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RELATÓRIO DO SERVIÇO DE DRUG CHECKING DA KOSMICARE. Novembro Novembro 2020

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RELATÓRIO

DO SERVIÇO

DE DRUG

CHECKING DA

KOSMICARE

Novembro 2019 - Novembro 2020

(2)

Este relatório foi produzido pela Kosmicare e apresenta os dados da análise de amostras recolhidas no âmbito das atividades do serviço de drug checking entre

Novembro de 2019 e Novembro de 2020.

A Kosmicare é uma organização não-governamental que tem como fim a promoção do desenvolvimento humano numa perspetiva de respeito pelos direitos humanos e pelo desenvolvimento sustentável, com foco na saúde e no bem-estar social. A Kosmicare tem em concreto como missão reduzir os riscos e minimizar os danos associados ao consumo de substâncias psicoativas informando as populações sobre a composição e os efeitos das drogas. O serviço de informação e análise da composição das substâncias (Drug Checking) da Kosmicare funciona ao abrigo do regime geral das políticas de prevenção e redução de riscos e minimização de danos, aprovado pelo Decreto-Lei nº 183/2001, de 21 de junho, nomeadamente do seu artigo 31º.

Co-financiamento

Apoio

Recomendação de citação

Kosmicare (2020), Relatório do serviço de análise Associação Kosmicare

Rua Cesário Verde 17b, 1170-223

Lisboa 911 185 758

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PREFÁCIO

Nas últimas décadas os mercados informais de drogas têm-se alterado de forma rápida e consistente. O aparecimento em circulação de Novas Substâncias Psicoativas (NSP) de diferentes classes químicas (anfetaminas, fenetilaminas, triptaminas, catinonas, arilcicloexilaminas, canabinóides sintéticos, entre outras) das quais se desconhece a natureza de efeitos, toxicidade, doses e não se tem capacidade analítica, aumentou os desafios para as autoridades de saúde, assim como os potenciais riscos para as pessoas que consomem drogas. Detectaram-se também alterações relevantes no mercado de MDMA (ecstasy), tendo sido reportado em vários pontos do globo a existência de pastilhas contendo duas vezes ou mais vezes a dose activa recomendada de MDMA.

O papel dos serviços de análise de substâncias (drug checking) como ferramenta de estudo e monitorização destes fenómenos têm-se revelado essencial, principalmente na Europa, América do Norte e Austrália. A informação da composição química das substâncias em circulação permite detetar e emitir alertas de substâncias potencialmente tóxicas, assim como reunir informação pertinente sobre os contextos de consumo. Por outro lado, um serviço integrado de drug checking permite que pessoas que consomem drogas acedam a aconselhamento especializado sobre as substâncias que tencionam consumir, nomeadamente estratégias para diminuir os riscos associados ao seu consumo atendendo às doses, efeitos, vias de consumo, disposição mental (set) e contexto (setting).

O serviço de drug checking da Kosmicare existe desde 2016, operando em festivais de verão . A partir de outubro de 2019, através de um co-financiamento do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) e da Câmara Municipal de Lisboa, a Kosmicare passou a disponibilizar um serviço permanente de análise de substâncias e aconselhamento especializado. Desde Novembro de 2019 foram recolhidas e analisadas 236 amostras.

Para além de todos os desafios que um serviço deste género apresenta, a pandemia de COVID-19 veio requerer um esforço adicional aos serviços de redução de riscos. Apesar de não ter cessado a atividade durante o confinamento, o serviço passou a funcionar apenas por marcação prévia e a submissão de amostras sofreu uma quebra considerável. Como resposta a esta nova situação a Kosmicare reforçou a sua intervenção online, mantendo o contacto com o seu público-alvo, e desenhou um plano de expansão do serviço de análises para pessoas que consomem drogas em contextos de maior vulnerabilidade, tendo até ao momento apenas um

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acesso muito reduzido a este tipo de respostas. Em outubro de 2020 a Kosmicare estabeleceu um protocolo de cooperação com o Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz por forma a aumentar a sua capacidade analítica, nomeadamente através de cromatografia gasosa - espectrometria de massa (GC-MS). No decorrer dos próximos meses, com o apoio do SICAD, planeamos implementar um serviço de apoio a equipas de redução de riscos que trabalham com pessoas que consomem drogas em contextos de vulnerabilidade Através da utilização de um espectrofotometro de infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) , em conjunto com outros métodos analíticos, tentaremos dar resposta a outras populações com necessidades específicas.

O próximo ano irá certamente trazer grandes desafios, no entanto Kosmicare mantém-se comprometida em criar respostas de intervenção inovadoras e bamantém-seadas em evidência científica.

Kosmicare 2 de Dezembro de 2020

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DRUG CHECKING

A análise de substâncias psicoativas ou drug checking é definido como um serviço que permite que utilizadores possam analisar quimicamente substâncias psicoativas e receber aconselhamento especializado. Os primeiros serviços de drug checking de base comunitária surgiram nos anos 1960’s e foram uma resposta à vaga de adulteração consequente da proibição de substâncias psicoativas mandatada pelas Nações Unidas através da Convenção Única de

1961 sobre Estupefacientes. Muitos países do mundo têm disponível serviços de Drug Checking,

sendo que na Europa estes serviços estão conectados pela rede T.E.D.I - Trans-European Drug

Information.

Atualmente considera-se que os serviços de drug checking têm duas valências principais que se podem destacar. A monitorização de mercados informais de drogas, que permite obter informações sobre a introdução de novas substâncias nos mercados ou novas formulações (p.e. pastilhas com elevada dosagem) mas também reunir informação sobre novas formas de consumo ou contextos onde os consumos decorrem. Em conjunto com outros mecanismos de monitorização, como questionários à população, análise de águas residuais ou análise de produtos apreendidos, o drug checking é uma ferramenta útil na compreensão e estudo das alterações dos mercados de drogas, assim como no desenho de intervenções e campanhas de promoção da saúde mais eficazes. Recentemente o Observatório Europeu das Drogas e Toxicodependência (OEDT) referiu que “farmacovigilância através dos sistemas

de drug checking permite emitir alertas de forma atempada e direcionados a grupos de risco específicos, transmitindo um nível de profissionalismo que é bem recebido pelos consumidores de substâncias” (Brunt, 2017). Outra das valências dos serviços de drug checking, e talvez a

mais importante, é o seu potencial enquanto ferramenta de intervenção em redução de riscos. Um dos principais objetivos dos serviços de drug checking é a prevenção do consumo de substâncias perigosas e/ou muito adulteradas assim como a promoção da decisão informada. Tal como outras intervenções preventivas, o serviço de análise de substâncias tenta influenciar o comportamento das pessoas que usam drogas fornecendo informações precisas sobre a composição das substâncias, assim como estratégias específicas. A equipa da Kosmicare têm-se dedicado a estudar de que forma a provisão deste tipo de informação pode influenciar os processos de decisão (Martins et al., 2017; Valente et al., 2019) sendo que os dados indicam que uma percentagem muito elevada das pessoas que obtém um resultado de “não esperado” ou “substância muito adulterada” reporta que não irá consumir aquela substância. Não menos importante, muitas das pessoas que utilizam o serviço, implementam estratégias de redução

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de riscos, após receberem aconselhamento especializado, mesmo quando obtêm o resultado que estavam à espera (Valente et al., no prelo).

SERVIÇO PERMANENTE DE DRUG CHECKING

O serviço permanente de drug checking da Kosmicare funciona desde outubro de 2019 todas as terças e quartas-feiras em Lisboa. Atualmente, as técnicas que a Kosmicare utiliza são reagentes colorimétricos, cromatografia em camada fina (TLC), espectrofotometria ultravioleta e, através de um protocolo com o Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz, cromatografia gasosa acoplada a espectrometro de massa (GC-MS). Neste relatório vão ser apresentados resultados de amostras submetidas por utilizadores do serviço de forma voluntária e anónima.

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PONTOS-CHAVE

• Foram submetidas para análise 236 amostras;

• Em 90% das amostras submetidas como LSD e MDMA foi

apenas detetada a substância esperada;

• A dose média foi de MDMA encontrado nas pastilhas

analisadas foi de 189 mg;

• Duas amostras submetidas como LSD continham apenas

DOC, um potente psicadélico de longa duração;

• Metade das amostras submetidas como cocaína não

continham a substância esperada ou estava adulterada com

outras.

• Resultados preliminares de um estudo de avaliação de

impacto do serviço mostram que a grande maioria das

pessoas inquiridas até ao momento reportam, uma semana

depois de ter recebido o resultado da análise, algum tipo de

mudança comportamental relativa aos seus consumos.

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RESULTADOS GERAIS

Durante o 1º ano de funcionamento do drop-in da Kosmicare em Lisboa foram submetidas 236 amostras para análise no serviço de drug checking.

Expectativas dos

utilizadores/as, N=236

MDMA LSD Cocaína Ketamina Anfetamina Mefedrona Outros 2C-B Desconhecido

Gráfico 1. Expectativa das amostras submetidas para análise (N=236)

A expectativas dos/das utilizadores/as relativamente à identidade das amostras entregues para análise são um indicador importante de quais as substâncias que as pessoas desejam consumir. Estes dados ajudam no desenho de intervenções direcionadas para a nossa população-alvo tendo em consideração as substâncias mais procuradas. Das 236 amostras submetidas para análise, 45% foram submetidas como sendo MDMA, 18% como LSD, 9% como cocaína, 8% como ketamina, 7% como anfetamina, 3% como 2C-B e 1% como mefedrona. Os restantes 6% (“outros”) correspondem a amostras de DMT, mescalina, heroína, outras catinonas

45% 6% 1% 18% 8% 8% 7% 3% 3%

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Gráfico 2. Resumo dos padrões de adulteração das substâncias submetidas para análise ANFETAMINA N=17 KETAMINA N=19 COCAÍNA N=20 LSD N=41 MDMA N=105 100% 0% 20% 40% 60% 80% 2C-B N=7

EXPECTATIVA vs RESULTADO DA ANÁLISE

Substância esperada Substância esperada mais outra(s) Sem Substância esperada

Das amostras submetidas como sendo MDMA, em 90% foi apenas detetado MDMA. De igual forma, das amostras submetidas como LSD, foi apenas detetado LSD em 90% das amostras. Foram entregues para análise 20 amostras de cocaína, sendo que destas 4 estavam na forma de base (crack). Nas amostras de cocaína, em 10 apenas foi detetada cocaína. O resto das amostras continham cocaína com outros adulterantes ou não foi detetada qualquer cocaína na amostra. Todas as amostras de cocaína base (crack) continham cocaína e outra(s) substância(s). Nas 20 amostras submetidas como ketamina, em 19 foi apenas detetada ketamina. Das 17 amostras de anfetamina, mais de metade das amostras continham anfetamina adulterada com outra(s) substâncias e em duas amostras não foi detetada anfetamina. Todas as substâncias entregues como sendo 2C-B continham apenas a substância esperada.

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MDMA 94 5 2 1 2 1 MDMA + Desconhecido MDMA + Cafeína Desconhecido MDMA + Paracetamol Anfetamina + Cafeina

RESULTADOS DAS ANÁLISES POR SUBSTÂNCIA

MDMA

No último ano, foram entregues 105 amostras submetidas como MDMA. Destas, 49 apresentavam-se sob a forma de cristal e 56 como pastilhas.

Gráfico 3 - Resultados da análise das amostras submetidas como MDMA.

Na maioria das amostras submetidas como MDMA, este foi o único composto detetado. Nas amostras que continham MDMA com outra substância (representando 4 das amostras de MDMA em pastilha e 5 das amostras de MDMA em cristal), os adulterantes mais frequentes foram cafeína e paracetamol. Em 5 amostras foi detetado MDMA com um adulterante não identificado. Numa das amostras não foi detetado MDMA. Com os métodos disponíveis na Kosmicare foi possível identificar a presença de uma substância de identidade desconhecida. No entanto, através de colaboração com o Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz, foi possível identificar este composto desconhecido como sendo 4-cloro-N,N-dimetilcatinona (4-CDMC), uma catinona sintética com efeito estimulante. Foi ainda analisada uma amostra submetida como MDMA que continha apenas anfetamina e cafeína.

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Dose máxima recomendada por sessão/noite Dose média das pastilhas analisadas

Gráfico 4. Resultados da quantificação de amostras identificadas como MDMA.

300mg 250mg 200mg 150mg 100mg 50mg 0mg

Além das análises qualitativas, procedeu-se também à quantificação de pastilhas através de espectrofotometria UV-Vis. Ao longo do primeiro ano de funcionamento do drop-in da Kosmicare, foram quantificadas 42 pastilhas de MDMA. A dose média foi de 189 mg, com a dose mínima de 45 mg e máxima de 284 mg.

Considerando uma dose máxima recomendada de 125 mg por pessoa numa mesma sessão/noite, torna-se evidente também na cidade de Lisboa a tendência detetada a nível mundial de circulação de pastilhas com elevadas doses de MDMA. Os riscos associados a doses tão elevadas de MDMA passam por aumento dos efeitos estimulantes, taquicardia, hipertensão arterial, hipertermia que podem ser fatais.

No entanto, as doses individuais de MDMA por pessoa e por ocasião de consumo são extremamente variáveis. Factores como peso corporal, sexo (estudos indicam que o MDMA afecta mais intensamente mulheres cisgénero), uso concomitante de outras substâncias, set e

setting podem afetar os efeito da substância e potenciais riscos tóxicos. A dose de referência

de 125 mg de MDMA é calculada a partir de um homem branco cisgénero, saudável, com cerca de 70 kg.

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Uma fórmula utilizada para calcular as doses individuais de MDMA tendo em conta o peso corporal é multiplicar o peso em quilogramas por um factor de 1 a 1.5.

dose individual de MDMA (mg) = [1;1.5] x valor numérico do peso corporal (Kg)

No caso de uma mulher cisgénero de 50 Kg, sem experiência prévia com MDMA, num ambiente de festa, uma dose individual pode ser de 50 mg. Para esta pessoa, consumir uma pastilha com 184 mg representa mais de 3 vezes uma dose individual, com um grande aumento dos riscos associados.

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Gráfico 5. Resultados da análise das amostras submetidas como LSD LSD DO(x) LSD + Desconhecido Desconhecido

LSD

Das 41 amostras submetidas como LSD foi detetada apenas esta substância em 37 amostras. Numa amostra foi detetado LSD mais duas substâncias desconhecidas, que provavelmente se tratam de resíduos de síntese ou produtos de degradação do LSD. Foi também analisada uma amostra vendida como LSD onde não foi detetada nenhuma substância.

Durante os meses de pandemia contemplados neste relatório (Março a Novembro de 2020) foram analisadas duas amostras submetidas com LSD contendo derivados da 2,5 – dimetoxianfetamina, conhecidos como DO(x). Os DO(x) são uma série de compostos são feniletilaminas (assim como a mescalina, o MDMA e a anfetamina), com pequenas substituições na sua estrutura (x=Bromo, DOB; x= Iodo, DOI, x=Cloro, DOC) que geram efeitos diferentes. A sua síntese, doses e duração dos efeitos foram extensivamente descrita por Alexander Shulgin no livro PIHKAL publicado em 1993 [REF]. Por serem ativos em doses tão baixas como 1 mg, estas substâncias podem ser distribuídos em blotters (papel mata-borrão) ou gotas. Os efeitos que provocam são psicadélicos, mas com maior estimulação física e duração que o LSD (até 36h). Em doses altas, são frequentes episódios de grande agitação psicomotora e experiências intensas difíceis de gerir psicologicamente, principalmente em consumos não intencionais. Uma característica que aumenta o risco do seu uso é que os efeitos podem demorar 2 a 4 horas a fazer-se sentir, ao contrário do LSD, em que os efeitos geralmente se sentem 1-2 horas depois da toma. Esta demora pode levar à toma de doses suplementares e consequentemente a efeitos mais intensos e a uma maior duração da experiência.

37

2 1 1

Resultados da análise de LSD, N=41

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COCAÍNA

Foram submetidas para análise 20 amostras de cocaína, catorze amostras submetidas na forma de hidrocloreto de cocaína (sal) e quatro na forma de crack (base).

Gráfico 6. Resultados da análise das amostras submetidas como cocaína

Cocaína Cocaína + fenacetina Cocaína + desconhecido Desconhecido Cocaína + tetracaína 10 5 1 2 2

Na amostras em forma de sal, foi detetado apenas cocaína em 10 amostras. Em duas amostras não foi detetada cocaína. As restantes amostras continham cocaína e outros adulterantes, nomeadamente tetracaína e fenacetina. Uma amostra continha ainda cocaína e um adulterante que não foi possível identificar. Em todas as quatro amostras submetidas como crack, foi possível detectar cocaína e fenacetina. Estes resultados foram confirmados por GC-MS no Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz. Apesar de se tratar de um número pequeno de amostras, o diferente padrão de adulteração é notório, reforçando a necessidade de alargar o serviço a populações em situações de vulnerabilidade, com consumos potencialmente de maior risco.

Resultados da análise de Cocaína, N=20

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ANFETAMINA

Das 17 amostras submetidas como anfetamina, em 7 foi detectada anfetamina e cafeína. Este é um padrão de adulteração bastante comum em amostras desta substância. Em 6 das amostras apenas foi detetada anfetamina.

KETAMINA

Das 19 amostras submetidas como ketamina, em 18 foi apenas detectada a presença de ketamina. Numa das amostras foi detetada ketamina com outra substância possivelmente de uma impureza derivada da síntese de ketamina.

Anfetamina + Cafeina Anfetamina

Anfetamina + Desconhecido Cafeína

Anfetamina + Cafeina + Desconhecido Desconhecido

Gráfico 7. Resultados da análise de amostras submetidas como anfetamina.

7 6 1

1

1 1

Resultados da análise de Anfetamina, N=17

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OUTRAS AMOSTRAS

Foram ainda analisadas 24 amostras, submetidas como outras substâncias.

Foram submetidas sete amostras como 2C-B, das quais cinco eram em forma de pastilha e duas em forma de cristal. Em todas foi apenas detectado 2C-B. Foi também possível quantificar as pastilhas de 2C-B, por espectrofotometria UV-Vis. As doses eram de 4 mg, 7 mg, 9 mg, 11,5 mg e 14 mg. Foram submetidas três amostras como mefedrona (4-MMC). Nestas, apenas foi detectado 4-MMC ou 3-MMC, uma vez que o método utilizado na Kosmicare não permite distinguir entre estes dois isómeros posicionais. Foram analisadas outras três amostras submetidas apenas como “catinonas sintéticas”. Destas, duas continham 3- ou 4-MMC e cafeína, e numa delas apenas foi detectada a presença de cafeína. Das duas amostras de heroína analisadas, em ambas foi detectado pela Kosmicare a presença de heroína adulterada com outros compostos. Através da colaboração com o Instituto Universitário Egas Moniz, foi possível identificar estes compostos como cafeína, paracetamol e outros compostos e alcalóides característicos de extractos de Papaverum somniferum. Foi analisada uma amostra submetida como metoxetamina (MXE), uma NSP similar a ketamina. A análise apenas detectou ketamina. Foram ainda analisadas 5 substâncias similares a DMT (4-AcO-DMT, 5-MeO-DMT, 5-OH-DMT).

7 1 1 3 3 2 2 2 2 1

Outras Amostras, N=24

2C-B Catinonas Mefedrona DMT Heroína 4-AcO-DMT 5-OH-DMT MXE Mescalina 5-MeO-DMT

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DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS

E MUDANÇA COMPORTAMENTAL

Seis meses após a abertura do serviço permanente de drug checking, a Kosmicare deu início a uma investigação que visa avaliar o impacto do serviço. Para isso está a desenvolver um estudo que pretende avaliar diferentes variáveis em três momentos distintos no tempo. Nesta fase iremos partilhar apenas alguns resultados preliminares de caracterização da amostra (N= 45) e alguns resultados de mudança comportamental. 70% da nossa amostra está situada entre os 20 e os 30 anos e se com o género masculino e 100% da amostra identifica-se como caucasiana. 71% da amostra frequentou o ensino superior ou técnico, 75% trabalham e 18% estudam, apenas 4% da amostra está neste momento desempregada.

As principais motivações reportadas pelas pessoas que usam o serviço de drug checking da Kosmicare para testarem as suas drogas são: “Evitar o consumo de substâncias inesperadas ou perigosas”; “ Procura de informação sobre adulterantes e agentes de corte”; “ Confiança na informação que a Kosmicare presta.” 75% das pessoas inquiridas nunca tinham contatado com nenhum serviço de saúde ou social na área das drogas, corroborando a ideia defendida na literatura ( Hungerbuehler et al., 2011) de que este tipo de serviço alcança uma população jovem, oculta e que está normalmente no início da sua carreira de consumo, sendo esta uma fase fundamental para intervir. Das 45 pessoas da amostra inicial, 28 completaram até ao momento o primeiro questionário de follow up, realizado uma semana após a obtenção do resultado da análise.

Das 6 pessoas que não tiveram o resultado esperado, 5 reportaram não terem consumido a substância em questão. Mas mesmo entre aquelas que obtiveram o resultado esperado, mais da metade reporta algum tipo de mudança comportamental. Oito pessoas consumiram uma dose mais pequena do que tinham planeado inicialmente, 7 pessoas deixaram a substância para consumir numa ocasião mais apropriada e 3 reportam ter evitado misturas com outras substâncias.

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REFERÊNCIAS

Brunt, T. M. (2017). Drug checking as a harm reduction tool for recreational drug users: opportunities and

challenges. Retrieved from EMCDDA, Lisbon

• Martins, D., Barratt, M. J., Pires, C. V., Carvalho, H., Vilamala, M. V., Espinosa, I. F., & Valente, H. (2017). The detection and prevention of unintentional consumption of DOx and 25x-NBOMe at Portugal’s Boom Festival. Human Psychopharmacology: Clinical and Experimental, 32(3), e2608-n/a. doi:10.1002/hup.2608

Shulgin, A., & Shulgin, A. (1991). PIHKAL: a chemical love story: Transform Press.

• Valente, H., Martins, D., Carvalho, H., Pires, C. V., Carvalho, M. C., Pinto, M., & Barratt, M. J. (2019). Evaluation of a drug checking service at a large scale electronic music festival in Portugal. Int J Drug Policy, 73, 88-95. doi:10.1016/j.drugpo.2019.07.007

Hungerbuehler, I., Buecheli, A., & Schaub, M. (2011). Drug Checking: A prevention measure for a heterogeneous

group with high consumption frequency and polydrug use - evaluation of zurich’s drug checking services.

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