Jornalismo Cultural
Fernanda Iarossifernanda.iarossi@fapcom.edu.br www.fernandaiarossi.wordpress.com
Crônica
Estrutura-‐se de modo temporalmente mais defasado (ao se comparar com o no=ciário/jornalismo em geral)
Vincula-‐se diretamente aos fatos que estão acontecendo + segue-‐lhe o rastro = não coincide com o seu momento eclosivo
Do ponto de vista histórico, é a narração dos fatos, de forma cronológica, como documento para a posterioridade = narra=va de fatos observados pelo jornalista em determinado espaço de tempo
É considerada o embrião da reportagem = uma narra=va circunstanciada sobre os fatos observados pelo jornalista num determinado espaço de tempo
Crônica
Na imprensa brasileira, é caracterizada como uma composição livre, ligada com a atualidade + relato poé=co do real + diferencia-‐se no jornal por não buscar exa=dão da informação.
Diferentemente da noScia, que procura relatar os fatos que acontecem, a
crônica os analisa, dá-‐lhes um colorido emocional, mostrando aos olhos do leitor uma situação comum, vista por outro ângulo, singular.
A crônica é uma mistura de jornalismo e literatura
A produção dos cronistas foi legi=mada pela literatura que a recolheu como representa=va da expressão de uma determinada época
Crônica
PAULO RÓNAI (1907-‐92) ensaísta, tradutor e linguista nascido na Hungria
(mais em hcp://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa2286/paulo-‐ronai) ”(...) designa uma composição breve, relacionada com a atualidade, publicada em jornal ou revista. De tal forma esse significado está generalizado que só mesmo os especialistas em historiografia se lembram de outro, bem mais an=go, o de narração histórica por ordem cronológica".
O termo crônica, no jornalismo mundial, está bem mais vinculado àquele
outro significado a que se refere Paulo Rónai: o de relato cronológico, o de narração histórica. Trata-‐se, portanto, de um gênero controver=do, cuja caracterização varia de país para país
Crônica
GARGUREVICH, Juan. Géneros periodís=cos. 1. ed. , reimpr. Quito: CIESPAL, 2000.
"Narração direta e imediata de uma noScia com certos elementos valora=vos que sempre devem ser secundários a respeito da narração do lato de si. Procura refle=r o acontecimento entre duas datas".
"A crônica é a antecessora imediata do jornalismo informa=vo". E esclarece: "Quando a indústria da informação não havia alcançado ainda o vigor que lograria em meados do século passado, os próprios jornalistas davam às noScias a denominação de crônicas, influenciados provavelmente pelo gênero histórico-‐literário que tem o mesmo nome".
Crônica
Afrânio Cou=nho (1911-‐2000), historiador e crí=co literário
A crônica adquire personalidade com Machado de Assis, que, ao pra=car esse gênero, confessava-‐se escrevendo "brasileiro". É que a crônica exigia uma "par=cipação direta e movimentada na vida mundana -‐ reuniões da
sociedade, teatro, parlamento" -‐ induzindo o cronista a incorporar a
linguagem coloquial à sua narra=va, abandonando pouco a pouco o es=lo empolado e discursivo da prosa jornalís=ca e literária de então.
Machado de Assis consagrou-‐se ao gênero durante longos anos, contribuindo consideravelmente para a sua evolução na literatura brasileira
Crônica
Antônio Cândido, escritor, crí=co literário, sociólogo e professor (mais em
hcp://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa378/antonio-‐candido) "Acho que foi no decênio de 1930 que a crônica moderna se definiu e
consolidou no Brasil, como gênero bem nosso, cul=vado por um número crescente de escritores e jornalistas, com os seus ro=neiros e os seus mestres. Nos anos 30 se afirmaram Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, e apareceu aquele que de certo modo seria o cronista, voltado de maneira pra=camente exclusiva para este gênero: Rubem Braga".
dois episódios que mudariam sensivelmente o panorama cultural brasileiro e que, por sua vez, decorrem do processo de industrialização e urbanização que alterou a fisionomia econômica do país:
Crônica
A Semana de Arte Moderna de 1922, que inicia um movimento de brasilidade, levando a nossa literatura, seja na temá=ca, seja na linguagem, a se aproximar da realidade nacional.
Se a crônica já havia, no final do século XIX, esboçado reação no terreno linguís=co, ela não consegue impregnar o jornalismo como um todo.
Depois de 1922, não. Observaremos uma mudança nos padrões do es=lo jornalís=co.
O desenvolvimento da imprensa, pois nesse período os jornais diários das grandes cidades assumem feições empresariais, tornado-‐se mais
dinâmicos, ampliando seu público leitor, incorporando a agilidade da moderna imprensa europeia e norte-‐americana
Crônica
A crônica que se pra=ca no Brasil a par=r da década de 30, tendo em Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos seus principais cultores, representa uma con=nuação do gênero que Machado de Assis e José de Alencar haviam sedimentado em nosso jornalismo. Mas os novos cronistas dão-‐lhe uma dimensão especial.
A crônica moderna gira permanentemente em torno da atualidade, captando com sensibilidade o dinamismo da noScia que permeia toda a produção jornalís=ca.
Ainda que o cronista mantenha, como diz Antônio Cândido, "uma conversa aparentemente fiada" em torno de questões secundárias, não vinculadas ao espectro no=cioso, cons=tui um momento de pausa, que reflete a
Crônica
Suas caracterís=cas fundamentais são:
Fidelidade ao co=diano, pela vinculação temá=ca e analí=ca que mantém em relação ao que está ocorrendo, aqui e agora; pela captação dos estados emergentes da psicologia cole=va.
Crí=ca social, que corresponde a "entrar fundo no significado dos atos e
sen=mentos do homem". Diz Antônio Cândido que essa tarefa o cronista realiza de modo dissimulado, pois ele mantém o "ar despreocupado, de quem está falando coisas sem maior consequência". Esse é um traço essencial da crônica moderna, que assume o ar de "conversa fiada", de apreciação irónica dos acontecimentos, deixando de ser o "comentário mais ou menos argumenta=vo e exposi=vo" que se pra=cava nos fins do século XIX
Crônica
Mas a crônica não é monolí=ca, uniforme. Comporta várias espécies. Sua classificação tem sido objeto de estudo de pesquisadores do jornalismo e da literatura.
Na bibliografia sobre a crônica brasileira encontramos quatro tenta=vas de classificação: Luiz Beltrão usa um critério jornalís=co; Afrânio Cou=nho toma como base a =pologia literária; Massaud Moisés procura uma correspondência com os gêneros literários; Antônio Cândido orienta-‐se pela estrutura da narra=va.
Luiz Beltrão propõe duas classificações: quanto ao tema em si e quanto ao tratamento que lhe dá o cronista.
Crônica
crônica geral -‐ sob uma mesma epígrafe ou sob forma gráfica determinada, trata de assuntos os mais variados, ocupando espaço fixo no jornal.
crônica local -‐ também conhecida como urbana ou da cidade, glosa a vida co=diana, atuando como uma espécie de antena cole=va, captando as tendências da opinião pública na comunidade em que se localiza.
crônica especializada -‐ focaliza assuntos referentes a um determinado campo de a=vidade. O tratamento dado a qualquer desses temas pode sugerir três modalidades de crônica.
Crônica
crônica analí=ca -‐ os fatos são expostos com brevidade e logo dissecados obje=vamente; o cronista dirige-‐se mais à inteligência do que ao coração crônica sen=mental -‐ os fatos são apresentados a par=r dos seus aspectos
pitorescos, líricos, épicos, sendo capazes de comover e influenciar a ação, num impulso quase inconsciente; predomina portanto o apelo à
sensibilidade.
crônica saSrico-‐humorís=ca -‐ seu obje=vo é cri=car, ridicularizando ou
ironizando fatos, ações, personagens; busca entreter, assumindo feição caricatural
Crônica
Afrânio Cou=nho aponta cinco =pos de crônicas:
crônica narra=va -‐ seu eixo é uma estória ou episódio, o que a aproxima do conto contemporâneo (sem possuir necessariamente começo, meio e fim); exemplos Spicos são encontrados em Fernando Sabino.
crônica metaysica -‐ cons=tuída de reflexões de cunhí l mais ou menos
filosófico; são meditações sobre OS acontecimentos e sobre os homens, como é o caso de Machado de Assis e de Carlos Drummond de Andrade
Crônica
Crônica-‐poema-‐em-‐prosa de conteúdo lírico, meio extravasamento da alma do ar=sta ante o espetáculo da vida. das paisagens ou episódios
carregados de significação; seus principais cultores foram Álvaro Moreyra, Rubem Braga, Manuel Bandeira, Ledo Ivo, Eneida, Raquel de Queiroz
Crônica-‐comentário -‐ resenha de acontecimentos diferentes e díspares, tomando o aspecto de "bazar asiá=co"; muitas crônicas de Machado de Assis e de José de Alencar pertencem a esse =po.
crônica-‐informação -‐ divulga fatos, tecendo sobre eles comentários ligeiros; aproxima-‐se do =po anterior, sendo menos pessoal. Lourenço Diaféria e Flávio Rangel produziram hoje crônicas que se enquadram nessa espécie
Crônica
Defendendo o ponto de vista de que a crônica tem um "caráter ambíguo", oscilando entre o poema e o conto, Massaud Moisés propõe dois =pos + "lugar ideal da crônica" é o "meio-‐termo entre acontecimento e lirismo”
Crônica-‐poema -‐ os cronistas chegam a fazer versos na sua prosa emo=va ou a lançar mão de uma estrofe para encerrar um texto; ou então, constroem a crônica totalmente em verso. ( ai los Drummond de Andrade recorreu
algumas vezes a esse =po de expressão verbal.
Crônica-‐conto -‐ um acontecimento que provoca a atenção do cronista é narrado como se fora um conto. Enquanto o primeiro =po explora a
temá=ca do "eu" (concentra-‐se nas emoções do cronista), o segundo =po gira em torno do "não eu" (o acontecimento de que o cronista é apenas o narrador, o historiador)
Crônica
Sem a pretensão de criar categorias, mas tão-‐somente destacar diferenças entre os modernos cronistas brasileiros, Antônio Cândido sugere a
seguinte classificação:
Crônica-‐diálogo -‐ onde o cronista e seu interlocutor imaginário se revezam, intercambiando informações e pontos de vista; exemplos: Gravador
(Carlos Drummond de Andrade) e Conversinha mineira (Fernando Sabino) crônica narra=va -‐ tem certa estrutura de ficção, marchando rumo ao conto; crônica exposição poé=ca -‐ divagação livre sobre um fato ou personagem;
cadeia de associações;
Crônica
hcp://www.correiobraziliense.com.br/app/no=cia/diversao-‐e-‐arte/ 2014/10/08/interna_diversao_arte,451270/confira-‐lista-‐com-‐10-‐ importantes-‐cronistas-‐brasileiros.shtml
Machado de Assis – abordou, ironicamente, os descalabros da polí=ca, a infâmia da escravidão e as mazelas sociais do século 19, com um olhar oblíquo e dissimulado.
Lima Barreto -‐ an=-‐Machado de Assis, a quem recriminava como "autor para moças prendadas” + cri=cou, com observações de senso crí=co agudo, as desigualdades sociais do século 19
João do Rio -‐ esquadrinhou o Rio de Janeiro, comcins=nto de repórter, a errância do boêmio e o ins=nto do repórter
Cecília Meireles -‐ prosa é marcada pelo ritmo, a musicalidade e o lirismo delicado
Crônica
Rubem Braga -‐ radicalizar na subje=vidade e inventar maneiras de cul=var o gênero: a carta, a divagação vagamente filosófica, o poema em prosa Nelson Rodrigues – campo dos costumes, da cultura quanto do futebol +
inovou o gênero ao inventar personagens célebres tais como O Idiota da obje=vidade
Paulo Mendes de Campos -‐ texto elegante, fluído e lírico
Clarice Lispector – a par=r de situações triviaispode lançar o leitor a grandes voos de lirismo (a beleza é o nosso elo com o infinito)
Carlos Drummond de Andrade -‐ es=lo, ao mesmo tempo, moderno e clássico, quase machadiano. Inovou no gênero ao fazer crônicas em versos
Crônica
hcp://www.portalimprensa.com.br/especialcarreira/foradasala_01.asp Novos cronistas refletem sobre o atual cenário do oycio na imprensa