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Simbolismo e tipologia do baptismo em Tertuliano e Santo Ambrósio: estudo litúrgico-teológico

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SIMBOLISMO E TIPOLOGIA

DO BAPTISMO

EM

TERTULIANO E SANTO AMBRÓSIO

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sxsívotç, êypá(p7i 8è TrpòçvouÔECTÍav r][xcõv, em figura e foram escritas para nossa ciç o&ç R I réXrj TÕJV alúvo>v xarijvz^xsv. instrução: para nós que chegámos ao

fim dos tempos».

(1 Cor 1 0 , 1 1 )

«Quod [Creator] proposuit et «O que [o Criador] propôs e reve-reuelauit médio spatio saeculorum lou no espaço intermédio dos tempos, in figuris et aenigmatibus et alegoriis apresentou-o em figuras e em enigmas praeministrauit». e em alegorias».

(TERTULIANO, Marc. V 6,5 = CCL 1,679)

«Et figura ipsa nobis proficit quia «E a própria figura nos é proveitosa, ueritatis est nuntia». porque mensageira da verdade».

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Introdução 11 1. Liturgia do baptismo em Tertuliano e Santo Ambrósio: os ritos . . 39

2. Simbolismo dos ritos do baptismo em Tertuliano e Santo Ambrósio 121 3. Tipologia do baptismo em Tertuliano e Santo Ambrósio . . . . 239

Conclusão 355 Abreviaturas e siglas 363

Bibliografia 369 índice bíblico 383 índice patrístico 397 índice de Autores modernos 437

índice analítico 441 Cronologia dos Padres 447

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1. Redescobrir o Mistério de Deus na Liturgia baptismal

A Igreja exprime-se e exprime a realidade da fé que a gera, sobretudo na celebração dos Sacramentos. N o seu início c o m o n o seu desenvolvimento, os Sacramentos fazem parte integrante do ser cristão e da existência cristã, isto é, do estar em Ciisto, e d o viver em

Cristo.

D u r a n t e u m período demasiado longo, cujas marcas negativas ainda perduram, a Sacramentologia — é nesta área que se situa o nosso estudo — realçou sobretudo a vertente da eficácia real dos Sacramentos, p o r vezes compreendida e explicada de f o r m a deficiente, quando não distorcida: a acentuação parcial e praticamente exclusiva d o seu efeito ex opere operato é u m a das expressões desta teologia. Tal acentuação deixou muitas vezes na sombra a dimensão do mistério da salvação, revelado na Escritura e ritualmente celebrado nos Sacra-mentos.

A compartimentação dos vários ramos da teologia conduziu a u m a tal autonomização dos mesmos q u e esta originou, de facto, o isolamento indevido de aspectos complementares e interligados da fé, o que veio a repercutir-se na Sacramentologia e, p o r consequência, na compreensão dos ritos que qualquer Sacramento envolve. P o r outro lado, u m a antropologia truncada contribuiu igualmente para esvaziar os ritos d o seu sentido í n t i m o e p r o f u n d o1.

A positiva redescoberta que d o h o m e m h o j e nos oferecem as ciências antropológicas, b e m c o m o a perspectivação unificante dos

1 Escrev: A. VESGOTE, Interprétation du langage religieux (Paris 1974) 200: «Or, tout un contexte religi u x et culturel, toute une manière de penser e n philosophie et e n théologie ont contribué à éloigner le rite de son centre de gravitation qu'est l'acte de foi. U n e anthropologie rétrésie l'a dissocié de l'existence pour le livrer à u n e théologie abruptement verticale.» Cf. R . DIDIER, Les Sacrements de la foi. La Pâque dans ses signes (Paris 1975) 30-34; H . FRIES, Wort un ) Sakrament, in H . FRIES, (Hrsg.), Wort und Sakrament ( M ü n c h e n 1966) 10-15.

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1 2 BONIFÁCIO BERNARDO

vários sectores da teologia, t ê m contribuído para u m a mais ajustada compreensão dos ritos e, p o r isso, da Sacramentologia2.

O mistério da salvação, progressivamente realizado e, nessa medida, revelado3, é ritualmente celebrado nos Sacramentos da Igreja: de facto, tal mistério constitui o seu núcleo essencial e espe-cífico4.

N a liturgia cristã, os ritos tornam-se u m a5 expressão visível da fé n o Deus que, à luz da Escritura, permanentemente opera a salvação dos homens. O mistério salvífico de Deus, isto é, o Sacramento, torna-se então rito 6.

Fenomenologicamente, o Sacramento, p o r q u e rito t a m b é m , exprime-se e m gestos, palavras e elementos materiais significantes. O rito é a c ç ã o1, e, nessa medida, situa-se n o plano do visível. P o r é m , ao nível d o simbolismo, o rito, c o m o o Sacramento, esconde u m sentido interior que o situa j á n o plano 'meta-físico5. O rito torna-se sinal (signum). C o m o acção e c o m o sinal, o rito assume j á u m a indis-cutível dimensão antropológica. Trata-se de duas vertentes comuns a qualquer rito, mesmo àquele que não é especificamente religioso. O Sacramento cristão integra u m a e outra, sem nelas se esgotar. O específico dos ritos sacramentais, na liturgia cristã, de facto, reside na sua dimensão de memorial (áváfxviQcriç), a qual os situa j á n o plano teológico, isto é, ao nível da fé. Fé e Sacramento estão, pois, indissociavelmente l i g a d o s8. E n q u a n t o memorial, o Sacramento envolve u m a referência irrecusável e original ao passado salvífico maravilhoso de Deus.

2 Citamos A . VEHGOTE, Interprétation 205: «Il fallait remonter à ce point de jeunesse religieuse o ù la foi cheminante produit u n rite qui est signifiant par son adéquation au sens v é c u qui le motive. C e qui fait l'essence du rite por ceux qui le redécouvrent, c'est son p o u v o i r propre de signifier leur humanité et leur foi en l'exprimant dans leur propre v o i x et dans les modulations de leurs gestes».

3 C f . Ef 3,9; Col 1,26; Rom 16,25.

* Cf. C. MOHRMANN, Études sur le latin des Chrétiens I. Le latin des Chr tiens ( R o m a

21961) 233-244; nota 86. Q u a n t o a A m b r ó s i o , id., 'Sacramentum' dans les plus anciens textes

chrétiens, in HThR 47 (1954) 152; D . R . PASSINI, Mysterium e Sacramentum in S. Ambrogio ( R o m a 1970); P. VISENTIN, 'Mysterion-Sacramentum' dai Padri alla Scholastica, in StPat 4 (1957) 394-414. (Nesta obra, quanto a A m b r ó s i o , pp. 404s).

5 O h o m e m e x p r i m e a sua f é e m três manifestações concretas interligadas: oração, responsabilidade ética e rito: cf. A . VERGOTE, Interprétation 209.

6 C f . R . DIDIER, Les Sacrements 45-52.

7 R . DIDIER, Les Sacrements 22, sugere esta definição genérica de rito: « U n agir social spécifique, p r o g r a m m é , répétitif et s y m b o l i q u e par lequel s'opère l'identification de l'individu dans son groupe social et de ce groupe dans la société globale».

8 C f . ibid., 111-117; CONCILIO ECUMÉNICO VATICANO II, Sacrossan-.tum Concilium 59, in AAS 56 (1964) 116.

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É a esta luz que havemos de compreender c o m o o Sacramento — e o h o m e m — se exprime n o rito. Assim a liturgia cristã de m o d o algum t e m que degenerar e m ritualismo, magia, superstição ou teurgia vertical. D a d a a condição d o h o m e m na sua relação c o m Deus, o Sacramento torna-se rito e este, na medida e m que se ajusta ao sentido da fé que. o motiva, c o m o que se identifica c o m o próprio Sacramento, isto é, c o m o mistério da salvação, implicado n o rito 9.

D e facto, só à luz da Economia da salvação, cuja revelação e reali-zação culminou na cruz e na ressurreição de Jesus, cabeça da Igreja, seu C o r p o , se p o d e compreender e elaborar u m a b e m dimensionada Sacramentologia. Nesta perspectiva se orienta a reflexão teológica actual sobre os Sacramentos. C o m o Revelador e Realizador do mistério salvífico de Deus na sua plenitude — Ele é que é o V e r b o salvador1 0 — e, mais ainda, sendo Ele o p r ó p r i o mistério de D e u s1 1, Jesus Cristo é apresentado c o m o Sacramento original (Ursakrament)

do P a i1 2. E p o r q u e aquele único mistério continua a realizar-se e a revelar-se na Igreja, C o r p o e plenitude (TtXyjpw^a) dc Cristo, sua Cabeça, a Igreja é considerada Sacramento fundamental (Grundsakt ament) ou Sacramento radical (Würzelsakrament): estas expressões pretendem relevar a íntima relação dos Sacramentos — e dos ritos — celebrativos da salvação, c o m a Igreja1 3. Assim, a Sacramentologia, inserida n o contexto da Economia da salvação, é indissociável de Cristo e da Igreja.

Os acontecimentos da história da salvação, reveladores d o p r o -jecto, isto é, d o mistério, salvífico de Deus, são e m si mesmos, para

Israel c o m o para a Igreja nascente, Palavra experienciada d o Deus salvador. O mistério torna-se Palavra, e esta, p o r q u e o contém, torna-se mistério. A esta luz, podemos entender o pensamento de Agostinho, quando caracteriza o Sacramento c o m o uerbum uisibile e a Palavra c o m o sacramentam audibile. Palavra e Sacramento são u m a unidade que é preciso refazer1 4. E na Escritura, enquanto Palavra

9 Escreve A . VERGOTE, Interprétation 208: «Mais l'expression authentique n'est ni finalité extrinsèque ni dédoublement narcisique; elle redouble l'intention croyante et réalise la foi qu'elle manifeste. Elle est l'expression opérante: en assumant le signe institué, la foi s'ins-titue c o m m e rapport effectif.»

1 0 C f . H . FRIES, Won 2 1 s .

11 Cf. Col. 2,2s.

1 2 C f . E. SCHILLEBEECKX, Cristo sacramento dei encuentro con Diós (San Sebastian 1966).

1 3 C f . O . SEMMEIROTH, La iglesia como sacramento original (San Sebastian 21966); id.. A igreja como sacramento de salvação, in Mysterium Salutis (P.) I V / 2 (Petropolis 1975) 81-122; K. RAHNER, La iglesia y los sacramentos (Barcelona 1967).

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1 4 BONIFÁCIO BERNARDO

reveladora da acção salvífica de Deus, que havemos de procurar o sentido mais í n t i m o das formas significantes15 daquele mistério de sal-vação, isto é, o sentido mais p r o f u n d o dos ritos e m que tal mistério se expressa, n o t e m p o da N o v a Aliança, que é o t e m p o da Igreja. I m p o r t a redescobrir este mistério de Deus, celebrado nos Sacra-mentos, de m o d o que a formação e a vivência litúrgica dos fiéis sejam mais p r o f u n d a m e n t e bíblicas e, portanto, mais globais, c o m repercussões positivas n o plano da sua existência cristã. Colocamo-- n o s assim na exacta perspectiva d o Concílio Vaticano II. «O sagrado Concílio propõe-se fomentar a vida cristã entre os fiéis hoje»1 6. C o m p l e m e n t a r m e n t e , é à luz da viva e sã tradição da Igreja — — a que o Concílio quis propositadamente ater-se n o c a m p o da r e f o r m a litúrgica1 7 — que a riqueza da fé, celebrada nos Sacramen-tos, ressaltará c o m o n o v o brilho. Neste contexto, importa que nos coloquemos t a m b é m na perspectiva da compreensão que a tradição da Igreja — entrosada na Palavra de Deus e dela nascida — expressa na liturgia, nos transmitiu, designadamente n o que respeita ao baptismo, objecto d o nosso estudo, tal c o m o era celebrado nas c o m u n i -dades cristãs de Cartago e de Milão, na antiguidade. Veículo essencial desta tradição, sem dúvida, são os escritos sobre o baptismo e sobre-t u d o as casobre-tequeses missobre-tagógicas que explicisobre-tamensobre-te a p o n sobre-t a m as suas coordenadas fundamentais.

2. A iniciação crista nos primeiros séculos: do catecume-nado à integração na comunidade eclesial

Foi a p o u c o e p o u c o que a caminhada da formação da fé, que a iniciação cristã desencadeava e alimentava, e a sua celebração se estruturaram. A própria experiência da Igreja n o m u n d o pagão —

an s o w i e die T h e o l o g i e zur Zeit der Kirchenväter bis z u m h o h e n Mittelalter wussten u m die Z u o r d n u n g u n d Einheit v o n W o r t u n d Sakrament.» Se é verdade que «Gottes W o r t hat T a t - und Werkcharakter» {ibid., 20) não p o d e m o s esquecer que «Gottes W e r k e u n d Taten haben Wortcharakter» {ibid., 21).

Historicamente, é o ambiente p o l é m i c o da R e f o r m a e Contra-reforma que, neste âmbito, permite entender melhor as circunstâncias que possibilitaram a destruição daquele b i n ó m i o : cf. ibid., 11-15.

1 5 C f . A . VERGOTE, Interprétation 214.

1 6 «Sacrossanctum C o n c i l i u m , c u m sibi proponat uitam christianam inter fideles in diem augere»: C O N C . E C . V A T . II, SC 1, i n AAS 56 (1964) 97.

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e daquela fazem parte as perseguições q u e este ambiente hostil lhe m o v e u — ajudou a m o l d a r a necessária formação da fé.

Podemos intuir que a iniciação cristã, enquanto instrução e enquanto celebração, é justificada — e fundamentada — pelo procedi-m e n t o adoptado j á pelos Apóstolos, de acordo c o procedi-m o testeprocedi-munho do livro dos Actos18. Já então constatamos que a celebração d o baptismo era precedida pelo anúncio querigmático fundamental e p o r u m a instrução o u catequese, porventura mínima, p o r q u e dirigida sobretudo a judeus crentes. T a m b é m o m a n d a t o missionário d o Senhor, segundo Mt 28,19, relaciona o baptismo c o m a instrução. Certamente havia u m ensino sobre o baptismo «em n o m e de Jesus»19, mas t a m b é m «em n o m e do Pai e d o Filho e d o Espírito Santo»2 0.

Heb 6,1-3 pressupõe igualmente este ensino.

A difusão d o Evangelho n o m u n d o pagão exigia u m a preparação mais demorada e u m a inserção mais progressiva na comunidade cristã. Textos c o m o Act 18,11, 19,10.22, 2 Tim 2,ls e as cartas de Paulo em geral são deveras elucidativos. O testemunho neo-testamentário, nesta matéria, deixa-nos perceber os dois vectores paradigmáticos presentes, dentro dos quais se desenvolverá a iniciação cristã: fé e v i d a2 1. Tratar-se-á sempre de levar o convertido a realizar c o m o meta u m a cada vez mais perfeita unidade entre a fé e a vida. E a esta luz que se estruturá o catecumenado, c o m o período privilegiado de formação da fé e da iniciação na vida cristã2 2. O catecumenado visa despertar e consolidar a fé daqueles que, fosse p o r que razões e caminhos, haviam decidido aproximarse de Cristo e aderir ao seu E v a n -gelho. E pois u m t e m p o de conversão existencial que assenta na formação da fé, b e m c o m o na formação moral exigente, à luz da Escritura. É p o r isso, u m t e m p o de conversão consciente, isto é, de prova, de reflexão, de decisão, de a p r o f u n d a m e n t o e de oração. Esta iniciação na fé e na vida cristã desenvolve-se e m três fases de suma importância:

1 8 C f . 2,14-37; 4,4; 8,26-40; 10,1-48. 19 Act 2,38; 8,16; 10,48; 19,5.

20 Mt 28,19.

2 1 Sobre a origem, passos e ritos iniciais d o catecumenado à luz d o N T e dos primeiros escritos pós-apostólicos, cf. G. KRETSCHMAB, Die Geschichte des Taufgottesdienstes in der alten Kirche (Kasel 1964) 63-83; A . STENZEL, Die Taufe. Eine genetische Erklärung der Taufliturgie (Innsbruck 1958) 16.

2 2 A . STENZEL, Die Taufe 56-59 apresenta algumas razões para a institucionalização d o catecumenado.

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1 6 BONIFÁCIO BERNARDO

1. O catecumenado: t e m p o de preparação para a celebração d o mistério da salvação, n o b a p t i s m o2 3;

2. O baptismo: t e m p o da realização daquele mistério e, p o r isso, o mais sublinhado;

3. A mistagogia: t e m p o da explicação complementar d o mis-tério celebrado.

N a verdade, só depois de preparados, os catecúmenos estão aptos a celebrar a fé e, finalmente, a vivê-la e a testemunhá-la. A pouco e pouco, e durante u m alongado período, é este o caminho n o r m a l da integração dos convertidos na comunidade cristã2 4.

Já e m Tertuliano — u m dos Autores que estudaremos — descorti-namos indícios de u m catecumenado porventura embrionário e m

Á f r i c a2 5, todavia insuficientes para precisarmos a sua duração. C o n -temporaneamente, segundo a descrição da Tradição apostólica de Hipólito, o catecumenado está j á perfeitamente organizado em R o m a2 6. Tertuliano, e m claro contexto baptismal, dirige-se àqueles,

2 3 O C o n c í l i o Vaticano II recomenda que o catecumenado seja restaurado, c o m o m e i o

apropriado de ajuda à caminhada de f é dos que vão ser admitidos ao baptismo. Q u a n t o ao catecumenado e m terras de missão, cf. Aã Gentes 14, in AAS 58 (1966) 962s, o n d e são referidos os três elementos fundamentais: iniciação n o mistério da salvação, na prática da vida cristã e nos ritos sagrados. N o m e s m o sentido, cf. SC 64, i n AAS 56 (1964) 117. E m relação a outras circunstâncias que o aconselham, cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum (Vaticano 1972) e D e c r e t o De ordine initiationis christianae adultorum, i n AAS 6 4 (1964) 252. R e c o m e n d a ç õ e s posteriores, alargando a perspectiva d o catecumenado, são desenvolvidos por PAULO VI,

Euangelii Nuntiandi 44.52, in AAS 68 (1976) 35.40s; e por JOÃO PAULO II, Catechesi Tradendae 43-45, i n AAS 71 (1979) 1312-1314.

Sobre a restauração d o catecumenado hoje, após o Concílio, cf. S. MOVILLA, Del cate-cumenado a la comunidad. Clarificaciones teologico-pastorales (Madrid 1982) 99-136.

2 4 G. KRETSCHMAR, Die Geschichte 81, escreve que «der Katechumenat war der normale W e g , auf d e m seit d e m letzten Drittel des z w e i t e n Jahrhunderts erkennbar H e i d e n und gewiss auch Juden auf die Taufe vorbereitet wurden.»

A maioria dos Autores concorda e m assinalar três períodos marcantes na e v o l u ç ã o d o catecumenado:

1. Segunda metade d o séc. II: primeira configuração e organização; 2. Séc. III e início d o séc. IV: apogeu;

3. Sécs. IV-VI: decadência progressiva.

A propósito, cf. S. MOVILLA, Del catecumenado 56. Q u a n t o ao Ocidente, cf. ibid., 57-60.

2 5 Cf. Bapt. 1,1 = C C L 1,277; 18,4-6 = C C L 1,293.

A propósito d o catecumenado c o m o instituição cristã, escreve G. KRETSCHMAR, Die Geschichte 66: «Die Charakterisierung des Katechumenats als eines Christenstandes vor der Taufe trifft nicht nur auf die spätere Zeit zu, e t w a das vierte Jahrhundert, [ . . . ] sondern schon f ü r H y p p o l i t u n d Tertullian.» C f . de PUNIET, Cathécumenat, in DACL 2 / 2 2586-2589 (cate-c u m e n a d o e m Áfri(cate-ca, antes d o sé(cate-c. IV).

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que, acolhidos n o g r u p o dos ouvintes (auditores) fazem u m a espécie de n o v i c i a d o2 7. São os catecúmenos2 8. C h a m a d o s p o r Deus e m Cristo, os pagãos que se a p r o x i m a m da f é2 9, devem, c o m o os j á baptizados, fazer penitência3 0 — e não presumir d o seu b a p t i s m o3 1 — u m a vez que começaram a regar os seus ouvidos c o m a divina Palavra3 2. Estes são t a m b é m chamados noviços (nouitioli)33: a ins-trução ministrada — a pregação deve preceder o baptismo 3 4 — visa provocar sobretudo a adopção de u m n o v o estilo de vida, isenta de pecado3 5. A fé que a Palavra de Deus desperta e alimenta, p o r u m lado, e a vida sem pecado que a mesma Palavra ilumina, p o r outro, balizam assim a preparação para o baptismo, e m Cartago. A instrução através da pregação da Palavra, a oração e a penitência, designada-mente o j e j u m , são marcos relevantes daquela p r e p a r a ç ã o3 6. T e r t u -liano não alude à mistagogia consequente ao baptismo, a n ã o ser que aceitemos que a sua obra sobre a o r a ç ã o3 7, dirigida aos baptizados

— heneâicti lhes chama o A u t o r3 8— a p o n t a neste sentido. E m Ambrósio — o o u t r o A u t o r sobre cujas catequeses mista-gógicas nos debruçaremos particularmente — o catecumenado reve-la-se então amadurecido e estruturado. Outras obras suas o confir-m a confir-m c o confir-m clareza. D e facto, o bispo de Milão reflecte os vários estádios da caminhada que era a iniciação cristã daqueles q u e u m dia pensaram integrar-se na Igreja3 9, meta desta caminhada e espaço essencial e único em que a experiência comunitária da fé e da salvação cresce.

2 7 C f . Punit. 6 , 1 4 = C C L 1 , 3 3 1 .

2 8 C f . Cor. 2 , 1 = C C L 2 , 1 0 4 1 ; Praescrit. 4 1 , 2 . 4 = C C L 1,221. T a m b é m o h e r é t i c o M a r c i ã o tinha o s seus c a t e c ú m e n o s : cf. Marc. V 7 , 6 = C C L 1,683.

2 9 C f . Idol. 2 4 , 3 = C C L 2 , 1 1 2 4 ; n o t a 4 3 . 3 0 C f . Paenit. 6 , 1 = C C L 1 , 3 2 9 ; Bapt. 2 0 = C C L l , 2 9 4 s . 3» C f . Paenit. 6 , 3 = C C L 1,329. 3 2 C f . Paenit. 6,1 = C C L 1,329. 3 3 C f . Paenit. 6,1 = C C L 1,329. O u t r o s n o m e s , cf. n o t a 43. 3 4 C f . Bapt. 1 4 , 2 = C C L 1 , 2 8 9 . 3 5 C f . Paenit. 6 , 1 7 = C C L 1,331. 3 6 C f . Bapt. 2 0 , 1 = C C L 1,294. 3 7 C f . Orat. = C C L 1 , 2 5 7 - 2 7 4 .

3 8 C f . Orat. 1,4 = C C L 1,257; p . 8 4 , notas 3 2 0 e 3 2 1 ; pp. 192s., notas 5 0 2 , 5 0 7 e 5 0 8 . 3 9 C f . M . PERESSON, La iniciación Cristiana en el pensamiento de Sait Ambrosio de Mildn

(Paris 1969) 3s. E s t u d o mais p o r m e n o r i z a d o , ibid., 1 3 - 4 0 . 6 4 - 1 4 6 ; D . G . MICHLELIS, L'initiation chrétienne selon saint Ambroise, i n QLP34 (1953) 1 0 9 - 1 1 4 . 1 6 4 - 1 6 9 ; E . J . YARNOLD, The Cérémonies of Initiation in the De Sacramentis and De Mysteriis of saint Ambrose, i n Studia Patrística X (Berlin 1970) 4 5 3 - 4 6 3 ; M . RIGHETTI, Mannuale di Storia Litúrgica IV. I Sacramenti. I Sacramentali ( M i l a n o

21 9 5 9 ) 2 1 - 1 4 6 ; d e PUNIET, Cathécumenat, i n DACL 2 / 2 , 2 6 0 2 - 2 6 0 9 ; P . M . GY, La notion

d'ini-tiation chrétienne, in MD 132 (1977) 3 4 - 4 3 ; R . F. RÉFOULÉ [éd.], Traité du Baptême (Paris 1952)

2 9 - 3 6 . 2

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1 8 B O N I F Á C I O B E R N A R D O

São quatro as etapas fundamentais da iniciação cristã:

1. Aos h o m e n s e mulheres que, desconhecendo proventura o q u e era a fé e m Cristo e as exigências da vida cristã, tinham o pri-meiro contacto c o m a Igreja, é geralmente dado o n o m e de accedentes. Já Tertuliano assim os designa4 0. U m breve mas exigente esclareci-m e n t o iesclareci-mediato tinha então lugar. Antes d e sereesclareci-m aceites, aqueles q u e acolhem os candidatos p r o c u r a m conhecer a sua vida, b e m c o m o as suas disposições interiores e a sinceridade das suas motivações, e m diálogo f r a n c o4 1. A sua vida era submetida desde logo a exame rigoroso e alguns deviam renunciar imediatamente a profissões incompatíveis c o m a fé, se queriam, de facto, ser admitidos n o c a t e c u m e n a d o4 2.

2. U m a vez aceites p o d e r ã o integrar-se n o g r u p o dos cate-cúmenos: os accedentes são então auditores ou audientes43. Segue-se u m l o n g o período de instrução moral e doutrinal, à luz da Escritura, a qual incide, de f o r m a mais ou menos sistematizada, sobre textos e temas relevantes d o Antigo e d o N o v o Testamentos4 4. Desde logo, os auditores c o m e ç a m a participar t a m b é m na Liturgia da Palavra. O catecumenado é visivelmente marcado pela experiência comuni-tária da P a l a v r a4 5.

3. N o t e r m o desta formação e vivência da fé, os auditores d a v a m o n o m e para o baptismo, a celebrar na imediata Vigília Pas-c a l4 6. Geralmente, esta inscrição tinha lugar n o primeiro d o m i n g o

4 0 C f . n o t a 2 9 .

4 1 C f . HIPÓLITO, Tradit. apost. 15s = L Q F 39, 3 2 - 3 9 . AGOSTINHO, Cat. rud. 5 , 9 = C C L 46,129s; TEODORO d e M o p s u é s t i a , HORN. 1 2 , 1 . 1 4 -~= S T 145,321. 323.343. E s t u d o d e M . PERESSON

La inkiación 1 3 - 1 6 .

4 2 C f . Tradit. apost. 16 = L Q F 3 9 , 3 4 - 3 9 ; n o t a 4 1 . Já e m TERTULIANO aparecem alguns i n d í c i o s deste p r o c e d i m e n t o : cf. Iãol. 9 , 1 = C C L 2 , 1 1 0 9 ; 1 1 , 6 - 8 = C C L 2,1111; 19,1 = C C L 2 , 1 1 2 0 .

D e s t a a d m i s s ã o rigorosa passar-se-à À i n c o r p o r a ç ã o massiva na Igreja: cf. S. MOVILLA, Del catecumenado 9 0 - 9 2 .

4 3 A l é m destas d e s i g n a ç õ e s (cf. Paenit. 6 , 1 4 . 1 5 . 1 7 = C C L 1,331), TERTULIANO c h a m a - o s t a m b é m Catecúmenos (cf. Praescrit. 4 1 , 2 - 4 = C C L 1,221; Cor. 2 = C C L 2,1041; Mare. V 7 , 6 = C C L 1,683) e Noviços (cf. Paenit. 6,1 = C C L 1,329). D i s t i n t o s d o s Accedentes são os Ingre-dientes in fidem (cf. Iãol. 2 4 , 3 = C C L 2 , 1 1 2 4 ) .

4 4 E m R o m a , s e g u n d o o t e s t e m u n h o d e HIPÓLITO, Tradit. apost. 17 = L Q F 39, 38, durava três anos, p e r í o d o q u e p o d e r i a ser abreviado.

4 5 C f . S. MOVILLA, Del catecumenado 9 3 - 9 5 ; M . PERESSON, La inkiación 9 3 - 1 2 9 .

4 6 Q u a n t o a AMBROSIO, c f . Sacr. 3 , 1 2 = S C h 25bis 98; In Lc. 4 , 7 6 = C C L 14,134; Abr. 1 4 , 2 3 = C S E L 3 2 / 2 , 5 1 8 ; Hei. 2 1 , 7 9 = C S E L 3 2 / 2 , 4 6 0 ; P. LEJAY, Ambrosien (rit) i n D ACI. 1 / 1 , 1 4 2 7 - 1 4 2 9 ; q u a n t o a Tertuliano, cf. p . 4 5 , n o t a 2 9 .

O u t r o s t e s t e m u n h o s e m CIRILO d e Jerusalém, ü p o x a T . 1 = P G 3 3 , 333a; TEODORO, Hom. 12, introd. 3 1 - 1 4 = S T 1 4 5 , 3 2 1 - 3 2 3 . 3 3 9 - 3 4 5 .

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da Q u a r e s m a4 7. Os considerados dignos de serem admitidos ao baptismo — os competentes48 o u electi49 — iniciam então a sua p r e -paração próxima, mais caracteristicamente baptismal: a instrução, ministrada pelo bispo todos os dias da Quaresma, a partir da Escri-t u r a5 0; a explicação dos conteúdos essenciais da fé, sobretudo c o n -signados n o Símbolo ou C r e d o5 1 — é a chamada traditio 52 d o Sím-bolo, que todos aprendiam de c o r5 3; a iniciação na vida de oração, sobretudo através da explicação d o Pai Nosso, t a m b é m aprendido de c o r5 4, porventura sumária, dado que, após o baptismo, era certa-mente desenvolvida5 5; a vida de penitência, a ruptura c o m os costumes pagãos e a consequente adopção d o estilo de vida coerente c o m a f é5 6; e, no aspecto ritual, os escrutínios5 7 de índole exorcístic?5 8, p r e n u n -ciadores d o combate e da vitória finais dos competentes, abertos a Deus, sobre o d e m ó n i o que ainda os escraviza. E n o t e r m o desta

4 7 Já na Epifania, apelava AMBRÓSIO a o s Auditores, para q u e se inscrevessem: cf. In Lc.

4 , 7 6 = C C L 1 4 , 1 3 4 ; M . PBRESSON, La inídación 7 7 - 7 9 .

4 8 A s s i m os designa AMBRÓSIO, d i s t i n g u i n d o - o s d o s Catecúmeuos : cf. Ep. 7 6 , 4 — C S E L 8 2 / 3 , 1 0 9 s ; c f . n o t a 4 9 .

4 9 C f . Hei. 1 0 , 3 4 = C S E L 3 2 / 2 , 4 3 0 ; In ps. 118 1 8 , 2 6 = C S E L 6 2 , 4 1 0 . O s Competentes

o u Electi d i s t i n g u e m - s e d o s que, g e n e r i c a m e n t e , s ã o c h a m a d o s Catecúmenos: cf. Expl. symb. 9 = S C h 25bis 58; cf. n o t a 4 8 .

O s Electi d o O c i d e n t e c o r r e s p o n d e m aos çwTiÇófxevoi,, n o O r i e n t e .

5 0 A estes se refere AMBRÓSIO e m Abr. 1 7 , 5 9 = C S E L 3 2 / 1 , 5 4 0 , q u a n d o escreve: « A p r e n dei, pois, v ó s q u e v o s a p r o x i m a i s da graça d o baptismo» («Discite e n i m q u i ad g r a t i a m b a p t i s -matis tenditis»). C f . ainda n o m e s m o l i v r o I 4 , 2 5 = C S E L 3 2 / 1 , 5 1 9 ; I 9 , 8 9 = C S E L 3 2 / 1 , 5 6 0 . T e s t e m u n h o s desta catequese a o s Competentes, i n c i d i n d o s o b r e os Patriarcas e sentenças d o s Provérbios (cf. Myst. 1 = S C h 25bis 156) são r e c o l h i d o s e m vários l i v r o s d o C S E L 3 2 .

5 1 C f . Expl. symb. = S C h 25bis 4 6 5 8 .

-5 2 C f . Expl. symb. 1 = , S C h 2 5 b i s 4 6 ; Ep. 7 6 , 4 = C S E L 8 2 / 3 , 1 0 9 s : a partir deste trecho, escreve B . BOTTE [éd.] Des sacrements. Des mystères. Explication du symbole — S C h 25bis (Paris 21 9 6 1 ) 25: «Cette traditio avait l i e u u n d i m a n c h e , et ce n e p e u t être q u e l e d i m a n c h e

avant Pâques».

5 3 A s s i m o pressupõe Expl. symb. 3 . 9 = S C h 2 5 b i s 4 8 . 5 6 .

5 4 Q u a n t o a TERTULIANO, c f . Orai. 2 , 1 = C C L 1,258; e m relação a AMBRÓSIO, cf. Sacr.

5 , 1 8 = S C h 25bis 128; Hel. 2 1 , 8 0 = C S E L 3 2 / 2 , 4 6 1 . T a m b é m CROMÁCIO, Sermo 4 0 = C C L 9 A 1 7 1 - 1 7 3 explica o Pai nosso aos Competentes; Tract. 2 8 (in Mt. 6 , 9 - 1 5 ) = C C L 9 A 3 2 9 - 3 3 5 .

O s mistérios c o n t i d o s q u e r n o Pai Nosso, quer n o Símbolo, n ã o d e v i a m ser d i v u l g a d o s : cf. Cain I 9 , 3 5 - 3 7 = C S E L 3 2 / l , 3 6 9 s .

5 5 TERTULIANO e x p l i c a - o aos benedicti, isto é, aos baptizados, n o seu l i v r o sobre a o r a ç ã o (cf. nota 37), de f o r m a a l o n g a d a . Q u a n t o a AMBRÓSIO, cf. Sacr. 5 , 1 8 - 3 0 = S C h 25ibs 1 2 8 - 1 3 6 .

5 6 Q u a n t o a TERTULIANO, c f . Bapt. 2 0 = C C L L,294s; Paenit. 2 , 5 s = C C L L,322s; notas 3 0 e 35. A respeito d e AMBRÓSIO, cf. Myst. 1 = S C h 25bis 156; Hei. 7 , 2 1 *= C S E L 3 2 / 2 , 4 2 3 ; Abr. I 4 , 2 3 = C S E L 3 2 / 2 , 5 1 8 . Aliás, a m b o s e s c r e v e r a m u m a obra sobre h penitência, a p r o p ó s i t o : e d i ç õ e s críticas q u e u t i l i z a m o s e m C C L 1 , 3 2 1 - 3 4 0 e S C h 1 7 9 = C S E L 73, respecti-v a m e n t e .

5 7 C f . A . DONDEYNE, La discipline des scrutins dans l'église latine avant Charlemagne, i n RHE 2 8 (1932) 5 - 3 3 . 7 5 1 - 7 8 7 : q u a n t o a AMBRÓSIO, p p . 2 6 - 3 0 ; M . PBRESSON, La iniciaciin 1 3 3 - 1 4 6 .

58 É claro o t e s t e m u n h o d e AMBRÓSIO e m Expl. symb. 1 = S C h 25bis 4 6 . TERTULIANO refere o s e x o r c i s m o s f e i t o s p o r mulheres, seguidoras da heresia: cf. Praescrit. 4 1 , 5 = C C L 1,221.

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2 0 BONIFÁCIO BERNARDO

instrução e vivência q u e os electi são baptizados na solene Liturgia da Vigília Pascal.

4. U m a vez baptizados, o bispo completa então a maternidade espiritual da Igreja, através da mistagogia, isto é, através da instrução dos neófitos sobre o significado í n t i m o dos mistérios — melhor dizendo, d o mistério — celebrados naquela noite. E o t e m p o da cate-quese sacramental, reservada aos neófitos. N a verdade, na semana posterior ao D o m i n g o da ressurreição d o Senhor, o bispo explica--lhes o sentido dos Sacramentos, isto é, dos mistérios, expressão visível e real da fé: o n o v o nascimento, operado p o r Deus, e simbolizado na imersão e emersão das águas baptismais; o d o m d o Espírito Santo, expressão da filiação divina d o neófito, feito participante da vida de Cristo ressuscitado; a Eucaristia, alimento da vida nova, pois nela o neófito, inserido na c o m u n i d a d e eclesial, recebe o C o r p o e o Sangue d o Senhor. E este o conteúdo essencial da fé que as catequeses mistagó-gicas veiculam, ao debruçarem-se sobre três áreas fundamentais comuns: o simbolismo dos ritos que integram a celebração; a tipo-logia bíblica do baptismo cristão; e, finalmente, o compromisso exis-tencial da vida e m Cristo ressuscitado, na comunidade e n o m u n d o , c o m o consequência natural e culminante da caminhada que foi o catecumenado.

3. Tipologia bíblica do baptismo

O baptismo, na sua expressão fenomenológica, aparece c o m o u m t o d o b e m ordenado de ritos interligados. Estes ritos, carregados de u m simbolismo específico — q u e os gestos, palavras e elementos materiais (água e óleo, sobretudo) que os enriquecem, traduzem — revestem p o r isso u m a dimensão antropológica fundamental. Acresce que, perspectivados à luz da fé que os m o t i v o u e envolve, aqueles ritos não e x p r i m e m só u m simbolismo natural e imediato. A luz da fé assume, eleva e transfigura este simbolismo, p o r q u e os ritos se t o r n a m memorial d o mistério da salvação. D e facto, o baptismo é acção litúrgica, celebrativa deste mistério, progressivamente dado a conhecer aos catecúmenos durante a iniciação cristã. Assim, é na Escritura, f u n d a m e n t o da fé, que os ritos baptismais encontram a sua razão de ser e o seu sentido mais p r o f u n d o , explicados aos neófitos através das catequeses mistagógicas.

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U m a vertente decisiva da mistagogia pós-baptismal incide na rica exploração da tipologia bíblica d o baptismo, expressão parti-cular da simbólica baptismal. Trata-se de u m a metodologia q u e enraíza p r o f u n d a m e n t e na Economia da salvação, revelada na Escri-t u r a5 9.

Já os Profetas, relendo e reflectindo sobre acontecimentos salvíficos passados, anunciam q u e Deus, naqueles dias, isto é, n o f u t u r o , realizará maravilhas ainda maiores. Assim, vislumbram u m n o v o êxodo; proclamam a necessidade de u m n o v o dilúvio; anunciam o estabelecimento de u m n o v o paraíso, de u m a nova terra. Trans-parecem aqui não só o reconhecimento da relativa imperfeição —> apesar de apresentados e vividos c o m o prodígios maravilhosos de Deus — daqueles acontecimentos salvíficos, mas t a m b é m a convicção da fé que leva os Profetas a afirmar a contante e invencível acção de Deus que não desiste de realizar o seu Projecto da salvação, através de acontecimentos ainda mais deslumbrantes, à semelhança dos que j á realizou n o passado. H á pois u m a correspondência entre o passado

e o f u t u r o da salvação: é esse o c a m p o da tipologia.

Acontecerá u m n o v o êxodo: expressivo é o anúncio profético de Is 43,16-21. À semelhança dos seus gestos admiráveis n o Egipto, Deus resgatará de n o v o o seu povo, p o r q u e permanece o seu R e d e n t o r , único e p o d e r o s o6 0. Será Deus que abrirá n o v o caminho através d o deserto6 1 e, c o m o outrora, libertará e guiará o seu p o v o6 2. C o m o no passado o M a r Vermelho, t a m b é m n o f u t u r o outros mares e rios serão divididos e secos, para que Israel regresse à sua t e r r a6 3. Deus celebrará c o m o p o v o escolhido u m a nova Aliança, mais perfeita que a do Sinai, p o r q u e impressa n o coração 6 4. Será u m a Aliança eterna 6 5. Deus voltará a alimentar o seu p o v o , ao qual se j u n t a r ã o todos os p o v o s6 6. C o m o outrora e m Meriba, t a m b é m n o f u t u r o Deus fará brotar água dos rochedos n o d e s e r t o6 7. Será n o deserto que Deus, repetindo os seus gestos de amor, reconquistará o coração rebelde

5 9 Cf. J. DANIÉLOU, Bible et Liturgie. La théologie biblique des Sacrements et des Fêtes d'après les Pires de l'église = L O 11 (Paris 21958) 8-26; cf. nota 93.

6 0 C f . Is 63,16; 44,6; 50,2.

6 1 C f . Is 40,3; 43,19; 49,11; Mal 3,1.

« C f . Is 52,12, que aponta Ex 12,39 e 14,19; Jer 23,7s; Ez 21,33-36; Is 49,10.

6 3 Cf. Is 11,15; 43,16; 51,10s; 50,2; Zac 10,10s.

64 Ci. Jer 31,31-34, que remete para Ex 19,1-20,17; Ez 16,59-63; Os 2,20.

6 5 C f . Is 55,3; 61,8; Ez 16,60; 37,26; e ainda nota c) de TOB 799. " C f . Is 25,6.

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2 2 BONIFÁCIO BERNARDO

de sua Esposa, isto é, d o seu p o v o i n f i e l6 8. E assim o libertará e salvará, à semelhança d o que fez n o Egipto.

E necessário que aconteça u m n o v o julgamento, c o m o u m n o v o dilúvio: Deus julgará os homens e eliminará, c o m o na origem, os que praticam o mal, e garantirá a sobrevivência dos justos. Quebrada a Aliança eterna, sobrevirá o j u l g a m e n t o de Deus, c o m o n o v o dilúvio 6 9. D e n o v o se abrirão as cataratas d o céu e a terra será a b a l a d a7 0. As águas torrenciais causarão a m o r t e aos que escarnecem da Palavra do Senhor 7 1.

U m n o v o paraíso será implantado p o r Deus nos tempos messiânicos. Naqueles dias — expressão frequente n o contexto destas p r o -messas — crescerá de n o v o u m a plantação viçosa e célebre que será u m a bênção para Israel7 2. A terra produzirá de n o v o c o m abun-d â n c i a7 3. O h o m e m viverá e m paz c o m o seu semelhante7 4; voltará a viver e m paz m e s m o c o m os animais — e a dominá-los — e estes cohabitarão pacificamente entre s i7 5. Estes benefícios acumular-se-ão nos dias d o Messias, pois Ele m e s m o será a paz 7 6.

A interpretação tipológica de factos passados, sobretudo reflectida pelos Profetas, manifesta que os acontecimentos bíblicos são u m a prefiguração das maiores maravilhas que Deus realizará n o fim dos t e m p o s7 7. O que Ele j á o p e r o u e m favor de Israel é o testemunho anunciador d o que projecta realizar e m plenitude e m favor da h u m a -nidade. E a tal p o n t o esta convicção de fé, enraizada na história, é marcante, que Israel celebrará liturgicamente, e m cada t e m p o e lugar, tais acontecimentos salvíficos7 8. O s gestos maravilhosos de Deus são c o m o que actualizados na liturgia festiva, e q u e m deles faz m e m ó -ria (àvá[A\iTja(.ç) beneficia sempre dos seus efeitos. Neste contexto, Israel celebra a criação, guardando o sábado, c o m o aliança perpétua 7 9; celebra a libertação d o Egipto na solene festa litúrgica da Páscoa8 0;

6 8 C f . Os 2,16s.

6 9 C f . Is 11,6-8; e nota k) de SB 1011.

7 0 C f . Is 24,1.18, paralelo a Gén 7,11.

7 1 C f . Is 28,14-18, que aponta para Gén 7,17-23.

7 2 C f . Ez 34,28; e nota a) de TOB 1064.

7 3 Cf. Ez 34,26; 47,7-12; Am 9,13. 7 4 C f . Is 2,4; Ez 34,28; Míq 5,9s. 7 5 C f . Is 11,6-8; Ez 34,28.

7 6 C f . Miq 5,4; e nota h) de TOB 1173.

7 7 C f . P . G H E I O T , Les figures bibliques, i n NRTh 8 4 ( 1 9 6 2 ) 6 7 8 - 6 8 2 .

7 8 C f . ibiâ., 680-682.

7 9 C f . Ex 20,11 e 31,12-18 que apontam para Gén 2,2s. Aliás, o sábado celebra

tam-b é m a litam-bertação d o Egipto: cf. Ex 23,12; Dt 5,12-15.

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celebra a Aliança do Sinai na solenidade d o pentecostes8 1; recorda a travessia e a estadia n o deserto na festividade das T e n d a s8 2. Deste modo, a liturgia judaica, centrada n o ê x o d o d o Egipto, leva os parti-cipantes nela a celebrar o passado e a aguardar, e m esperança anteci-pada, o sa^KTov, isto é, as novas maravilhas de Deus em favor d o seu povo, nos tempos messiânicos. Assim, basicamente, a tipologia no A T é marcadamente escatológica.

Chegado o t e m p o da plenitude c o m a vinda de Jesus — reconhe-cido c o m o o Messias de Deus que v e m realizar as suas promessas — toda a Economia da salvação, revelada n o passado, é relida à luz de Jesus Cristo. D e facto, Ele é aquele q u e estava para vir, o n o v o A d ã o8 3, o n o v o Moisés8 4. O A T foi u m p e d a g o g o8 5 através de anúncios, profecias, imagens e alegorias e, sobretudo, através de pessoas, instituições e acontecimentos salvíficos; foi m e s m o u m a prefiguração do mistério global de Jesus Cristo. Ele é, de facto, o Messias ansiosa-mente esperado e p r o m e t i d o n o passado 8 6. O significado das m a r a -vilhas de Deus revela-se mais claramente à luz de Jesus Cristo. N ' E l e aparece o sentido í n t i m o das prefigurações d o A T , isto é, daqueles acontecimentos, instituições e pessoas8 7 que, n o contexto da E c o n o -mia da salvação, apontavam para o sayjrrov, agora a acontecer em Cristo Jesus8 S. A prefiguração constitui, pois, u m a etapa da reali-zação do único Projecto salvífico de Deus. Jesus Cristo aparece integrado n u m a outra fase desse Projecto — a da plenitude. E, neste contexto, a interpretação tipológica, t a m b é m presente nos escritos do N T . reveste, inicialmente, u m colorido nitidamente cristológico. Mas não só. Há acontecimentos salvíficos d o A T , cuja interpre-tação tipológica n o N T é caracterizada pela dimensão sacramental.

81 Cf. Lv 23,10-22. Esta solenidade é t a m b é m chamada Festa das Colheitas (cf. Ex 23,16) ou Festa das Semanas (cf. Ex 34,22).

8 2 C f . Lv 2 3 , 3 4 - 4 3 .

8 3 Cf. Rom 5,14; 1 Cor 15,21s.47-49.

8 4 C f . Mt 5,1-12; Jo 6,32: a propósito, D . MOLLAT, Études Johanniques — Parole de D i e u (Paris 1979) 17-21.97-100.

8 5 C f . Gâl 3,24.

8 6 Escreve D . MICHAÉLIDÈS, Sacramentum chez Tertullien (Paris 1970) 197: «Passé tourné vers l'avenir. Disposition divine o u é k o n o m i e d u salut qui définit les rapports d e l ' A T a v e c le N o u v e a u . L ' u n est o r d o n n é à l'autre c o m m e la promesse à la réalization. Le salut d é v o i l e c o m m e une histoire vécue, gonflée d'espérances et d'attentes dès sa naissance, tissée d ' é v e n e -ments de toutes sortes chargés de signification s y m b o l i q u e , se succédant les uns a u x autres pour cheminer progressivement dans le Fils de D i e u fait chair. Faite d'attentes et d'accomplisse-ments, cette histoire est une, réfletant dans s o n unité celle de D i e u créateur et sauveur.»

8 7 Cf. v a n der GEEST, Le Christ et l'ancien Testament chez Tertullien ( N i j m e g e n 1972)

1 5 4 - 1 5 7 .

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2 4 BONIFÁCIO BERNARDO

D e facto, j á Paulo interpreta assim, sem explicações pormenorizadas embora, aspectos das maravilhas de Deus, p o r ocasião do êxodo do Egipto: a travessia d o M a r Vermelho, a n u v e m que acompanha o povo, o maná e o rochedo de que brota água abundante para desse-dentar os p e r e g r i n o s8 9. O Apóstolo ensina que o que então acon-teceu encerra u m significado tipológico, pois sucedeu c o m o prefigura-ção (TU7UXMÇ) da realidade que a comunidade crente e m Jesus agora experiencia. A menção explícita da travessia do M a r e da n u v e m aponta, na perspectiva paulina, para a realidade do b a p t i s m o9 0, enquanto a referência ao maná e ao rochedo r e m e t e m para a Eucaristia. Q u a n t o ao maná é ainda mais elucidativo o quarto E v a n g e l h o9 1, cujo simbolismo t e m t a m b é m presente, c o m o pano de f u n d o , o bap-tismo celebrado na c o m u n i d a d e9 2, c o m o o indica o relevo dado à água viva 9 3, à água das piscinas de Siloé 94 e de Betsaida9 5, e ainda à luz 9 6.

Particularmente expressiva é a interpretação tipológica do dilúvio nas Cartas petrinas. As águas d o dilúvio, através das quais Deus j u l g o u a humanidade, salvando o j u s t o N o é e sua família, e destruindo

o pecador, são u m a figura das águas do baptismo, o seu antitipo, pelas quais se o b t é m agora a salvação, pela ressurreição de Jesus C r i s t o9 7. Deus c o m o que suspendeu o seu j u l g a m e n t o escatológico, concedendo aos homens oportunidade para se arrependerem: é neste t e m p o q u e se enquadra a missão da Igreja e a função do b a p t i s m o9 8. Israel, celebrando o passado, experimentava, de facto, a salvação de Deus, mas aguardava e m esperança o scr/aTov dos tempos messiânicos; a Igreja, n o v o p o v o de Deus, celebra o passado centrado em Jesus Cristo, consciente de que participa realmente na plenitude da salvação q u e Ele m e s m o j á realizou e m benefício de todos os homens.

Se n o seu conjunto o A T é u m a figura d o N T9 9, alguns

aconteci-6 9 C f . 1 Cor 1 0 , 1 - 4 .

5 0 N o t e - s e o paralelismo entre o inciso «baptizados e m Moisés, na n ú v e m e n o mar» (1 Cor 10,2) e a característica expressão paulina «baptizados e m Cristo» (Rom 6,3; Gál 3,27). C f . p . 285, notas 2 7 8 , 2 7 9 .

9 1 C f . J o 6, s o b r e t u d o versículos 4 9 - 5 8 .

9 2 C f . O . CULIMANN, Les sacrements dans l'Evangile johannique (Paris 1951).

9 3 C f . Jo 4,10.14; 7 , 3 7 - 3 9 ; 19,31-34; t a m b é m Ap 21,6; 22,17. 9 4 C f . Jo 9 , 1 - 4 1 .

9 5 C f . Jo 5 , 2 - 1 4 .

9 6 C f . Jo 1,4.9; 8,12.

9 7 C f . 1 Pe 3 , 1 8 - 2 2 . Análise p o r m e n o r i z a d a e m J. DANIÉLOU, Sacramentum futuri. Études sur les origines de la typologie biblique (Paris 1950) 6 2 - 6 8 .

9 8 C f . Uni., 63.

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mentos salvíficos da Antiga Aliança, já segundo os Autores neotestamentários, prefiguram, portanto, outros acontecimentos t a m -b é m salvíficos, para o t e m p o da plenitude, os quais realizam, na verdade, o que, na sombra, através daqueles fora anunciado. O t e m p o da plenitude, isto é, o t e m p o escatológico, foi iniciado e m Cristo e prolonga-se na Igreja até à consumação final. Assim, à tipologia cristológica associar-se-ão a tipologia sacramentológica e, de imediato, a tipologia eclesiológica. São tais convicções profundas que, diri-gindo a reflexão teológica neo-testamentária, orientarão t a m b é m os Padres da Igreja, ao explicarem o significado salvífico dos Sacra-mentos, recorrendo ao sentido tipológico das maravilhas de Deus, realizadas n o passado.

São dois os contextos imediatos que, e m o r d e m ao ensino da fé autêntica, p e r m i t e m desenvolver o estudo da tipologia, na perspectiva dos Padres da Igreja: a controvérsia c o m os judeus, c o m os gnósticos e c o m os maniqueus, p o r u m lado; e as catequeses mistagógicas, dirigidas aos neófitos, p o r o u t r o1 0 0. D e facto, a liturgia cristã incor-porará, naturalmente, a evocação das maravilhas de Deus n o passado, dado o seu p r o f u n d o conteúdo tipológico, já realizado plenamente e m Cristo. P o r isso, os Sacramentos serão considerados, n o contexto da Economia da salvação, c o m o as novas maravilhas de D e u s1 0 1. N a sequência do N T e nele fundamentados, os Padres da Igreja apro-fundarão o significado tipológico dos acontecimentos salvíficos, interpretando-os à luz de Jesus Cristo. P o r isso, compreendemos p o r que razão evocam os Padres os mesmos acontecimentos salvíficos fundamentais n o seu conteúdo tipológico, evidenciando tratar-se de património c o m u m da Igreja.

A tipologia patrística radica indiscutivelmente na Palavra reve-lada:

1. R e m o t a m e n t e , é u m a herança — sem dúvida n u m a perspec-tiva peculiar, ajustada à respecperspec-tiva fase da Economia da salvação — que principiou a acumular-se j á n o A T , sobretudo através dos Profetas, e foi ainda mais enriquecida, n u m a perspectiva claramente mais profunda, nos tempos do N T , à luz de Jesus Cristo;

1 0 0 Cf. J. DANIÉLOU, Sacramentam X - X V I : o Autor elenca escritos fundamentais dc

Padres da Igreja a este respeito.

1 0 1 Q u a n t o à teologia bíblica dos Sacramentos, m o r m e n t e d o baptismo, nos Padres

da Igreja, cf. excelente resumo e m J. DANIÉLOU, L'entrée dam l'histoire du salut. Baptême et Confirmation (Paris 1967) 5-11.

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2 6 BONIFÁCIO BERNARDO

2. Imediatamente, continuou a crescer, n u m a primeira etapa, por força da luta necessária dos crentes e m Jesus Cristo c o m o Judaísmo e as heresias gnósticas e maniqueias -— é o período das controvérsias — e, n u m segundo m o m e n t o , consolida-se e frutifica ainda mais c amadurece, através das catequeses mistagógicas.

4. A nossa escolha

E justamente n o contexto imediato referido que se enquadra o nosso estudo. Debruçar-nos-emos sobre a teologia do baptismo, à luz do simbolismo e da tipologia explorados por Tertuliano e Ambrósio: deste, p o r q u e inserido no período áureo da catequese mistagógica, isto é, na parte final do estudo da tipologia, que coincide c o m a fase mais esplendorosa do catecumenado; daquele, porque vulto cimeiro e perspicaz, n u m período das controvérsias em que a defesa da fé c a sua explicitação, n u m m u n d o que lhe era adverso, se afirma-r a m c o m o u m impeafirma-rativo espontâneo.

Acresce que o estudo directo dos Padres da Igreja, cada vez mais abundante e aprofundado, t e m despertado u m interesse crescente nos meios académicos. E, n o âmbito da tipologia e do simbolismo do baptismo cabem méritos justificados a Tertuliano e a A m b r ó s i o1 0 2: a este, p o r nele ter sido atingido o maior desenvolvimento, expoente mais alto e p o n t o de encontro de Padres anteriores; àquele p o r ter sido o primeiro a escrever, e m f o r m a de tratado sistematizado, sobre este sacramento; estudamos Tertuliano e Ambrósio p o r se tratar de dois vultos que, cada qual a seu m o d o , m o l d a r a m a Igreja ocidental, da qual somos herdeiros e continuadores, em dois centros marcantes: Cartago e Milão. A Ambrósio devemos o testemunho único da tra-dição ocidental sobre os Sacramentos da iniciação cristã, consignado sob a f o r m a de catequeses mistagógicas, propositada e ordenadamente elaboradas, a partir das quais é possível reconstituir, de f o r m a coerente, aquela tradição: os ritos, o simbolismo, a tipologia, e nestes, a teologia. As raízes desta teologia, na tradição ocidental, são j á sistematizadas e m Tertuliano. Desconhecer o prestigiado catequeta de Milão ou o inflamado polemista de Cartago é ignorar dados fundamentais da tradição viva da Igreja no Ocidente, relativamente ao b a p t i s m o1 0 3.

1 0 2 O s seus escritos, amplamente citados n o nosso estudo, evidenciá-lo-ão. Quanto À terminologia usada neste âmbito por TERTULIANO, cf. van der GEEST, Le Christ 152-202.

103 T e s t e m u n h o litúrgico igualmente importante É o de HIPÓLITO, Tradit. apost. LQF 39.

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Outras motivações justificam a nossa opção: sobre o baptismo, dado o relevo decisivo que na Igreja sempre foi dado a este Sacra-mento, quer no plano teológico, quer n o plano pastoral — este, porém, fora do âmbito do nosso estudo; sobre o baptismo ainda, porque a impreparação dos pais que o reclamam para os seus filhos, as interrogações que estimulam o seu adiamento, a ausência do sentido comunitário da sua celebração constituem forte interpelação; sobre o baptismo, p o r q u e o Concílio Vaticano II e, à sua luz, outros d o c u m e n -tos importantes d o Magistério — t a m b é m da Conferência episcopal P o r t u g u e s a1 0 4— • p r o v o c a r a m c o m o seu exemplo e incentivaram o regresso à viva tradição da Igreja, de que a Patrística, concreta-mente em relação ao baptismo, é sublime expressão.

5. Tertuliano de Cartago

Filho de u m oficial romano, T e r t u l i a n o1 0 5 nasceu na cidade eterna1 0 6 entre os anos 150-1601 0 7, n o seio d o p a g a n i s m o1 0 8. D e facto, a sua vida pautou-se antes da conversão pelos critérios pagãos, c o n f o r m e ele mesmo, mais tarde, lamentará: «Eu sei b e m que, devido à carne, cometi adultérios e que agora noutra carne m e esforço p o r guardar continência»1 0 9. O ambiente de R o m a , onde estudou, f a v o -receu tal estilo de vida.

H o m e m feito, aderiu à fé entre 190-195. Rigorista na moral, intransigente nos princípios, agressivo na linguagem, irónico na argu-mentação, personalidade excepcional e controversa, Tertuliano colo-cará todo o seu perspicaz talento, a sua cultura e a sua formação

1 0 4 Cf. Carta pastoral sobre a renovação ia Igreja em Portugal na Jiieliiaie às orientações do Concilio e às exigências do nosso tempo (Lisboa 1984).

1 0 5 D e n o m e c o m p l e t o Q u i n t o Septímio Florêncio TERTULIANO. Chama-se a si m e s m o Septímio Tertuliano ( V i r g . Vel. 17,5 = C C L 2,1226) o u simplesmente Tertuliano, c o m o e m Bapt. 20,5 = C C L 1,295.

1 0 6 Todavia, menciona Cartago e m várias das suas obras: cfr. Apolog. 25,9 = C C L 1,136; Nat. II 14,6 = C C L 1,68; II 17,7 = C C L 1,73; Scorp. 6,2 = C C L 2,1079; Pai 1,1 = C C L 2,733.

1 0 7 T . D . BARNES, Tertullian. A historical and literary study ( O x f o r d 1971) 51-59,

apro-x i m a o acontecimento d o ano 170. Cf. G. BARDY, Tertullien, in DThC 15/1,130-171. 108 Testemunha o Autor: «Também nós outrora nos rimos destas coisas. S o m o s dos vossos: os cristãos fazem-se, não nascem tais» («Haec et nos risimus aliquando. D e uestris sumus: fiunt, n o n nascuntur christianni»): Apolog. 18,4 = C C L 1,118. Cf. Test. an. 1,7 = C C L 1,176.

1 0' «Ego m e seio neque alia carne adulteria commisisse neque nunc alia carne ad c o n

-tinentiain eniti»: Res. 59,3 = C C L 2,1007. C f . ainda Apolog. 15,5 = C C L 1,114; Spect. 19 ™ C C L 1,201.

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2 8 BONIFÁCIO BERNARDO

jurídica1 1 0 ao serviço da Igreja que o acolheu n o seu seio, m o r m e n t e na luta contra a heresia gnóstica e contra o paganismo.

Se há indícios que o a p o n t a m c o m o leigo, outros não excluem que tivesse sido sacerdote. Se alguns escritos seus se ajustam melhor à sua condição de sacerdote1 1 1, outros, ao contrário, pressupõem mais claramente a sua condição de leigo e casado1 1 2. S. Jerónimo declara que Tertuliano «permaneceu presbítero da Igreja até à meia idade»1 1 3. Porém, a sua evolução religiosa, intimamente relacionada c o m o seu carácter apaixonado e violento, culminará na sua adesão às teses de M o n t a n o1 1 4 c o m o o mesmo J e r ó n i m o refere: «Posterior-mente, e m consequência da inveja e das afrontas do clero da Igreja de R o m a , aderiu ao d o g m a de Montano»1 1 3. O seu temperamento inflexível, polémico, mesmo duro, teria contribuído para despoletar tais tensões c o m o clero de R o m a . Aliás, não seria estranho admitir que j á a questão d o baptismo dos heréticos, cuja nulidade a d v o g a1 1 6, estivesse entre os pontos de discussão c o m R o m a . Por sua vez, o Montanismo, rejeitado c o m o herético e, p o r isso, condenado p o r R o m a , nada tinha de condenável, na perspectiva de Tertuliano, c o n f o r m e escreve: «Não é que M o n t a n o , Priscila e Maximila anun-ciem outro Deus; não é que dividam Jesus Cristo; não é que destruam

1 1 0 Cf. T. D . BARNES, TertuUian 22-29.

1 1 1 Por e x e m p l o , Orat., Paenit., Bapt. Cf. P. de LA BRIOLLE, Tertullien éiait-il prêtre?,

in Bulletin d'ancienne litérature et d'archéologie chrétiennes 3 (1913) 160-167.

1 1 2 C f . Ux. I 1,1.4 = C C L 1,373; Il 1,1 = C C L 1,383; Ex. cast. 7,3 » C C L 2,1024s;

cf. nota 111.

1 1 3 «Usque ad m e d i a m aetatem presbyter ecclesiae permansisset»: Vir. II. 5 3 =• PL

23,698. H o j e é posta e m causa esta informação. C f . nota 112.

1 1 4 A heresia montanista é u m m o v i m e n t o de tipo carismático e de subjectivismo

religioso. MONTANO reivindica ser o profeta d o Espírito Santo que, entretanto, desertou da Igreja institucional. Acontece agora a nova revelação. Por isso, este m o v i m e n t o é t a m b é m chamado Nova Profecia. A b u n d a m as visões e êxtases, nas pessoas de Priscila e M a x i -mila.

É t a m b é m u m m o v i m e n t o de tipo escatológico milenarista. A vinda d o Senhor está eminente. Localizar-se-à n u m a planície de Pepuza, na Frigia — por isso, os seus seguidores se chama t a m b é m Catafrígios — e deve ser aguardada n o j e j u m severo e contínuo.

O rigorismo que caracteriza este m o v i m e n t o é t a m b é m patente n o desapego total dos bens deste m u n d o , na c o r a g e m n o martírio, na renúncia ao matrimónio. As segundas núpcias são u m adultério: cf. Monog. 1,2 = C C L 2,1229; 14,4 •= C C L 2,1250; Ex. cast. 9,1 = C C L 2,1027.

TERTULIANO reforçará ainda mais a dimensão deste m o v i m e n t o pelo ataque à prática da penitência da Igreja, que não p o d e perdoar certos pecados; pela oposição à hierarquia — à Igreja institucional o p õ e a Igreja carismática de MONTANO (cf. Pud. 21,26 = C C L 2,1328); pela rejeição da função sacerdotal da mulher.

Cf. ainda T . D . BARNES, Tertullian 130-142.

1 1 5 «Inuidia postea et contumeliis clericorum romanae ecclesiae, ad Montaiii d o g m a

delapsus [est]»: Vir. II. 53 = PL 23,698.

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em qualquer p o n t o a regra da fé e da esperança»1 1 7. E ? tal p o n t o estava disso convicto que M o n t a n o será para Tertuliano o Paráclito prometido p o r Jesus aos seus1 1 8.

A sua actividade literária — escritos apologéticos, catequéticos e teológicos1 1 9 — foi intensa e marcante na vida da comunidade cristã e m que viveu. A sua influência alargou-se mesmo a outras comunidades, de cuja tradição ele próprio se enriquecera.

Já a Igreja antiga o admira c o m o orador notável. S. J e r ó n i m o , pela sua erudição e espírito perspicaz, opina que «Tertuliano é rico no seu pensamento, mas difícil na linguagem»1 2 0. E chega mesmo a perguntar: «Quem mais erudito, q u e m mais penetrante que T e r t u -liano?»1 2 1. Apesar de a sua linguagem, p o r vezes, se tornar obscura, não deixa Lactâncio de reconhecer que «Tertuliano foi mestre em t o d o o género de escritos»122. R e f e r i n d o as suas disputas c o m os heréticos contra os quais escreveu muitos livros, S. Vicente de Lérins considera que o que Orígenes foi n o Oriente, foi Tertuliano n o O c i -dente: «Este facilmente deve ser considerado entre os Latinos o príncipe de todos os nossos»123. P o r isso, exclama: «Quem é que poderá enumerar plenamente os louvores do seu discurso?»1 2 4. P o r sua vez S.to Agostinho —• que leccionou e m C a r t a g o1 2 5 — realça quer a riqueza dos seus escritos, quer a sua influência, n o m e a d a m e n t e naquela cidade. O bispo de Hipona, apreciando Tertuliano —• e seus seguidores1 2 6 — mostra-se benévolo no seu juízo. Apesar de consi-derar deficiente o conteúdo do seu conceito de corpo, que aplicava mesmo a Deus e a alma, observa que «não foi por isso que Tertuliano

1 1 7 « N o n q u o d aliuin deuin praedicent Montanus et Priscilla et Maximila, nec q u o d

Iesum Christum soluant, nec quod aliquam f i d e m aut spei regulam eucrtant»: Ieiu. 1,3 = C C L 2,1257; cf. nota 114.

1 1 8 C f . Ieiu. 1,3 = C C L 2,1257; 12,4 = C C L 2,1271; Res. 63,9 C C L 2,1012; Monog. 3,9s = C C L 2,1232s; 4,1 = C C L 2,1233; 12,2 = C C L 2,1247; Fuga 14,3 = C C L 2,1155;

Virg. Vel. I 4.5.7 = C C L 2,1209s; Prax. 1,7 = C C L 2,1160.

1 , 9 N a bibliografia (pp. 375 s.), elencamos a quase totalidade das suas obras — as citadas neste estudo. Sobre a sua cronologia, cf. K . BRAUN, Deus christiannorum. Recherches sur le vocabulaire doctrinal de Tertullien (Paris 21977) 563-577; t a m b é m T . D . BARNES, Tertullian 55.

n o «Tertulianus creber est in sententiis, sed difficilis in eloquendo»: Ep. 58,10 —• CSEL 54,539.

1 2 1 «Quid Tertuliano eruditius, quid acutius?»: Ep. 70,5 = CSEL 54,707. Cf. VICENTE de Lérins, Commonitorium primurn 18 = PL 50,664.

1 2 2 «Tertulianus fuit o m n i genere litterarum peritus»: Diu. inst. V 1,23 = S C h 204, 132. 1 3 3 «Hic apud latinos nostrorum o m n i u m facile princeps iudicandus est»: Com. primum. 18 = PL 50,664.

1 2 4 «Orationis suae laudes quis exsequi ualeat?»: Com. primum 18 = PL 50,664.

1 2 5 Cf. Conf. VI 7,11 = C C L 27,80s; VI 9,14 = C C L 27,83.

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se tornou herético»1 2 7. Todavia, j á considera inadmissíveis, porque eivadas de montanismo, certas afirmações suas a respeito da alma h u m a n a e das segundas núpcias1 2 8. D e qualquer modo, ainda ao t e m p o de Agostinho «são lidos muitos opúsculos seus, escritos de f o r m a eloquentíssima»1 2 9, os quais, todavia, apenas «em pequeníssi-mos fragmentos perduraram na cidade de Cartago»1 3 0.

Tertuliano terá m o r r i d o cerca do ano 220.

6. O 'De baptismo' de Tertuliano

A heresia dos Cainitas1 3 2, por u m lado, mas t a m b é m a insufi-ciente ou mesmo defiinsufi-ciente formação da fé de muitos baptizados1 3 3, por outro, justificam esta obra. Composta no início do século IH, revela Tertuliano c o m o orador, polemista c o m formação jurídica, e teólogo. O seu estilo vivo manifesta-se na profundidade das frases sintéticas134, nas antíteses a que recorre1 3 5, nos diálogos que introduz

1 2 7 « N o n ergo ideo est Tertulianus factus haereticus»: Haer. 86 == C C L 46,339. 1 2 8 C f . Haer. 86 = C C L 46,339. A mesma severidade transparece e m Bono uiduit.

4,6 = PL 40,433.

1 2 5 «Cuius multa leguntur opuscula eloquentissime scripta»: Haer. 86 = C C L 46,338.

1 3 0 «In extremis reliquiis durare potuerunt in urbe Carthaginensi»: Haer. 86 — C C L

46,338.

1 3 1 Quanto às obras de Tertuliano, quando citamos, servimo-nos apenas das edições críticas indicadas na bibliografia (cf. pp. 375 s).

1 3 2 C f . Bapt. 1 , 2 = C C L 1,277. Esta heresia rejeitava liminarmente o baptismo (e apenas nos interessa referir aqui este aspecto) de acordo c o m o raciocínio de QUINTILA: a água é incapaz de lavar o h o m e m da sujidade exterior; m u i t o menos o poderá limpar das impurezas espirituais, apesar d o recurso a fórmulas cultuais (cf. Bapt. 2-3,1 = C C L l,277s).

S e g u n d o TERTULIANO, Quintila invocara outras razões, tais c o m o :

— o baptismo é simples instituição de João Baptista (cf. Bapt. 10,1 = C C L 1,384); — Jesus não baptizou c o m água, n e m sequer os seus discípulos (cf. Bapt. 11,1 e 12,1 —

C C L 1,286.287);

— Paulo, o único A p ó s t o l o que recebeu o baptismo, afirma claramente que não fora enviado a baptizar (cf. Bapt. 14,1 = C C L 1,289);

— sobretudo, a justificação é obtida mediante a fé, não através do baptismo (cf. Bapt. 13,1 ----= C C L 1,289).

Sobre este assunto, cf. R . F. RÉFOULÉ [éd.], Traité 10s; G. BAREILLE, Cainites, in DACL 2 / 2 , 1 3 0 7 .

1 3 3 Cf. Bapt. 1,1 = C C L 1,277.

1 3 4 Cf. Bapt. 2 , 2 = C C L 1,277; 9,4 = C C L 1,284; 10,1.7 = C C L 1,284.285s. Quanto à língua e estilo de TERTULIANO, cf. C. MOHRMANN, Études sur le latin des Chrétiens II. Latin chrétien et medievale ( R o m a 1961) 235-246; T . P. O'MALLEY, Tertullian and the Bible. Language, Imagery, Exegesis ( U t r e c h t - N i j m e g e n 1967); R . F. RÉFOULÉ [éd.], Traité 53-58.

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mediante interrogações incisivas1 3 6, nas imagens expressivas1 3 7, no calor e lia paixão que evidencia na defesa das suas convicções de fé.

O vocabulário usado é fértil em termos certamente retirados do ambiente forense que era o seu, antes da conversão. Por isso, o baptismo é apresentado c o m o u m contrato do h o m e m c o m Deus e c o m o u m j u r a m e n t o1 3 8. D e facto, exactamente quando aborda o baptismo na sua relação c o m a T r i n d a d e1 3 9 e a necessidade deste Sacramento e m o r d e m à salvação1 4 0, é então que ressaltam os termos de colorido j u r í d i c o1 4 1. D e b o m grado o teólogo reveste as caracterís-ticas d o polemista que, pela convicção e precisão de argumentos sucessivos142, visa, antes de mais, enredar e derrotar a q u e m o contra-diga, opondo-se à verdadeira tradição da Igreja. O adversário c o m as suas razões está sempre na mira da sua a r m a1 4 3.

O De baptismo é u m tratado teológico-moral, cuja finalidade é, dentro deste contexto de polémica anti-herética, fundamentar, à luz da Escritura, o valor insuperável d o baptismo e sua prática na Igreja. A prática do Sacramento alicerça-a Tertuliano e defende-a nesta sua obra, realçando o significado da á g u a1 4 4, m e s m o para os pagãos1 4 5; iluminando-o pela exploração do sentido í n t i m o das prin-cipais figuras do baptismo —- o que ressaltará particularmente n o capítulo terceiro do nosso estudo; sublinhando a relação fundamental da água c o m Jesus Cristo, n o m e a d a m e n t e c o m a sua paixão e ressur-reição1 4 6; eliminando, afinal, as dúvidas e argumentos que alguns aduzem, p o n d o e m causa o Sacramento da água147. O valor desta obra reside ainda no facto de ser o primeiro tratado sistemático sobre o baptismo que chegou até nós. Por isso mesmo, constitui a fonte principal do nosso estudo sobre este Sacramento, segundo Tertuliano.

1 3 6 Cf. Bapt. 2,2 = C C L 1,277; 5,2.3 = C C L l,280s; 11,2s - C C L 1,286; 14,1 OCX 1,289. 1 3 7 Cf. Bapt. l,2s = C C L 1,277; 3,2 = C C L 1,279; 8,1 = C C L 1,283; 9,1 = C C L l,283s; 12,7 = C C L 1,288; 15,3 = C C L 1,290. 1 3 8 Cf. sobretudo pp. 55-59 e 80-86. 1 3 9 Cf. Bapt. 6 = C C L 1,282; pp. 80-86. 1 4 0 C f . Bapt. 13 = C C L l,288s.

1 4 1 C f . R . F. RÉFOULÉ [éd.], Traité 75, nota a., e 86, nota a., a propósito da abundância de termos de colorido jurídico e m Bapt. 6 e 13, respectivamente.

1 4 2 Cf. Bapt. 10 = C C L 1,284-286; 12 = C C L 1,286-288; 15 =-- C C L 1,290. 1 4 3 Cf. Bapt. 5 = C C L 1,280-282; 10-20 - C C L 1,284-295. 1 4 4 Cf. Bapt. 3,6 = C C L 1,279; 10,1 -•- C C L 1,284. 1 4 5 Cf. Bapt. 5,1-4 = C C L l,280s. 1 4 6 Cf. Bapt. 8,4 = C C L 1,283. 1 4 7 Cf. Bapt. 2 = C C L l,277s; 4,2-4 = C C L l,279s; 10-20 = C C L 1,284-295.

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3 2 BONIFÁCIO BERNARDO

7. Ambrósio de Milão

Nascido e m Tréveris ao t e m p o de Constantino, no seio de uma família cristã de R o m a entre 323-333, Ambrósio, feitos os estudos humanísticos e jurídicos, seguiu a carreira administrativa, c o m o h o m e m público. Seu pai, Prefeito do pretório para as Gálias, era u m dos primeiros funcionários d o Império. Após a m o r t e prematura do pai, Ambrósio vai m o r a r c o m sua mãe e seu irmão Sátiro, para R o m a , cidade dos seus avós. Ali vivia j á sua irmã Marcelina que se consa-grara a Deus pela virgindade.

Por volta d o ano 370, Ambrósio é governador das províncias da Ligúria e Emília. P o r é m , residia em Milão, onde, poucos anos volvidos, actuará c o m o bispo.

Grassava então a divisão n o seio da Igreja milanesa. O seu bispo Dionísio fora desterrado, tendo Auxêncio, adepto das teses arianistas, ocupado a sede daquela Igreja local. Dionísio, entretanto, morrera n o desterro. Q u a n d o e m 374 m o r r e Auxêncio, Ambrósio é escolhido pelas diferentes correntes para bispo de Milão. R e c e b e o espiscopado a 7 de D e z e m b r o daquele ano. Consagra-se ao estudo da teologia, sob a orientação do presbítero Simplício, b e m c o m o de outras ciências complementares, e m o r d e m ao b o m e eficaz desempenho do seu ministério episcopal. Estudou Atanásio, Dídimo, Basílio e Gregório de Nazianzo. O juiz e administrador revelar-se-á t a m b é m , a partir de então, pastor solícito e doutor insigne na e para a comunidade eclesial.

Atento às necessidades dos outros, torna-se estimado de homens influentes d o Império, c o m o de pobres, a cujo serviço coloca a sua formação jurídica, a sua capacidade administrativa, e, sobretudo, a sua admirável solicitude pastoral, na defesa dos direitos de Deus e do p r ó x i m o mais carenciado. Sem qualquer acepção, intercede pelos perseguidos — cristãos, arianos o u mesmo pagãos — e serve os necessitados.

As obras de Ambrósio revelam b e m a sua estatura genial, as quali-dades do orador, do moralista, do exegeta, d o teólogo, d o liturgista, do pastor p r ó x i m o do povo, b e m c o m o a sua multifacetada actividade de h o m e m culto, mas acessível.

Foi u m lutador incansável pela liberdade e independência da Igreja, b e m c o m o pela defesa intransigente da autenticidade da fé.

Revelador é o testemunho de Agostinho, sobretudo ao longo de t o d o o capítulo sexto das suas Confissões, a respeito da impressionante

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