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LEITURA E ESCRITA EM LÍNGUA PORTUGUESA COMO SEGUNDA LÍNGUA: UMA PERSPECTIVA DE LETRAMENTO PARA SURDOS

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Academic year: 2021

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LEITURA E ESCRITA EM LÍNGUA PORTUGUESA COMO

SEGUNDA LÍNGUA: UMA PERSPECTIVA DE LETRAMENTO

PARA SURDOS

Prof. Ma. Mariana Gonçalves Ferreira de Castro-UERJ1; Prof. Ma. Valeria de

Oliveira-UERJ2; Prof. Dra. Celeste Azulay Kelman - UFRJ3; Graduanda Jéssica Carvalho -

UERJ4; Graduando Márcio Belém - UERJ5

Programa Rompendo Barreiras: Luta pela Inclusão – Faculdade de Educação – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PRB- UERJ) – rompendobarreiras@gmail.com - Grupo de Estudos e Pesquisas sobre

Surdez – Faculdade de Educação – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (GEPeSS-UFRJ)

O Porquê da Luta por uma Educação Bilíngue para o Surdo

Na Antiguidade, ler e escrever eram ofícios restritos apenas aos profissionais que exerciam tais atividades. Ler e escrever eram profissões. Hoje sabemos que ler e escrever não são marcas de sabedoria, mas sim de cidadania (Ferreiro 2012). Segundo Ferreiro (2012, p. 13), “ler e escrever são construções sociais” e, por conseguinte, é direito de todos.

Segundo o sistema de ensino brasileiro, dos 4 aos 17 anos, crianças e adolescentes permanecem na escola recebendo informações em diferentes áreas do conhecimento em sua primeira língua (L1), o Português. A criança ouvinte aprende como decodificar através da leitura e codificar ao escrever uma língua que ela adquiriu naturalmente no convívio social. E o surdo, qual a sua real situação de ensino frente à diversidade linguística que enfrenta, já que tem o português como sua segunda língua (L2)?

1 Graduada em Pedagogia – UCL; Graduada em Intérprete de LIBRAS - UNESA, Especialista em deficiência auditiva -UNIRIO;

Mestre em Educação - UNESA; Professora Assistente da disciplina LIBRAS na Faculdade de Educação da UERJ. e-mail: marianagfcastro@gmail.com

2 Graduada em Letras UERJ e Pedagogia UCB; Especialista em Surdez e Letramento em Anos Iniciais para Crianças e EJA

-INES-MEC / ISERJ; Especialista em Linguística Aplicada à Área de Saúde - UERJ; Pós-Graduanda em Psicopedagogia - UERJ; Mestre em Educação - ProPEd-UERJ; Coordenadora Pedagógica do Programa Rompendo Barreiras: Luta pela Inclusão - FACEDU-UERJ. e-mail: prof.valeria_libras-braille@hotmail.com

3 Graduada em Psicologia - UFRJ; Mestre em Educação - ProPEd-UERJ; Doutora em Psicologia - UnB; Professora Adjunta do

Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRJ. Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Surdez – GEPeSS. e-mail: celeste@kelman.com.br

4 Graduanda em Pedagogia - UERJ; bolsista do Programa Rompendo Barreiras: Luta pela Inclusão (PRB-UERJ);e-mail:

jessica-15-ferreira@hotmail.com

5 Graduando em Filosofia - UERJ; bolsista do Programa Rompendo Barreiras: Luta pela Inclusão (PRB-UERJ); e-mail:

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Buscando adequar o sistema de ensino brasileiro às necessidades educacionais do estudante surdo e lutando por uma educação que para ele apresente características que se assemelhem ao quadro supracitado, há mais de duas décadas o movimento de lutas pelos direitos da pessoa surda reivindica um sistema de ensino que não exclua o surdo, que respeite sua diversidade linguística. Nesse sentido, ao longo dos anos, foram promulgadas leis que garantem o direito ao bilinguismo (BRASIL, 2002; 2004; 2005; 2009).

Entretanto, apesar da luta da comunidade surda por uma educação bilíngue respaldada por instrumentos legais, ainda encontramos práticas de ensino para surdos puramente mecânicos, conteudistas em que o aluno surdo é um mero copista e suas características linguísticas são desrespeitadas. Tais práticas têm como resultado o fracasso e evasão escolar; prematuramente, do estudante surdo. E os surdos que permanecem na escola tornam-se analfabetos funcionais, cuja certificação de ensino básico lhes garantem uma colocação no mercado de trabalho. Mas a falta do domínio instrumental do Português o impede de atuar em áreas cuja comunicação escrita é essencial.

Mediante esse dilema que se impõe, propomos investigar a(s) forma(s) mais apropriada(s) de garantir o ensino da Língua Portuguesa como língua instrumental para surdos que não tiveram oportunidade de aprendizado bilíngue ao ingressar no sistema oficial de ensino. Essa proposta de letramento surgiu em outubro de 2013 e, desde então, a partir de contextualizações em LIBRAS, trabalhamos com textos que tenham sentido para os surdos que participam das aulas de Português.

Ler e Escrever: Prática iniciada no cotidiano da criança

Ainda hoje, permanecem dúvidas acerca de como abordar as questões referentes ao aprendizado da leitura e escrita. Estamos falando de letramento ou alfabetização? Sobre o letramento, Soares (2006) diz que é o estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce práticas sociais através da escrita. Letrada, portanto, é a pessoa que exercita os poderes conferidos pelos atos de ler e escrever. Por conseguinte, segundo a autora, alfabetização seria, somente, a “ação de ensinar/aprender

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a ler e escrever”, sem o exercício desse aprendizado em suas práticas cotidianas. E é esse o quadro apresentado quando se trata da educação de surdos. Muitos desses indivíduos terminam o ensino básico sabendo juntar letras, conhecendo a morfologia de palavras, mas com prejuízos de ordem morfossintática e semântica. Sem conseguir significar seus textos ou captar a essência do que leem. Além do contexto educacional de exclusão em que ainda permanece o surdo que passa pelos anos escolares iniciais, também é possível perceber o quanto vai diminuindo o quantitativo de estudantes surdos a partir dos anos finais do ensino fundamental.

À medida que buscamos informações sobre a presença do surdo no ensino médio e superior, percebemos que esse quantitativo é cada vez mais reduzido. Por conseguinte, indagamos: depois de passarem por um curso de Português como L2, surdos candidatos ao ensino médio, a exames vestibulares e estudantes do ensino superior melhorariam seu desempenho ao fazer uso da leitura e da escrita instrumental em Português?

O Programa Rompendo Barreiras: Luta pela Inclusão (PRB-UERJ), da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, vem acompanhando jovens surdos que querem melhorar seu nível de compreensão, leitura e escrita do português como segunda língua. Embora a Universidade disponibilize intérprete de LIBRAS aos candidatos ao vestibular que solicite tal tecnologia assistiva, levantou-se que a etapa discursiva se torna uma barreira difícil de ser rompida pelo surdo. Essa também é uma realidade apresentada nos exames do ENEM. Também é possível perceber que mesmo aqueles surdos que conseguem ingressar no ensino superior, presencial ou a distância, encontram dificuldades ao ler e escrever suas atividades acadêmicas.

O PRB-UERJ verificou que dentre o quantitativo de estudantes que procuram auxílio, o número de surdos é muito menor que os de cegos, com baixa visão ou outras deficiências. Com o objetivo de contemplar estudantes surdos que pretendem ingressar no ensino superior e os que passaram pelo vestibular e encontram dificuldades para permanecer em seus cursos,do o projeto PRB-UERJ abrirá inscrições, para um curso de Língua Portuguesa como segunda língua (L2) para surdos (Quadros, 2006).

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De acordo com Kelman (2011, p.2) “a receita para que o aluno surdo tenha um

bom desempenho escolar passa necessariamente por transformar o currículo em um

continuum de processos de significação”. Pelo exposto e tendo em vista o insucesso histórico do surdo submetido a currículos que desconsideram suas especificidades (pessoa surda cuja L1 é diferente do Português em suas modalidades de recepção e produção), optamos pela prática do ensino do Português como L2 em uma perspectiva bilíngue. Dessa forma, propiciamos experiências reais, com materiais didático-pedagógicos e acadêmicos que possibilitem leituras funcionais, de forma a que possam constituir significados no que leem e escrevem, de forma contextualizada. O projeto, em sua nova versão, será ministrado por duas Pedagogas Mestres em Educação e especialistas na área da surdez, sendo uma delas formada em letras e especialista em Linguística Aplicada, e a outra Intérprete de LIBRAS. Toda informação será disponibilizada para o surdo em sua L1. De alguma forma, parte do que é dito em LIBRAS faz parte de seu cotidiano, eles só não dominam alguns significados do Português, principalmente os metafóricos.

O projeto foi inicialmente implementado em outubro de 2013, mas, nem todos os alunos que estão conosco hoje fazem parte do primeiro grupo. Esse é um dilema que enfrentamos na pesquisa. Hoje temos 12 surdos, com idade entre 11 e 18 anos, oriundos de duas escolas, uma pública que é especial, onde só tem surdos e outra privada que é regular e recebe muitos surdos. Alguns dos nossos alunos apresentam outros comprometimentos além da surdez, tais como encefalopatia, síndromes raras, deficiência intelectual e outras.

Temos uma sala ampla com mesas grandes em formato circular de modo que cada alunos e integrante da equipe de pesquisa possa ver os demais. Essa disposição favorece a comunicação visual entre todos. Possuímos alguns recursos, como televisão,

data show e computador, além do sinal de wifi, que permite a conectividade. Vale

destacar que quase todos, alunos e equipe de pesquisa, têm dispositivos móveis com acesso à internet. Para aqueles que não têm tais equipamentos, dispomos de dois tablets para empréstimo em sala de aula.

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Embora o ensino de uma L2, quase sempre, tenha uma abordagem que privilegie as quatro competências linguísticas, compreender (ouvir), falar, ler e escrever, baseamos nossa atuação de ensino do Português nas técnicas de ensino de língua estrangeira instrumental, dando ênfase somente às habilidades de recepção da leitura e produção escrita. Os discentes surdos recebem suas atividades por escrito e são incentivados, inicialmente, a interpretá-las, demostrando através da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS habilidades de compreensão textual.

Trazer o surdo que tem a LIBRAS como L1 para o contexto do ensino da Língua Portuguesa tem sido um desafio de conquista e demonstração de respeito à diversidade linguística desses estudantes. Mostramos o quanto sua L1 é importante para os processos cognitivos e de subjetivação e também tornamos evidente que a L2 é essencial para sua vida escolar/acadêmica e profissional. Por conseguinte, perseguimos o desafio de aplicar metodologia diferenciada, com material didático-pedagógico pensado especificamente para esse grupo.

Kelman (2011) ao citar Vigotski (1931/1983), comenta que o conceito de

internalização, nas relações interpessoais, por meio da linguagem, do sistema escrito e

de outros conjuntos de signos, leva as pessoas a formar sua subjetividade, seu pensamento e sua ação. Nesse sentido, entendemos que os surdos ao interagir com a equipe de pesquisa que, além das pesquisadoras já citadas nesse trabalho, também conta com três graduandos ouvintes da UERJ, (duas estudantes de Pedagogia em processo de aprendizagem da LIBRAS e um estudante de Filosofia, filho de pais surdos), uma professora surda, especialista em educação especial, têm seu desenvolvimento impulsionado. Encontram, dessa forma, pares mais competentes, como diz Vigotski (1931/1983) em sua teoria sociointeracionista.

Com temáticas variadas, desde o início da pesquisa, diferentes atividades vêm sendo planejadas e executadas com o grupo. O importante é a motivação, o quanto somos capazes de despertar a atenção dos estudantes e o gosto pela leitura e escrita. Nossa proposta é o uso da língua em situações cotidianas e reais.

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Como resultado inicial, percebemos que os surdos do projeto vêm buscando novas fontes de leitura, além de esboçarem escritas mais estruturadas. Além das atividades propostas nos encontros semanais na universidade, eles vêm tomando iniciativas espontâneas de uso do Português escrito nas redes sociais. Com o uso de dispositivos móveis conectados em rede, nossos alunos surdos vêm se comunicando entre si, com a equipe de pesquisa e com seus familiares. Eles estão habitando o ciberespaço e deixando seus rastros autorais em Língua Portuguesa. Embora também utilizem o Skype (aplicativo que permite o envio de mensagens de imagem e vídeos), a praticidade, rapidez e possibilidade do uso de diferentes arquivos (fotos, vídeos, textos, emotions), URL e hipertextos estão no Facebook, WhatsApp e Messenger.

Observamos que o trabalhar com dispositivos móveis conectados em rede vêm despertando neles o gosto pela leitura e potencializando suas produções autorais escritas. Essa produção escrita, utilizada entre os membros pesquisadores do PRB/UERJ e os estudantes surdos vem também estimulando a comunicação escrita entre eles. Essa prática vem promovendo inclusão acadêmica e social, de forma que estão se tornando praticantes culturais da cibercultura e produtores autorais.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Lei 10436/2002. Disponível em: <

www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm> Acesso em 3 maio 15

_______. Decreto 5296/2004. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm> Acesso em 3 maio 15

_______. Decreto 5626/2005. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm> Acesso em 3 maio 15

FERREIRO, E. Diversidade e processo de alfabetização: da aceleração à tomada de consciência. In FERREIRO, E. Passado e Presente dos Verbos Ler e Escrever. 4 ed. Trad. Claudia Berliner. São Paulo: Cortez, 2012.

KELMAN. C. A. Letramento do aluno surdo: considerações sobre compreensão e escrita em L2. Publicado em 6 de outubro de 2011. Disponível em http://ihainforma.wordpress.com. Acessado em 1 de maio de 2015.

QUADROS. R. M. Políticas linguísticas e educação de surdos em Santa Catarina: espaço de negociações. In: Educação, surdez e inclusão social. Caderno CEDES, v. 26.n. 69, p. 141-61, 2006.

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SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2006

Referências

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