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Musicando na escola: um relato de experiência sobre o experiência do estágio supervisionado em uma escola pública de educação básica de Natal/RN

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA

CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

JOEDSON REGIS DA SILVA

MUSICANDO NA ESCOLA:

um relato de experiência sobre o experiência do estágio

supervisionado em uma escola pública de educação básica de

Natal/RN

NATAL/RN

2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA

CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

JOEDSON REGIS DA SILVA

MUSICANDO NA ESCOLA:

um relato de experiência sobre o estágio supervisionado em uma

escola pública de educação básica de Natal/RN

Trabalho de conclusão do Curso de Licenciatura em Música apresentado à coordenação do Curso de Licenciatura em Música da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do título de licenciado em Música.

Orientador:​ Dr. Mário André Wanderley Oliveira

NATAL/RN

2019

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JOEDSON REGIS DA SILVA

MUSICANDO NA ESCOLA:

um relato de experiência sobre o estágio supervisionado em uma

escola pública de educação básica de Natal/RN

Aprovada em: ___/___/_____

BANCA EXAMINADORA:

________________________________________________ Prof. Dr. Mário André Wanderley Oliveira

Universidade Federal do Rio Grande do Sul Orientador

________________________________________________ Prof. Dr. Tiago de Quadros Maia Carvalho

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro da Banca

________________________________________________ Prof. Dr. Fábio Henrique Ribeiro

Universidade Federal da Paraíba Membro da Banca

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AGRADECIMENTOS

Ao concluir este trabalho, não poderia deixar de agradecer às pessoas que colaboraram com a conclusão deste estudo. Agradeço a Deus por conceder-me a graça da vida e poder tocar o meu próximo com a arte musical. Uma vez que o ar na nossa dimensão terrestre é a matéria prima do som, aprendi, com os instrumentos de sopro, a usá-lo para expressar e desenvolver a linguagem musical, com o passar dos estudos musicais aprendi transmiti-la e compartilhar com o próximo. Assim agradeço em especial a minha família, Alanna Silva minha esposa, Joanna Silva minha filha e minha família de berço, meus Pais, Irmãos, Avós, Tios, Primos, Amigos, Conterrâneos Seridoenses e a todos que se envolveram diretamente e indiretamente para construção desse trabalho.

Agradeço ao Dr. Mário André que, com bastante paciência, me guiou em momentos importantes da pesquisa, assim como a coordenação da escola Escola Estadual Governador Walfredo Gurgel, na pessoa da pedagog ​a e coordenadora Soniara Ribeiro de Oliveira, que me ajudou nos pr​ocessos de planejamento e implementação das ações com as intervenções artístico-culturais​.

Agradeço ao professores Dr. Tiago Carvalho e Dr. Fábio Ribeiro por terem aceitado avaliar este trabalho e pelas ricas observações analisadas e discutidas.

Agradeço ao professor Alberto Bruno Caldas, que me ajudou nas temáticas conduzidas nas aulas com as turmas do ensino ​médio e á pedagoga Antonia Ferreira Moura, que abriu espaço para as intervenções e auxílio no plano de atuação artística.

Sou grato aos alunos da escola por suas contribuições para a obtenção dos dados e a construção das hipóteses, além da participação nas intervenções somadas às conclusões da pesquisa. Meus agradecimentos também aos artistas potiguares que atuaram nas intervenções artístico-culturais, os cantores Alan Persa, André Rangel, Pablo Jones, Bruna Hetzel e Everson Ferreira.

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Bois Dormindo

A paz dos bois dormindo era tamanha (mas grave era tristeza do seu sono) e tanto era o silêncio da campina que ouviam nascer as açucenas.

No sono os bois seguiam tangerinos que abandonando relhos e chicotes tangiam-nos serenos com as cantigas aboiadeiras e um bastão de lírios.

Os bois assim dormindo caminhavam destino não de bois mas de meninos libertos que vadiassem chão de feno;

E ausentes de limites e porteiras arquitetassem sonhos (sem currais) nessa paz outonal de bois dormindo.

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RESUMO

SILVA, Joedson Regis da.​MUSICANDO NA ESCOLA: um relato de experiência sobre o estágio supervisionado em uma escola pública, de educação básica, da cidade do Natal/RN. 2019. 49 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Escola de Música. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2019.

Este trabalho tem como ​tema a prática de apreciação musical como possibilidade de ampliação de referenciais estético ​. Mais especificamente, ​Seu objetivo geral é tecer um relato de experiência por meio da realização de atividades sobre o processo de intervenção artístico-cultural dentro da experiência do estágio supervisionado em uma escola pública de educação básica de Natal/RN ​. O campo empírico escolhido para esta pesquisa foi a Escola Estadual Governador Walfredo Gurgel, localizada no bairro Candelária. ​O estudo, de abordagem qualitativa, buscou aporte teórico-metodológico em Goldenberg (2004) e buscou descrever um relato de experiência sobre as atividades vivenciadas na comunidade escolar. Como técnicas de coleta de dados foram utilizadas: realização de rodas de conversa e registros fotográficos, em áudio e imagens paradas e em movimento, atividade que compõe as organizações dos processos de aulas dos estágios supervisionados. A intervenção artístico-cultural na Escola contou a participação dos cantores Alan Persa, André Rangel, Pablo Jones, Bruna Hetzel e Everson Ferreira e aconteceu no mês de outubro de 2019, às sextas-feiras. As atividades da intervenção foram, notoriamente, bem recebidas pela comunidade escolar e os artistas convidados foram recebidos com entusiasmo pelas(os) estudantes. Os dados coletados ao longo do trabalho permitiram que se percebesse, inicialmente, a aprovação e a reprovação de determinadas expressões musicais, por parte das(os) estudantes, que indicaram ter, a princípio, preferências musicais bastante específicas. As atividade de apreciação musical com aulas dentro de sala e apresentações dos artistas se mostraram bem-sucedida em seus objetivos, haja vista que, a apresentação de gêneros que fazem parte da realidade dos alunos, com o familiar ‘sotaque’ musical de artistas potiguares, trouxe reflexões importantes para as(os) envolvidas(os) no trabalho. Destaca-se, por fim, a ratificação da percepção do autor desta pesquisa de que a organização de quaisquer atividades culturais dentro da escola exigem um diálogo com gestores e funcionários e corpo docente, já que a troca de ideias para articulação de um plano de ação bem definido, com objetivos e metas definidas, ampliam a probabilidade de uma proposta ser bem-sucedida. Espera-se que este trabalho possa trazer reflexões para a área da Educação Musical e inspirações a outros estudos e outras ações no contexto escolar.

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ABSTRACT

SILVA, Joedson Regis da. ​MUSICING AT SCHOOL: an experience report on the supervised internship at a public elementary school in Natal/RN. 2019. 49 p. Course Completion Paper (Undergraduate). Escola de Música. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2019.

This work has as its theme the practice of musical appreciation as a possibility of expanding aesthetic references. More specifically, its overall objective is to create an experience report by conducting activities on the process of artistic and cultural intervention within the supervised internship experience at a public elementary school in Natal / RN. The empirical field chosen for this research was at the Governador Walfredo Gurgel State School, located in the Candelária neighborhood. The study, a qualitative approach, sought a theoretical-methodological method in Goldenberg (2004) and sought to describe an experience report on the activities experienced in the school community. As data collection techniques were used: conducting conversation wheels and photographic records, audio and still images and moving, activity that composes as activities of the supervisors' class processes. An artistic and cultural intervention at the School was attended by the singers Alan Persian, André Rangel, Pablo Jones, Bruna Hetzel and Everson Ferreira and took place in October 2019, on Fridays. As intervention activities they were notoriously welcomed by the school community and the guest artists were enthusiastically received by the students. The data collected throughout the work allow people to perceive, experiment, or repress musical expressions on the part of the students, who indicated a very specific principle to reproduce. As a music appreciation activity with in-room classes and performances by artists who are well-interpreted in their goals, there is a genre exhibit that is part of the students' reality, with the familiar musical 'accent' of potential artists bringing important insights. for those created at work. Finally, we highlight the ratification of the author's perception of this research on the organization of cultural activities within the school, the dialogue with managers and staff and the faculty, since the exchange of ideas for the articulation of a well-planned action plan. With defined goals and objectives, you increase the likelihood that a proposal will be well-determined. It is hoped that this work can bring reflexes to an area of ​​Music Education and inspirations for other studies and other actions in the school context.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

1​. EDUCAÇÃO MUSICAL ESCOLAR E INTERVENÇÕES ARTÍSTICAS 9

2.1. Ações artístico-culturais na escola 10

2​. METODOLOGIA 20

3.1. Escolha do método e do campo empírico 20

3.2. Instrumentos e técnicas de coleta de dados 23

3.3. Hipótese e Plano de Ação 24

3​. CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO, DOS PARTICIPANTES E DA PROPOSTA 25

3​.1. O perfil do campo empírico 25

3​.2. O perfil dos participantes 25

3​.3. O perfil da proposta de intervenção 27

3​.3.1. Inspirações para a proposta 27

2​.3.2. Bases teóricas e legais para a proposta 30

4​. RESULTADOS DA INTERVENÇÃO ARTÍSTICO-CULTURAL NA ESCOLA 35

5​. CONSIDERAÇÕES FINAIS 53

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como tema a prática de apreciação musical como possibilidade de ampliação de referenciais estético. Seu objetivo geral é tecer um relato de experiência por meio da realização de atividades sobre o processo de intervenção artístico-cultural dentro da experiência do estágio supervisionado em uma escola pública de educação básica de Natal/RN, apresentando os processos de planejamento, implementação e avaliação das atividades. O meu interesse pelo tema nasceu da interseção das minhas experiências como músico popular e como estagiário de música na educação básica, durante o Curso de Licenciatura em Música, na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN).

Nasci em um ambiente em que, logo cedo, fui apresentado à música instrumental, o que me fez aprender a tocar flauta doce, requinta, clarinete e saxofone, sempre sob influência de banda filarmónica. Em decorrência desse estímulo, em 2008, ingressei no curso técnico em Música (habilitação Saxofone) da Escola de Música da UFRN e, em 2011, no Bacharelado em Música (Saxofone) na mesma instituição, onde também conclui o curso técnico em regência. Após a conclusão desses cursos, todos voltados à Performance Musical, passei a me interessar pela área da Educação Musical. Isso porque passei a ver mais oportunidades de trabalho como professor de música do que atuando em outros contextos. Dessa forma, optei por dar início à Licenciatura em Música e, também, à especialização em Educação Musical em Múltiplos Contextos, na UFRN.

Ao final do Curso de Licenciatura, pude conectar as experiências que vivenciei nesses diferentes contextos e refletir, a partir de diálogos com companheiros de estudos da graduação e da pós-graduação, sobre música popular na educação musical escolar. Inquietava-me pensar em propostas educativo-musicais, vinculadas a atividade de apreciação musical e inclusão dos artistas potiguares na escola. Tendo em vista o meu interesse pelo tema, recorri à literatura acadêmico-científica da Educação Musical, a fim de encontrar trabalhos sobre o assunto. Encontrei como principais referências sobre o assunto os textos de Queiroz (2004), Penna (2014), Swanwick (2003) e Bastião (2010).

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Com base nas minhas leituras e experiências, bem como compartilhamento de reflexões com colegas, defini como questão norteadora desta pesquisa: como ações no ambiente escolar, orientadas por aspectos da cultura local, podem favorecer a diversidade sociocultural no ensino de música na educação básica? ​O campo empírico escolhido para as atividades de estágio supervisionado e relato de experiência foi a Escola Estadual Governador Walfredo Gurgel, localizada no bairro Candelária. O estudo, de abordagem qualitativa, buscou aporte teórico-metodológico em Goldenberg (2004) e buscou descrever um relato de experiência sobre as atividades vivenciadas na comunidade escolar. Como técnicas de coleta de dados foram utilizadas: realização de rodas de conversa e registros fotográficos, em áudio e imagens paradas e em movimento, atividade que compõe as organizações dos processos de aulas dos estágios supervisionados. A intervenção artístico-cultural na Escola contou a participação dos cantores Alan Persa, André Rangel, Pablo Jones, Bruna Hetzel e Everson Ferreira e aconteceu no mês de outubro de 2019, às sextas-feiras. As atividades da intervenção foram, notoriamente, bem recebidas pela comunidade escolar e os artistas convidados acolhidos com entusiasmo pelas(os) estudantes e complementariam as aulas ministradas dentro do estágio supervisionado.

A fim de descrever todo esse processo de forma sistemática, esta monografia foi estruturada em seis partes, sendo a primeira esta Introdução. No capítulo 2, apresento dados do levantamento bibliográfico sobre projetos de concertos didáticos existentes na cidade de Natal, além de trazer análises de tema correlatos, tais como identidade cultural, inversão artísticos-culturais, música potiguar, formação musical, indústria cultural e concertos didáticos.

No Capítulo 2, faço delineamento da metodologia por meio da qual a pesquisa foi conduzida: o relato de experiência, com uma abordagem qualitativa. Já no Capítulo 3, realizo uma contextualização do campo pesquisado, demonstrando características e aspectos importantes para a proposta de intervenção artístico-cultural. No Capítulo 4, disserto acerca dos resultados das atividades, seus aprofundamentos e experiências vivenciadas no campo da pesquisa. E, por fim, no 5º e último capítulo, apresento as considerações finais, aspectos alcançados ou que não puderam ser abordados nas intervenções artísticos-culturais.

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1. EDUCAÇÃO MUSICAL ESCOLAR E INTERVENÇÕES ARTÍSTICAS

Neste capítulo, apresento a revisão bibliográfica deste trabalho, contemplando a fundamentação teórica e a revisão de literatura realizada. Utilizei referências em pesquisas da área de música os seguintes autores: Queiroz (2004), Maura (2018) e como referência sobre a atividade de Apreciação Musical, Bastião (2010).

1.1. Ações artístico-culturais na escola

As identidades e características culturais de uma sociedade não se constroem por acaso. Em particular, a identidade cultural é construída pela soma e reflexo de diversas influências do contexto no qual o indivíduo está inserido. Queiroz (2004) comenta sobre a dimensão plural da identidade dos “mundos musicais do Brasil”. Para o autor, é a

identidade que nos singulariza pela sua dimensão plural, de universos distintos, que caracterizam os diferentes mundos musicais do Brasil, tornando este país um contexto cultural/musical que possui músicas de diferentes significados, usos e funções, simbolizando a diversidade identitária de uma cultura, a cultura brasileira. (QUEIROZ, 2004, p. 99, 100).

Atualmente, é notória a influência da globalização nos interesses e gostos por determinadas estéticas e tendências musicais. Um exemplo disso são as músicas de mainstream ​que dominam e são valorizadas na programação midiática, em detrimento aos estilos musicais locais. Nesse ínterim, os meios de comunicação exercem um papel fundamental no incentivo ao consumo e na construção das identidades culturais musicais dos ouvintes.

Assim, a desburocratização do acesso à arte é fundamental para a formação cultural dos indivíduos. Desse modo, a falta do acesso artístico é semelhante à falta de luz, cadeiras, lápis e papel em uma escola. Maura (2018) discorre sobre esse acesso no tópico 2, do segundo capítulo do livro Música e seu ensino, intitulado: Reavaliação: o acesso socialmente diferenciado à música, à arte e à cultura. Segundo a autora,

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esses processos de musicalização não são equivalentes apesar de serem relacionados e complementares , pois seus resultados são qualitativamente distintos. No caso da "musicalização espontânea", através de vivências assistemáticas, as possibilidades dependem, diretamente e de maneira bastante clara, das condições socioculturais do indivíduo; condições estas que, como veremos, também interferem nos processos formais de musicalização. Isso porque nem todos têm, socialmente, acesso à imensa riqueza que é a música no momento atual, sob a forma de diferentes manifestações. Visto que essas manifestações musicais diferenciadas carregam significações sociais diversas, cabe indagar qual é a música que nos serve de referência para musicalizar. Essa pergunta é imprescindível, já que, no âmbito deste trabalho, discutiremos a musicalização como um processo educacional orientado (MAURA, 2018, p. 31, 32).

Penna (2014) discute a problemática das questões da musicalização nas escolas, dissertando que as possibilidades de transmitir um conteúdo era praticamente especializado, pois cada aluno ou grupos em salas entendem e vivem a música ao seu modo. Assim, o acesso a diferentes manifestações é, praticamente, nula, tornando-se muito burocrático.

Baseado nessa temática o nosso projeto de intervenções artístico-culturais partem de propostas pesquisadas e catalogadas existentes na literatura científica atual, advindas de alguns temas estudados, tais como, apreciação musical, multiculturalização, identidade

cultural e formação musical e cultural.

Dentro do contexto ocidental musical e “consequente noção do “saber música” Maura Penna (2018, p. 50), alguém que foi escolarizado musicalmente, seria um indivíduo que toca um instrumento, canta ou consegue entender, apreciar os aspectos sonoros da música ocidental, frequenta concertos, participa de eventos culturais, visita museus e comunica-se através da Notação Musical ou Teoria da Música Ocidental. Enquanto o dito “leigo musical”, seria alguém que tem relação com a música, mas não teve acesso ao estudo da notação musical ocidental. Em contraponto, a nossa intervenção artístico-cultural não leva esses valores em consideração, pois o projeto considera os diversos estilos musicais importantes na diversidade cultural, tendo os mesmos valores culturais independente dos estilos sonoros ou artístico-visuais.

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A exemplo, posso citar diversos artistas que nunca estudaram música ou, até mesmo a escola regular como Luiz Gonzaga, além de artistas como Artur da Távola, que apresentava o programa “Conversa de Músico”, Cazuza, entre outros que exerciam um talento nato, mas não conheciam notação musical ocidental. É importante acrescentar que a linguagem sonora e a Notação Musical Ocidental nas quais os compositores ocidentais basearam suas obras musicais, só funcionam em determinados meios em que existe a cultura ocidental, as outras diversas culturas da humanidade utilizam, e utilizavam ao longo dos períodos temporais, outras diferentes escalas e parâmetros sonoros.

Na literatura analisada, foi pesquisado conceitos e projetos de atividades e abordagem com o intuito de transmitir e compartilhar os conhecimentos musicais no sentido trocas de conhecimento cultural e atividades de apreciação musical como possibilidade de ampliação de referenciais estético.

Assim, com o envolvimento natural dos seres que atuam em conjunto, pretendo chegar à comunidade escolar do ensino fundamental e ensino médio, visto que a referida comunidade apresenta preferências por estilo musicais únicos. Desse modo, as intervenções artísticos-culturais pretendem utilizar as músicas e estilos, que fazem parte do presente convívio, como ponte para a ampliação dos horizontes artístico-musicais.

As conversas e debates sobre a temática apresentaram resultados e tomadas de rumos, pois possibilitar um diálogo no qual os alunos falem abertamente sobre os assuntos contribui para as trocas de conhecimentos e a aproximação das relações culturais. Existe a possibilidade da atuação da educação musical na construção de uma formação musical e estímulos ao aprendizado dos indivíduos que podem ser promovidas pelas intervenções artísticas.

O estímulo e aprendizado da formação musical também acontecem nos espaços escolares de apreciação das atividades artísticas musicais, por meio da observação e troca de informações, motivada pela curiosidade e pela repetição de determinados movimentos, é o caso dos Grupos de Congado estudado por Queiroz (2004) que relata a aprendizagem das crianças, “pela imitação e repetição dos padrões feitos pelos outros” (QUEIROZ, 2004, p. 104), no caso, as crianças aprendem observando os ritmos dos integrantes mais experientes.

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A audição e visão são ferramentas importantes para uma formação musical em meio a esse processo de aprendizagem. Em sua pesquisa, Queiroz (2004) faz uma abordagem considerável ao citar Nettl (1983), revelando que todo o contexto do indivíduo é importante para a assimilação dos elementos artísticos. “Segundo o autor, na maior parte das culturas a música é transmitida de forma oral e aural [...] concebe o conceito “aural” como algo vinculado a uma percepção global do indivíduo, no que se refere à apreensão dos elementos transmitidos” (NETTL apud QUEIROZ, 2004, p. 103).

Dessa feita, as práticas de apreciação das atividades artísticas musicais, como as intervenções artístico-cultural, pretendem contribuir para a expansão de novos horizontes artístico-musicais. Corroborando para um integração com as diversidades culturais na qual nenhuma arte é superior a outra ou melhor que as demais, mas todas têm e exercem a sua função social. Assim para a complementação como base da presente proposta foi analisado a abordagem AME - Apreciação Musical Expressiva. Zuraide Bastião (2010) às práticas e propostas vem com o intuito de utilizar a apreciação musical como elemento de mediação entre teoria e prática musical.

De acordo com Bastião (2010), as práticas de apreciação ​das atividades artísticas musicais contribuem para a formação de um ouvinte/apreciador mais crítico e consciente, além de ressaltar que a arte performática se configura na capacidade de perceber e reagir à uma experiência musical na sua totalidade. Assim,

a apreciação musical caracteriza-se como um processo ativo de audição. Apreciar não significa simplesmente ouvir, mas ouvir com atenção, com compreensão, com senso crítico e estético. Por senso estético entende-se a capacidade de perceber e reagir à experiência musical na sua totalidade, porque ao se configurar como uma arte performática. (BASTIÃO, 2009, p. 28).

Com esse sentido, as atividades de apreciação musical desenvolvem funções importantes para a formação cultural dos indivíduos, posto que cria pontes para dar acesso a diferentes caminhos artísticos é uma ferramenta utilizada nas práticas das intervenções artísticos culturais.

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Outra característica na abordagem de apreciação musical expressiva de Bastião (2009) é a valorização do interesse musical dos alunos, afirma que existe uma aprendizagem significativa em adaptar o conteúdo musical a realidade e contexto da comunidade escolar ao fazer isso o professor torna a sua atividade de apreciação expressiva e contextual.

A abordagem AME - Apreciação Musical Expressiva foi idealizada e concebida pelo fato da atividade de apreciação musical ser raramente visto como uma atividade que possibilite o desenvolvimento artístico na educação básica e pelo fato das atividades ser consideradas voltadas para apreciação de obras, períodos da história da música e compositores com “combinações de palestras, discussão e audição realizadas enquanto os alunos sentam quietos” (BASTIÃO, 2009, p. 60), assim a abordagem expressiva de apreciação musical consiste em possibilitar o ouvinte a expressar o que sente, pensa, bem como utilizar movimentos corporais.

Keith Swanwick (2003) afirma que a música está interligada a vários discursos simbólicos, se relacionando com todo um contexto, ou seja, transmitir um material artístico vai muito além da música, essa transmissão encontra-se unida a vários temas transversais, pertencentes às totalidades dos elementos sociais.

Dessa maneira, proporcionar na escola um ambiente intermediário artístico que envolva as linguagens artísticas, objetivando a ampliação dos diversos discursos simbólicos da arte, valorizando o saber existente nos espectadores, seria valorizar a identidade cultural dos indivíduos, possibilitando uma construção e ampliação dos conhecimentos artísticos incidir em um diferencial nas propostas de incentivo à Intervenção Artístico-cultural.

2. METODOLOGIA

Neste capítulo, apresento a fundamentação teórico-metodológica, bem como o planejamento que fiz para a realização da pesquisa, embasados em Goldenberg (2004), na abordagem qualitativa e no processo metodológico do relato de experiência. Além dessas proposições, foi feito um levantamento bibliográfico acerca da literatura que aborda as temáticas deste estudo. Os planejamentos da realização das intervenções foram empregados seguindo o calendário letivo da Escola Estadual Walfredo Gurgel, com sequências que foram

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se definindo mediante a sequência das aulas e planejamentos das aulas de estágio supervisionado.

2.1. Escolha do método e do campo empírico

A presente pesquisa define como questão norteadora: como ações no ambiente escolar, orientadas por aspectos da cultura local, podem favorecer a diversidade sociocultural no ensino de música na educação básica? Essa questão tornou-se pertinente à medida que, pressupõem-se, alunos apresentam preferências musicais orientadas pela mídia de massa. Visto isso, uma das hipóteses e o plano de ação deve ocorrer através de intervenções artísticas/culturais que apresentem estilos que fazem parte da realidade dos alunos, com sotaques de artistas potiguares, além de demonstrarem outros estilos para conhecimento da comunidade escolar, atrelando tudo isso aos debates em sala de aula e rodas de conversas com os artistas, de modo a aproximá-los da plateia/ouvintes.

Para a organização deste estudo, foi realizado o levantamento bibliográfico sobre o tema. Além disso, foram coletadas informações acerca dos professores, alunos e artistas convidados, nas etapas das observações e contextualização do campo, nas aulas ministradas em sala de aula e nas atividades de intervenções artístico-culturais. Após as atividades de intervenção, também foram coletadas informações sobre a comunidade escolar, alunos, professores e artistas para complementação dos dados do projeto e a consolidação dos resultados. Todas as informações coletadas foram analisadas seguindo a abordagem qualitativa de pesquisa. Sobre a Pesquisa Qualitativa, Goldenberg (2004) faz algumas análises:

Os dados qualitativos consistem em descrições detalhadas de situações com o objetivo de compreender os indivíduos em seus próprios termos. Estes dados não são padronizáveis como os dados quantitativos, obrigando o pesquisador a ter flexibilidade e criatividade no momento de coletá-los e analisá-los. Não existindo regras precisas e passos a serem seguidos, o bom resultado da pesquisa depende da sensibilidade, intuição e experiência do pesquisador. Mesmo os pesquisadores que usam métodos de pesquisa qualitativa criticam a falta de regras de procedimento rigorosas para guiar as atividades de coleta de dados e a ausência de reflexão teórica, o que pode dar margem para que o bias do pesquisador venha a modelar os dados que coleta. (GOLDENBERG, 2004, P. 53).

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O levantamento bibliográfico foi feito a partir da compilação de trabalhos publicados em revistas, livros especializados envolvendo as temáticas: apreciação musical, formação musical e cultural, identidade cultural. Reitero que um dos objetivos deste trabalho foi debater e refletir sobre as ações de as temáticas para possibilitar fundamentações nas práticas do projeto Musicando na Escola atividade que compõe o trabalho de estágio supervisionado com alunos do ensino básico.

2.2. Instrumentos e técnicas de coleta de dados

Como técnicas de coleta de dados foram utilizadas: observação participante, realização de rodas de conversa e registros fotográficos, em áudio e imagens paradas e em movimento. A intervenção artístico-cultural na Escola contou a participação dos cantores Alan Persa, André Rangel, Pablo Jones, Bruna Hetzel e Everson Ferreira e aconteceu no mês de outubro de 2019, às sextas-feiras. As atividades da intervenção foram, notoriamente, bem recebidas pela comunidade escolar e os artistas convidados acolhidos com entusiasmo pelas(os) estudantes. 2.3. Hipótese e Plano de Ação

Com o gancho temático sobre a arte potiguar, parto agora para o próximo passo que foi a implementação das intervenções, partindo de um levantamento das necessidades. A situação problema que apresento desde o início da pesquisa consiste na necessidade de apreciação de estilos variados pelos alunos, bem como a sua valorização, além da falta de contato deles com artistas e frequência em apresentações e shows, vivências que a BNCC, em vários parágrafos, enfatiza nas suas diretrizes.

Assim, inicio um plano de ação, partindo de apresentações com artistas potiguares, com repertório da música popular, que faz parte do contexto dos alunos e da música de massa. Os artistas convidados para o primeiro encontro foram os cantores Alan Persa e André Rangel, que estão desenvolvendo um trabalho com bastante popularidade na cena da música popular de Natal/RN.

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3. CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO, DOS PARTICIPANTES E DA PROPOSTA Neste capítulo, apresento brevemente o perfil do campo empírico escolhido para esta pesquisa, o perfil dos participantes que colaboraram com a realização deste trabalho, bem como o perfil da proposta de intervenção artístico-cultural realizada nesse espaço, a qual foi baseada nas características locais e em proposições da literatura de Educação Musical e nos documentos oficiais consultados

3.1. O perfil do campo empírico

A Escola Estadual Governador Walfredo Gurgel situa-se na R. Bento Gonçalves S/N, bairro de Candelária, Natal-RN. A escola possui um bom espaço físico, o equivalente a um quarteirão de 10.000,00 metros quadrados, que abrange 18 salas de aula, sala de Cinema, corredores bem espaçosos, sala de professores, coordenação, secretaria, biblioteca, cozinha, refeitório com mesas e cadeiras, sala de dança e quadra de Esportes.

A escola funciona em tempo integral, das 7h da manhã até 16h da tarde. Os níveis de ensino são: do 8° ​ano do ensino fundamental à 3ª série do ensino médio, distribuídos em turmas: A, B, C e D. Os debates e conversas sobre a temática da pesquisa aconteceram na sala de artes e na sala de cinema. As salas são fixas de cada professor e os alunos se d ​irigem a cada sala nos horários das aulas. Materiais diversos são utilizados: projetor, caixa de som, telas para pintura, lápis e quadro negro, instrumentos como violão, que são utilizados livremente pelos alunos nos horários vagos, bem como o canto em grupo de músicas variadas entre MPB, Rock e Religiosas.

3.2. O perfil dos participantes

O público-alvo deste estudo foi composto pelos alunos da Escola Estadual Governador Walfredo Gurgel, os quais são oriundos várias localidades de Natal/RN, tanto do bairro Candelária como da zona leste de Natal (Felipe Camarão, Zona Norte, Planalto) e de cidades vizinhas, como: Ceará Mirim e Parnamirim. Comparada a outras Estaduais de Natal/RN. Além da comunidade escolar, composta pelos gestores, professores, estudantes e funcionários da Escola Estadual Governador Walfredo Gurgel, participaram deste estudo, conforme

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mencionado, os cantores Alan Persa, André Rangel, Pablo Jones, Bruna Hetzel e Everson Ferreira.

Alan Persa iniciou seus estudos no violão aos 13 anos de idade, de forma autodidata, tentando tocar com a guitarra a música Californication da banda de rock norte-americana, Red Hot Chili Peppers. Seu próximo passo foi formar uma banda de rock com foco na música autoral, a banda se chamava 2polos, e, além de tocar pela cidade de Natal/RN, lançou 2 discos. O grupo foi para São Paulo tocar e desenvolver seu trabalho e em busca de crescimento o músico resolveu sair do grupo e voltar para Natal. A princípio, depois da sua volta de São Paulo (2015), desistiu de viver da música, mas acabou mudando de ideia e decidiu começar a investir no formato voz e violão. Por influência da música de rua da cidade de São Paulo, começou a tocar na rua em calçadas de lojas da cidade, vindo a ter uma grande visibilidade do público e fãs que vão para escutá-lo nas suas apresentações, bem como seguem o artista nas redes sociais que, atualmente, disponibiliza a sua agenda de shows solo – voz e violão – e com banda.

Semelhante a Alan Persa, o cantor André Rangel iniciou a sua formação musical de forma autodidata. Nascido em Parnamirim/RN, tem se destacado na cena musical potiguar, desenvolvendo seu trabalho lançando EP e singles com músicas autorais e covers, além disso, tem participado em shows, tocando com artistas e bandas nacionais. Uma característica do seu trabalho é que suas música estão sempre ligadas ao contexto dos seus ouvintes e, assim, a maioria da sua plateia sempre canta junto as músicas nas suas apresentações.

O artista Pablo Jones é natural de Coelho Neto/MA e começou os seus estudos musicais de forma autodidata, cantando com amigos na escola de ensino fundamental. As músicas que mais cantava eram de estilos que estavam fazendo sucesso no momento da sua juventude: Limão com mel, Cavaleiros do Forró, Bonde do Maluco, grupos que fazem parte das festas de Forró e do gênero baiano arrocha. Hoje, o cantor apresenta muita variedade de estilos musicais com referências nacionais e internacionais, bem como, usa alguns tipos de tecnologias nas suas apresentações (pedaleiras e equipamentos que fazem loops de gravações na hora do show) onde, a partir dessas gravações ao vivo, vai interagindo durante a música com arranjos e improvisações na voz e no violão, utilizando várias possibilidades de ritmos

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diferentes e segunda e terceira voz etc. Em conversas, o artista fala que faz pesquisas diárias sobre as tecnologias utilizadas pelos outros artistas.

A cantora Bruna Hetzel desenvolve o seu trabalho na cena musical potiguar, cantando em eventos diversos e locais da cidade de Natal, além de desenvolver o seu trabalho como gestora cultural e pintora. Desde a sua infância foi criada em um ambiente musical, absorvendo de todos as linguagens artísticas, os seus pais são músicos e o seu avô Waldemar Ernesto Hetzel, músico pianista e maestro que, com a sua arte influenciou uma geração de músicos, incluindo Bruna Hetzel. Everson é professor de música em escola especializada, professor em Escolas do município de Natal/RN e desenvolve seu trabalho na música como músico potiguar.

3.3. O perfil da proposta de intervenção

A fim de fundamentar a intervenção artístico-cultural na Escola Estadual Governador Walfredo Gurgel, busquei inspiração na literatura bibliográfica estudada bem como bases legais, BNCC (2017) e PCN (1997) fundamentos teóricas na literatura concernentes à disciplina de estágio supervisionado Freire (2011) e (1979), Assmann (1995) e na área de educação musical, Brito (2001) e Mateiro e Ilari (2011).

Quanto a proposta de intervenções artístico cultural do projeto musicando na escola pretende em seu conceito fundamental:

Aulas de apreciação musical como possibilidade de ampliação de referenciais estético: Apreciação de músicas e estilos diversos, Artistas potiguares diversos, análises do repertório dos artistas, manifestações culturais locais.

Contato com Artistas Potiguares: Apresentações didáticas, Palestras, Mini Curso, Master Class.

As intervenções artísticos-culturais pretendem utilizar as músicas e estilos, que fazem parte do presente convívio da comunidade escolar, como ponte para a ampliação dos horizontes artístico-musicais. Possibilitando uma troca de conhecimentos e construção da arte musical.

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3.3.1. Bases teóricas e legais de fundamentação teórica concernentes

ao estágio supervisionado.

As aulas em sala de aula e atividades de intervenção artístico-cultural aconteceram na Escola Estadual Governador Walfredo Gurgel, as bases e fundamentos teóricas na literatura concernentes à disciplina de estágio supervisionado e pertencentes a área de educação musical, bem como bases legais.

Quanto a disciplina e vivências com a comunidade escolar, Assmann ressalta que “a educação terá um papel determinante na criação da sensibilidade social necessária para orientar a Humanidade” (ASSMANN, 1995, p. 26). Nessa perspectiva, as experiências com a comunidade escolar influenciam o futuro educador e a humanidade que esse educador vai “encantar” e influenciar.

Para a fundamentação pedagógica das aulas em sala de aula foi estudada e analisadas a literatura do educador Paulo Freire, que faz alguns aprofundamentos com relação à temática cultura, temática muito pertinente no ensino de música. Segundo ele,

cultura, no sentido que aqui nos interessa, é tanto um instrumento primitivo de caça, de guerra, como o é a linguagem ou a obra de Picasso. Todos os produtos que resultam da atividade do homem, todo o conjunto de suas obras, materiais ou espirituais, por serem produtos humanos que se desprendem do homem, volta-se para ele e o marcam, impondo-lhe formas de ser e de se comportar também cultuais. Sob este aspecto, evidentemente, a maneira de andar, de falar, de cumprimentar de se vestir, os gostos são culturais. Cultura também é a visão que tem ou estão tendo os homens da sua própria cultura, da sua realidade. (FREIRE, 1979, p. 31)

​Dito isso, as atividades em sala de aula foram pensadas baseadas nos princípios pedagógicos do educador Paulo Freire​. As propostas pedagógicas são sempre elaboradas, levando em consideração um diálogo entre os indivíduos, posto que, é através dele que poderemos melhorar nossa compreensão sobre determinadas temáticas, haja vista que os indivíduos não evoluem isoladamente, precisam uns dos outros para se expressarem ou criarem uma ideia já dialogada e aprimorada de outros indivíduos. Paulo Freire faz algumas declarações sobre a importância da dialogicidade no trecho a seguir:

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Daí que, para esta concepção como prática da liberdade, a sua dialogicidade comece, não quando o educador-educando se encontra com os educandos-educadores em uma situação pedagógica, mas antes, quando aquele se pergunta em torno do que vai dialogar com estes. Esta inquietação em torno do conteúdo do diálogo é a inquietação em torno do conteúdo programático da educação. Para o “educador-bancário”, na sua antidialogicidade, a pergunta, obviamente, não é a propósito do conteúdo do diálogo, que para ele não existe, mas a respeito do programa sobre o qual dissertará a seus alunos. E a esta pergunta responderá ele mesmo, organizando seu programa. Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou uma imposição – um conjunto de informes a ser depositado nos educandos, mas a revolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo, daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada (FREIRE, 2011, p. 57 e 58).

A dialogicidade é a base do programa de todas as aulas propostas no decorrer do estágio supervisionado, assim como os debates em sala e o contato com os artistas potiguares. Quanto aos textos que fundamenta as bases legais foi analisados textos que compõem a BNCC, Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que ressalta as competências essenciais para cada etapa da educação básica, inclusive a de Jovens e Adultos. Segundo o documento, “a educação tem um compromisso com a formação e o desenvolvimento humano global, em suas dimensões intelectual, física, social, ética, moral e simbólica”. (BRASIL, 2017, P. 15). Nessa perspectiva, a BNCC corrobora com a literatura abordada neste estudo que ressalta o compromisso da formação musical global no desenvolvimento da formação artístico-cultural.

A mediação que buscamos em todos os momentos deve ocorrer de forma que consiga estimular os alunos, buscando uma mediação consciente, trabalhando os conteúdos de maneira interdisciplinar, auxiliando outros componentes curriculares ligados à prova do ENEM, o que contribui para a ampliação dos horizontes musicais e culturais dos alunos, por meio da música, atuando com as linguagens simbólicas artístico-culturais. A BNCC, em parte do seu texto, expressa bem o seu intuito de estabelecer o contato e a troca de experiências com artistas. O documento menciona que

o trabalho com a Arte no Ensino Médio deve promover o entrelaçamento de culturas e saberes, possibilitando aos estudantes o acesso e a interação com as distintas manifestações culturais populares presentes na sua comunidade. O mesmo deve ocorrer com outras manifestações presentes nos centros culturais, museus e outros espaços, de modo a propiciar o exercício da crítica, da apreciação e da fruição de exposições, concertos, apresentações

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musicais e de dança, filmes, peças de teatro, poemas e obras literárias, entre outros, garantindo o respeito e a valorização das diversas culturas presentes na formação da sociedade brasileira, especialmente as de matrizes indígena e africana. Nesse sentido, é fundamental que os estudantes possam assumir o papel de protagonistas como apreciadores e como artistas, criadores e curadores, de modo consciente, ético, crítico e autônomo, em saraus, performances, intervenções, happenings, produções em videoarte, animações, web arte e outras manifestações e/ou eventos artísticos e culturais, a ser realizados na escola e em outros locais. Assim, devem poder fazer uso de materiais, instrumentos e recursos convencionais, alternativos e digitais, em diferentes meios e tecnologias. (BRASIL. 2017, P. 483)

As intervenções artístico-culturais vêm, nessa perspectiva, do fato de abrirmos espaço para atividades que promovam o contato com os artistas e trocas de conhecimentos entre toda a comunidade escolar. Destaco alguns parâmetros dispostos na BNCC que tratam sobre as temáticas a serem abordadas nas relações de ensino/aprendizagem de Arte:

(EF15AR07) Reconhecer algumas categorias do sistema das artes visuais (museus, galerias, instituições, artistas, artesãos, curadores etc.). [...] (EF69AR01) Pesquisar, apreciar e analisar formas distintas das artes visuais tradicionais e contemporâneas, em obras de artistas brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas e em diferentes matrizes estéticas e culturais, de modo a ampliar a experiência com diferentes contextos e práticas artístico-visuais e cultivar a percepção, o imaginário, a capacidade de simbolizar e o repertório imagético. [...] (EF69AR24) Reconhecer e apreciar artistas e grupos de teatro brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas, investigando os modos de criação, produção, divulgação, circulação e organização da atuação profissional em teatro. (BRASIL. 2017, P. 207)

Para a BNCC (2017), fica explícita a preocupação com os educandos, pois há a necessidade de reconhecer e valorizar as manifestações e diversidades culturais dos alunos, principalmente, os da sua localidade.

Outras disposições importantes referentes à temática da atividade de apreciação significativa em música contidos nos PCN (BRASIL, 1997, P. 55, 56).

● Percepção e identificação dos elementos da linguagem musical em atividades de produção, explicitando-os por meio da voz, do corpo, de materiais sonoros e de instrumentos disponíveis.

● Identificação de instrumentos e materiais sonoros associados a idéias musicais de arranjos e composições.

● Observação e discussão de estratégias pessoais e dos colegas em atividades de apreciação.

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● Apreciação e reflexão sobre músicas da produção, regional, nacional e internacional consideradas do ponto de vista da diversidade, valorizando as participações em apresentações ao vivo.

● Discussão e levantamento de critérios sobre a possibilidade de determinadas produções sonoras serem música.

● Explicitação de reações sensoriais e emocionais em atividades de apreciação e associação dessas reações a aspectos da obra apreciada. (BRASIL, 1997, P. 55, 56)

Os parâmetros orientam as atividades sobre os aspectos fundamentais das atividades propostas pelo projeto musicando na escola, as atividades em sala e apreciação musical fora da sala com artistas cantores e instrumentos visam conduzir os alunos a uma experiência com vivência e expressividade.

Em complementação com as bases na área da educação musical da educação, Brito (2001) faz menção de aspectos importantes para os processos educacionais que possibilitam uma formação integral na educação musical:

Processos de educação musical que tenham como objetivo a formação integral do ser humano só podem acontecer em contextos que respeitem e estimulem os alunos a explorar, experimentar, sentir, pensar, questionar, criar, discutir, argumentar... Propostas que propiciem o desenvolvimento da autodisciplina e da capacidade de refletir, de questionar, de criticar, dentre outros aspectos, tornam-se, então, aspectos fundamentais em tal proposta, promovendo situações para o exercício da comunicação e do relacionamento humano, estimulando o debate e a conscientização de aspectos relativos à música e ao humano. (BRITO, 2001, P. 3.)

Tomando como referência as literaturas analisadas sobre as temáticas o presente projeto de intervenção de aulas em sala em seu conceito fundamental tem como objetivo a propiciação do debate quanto às problemáticas e a reflexão dos assuntos estudados.

Outro detalhe importante é respeitar o contexto dos alunos, levando-os à reflexão, debates, questionamentos etc., são aspectos fundamentais que tenho observado na literatura analisada.

A proposta pedagógica das atividades em sala com a turma foram pensadas para o público do ensino médio, com intuito de estimular a curiosidade e promover o desenvolvimento dos conceitos temáticos da história da música e temas correlatos como Identidade Cultural e Formação Musical, com atividades que despertam as necessidades dos

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indivíduos, aproveitando a musicalidade que carregam dentro de si. Paynter fala um pouco das práticas voltadas para jovens e adultos. Para ele,

a pedagogia de Wuytack é dedicada ao ensino coletivo de música, não definindo uma idade específica para o início da aprendizagem musical. Algumas atividades apresentam uma sugestão de idade para determinado exercício musical, que varia entre 5 e 13 anos de idade, podendo esta faixa etária ser considerada a abrangência em que o sistema está inserido. É evidente que todos os exercícios podem ser adaptados para todas as idades, incluindo o ensino de jovens e adultos, nesse caso aumentando o grau de dificuldade e complexidade dos exercícios e materiais. No entanto, para as atividades abaixo descritas, a faixa etária recomendada situa-se aproximadamente entre 6 e 12 anos. Serão apresentados exemplos de ostinatos e de canções com gestos e movimento. (MATEIRO, ILARI, 2011, p. 329).

Já as propostas musicais que exploram atividades de paisagem sonora, canto, movimento, pensamento rápido e trabalho em conjunto, são semelhantes à proposta de Jaques-Dalcroze. De acordo com Mateiro e Ilari (2011, p.40),

as três ferramentas básicas do Método Dalcroze são a rítmica, o solfejo e a improvisação. A utilização do método deve contemplar, portanto, a experiência do movimento, os aspectos do treinamento auditivo e vocal e os aspectos de improvisação, para proporcionar os pensamentos musicais próprios. O material didático deve ser elaborado pelo próprio professor, de acordo com a necessidade dos alunos. Deve ser de ordem progressiva, partindo de divisões rítmicas simples e melodias menos extensas. Convém que seja adaptado a cada situação, respeitando a cultura local, utilizando elementos da cultura popular, assim como o instrumentário de cada região. (MATEIRO, ILARI, 2011, p. 329).

As atividades de intervenção artístico-cultural, portanto, foram pensadas com base nas rodas de conversas com professores e estudantes e nas trocas de experiências musicais na Escola. Inicialmente, como será demonstrado a seguir, foram realizadas atividades como: reunião com a direção da escola; reconhecimento da estrutura física do colégio; reunião e discussão sobre o currículo pedagógico da escola; breve análise currículo pedagógico da disciplina de artes; e, conversas com os professores sobre a temática, relacionadas às preferências artístico-musicais dos estudantes.

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O projeto Musicando na escola através das intervenções artísticos-cultural tem o objetivo de desenvolver as seguintes atividades:

Aulas de apreciação musical como possibilidade de ampliação de referenciais estético : Apreciação de músicas e estilos diversos, Artistas potiguares diversos, análises do repertório dos artistas, manifestações culturais locais.

Contato com Artistas Potiguares: Apresentações didáticas, Palestras, Mini Curso, Master Class.

Essas atividades têm o objetivo de propiciar para a comunidade escolar o contato e a vivência com as atividades de apreciação musical, cujo intuito principal foi propiciar a visualização do campo para que tivéssemos condições de construir, reproduzir, criar e produzir os conteúdos musicais, com vistas à sensibilização e formação artística e humana dos envolvidos.

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4. RESULTADOS DA INTERVENÇÃO ARTÍSTICO-CULTURAL NA ESCOLA

Neste capítulo, narro relato de experiência referente às atividades que comporam as atividade do estágio supervisionado, observações, ministração de aulas e a execução da intervenção artístico-cultural realizado na Escola Estadual Governador Walfredo Gurgel.

As atividades em grupo e o repertório musical utilizados foram as canções populares que permeiam o cotidiano dos alunos, concordando com as histórias trabalhadas em sala.

No 1° encontro foram feitas observações que marcaram os primeiros contatos com o ambiente escolar. Os primeiros encontros com a escola foram facilitados pelo fato de que passo, constantemente, pela entrada da escola, pois ela está localizada perto da minha residência, no mesmo bairro. No dia 07 de agosto, fui à escola para me identificar e conversar com a coordenação sobre o projeto das intervenções artístico-culturais. Ao chegar, fui bem recebido pelas secretarias e gestores, que apresentaram um pouco de dificuldade, pois estava iniciando o terceiro bimestre, mas abriram uma exceção em me receberem, caso o professor de artes o concedesse.

No 1° dia de observação, 2° encontro, ​fui ao encontro do professor Alberto Bruno F. Caldas, que me recebeu muito bem e aceitou a execução do meu projeto de intervenção artístico-cultural. No dia 23, dei início à observação na aula de artes.

Antes da aula, sentei-me com o professor para conversar e debater sobre as ideias e as temáticas, assim, o professor mostrou o que vem trabalhando com os alunos e os projetos que já vinha realizando. Relatou que no momento estava focado em apresentar filmes e pedir para escreverem relatórios para contribuir com a prova do Enem e que a disciplina de Artes não reprovava os alunos. Outro projeto que estava trabalhando era a análise de estilos musicais e grupos específicos (bandas do Rock Nacional dos anos 80).

Após a reunião, o professor Bruno Caldas iniciou a aula, me apresentou à turma e falou um pouco acerca dos assuntos que seriam vistos durante as minhas atividades. Em seguida, direcionou a classe para a sala de cinema para dar continuidade aos assuntos e filmes com temáticas já estabelecidas. Na classe, os alunos sempre ficaram sentados com os braços apoiados nas carteiras, alguns utilizam fones de ouvidos e outros ficaram de pé. Dentro do cinema, os alunos permaneceram distribuídos em cadeiras variadas, uns sentados e outros

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deitados, colocando as pernas nos bancos da frente, alguns utilizam celulares durante o filme para acessar as mídias sociais e games.

No 2° dia de observação, 3° encontro, a escola estava promovendo uma gincana com os alunos e todos estavam reunidos no pátio da cantina, onde ficaram todos em pé, fazendo uma roda, e foram realizadas apresentações de danças as quais as salas apresentaram, desafiando as outras salas. Na ocasião, o grupo de dança da escola também se apresentou.

Os grupos apresentaram um repertório musical com uma proposta pop da música de massa internacional, música de artistas como Beyonce, Kelly Rowland, Michelle Williams. Percebi, em praticamente todos os momentos da dança, movimentos sensuais que exploram o corpo e que, em momentos pontuais, a plateia aplaude e grita respondendo ao respectivo movimento corporal.

Após as apresentações de danças foi feita a entrega de certificados e presentes para alguns alunos: melhor leitor, melhor nota, frequência etc. Notei também, de modo acentuado, o excesso de volume do som, tanto da música como da locução que controla os momentos do evento (a locução era repetitiva nas informações, cada informação repete umas duas vezes).

Após a entrega, foi realizada a apresentação das equipes da gincana, que são quatro: Preta, Laranja, Rosa e Verde. Cada equipe tinha uma música e um mascote fantasia, e entrou cantando e dançando ao som da música previamente planejada (músicas de artistas como Sean, Bobo, Bonde do Tigrão e Dragon Ball Z e Henry Mancini). Cada equipe repetiu os seus gritos de guerra como forma de chamar a atenção dos outros grupos. No decorrer das apresentações das equipes, realizaram provas que exploraram as atividades artísticas, a elaboração de músicas sobre a escola, e a dança em conjunto, de estilos variados (forró, frevo, bumba meu boi e capoeira) e provas de atividades físicas.

No terceiro dia de observação ​, 3° encontro, a turma se encontrou na sala de cinema da escola para o início da aula. Na ocasião, o professor passou um clipe de um grupo de música pop, em um formato terror, e, ao final da aula, os estudantes debateram sobre o clipe, o que me possibilitou colher as suas opiniões e percepções do clipe musical. Desse modo, pude perceber que os alunos consideram o conteúdo normal, e que, apesar de mostrar cenas de terror, morte e desespero, eles não se sentem afetados em nada. Um dos alunos afirma: “algo

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bem normal professor”. A música de nome Kolshik (Кольщик - traduzido para o português, Tatuador), em formato de clipe, é da banda de punk-rock Russa, Leningrad.

Após o clipe, o professor continua passando o filme O Abutre (Dan Gilroy), seguindo na parte em que o ator protagonista Louis Bloom (Jake Gyllenhaal) começa a invadir cenas de crimes para filmar e, através das gravações dos fatos, aumentar a audiência do programa de TV. O filme quer mostrar a frieza e a curiosidade, misturadas com a crueldade social e a dormência que apresentamos, através do nosso consumo de jornais sensacionalistas. Assim, como a classe achou normal o clipe Kolshik (Кольщик) de suspense, o filme O Abutre em que mostra os modos operantes dos meios de comunicação e as cenas de terror, praticamente não sensibilizou a turma quanto à dor do outro.

Os pesquisadores Valdecir Becker e Daniel Gambaro apresentam algumas análises em relação à pesquisa sobre a audiência televisiva dos programas de TVs brasileiros (BECKER e GAMBARO, 2016), para eles,

a linguagem do telejornalismo brasileiro, especialmente nos programas ao vivo e na cobertura local, tradicionalmente, buscou dar ao telespectador a sensação, ou o sentimento, de fazer parte da história, do fato. O objetivo é fazer com que o telespectador passivo, que recebe a notícia, se identifique com os personagens apresentados pela televisão...[...]. Um recurso muito utilizado para atingir tal objetivo é a dramatização das notícias, que cria um efeito de contato em que a representação do mundo torna-se (sic) o próprio mundo para o espectador. Trata-se de um efeito de onipresença que autentica o evento através de um sentimento semelhante ao voyeurismo (BECKER e GAMBARO, 2016, P. 68).

Os pesquisadores Becker e Gambaro (2016) apresentam que as TVs ainda são conservadoras e que só fazem mudanças em momentos estratégicos e que o formato jornalístico que se aproxima da realidade da população é um fato do qual as programações têm se aproximado.

Apesar da aparente estabilidade das receitas, as emissoras de TV aberta buscam formas de propor uma programação que, ao mesmo tempo, mantenha audiência e seja mais barata. Como vimos, o espaço ocupado pelos programas ao vivo é parte dessa estratégia. O jornalismo é essencial entre esses programas, apesar da perda de credibilidade da informação jornalística na televisão. A recuperação passa, como referido, pelo investimento no

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sensacionalismo e na maior interação dos apresentadores com o público (BECKER e GAMBARO, 2016, P.76).

Apesar da falta de credibilidade que a população dispensa aos jornais, as TVs oferecem conteúdos que afloram os sentidos humanos, como a curiosidade, o afeto, a empatia ou a apatia. Durante o filme, os alunos permaneceram dispersos pela sala, uma parte maior do grupo sentou nas cadeiras mais distantes da tela e permaneceram silenciosos e apáticos quanto aos conteúdos.

Após as observações de aulas ministrada pelo professor Alberto Bruno iniciei o processo de ministração de aulas, em cumprimento ao exigido pela disciplina Estágio Supervisionado dos cursos de graduação em licenciatura e, ainda, fazendo parte da monografia, realizei um tipo de observação do campo pesquisado, ouvi os alunos dialogarem e debaterem sobre as temáticas musicais e transversais aos temas propostos e vivenciados no campo de estudo, que é o contexto da comunidade.

No 1º dia de regência ​, 5° encontro, a aula iniciou com os alunos chegando e se sentando nas cadeiras de forma aleatória, as cadeiras da sala estavam em uma proposta de cinco filas, uma cadeira do lado da outra. Os alunos que têm mais afinidade uns com os outros sentam perto e outros mais isoladamente, alguns utilizam celulares durante a aula, mas, no geral, participaram dos diálogos e debates. Primeiro, me identifiquei e eles perguntaram sobre o curso e a diferença entre bacharelado e licenciatura. Após minha identificação, pedi para cada aluno contar um pouco da sua história e das suas vivências e contato com a música.

Todos os alunos participaram e colaboraram nos diálogos, percebi, em falas, que alguns alunos associam as suas vivências musicais apenas com tocar um instrumento, para eles, as atividades de ouvir, apreciar ou até cantar uma canção no chuveiro, não faz parte do contato com a música, haja vista que, esse contato, para eles, limita-se à execução de uma música em um instrumento. Por essa razão, veem a “música” como algo difícil de alcançar que só existe nas escolas de música, conservatórios, teatro ou que só é músico quem estudou e praticou música. Maura Penna (2018, p. 48 e 49), no livro Música e seu Ensino(s), aborda alguns aprofundamentos acerca da sedimentação da música popular e erudita, causada pela relação de oposição existente entre ambas.

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A autora assim disserta: “apontamos a pertinência, para o campo da educação musical, de colocar em discussão a oposição entre música erudita e música popular, que tem se mantido e reproduzido histórica e culturalmente, sedimentando práticas culturais valores sociais distintos”.

Assim, a oposição permanece nas consciências dos indivíduos, sendo comum o mesmo perfil de comportamento apresentado pelo artesão em Belém, em alguns pensamentos dos alunos participantes desta pesquisa: “não tenho nenhum contato com a música, só escuto”. Esse discurso revela que, para eles, o “contato com a música” se limita a tocar ou cantar profissionalmente em um grupo ou estudar em uma escola de música, ou seja, seria o contato com algum instrumento.

Até aqui, falei um pouco sobre o que vi no decorrer das aulas, e sobre vivências artísticas e manifestações musicais artísticas, sempre estabelecendo ligações com assuntos apresentados pelo saber dos alunos, levando em consideração algumas bandas e grupos musicais que os alunos apresentaram como referências (Nirvana, Cachorro Grande, The Collens, Guns N' Roses), bem como ritmos e estilos musicais (funk, rock, rap, forró, sertanejo).

No 2º dia de regência 2 ​, 6° encontro, ​os alunos foram chegando de 1 em 1, após o intervalo, e se sentando nas carteiras, hoje sentam-se perto uns dos outros. Consegui identificar alguns grupos uns no fundo da sala, outros nas laterais, que, geralmente, agem em conjunto, para perguntar, rir ou conversar entre si. Dei início à aula falando um pouco sobre algumas temáticas da aula passada, após isso, iniciamos as conversas que, basicamente, permearam os seguintes questionamentos: O que é Arte? O que é Música? O que é Manifestação Artística? Quais as manifestações vocês mais gostam?

Todos os diálogos e conversas caminharam para as respostas, em conjunto, das perguntas. Após as conversas e o recolhimento das informações que eles deram, mostrei textos de alguns pensadores, Bohumil Med (1996), Maura Penna (2018) e ​Schafer (1992)​, que esclareceram sobre as questões, buscando levar o conhecimento à turma e proporcionar que desenvolva curiosidades sobre os temas tratados.

Além dos diálogos e conversas com a turma sobre as temáticas junto às literaturas dos temas, também dei início ao desenvolvimento do tema solicitado pelo professor supervisor do

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estágio: Rock Nacional dos anos 80. Assim, comecei falando sobre a história do Rock and roll, suas influências e contexto social, passando por cada década do século XX, pontuando as principais referências e mudanças importantes, mencionando os artistas que fizeram sucesso, até chegar na década de 1980, quando dei ênfase às bandas de rock nacional, contexto, referências e estilos que as influenciaram.

Os alunos demonstraram interesse em determinados momentos das aulas, contudo, em outros houve muitas conversas paralelas e brincadeiras entre eles, o que me levou a precisar levantar a voz e pedir silêncio. Também notei a facilidade que a turma apresente de se dispersar, e entrar em assuntos paralelos ao do tema. Apesar de apresentarem muitas dúvidas, deu para entender que eles querem ser ouvidos, se expressarem e estudarem os assuntos que têm curiosidades, mesmo assim, consegui guiá-los de volta ao eixo temático.

No 3º dia de regência, 7° encontro, ​os alunos foram chegando pouco a pouco à sala, sentando-se de forma aleatória, na parte das laterais, perto da parede e nas cadeiras da frente. Comecei a falar com os alunos sobre assuntos das aulas anteriores, sobre o filme que foi mostrado pelo professor de artes, Alberto Bruno, nas aulas anteriores. Assim, com a mediação do professor Bruno fomos conversando e debatendo sobre as temáticas abordadas pelo filme. Os alunos falaram sobre suas experiências de vida, em relação às temáticas do filme, e a s aula se desenvolve baseada nos diálogos e experiência vivenciadas pelos alunos e pelos contextos nos quais os alunos estão inseridos, suas visões de vida e universo.

Desse modo, após as conversas, dei início à contextualização da história da música, antes do rock, pois vi que é preciso preencher uma lacuna sobre os estilos musicais e o contexto que antecedem o rock nacional dos anos 1980. Os alunos ficaram bem interessados pelos assuntos e participaram, com suas contribuições, em alguns momentos.

Para melhor compreensão, foram feitas audições de estilos musicais, utilizando poucas análises, somente para a contextualização dos movimentos que antecederam o rock, como: Samba, Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicalismo. Com, praticamente, unanimidade os alunos aceitaram as contextualizações e foram bastante consoantes com o programa de estudos que seguimos nas aulas seguintes.

No 4º dia de regência ​, 8° encontro, os alunos foram chegando pouco a pouco na sala, sentando-se de forma aleatória. Após todos chegarem, dei início a aula sobre manifestações

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culturais. Primeiro, perguntei se eles já ouviram falar sobre a manifestações brasileiras e pedi para irem citando e falando se pertencem a alguma manifestação. Dessa forma, falei sobre algumas manifest​ações artísticas folclóricas brasileiras, entre outros exemplos de artes integradas, como: Festa Junina​, Folia de Reis​, Carnaval​, Samba, Maracatu, Catira, Baião, Frevo, Literatura de Cordel​, Circo, Cinema etc. As atividades foram pensadas para complementar as lacunas exis ​tentes para contextualizações das aulas sobre artes e música e sobre temas futuros.

Após as análises e conversas, entramos no tema sobre a arte potiguar, a música potiguar e suas manifestações, bem como cantores e músicos potiguares. Perguntei se conheciam artistas, cantores, instrumentistas ou artistas de artes diversas potiguares. Alguns alunos falaram sobre seus contatos com artistas da terra, mas percebi o vazio que a música potiguar tem na escola, visto que os alunos parecem ter mais convivência com as manifestações internacionais, ou de música de massa, o que não se pode desprezar, pois as diversas manifestações já estão enraizadas nos contextos sociais brasileiros. Após as conversas, falei sobre os cantores potiguares e o meu projeto de pesquisa de conclusão de curso, cujo intuito é trazer esses artistas para cantarem na escola.

O 1° dia de intervenção aconteceu no 9° encontro. No referido dia, dei início a articulação com a coordenação sobre a apresentação dos artistas, vendo o local do show e a instalação do palco, com o apoio dos zeladores da escola. Percebi que a comunidade escolar estava bem engajada para a execução das intervenções, sempre conversando, e com esperanças de boas trocas de experiências. Os artistas também demonstraram muita vontade e engajamento na preparação dos recursos para executar a sua arte.

Quando chegaram à escola, os artistas foram bem recepcionados pela coordenação da escola. Percebi uma ansiedade natural nos alunos, pois não são acostumados a receber artistas e apresentações de shows com frequência. Os professores e coordenadores falaram da preocupação em receber e ornamentar a escola e organizar o palco para o show, bem como, servir alimentação e água para os artistas.

Em seguida, os artistas organizaram os instrumentos e o som, afinam os instrumentos e passam o som, equalizando os canais de cada entrada da mesa de som. Em todos os momentos das preparações dos equipamentos, a plateia esteve sempre de olho em cada passo e atitude

Referências

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