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IDENTIFICAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO DE NORMAS TÉCNICAS NO ÂMBITO DO ACORDO TBT

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IDENTIFICAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO DE NORMAS TÉCNICAS

NO ÂMBITO DO ACORDO TBT

MARIANA DE ASSIS PERINA

Monografia apresentada à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas.

P I R A C I C A B A Estado de São Paulo - Brasil

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IDENTIFICAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO DE NORMAS TÉCNICAS

NO ÂMBITO DO ACORDO TBT

MARIANA DE ASSIS PERINA

Orientador: Prof. Dr. GERALDO SANT´ANA DE CAMARGO BARROS Co-orientadora: Dra. SÍLVIA HELENA GALVÃO DE MIRANDA

Monografia apresentada à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas.

P I R A C I C A B A Estado de São Paulo - Brasil

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Ricardo e Elza, sempre compreensivos e incentivadores.

Aos meus irmãos José Ricardo e Ana Luísa que eu tanto amo.

A minha orientadora Sílvia Miranda, em especial, pela dedicação e paciência.

Que Deus esteja sempre do nosso lado iluminando nossas vidas.

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Agradeço,

A Deus, sempre em primeiro lugar, por me amar e me guiar em todas as etapas da minha vida.

A minha família linda, pela paciência, compreensão, incentivo e, principalmente, pelo amor recebido.

A minha orientadora Sílvia Miranda, por sua atenção, por suas sugestões e pela confiança na minha proposta. Além de uma ótima educadora, uma grande amiga.

A profa. Heloísa Lee Burnquist, por sua dedicação e por suas colaborações essenciais.

Aos professores do Departamento de Economia da ESALQ, representados pelo meu orientador, Prof. Dr. Geraldo Sant´Ana de Camargo Barros, por tudo o que eles me ensinaram e pela torcida por nosso sucesso.

A equipe do CEPEA, sempre alegres e acolhedores. Em especial ao Grupo do Meio-Ambiente e Comércio Internacional (inclusive o pessoal do GECINT), representados pelo colega Ricardo Queiroz. Sem a colaboração dele, este trabalho seria mais difícil.

As minhas “roommates”(Elisa Nishimura, Giovana Bordon e Maria Domingues) com quem compartilhei todos os momentos desta etapa da vida. Sem elas, a faculdade não teria o mesmo brilho. Que esta verdadeira amizade nunca acabe! Também não posso deixar de agradecer as novas “roommates” Maria Cláudia e Ana Paula, companheira invicta na fase de conclusão deste trabalho.

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Aos amigos da ESALQ, em especial as amigas da República Trem q. Pula. Sem eles, a faculdade não teria a mesma graça! E a todos os outros amigos que fazem parte da minha vida!

Aos funcionários da ESALQ, representados pelo “Seu Pedro”, pelo carinho e paciência.

A todos, o meu mais sincero Muito Obrigada!

Que Deus esteja sempre conosco na estrada da vida!

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SUMÁRIO

Página

LISTA DE FIGURAS... vii

LISTA DE TABELAS... ix LISTA DE QUADROS... x 1 INTRODUÇÃO... 1 1.1 Justificativa do Trabalho... 1 1.2 Objetivos... 3 1.2.1 Objetivo Geral... 3 1.2.2 Objetivos Específicos... 3 1.2.3 Estrutura do Trabalho... 4 2 REVISÃO DE LITERATURA... 5

2.1 O Comércio Internacional e as Rodadas de Negociações do GATT... 5

2.2 As barreiras ao comércio internacional:Barreiras Não-Tarifárias (BNTs)... 7

2.2.1 Barreiras Técnicas ao Comércio no âmbito do Acordo TBT/OMC... 8

2.2.1.1 O Acordo TBT... 8

2.2.1.2 Barreiras Técnicas... 15

2.3 Principais fóruns de negociações comerciais do Brasil no âmbito do TBT... 18

2.3.1 O Mercosul e o TBT... 19

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2.3.4 Rose Garden Agreement (Mecanismo 4+1)...… 21

2.3.5 A ALADI e o TBT... 22

2.3.6 A União Européia e o TBT... 22

2.3.7 Japão ... 23

2.4 O Acordo TBT e a Questão dos Transgênicos... 23

3 MATERIAL E MÉTODO... 26

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 28

4.1 Notificações ao Acordo TBT versus Objetivos Legítimos... 37

4.2 Notificações ao Acordo TBT versus Produtos... 47

4.3 A União Européia e os Transgênicos... 53

5 CONCLUSÕES... 57

ANEXOS... 60

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LISTA DE FIGURAS

Página 1 Evolução mundial das notificações ao Acordo TBT

(1995-2002)... 29 2 Participação dos países membros da OMC analisados na emissão de

notificações ao TBT (1995-2002) ... 30 3 Participação dos blocos econômicos no total de notificações TBT

(1995-2002) ... 31 4 Evolução das notificações TBT emitidas pelo Japão (1995-2002)... 32

5 Evolução das notificações TBT emitidas pelos EUA (1995-2002)... 6 Evolução das notificações TBT emitidas pela Comunidade Européia (1995-2002)... 7 Evolução das notificações TBT emitidas pelo Brasil (1995-2002)... 8 Evolução das notificações TBT emitidas pela Argentina (1995-2002)... 9 Participação das notificações ao Acordo TBT – por objetivos legítimos

(1995-2002)... 33 34 35 36 38

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10 Participação das notificações brasileiras ao Acordo TBT – por objetivos

legítimos (1995-2002)... 44 11 Quantidade notificada pelos países analisados por objetivos – Prevenção de

Práticas Enganosas (1995-2002)... 45 12 Participação dos países nas notificações ao TBT por objetivos – Proteção

da Saúde ou Segurança Humana (1995-2002)... 45 13 Participação dos países nas notificações ao TBT por objetivos – Proteção

do Meio-Ambiente (1995-2002)... 46 14 Evolução das notificações dos países analisados, por objetivos legítimos

mais citados (1995-2002)... 47 15 Participação dos países/bloco analisados nas notificações ao TBT – por

setores (1995-2002)... 49 16 Participação do Brasil nas notificações ao TBT – por setores (1995-2002)... 50 17 Participação dos EUA nas notificações ao TBT – por setores (1995-2002)... 50 18 Notificações dos países analisados ao Acordo TBT – por capítulos agrícolas

(1995-2002)... 52 19 Notificações dos países analisados ao Acordo TBT – por capítulos

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LISTA DE TABELAS

Página

1 As Rodadas de Negociações Mulitilaterais do GATT... 5 2 Composição do objetivo legítimo “Prevenção de Práticas Enganosas” das

notificações TBT emitidas pelo Brasil, EUA, UE, Argentina e Japão (1995-

2002)... 39 3 Composição do objetivo legítimo “Proteção da Saúde ou Segurança

Humana” das notificações TBT emitidas pelo Brasil, EUA, UE, Argentina

e Japão (1995-2002)... 42 4 Composição do objetivo legítimo “Proteção do Meio-Ambiente” das

notificações TBT emitidas pelo Brasil, EUA, UE, Argentina e Japão

(1995-2002)... 43 5 Composição do objetivo legítimo “Outros” das notificações TBT emitidas

pelo Brasil, EUA, UE, Argentina e Japão (1995-2002)... 43 6 Produtos Agrícolas segundo a Organização Mundial do Comércio... 48 7 Participação dos setores nas notificações dos países/bloco de 1995 a

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LISTA DE QUADROS

Página 1 Exemplos de Notificações sobre Transgênicos... 55

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Em meados de 1970, após a crise do petróleo, além da recessão nos países desenvolvidos (PD), ocorreu um avanço de novos países industrializados como exportadores de produtos manufaturados. Justificado pela tentativa de amenizar o problema da concorrência e do desemprego em certas indústrias, tornou-se crescente a proteção à produção nacional no mundo.

Segundo Castilho (1996), as rodadas de negociações conduzidas no âmbito do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) no pós-guerra provocaram uma forte redução das tarifas alfandegárias, o que fez com que os PD buscassem outros tipos de barreiras ao comércio, as chamadas barreiras não-tarifárias. Estas incluem diversos procedimentos e exigências que afetam, de algum modo, o comércio.

Na Rodada Uruguai, que ocorreu entre 1986 e 1994, foi instituída a Organização Mundial do Comércio (OMC), que incorporou o GATT, e que visa promover o livre comércio entre os países, sendo um de seus objetivos eliminar as barreiras não-tarifárias (BNTs) ao comércio. Até a Rodada Tóquio, esse tema já havia sido tratado. No entanto, na Rodada Uruguai, destacou-se a criação do Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (TBT) e o Acordo para aplicação das Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS).

O Acordo TBT, implantado em 1995, tem como objetivo garantir que regulamentos e normas técnicas não criem empecilhos desnecessários ao comércio internacional. Todos os produtos estão sujeitos ao mesmo, incluindo os industriais e os agrícolas. Os países membros da OMC limitam sua atividade regulamentadora aos

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chamados objetivos legítimos, dentre os quais, o Acordo TBT menciona explicitamente: proteção à saúde humana e animal, segurança, proteção ao meio-ambiente, defesa da concorrência e trato não discriminatório a outros países membros.

As regras impostas pelos governos sobre regulamentação e normalização sobre bens produzidos internamente e importados podem se configurar como barreiras ao comércio internacional, à medida que as tarifas estão sendo reduzidas ao longo das rodadas de negociações internacionais e as pressões políticas para proteção de setores menos competitivos estão aumentando, bem como a busca de novos instrumentos de proteção. Dessa maneira, o número de exigências técnicas sobre as importações tem aumentado globalmente, o que visa proteger o bem produzido localmente.

É importante ressaltar que a evolução do emprego de barreiras técnicas ao comércio (BT) resulta em grandes prejuízos aos países em desenvolvimento (PED), como o Brasil por exemplo, em termos de competitividade e inserção no mercado internacional.

A aplicação do Acordo TBT favorece os países desenvolvidos, pois estes têm seus processos de regulamentação técnica e normalização mais avançados desde o início de implantação do Acordo. Além disto, vale destacar a maior presença de recursos financeiros e humanos, o que acaba permitindo que esses países tenham uma participação mais efetiva na regulamentação internacional, conforme foi discutido por Barros et al. (2002) no caso do acordo SPS.

No âmbito do Acordo, foi criado o Comitê sobre Barreiras Técnicas, composto de representantes de cada país-membro. Sua finalidade é avaliar as notificações de cada país-membro sob a legislação e os regulamentos estabelecidos para garantir o cumprimento do Acordo dentro de seu território. Por notificação, entende-se um instrumento para garantir transparência, pelo qual os países passam a informar o secretariado da OMC sobre suas propostas e projetos de regulamentação técnica ou sistemas de avaliação de conformidade.

O TBT prevê também a formação de um ponto de investigação (enquiry point) em cada país, responsável por responder sobre as exigências técnicas adotadas nos

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diferentes países, bem como o fornecimento de documentação pertinente a essas exigências (artigo 10 do Acordo TBT)1.

Uma informação necessária refere-se a saber identificar a legitimidade e o potencial de normas e regulamentações técnicas em distorcer o comércio internacional entre países. Não se pode deixar de proteger o consumidor ou o ambiente com objetivo de facilitar o comércio, mas as normas não podem ser um obstáculo para proteger os mercados nacionais, criando barreiras desnecessárias ao intercâmbio comercial.

O tema Barreiras Técnicas ao Comércio é bastante complexo e muito abrangente, e tem sido muito pouco estudado no Brasil, principalmente no setor agroindustrial.

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

O objetivo do projeto é analisar como o Brasil vem incorporando as orientações e se ajustando ao Acordo de Barreiras Técnicas e comparar esse desempenho com o de alguns países relevantes, tendo em vista a evolução qualitativa e quantitativa das notificações que vêm sendo apresentadas à Organização Mundial do Comércio pelos países do Mercosul, Estados Unidos da América, União Européia (ou Comunidade Européia) e pelo Japão. O período da análise corresponde os anos de 1995 até 2002.

1.2.2 Objetivos Específicos

• Analisar como os países estão definindo normas e regulamentos técnicos, no âmbito do Acordo TBT, quanto aos seguintes quesitos: natureza ou tipo da norma, objetivos das medidas (proteção do consumidor, proteção do meio-ambiente, saúde humana, animal e vegetal, dentre outros), setor (agrícola,

1 A versão em português do Acordo TBT pode ser obtida no site:

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não-agrícola, agrícola e não-agrícola e pescados) e tipo de produto (ou capítulos do Sistema Harmonizado) a que se refere, ao longo do período de análise;

• Comparar essa normalização entre os países ou grupos de países analisados.

1.2.3 Estrutura do Trabalho

O presente estudo foi estruturado em cinco capítulos com dois anexos apresentados no final do trabalho.

No presente capítulo foi discutida a importância de se estudar o tema sobre barreiras técnicas ao comércio, bem como os objetivos gerais e específicos a serem alcançados com o trabalho.

No segundo capítulo foi feita uma revisão de literatura procurando abordar os tópicos necessários para atender aos objetivos propostos. Primeiramente, foi feita uma abordagem de como o assunto sobre barreiras técnicas tem sido tratado no decorrer das rodadas de negociações. Foi feita uma discussão sobre o Acordo TBT, bem como o tema Barreiras Técnicas. Em seguida, abordou-se como os principais parceiros comerciais do Brasil (alvos do presente estudo) tratam desse tema. Entretanto, é preciso ressaltar a falta de estudos nessa área.

O terceiro capítulo consistiu da metodologia e explicou a forma de coleta e sistematização dos dados da pesquisa, bem como o(s) método(s) que foi(ram) utilizado(s) para alcançar os objetivos propostos. O capítulo seguinte demonstrou os resultados alcançados com o presente trabalho e o quinto e último capítulo além das conclusões, compreendeu algumas sugestões para trabalhos futuros.

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A economia mundial vem passando por significativas transformações, dentre as quais se destacam a globalização dos mercados e o consequente aumento do grau de interdependência econômica entre as nações.

No ano de 1947, 23 países assinaram o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (General Agreement on Tariffs and Trade – GATT), que segundo Jank & Viégas (1999), visava “estabelecer normas e procedimentos de conduta para o comércio internacional de mercadorias”. Até hoje foram realizadas 9 rodadas, como descrito a seguir:

Tabela 1. As Rodadas de Negociações Multilaterais do GATT .

Fonte: Elaboração da autora, a partir de dados do MDIC (http://www.mdic.gov.br, acesso em 03/06/03).

*Previsão

Data Local

1947 Genebra- Suíça 1949 Annecy - França 1951 Torquay - Reino Unido

1956 Genebra

1960-1961 Rodada Dillon - Genebra 1964-1967 Rodada Kennedy - Genebra 1973-1979 Rodada Tóquio - Genebra 1986-1994 Rodada Uruguai - Genebra 2001-2005* Rodada Doha - Qatar

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As primeiras cinco rodadas, segundo Ritcher (1999), ocuparam-se exclusivamente de tratar da redução de tarifas. Na Rodada Dillon, os países europeus propuseram o método de redução linear de tarifas, o que só ocorreu na rodada seguinte. Na Rodada Kennedy, foi a primeira vez que a Comunidade Européia participou das negociações como um bloco.

Na Rodada Tóquio, iniciada em 1973, também foram negociadas as barreiras não-tarifárias. A questão das barreiras técnicas passou a ser tratada formalmente, resultando, segundo Ferracioli (2002), no “Standards Code” que teve início em 1980. Entretanto, o acordo não tinha caráter obrigatório para todos os membros do GATT e apenas 39 países, inclusive o Brasil, aderiram ao mesmo.

Na Rodada Uruguai, o GATT foi incorporado pela formação da Organização Mundial do Comércio (OMC) ou World Trade Organization (WTO). Jank & Viégas (1999) abordam a importância desta Rodada que trouxe novas reduções tarifárias para os bens industriais, aumentando o livre comércio, e em que se discutiu também a regulamentação do comércio de serviços, a propriedade intelectual (Trips), a relação entre comércio e investimentos (Trims) e sobre o setor de audiovisual, além de tratar do elevado protecionismo agrícola no mundo atual. Durante esta rodada, a questão das barreiras técnicas foi aprofundada, de tal modo que o Standards Code foi desagregado, gerando o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (TBT) e o acordo para a implementação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS). Vale adiantar que o TBT é de adesão obrigatória para todos os membros da OMC e estabelece que não se devem introduzir exigências técnicas com objetivo de criar obstáculos ao comércio.

A Rodada lançada em Doha, Qatar, no período de 9 a 14 de dezembro de 2001 e, que a princípio durará três anos, discutirá temas de grande interesse para o Brasil como agricultura, serviços, acesso a mercados, com nova etapa de redução tarifária para produtos industriais, aprofundamento de regras anti-dumping, subsídios, acordos regionais e propriedade intelectual, e novos temas como investimento, transparência em compras governamentais, facilitação de comércio e comércio eletrônico, além de meio-ambiente (CARTA DE GENEBRA,2002).

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Segundo resumo da Declaração Ministerial de Doha sobre os principais resultados desta rodada, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (2003), houve uma Declaração sobre Questões de Implementação devido às exigências dos países em desenvolvimento discutindo cláusulas de tratamento especial e diferenciado previsto nos Acordos da Rodada Uruguai. Esta Declaração aborda pontos inclusive no Acordo de Barreiras Técnicas ao Comércio.

Para Ferracioli (2002), o único tema relativo ao TBT incluído no mandato das negociações de Doha é o “ecolabelling”. Estas decisões sobre rotulagem e etiquetagem podem prejudicar as exportações, principalmente de países em desenvolvimento. Estes muitas vezes não possuem infra-estrutura tecnológica que viabilize o fornecimento das informações pedidas ou que permita avaliar a conformidade de tais exigências.

2.2 As barreiras ao comércio internacional: Barreiras Não-Tarifárias (BNTs)

Entende-se por barreira comercial, qualquer lei, regulamento, prática ou política governamental que proteja os produtores de um país contra a competição externa, que coloque obstáculos às importações e/ou exportações de um produto específico (SEBRAE,2003).

As barreiras comerciais podem ser tarifárias (imposto de importação e sobretaxas...) ou não-tarifárias (barreiras técnicas, quotas de importação, controle de preços, controles cambiais, medidas de salvaguardas, medidas anti-dumping, etc).

Castilho (1996) define BNTs como: “todas as regulações públicas e práticas governamentais que estabelecem um tratamento desigual entre bens domésticos e bens estrangeiros de produção igual ou similar”.

Castilho (1994) e Miranda (2001) adotam a classificação proposta por Deardoff (1995)2 em que as BNTs são agrupadas segundo sua natureza em: a) restrições quantitativas e limitações específicas similares; b) medidas não-tarifárias e políticas correlatas que afetam as importações; c) participação governamental no comércio e

2 DEARDOFF, A.; STERN, R. Methods of measurement of non tariff barriers to trade. Genebra:

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outras práticas que afetam o comércio; d) procedimentos alfandegários e práticas administrativas e; e) barreiras técnicas. Estas, objeto de maior interesse no presente estudo, incluem regras sanitárias e de saúde e padrões de qualidade, padrões/normas industriais e de segurança, regras para embalagens e marcas, regras ambientais e regras de anúncio e mídia.

As BNTs incluem procedimentos e intervenções que afetam, direta ou indiretamente, o comércio. Algumas destas barreiras não têm a finalidade de restringir o comércio, como é o caso de políticas regionais e macroeconômicas ou regulações fitossanitárias e ambientais, para fins de saúde pública ou preservação do meio-ambiente, mas acabam por influenciar o desempenho do comércio exterior (Castilho, 1996).

2.2.1 Barreiras Técnicas ao Comércio no âmbito do Acordo TBT/OMC 2.2.1.1 O Acordo TBT

Um dos principais objetivos da OMC é a eliminação das barreiras não-tarifárias ao comércio. Na Rodada Tóquio estas já foram negociadas. Durante a Rodada Uruguai do GATT, como já dito anteriormente, dois acordos foram estabelecidos com a finalidade de amenizar seus impactos: o acordo SPS (para medidas sanitárias e fitossanitárias) e o acordo TBT (para todas as medidas técnicas ao comércio, exceto às sanitárias e fitossanitárias).

A diferença básica entre os acordos SPS e TBT está relacionada ao seu escopo, uma vez que seus princípios gerais são os mesmos, ou seja, garantir padrões de qualidade e segurança e proteção à saúde dos consumidores. O TBT, com maior enfoque neste estudo, abrange todas as normas técnicas, padrões voluntários e procedimentos para garantir que estes sejam alcançados, a não ser que estes tratem de medidas sanitárias ou fitossanitárias, conforme definido pelo acordo SPS.

O TBT refere-se a barreiras decorrentes da aplicação de regulamentos técnicos (de natureza compulsória, elaboradas por poderes públicos), de normas técnicas

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(natureza não mandatória, elaboradas em princípio por consenso) e de procedimentos de avaliação de conformidade.

Regulamentos Técnicos são atos normativos e portarias governamentais, baixadas pelos diversos agentes do governo, que enunciam características de um produto ou processos e métodos de produção a ele relacionados, cujo cumprimento é obrigatório (SEBRAE,2003). O Estado impõe diversas condições, requisitos e regras às atividades produtivas, seja por razões de proteção à sociedade e aos interesses econômicos, seja como forma de assegurar padrões de qualidade. Isto pode gerar empecilhos ao comércio internacional. Os regulamentos se aplicam à saúde, segurança, meio-ambiente e defesa do consumidor e são elaborados por órgãos federais, tais como o INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) e pelas Associações de Classe.

Normas Técnicas são documentos estabelecidos por consenso de países (que se fazem representar na ISO – International Organization for Standadization) e aprovados por um organismo reconhecido, que fornece regras, diretrizes ou características para produtos ou processos e métodos de produção (simbologia, terminologia, métodos de ensaio, procedimentos, tamanhos, cor, padronizações, embalagens, dentre outros), cujo cumprimento é voluntário (SEBRAE,2003). Elas se aplicam em todos setores industriais e seus segmentos. São elaboradas em comitês especializados e em organismos de normalização setorial (ONS), coordenados pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

Para Pieracciani (2003), as normas técnicas se tornaram importantes instrumentos de negócios entre empresas e países. Elas são um importante indicador de desenvolvimento e qualidade de vida, além de orientar o comércio mundial como recomenda a OMC. As normas podem se transformar em barreiras aos negócios para alguns países. O autor comenta que o Brasil é reconhecido no Cone Sul pela capacidade de seus técnicos e estágio avançado da normalização, mas em termos de liderança e participação, está atrás de países como a Índia e Austrália, que entraram recentemente na normalização internacional. O representante do Brasil nas reuniões da ISO é a ABNT.

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Segundo o autor: “A posição brasileira só não é melhor porque a ABNT carece de mais peso em sua própria casa. Das quase 500 mil empresas que existem em território brasileiro, apenas 1.200 são sócias da ABNT. Isso é o mesmo que dizer que menos de 1% da classe empreendedora brasileira se importa em defender os interesses estratégicos do Brasil”.

As normas de produto3 estrangeiras mais requeridas pelos exportadores, segundo pesquisa mostrada por Ferraz Filho (1997), são as normas de qualidade.

Procedimentos de Avaliação de Conformidade, como descrito em Thorstensen (1999), são procedimentos utilizados para certificar que as exigências importantes dos regulamentos e normas sejam satisfeitas. Incluem: amostragem, testes, inspeção, avaliação, verificação e garantia de conformidade, registro e aprovação. Aceitar a equivalência dos procedimentos de avaliação de conformidade entre parceiros comerciais, ou harmonizar esses procedimentos, certamente seria uma forma de obter os esperados benefícios comerciais da aplicação do acordo.

Torna-se necessário assegurar a rapidez e igualdade na avaliação dos produtos (nacionais e estrangeiros) e não exigir mais informação do que a necessária. Preconiza-se a padronização da avaliação, transferindo-Preconiza-se as regras definidas para as instituições internacionais.

Ainda no sentido de tornar os procedimentos de avaliação de conformidade padronizados e harmonizados, o Acordo estabelece que sempre que possível, seja aceita a avaliação já realizada por um outro Membro, desde que apresente regulamentos técnicos ou normas semelhantes. É necessário que os membros aceitem estabelecer negociações visando a conclusão de acordos de reconhecimento mútuo de resultados de seus respectivos procedimentos de avaliação da conformidade.

3 Segundo Ferraz Filho (1997), as normas de produtos são usualmente classificadas em dois tipos: as

normas de compatibilidade ( que regulam a capacidade do produto funcionar em associação com outros produtos) e as normas de qualidade (que dispõe sobre qualquer outra característica do produto, como salubridade, segurança, durabilidade, etiquetagem dentre outros). As normas de qualidade podem ser classificadas em normas de “design”, que especificam como o produto deve ser elaborado e as normas de desempenho que requerem que o produto cumpra certos objetivos, passíveis de serem alcançados mediante “designs”alternativos.

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Também se espera que os membros autorizem a participação das instituições de avaliação de conformidade que se encontram no território dos outros membros em seus procedimentos de avaliação, de modo não menos favorável que a instituições localizadas em seu território ou em qualquer outro. Este é um dos temas que compreende mais artigos dentro do Acordo TBT e, infelizmente, em termos efetivos, a aceitação dos procedimentos de avaliação de conformidade e sua harmonização não tem sido uma tarefa simples para os países e para a OMC.

Todos os produtos estão sujeitos ao Acordo, incluindo produtos industriais e agrícolas. Segundo Thorstensen (1999), o objetivo principal do TBT é o de assegurar que regulamentos técnicos e normas não criem obstáculos desnecessários para o comércio internacional. O acordo negociado se aplica às características do produto e aos métodos de processo e produção que tenham efeito nas características do produto e na sua qualidade. No entanto, certos regulamentos e normas acabam sendo utilizados como forma de proteger o mercado nacional, como afirma a autora.

O Acordo TBTé composto por 15 artigos e três anexos. Tanto os regulamentos quanto as normas técnicas somente devem ser elaborados quando são necessários para realizar um objetivo legítimo. O reconhecimento desses objetivos legítimos podem se configurar como uma das fontes de falhas do acordo. Entre outros, esses são alguns dos objetivos:

• Imperativos de segurança nacional; • Prevenção de práticas enganosas;

• Proteção da saúde ou segurança humana; • Proteção da saúde ou vida animal ou vegetal; • Proteção do meio-ambiente.

Um dos princípios que norteiam esse acordo é o da harmonização. Para harmonizar os regulamentos técnicos, os membros devem participar ativamente da elaboração de normas por meio das instituições internacionais.

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Ritcher (1999) apresenta um dos princípios do acordo, o da não-discriminação, no qual os países membros da OMC comprometem-se a assegurar tratamento nacional aos produtos importados quanto aos regulamentos técnicos. Há também o princípio da transparência, que recomenda aos membros informar a OMC suas propostas de regulamentação técnica ou sistemas de avaliação de conformidade, no caso em que não exista uma norma internacional regulamentando determinado produto ou processo, ou o conteúdo técnico de uma proposta de regulamento não estiver de acordo com as normas internacionais e possa ter efeito significativo no comércio internacional.

As normas internacionais já existentes deverão ser utilizadas sempre que forem necessários regulamentos técnicos e já existirem essas normas internacionais aplicáveis, ou que seja eminente a criação destas. A não ser que sejam ineficazes ou inapropriadas para a alcançar os referidos objetivos legítimos.

Alguns outros princípios básicos que regem o Acordo TBT merecem ser destacados:

Equivalência: Os membros devem aceitar, como equivalentes, regulamentos técnicos de outros membros, mesmo que difiram dos seus, desde que satisfaçam plenamente os objetivos pretendidos.

Tratamento especial e diferenciado: os membros devem dispensar tratamento diferenciado e mais favorável aos países em desenvolvimento, e devem levar em conta suas necessidades de desenvolvimento, financeiras, e comerciais na implementação do TBT.

Além de princípios, o TBT estabelece alguns instrumentos, como por exemplo, a notificação. Fontes (2002) aponta que “as notificações são necessárias sempre que se propõe um novo regulamento interno ou se modifica um já existente, caso seja diferente do padrão internacional. Além disso, a medida notificada deve ter potencial para afetar o comércio”. Divulgada a notificação junto aos membros do Acordo, há um prazo para sua discussão e, uma vez aprovado, todo regulamento adotado deve ser publicado imediatamente.

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Essas notificações, à semelhança do que foi feito por Barros et al. (2002), consiste em fonte de informações para a análise proposta neste trabalho, e é uma das poucas fontes de dados existentes que permite analisar a evolução da implementação do Acordo TBT. Esse mecanismo está voltado a prover transparência à implementação e ao uso das normas técnicas internacionais.

O Acordo obriga os governos a estabelecerem pontos de informação, a fim de facilitar a obtenção de informações técnicas. O Ponto Focal (enquiry point) do Brasil é o INMETRO. Segundo Ferracioli (2003), o INMETRO iniciou suas atividades relacionadas às barreiras técnicas ao comércio na década de 1970, quando o tema foi apresentado à Rodada Tóquio. Suas principais funções como “ponto focal”, segundo Azevedo (1999),são:

• Comunicação à OMC dos Regulamentos Técnicos e Procedimentos de Avaliação de Conformidade elaborados no Brasil;

• Recebimento de comentários e sugestões sobre as propostas notificadas dos Regulamentos nacionais e estrangeiros;

• Encaminhamento dos mesmos aos organismos reguladores específicos e a disseminação dos resultados desse processo;

• Divulgação das notificações feitas pelos países membros da OMC, para todos os exportadores brasileiros;

• Atendimento ao público interno e externo quanto as dúvidas a respeito das notificações ;

• Contato com os Pontos Focais dos países membros da OMC.

Cabe aos exportadores a tarefa de acompanhar o nível de exigências requerido, e informar a seus governos sobre os casos de excesso praticados pelos parceiros comerciais, os quais podem ser levados para discussão bilateral ou no Comitê sobre Barreiras Técnicas.

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Este Comitê tem a função de foro de consultas sobre temas ligados à sua implementação ou a promoção de seus objetivos. É composto por representantes de cada membro signatário do Acordo. O Comitê examina as declarações sobre a implementação do Acordo e sua aplicação nos diferentes membros, além de discutir medidas adotadas pelos países e trazidas ao Comitê por outros membros sob alegação de que afetam o comércio internacional ou são inconsistentes com o Acordo. O Comitê também coordena os trabalhos do Serviço de Informação da OMC sobre Normas operados pela ISO e pela IEC (International Electrotechnical Commission), com a finalidade de reunir e fornecer informações sobre os órgãos de normalização.

Além do INMETRO, vários Ministérios no Brasil são autorizados a emitir regulamentos técnicos tanto para produtos nacionais como importados. São eles: Ministério da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento (MAPA); Ministério do Trabalho e Emprego; Ministério do Meio-Ambiente; Ministério da Defesa; Ministério dos Transportes e Ministério da Saúde.

Richter (1999), aponta algumas deficiências do acordo tais como:

• Falta de participação dos PED nos órgãos internacionais que estabelecem normas internacionais;

• Normas que são impostas pelos PD e não podem ser cumpridas pelos PED, uma vez que não consideram fatores climáticos, geográficos, ou níveis tecnológicos;

• Reconhecimento mútuo, ou seja, aumentar o intercâmbio entre PED e PD. Evitar que estes imponham normas desnecessárias;

• Falta incluir no Acordo um dispositivo que estabeleça claramente que as instituições internacionais de normalização cumpram o Código de Boa Conduta.

O Código de Boa Conduta, conforme Thorstensen (1999), estabelece que “os órgãos de normalização devem conceder tratamento aos produtos de outros membros de forma não menos favorável que o acordado para os produtos similares nacionais ou

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originados em outros países; e que os órgãos garantam que as normas não sejam preparadas, adotadas e aplicadas com vistas a, ou efeito de, criar obstáculos desnecessários ao comércio internacional”.

A efetiva aplicação do TBT interessa muito mais aos países em desenvolvimento do que aos países desenvolvidos. Apesar de ter como objetivo a facilitação do comércio e de contar com princípios teoricamente adequados a esse objetivo, autores alertam para os problemas desse Acordo. Segundo Richter (1999), o TBT apresenta inúmeras falhas, sendo extremamente genérico, dando margem a diversas interpretações, o que tem sido objeto de muitas controvérsias no âmbito do Órgão de Solução de Controvérsias da OMC.

2.2.1.2 Barreiras Técnicas

A adoção de normas técnicas comuns, segundo Castilho (1994), apareceu no âmbito do desenvolvimento industrial, como resultado do processo de massificação da produção e, também, do incremento das relações inter-industriais.

Uma barreira técnica ao comércio existe quando um país aplica regulamentações técnicas, normas ou procedimentos que implicam em restrições desnecessárias para o comércio internacional.

Há uma grande discussão sobre a definição de Barreiras Técnicas e seu escopo, o que é agravado quando se passa a questionar a legitimidade ou não das medidas técnicas, as quais, uma vez comprovadas sua ilegitimidade poderiam ser enquadradas como barreiras comerciais. Mesmo as barreiras legítimas, decorrentes de razões de segurança, ecológicas ou de proteção à saúde e ao consumidor, podem impor condições técnicas cujo cumprimento implica numa capacitação que não está ao alcance de muitos países, seja por razões técnicas e/ou pelos custos associados, retirando a competitividade de certos produtos em determinados mercados.

Castilho (1996) analisa um estudo a respeito de Barreiras Técnicas na União Européia visando diferenciar o que são exigências decorrentes da preferência do

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consumidor daquelas que constituem barreiras ao comércio. A distinção entre barreira e não-barreira está relacionada a: “(mínimo) exigências essenciais para saúde, segurança, proteção moral e ambiental a qual todos os ofertantes têm que se adequar, e onde padrões ou procedimentos nacionais são habitualmente aplicados”.

Segundo Castilho (1994), as situações em que a norma técnica se caracterizaria como BNT são: a) imposição de padrões tecnológicos e culturais incompatíveis com os do país exportador, implicando alterações importantes no processo produtivo, elevando custos sem justificativa técnica; b) discriminação de produtos importados; c) discriminação do uso de insumos, especialmente produtos agrícolas, sob a alegação, não comprovada, de danos à saúde e ao meio ambiente; e d) falta de divulgação clara sobre as exigências técnicas.

Alguns exemplos de barreiras técnicas seriam os seguintes: necessidade de dispositivos para redução de ruídos de máquinas; exigências de etiquetagem de produtos recicláveis; dificuldades com o processo de aprovação de produtos regulados ou sujeitos a normas.

Gallacher & Denyer (2002) citam o caso em que a União Européia estava bloqueando a importação de sardinha do Peru alegando que no regulamento europeu o termo “sardinha” referia-se à espécie Sardina pilchardus, comum às águas européias, e não poderiam importar a sardinha do Peru, cuja espécie seria Sardinops sagax.

Ferraz Filho (1997) comenta sobre um estudo da OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)4 concluindo que a presença de diferentes normas e regulamentos nos diversos mercados nacionais, combinada com os custos de avaliação de conformidade em relação àqueles requerimentos, podem constituir entre 2% e 10% do total dos custos de produção das empresas.

4 A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) tem sua sede em Paris e

compõe-se dos seguintes países: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Itália, Coréia do Sul, Japão, Luxemburgo, México, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos.

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O mesmo autor mostrou um estudo realizado pela FUNCEX (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior) que procurou analisar de que modo as barreiras técnicas (incluindo-se, nesse caso, as fitossanitárias/sanitárias) vinham afetando o comércio exterior do Brasil. A pesquisa foi realizada em meados da década de 1990. Procurou-se identificar os setores produtivos mais diretamente afetados pela presença de exigências externas de padrões técnicos e medidas fitossanitárias. Os dados do estudo vieram da aplicação de 1.127 questionários enviados a 967 empresas e 160 associações de classe. As empresas são responsáveis pela quase totalidade das exportações brasileiras. Trezentas e trinta e seis firmas responderam ao questionário. Foi demonstrado que “as exportações brasileiras estão submetidas a exigências externas de demonstração de conformidade numa medida muito semelhante à encontrada para demandas de adequação a normas ou regulamentos estrangeiros”. É preciso, portanto, demonstrar conformidade aos clientes estrangeiros, apesar de que o obstáculo mais difícil de ser superado seja aquele associado aos processos de adequação dos produtos, dificultados pelos altos custos exigidos. Os casos de demonstração de conformidade, embora menos freqüentes, apresentam como empecilho, o longo prazo requerido para obter-se a demonstração exigida pelos importadores.

Resultados da pesquisa demonstrada por Ferraz Filho (1997), mostram que um quinto das empresas consultadas admitiram que produzir dentro das normas exigidas por importadores representa sucesso de suas estratégias exportadoras. As barreiras técnicas tendem a incidir mais fortemente sobre as empresas controladas por capital privado nacional. A sua incidência sobre produtores brasileiros tem crescido com o passar dos anos. Em relação às demandas estrangeiras de cumprimento de normas e regulamentos, como relata o autor, “essas dizem respeito a produtos, embora não sejam desprezíveis as exigências referidas a processos”. E, dentre as normas de produtos mais utilizadas, pode-se citar as normas de qualidade, ou mais especificamente, as normas de depode-sempenho. Os setores de abate de animais e material elétrico foram os que apresentaram maiores dificuldades em relação a barreiras técnicas.

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A complexidade do tema Barreiras Técnicas acaba sucitando a situações diversas das usualmente encontradas no tratamento das demais barreiras comerciais. De fato, há uma maior flexibilidade para as políticas nacionais trabalharem com o tema de barreiras técnicas uma vez que envolve questões de saúde e segurança pública e diante disso, a complexidade em identificar sua legitimidade ou mensurar seus efeitos acabam tornando-as atrativas como instrumento de proteção comercial.

No Brasil, ainda poucos trabalhos foram desenvolvidos a respeito do tema barreiras técnicas. Algumas questões relevantes sobre incidência de barreiras técnicas nas exportações brasileiras foram sumarizadas por Ferraz Filho (1997): 1) as BNTs não ocupam lugar maior entre os obstáculos ao comércio internacional brasileiro; 2) no grupo de BNTs, contudo, as técnicas (inclusive as sanitárias) destacam-se, sendo consideradas mais importantes do que os direitos anti-dumping, cotas, subsídios, proibições de importações, e outras; 3) esse tipo de barreira tende a incidir mais nas empresas controladas por capital nacional privado; 4) a tendência é intensificarem-se as barreiras técnicas; 5) a maioria das exigências recai sobre os produtos e não sobre os processos.

Miranda (2001) em revisão sobre barreiras não-tarifárias menciona que exigências distintas sobre o comércio de um mesmo produto, acarretam custos adicionais elevados e a perda de competitividade por parte dos países exportadores. Comenta também que o impacto das BNTs sobre o comércio dos países em desenvolvimento, como o Brasil, também é muito significativo, embora poucos trabalhos já tenham sido realizados visando a sua estimação, o que se deve, inclusive, à dificuldade de adaptar instrumentos para sua mensuração.

2.3 Principais fóruns de negociações comerciais do Brasil no âmbito do TBT

O Brasil tem dentre seus principais parceiros comerciais os países-membros do Mercosul, os Estados Unidos da América, os países da União Européia e o Japão. É importante, portanto, analisar como o tema TBT está sendo desenvolvido nos fóruns que

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discutem integração entre esses países/grupos. A seguir será discutido os principais fóruns.

2.3.1 O Mercosul e o TBT

O Mercosul foi criado no âmbito do Tratado de Assunção5. Em 1995, em reunião do Grupo Mercado Comum, o Mercosul foi estruturado em subgrupos de trabalho, dentre os quais se destaca o SGT-3 (Regulamentos Técnicos). O SGT-3, a partir de 1999, segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia6 (http://www.mct.gov.br), passou a ser chamado Regulamentos Técnicos e Avaliação de Conformidade e tem como objetivo geral a eliminação de obstáculos técnicos desnecessários ao comércio visando facilitar a livre circulação de bens e a integração entre os Estados Parte. Objetivos específicos, dentre outros: harmonizar o comércio intra-Mercosul; compatibilizar os sistemas, estruturas e atividades nacionais de avaliação de conformidade, assegurando o reconhecimento mútuo na região; propor procedimentos de organização de informações referentes a regulamentos técnicos de maneira a permitir a desejada transparência nos processos de notificação intra-Mercosul e internacional; definir o relacionamento entre o SGT-3 e a Associação Mercosul de Normalização (AMN) - convênio assinado em abril/2000; manter relações com terceiros países e grupos internacionais em temas afins ao Subgrupo.

A pauta de ações do SGT-3 vem sendo feita por cinco Comissões Temáticas: Alimentos, Indústria Automotriz, Metrologia, Avaliação da Conformidade e Segurança de Produtos Elétricos e pelo Grupo de Trabalho sobre Certificação de Brinquedos.

5 O Tratado de Assunção, assinado em 26/03/91 culmina um processo de negociações iniciadas em agosto

de 1990 entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. O Tratado materializa antiga aspiração de seus povos, refletindo os crescentes entendimentos políticos em âmbito regional, a densidade dos vínculos econômicos e comerciais e as facilidades de comunicações propiciadas pela infra-estrutura de transporte dos quatro países.

6 O MCT ( Ministério da Ciência e Tecnologia) é responsável pela formulação e implementação da

Política Nacional de Ciência e Tecnologia. Foi criado em 1985 como órgão central do sistema federal de Ciência e Tecnologia.

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Além do SGT-3, o Brasil participa de vários fóruns onde ocorrem negociações sobre questões que envolvem barreiras técnicas ao comércio, como a OMC, as negociações sobre a formação da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) e da área de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia , as que ocorrem no âmbito do Mecanismo 4+1 (Mercosul-EUA) e as que deverão ocorrer na ALADI.

2.3.2 A ALCA e o TBT

A Área de Livre Comércio das Américas, segundo o MCT, foi objeto de decisão da Reunião de Cúpula das Américas de Miami/EUA, em dezembro de 1994. A negociação da ALCA tem como princípios essenciais o consenso, a tranparência, o respeito às regras da OMC e pela coexistência de acordos bilaterais e sub-regionais, na medida que estes superem os direitos e obrigações da ALCA (http://www.ftaa-alca.org/alca_p.asp).

O tema Barreiras Técnicas é discutido pelo Grupo de Negociação de Acesso a Mercados (GNAM), do qual o INMETRO participa (metrologia, credenciamento, procedimentos de avaliação de conformidade, regulamentos técnicos, sistemas de transparência e notificação e cooperação técnica).

2.3.3 O NAFTA e o TBT

O NAFTA (North American Free Trade Agreement), acordo que determinou a zona de livre comércio norte-americana com o México e o Canadá e que entrou em vigor em 1993, trata da questão das barreiras técnicas em seu Capítulo 9, “Standards Related Measures”. Diferentemente do TBT, este capítulo aplica-se tanto a bens como serviços (o Acordo TBT exclui serviços). Outra diferença que pode ser apontada é o fato de que o capítulo 9 inclui entre seus objetivos legítimos para justificar um regulamento técnico o conceito de desenvolvimento sustentável, mais abrangente que a proteção ao meio-ambiente citado no TBT .

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2.3.4 Rose Garden Agreement (Mecanismo 4+1)

Estabelecido em 1991, este acordo visa aumentar o fluxo de comércio e de investimento entre os quatro países do Mercosul e os Estados Unidos. Foi estabelecido um Grupo de Trabalho de Comércio Industrial (GTCI), que é responsável pela negociação sobre o tema das barreiras técnicas. O INMETRO participa ativamente destas negociações que compreendem: implementação do Acordo TBT da OMC, discussão sobre a aplicação de normas e regulamentos técnicos; procedimentos de avaliação de conformidade e metrologia, e cooperação técnica.

Os EUA possuem uma grande quantidade de normas e regulamentos determinados em níveis: federal, estadual e local, com pouca ou nenhuma interação entre si. A complexidade do sistema norte-americano resulta em pouca transparência, aumentando o custo para se adquirir informações necessárias, relativas não só às normas e regulamentos, mas também aos procedimentos de avaliação de conformidade. Estes custos atingem as pequenas empresas com maior intensidade.

Embora os EUA argumentem que várias de suas normas e regulamentos são tecnicamente equivalentes aos internacionais, poucos padrões internacionais são adotados.

Algumas das características gerais do sistema de regulação americano são tidas como fonte potencial de barreiras comerciais, tais como citado por Ferraz Filho (1997): a falta de clareza na distinção entre regulamentos essenciais de segurança e requerimentos opcionais de qualidade; a não ultilização de padrões internacionais; diferenças regulatórias entre autoridades dos vários níveis de governo; alterações em requerimentos de segurança para produtos não regulados por padrões nacionais; inexistência de uma fonte central de informações sobre normas e avaliação de conformidade; utilização reiterada de critérios de legitimidade nacional para a definição e adoção de padrões técnicos dentre outros.

Exportadores brasileiros mencionaram alguns produtos sobre os quais incide a exigência do cumprimento de padrões norte-americanos: máquinas de costura, fibras de raiom e viscose, estopins ou pastilhas de segurança e válvulas cardíacas.

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2.3.5 A ALADI e o TBT

A ALADI (Associação Latino Americana de Integração) objetiva o desenvolvimento estratégico de ações e políticas de Integração Latino-Americana e a facilitação do comércio na América Latina.

Segundo o INMETRO (2003), em 1997, os países da ALADI assinaram o Acordo-Quadro para a promoção do comércio mediante a superação de Barreiras Técnicas ao Comércio. O INMETRO, que participou de sua elaboração, assinou com a ALADI um acordo de cooperação técnica e em 1999 enviou técnicos para mapear a infra-estrutura de avaliação de conformidade nos países membros, englobando metrologia, regulamentação técnica, laboratórios e os respectivos Pontos Focais do TBT/OMC.

2.3.6 A União Européia e o TBT

Oliveira (2003), mostra em seu estudo, a dificuldade da União Européia em eliminar as barreiras técnicas e garantir um mercado interno, com livre circulação de mercadorias. Para o autor, faz-se necessário proceder à harmonização técnica dos produtos que circulam pelo mercado europeu dentre outras medidas.

Os países membros na União Européia7 (UE) têm diferentes padrões, normas, regulamentos técnicos, bem como diferentes procedimentos de ensaios, teste e certificação de alguns produtos. Isto pode gerar barreiras dentro da UE, resultando em demora das vendas, devido à necessidade dos produtos serem testados e re-certificados de modo a satisfazer às diferentes normas e regulamentos daquela região. A UE está implementando um sistema harmonizado de ensaios e testes e certificação. Com

7 A Comunidade Econômica Européia, conhecida atualmente como União Européia, foi constituída a

partir do tratado de Roma em 1957 e fundada inicialmente por França, Bélgica, Alemanha, Itália, Holanda e Luxemburgo. Em 1973 ingressaram Reino Unido, a Irlanda e a Dinamarca. Em 1981, a Grécia e 1986, Espanha e Portugal. Em 1992 ocorreu o último ingresso oficial, quando a Áustria, a Finlândia e a Suécia passaram a compor o bloco.

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relação aos produtos não-regulamentados, mas com normas estabelecidas, a UE tem encorajado o setor privado a celebrar acordos de reconhecimento mútuo, ou seja, se um produto respeita no Estado em que é fabricado, todas as normas técnicas estipuladas por este, o outro Estado, que vai receber tal bem, não pode implementar barreiras ao seu ingresso e comercialização, afirmando que não seguem às suas normas técnicas.

Os exportadores enfrentam o problema de que somente os laboratórios localizados na Europa e reconhecidos pela UE, têm o poder de aprovar a entrada de um produto regulado. Mesmo alguns laboratórios fora da Europa, mas aprovados pela UE, testando os produtos, a obtenção da aprovação final será feita pelo laboratório europeu. Isto faz com que o processo seja mais demorado e oneroso.

Segundo o INMETRO (2003), as negociações sobre barreiras técnicas relacionadas à formação da área de livre comércio entre o Mercosul e a UE, ocorrem no Grupo Técnico 1 do Comitê de Negociações Birregionais (CNB) e dizem respeito a Normas, Regulamentos Técnicos e Avaliação de Conformidade.

2.3.7 Japão

Os produtos estrangeiros encontram dificuldades para entrar no Japão. Alguns dos padrões estabelecidos pela indústria e pelo governo japonês não têm acompanhado a evolução tecnológica, o que contribui para dificultar e até diminuir as importações. A maioria da normas adotadas pelo Japão são normas próprias, diferentes das internacionais. Entretanto, já há algum progresso neste contexto, em algumas áreas (SEBRAE, 2003).

2.4 O Acordo TBT e a Questão dos Transgênicos

Por Organismo Geneticamente Modificado (OGM) entende-se aquele produzido com técnicas de engenharia genética que permite a transferência de genes funcionais de um organismo para outro, inclusive entre espécies diferentes. Bactérias, fungos, vírus, plantas, insetos, peixes e mamíferos são exemplos de organismos cujos materiais

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genéticos têm sido artificialmente modificados com o objetivo de se alterar alguma propriedade física ou capacidade (Nutti et al., 2003).

O uso da biotecnologia na agricultura é destinado não só para melhorar a produtividade, como também melhorar o rendimento de trabalhadores rurais, entre outros objetivos. Entretanto, várias questões têm sido levantadas por diversos países quanto ao seu uso na agricultura. Isto porque seus efeitos e causas não estão claramente definidos (impactos ambientais, biossegurança, riscos para a saúde humana e animal, dentre outros).

O debate sobre este tema é muito delicado, uma vez que envolve a utilização de conhecimento científico para a promoção, bem como o impedimento de acesso a mercados. Segundo Nutti et al. (2003), as discussões estão sendo feitas mais no âmbito da Organização Mundial do Comércio em cinco foros: no Acordo TBT, no Acordo SPS, no Acordo sobre Agricultura (AoA), no Acordo sobre Propriedade Intelectual (TRIPs

Agreement ) e no Comitê sobre Comércio e Meio-Ambiente (CTE). Este assunto deverá

ser alvo de decisões importantes nas negociações multilaterais que estão sendo conduzidas atualmente, na Rodada de Doha.

No âmbito do TBT, as discussões são intensas no quesito da rotulagem, em especial aos produtos de OGMs, propondo até mesmo a reabertura do Acordo para legitimar de forma precisa esta questão, uma vez que muitas exigências de rotulagem que estão sendo feitas atualmente por alguns países como a União Européia, por exemplo, estariam em desacordo com as regras do acordo.

A Comunidade Européia utiliza-se dos princípios da precaução e informação do consumidor para legitimar medidas comerciais restritivas. No entanto, o Acordo TBT não sustenta de forma explícita em seu texto que estes objetivos sejam legítimos.

Quanto ao Mercosul, é preciso uma política externa comum em relação à comercialização de OGMs. Os países que integram o Nafta, por sua vez, não restringem o comércio de OGMs.

Em diversos países, a legislação para rotulagem de alimentos, estabelece um mínimo permissível de OGMs, chamados “threshold levels”, fazendo com que os

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alimentos que ultrapassem este limite proposto pelo país, seja rotulado como “geneticamente modificados”.

A questão de rotulagem, de acordo com Nutti et al. (2003), merece a atenção de vários países, principalmente no impacto de custo que poderá causar na cadeia agroindustrial.

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extraídos das notificações de regulamentos técnicos e de procedimentos de avaliação de conformidade feitas ao Acordo TBT. Estas estão disponíveis no site da OMC (http://www.wto.org/english/tratop_e/tbt_e/tbt_e.htm). O código do documento pode ser apresentado na forma G/TBT/Notif* ou na forma G/TBT/N/*.

Uma notificação contém os seguintes itens: o país membro notificador, o organismo responsável por tal ato, o artigo do Acordo TBT sob o qual está sendo feita a notificação, o(s) produto(s) abrangidos, a base legal ou portaria, a descrição da portaria, o objetivo legítimo e alguns documentos relevantes sobre a norma alvo da notificação.

Estes dados foram sistematizados em um banco de dados construído no Microsoft Access, constituindo-se em um inventário das notificações técnicas estabelecidas pelos países no âmbito internacional. Esse banco de dados permitiu, portanto, a realização de um trabalho descritivo com aplicação de testes estatísticos básicos.

Para que o sistema criado operasse eficazmente, foi-se necessário que se estabelecessem critérios de ordenamento das notificações à medida que estas foram reportadas para possibilitar que houvessem cruzamentos entre os dados das notificações, em especial, por país, por produto, por setor e por objetivo legítimo.

As notificações das medidas estavam apresentadas individualmente e foi-se possível agregá-las de forma mensal, em ordem cronológica, por setor, por objetivo, por produto, discriminando o país ou região que emitiu ou a quem se destinou a notificação, quando a mesma não era global. No caso das notificações ao Acordo TBT, notou-se que todas não possuíam um país destinatário específico.

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O período de análise compreendeu de 1995 até 2002. Os países analisados no estudo foram o Brasil, os Estados Unidos, o Japão e a União Européia8 ou Comunidade Européia, neste escopo considerada como um bloco. Quanto aos demais países que integram à OMC, somente foi computado o número de notificações emitidas no período.

Quanto aos setores, o banco de dados foi estruturado de forma a classificá-los em quatro categorias: produtos agrícolas, produtos não-agrícolas, produtos agrícolas e não- agrícolas e pescados. Esta classificação só foi possível porque os produtos foram identificados pelos capítulos do Sistema Harmonizado, mesmo quando na notificação, originalmente, tenha sido registrada utilizando outra nomenclatura ou mesmo carecendo de uma. A equipe que está organizando o banco de dados, procedeu à compatibilização entre as nomenclaturas.

O Sistema Harmonizado (SH) é um método internacional de classificação de mercadorias, baseado em uma estrutura de códigos e respectivas descrições, formado por seis dígitos, permite que sejam atendidas as especificidades dos produtos tais como: origem, matéria constitutiva e aplicação , em um ordenamento numérico lógico, crescente e de acordo com o nível de sofisticação das mercadorias. O SH9 compreende 21 seções, composta por 99 capítulos como será visto em anexo.

Neste trabalho, adotou-se a classificação de produtos em capítulos, ou seja, os dois primeiros dígitos do SH. Segundo a OMC, os produtos agrícolas são compreendidos nos capítulos 1 a 24 (exceto 3 – Pescados), 29, 33, 35, 38, 41, 43, 50, 51, 52, 53. Os restantes serão classificados como não-agrícolas.

Quanto aos objetivos legítimos explicitados no Acordo TBT, foi identificado quais aqueles que fundamentam as notificações, os quais foram, em geral, explicitados no corpo das mesmas.

A partir deste banco de dados, foram realizados cruzamentos de objetivos com países, capítulos e setores, países e setores e assim por diante.

8 A UE apresenta suas notificações à OMC como um bloco econômico e também de forma individual, ou

seja, os próprios membros da UE notificam individualmente. No presente estudo serão levantadas as notificações emitidas pela UE como um todo.

9 Ver mais a respeito de Sistema Harmonizado no site

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No período analisado, que vai desde a entrada em vigor do Acordo TBT (1995), após o final da Rodada Uruguai, até o final do ano de 2002, observou-se que os países membros da OMC já notificaram um total de 2.306 documentos técnicos, que têm por objetivo a garantia de padrões de qualidade e segurança e a proteção à saúde dos consumidores, proteção dos consumidores contra práticas comerciais enganosas, bem como a proteção do meio-ambiente.

Conforme se observa na Figura 1, os anos em que mais se notificaram foram os de 1995 e 2001, sendo o ano de 1997 aquele com o menor número de notificações. Nota-se que a quantidade de novos regulamentos técnicos notificados não varia muito, excetuando-se os anos de maior notificação (1995 e 2001). É natural que o primeiro ano de vigência do Acordo tenha sido marcado por um grande esforço em direção à consolidação de normas, possivelmente já em vigor no mercado doméstico dos países-membros.

Em 2001, apesar de apresentar o segundo maior número de notificações, os países/bloco analisados não foram tão significativos quanto nos outros anos no ato de notificar. Isto será mostrado mais adiante.

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366 261 258 261 277 278 337 268 0 50 100 150 200 250 300 350 400 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Nº Notificações

Figura 1 – Evolução mundial das notificações ao Acordo TBT (1995-2002). Fonte: Elaboração da autora, a partir de dados da OMC

A Figura 2 mostra a participação de alguns países-membros da OMC, os escolhidos para análise, no total de notificações mundiais no período. Dentre os países/bloco analisados, o Japão aparece como o que mais notificou individualmente, com 13% do total, somando 298 notificações entre 1995 e 2002. O EUA, com cerca de 10% das notificações, ocupam a segunda posição (229 notificações). A União Européia como um todo aparece na terceira posição com 9% das notificações (207 registros). O Brasil, com 181, tem 8% no total. A Argentina, finalmente, aparece com 122 registros (5% do total).

Esses cinco países/bloco são responsáveis por 45% das notificações mundiais neste período, evidenciando o papel que esses países desempenham na normalização técnica internacional, assumindo-se que as notificações sejam uma boa proxy para

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13% 5% 9% 10% 8% 55% Argentina Japão UE EUA Outros Brasil

analisar a condução do desenvolvimento e internacionalização dos padrões técnicos, no âmbito do TBT.

Dentre os blocos econômicos analisados, como visto na Figura 3, o Nafta se destaca como o que mais notifica no âmbito do Acordo TBT, seguido do Mercosul e União Européia. Estes blocos, participaram com 50% das notificações totais emitidas no período de 1995 a 2002. A quantidade de notificações emitidas pelo Canadá (187 notificações) e México (235 notificações) foram somadas às dos Estados Unidos para composição do total de notificações emitidas pelo Nafta. Importante ressaltar que, neste caso, a União Européia foi analisada como um todo sem adicionar as notificações feitas individulamente por seus países-membros.

Figura 2 – Participação dos países membros da OMC analisados na emissão de notificações ao TBT (1995 – 2002).

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Figura 3 - Participação dos blocos econômicos no total de notificações TBT (1995- 2002).

Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da OMC.

As Figuras 4, 5, 6, 7 e 8 apresentam, respectivamente, a evolução das notificações TBT emitidas pelo Japão, EUA, Comunidade Européia como um todo, Brasil e, por fim, a Argentina. Importante ressaltar que somente emissão de notificações entraram na contagem, ou seja, excluíram-se os Addenda e Corrigenda, que são respectivamente, documentos técnicos que apresentam acréscimos ou correções nas notificações já emitidas.

A evolução do Japão, maior notificador do período, está apresentada na Figura 4. Diversos autores já identificaram que o Japão é um país que utiliza com maior intensidade restrições sanitárias e técnicas às importações de produtos do agronegócio, do que outras medidas de proteção comercial. Isto foi mostrado em Pereira (1989) e Kume & Piani (2001).

13% 9%

50%

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Figura 4 – Evolução das notificações TBT emitidas pelo Japão (1995-2002). Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da OMC.

Os EUA (Figura 5) teve seu pico de notificações em 1999 e mostra um declínio nos últimos 2 anos da análise, mas, mesmo assim é um dos países de maior importância na normalização técnica. 48 40 31 28 32 54 32 33 0 10 20 30 40 50 60 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Nº de Notifica ções

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Figura 5 – Evolução das notificações TBT emitidas pelos EUA (1995-2002) Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da OMC.

Em relação à Comunidade Européia como um todo, observa-se pela Figura 6, uma queda nas notificações. Contudo, os países da Comunidade também notificam individualmente, o que não será incluído na abordagem deste trabalho, exigindo um estudo mais pormenorizado. Nota-se que os ano de 1996, seguidos dos anos 1998 e 1999 foram os de maior relevância.

29 36 27 33 44 32 14 14 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Nº de Notifica ções

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Figura 6 – Evolução das notificações TBT emitidas pela Comunidade Européia (1995- 2002).

Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da OMC.

Em 1995, não houve notificações ao TBT pelos países do Mercosul. Possivelmente por ser o ano de implementação do Acordo e os países em desenvolvimento não estarem preparados, em termos de capital humano, recursos e informações, para participarem imediatamente do processo de notificação de suas normas técnicas à OMC.

Os custos de adequação de produtos às normas e regulamentos podem ser muito altos, dificultando a plena adoção do Acordo pelos países menos favorecidos. Os acordos de reconhecimento mútuo, cujo principal objetivo é fazer com que os resultados de uma avaliação de conformidade sejam aceitos internacionalmente, estão aumentando com o passar dos anos, facilitando à adaptação ao Acordo pelos mesmos países.

32 47 20 34 34 16 7 17 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 N º d e N o ti fi caçõ es

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Observa-se nas Figuras 7 e 8 que houve um aumento gradativo na emissão de notificações no decorrer dos anos pelos países que estão representando o Mercosul no presente trabalho. O Brasil e a Argentina são os principais colaboradores, pois não há ocorrência de notificações por parte do Paraguai e quanto ao Uruguai, apenas em 1999 houve um único caso.

Figura 7 – Evolução das notificações TBT emitidas pelo Brasil (1995-2002) Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da OMC.

0 9 28 43 16 12 29 44 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Nº de Notifica ções

(47)

Figura 8 – Evolução das notificações TBT emitidas pela Argentina (1995-2002). Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da OMC.

Ao analisar as notificações ao Acordo SPS dos países do continente americano, como visto por Barros et al. (2002), nota-se que a maioria delas provêm dos países desenvolvidos, indicando seu papel mais incisivo na normalização internacional, e, conseqüentemente, o estabelecimento de padrões sanitários que certamente, na maioria das vezes, superam os padrões em vigência nos países em desenvolvimento, ou, no caso, dos países de renda média e baixa.

É interessante observar que o Mercosul (Brasil e Argentina) mostra uma evolução crescente em sua participação nas notificações, em comparação a uma participação decrescente dos Estados Unidos e da Comunidade Européia.

0 1 0 1 16 37 28 39 0 5 10 15 20 25 30 35 40 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Nºde Notifica ções

(48)

É importante destacar que a evolução temporal pode ser afetada por uma série de fatores, como o perfil das equipes técnicas que compõem os órgãos responsáveis pela normalização; disponibilidades de recursos; problemas técnicos conjunturais que podem surgir repentinamente em função da demanda de algum setor ou de alguma disputa com outros países, e que podem gerar a necessidade da normalização. Portanto, é uma análise apenas descritiva, mas cuja explicação exigiria o conhecimento de cada caso, detalhadamente.

4.1 Notificações ao Acordo TBT versus Objetivos Legítimos

Foram analisadas aproximadamente 1.140 notificações nos cinco países/bloco já mencionados anteriormente, no período de 1995 a 2002. Nestas, observaram-se cerca de 77 objetivos diferentes, informando a preocupação da medida técnica com a proteção humana, animal e vegetal, além do meio-ambiente, e configurando, portanto, os objetivos legítimos que as levaram a serem notificadas. Para facilitar a análise e, considerando a natureza dos objetivos legítimos, estes foram agrupados em seis categorias, como está descrito no Acordo TBT:

1. Imperativos de Segurança Nacional; 2. Prevenção de Práticas Enganosas;

3. Proteção da Saúde ou Segurança Humana; 4. Proteção da Saúde ou Vida Animal ou Vegetal; 5. Proteção do Meio-Ambiente;

(49)

Ao analisar os objetivos, percebe-se que a maior preocupação dos países/bloco analisados na normalização técnica junto ao Acordo TBT, foi a prevenção de práticas enganosas (49%), seguida da proteção da saúde e segurança humana (39%) e a proteção do meio-ambiente (7%) como visto na Figura 9. É importante ressaltar que tais normas são impostas não só aos produtos importados, mas também são válida aos produtos nacionais, seguindo o princípio do Tratamento Nacional, preconizado pelo GATT/OMC. Também vale dizer que uma notificação pode conter um ou mais objetivos legítimos, ou, até mesmo, carecer dessa informação no seu texto original proposto pelos países. Foram computados um total de 1.268 objetivos observados nas notificações.

Figura 9 – Participação das notificações ao Acordo TBT – por objetivos legítimos (1995-2002).

Fonte: Elaboração da autora, a partir dos dados da OMC.

Quanto ao objetivo “Imperativos de Segurança Nacional”, não houve registro algum. No caso da “Proteção da Saúde ou Vida Animal ou Vegetal”, houve apenas quatro menções (duas pela União Européia, uma pelo Brasil e uma pela Argentina),

39,06% 0,32%

6,79% 4,51% 49,40% Imperativos de Segurança Nacional Prevenção de Práticas Enganosas Proteção da Saúde ou Segurança Humana Proteção da Saúde ou Vida Animal ou Vegetal

Proteção do Meio-Ambiente Outros

Referências

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