EC0-ATITUDES E ECO-COMPORTAMENTOS DOS
ALUNOS DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA UFRN
Sayonara Sonnaly Rocha1, Rose Meire P. R. de Macedo2, Esmeraldo Macedo dos Santos3, Sérgio Marques Júnior4
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Endereço: Departamento de Engenharia de Produção – Campus Universitário – Natal – RN e-mail: ssonnaly@bol.com.br1, harimrose@digi.com.br2, esmeraldopep@ufrnet.br3, sergio@ct.ufrn.br4
Resumo. O presente estudo tem por objetivo delinear as eco-atitudes e eco-comportamentos dos
alunos do curso de Engenharia Civil para verificar se uma atitude pró-ambiental se traduz em
comportamento ambientalmente correto, utilizando, para esse fim, uma escala baseada na escala
ecológica de Johnson e Johnson. A análise estatística descritiva mostra que o interesse ecológico
dos alunos está muito abaixo do esperado. Nesse cenário, este artigo propõe a busca de novas
metodologias de ensino, para o curso em estudo, voltadas para conscientização ambienta, além de
treinamento e conscientização dos seus formadores. que proporcionem ao aluno uma consciência
ambiental. Nesse cenário, este artigo propõe novas metodologias de ensino focalizadas para o
curso em estudo.
1. INTRODUCÃO
De acordo com Dias [1], a construção civil é uma atividade executada com a finalidade de atender às demandas básicas de moradia, prover instalações para o desenvolvimento de atividades produtivas e a implantação de equipamentos públicos para diferentes camadas sociais.
Conforme Rocha [2], por intervirem diretamente no meio ambiente, as atividades desenvolvidas pela indústria da construção civil são causadoras de grandes impactos ambientais devendo, estes, ser considerados na elaboração e análise de todos os projetos que demandem a implantação de infra – estrutura e/ou edificações.
É nesse cenário que se insere a responsabilidade do engenheiro civil para com a sociedade como um todo. O profissional de engenharia deve estar consciente quanto aos danos ambientais causados pelo oficio de sua profissão.
Chan [3] defende que, ao mesmo tempo em que cresce o interesse ambiental por parte da população, a engenharia civil deve incorporar assuntos ecológicos, de modo que a proteção ambiental e o desenvolvimento econômico possam coexistir. Para tanto, é de suma importância que o engenheiro desenvolva características atitudinais e, principalmente, comportamentais procedendo de forma ambientalmente correta no exercício de sua profissão.
Entretanto, essa percepção deve ser desenvolvida ao longo de todo o processo de formação do profissional através de disciplinas direcionadas, palestras, seminários e observações in locu, despertando, assim, o sentido critico do aluno
Castro apud Aragonès & Amérigo [4] determinam três objetivos para os programas de atitudes e comportamentos ambientais. O primeiro objetivo é aquele que deveria ajudar o entendimento da dinâmica ambiental e seus problemas; segundo, que eles deveriam facilitar o compromisso com a situação na qual o indivíduo está inserido e, finalmente, proporcionar comportamentos ambientalmente corretos e modificar as atividades danosas ao meio ambiente
Ainda de acordo com Ref. [4], numerosos estudos têm revelado uma baixa relação entre atitudes e comportamentos favoráveis ao meio ambiente (Iñiguez, 1994; Scott and Willits, 1994; Aragonès, 1990; Weigel and Weigel, 1978). Isto significa que o maior nível de consciência ambiental não se traduz, necessariamente, em comportamento ambientalmente correto.
O objetivo do trabalho é delinear as eco-atitudes e eco-comportamentos dos alunos do curso de Engenharia Civil da UFRN, enquanto futuros profissionais de engenharia, com o intuito de se fornecer informações mais criteriosas sobre a percepção destes para com a questão ambiental e buscar, com isso, aprimorar o processo de conscientização destes, e dos seus formadores, em direção ao meio ambiente.
2. METODOLOGIA
2.1. O instrumento de pesquisa
O instrumento de pesquisa foi desenvolvido para explorar as atitudes e comportamentos dos alunos de engenharia civil em direção ao meio ambiente. As escalas para medir as eco-atitudes e os eco-comportamentos foram adaptadas da escala ecológica de Johnson and Johnson (1977) para o cenário educacional.
As questões que medem as características atitudinais referem-se a procedimentos ambientalmente corretos e proteção ambiental. As questões que medem características comportamentais referem-se aos procedimentos de economia de água e de energia, reciclagem, coleta seletiva, busca por novos materiais e técnicas, controle da poluição e desenvolvimento econômico feitos pelos alunos do curso em estudo.
O questionário também apresenta escalas de conhecimento, onde foi verificado o grau de conhecimento dos respondentes com relação `a ISO 14000, Agenda 21, Protocolo de Kyoto e desenvolvimento sustentável; escala de senso comunitário, objetivando medir o grau de comprometimento dos respondentes com o meio onde vive e, por fim, apresenta uma escala demográfica, que define o perfil dos entrevistados.
2.2. Coleta de dados e amostra
Os dados para esta pesquisa foram coletados através de um questionário para medir as atitudes e eco-comportamentos dos respondentes. Informações referentes a características demográficas (gênero, faixa etária, renda familiar mensal e rede onde cursou o 2o grau) também foram coletadas. O questionarão original foi pretextado em uma pequena amostra de estudantes e foi reformulado de modo a expressar simplificação necessária, clareza das instruções e ajustar o tamanho do questionário.
A amostra foi coletada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), localizada na cidade de Natal e definida com base no numero de alunos do curso de Engenharia Civil regularmente matriculados (437 alunos). Foram aplicados 198 questionários (amostra definida através do método estatístico de análise aleatória simples) dos quais 65 não foram utilizados por estarem incompletos. Conseqüentemente, a amostra foi de 133 questionários.
2.3. A analise estatística
A técnica de estatística descritiva analisa as freqüências relativas dos dados obtidos. 3. RESULTADOS E DISCUSSOES
Figura 1. Eco-atitudes dos alunos de Engenharia Civil
A figura 01 mostra que 78% dos alunos do curso de Engenharia Civil consideram muito importante economizar água e energia e, ao mesmo tempo, desenvolver-se economicamente, outro item também indicado como de grande importância.
Figura 2. Eco-comportamentos dos alunos de Engenharia Civil
Observando-se a Figura 02, percebe-se que, quase sempre, 48% dos alunos economizam água e 50% economiza energia.Ainda comparando as duas figura, pode ser observado que, 34% da amostra considera importante proteger o meio ambiente e que 58%, quase sempre, adota esse procedimento.
Mesmo estando os gráficos indicando como de grande importância economizar água e energia, os entrevistados não adotam esse procedimento freqüentemente. Do mesmo modo, enquanto 65% dos entrevistados julgam de suma importância proteger o meio ambiente, apenas 23% pratica atividades de proteção ao meio ambiente. Os entrevistados também julgam que os procedimentos de reciclagem, coleta seletiva e busca por novas técnicas e materiais ambientalmente corretos são importantes, mas não adotam tais procedimentos.
Pode-se concluir, com isso, que os alunos do curso de Engenharia Civil da UFRN apresentam eco-atitudes, mas essas, por sua vez, não refletem eco-comportamentos. Pode-se dizer, então, que estes alunos apresentam um comportamento ambientalmente correto ainda em estado de latência.
Eco-atitudes 29 29 14 11 15 23 29 22 7 6 17 18 18 12 7 11 2 2 7 7 4 0% 20% 40% 60% 80% 100% Econ agua Econ energia Reciclagem Coleta seletiva Novas tec/mat Controlar poluicao Desenv. Econ Proteger meio ambiente
MI I PI E c o -c o m p o rta m e n to s 1 2 1 8 1 0 1 3 1 6 8 1 7 1 6 4 3 8 1 9 1 5 2 0 7 4 1 6 1 4 1 2 1 1 6 7 2 1 7 1 9 2 3 0 % 2 0 % 4 0 % 6 0 % 8 0 % 1 0 0 % E c o n a g u a E c o n e n e rg ia R e c ic la g e m C o le ta s e le tiv a N o v a s te c /m a t C o n tro la r p o lu ic a o D e s e n v . E c o n P ro te g e r m e io a m b ie n te S e m p re Q u a s e S e m p re A s v e z e s N u n c a
Figura 3. Nível de conhecimento ambiental
A figura 3 apresenta o nível de conhecimento dos entrevistados com relação aos assuntos ambientais. De acordo com o gráfico, 75% da amostra não possui conhecimento sobre a Agenda 21 e o Protocolo de Kyoto e 52% apenas possuem conhecimento parcial sobre a serie de normas
ISO 14000 e o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Com isso, verificam-se duas hipóteses:
1. Os entrevistados não possuem interesse nos assuntos ambientais ou não tem acesso a eles; 2. Há uma falha na pauta dos veículos de comunicação com relação a essas questões.
Em ambas as hipóteses, verifica-se uma lacuna na formação profissional desses alunos.
Figura 4. Nível de conscientização social
Também foi verificado nessa pesquisa, o senso de comunidade dos entrevistados através do nível do seu comprometimento com a sociedade. É possível, com esta análise, identificar o nível de conscientização social do aluno, i.e., a importância social de sua profissão.
O gráfico aponta a participação dos entrevistados em trabalhos voluntários, debates comunitários e associações comunitárias como sendo de baixo rendimento (55% da amostra). Com isso, podemos concluir que os alunos respondentes não sofreram um processo de conscientização quanto o seu papel dentro da sociedade.
3.1. Perfil dos entrevistados
SENSO DE COMUNIDADE 2 10 7 6 3 3 14 11 11 7 5 8 12 8 12 8 6 6 11 16 20 2 0% 20% 40% 60% 80% 100%
Part trab volunt Part debates Envolv assoc com Resp empresa Discutir imp curso
Sempre Quase sempre As vezes Raramente Nunca
G e ne ro Mas culino 74% Fem inino 26% Educacao Rede Pública 26% Rede Privada 74% Conhecimento 5 2 5 9 20 8 5 19 13 28 28 9 0% 20% 40% 60% 80% 100% ISO 14000 Agenda 21 Kyoto Desenv Sustentavel
Figura 5. Gênero Figura 6. Educação
Figura 7. Faixa etária Figura 8. Renda familiar mensal
De acordo com as figuras 5-8, o perfil da mostra coletada `e formado por 74% por pessoas do sexo masculino, com idade entre 18 e 21 anos, renda familiar mensal acima de R$ 2000, 00 e com conclusão do curso de 2o grau em rede privada (74%).
4.0. CONCLUSÕES
Nossa pesquisa indicou que grande parte dos alunos do curso de Engenharia Civil não considera as atividades de proteção ao meio ambiente tão importantes (21%) quanto desenvolvimento econômico (42%). Esse fato é comprovado pelos eco-comportamentos adotados por estes. Desse modo, pode-se concluir que as atitudes ambientais dos futuros profissionais de Engenharia não refletem um comportamento ambiental.
Faz-se necessária a existência de um processo de conscientização ambiental, seja através de disciplinas de educação ambiental, seja por métodos que levem o indivíduo a pensar sobre as razoes pelas quais deveria manter atitudes e comportamentos pró-ambientais.
Deve-se enfatizar a busca por novos métodos de ensino que enfatizem a importância da ação pró-ambiental. Estes poderiam simplesmente repetir mensagens sobre comportamento pró-ambiental, como, por exemplo, encorajar os alunos, futuros profissionais, a colocar em pratica suas atitudes.
Dessa maneira, esses alunos poderão, no futuro, exercer sua profissão conscientes da sua responsabilidade social e, principalmente, adotar uma postura pró-ambiental para que este não seja apenas um engenheiro civil, como também, um engenheiro do meio ambiente.
Vale aqui também ressaltar a necessidade de treinamento e conscientização dos formadores, relativa à questão ambiental, para que, desse modo, estes tenham condições de formar, não apenas alunos, mas cidadãos conscientes da importância do seu papel para com a sociedade.
5.0. Autorização
Autorizamos a publicação do conteúdo total ou parcial deste trabalho
Agradecimentos
Agradecemos à UFRN, à Agência Nacional de Petróleo (ANP), ao Programa de Engenharia de Produção e a toda a equipe de professores e aos alunos do curso de Engenharia Civil desta Universidade que gentilmente deixaram seus afazeres contribuíram para a realização dessa pesquisa.
Faixa etaria Até 18 anos 8% De 18 a 21 anos 48% De 22 a 24 anos 31% Acim a de 25 anos 13%
Renda familiar mensal
5% 8% 12% 16% 51% 8% Até R$ 500,00 R$ 501,00 a R$ 1,000,00 R$ 1.001,00 a R$ 1.500,00 R$ 1.501,00 a R$ 2.000,00 Acima de R$ 2.000,00 Sem resposta5. REFERÊNCIAS
[ 1 ] M. do C.O. Dias (Coord.), M.C.B. Pereira, P.C.F. Dias e J.F. Virgílio, Manual de impactos ambientais: orientações básicas sobre aspectos ambientais das atividades produtivas, BNE, Fortaleza: 1999.
[ 2 ] S.S. Rocha, “ Gestão ambiental e competitividade: alternativas estratégicas para a Industria da Construção Civil”, nos Anais do VII Simpósio Brasileiro de Engenharia de Produção de 2000, p.1-8.
[ 3 ] R.Y.K. Chan, “Environmental attitudes and behavior of consumer in China: survey, findings and implications”, Journal of International Consumer Marketing, Hong Kong: The Haworth Press, 1998.
[ 4 ] J. I. Aragonès and M. Amèrigo, Psicologia ambiental, Ediciones Piramide S. A., Madrid: 1998.
G.M. Pickett, N. Kangun and S. J. Grove, “An examination of the conserving consumer: implications for public policy formation in promoting conservation behavior”, In Polonsky, M.J. and A . T. Mintu-Wimsatt (eds.) “Environmental Marketing: strategies, practice, theory and research”. The Haworth Press, NY: 1995.
S.D. Johnson and D.M. Johnson, “Eco-attitudes and eco-behaviors in the new German States: a 1992 perspective”, In Polonsky, M.J. and A . T. Mintu-Wimsatt (eds.) “Environmental Marketing: strategies, practice, theory and research”, The Haworth Press, NY: 1995.
S.M. Smith and C. P. Haugtvedt, “Implications of understanding basic attitude change processes and attitude structure for enhancing pro-environmental behaviors”, In Polonsky, M.J. and A . T. Mintu-Wimsatt (eds.) “Environmental Marketing: strategies, practice, theory and research”. The Haworth Press, NY: 1995.