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O

Governo Econômico da Vila de São João Del Rei,

c. 1808-1824

Notas Preliminares de Pesquisa

Tarcísio Greggio

Mestrando em História Social/UFRJ. Bolsista CAPES/CNPq tarcisiogreggio@hotmail.com

Resumo: Apresento nesse trabalho alguns dados preliminares da pesquisa de

mestrado que desenvolvo junto ao Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a orientação do professor Doutor João Luís Ribeiro Fragoso, através dos quais buscamos os principais aspectos da economia de São João Del Rei entre 1808 e 1824, e seu conseqüente governo pelos homens bons do Senado da Câmara da dita vila. Assim, a partir da documentação camarária e de parte do acervo do Arquivo Histórico Ultramarino, destacamos: o perfil social e econômico dos homens que ocuparam cargos na Câmara e os principais temas abordados por eles no período em questão.

Palavras-chave: Economia colonial. Governo econômico. Senado da Câmara.

São João Del Rei.

Resumen: Presento en este trabajo algunos datos preliminares de la

investigación de mastría que desarrollo junto a Programa de Pos-Graduación en Historia Social de la Universidad de Río de Janeiro, bajo la direcccíon del profesor Doctor João Luís Ribeiro Fragoso, a través de la cual buscamos los aspectos principales de la economía de São João Del Rei entre 1808 y 1824 y su consecuente gobierno económico por los homens bons del Senado de esta Vila. Así, a partir de la documentación de la câmara y de parte de la colección del Arquivo Histórico Ultramarino, destacamos: el perfil social y económico de los hombres que han ocupado posiciones en la câmara y los temas principales acercados por ellos entre 1808 y 1824.

Palabra clave: Económia colonial. Gobierno económico. Senado da Câmara.

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As Câmaras como um Problema Histórico

Tradicionalmente, o poder das câmaras coloniais foi tratado de forma marginal pela historiografia brasileira; o tema sempre aparecia acoplado a discussões sobre a centralidade e o valimento da monarquia lusa nos trópicos, e apenas recentemente ocupou o centro da pesquisa histórica no Brasil. De um modo geral, a historiografia sempre atribui um papel secundário aos poderes locais e às câmaras, quando muito, uma importância tão-somente burocrática.

A obra de Raymundo Faoro nos ajuda muito a pensar a atuação e a composição das câmaras coloniais como um problema histórico e um objeto de pesquisa em si mesmo. O grande jurista e historiador escrevia em 1958; e toda a sua análise da municipalidade no mundo colonial parte da idéia da centralidade da monarquia portuguesa; o estudo das câmaras é subjacente à análise de um problema, assim posto, maior: o da administração portuguesa na América. Afirmava Faoro que, apesar de ser a Vila a base do poder político que vertia do Rei, as câmaras não passavam de “simples executoras das ordens superiores1”; nada

mais que o “braço administrativo da centralização monárquica2”. Faoro procede a uma

descrição detalhada dos cargos camarários - os juízes, vereadores e procuradores eleitos com a prerrogativa de conduzir os assuntos locais -, idéia sobre a qual sustenta a relativa importância das câmaras no cenário político colonial.

“Na aparência”, sargumenta Faoro, “amplas eram as atribuições da Câmara3”; o que não

significa usurpação da competência régia ou muito menos a sobreposição das dinâmicas locais às vontades de centro. Essas atribuições não são, conclui Faoro, “... próprias das câmaras brasileiras, mas inerentes à administração, metropolitana e ultramarina4”. O

mesmo impulso vemos em Caio Prado Junior, para quem as câmaras não passavam de um “... mero departamento administrativo5”. Não obstante o autor destaque alguns aspectos

importantes da concepção camarária - sua importância fiscal e gerencial para o Império, para ser mais preciso -, não deixa sequer entrever uma importância além da burocrática. Isso porque, na visão de Caio Prado Junior, a atuação camarária sempre esteve marcada pela interferência do poder central; quer fosse na figura dos governadores, ouvidores ou mesmo juízes de fora: “... em todos os seus negócios vemos a intervenção de outras autoridades, sobrepondo-se a elas ou correndo-lhes parelhas6”.

Mas o objetivo de Caio prado Junior, assim como o de Faoro, é analisar a administração colonial como um todo, as câmaras apenas integram esse quadro maior. Além do mais, o fato de não haver uma diferença nítida entre o que é local e central na dinâmica do Império Português relativiza qualquer relevância política que as câmaras pudessem ter;

1 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. São Paulo:Globo; Publifolha, 2000. p. 210.

2 Idem, p. 208. 3 Idem, p. 209. 4 Idem, p. 210.

5 PRADO JUNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Globo;Publifolha, 2000. p. 326. 6 Idem, p. 324.

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para Caio Prado Junior, com efeito, o Estado absolutista português aparece como uma “... unidade inteiriça que funciona num todo único7”.

Maria de Fátima Gouvêa faz uma bela análise do problema.

“Caio Prado Junior parece perder de vista a enorme versatilidade e capacidade de adequação da monstruosa maquina burocrática face aos interesses colocados pela dinâmica cotidiana do processo colonizador em curso8”.

Não se trata apenas de versatilidade, porém. Quando pensamos a atuação das câmaras coloniais como um problema histórico, precisamos refletir antes sobre a natureza do poder no Antigo Regime; e nesse ponto há uma semelhança entre Faoro e Prado: ambos têm em comum a idéia de que a monarquia portuguesa absolutista estava baseada em um centro único de poder.

Ao invés de um centro único de poder, uma constelação de pólos relativamente autônomos: esse é o traço fundamental da monarquia portuguesa na Época Moderna9. Antônio Manuel

Hespanha é muito claro ao dizer que

“Com o poder da coroa coexistiam o poder da Igreja, o dos concelhos ou comunas, o dos senhores, o de instituições como as universidades ou as corporações de artífices, o das famílias10”.

Na verdade, a natureza do poder é a natureza mesma de uma sociedade corporativa, na qual os súditos obedecem aos Reis, as mulheres obedecem aos maridos, os poderosos protegem os mais fracos11, tudo isso em favor da manutenção do mundo tal qual ordenado.

Ainda que o Rei dispusesse de prerrogativas políticas, ”... os restantes poderes também tinham atribuições de que o rei não dispunha12”.

Com efeito, o Rei e todos os aparatos de poder estavam sujeitos a um ordenamento anterior ao conjunto das vontades individuais13. Trata-se de uma sociedade concebida

como um corpo, em que cada parte, cujas ações funcionam como verdadeiros contrapesos entre si, constrói o destino da vida social14. Governa-se em vistas a um bem comum, não 7 Idem, p. 308.

8 GOUVÊA, Maria de Fátima Silva. “Redes de poder na América Portuguesa – o caso dos homens bons do Rio de Janeiro, 1790-1822”. In: Revista Brasileira de História. n. 36, v. 18, 1998, p. 307.

9 HESPANHA. Antônio Manuel. As vésperas do Leviathan. Instituições e poder político em Portugal. Século XVII. Coimbra: Livraria Almedina, 1994. p. 295.

10 HESPANHA, Antônio Manuel. “As estruturas políticas em Portugal na Época Moderna”. In: TENGARRINHA, José (org.). História de Portugal. São Paulo: UNESP, 2001. p. 118.

11 Idem. p. 118. 12 Idem. p. 118.

13 HESPANHA, Antônio Manuel; XAVIER, Ângela Barreto. “A representação da sociedade e do poder”. In: MATTOSO, José (org.). História de Portugal: o Antigo Regime. Lisboa: Editorial Estampa, 1998. pp. 115-119. 14 FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima. “Monarquia pluricontinetal e repúblicas: algumas reflexões sobre

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previsto pela coletividade e muito menos por algum código ou postura, mas inserido nos costumes; partilhado, sob a forma de um autogoverno ontológico, entre as dinâmicas e poderes locais.

E são os concelhos, segundo Hespanha, a manifestação mais clara desse autogoverno15.

Assim começamos a pensar, tanto do ponto de vista metodológico quanto teórico, a dinâmica dos poderes locais nas malhas do Império Português como um problema histórico em si mesmo. Charles Boxer16 contribuiu muito nesse sentido. Segundo ele,

porque encontradas desde Goa até São João Del Rei, as Câmaras e as Misericórdias foram os verdadeiros pilares da administração colonial portuguesa, conferindo-lhe sobretudo coerência, uma vez que governadores e demais cargos mudavam de acordo com a vontade régia. Boxer vai além, e discute até que ponto a soberania lusa se fez valer no conjunto do vasto Império Português. Russel-Wood17, depois dele, repensaria as relações entre os

poderes locais e o mando régio, de forma a asseverar que havia entre as partes litigantes uma convergência de interesses adaptáveis a cada situação política.

É através do caminho aberto por Boxer que Bicalho18 diz que as câmaras representaram

a unidade política da colônia, os pilares não só da administração como também de toda a vida social da América portuguesa. Daí Gouvêa19 insistir que as relações de poder

na América lusa são muito mais dinâmicas do que nos fizeram supor a historiografia tradicional. Segundo a mesma autora, a base da governabilidade, da centralidade política, era o pertencimento do colono à monarquia via cessão de privilégios20.

Assim posto, as câmaras gozavam de um atributo político indispensável à governabilidade: o autogoverno, baseado na idéia corporativa de poder21. As câmaras, nos ensina Bicalho22,

ao controlarem o comércio e os tributos, controlavam os eixos da comunicação centro/ colônia.

Além da negociação de interesses e da comunicação com o Reino23, a câmara significava 15 HESPANHA. Antônio Manuel. As vésperas do Leviathan. Instituições e poder político em Portugal. Século XVII.

Op. Cit. 392.

16 BOXER, Charles R. O Império colonial português. Lisboa: Ed. 70, 1981.

17 RUSSEL-WOOD, A. J. “O Poder Local na América Portuguesa”. In: Revista de História, v. 55, no. 109, pp. 25-79. São Paulo, 1977.

18 BICALHO, Maria Fernanda. “As Câmaras Municipais no Império Português: o exemplo do Rio de Janeiro”. Revista Brasileira de História. v. 18. n. 36. São Paulo, 1998.

19 GOUVÊA, Maria de Fátima. “Redes de poder na América portuguesa – o caso dos homens bons do Rio de Janeiro, 1790-1822”. Op. Cit. p. 307.

20 GOUVÊA, Maria de Fátima. “Poder político e administração na formação do complexo atlântico português (1645-1808)”. In FRAGOSO, João; BICALHO, Maria Fernanda; GOUVÊA, Maria de Fátima (Orgs.). O antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI – XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p. 288.

21 FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima. “Monarquia pluricontinetal e repúblicas: algumas reflexões sobre a América lusa nos séculos XVI-XVIII”. Op. Cit.

22 BICALHO, Maria Fernanda. “As Câmaras Municipais no Império Português: o exemplo do Rio de Janeiro”. Op. cit.

23 BICALHO, Maria Fernanda. “As câmaras ultramarinas e o governo do Império”. In: FRAGOSO, João Luís Ribeiro; BICALHO, Maria Fernanda & GOUVÊA, Maria de Fátima (orgs.). O Antigo regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa - séculos XVI-XVIII. Op. Cit. p. 207.

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uma via direta de nobilitação e privilégios para seus oficiais. Segundo Nuno Monteiro, o alargamento do conceito de nobreza a partir do XVI24 fez prosperar inúmeras pessoas

nos cargos militares e de governança espalhados por todo o Império luso. Ao redor das câmaras estavam os homens bons, os principais ou a nobreza da terra; aqueles que costumão andar na governança25. Embora não haja uma definição clara de homem bom

nas Ordenações Filipinas26, certo é que entre eles estava a elite local, e com um poder de

interferência muito grande nos rumos da vida colonial. A Câmara de São João Del Rei

Previstas nas Ordenações Filipinas, as Câmaras desempenharam um papel fundamental na vida da Colônia. O governo da Colônia, todo ele, ficou registrado nos Acórdãos e Termos de Vereança assinados pelos oficiais das Câmaras espalhadas por todo o Império português, instituição da qual inequivocamente dependeu a governança dessas localidades. Sua função, no dizer dos homens bons que as compunham, era administrar o bem comum. Logo, por intermédio de seus oficiais, as Câmaras administravam desde o conserto ou construção de uma ponte, estrada, até o preço e a entrada dos alimentos, a concessão de licenças comerciais e tudo o mais que dizia respeito à vida urbana de seus respectivos termos.

Com efeito, grande parte da vida colonial ficou registrada na documentação deixada pelas Câmaras; a de São João Del Rei iniciou suas atividades em 1715 e por ela passaram alguns dos homens mais importantes da região, que verearam sobre os temas que definiram a vida econômica de uma das praças comerciais mais ricas e importantes da Colônia27.

Um Breve Perfil dos Oficiais

O Império português hierarquizava seus súditos através de uma política de privilégios, e era assim, através da concessão de cargos, que a Monarquia mantinha a governabilidade dos territórios ultramarinos28. O entrelaçamento institucional de todo esse aparato

burocrático se dava no conjunto de medidas políticas adotadas no espaço colonial, o que compreendia desde os mais altos cargos, como os vice-reis e os governadores, até o nível local, como as câmaras. Homens bons, Principais da terra, cidadãos ou povo, assim os oficiais camarários aparecem na documentação, revelando o quanto era importante ser

24 MONTEIRO Nuno G. “O ‘Ethos’ Nobiliárquico no final do Antigo Regime: poder simbólico, império e imaginário social”. Almanack Braziliense. São Paulo, n. 02, novembro de 2005. pp. 7-9.

25 ORDENAÇÒES Filipinas, ou Ordenação de Leis do Reino de Portugal (1603), Livro Primeiro. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985. p. 149, P 28, nota 3.

26 FRAGOSO, João. “A formação da economia colonial no Rio de Janeiro e de sua primeira elite senhorial. (Séculos XVI e XVII)”. In: FRAGOSO, João; BICALHO, Maria Fernanda & GOUVÊA, Maria de Fátima. O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa. (séculos XVI-XVIII). Op. Cit. p. 51.

27 GRAÇA FILHO, Afonso de Alencastro. A princesa do oeste e o mito da decadência de Minas Gerais: São João Del Rei (1831-1888). São Paulo: Annablume, 2002.

28 GOUVÊA, Maria de Fátima. “Poder político e administração na formação do complexo atlântico português (1645-1808)”. In: BICAHLO, Maria Fernanda. FRAGOSO, João & GOUVÂ, Maria de Fátima. O antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI – XVIII). Op. Cit. p. 308.

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responsável pela governança do Império29. Cuidar da coisa pública, acima de tudo era

sinônimo de distinção social e de privilégios30.

As câmaras eram compostas por 2 juízes, de 2 a 4 vereadores e 1 procurador; esses eram os oficiais, que tinham direito de voto e indicavam os demais cargos: o juiz vintenário, o juiz almotacé, o juiz de órfãos, o escrivão, o porteiro, o carcereiro e o tesoureiro31.

De 1808 a 1824, foram localizados, entre vereadores, juízes e procuradores, 56 cargos oficiais ocupados por 47 homens, conforme vemos na tabela abaixo.

Tabela 1. Número de ofícios efetivos por indivíduo, São João Del Rei, c. 1808-1824

% 2 cargos 3 cargos

Mais de um cargo 8 17% 7 15% 1 2%

Apenas um cargo 39 83%

TOTAL 47 100%

Fonte: Arquivo da Câmara de São João Del Rei. Acórdãos e Termos de Vereança (1736-1831). ACOR. 10, 11, 12, 13, 14.

* Excluídos os anos 1815, 1816, 1817 e 1818.

29 MONTEIRO, Lívia. Administrando o bem comum: os homens bons e a câmara de São João Del Rei – 1730-1760. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. (Dissertação de mestrado). p. 32.

30 COMISSOLI, Adriano. Os “homens bons” e a câmara de Porto Alegre. Niterói: UFF, 2006. (Dissertação de mestrado). p. 14.

31 MONTEIRO, Lívia. Administrando o bem comum: os homens bons e a câmara de São João Del Rei – 1730-1760. Op. Cit. p. 33.

A grande maioria dos oficiais ocuparam apenas um cargo na Câmara, 83%, e apenas 1 homem ocupou 3 cargos ao longo dos 16 anos analisados. Esses dados mostram uma instituição aberta a entrada de novos atores. Praticamente o mesmo cenário vemos na primeira metade do século anterior; entre 1737 e 1759, 110 homens diferentes ocuparam os 126 cargos localizados, assim distribuídos.

Tabela 2. Número de ofícios efetivos por indivíduo, São João Del Rei, c. 1737-1759

% cargos2 % cargos3 % cargos4 % cargos5 %

Mais de um cargo 26 24% 20 18,1% 3 2,7% 2 1,8% 1 0,9

Apenas um cargo 84 76%

TOTAL 110 100%

Fonte: MONTEIRO, Lívia. Administrando o bem comum: os homens bons e a câmara de São João Del Rei – 1730-1760. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. (Dissertação de mestrado). * Excluídos os anos 1743 e 1757.

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As porcentagens são virtualmente as mesmas: na primeira metade do século XVIII, somente 24% ocuparam mais de um cargo. No primeiro quartel do século seguinte, esse número cai para 17%. Ou seja, entre 1737 e 1759 e 1808 e 1824, a câmara de São João Del permanece com a mesma característica de ser uma instituição relativamente aberta. O mesmo não podemos dizer sobre as patentes militares. Quando comparamos os dois períodos, vemos um perfil totalmente distinto dos oficiais camarários.

Sem patente 9 19%

Com patente 38 81%

TOTAL 47 100%

Tabela 4. Relação entre oficiais e patentes militares, São João Del Rei, c. 1737-1759 Tabela 3. Relação entre oficiais e patentes militares, São João Del Rei, c. 1808-1824

Fonte: Arquivo da Câmara de São João Del Rei. Acórdãos e Termos de Vereança (1736-1831). ACOR. 10, 11, 12, 13, 14.

* Excluídos os anos 1815, 1816, 1817 e 1818.

Sem patente 84 76%

Com patente 16 24%

TOTAL 110 100%

Fonte: MONTEIRO, Lívia. Administrando o bem comum: os homens bons e a câmara de São João Del Rei – 1730-1760. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. (Dissertação de mestrado). * Excluídos os anos 1743 e 1757.

Entre 1737-1759, apenas 24% dos indivíduos que ocuparam um cargo na Câmara de São João Del Rei possuíam alguma patente militar; de 1808 a 1824 esse número sobe para 81%. Quando comparamos apenas os cargos localizados nos dois períodos, 1737 a 1759 e 1808 a 1824, as porcentagens se equivalem, como mostra a Tabela 5.

Tabela 5. Comparação entre os cargos e patentes militares entre 1737-1759 e 1808-1824

Nº % COM PATENTE % SEM PATENTE

Dos 126 cargos, 1737-1759 31 com patente 24% 86%

Dos 56 cargos, 1808-1824 45 com patente 80% 20%

Fonte: MONTEIRO, Lívia. Administrando o bem comum: os homens bons e a câmara de São João Del Rei – 1730-1760. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. (Dissertação de mestrado). Arquivo da Câmara de São João Del Rei. Acórdãos e Termos de Vereança (1736-1831). ACOR. 10, 11, 12, 13, 14.

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Os Assuntos mais Tratados

Entre janeiro de 1822 e junho de 1823, os oficiais da câmara de São João Del Rei se reuniram 102 vezes e trataram, basicamente, 260 assuntos, assim distribuídos.

Tabela 6. Freqüência dos assuntos tratados pela Câmara de São João Del Rei, entre 1822 e 1823

ASSUNTO % Vila 11 4% Rendas 16 6% Solenidades 23 9% Alomotacé 11 4% Comunicação política 74 28% Despesas 19 28% Expostos 18 7% Eventual 20 8% Cargos 6 3% Despacho 59 23% Ilegível 2 1% TOTAL 260 100%

Fonte: Arquivo da Câmara de São João Del Rei. Acórdãos e Termos de Vereança (1736-1831). ACOR. 10, 11, 12, 13, 14.

* Excluídos os anos 1815, 1816, 1817 e 1818.

A Independência e a primeira constituinte dominam as vereanças ocorridas durante o período destacado, e a intensa comunicação política da câmara com o Rio de Janeiro e o Governo Provincial demonstra o alto nível de integração política da Vila de São João Del Rei. Além do mais, uma análise quantitativa desse tipo nos prepara para entender, por exemplo, como o governo da república se transforma ao longo do século XVIII e início do XIX, o que se vê pela freqüência dos assuntos e a maneira como eles são tratados pelas outras câmaras coloniais.

Mais Perguntas que Respostas

Esse texto é resultado do primeiro contato que tive com a documentação da Câmara de São João Del Rei, por ocasião da pesquisa de mestrado que desenvolvo junto ao Programa de Pós Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A diferença na porcentagem de patentes militares entre os oficiais da Câmara nos períodos mencionados logo me chamou atenção, e tem me levado a uma série de inquietações sobre

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a conformação das elites coloniais e a dinâmica do poder local no âmbito do Império Português.

O objetivo desse texto, elaborado em forma de paper, foi o de levar aos colegas e especialistas basicamente as seguintes questões: É possível falarmos na consolidação de uma elite camarária – ou mesmo “burocrática”, quer dizer, uma elite reunida pelos cargos da governança - entre os séculos XVIII e XIX? Como podemos pensar a importância dos cargos de governança e das patentes militares para a dinâmica do poder local e para a formação das elites coloniais?

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Referências

BICALHO, Maria Fernanda. “As Câmaras Municipais no Império Português: o exemplo do Rio de Janeiro”. Revista Brasileira de História. v. 18. n. 36. São Paulo, 1998.

______. “As câmaras ultramarinas e o governo do Império”. In: FRAGOSO, João Luís Ribeiro; BICALHO, Maria Fernanda & GOUVÊA, Maria de Fátima (orgs.). O Antigo regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa - séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

BOXER, Charles R. O Império colonial português. Lisboa: Ed. 70, 1981.

COMISSOLI, Adriano. Os “homens bons” e a câmara de Porto Alegre. Niterói: UFF, 2006. (Dissertação de mestrado).

FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. São Paulo:Globo; Publifolha, 2000.

FRAGOSO, João. “A formação da economia colonial no Rio de Janeiro e de sua primeira elite senhorial. (Séculos XVI e XVII)”. In: FRAGOSO, João; BICALHO, Maria Fernanda & GOUVÊA, Maria de Fátima. O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica imperial portuguesa. (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima. “Monarquia pluricontinetal e repúblicas: algumas reflexões sobre a América lusa nos séculos XVI-XVIII”. Revista Tempo. Rio de Janeiro, 2009.

GOUVÊA, Maria de Fátima. “Poder político e administração na formação do complexo atlântico português (1645-1808)”. In: BICAHLO, Maria Fernanda. FRAGOSO, João & GOUVÊA, Maria de Fátima. O antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI – XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

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HESPANHA. Antônio Manuel. As vésperas do Leviathan. Instituições e poder político em Portugal. Século XVII. Coimbra: Livraria Almedina, 1994. p. 295.

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MONTEIRO, Lívia. Administrando o bem comum: os homens bons e a câmara de São João Del Rei – 1730-1760. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. (Dissertação de mestrado). MONTEIRO Nuno G. “O ‘Ethos’ Nobiliárquico no final do Antigo Regime: poder simbólico, império e imaginário social”. Almanack Braziliense. São Paulo, n. 02, novembro de 2005.

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PRADO JUNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Globo;Publifolha, 2000.

RUSSEL-WOOD, A. J. “O Poder Local na América Portuguesa”. In: Revista de História, v. 55, no. 109, pp. 25-79. São Paulo, 1977.

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