 2

a = . Qn­lT­n + Çn­2

Por outro lado, temos ainda

Qn Qn­l^n + Çn­2 Assim,

_ Pn _ ( P n ­ l g n ­ 2 ~ g n ­ l P n ­ 2 ) ( rn ­ aw)

çn (g„_irn + ç„­2)(gn­ian + çn_2) ' e portanto, resulta do Teorema 1.4.1 que

I Pn\ ^ 1 1 a < 7 77 7 < ^ 7 ­ Çn ( g n ­ i r „ + gn­ 2 ) ( Ç n ­ l ûn + gn­2) Qn Logo, Ü — —> a quando n —> oo, ou seja, a = [ao',ai,a,2, ■ ■ ■]■

E natural perguntar se esta representação de a por uma fracção contínua é única. Denotando por [a] o maior inteiro não superior a a e supondo que

a = [a0;oi,a2,...] = [aó;ai,a2,...],

temos ao = [a] e a0 = [a], e portanto ao = a0. Admitamos que a^ = a[, para todo i € {0, ...,n}. Então, para cada i G {0, ...,n}, temos pi = p[ e qi = q\. Pelo Teorema 1.4.1 vem

P n r ­ n + 1 + P n ­ l = P X + 1 + Pn­1 _ j W n + 1 + Pn­1

Çn^n+1 + 9 n ­ l 9nrn+l + 9 n ­ l Qn^+i + Çn­1

donde, rn +i = r^+1. Como a„+i = [rn+i] e a^+1 = [r^+1], obtemos que an+l = a'n+1. Deste modo, podemos concluir que dado um irracional a existe uma única fracção contínua com valor igual a a.

(20)

Capítulo 2

O Teorema Ergódico de Birkhoff

Neste capítulo apresentaremos uma prova simples do Teorema Ergódico de Birkhoff e mostraremos um recíproco desse teorema para funções não negativas. Apresentare-mos ainda um contra-exemplo para o recíproco no caso geral.

2.1 U m a prova simples

Sejam (X, A, LI) um espaço de probabilidade e T : X ^ X uma transformação que preserva \x. Se / G L1^), definimos para n > 1

1 n—X

M

n T

/ = - ^ / o T ^ /

n

=supM

f c r

/ e r = 8up/„.

n n Kk<n n>l

j = 0

A etapa fundamental na prova do Teorema Ergódico de Birkhoff é o lema seguinte.

Lema 2.1.1. Sejam f G LX{LI) e À: X —> M. uma função T-invariante tal que

X+ E Ll(n). Se A = {x € X : f*(x) > X(x)}, então

í (/ - A ) ^ > 0. JA

Prova. Para A ^ L1(H\A) temos naturalmente JAXdLi = — oo, como / e L1(LI)

resulta que JA(f — X)dpb — +oo > 0.

Se A G L1(H\A), então A G Ll(n). Como A+ G Ll{ji), é suficiente provar que

A- G L1(/i|/ic). Se a: G Ac, temos que supn fn(x) < X(x), em particular, fix) < X(x). Assim, em Ac verifica-se que / < A, ou seja, A~ < A+ — / . Resulta da integrabilidade de A+ e / que A~ G L1(/x|J4c).

(21)

CAPITULO 2. O TEOREMA ERGODICO DE BIRKHOFF 14

Se definirmos, para cada n G N

An = {x G X : fn(x) > X(x)} temos

( / - A ) X A „ > ( / - A ) . (2.1) Para a desigualdade acima, notar que, em Acn temos / < A, ou seja, / — A < 0.

Vejamos agora que se / G L°°(fi), então

/ (f-X)dfjL>0. (2.2)

Fixemos arbitrariamente n G N. Para m ^> n, consideremos

m—l

Y.U-^XAAT'x). (2.3)

3=0

Esta soma poderá eventualmente iniciar-se por uma soma de termos todos iguais a zero, ou seja, tais que TJx ^ An. Seja kç, = min{0 < j < m — 1 : T^x G An}. Temos

fe-i

sup Ty^f(T'+kox) > X(Tkox).

Kk<n K *-i 3=0

Atendendo ao facto de A ser T-invariante, obtemos

1 fc-i

sup y(f-\)(T^x)>0.

Kk<n k /r~^ 3=0 Assim, por (2.1) fc-i Kk<r ,!' ' " " ' 3=0 UP E ( / - VXAn(Tj+kox) > 0.

Desta forma, o /c0-ésimo termo da soma (2.3) inicia uma soma positiva de não mais de n termos. Considerando o termo seguinte ao último termo desta soma, repetimos a análise anterior e voltamos a ter ou somas de termos iguais a zero ou somas positivas de não mais de n termos. Ora, a soma dos m termos de (2.3) pode terminar no meio de um destes dos tipos de somas. Em qualquer um dos casos, existe i G {m — n,..., m — 1} tal que

(22)

CAPÍTULO 2. O TEOREMA ERGÓDICO DE BIRKHOFF 15 m—l m—l

Y,U-^)XA

n

{T

j

x) > £(/-A)x

A n

(7%)

3=0 J=l > m—l > m—l

È-ai/iu+A+xr'*)

= m—l

E-(ll/IU + A

+

(x))

= ( - ^ + ^)(||/||oo + A+(x)) > -n(||/||oo + A+(^)).

Para a quarta igualdade na sequência acima, notar que A é T-invariante. Integrando vem

m—l

3=0

uma vez que T preserva fj, temos

m—l

Ê / (/-A)oT''d/i>-n(||/||oo+ /Vd/x),

J2 / (/ - A)d>* > -r»(||/||oo + IIA+I

j=Q JAn

Assim,

m / ( / - A ) d / i > - n ( | | / | |0 0 + ||A+||1).

Dividindo ambos os membros desta desigualdade por m obtemos

/ ( / - A H u > — (||/||oo + ||A+||i).

JAU m

Como o segundo membro da desigualdade acima converge para 0 quando m —> oo, obtemos (2.2). Vejamos agora que (2.2) se estende a / G Ll(n). Consideremos, para

cada fc,n G N

 = fX{xex-.\f(x)\<k} e A£ = {x G X : (A)„(x) > A(x)}.

É claro que, para todo k, % G L°°(fj,). Por outro lado, fixado n temos, para quase todo ponto

(23)

CAPÍTULO 2. O TEOREMA ERGÓDICO DE BIRKHOFF 16

A convergência acima também é em Ll{ji). Temos ainda

fi(An) —> n(An) quando k —> oo. (2.5) Como para todo k, fk G L°°(n), obtemos de (2.2), (2.4) e (2.5)

0 < / Uk-X)dn-* I {f-\)dn (fc->oo),

e portanto, para / G Ll(ii) temos ainda

/ (f-X)dfi>0. (2.6)

JAn

Provemos agora que (2.6) implica que J\ (/ — A)d/i > 0. De facto, aplicando o Teorema da Convergência Dominada a (f—X)XAn (n°tar que | ( / — X)XAn\ < \f —A| G

Lx{fi) e limn_oo(/ - X)xAn = (f - X)XA qtp) deduzimos que

0 < lim / ( / - X)XAJV = / ( / - A ) X A ^ = / (/ - A)d/x,

o que prova o resultado. D Se A é a função nula, o lema acima é conhecido como o Teorema Ergódico

Maxi-mal.

Teorema 2.1.2 (Ergódico de Birkhoff). Sejam (X,A,/J.) um espaço de proba-bilidade e T : X —» X uma transformação que preserva ji. Então, dada qualquer função integrável f : X —> R, o limite

1 n—l

/(*)= l i m - V / o l F

T7—>r*n T i ^ *

n—>oo 77,

exisíe para ç^ase iodo i £ l . Além disso, f é uma função integrável com J fd/j, =

J fdfi e f o T — f. Finalmente, se T é ergódica, então f — f fdfi. Prova. É suficiente provar que

/ lim sup Mj/d/x < / fdfi. (2.7)

J n—>oo J

De facto, suponhamos que (2.7) se verifica. Temos

limsupMj(-/)d/i < / - / d / i ,

(24)

CAPÍTULO 2. O TEOREMA ERGÓDICO DE BIRKHOFF 17 ou seja, / ­ l i m sup M j ( ­ / ) d / x > [ fdii, J n—>oo J e portanto / l i m i n f M j / d / i > / / d / x . J n^°° J Assim,

lim sup M j / d / i < / /d/i < / lim inf M j / d / i < / limsupMj/d/í,

n—>oo 7 J n~*°° ■/ ri—too

donde

( lim sup M j / ­ lim inf M j / ) d/i = 0,

n—KX> n *°°

e portanto, em quase todo ponto

lim sup M„ / = lim inf M„ / ,

n—»oo n—>oo

o que prova o resultado.

Vejamos então que (2.7) se verifica. Consideremos, para cada k 6 N, a função T­invariante

Àfc = min < lim sup M j /+, fc

É claro que A^ e Ll{^) e {x e X : (f+)*(x) > Xk(x)} = X. Pelo Lema 2.1.1 temos ^ (/+ ­ \k)dy. > 0. Assim, / /+d / i > í Xkdfi^ />l i m s u p M j / + (fc ­♦ oo). J J J n—>oo Ora, como ( l i m s u p M j / )+ < lim sup M j / + , n—>oo n—>oo

temos que (limsupn_+00 M j / )+ é integrável. Analogamente se prova que também ( l i m s u p ^ ^ M j / ) ~ é integrável e, consequentemente, limsupn_ÍOO M j / é integrável.

Sejam e > 0 arbitrário e A = l i m s u p ^ ^ M j / — e. Pelo Lema 2.1.1 temos

fdfi > / A d/i,

como e > 0 é arbitrário,

(25)

CAPÍTULO 2. O TEOREMA ERGÓDICO DE BIRKHOFF 18

o que prova o pretendido. Das observações acima resulta que / é uma função integrável e f fdfi = J fdfx. Por outro lado, é imediato verificar que se o limite existe para algum ponto x € X então também existe para T(x) e coincide com o limite para x, donde se deduz que / o T = / . A conclusão de que / coincide com o integral de / no caso da ergodicidade de T sai assim como consequência da

Proposição 1.2.3. D

2.2 Recíproco p a r a funções não negativas

Nesta secção demonstraremos que se T é ergódica e / é não negativa, então vale o recíproco do Teorema Ergódico de Birkhoff. Na secção seguinte provaremos que o recíproco não vale em geral.

Teorema 2.2.1. Sejam (X,A,/JL) um espaço de probabilidade, T : X —► X uma transformação ergódica que preserva \x e f : X —> IR uma função mensurável tal que, para quase todo x G X, existe

i " ;

lim ­ V / o T ^ i ) .

Se f é não negativa, então f é integrável.

Prova. Para cada c G l , consideremos o conjunto mensurável

1 n—l

Ac={xeX: lim ­ V / o Ti( i ) = c}.

L n—>oo 77, *■—J '

3=0

É claro que Ac é T­invariante. Como T é ergódica temos fJ,(Ac) = 0 ou /J.(AC) — 1, Assim, existe uma constante c* tal que (i(Ac*) = 1, e portanto, podemos assumir que

1 n—i

lim ­ V f oTHx) =

n—>oo n 3=0

em quase todo ponto x £ X. Se definirmos, para cada k > 0, a função mensurável

fk = min{/,/c},

é imediato verificar que fk é limitada, e portanto integrável. Pelo Teorema da Convergência Monótona

lim / fkd/i = / lim fkdii = / fd\x.

(26)

CAPÍTULO 2. O TEOREMA ERGÓDICO DE BIRKHOFF 19

Assim, para provar a integrabilidade de / , basta provar que a sucessão ( f fkdfi), é limitada. Pelo Teorema Ergódico de Birkhoff, para todo k > 0, existe

1 n—l

lim ­ThoTH

m—>nn Tl *■ *

n—too Ti 3=0

para quase todo x E X. Por outro lado, como fk < f, para todo k, temos que

n—l ., n—l

lim ­ V /f co Tj(x) < lim ­ V / o TJ(x), (2.í

para quase todo x E X. Ora, como

1 n— 1

lim — } f o THX) = c*,

j = 0

para quase todo x 6 X, de (2.8) temos

n ­ l lim ­ V /f co P ( i ) < c * . (2.9) .).—too n ' « Seja n—>oo 77, i=o /fe = lim ­ V /f co TJ. n—>oo 77, *—»

Sendo T uma transformação ergódica, resulta do Teorema Ergódico de Birkhoff que

fk= fkdfi.

Assim, de (2.9) temos, para todo k > 0

fkdfi < c*,

o que prova o resultado. D Vamos agora ver que este resultado pode ser estendido a funções semi­integráveis.

Como toda a função mensurável / pode ser escrita como diferença de duas funções não negativas, isto é, / = /+ — / " temos, para todo x G X,

­. n—l 1 n—l _ n—l

£%.í'

lT

'H = £2.­

n

E/

+

«r>(*) ­£» ;E/"»

r I

<­). (2­10)

(27)

CAPÍTULO 2. O TEOREMA ERGÓDICO DE BIRKHOFF 20

sempre que os limites existam.

Nas condições do teorema anterior, seja / uma função semi­integrável. Podemos supor, sem perda de generalidade, que /+ é integrável. Ora, se para quase todo

x G X, existe

­. 7 1 — 1

l i m ­ V / C F z ) ,

n—>oo Tl * — '

i=o

obtemos de (2.10) e da integrabilidade de /+ que, para quase todo x G X, existe lim ­ S" f­(Tjx).

n—>oo n * — '

Aplicando agora o teorema anterior à função não negativa / ~ , temos que /_ é integrável e, consequentemente / é integrável. Isto prova o seguinte corolário:

Corolário 2.2.2. Sejam (X,A,fi) um espaço de probabilidade, T : X —■> X uma transformação ergódica que preserva \i e f : X —>■ R m a função mensurável tal que, para quase todo x G X, existe o

­. n—l

lim ­ V / C F x ) .

n—>oo Ti * — '

Se f é semi­integrável, então f é integrável.

2.3 Contra­exemplo para o recíproco

Ao longo desta secção assumiremos que (X, A, ji) é um espaço de Lebesgue fini­ to não atómico e S, T: X —> X são transformações invertíveis ergódicas. Estas transformações geram, de maneira natural, uma acção de Z2 em X:

I? x X —► X «M),aO ■—> r ^ ' ( x )

Dizemos que esta acção é livre se, para quase todo i G l ,

TSj{x)^x para ( i , j ) ^ ( 0 , 0 ) .

Assumiremos doravante que a acção gerada por S e T é livre. Para N > 1, definimos fí^ = {(i, j) eZ2:l<i<Nel<j< 2N} c Z x Z .

Apresentamos a seguir um lema que desempenhará um papel importante na cons­ trução de uma função que sirva de contra­exemplo para o recíproco do Teorema de Birkhoff no caso geral. O lema é apresentado sem demonstração uma vez que as técnicas usadas na sua demonstração se afastam bastante do âmbito deste trabalho.

(28)

CAPÍTULO 2. O TEOREMA ERGÓDICO DE BIRKHOFF 21

Lema 2.3.1 (Kakutani-Rohlin). Dados N G N e e > 0, existe A £ A tal que 1. os conjuntos {TlSjA : (i,j) G RN} são disjuntos;

%■ n{\j{i^RNTi&A)>l­e.

Prova. Ver [17]. □

Incidentalmente, é apenas na prova do Lema Kakutani­Rohlin que se usa o facto de (X, A, fi) ser um espaço de Lebesgue não atómico.

Lema 2.3.2. Se K e N são inteiros positivos e go é uma função mensurável e

limitada com suporte EQ, então existe uma função mensurável e limitada pi tal que 1. f gidfi = f g0dfj,;

2. /i(Uil­/v S~*E\) < 2/K, onde Ei denota o suporte de pi; 3­ supx e X \gi{x)\ < KsupxeX \g0(x)\;

4­ \ £?=o(0i ­ 9o)(Tjx)\ < 2Ksupx£X \g0(x)\, para todos x G X en>l;

\K

5. Di C (JJ= 0TJEQ, onde Di denota o suporte de pi — go.

Prova. Suponhamos, sem perda de generalidade, que fJ,(X) = 1. Sejam

1 AT 2N e

NQ = — e e0

K' u ' e u 2(2iV + l ) ' Pelo Lema de Kakutani­Rohlin, existe um conjunto A G A tal que

1. os conjuntos {TlSjA : (i,j) G RN0} são disjuntos; 2­ K{J{hj)eRNJlSJA)>l­eo. Sejam 2iV0 N0e A = ( J TS*A, Ci=\J TSjA e B = \J CjK. (hj)eRNQ J=l J'=i Definimos pi : X —► R por Po(x) se x £ A gi{x) =<( 0 se x e Â\B

(29)

CAPÍTULO 2. O TEOREMA ERGÓDICO DE BIRKHOFF 22

A função gi está bem definida, é mensurável e limitada (notar que g0 é limitada). Resulta da definição de gi que

/ gid/j, = / godfi. (2.11)

Jx\Â Jx\Â

Atendendo a que T preserva \i e, para todo o % 6 {1, ...,NQ — 1}, C; = T_ 1Q+ 1, temos Pid/i = / gidfi A J B N0e „ K - 1

E / E ^o °

T_í

^

j = \ JCjK i =o J = N0e fC-1

= E E / gooT-'dfi

j=l i=o J°JK N0e K-\

=

Ë E / ^

j = l i=Q JCJK

= ^ E / 5°^

í/od/i. (2.12) De (2.11) e (2.12) obtemos a propriedade 1.

Seja B — X \ A. Resulta de 1 e 2 que

l-e0<íi(Â)= Y, KA)=2N$n(A)<l (2.13)

{i,j)eRNo

H{B) = fi(X\A) = l - n(A) <l-l + e0 = e0. (2.14) Ora,

N N N0e N N0e 2N0 N N0t2N0

U s>B= u s'(UCiff)= U l M U

T í /

^ ) = U U U

O T i i

^

j=~-N j=-N i=l j=-N i=l 1=1 j=-N i=l 1=1

(30)

CAPÍTULO 2. O TEOREMA ERGÓDICO DE BIRKHOFF 23

N Noe N+2N0

U S

j

B = \J (J T

lK

S

j

A. (2.15)

j=-N i=l j=-N+l

Assim, de (2.13) e (2.15) vem que

N N0e N+2N0

/*( U

SJB

)

< E E vw

j=-N i=l j=-N+l

N0e(2N + 2N0)n(A) 2A^02e(l + 6-MA) < e(l + | )

< 3 2£ -Por outro lado, de (2.14) temos

JV

MU

J=-N

5

j

S)

< AT

Í>(5)

j=-JV < (2iV + l)/i(£) (2N + l)e0 e 2"

E claro que Ei Ç B U B, e portanto de (2.16) e (2.17) obtemos

N N

n( (J 5-^) = /z( (J 5^0

N N

< n( U S'£)+/x( (J #£)

j=-JV j=-JV 3e e

< ¥ + 2

= 2e 2 (2.16) (2.17)

(31)

CAPÍTULO 2. O TEOREMA ERGÓDICO DE BIRKHOFF 24

ficando assim provada a propriedade 2.

Resulta facilmente da definição de gi que, para todo o x £ X,

e, consequentemente \gi(x)\ < Ksup\g0(x) xex sup|<7i(x)| < Ksup\go(x)\, xex xex o que prova 3.

Para provar a propriedade 4, comecemos por observar que, se x G X e n' > 0 são tais que TK'x G CÍK-(K-I), para algum i G {1,..., A^e}, ou seja, se

2N0

T

K

'x G (J r

K

~

{K

-

l)

S

j

A,

3=1 então donde 2N0

T

K

'

+K

-

l

x<é [JT

iK

S

j

A = C

iK

,

K'+K-1 K'+K-1 K'+K-1

Y, (gi-goWx) = Y, 9i(T

j

x)- Y 9o{T

J x)

J=K' J=K' J=K' K'+K-\ gi

{T^^x)- Y 9o(T

j J=K' K-\ gi(T K'+K-1 X = 9i(T K'+K-1 X = gi(T = gi{T = 0. K,'+K-1 X K'+K-1 X X X) X)

-J29o(T

j+K

'

-Y,9°(

T

~

j+K

'

+K

~

l 3=0 K-\

-J29o(T-

j

(T

K

'

+K

-

l

x))

3=0

-

9l

(T^

K

-

l

x)

(2.18) Para a segunda igualdade na sequência acima, notar que para K' < j < K' + K — 1, TJx ^ CiKi para todo o i G { 1 , . . . , Aoe}. A sexta igualdade resulta facilmente da definição de g\ e do facto de TK +K~1x G CÍK, para algum i G {1,..., Nç,e\.

(32)

CAPÍTULO 2. O TEOREMA ERGÓDICO DE BIRKHOFF 25

Fixemos arbitrariamente x G X. Seja /co o menor inteiro não negativo tal que

Tkox G A. E claro que se tal k0 não existe, então para todo o j > 0, TJ:r ^ A, e portanto (gi — go){T^x) = 0, para todo o j > 0, o que implica, neste caso, a propriedade 4. Supondo, então, que tal ko existe, seja kç, < k\ < k0 + K tal que ou

Tklx G CjiK-iK-i), Pa r a algum jx G { 1 , . . . , N0e}, ou Tklx £ A e Tfc'x e Á para

ko < k' < k\. Por construção obtemos uma sequência k\ < k,2 < ... tal que para

todo o n > 1, ou Tfcnx ^ A ou, se Tknx G Á, então existe um j n G {l,...,N0e} tal que Tknx G CjnK-(K-i)- Vejamos, mais precisamente, como obter tal sequência. Seja n > 1. Se Tfcnx G A, então existe j n G {1,..., N0e} tal que Tknx G Cjn^_(K-i). Se j n < Noe, então consideramos /cn+i = kn + K e jn +\ = jn + 1, temos neste caso

Tkn+1X = Tkn+KX G CjnK-(K-l)+K = C(jn+i)K-{K-l) = Cjn+lK

-(K-l)-Se j n = N0e, tomamos também neste caso kn+\ — kn + K. Ora, como Tknx G

CN0-(K-I)I temos claramente que

T "+ 1" x G CN0-(K-I)+{K-I) = CN0

-Logo, se Tkn+1x G A, como Cj = J H ^ C J + I , para j < N0, resulta que

Tk^x G d = CK-(K-I)

e, obviamente, consideramos neste caso, jn + í = 1.

Se Tknx ^ A, seja /cn+i = &„ + 1. Ora, se Tkn+1x <£ A repetimos o processo, caso contrário temos

T~l(Tkn+1x) = Tknx $ Â, e portanto

Tk^x G Cx = CKHK-X),

e, tal como anteriormente, fixamos jn+i = 1.

Para n > 1, se Tfcnx G A, resulta de (2.18), fazendo K' — kn, que

fcn+l-l fcn + K - l

^ ( S I - < ? O ) ( T V ) = X ] ( 5 i - 5 o ) ( T ^ ) = 0. (2.19) Se Tfcna; ^ A, então /cn+i — 1 = kn, e neste caso, por definição de g\, também se

verifica que

(33)

CAPITULO 2. O TEOREMA ERGODICO DE BIRKHOFF 26

Por outro lado, temos ainda

fci — 1 fci—1 fei —l

\J2(9i-9o)(T>x)\ = | j > ( T ^ ) - Y^9o(T

j

x)\

j=k0 j—ko j=k0 fci-1

= \

gi

(T^-

l

x)-J2g

Q

(T^)\

j=ko

= if^goiT-^T^x^-f^go^x)]

i—O j=ko K-\ ki-1 < ^|flb(T-i+fcl-1a:)| + J 3 | ( t o ( T ^ ) | i = 0 J=feo < 2Ksup\g0{x)\ (2.21)

Para a segunda igualdade na sequência acima, notar que, se Tklx G C^K-ÍK-I) c o m ji G {1, ...,N0e}, então Tkl~lx G C^-^K e, para todo k0 < j < ki — 1, TJx ^ 5 .

Por outro lado, se Tfclx ^ A, então para todo fco < j < fci — 1, T^x G A Em

particular, Tkl~lx G A Como d = T~1Ci+\ temos que Tkl~1x G CW„ = CW/r e

T^x £ B para todo ko < j < kx — 1.

Para kn < M < kn+i, atendendo ao facto de kn+\ — kn < K, temos

M M

I X > i - 0ô)(T'x)| - I J ] »o(TJx)| < i^sup |^o(x)|. (2.22)

J—Kn J—n>n

Para todo 0 < j < ko, TJx ^ A, e portanto

fco-i

j > i - < t o ) (2**01=0. (2.23)

De (2.19)-(2.23) deduzimos que, para todo o n > 1, n - l

| V ( 5 i - 5 o ) ( ^ x ) | < 2 ^ s u p |5 o( x ) ! .

Como x G X é arbitrário, temos a propriedade 4.

Finalmente, para provar 5, seja x G Dj.. Se g\{x) ^ 0, então

(34)

CAPITULO 2. O TEOREMA ERGODICO DE BIRKHOFF 27

e portanto, existe j G { 0 , . . . , K — 1} tal que g^iT'^x) ^ 0, ou seja, tal que T~jx G

E0, donde x G TJE0 para esse j . Assim, x G l)f=QT^EQ, e portanto Dx C U J ^ Q T ^ O

-Se gi(x) = 0, é claro que x E E0 Ç UJLQT^EO, e portanto a propriedade 5 verifica-se

também neste caso. D Sejam (A, A, JJ) um espaço de medida e T : X —> X mensurável. Dado e > 0,

dizemos que uma função mensurável / : X —> R é (T, e)-anulável se existe A ^ € ^4. tal que /z(A \ ATi£) < 2e e | M j / ( x ) | < e, para todos n > 1 e x G X ^ .

Lema 2.3.3. 5ej/a i? o suporte de uma função mensurável f : X —> R. 5e A > 0 é ia/ çue /w(Uj=o-^1~J^') < 2e e | ^ ? ro /(TJx)| < Ke, para todos n > 1 e x G X,

então f é (T,e)-anulável.

Prova. Seja AT>e = X \ [JJ^QT^E. Temos claramente que o conjunto AT>e é

men-surável e jj,(X \ XT,e) < 2e. Vejamos agora que se x G XTtf,, então \M%f(x)\ < e,

para todo n > 1. De facto, dado x G XT,£ temos que x G" UJLQT--7^, e portanto

para todo j € { 0 , . . . , K}, TJ(x) ^ £, ou seja, f(Tjx) = 0. Assim, para x G Ax,e,

se n < K temos \M^f(x)\ — 0; se n > K

n - l

\Mlf(x)\ = \

l

-Y

j

f{Tx)\<

I

^<e

j=0

o que prova o resultado. D Lema 2.3.4. Se (ej)j>o é uma sucessão estritamente decrescente tal que 1/CJ G N

para todo j e YlJLo ej < °°> en^o existem funções /j : X —> R tais que

1. n(Ej) < 2ej, onde Ej denota o suporte de ff, 2. ffidfM^l;

3. /2j+i - Í2j é (S,e2j)-anulável;

4- Í2j+2-f2j+i é (T,e2j+i)-anulável.

Prova. Seja f-i(x) — 1 para todo x G X. É claro que /_i é uma função mensurável e limitada. Se

1 1 2 1 2

X0 = — e N0 = 2 = 2 suPlZ-iWl» £o Co £i Co £i xex

pelo L e m a 2.3.2, fazendo K = Ao, N = N0 e g0 = / _1 ; existe u m a função mensurável

(35)

CAPÍTULO 2. O TEOREMA ERGÓDICO DE BIRKHOFF 28

Admitamos que f2j está bem definida, para algum j > 0, e seja E2j o suporte de

f2j. Sejam

K 2j+l 1 e iY2j-+i = 2—1 2 SUP I hi ix) I • e2 j + l e2 j + l É2J+2 i t í

Aplicando o Lema 2.3.2, fazendo K = K2j+i, N = N2j+i, go = /2j e invertendo os papéis de 5 e T, existe uma função mensurável e limitada f2j+i, de suporte E2j+i, satisfazendo as seguintes propriedades

(hi+i) / hj+idfJL = / /ajd/i = 1;

/ #2.7 + 1 N

("2j+i) AM U T~lE2j+l J < 2e2j+i;

(m2j+i) SUP l/2j+i(^)| < sup |/2j(a;)|;

xGX É2j+1 I 6 X l™2j+l, 7 1 - 1 i = 0 < sup |/2j(a;)| Vx G X Vn > 1; Ê2j+i x e x ^ 2 j + l

(Ü2J+I) £>2j+i C [ J S ^ j , onde D2j+1 denota o suporte de f2j+1 - f2j.

i=0

Admitamos agora que f2j-i está bem definida, para algum j > 1. Seja -Ey-i o suporte de f2j-i e sejam

1 1 2 K2j = — e N2j = 2— sup | /2 i_i (x) |.

e2j % ' e2j+i XGX

Pelo Lema 2.3.2, fazendo K = K2j, N = N2j e gQ = f2j-i, existe uma função mensurável e limitada f2j, de suporte E2j, tal que

1*2.7 \%%2i, \lll2i [iv2j / hjdfi = / f2j-idfjL = 1; M U 5 ~ ^ <2e2 j; ^ i=-N2j ' sup |/2j(ar)| < — sup \f2j-i(x)

x&X É2j x<EX n - 1

E ( / « - ^-i)(T'

Jb , i=0 < — sup|/2 j_i(x)| £2j xex Vz 6 X Vn > 1:

(36)

CAPITULO 2. O TEOREMA ERGODICO DE BIRKHOFF 29

(v2j) D2j C M TlE2j~i, onde D2j denota o suporte de fy —

fij-i-i=0

Vejamos agora que as funções acima definidas satisfazem as propriedades 1-4. A propriedade 1 resulta facilmente de (iÍ2j) e (Ü2j+i)- Também de (i2j) e (i2j * obtemos a propriedade 2. Vejamos agora a propriedade 3. De f fzj-idfi = 1 v

í+ly

vem que sup^x |/2j_i(x)| > 1, e portanto

1 2 1 2 1

iV2j = 2— sup |/2j-_i(a:)| > -2— > = K2j+i,

e, consequentemente, de (t>2j+i) temos

K2j+1 N2j e portanto 1=0 1=0 N2j N2j N2j i = 0 i=0 1=0 N2j N2j

= uu^

+

%

i=0 /=0

= U

S

~

l

^r

Í=-N2] Donde, por (n2j , A T2J . . N:

J{JS-*D

2j+1

] <J U 5-%-

>

)<2e

2i

. (2.24)

^ i = 0 ' ^ i=-N2j '

Por outro lado, de (üz2j) e (ú^j+i) vem

l E ( / 2 i+l - / 2 i ) ( ^ ) l < ^ - S U p | /2 j( x ) |

< s u p | /2j _ i ( x ) | e2 j + l Ê2j xeX

= N2jt2j+1

(37)

CAPÍTULO 2. O TEOREMA ERGÓDICO DE BIRKHOFF 30

Deste modo, de (2.24) e (2.25) temos pelo Lema 2.3.3, fazendo K = JVy, que /2j+i — f2j é (S, e2j)­anulável, o que prova 3. Por um raciocínio análogo ao usado

para provar 3, facilmente se prova a propriedade 4. D

Teorema 2.3.5 (Buczolich). Sejam (X,A,fi) um espaço de medida de Lebesgue, finito e não atómico, e S, T : X —> X transformações ergódicas que geram uma

acção livre de I? em X. Então, existe uma função mensurável f : X —> R tal que, para quase todo x G X,

M%f(x) —> 0 e M„f(x) —> 1 quando n —> oo.

Prova. Seja (/_,­)j>o a sucessão de funções mensuráveis e limitadas, definidas no lema anterior.

Seja / = ]Cílo(—­O^'/j­ Vejamos que a soma que define / converge em quase todo ponto. Tal verifica­se pois ^ ( H ^ Uj>j ­Ej) = 0. De facto, pela propriedade 1 do Lema 2.3.4 e pelo facto de Y^jLo ej s e r u m a série convergente, temos

n{ n ~ ! \Jj>iEj) = lim n( Uj>n Ej) < lim V n{EA < 2 lim Y^ e,­ = 0

n—>oo ' n—>oo ■'-—' ' n—>oo ■<-—' "

Vejamos agora que / satisfaz o que pretendemos. Para isso, comecemos por provar que, para quase todo x G X, M^f(x) —» 0 quando n —> oo. Assim, sejam e > 0 arbitrário e N > 0 tais que ^°^_2N ej < e/^­ Como, para todo j > 0,

hj+i — hj é (S1, e2j) — anulável, existe para cada j > 0 um conjunto Xji£2j tal que

^X\Xs^)<2e2je

\Msn{f2]+l ­ f2j){x)\ < e2v (2.26) para todos x 6 Xsi€!y e n > 1.

Seja ^ = E j f o "1!­ 1) ^1/ ; ­ É fácil verificar que ^w = Ejl^C/bj+i ­ hj), e portanto da propriedade 2 do Lema 2.3.4 resulta que J g^dn — 0. Pelo Teorema

Ergódico de Birkhoff temos, para quase todo x G X,

Mng^{x) —► 0 quando n —> oo.

Assim, pelo Teorema 1.1.5 existem um conjunto mensurável X^ e Ni > N tais que,

fi(X \ Xff) < e/2 e para todos x € X^ e n > Ni

rS. e

\MbngN{x)\ < ­ . (2.27)

(38)

CAPITULO 2. O TEOREMA ERGODICO DE BIRKHOFF 31

KX\X) < ^(X\X

N

) + Y;^X\Xs,

2j

.

j=N < oo

^ +

2

E ^

j=N oo <

i

+ 2

5 >

j=2N < e e 2 + 2 = e.

Por outro lado, para todos x E X e n > Ni, resulta de (2.26) e (2.27) que oo

\M

S

J(x)\ = |M

Bs

5Í(-l)Vi

i=o J V - 1 oo

= M ( E(/2i+l - /«)(*) + £ ( / W - fy)(x)) |

i = 0 j=Af i V - 1 oo

< \M

sn

E(/2i+i - /2i)W| + |M* £ t / W i - /2i)Or)

j V - 1 oo

< \M

sn

E(/2i

+

i - /«)(*)! + E l

M

- (/«+i - Aí)(s)

j = 0 j=jV oo

= |M

n

V(x)| + El

M

n(/2i

+

l-/2,)W|

i=7V oo

< | + E ^

oo

< ^+E

e

^'

j=2;V e e < 2 + 4 < e.

Como e > 0 é arbitrário temos, para quase todo x € X,

(39)

CAPÍTULO 2. O TEOREMA ERGÓDICO DE BIRKHOFF 32

Considerando agora gN = Ej=o(~1)'?/j, o u seJa> 9N = fo + Y,f=o(f2j+2 - fij+i), temos que J g^dfi — 1. Por um raciocínio análogo ao anterior obtemos, para quase todo x G X,

M^f(x) —> 1 quando n —> oo,

o que prova o pretendido. D Como consequência deste último teorema, temos que o recíproco do Teorema

Ergódico de Birkhoff não vale em geral. Note-se ainda que, pelo Corolário 2.2.2, a função / do teorema anterior não é semi-integrável.

(40)

Capítulo 3

Rotações do círculo

Neste capítulo denotaremos por A a medida de Lebesgue (em 5a ou E) e Ra a rotação de ângulo a em S1. Dada uma função mensurável / : S1 ­ > R e a G K definimos, para n > 1

1 n—l

j=0 e o conjunto de rotação da função / ,

r^ = { a G E : M"f(x) converge, quando n —> co, para quase todo x G S1 }.

Se f é integrável, resulta do Teorema Ergódico de Birkhoff que Tf = E. Mais

precisamente, se a G M\Q, então _Ra é ergódica e portanto, para quase todo I G S1,

M%f(x) —► / /dA (quando n —> oo).

A convergência acima não vale se « e Q. No entanto, nesse caso, todas as órbitas são periódicas e portanto M%f(x) converge para a média de / na órbita de x.

Se / não é integrável, a única garantia que temos é, pela observação acima, que Q C Tf. No entanto, resulta do Teorema 2.2.1 que se f é não negativa, então

3.1 Conjunto de rotação com medida positiva

Vamos mostrar que se o conjunto de rotação de / : S1 —> E tiver medida positiva, a sua integrabilidade fica garantida, e portanto Tf = E.

Teorema 3.1.1 (Buczolich). Seja f : S1 —> E uma função mensurável. SeVf tem

medida de Lebesgue positiva, então f é integrável.

(41)

CAPITULO 3. ROTAÇÕES DO CIRCULO 34

Prova. Dados a G S1 e N G N definimos Ga^ como o conjunto dos pontos x £ S1 tais que \f(x + na)\ < n para n > N e |/(x + /ca)| < iV para k — 0 , . . . , N. Observe­se que o conjunto Ga JV é mensurável, facto que resulta da mensurabilidade de / .

Para todo x E S1, temos

1 n 1 n—l \M:+J(x)­MZf(x)\ = | — ­ £ / ( * + j a ) ­ ­ £ / ( * +ja)| j=0 i=0 1 / 1 1\ n _ 1 = I fix + na) + y ^ / ( ^ + 7 'n + 1 V ; U +1 TI/ ^

> _ l _ |

/ ( x + n Q )

| _ _ l _ |

M ; / ( x ) e portanto — ­ ­ | / ( x + na)\ < \MZ+J(x) ­ M « / ( x ) | + ­ — | Mn« / ( x ) | . (3.1) n + 1 n + 1 Se a G Tj, resulta facilmente da definição de Tf que, para quase todo x E Sl,

1

| MnV ( i ) ­ Mn7 ( , ) h û e — | Mn" / ( * ) H 0 ,

quando n —> oo, donde pela desigualdade (3.1) 1

n e portanto,

—fix + na) —> 0 (n —> oo)

1 „ , n + 1 1 ., . n . ,

—j(x + na) — j[x + na) —► U (n —■» oo). n n n + 1

Assim, se a € F/, para quase todo x G S1 existe J V ' G N tal que \f(x + na)| < n para n > N' e, consequentemente existe iVx G N tal que x G Gaijv para N > Nx. Vejamos agora que existem N G N e e > 0, tais que o conjunto dos a G Tf que verificam À(GQiArn6'1) > e tem medida positiva. De facto, se definirmos para Í V G N

e a E S1

(42)

CAPITULO 3. ROTAÇÕES DO CIRCULO 35

é claro que, pelas observações acima, para cada a G Tf, U^^^Aa^ = S1 em quase todo ponto. Assim, para cada a G Tf existem N(a) e n(a) tais que

HGa,N(a) n S ) >

n{a)

Definindo agora, para íi,JVeN

Bn,N = {a€Tf. \{Ga>N n S1) > - } , n

temos UnijveN-Bn,Jv = T/. Ora, como A(r^) > 0 existem JV0 e n0 = 7 , tais que

\({a € r> : A(Gai7Vo n S1) > e0}) > 0, (3.2) o que prova o pretendido. Fixemos N e e de modo a verificarem (3.2), e seja

A = {aeTf: A(Ga,wn51) > e}.

Para cada a G S1, seja Ha — M\Ga^ (note-se que N é fixo). Consideremos a função mensurável definida para cada a G A por a(a) — X(Ha H S1). Resulta facilmente da definição de A que a(a) < 1 — e, para todo a G A. Consideremos ainda a função mensurável definida por

1 se a; G Ha e a G A,

h(x, a) = { TT se x é Ha e a G A, 1 1 — a(a)

0 se x e R e a £ A.

A função h é periódica em x de período 1. Por outro lado, tendo em atenção que

a(a) < 1 — e para todo a G A, é fácil verificar que, para todos a G S*1 e x G R

\h(x,a)\<-. (3.3)

Para cada a G A temos ainda que

h(x,a)dx = / h(x, a)dx + / h(x,a)dx

S1 JGa^nS1 JHCDS1

aia) -dx + / ldx GaNnsl l-a{ot) JHanSl

(43)

CAPITULO 3. ROTAÇÕES DO CIRCULO 36

" À(Ga,,v n S1) + A(tfa n s1)

1 — a(a

aia) 1 — a(a)) + a(a)

1 — a(a/

— —a(a) + a(a) = O,

se a ^ A é claro, pela definição da função h, que o resultado acima também se

verifica, e portanto, para todo a G S1

h{x,a)dx = 0. (3.4) Js1

Seja, para cada n > 0

B„ = { i e 51: |/(z)| > n } .

Observemos que se n > N e x — na <E Ga>N, então |/(x)| = \f({x — na) + na)\ < n. Assim, para n > N, se x € £?„, então ï - n a G i/Q, se a G A temos ainda que

h{x — na,a) = 1, e por conseguinte

; . - / h(x — na, a)da — 1. (3.5)

A(A)A

Fixado a G 51, denotemos o /c-ésimo coeficiente de Fourier da função h(. ,a) por

hk{a), ou seja,

fcfc(a) = [ h{x,a)e~27TÍkxdx.

Js1

Temos que h^ é uma função em a mensurável. Por outro lado,

\hk(a)\ = | / h{x,a)e~27Tlkxdx\ < \h(x, a)e~2mkx \dx Js' =

L

\h(x, a)\dx < sup xes1 \h(x ,a)\ < 1 e

(44)

CAPITULO 3. ROTAÇÕES DO CIRCULO 37

donde se conclui que hk é limitada. De (3.4) resulta que, para todo a 6 S1 ,

hü{oí) = Li h(x,a)dx = 0. De notar ainda que, se a £ A então hk{a) = 0, para todo k.

Consideremos agora, para cada n G N, a função mensurável e limitada Gn defini-da para cadefini-da x 6 IR por

Gn{x) = / h(x — na,a)da.

A\A) JA

A função Gn é limitada pelo facto da função h ser limitada. Denotando o /c-ésimo coeficiente de Fourier da função Gn por Gnik, temos

Gn,k = / Gn{x)e~^kxdx 'S

= / I T^TT / M^ - ™«, Oi)da ) e 2nikxdx

Jsi \X(A)JA )

= —— / h(x - na, a)e~2'nikxdadx

*{A) JSí JA

= —— / / h(x - na, a)e~2nikxdxda

KA)jAJSl

A veracidade da penúltima igualdade na sequência acima assenta no facto da função integranda ser limitada, e portanto podemos trocar a ordem de integração. Relati-vamente à última igualdade, observemos que, para cada a € S1, a série de Fourier de h(* , a) é dada por

J2h

k

(a)e

2mkx

e portanto, a série de Fourier de h(* — na, a) é dada por

J2M^)e2nik{x-na) = ^hlLk\Ui)t k(a)e~^—2-KÍkna Jlirikx 2mknae2 fcez fcez

donde se conclui que hk(a)e~2mkna é o /c-ésimo coeficiente de Fourier da função

h(* — na, a).

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