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Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde ISSN: Universidade Anhanguera Brasil

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Academic year: 2021

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Agrárias e da Saúde ISSN: 1415-6938 editora@uniderp.br Universidade Anhanguera Brasil

Oliveira de Andrade, Ana Rachel; Cardozo Pinto de Arruda, Carla; Rigo, Leonardo

EPIDEMIOLOGIA DA LEISHMANIOSE VISCERAL AMERICANA EM CAMPO GRANDE, MS, 1999 A 2003: OCORRÊNCIA DE CASOS CANINOS E HUMANOS

Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, vol. 10, núm. 1, abril, 2006, pp. 119-132 Universidade Anhanguera

Campo Grande, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=26012756011

Como citar este artigo Número completo Mais artigos

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EPIDEMIOLOGIA DA LEISHMANIOSE VISCERAL

AMERICANA EM CAMPO GRANDE, MS, 1999 A 2003:

OCORRÊNCIA DE CASOS CANINOS E HUMANOS

Ana Rachel Oliveira de Andrade1

Carla Cardozo Pinto de Arruda2

Leonardo Rigo3

1Bióloga;

2Docente do Curso de CiênciasBiológicas da Universidade para o Desenvolvimento

do Estado e da Região do Pantanal;

3Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande, MS.

Endereço eletrônico: anart.msi@terra.com.br.

RESUMO

A leishmaniose visceral americana é uma zoonose que atualmente está presente no município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e vem dizimando a população canina. As informações sobre a doença e as medidas para o controle do vetor são insuficientes diante do registro de casos que vêm aumentando gradativamente ano a ano. O presente trabalho teve por objetivo realizar um levantamento do número de casos registrados de leishmaniose visceral canina e humana, procurando analisar a existência de correlação entre eles. Foram utilizados dados secundários originários da Secretaria Municipal de Higiene e Saúde Pública e do Centro de Controle de Zoonoses de Campo Grande, referentes ao período de 1999 a 2003. Os resultados mostram que há uma correlação positiva, moderada, entre o número de casos caninos e humanos. Ações como controle mais eficaz do vetor e trabalhos de educação ambiental para com a população, feitos de forma mais eficiente, podem contribuir para que a doença e seus impactos sejam mais divulgados e, assim, a população se conscientize dos riscos e passe a adotar medidas preventivas eficazes.

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1 INTRODUÇÃO

Atualmente, o Estado de Mato Grosso do Sul vem sofrendo com os altos índices de infecções causadas pelos protozoários do gênero Leishmania, tanto na espécie canina quanto em humanos.

As leishmanioses são enfermidades causadas por várias espécies de protozoários da ordem Kinetoplastida, família Trypanosomatidae, do gênero Leishmania. Esta se caracteriza por apresentar apenas duas formas durante seu ciclo evolutivo: a forma amastigota, quando é parasito intracelular de hospedeiros vertebrados, e a forma promastigota, quando se desenvolve no tubo digestivo de hospedeiros invertebrados (insetos flebotomíneos), bem como em meios de cultura (Rey, 2001). Esses insetos acometem o homem e diferentes espécies de animais silvestres e domésticos das regiões quentes e subdesenvolvidas do Velho e Novo Mundo (Marzochi et al., 1992). Essas enfermidades acometem, principalmente, a população humana e canina, pelo fato de elas possuírem características específicas para a hospedagem do protozoário.

O gênero Leishmania compreende protozoários parasitas com um ciclo de vida digenético, vivendo alternadamente em hospedeiros vertebrados e insetos vetores, estes últimos sendo responsáveis pela transmissão dos parasitas de um mamífero a outro.

Nos hospedeiros vertebrados, ocorre a forma amastigota, arredondada e imóvel, que se multiplica obrigatoriamente dentro de células do sistema fagocítico mononuclear. À medida que as formas amastigotas vão se multiplicando, os macrófagos se rompem, liberando parasitas que são englobados por outros macrófagos, aumentando assim a infecção.

Nos hospedeiros invertebrados, sempre quando um flebotomíneo pica o indivíduo ou animal parasitado, retira com o sangue ou linfa as leishmanias que passarão a evoluir dentro do seu tubo digestivo, sendo a forma promastigota predominante. À medida que aumentam em número, os flagelados invadem as porções anteriores do estômago e o proventrículo do flebotomíneo, onde a multiplicação parasitária pode determinar uma obstrução mecânica ou dificultar a ingestão de sangue pelo inseto quando este tentar de novo alimentar-se. O inseto faminto é assim levado a picar e a sugar muitas vezes e, eventualmente, a atacar muitas pessoas ou animais (Rey, 2001).

Todas as espécies do gênero são transmitidas pela picada de fêmeas infectadas de flebotomíneos dos gêneros Lutzomyia (Novo mundo) e Phlebotomus (Velho mundo). Nestes, as leishmanias vivem no meio extracelular, na luz do trato digestivo. Ali, as formas amastigotas, ingeridas durante o repasto sangüíneo, se diferenciam em formas flageladas, morfológica e bioquimicamente diferentes das amastigotas, e posteriormente são inoculadas em mamíferos durante a picada (Gontijo et al., 1993).

A doença pode apresentar diferentes formas clínicas, dependendo da espécie de Leishmania envolvida e da relação do parasita com seu hospedeiro.

São reconhecidas sete espécies de Leishmania que atuam na etiologia de casos humanos de leishmaniose tegumentar americana (LTA) no Brasil, sendo seis pertencentes ao subgênero Viannia (Lainson; Shaw, 1969) e uma ao subgênero Leishmania: Leishmania (Viannia) braziliensis (1911), L. (V.) guyanensis (Floch, 1954); L. (V.)lainsoni (Silveira, 1987); L. (V.) shawi

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(Lainson; Ishikawa; Silveira et al., 1989); L. (V.) naiffi (Lainson; Shaw, 1989), L. (V.) lindenbergi (Silveira; Ishikawa; De Souza; Lainson, 2002) e L. (Leishmania) amazonensis (Lainson; Shaw, 1969) (citados em Silveira et al., 2002).

As leishmanias responsáveis por doenças no Novo Mundo pertencem aos subgêneros

Viannia (V) e Leishmania (L).

Quando se considera o subgênero

Viannia, ocorrem as seguintes espécies:

a) Leishmania (V.) braziliensis: causa

lesões cutâneas e mucosas com ampla distribuição geográfica na América Central e América Latina. A doença que determina, constitui a leishmaniose cutânea americana (REY, 2001);

b) Leishmania (V.) guyanensis: ocupa

territórios da Venezuela, Guiana, Suriname e Brasil, causando ulcerações simples ou múltiplas, com metástases ao longo dos trajetos linfáticos, mas não parece atacar as mucosas (MARZOCHI et al., 1992);

c) Leishmania (V.) panamensis: causa

predominantemente lesões cutâneas únicas ou pouco numerosas e metástases nodulares ao longo dos vasos linfáticos, mas também se propaga às mucosas, ocorrendo na América Central e do Sul (MARZOCHI et al., 1992);

d) Leishmania (V.) peruviana: distingue-se

das demais leishmanias americanas por se encontrar longe das áreas florestais, em vales muitos elevados e secos. O cão doméstico é o

reservatório do parasito (MARZOCHI

et al., 1992);

e) Leishmania (V.) lainsoni: causa lesões

cutâneas e ocorre no norte do Estado do Pará (MARZOCHI et al. 1992).

No Brasil, são referidos quatro principais tipos de Leishmania de interesse médico-sanitário:

a) Leishmania amazonensis: presente

não só na floresta amazônica (região Norte), como nas regiões Sudeste, Nordeste, Sul e Centro–Oeste. A doença humana é relativamente rara, representada por pápulas ou úlceras simples, que raramente curam espontaneamente;

b) Leishmania guyanensis: esta

encontra-se em florestas de terra firme, e encontra-seu principal vetor, Lutzomyia umbratilis, costuma atacar o homem com grande freqüência quando perturbado. A doença humana é caracterizada por lesões pouco dolorosas e múltiplas por causa das picadas simultâneas por grande número de flebotomíneos infectados. Nesse ciclo, o homem é um hospedeiro acidental sem nenhum papel aparente na manutenção ou disseminação desses parasitas;

c) Leishmania braziliensis: é freqüente

o encontro de várias espécies domésticas albergando o parasito, como o eqüino e cão. A provável existência de animais reservatórios silvestres, ainda insuficientemente estudados, parece incapaz de explicar a totalidade dos casos

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humanos encontrados. Esse aspecto leva a supor que outros ciclos, onde o homem e animais domésticos participam, estariam se instalando com risco de acometer populações bem mais numerosas do que aqueles que penetram nas matas. Em áreas de circulação de

L. braziliensis, crianças e mulheres,

assim como cães domésticos, são atingidos com freqüência, refletindo o caráter dominante da transmissão domiciliar;

d) Leishmania chagasi: responsável pela

forma visceral, em franca expansão pelo país.

O vetor dos diferentes tipos de Leishmania são insetos pequenos, de 2 a 3 mm pertencentes ao gênero Lutzomyia, nas Américas, e Plebothomus, no Velho Mundo. No Brasil, recebem vários nomes populares, conforme a região: birigui, mosquito-palha, asa dura e outros. Estes se abrigam em lugares úmidos e escuros, iniciando suas atividades ao anoitecer, sendo somente as fêmeas hematófagas (BENENSON

et al., 1992).

As fêmeas necessitam da alimentação sangüínea para maturação dos ovos, que se processam em sete dias, durante os quais ficam em repouso. No solo rico em húmus, a fêmea põe de 40a 70 ovos que eclodem após 17 dias dando origem às larvas. Estas, após 15 a 17 dias, evoluem para o estado de pupas, que, depois de uma a duas semanas, dão origem aos adultos (Marzochi et al., 1992). Todas as espécies de

Leishmania já classificadas têm em comum o fato

de necessitarem, para sua reprodução, passar por um hospedeiro invertebrado, obrigatoriamente os flebotomíneos (REY, 2001).

Por ser o foco temático da presente pesquisa, a leishmaniose visceral americana humana recebe destaque.

A leishmaniose víscera americana (LVA) pode ser descrita como um tipo de enfermidade crônica generalizada, e possui os seguintes sintomas: febre constante, anemia e hepatoesplenomegalia; sem tratamento, torna-se uma enfermidade mortal (MARZOCHI et al., 1992).

O nome calazar é proveniente de

kala-azar, que significa “febre negra”. Este termo é

inapropriado, visto que provém das expressões

kala, que significa “preto”, e azar, “doença”,

sugerindo que os doentes venham apresentar sintomas como pele escura. O provável, entretanto, é que este fato deva-se a erros descritivos de certos autores, pois a discromia não teria sido realmente observada (FEIJÃO,et al., 2001).

A doença foi corretamente descrita apenas em 1822, pois, por possuir semelhanças com várias outras moléstias tropicais de caráter febril, foi confundida durante muito tempo com outras endemias. Essa forma clínica é produzida pelo mesmo protozoário descoberto em 1903, por Leishman, no Hospital Militar de Londres, e alguns meses após por Donovan, em Madras. Embora descrito o parasita, ainda faltava uma exata correlação entre ele e a doença, fato estabelecido somente por Manson e Lown, no Seamen’s Hospital de Londres, quando encontraram os corpúsculos em pacientes portadores do calazar, e também na Alemanha por Marchandi e Ledingham, estes em cadáveres de pessoas procedentes da China (VIEIRA et al. 1998).

A LVA tem por causa o parasitismo desenvolvido por L. chagasi. Os estudos recentes reforçam a impressão de que o calazar foi introduzido nas Américas por cães ou pacientes

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provenientes da Bacia do Mediterrâneo e adaptou-se a um ecossistema em que o cão, o homem e flebotomíneos do gênero Lutzomyia mantêm o ciclo parasitário (REY, 2001).

A resposta imunológica do homem à infecção por leishmanias do grupo L. donovani é muito complexa. Em condições naturais, segundo se presume, nem todas as infecções evoluem para o tipo visceral, havendo exemplos de evolução benigna, assintomática e com cura espontânea. As infecções benignas também conferem imunidade, impedindo muitos dos indivíduos sujeitos ao risco de contágio, nas áreas endêmicas, de adoecer.

Dois tipos de resposta imunológica podem ser observados na leishmaniose visceral americana: imunidade humoral e imunidade celular. A imunidade humoral se traduz pela elevação do teor de gamaglobulinas no soro e pelas reações sorológicas positivas. Os anticorpos específicos produzidos durante a infecção, porém, não asseguram proteção contra o parasitismo.

A imunidade celular pode ser demonstrada por meio da intradermorreação de Montenegro. Realiza-se o teste de Montenegro injetando-se intradermicamente o antígeno, constituído por uma suspensão de culturas de leishmanias mortas. Assim, nas leishmanioses viscerais, o teste de

Leishmania permanece negativo durante o curso

da doença e só se torna positivo por ocasião da cura (REY, 2001).

Na fase inicial da doença, observa-se no local da picada um pequeno nódulo endurecido. Essa lesão inicial localiza-se de preferência em áreas descobertas do corpo e desaparece antes de se formar o quadro sintomático típico. A infecção pode terminar aí, tudo dependendo da espécie de

Leishmania e da resposta imunológica do paciente.

A febre é o sintoma mais notável, pela sua

constância, sendo do tipo regular ou remitente. A esplenomegalia é a segunda manifestação em importância; o volume do baço aumenta com rapidez, tanto em crianças como em adultos, sendo ele de consistência dura. Com o progredir da doença, acentua-se a anemia e há marcada tendência às hemorragias. Aparecem comumente também tosse seca, além de perturbações do apetite, onde o emagrecimento pode levar a um estado de desnutrição grave.

A evolução da doença pode ser rápida levando o paciente à morte dentro de algumas semanas ou de alguns meses, ou assumir curso crônico (REY, 2001).

Em área endêmica, uma pequena proporção de indivíduos, geralmente crianças, pode apresentar um quadro clínico discreto, de curta duração (aproximadamente 15 dias), que freqüentemente evolui para a cura espontânea (forma oligossintomática). Esses pacientes apresentam sintomatologia clínica mais discreta, com febre baixa, palidez leve, diarréia e pequena hepatoesplenomegalia. Essa apresentação clínica pode ser facilmente confundida com outros processos infecciosos de natureza benigna (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003).

Costuma-se distinguir, segundo a sintomatologia e a evolução, as seguintes formas de LVA:

a) assintomática: quando a evolução é silenciosa ou os sintomas são tão discretos que a doença fica sem diagnóstico;

b) aguda: de evolução rápida e fatal em prazos curtos (20 a 40 dias), sobretudo em crianças de um a dois anos;

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c) subaguda: com evolução mais lenta (cinco meses e um ano), ocorrendo freqüentemente em crianças e terminando em morte;

d) crônica: as mais comuns apresentam uma evolução lenta, que pode durar anos, com fase de remissão e recaída, alternando-se por períodos de semanas ou meses.

Os principais reservatórios de L. chagasi nas áreas endêmicas de leishmaniose visceral são os cães domésticos (DEANE; DEANE, 1954; SILVA et al., 1997), muito embora dois canídeos silvestres tenham sido encontrados infectados: as raposas Dusicyon velutus, no Nordeste brasileiro (DEANE & DEANE, 1954), e Cerdocyon thous, na região Amazônica (LAINSON et al., 1969; Silveira

et al., 1982) e no Estado de Mato Grosso do Sul,

região Centro-Oeste (MELLO et al., 1988). Silva

et al. (2000) descreveram uma infecção natural

por L. chagasi na raposa C. thous no Estado de Minas Gerais, sudeste brasileiro, embora tenha sido diagnosticado o caso pecuiliar de um gato doméstico infectado por Leishmania ( Leishmania)

infantum chagasi em Cotia no Estado de São

Paulo, levando a crer que outros tipos de animais domésticos que apresentam características essenciais para albergar o parasito se tornem fontes de infecção (SAVANI, 2004).

Tanto no homem quanto no cão, as leishmanias são raras no sangue, mas na pele se encontram em 16,3% das biópsias humanas e em 77,6% das caninas. A infecção experimental de Lutzomyia longipalpis foi conseguida com três vezes mais freqüência e maior intensidade quando os insetos picavam cães, do que quando sugavam os homens doentes, pelo fato de este apresentar sensibilidade à infecção maior do que

o homem. Individualmente, portanto, o cão é o reservatório mais importante, já que na natureza eles são avidamente sugados pelos flebotomíneos (FORTE DODGE, 2003).

A porcentagem de cães infectados tem sido sempre mais alta ou muito mais alta do que a de pessoas doentes, mas como a população humana é consideravelmente maior que a canina, os percentuais não exprimem o número relativo de fontes de infecção disponíveis para os insetos vetores (REY, 2001).

No cão, o período de incubação médio da doença visceral é superior a quatro meses. Entre 50% e 60% dos cães infectados são assintomáticos, o que sugere a existência de animais resistentes ou com infecção recente nessa população (COSTA, 2001).

A doença canina é caracterizada por lesões ulceradas, unhas muito compridas dela falta de atividade, diarréia e caquexia, e os tratamentos do animal infectado, com drogas e esquemas disponíveis na LTA, são insatisfatórios na LVA (LONARDONI et al,1993).

A vacinação canina anti-leishmania poderá constituir uma importante medida no controle de ambas as doenças, mas todos os animais, cujo diagnóstico for positivo para leishmaniose, devem ser eliminados.

Ante o fenômeno da urbanização da doença e a inegável “humanização” dos animais de estimação, a questão surge como um grave problema em vista da decisão entre eliminar ou tratar os cães. A Organização Mundial de Saúde recomenda o sacrifício como medida ideal de controle, porém reconhece as limitações dessa prática quando cães de alto valor afetivo e econômico são infectados.

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A ausência de alternativas leva muitos proprietários a remover seus animais para outros ambientes, às vezes não atingidos pela doença, gerando, dessa forma, um foco de dispersão do agente (Forte Dodge, 2003).

A doença está presente em cerca de 88 países, sendo 66 do Velho Mundo e 22 do Novo Mundo. Estima-se que a incidência anual varie de 1 milhão a 1,5 milhão de casos novos de leishmaniose cutânea e cerca de 500 mil casos novos de LVA no mundo, conforme a Organização Mundial de Saúde (WHO, 1998).

Um dos principais fatores responsáveis pelo aumento do número de casos de leishmaniose é a migração populacional de áreas rurais para áreas urbanas, além da destruição do habitat natural dos insetos vetores (Costa, 2001).

Não é possível fazer uma estimativa para o número de casos de leishmanioses ocorridos no Novo Mundo. A distribuição da leishmaniose no continente americano é ampla, estendendo-se do Sul dos Estados Unidos da América (EUA) até o Norte da Argentina. No Brasil, esta tem sido assinalada em praticamente todos os estados e nos últimos anos o Ministério da Saúde tem registrado 25 mil casos de LTA e mil novos casos de LVA (Ministério da Saúde, 2003).

Após uma diminuição geral da ocorrência das leishmanioses na década de 1950, o número de registros vem crescendo progressivamente nos últimos anos, observando-se surtos epidêmicos nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Amazônica (Lonardoni et al., 1993)

No Brasil, foram identificados em 2001, 2.968 casos de LVA, e em 2002, 3.304 casos, e destes, houve 191 óbitos. Nos Estados do Centro-Oeste, a ocorrência da doença se deu da seguinte maneira: em Mato Grosso do Sul, houve 217

casos com 17 mortes, em Mato Grosso, 8 casos com 2 mortes, em Goiás 22 casos, com 4 mortes e, no Distrito Federal, nenhum caso (Ministério da Saúde, 2003).

As principais áreas endêmicas no Brasil encontram-se no Nordeste, onde, no período de 1980-1989, ocorreram 94% dos 12.345 casos notificados. Fatos novos foram o aparecimento do calazar em Santarém e Monte Alegre (Pará), a partir de 1984, e em Roraima, a partir de 1989, talvez em conseqüência da grande imigração de trabalhadores e seus cães infectados, além do desmatamento do habitat natural dos vetores, flebotomíneos (Rey, 2001).

É importante citar que não são todas as formas de Leishmania que se associam a florestas, pois a prevalência de LVA foi maior em áreas endêmicas por exemplo, nas cidades brasileiras que são consideradas grandes metrópoles - São Luís, Fortaleza, dentre outras (Gaeta et al., 1994).

Ainda que essas doenças ocorram geralmente de forma endêmica nas Américas e na África, a leishmaniose visceral americana ou calazar tem produzido grandes surtos epidêmicos: entre 1890 e 1900, os casos foram tantos que vilas inteiras se despovoaram. Nos anos de 1935 e seguintes, durante um surto epidêmico ocorrido no Estado do Ceará (Brasil), puderam ser diagnosticados mais de 800 casos.

Fortemente reduzida durante as campanhas de dedetização antimalárica, a incidência das leishmanioses urbanas ou periurbanas voltou a elevar-se quando cessou a aplicação de inseticidas nas áreas endêmicas. No Brasil, os casos foram cerca de 5.000 por ano no período 1980-1983. Em 1985, ocorreram 3.587 casos e, em 1987-1988, cerca de 26.000 casos foram notificados por ano principalmente no

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Norte e no Nordeste do país, mas também em outras regiões (Rey, 2001).

As medidas gerais de controle das leishmanioses devem estar subordinadas a vários níveis de atuação: sobre os insetos-vetores, sobre os animais reservatórios e sobre a população humana (Marzochi et al., 1992). Deve ser realizada a borrifação com inseticidas químicos em todas as casas com casos humanos ou caninos autóctones. Ainda, a educação em saúde é de extrema importância, pois de acordo com o conhecimento dos aspectos culturais e educacionais, ações educativas devem ser desenvolvidas no sentido de que as comunidades atingidas aprendam a se proteger e participem ativamente das ações de controle do calazar (Ministério da Saúde, 2003).

A ação básica objetiva é estimular o diagnóstico precoce de casos humanos, o tratamento das formas não graves, o controle de transmissão vetorial e o diagnóstico e eliminação dos animais infectados. Atualmente, segundo o Ministério da Saúde (2003), todos os cães infectados deverão ser eliminados.

Assim, teve-se por objetivo nesta pesquisa destacar a evolução da leishmaniose visceral americana em caninos no município de Campo Grande, estabelecendo um paralelo com os casos ocorridos em humanos, no período de 1999 a 2003.

A realização da pesquisa deveu-se ao fato de que o município de Campo Grande vem registrando um grande número de casos de leishmaniose visceral americana em cães e um aumento do número de casos humanos nos últimos anos.

A população canina vem sendo parcialmente dizimada, por causa do grande aumento no número de casos de LVA canina, segundo informações obtidas no Centro de

Controle de Zoonoses de Campo Grande (CCZ). A ocorrência da doença em humanos não parece ser tão significativa quanto em caninos, porém se sabe que os surtos de LVA canina, geralmente, precedem ao aumento do número de casos de LVA humana. Assim, pressupõe-se que os casos humanos venham a aparecer com maior freqüência no município.

Por gerar subsídios importantes para a reorientação de ações de prevenção e controle de um agravo à saúde tão importante do ponto de vista individual, epidemiológico e social, justificou a realização desta pesquisa.

2 MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de inquérito epidemiológico, realizado no município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, segundo os distritos sanitários, tendo sido utilizados dados secundários provenientes da Secretaria Municipal de Higiene e Saúde Pública (SESAU) e Centro de Controle de Zoonoses de Campo Grande (CCZ), órgão da SESAU.

Os dados coletados dizem respeito às infecções pelos protozoários do gênero Leishmania, que causaram a leishmaniose visceral americana em humanos e caninos no período de 1999 a 2003. As variáveis consideradas foram os casos (humanos e caninos) ocorridos no município nesse período.

As análises e comparações foram feitas mediante análise estatística, por meio do teste de Pearson, para a determinação do nível de significância da associação entre os casos humanos e caninos.

3 RESULTADOS

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visceral americana canina e humana no município de Campo Grande, ocorridos no período de 1999 a 2003, pode ser visualizada na Gráfico 1.

80 0 40 0 60 1 644 14 4423 92 0 1000 2000 3000 4000 5000 Casos caninos 80 40 60 644 4423 Casos humanos 0 0 1 14 92 1999 2000 2001 2002 2003

Gráfico 1 - Casos de leishmaniose visceral americana humana e canina, ocorridos no município de Campo Grande, MS, no período de 1999 a 2003.

Com relação à quantidade de cães examinados no município de Campo Grande e positivos para leishmaniose visceral americana, no período de 1999 a 2003, observam-se os seguintes valores descritos na Tabela 1.

TABELA 1 – Distribuição de cães positivos e totais de exames realizados, no período de 1999 a 2003.

Ano 1999 2000 2001 2002 2003

Total de cães positivos 80 40 60 644 4423 Total de exames 6.204 4.140 3.162 7.668 15.515

Quando se consideram os casos de LVA em cães ocorridos em Campo Grande no ano 2002 e 2003, foi feita uma comparação entre os valores mensais destes, como exemplificado na Figura 2, devido ao fato de serem os anos que apresentaram os maiores números de casos de LVA canina. A comparação teve, como objetivo, verificar se havia sazonalidade na ocorrência dos casos.

0 200 400 600 800 1000 1200

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 2002 2003

Gráfico 2 - Casos de leishmaniose visceral americana canina ocorridos no município de Campo Grande, MS, nos anos de 2002 e 2003 Com relação aos casos de leishmaniose visceral americana canina e humana ocorridos no município de Campo Grande, foi estabelecida uma comparação entre os índices de positividade dos casos ocorridos em 2002 e 2003, como descritos no Gráfico 3. 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0 50,0 2002 16,9 23,8 15,0 7,9 9,3 4,5 3,1 7,8 10,1 12,2 9,9 11,8 2003 16,9 11,7 24,4 39,1 44,6 34,2 37,0 23,6 43,7 45,3 17,7 11,2

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Gráfico 3 - Índice de positividade dos casos caninos do ano de 2002 e 2003 no município de Campo Grande, MS.

Considerando-se a distribuição dos casos de leishmaniose visceral americana canina e humana, segundo bairros do município de Campo Grande, pode se observar que em todos aqueles analisados houve a ocorrência de casos caninos e os casos em humanos nos seguintes bairros: Aero Rancho, Amambaí, Caiçara, Carvalho Baís, Centro, Colibri 2, Coophasul, Estrela d’Alva, Guanandi 1 e 2, Ipiranga, Jardim Aeroporto, Jardim América, Jd. Bálsamo, Jd. Boa Vista, Jd Colonial, Jd. Paulista, Jd. Veraneio, Jóckey Clube, Marcos Roberto, Mata do Jacinto, Monte Castelo, Nova Campo Grande, Nova Lima, Novo Amazonas, Núcleo Industrial, Oliveira 2, Parati, Parque do Sol, Pioneira, Piratininga, Planalto, Portal Caiobá, Residencial Búzios, Rita Vieira, São Conrado, São Francisco,

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Sayonara, Serradinho, Silvia Regina, Santa Emilia, Santo Eugênio, Santo Antônio, Taquarussu, Tijuca, Tiradentes, União, Vila Alba, Vila Bandeirantes, Vila Carlota, Vila Carvalho, Vila Jaci, Vila Jussara, Vila Margarida, Vila Marli, Vila Nascente, Vila Nhanhá, Vila São Pedro e Vila Soares.

Destaca-se que dos dez bairros com maior ocorrência de casos caninos, em nove destes ocorreram casos humanos. Dos dez bairros com maior ocorrência de casos humanos, em nove havia casos caninos.

A concordância entre um alto número de casos caninos e maior número de casos humanos, ou seja, duas ocorrências altas, ocorreu em quatro destes dez bairros. Dos 15 bairros com 80 ou mais casos caninos em 12 ocorreram casos humanos, e em 43 bairros com 80 casos ou menos ocorreram casos humanos .

Em dois bairros onde ocorreram casos humanos, não houve registro de caso canino.

Foi feita a análise de correlação dos casos caninos e humanos de LVA, ocorridos por bairros do município de Campo Grande, para se avaliar a possível associação entre essas variáveis, utilizando o coeficiente de Correlação de Pearson. A correlação pode ser negativa ou positiva e os valores podem variar de –1 a +1. Quando o valor for zero, não existe nenhum tipo de correlação; quando os valores vão de 0,4 a 0,7, indicam uma correlação moderada. Em 2002, a correlação encontrada entre os casos caninos e humanos foi de 0,561 (positiva, moderada) e, em 2003, foi de 0,560 (positiva, moderada).

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DISCUSSÃO

A LVA é uma doença que está presente no Estado de Mato Grosso do Sul há quase 20 anos e parecia ser um problema restrito aos municípios de Corumbá e Ladário, extremo oeste do Estado, onde, no período de 1984 a 1997, se registraram 245 casos humanos, com 15 óbitos. No entanto, a partir de 1998, a parasitose começou a migrar para regiões próximas como Miranda, Aquidauana e Anastácio. A partir daí, outras regiões do Estado, como Três Lagoas e nordeste do Estado, vêm sendo severamente castigadas pela doença (Centro de Controle de Zoonoses, 2003).

O primeiro cão positivo foi diagnosticado em Campo Grande no ano de 1995, proveniente de Corumbá. Em novembro de 1998, outro cão, proveniente de Aquidauana, mas com moradia há mais de um ano em Campo Grande, com positividade inclusive no diagnóstico parasitológico (Centro de Controle de Zoonoses, 2003).

Os primeiros exames foram realizados pela Fundação Ezequiel Dias, de Belo Horizonte, MG, e no Centro de Pesquisas René Rachou/ FIOCRUZ, também em Belo Horizonte, pelo método da imunofluorescência indireta (IFI). Em fevereiro de 1999, dois técnicos foram treinados em Belo Horizonte e em seguida os exames passaram a ser realizados em Campo Grande, MS, conforme informação proveniente do Centro de Controle de Zoonoses de Campo Grande.

Dentre os fatores que contribuíram para que a parasitose chegasse ao município, destacam-se a chegada de famílias e animais provenientes de regiões onde a doença é presente, e ainda o desmatamento, pois, uma vez que é destruído o habitat natural dos flebotomíneos, estes migram para as áreas urbanas, sendo encontrados em

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áreas intra e peridomiciliares (Centro de Controle de Zoonoses, 2003).

Os primeiros casos humanos começaram a ser registrados no município de Campo Grande no ano de 2001, quando houve apenas um caso. Já no ano de 2002 saltou para 14 registros, atingindo o valor de 94 casos em 2003. Assim foi notificado um total de 107 casos de leishmaniose visceral em humanos no município de Campo Grande no período de 1999 a 2003.

Mesmo com o aumento gradativo dos casos humanos, medidas como controle do vetor, fazendo-se borrifação espacial e residual, foram feitas no município pelo Cento de Controle de Zoonoses, conforme informações provenientes da SESAU. Porém, com o aumento do número de casos, a borrifação passou a ser feita em áreas delimitadas, onde havia grande concentração de casos humanos e caninos. Como essa ação não foi suficiente, o Centro de Controle de Zoonoses elaborou uma proposta que prevê a borrifação de inseticidas em toda Campo Grande, durante quatro meses, repetindo a ação logo após a primeira fase, mas essa medida ainda não se mostrou eficiente por causa da quantidade de casos permanecer em ascendência.

Ao atingirem as áreas urbanas, os flebotomíneos não encontraram dificuldades para instalação e reprodução. Isso porque eles vivem e se reproduzem em locais onde há matéria orgânica em decomposição. Em Campo Grande, o destino dos lixos dos moradores muitas vezes é um terreno baldio a céu aberto, servindo como criadouro para os flebotomíneos. Assim, com o aumento da população do mosquito vetor, o número de cães infectados também aumentou. Tudo isso, aliado à falta de informação da população, contribuiu para que a doença se instalasse definitivamente

e, conseqüentemente, aparecessem os primeiros casos humanos (Pesente, 2003).

No ano de 1999, houve o registro de 80 casos de LVA canina entre os 6.204 cães examinados. Nessa época, como eram poucos os cães positivos, fazia-se inquérito nos bairros onde ocorriam os casos. Os valores descritos na Gráfico 1 devem ser considerados como dados de conveniência e com maior representatividade de algumas regiões urbanas.

O número de casos de LVA canina nos anos de 2000 e 2001 (Gráficos 2 e 3) é proveniente de cães e regiões com maior suspeita da doença, pelo fato de no ano 2000 os exames terem sido feitos apenas em cães sintomáticos recolhidos pelo CCZ, além disso, na medida em que iam aparecendo cães positivos, era realizado inquérito na área de moradia do cão, conforme descrição proveniente do manual de entomologia do Cento de Zoonoses de Campo Grande (2003).

Em 2001, a quantidade de cães examinados diminuiu (apenas 3.162 exames), pois em abril os inquéritos foram suspensos por determinação da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), sendo realizados exames nos cães sintomáticos e que eram confirmados pelo exame parasitológico.

Os anos com valores mais representativos são realmente 2002 e 2003, pois nesse período a maioria das clínicas veterinárias passou a realizar exames em conjunto com o Centro de Zoonoses, e os cães, não só sintomáticos como assintomáticos, passaram a ter material coletado. Também passaram a ocorrer visitas de agente de saúde nos bairros mais afetados, onde a população passou a receber orientações sobre a leishmaniose visceral americana e a respeito de destinação adequada ao lixo orgânico, que é o ambiente mais adequado à proliferação do mosquito. A imprensa também começou a divulgar

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freqüentemente informações quanto à doença e quanto a identificação do cão sintomático.

Comparando o número de casos de LVA canina ocorridos mensalmente em 2002 e 2003 (Gráfico 2), verifica-se que, no mês de maio de ambos os anos, houve um aumento no número de cães com diagnóstico positivo. Em agosto de 2002 houve um aumento, enquanto que em 2003 houve decréscimo nos positivos, já em outubro de 2003 registrou-se o maior número de positivos.

Para verificar se esses aumentos seriam indicativos de maior incidência da doença em alguns meses do ano verificou-se a proporção de exames realizados e de cães positivos encontrados. Os resultados apresentados no Gráfico 3 demonstram que no mês de fevereiro de 2002 houve um aumento no índice de positividade, ao contrário de 2003; no mês de maio de ambos os anos houve aumento, mais acentuado em 2003; em agosto de 2003 houve decréscimo, enquanto que em 2002 iniciava-se uma curva ascendente, atingindo o ponto alto em outubro, para os dois anos estudados. No mês de dezembro, o índice foi semelhante para os dois anos.

Esse comportamento variável observado no diagnóstico pode estar relacionado com a maior ou menor presença do flebótomo, a exemplo, um maior índice de chuvas facilitaria a decomposição da matéria orgânica, facilitando, em certas épocas do ano, a proliferação do vetor responsável pela transmissão da doença. Este é um comportamento muito interessante para ser avaliado em trabalhos futuros.

Analisando-se os casos caninos e humanos ocorridos em Campo Grande, para se verificar a possível associação existente entre essas duas variáveis, descobriu-se que há sim uma associação entre estas, mas, no caso, ela foi moderada, ou seja, os casos caninos não têm influência forte

sobre os índices de casos humanos, a ponto de ser considerada um fator determinante. Assim, se aumentarem os casos caninos ou se houver uma diminuição deles, os casos humanos não acompanharão esses índices, aumentando ou diminuindo na mesma proporção.

Quando se analisam as medidas de controle executadas até o momento em Campo Grande, verifica-se que, por não ser uma doença presente em Campo Grande, não houve uma preocupação de um programa de monitoramento e prevenção de seu possível surgimento e a população também desconhecia a gravidade da doença e os aspectos dela. Assim, as medidas de controle executadas no momento são deficientes diante da situação em que o município se encontra e, mesmo não havendo uma influência considerada forte entre os casos caninos e humanos, observou-se uma correlação. Portanto, a busca por medidas mais eficazes para o controle do vetor e um programa mais intenso por parte da vigilância epidemiológica para conscientização da população devem ser executados, para que se possa tentar diminuir a ocorrência de casos de leishmaniose visceral americana, canina e humana no município.

5 CONCLUSÕES

Foi observada uma correlação positiva e moderada entre os casos de LVA caninos e humanos no município de Campo Grande nos anos de 2002 e 2003, a partir de dados epidemiológicos obtidos na SESAU e no CCZ.

A situação epidemiológica atual em que se encontra o município de Campo Grande, diante dos casos de leishmaniose visceral americana, pode ser considerada grave, pelo fato de aumentar a cada ano, ou seja, ser progressiva.

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Os casos caninos vêm crescendo em níveis considerados altos a cada ano, e os humanos vêm aumentando consideravelmente também. O município atualmente dispõe de ações de controle do vetor e de educação à população, consideradas insuficientes, analisando a situação em que este se encontra. Assim, ações como controle do vetor e programas de educação ambiental por parte do Centro de Controle de Zoonoses, além de maiores interesses por parte das autoridades políticas do município, devem ser melhoradas, para que se possa tentar minimizar a ocorrência de casos caninos e humanos em Campo Grande.

ABSTRACT

American visceral leishmaniosis is a zoonosis present in the Municpality of Campo Grande at the moment, decimating the canine population. Information on the disease and control methods for the vector are both insufficient taking into consideration the increase in the number of cases every year. The objective of the present study was to survey the number of cases of leishmaniosis in humans and canines, in an attempt to establish a correlation between the two. Secondary data was used from the Municipal Secretariat of Hygiene and Public Health, and the Centre for the Control of Zoonoses in Campo Grande during 1999 to 2003. The results show a moderate positive correlation between human and canine cases. More effective control measures for the vector and environmental education programs, in a more efficient form, could contribute to the propagation of information on the disease and its impacts and, thus alert the population as to the risks involved, leading to the adoption of effective preventive control measures.

Keywords: Visceral American Leishmaniosis. Human leishmaniosis. Canine leishmaniosis. Epidemiological study.

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