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Helton Marques (Graduado UNESP/Assis)

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Academic year: 2021

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II Colóquio da Pós-Graduação em Letras UNESP – Campus de Assis

ISSN: 2178-3683 www.assis.unesp.br/coloquioletras coloquiletras@yahoo.com.br 108 A AIINNFFÂÂNNCCIIAAEEAAVVIIOOLLÊÊNNCCIIAANNOOCCOONNTTEEXXTTOODDAAFFAAMMÍÍLLIIAAPPAATTRRIIAARRCCAALL B BRRAASSIILLEEIIRRAAEESSUUAARREEPPRREESSEENNTTAAÇÇÃÃOOEEMMININFÂNNCCIIAA,,DDEEGGRRAACCIILLIIAANNOORRAAMMOOSS,, E EMEMENNIINNOO DDEE EENNGGEENNHHOO,,DDEEJJOOSSÉÉLLIINNSSDDOORREEGGOO Helton Marques (Graduado – UNESP/Assis) R

REESSUUMMO:O: O presente trabalho pretende traçar um paralelo entre o romance Infância, de Graciliano Ramos, que se trata de um livro de memórias, publicado em 1945, com o propósito de denunciar o encontro da criança com a violência no contexto da família patriarcal brasileira, e o romance Menino de engenho, de José Lins do Rego, que constitui seu livro de estreia, publicado em 1932, ao longo do qual o narrador-protagonista reúne suas recordações de infância, regida pelo signo da violência, e retrata a situação histórico-social da região nordestina dos tempos do patriarcado em decadência. Desse modo, este trabalho tem como objetivo desenvolver um estudo sobre a representação da infância e da violência no contexto da família patriarcal no Brasil, tendo como principal amparo teórico os livros Casa-grande e

Senzala, de Gilberto Freyre, e Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda.

P

PAALLAAVVRRAASS--CCHHAAVVEE:: Literatura comparada; violência social e literatura; representação literária; infância; família patriarcal brasileira.

Após a leitura dos romances Infância, de Graciliano Ramos, e Menino de

engenho, de José Lins do Rego, torna-se viável realizar um estudo comparativo entre

ambos, a fim de analisar a representação da infância e da violência no contexto da família patriarcal brasileira, presente de maneira marcante nas duas narrativas.

Sendo assim, com relação à trama de Infância, é importante considerar que se trata de uma história narrada por um narrador autodiegético, o qual relembra fatos ocorridos em sua infância, marcada pela violência e opressão. Por exemplo, logo no quarto capítulo, intitulado “Um cinturão”, o narrador tenta evidenciar os sofrimentos da criança sob a violência patriarcal. A narrativa mostra como o protagonista, ainda um menino, é castigado violentamente pelo pai, simplesmente porque este lhe atribui a culpa pelo sumiço de um cinturão que não encontra, e que também o filho não sabe o paradeiro:

Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada a martelo (...). A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro fustigou-me as costas. Uivos, alarido inútil, estertor. (RAMOS, 1953, p. 32, 33).

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No entanto, o próprio pai é que havia perdido o cinturão, quando lhe desprendeu a fivela ao deitar-se na rede para dormir.

Além dessa passagem, há também o episódio em que a mãe do menino maltratado castiga-o violentamente, usando uma corda de nó para surrá-lo, o que deixa hematomas no corpo da criança: “Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos.” (RAMOS, 1953, p. 30).

Como foi ilustrado acima, a criança protagonista é alvo da violência dentro do próprio espaço familiar, sendo vítima de agressões físicas e, consequentemente, psicológicas.

De modo geral, em Infância o relato se concentra nos momentos difíceis da socialização de seu pequeno protagonista, um menino fraco e tímido que se vê humilhado e batido pelos mais velhos, de forma especial, pelos próprios pais.

Sobre a estrutura familiar na qual se encontra a criança protagonista do romance, é importante destacar que se trata de uma estrutura baseada nos princípios da família patriarcal, fundamentando a entidade familiar no princípio da autoridade, com as características de uma entidade política, obediente ao patriarca.

Sobre as características da família patriarcal brasileira, Gilberto Freyre, em

Casa-grande e Senzala, conclui que

a história social da casa-grande é a história íntima de quase todo brasileiro: da sua vida doméstica, conjugal, sob o patriarcalismo escravocrata e polígamo; da sua vida de menino; do seu cristianismo reduzido à religião de família e influenciado pelas crendices da senzala. (FREYRE, 2006, p. 44)

Essas características se encontram presentes em Infância, mas estão mais bem delineadas em Menino de engenho, livro no qual a infância do narrador-protagonista também aparecerá marcada pela violência e autoritarismo recorrentes no regime patriarcal.

Em certo momento, o menino do engenho relembra uma cena em que a velha tia Sinhazinha o agride fisicamente, causando revolta na criança que apenas brincava com seu pião:

A velha Sinhazinha não gostava de ninguém (...). O meu ódio a ela crescia dia a dia. Numa ocasião, jogando pião na calçada, o brinquedo foi cair em cima do seu pé. A velha levantou-se com uma fúria para cima de mim, e com o seu chinelo de couro encheu-me o corpo de palmadas terríveis. Bateu-me como se desse num cachorro, trincando os dentes de raiva. E se não fosse a Tia Maria que me

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acudisse, ela teria me despedaçado. Eu nunca tinha apanhado. (REGO, 1986, p. 66)

Como o próprio narrador afirma, ele “nunca tinha apanhado”, ou seja, é no ambiente do patriarcado do sertão nordestino que o menino entrará em contato com a violência, sendo vítima de agressões físicas no espaço da própria estrutura familiar.

É possível concluir, portanto, que as diversas expressões da infância e da violência são de extrema relevância nos romances Infância e Menino de engenho, uma vez que os protagonistas das tramas têm uma infância infeliz, marcada pela violência e opressão, em suas diversas formas de realização no contexto do patriarcado brasileiro.

Com base na leitura dos livros que compõem o corpus deste trabalho, torna-se viável analisá-los paralelamente, com o intuito de destacar a repretorna-sentação da infância e da violência no contexto da família patriarcal brasileira, com vistas a elaborar um estudo comparativo entre duas narrativas de cunho memorialístico, destacando as características da infância no contexto do regime patriarcal e a manifestação da violência associada ao poder sociopolítico do patriarca.

Tendo em vista a representação da infância e da violência nos romances

Infância, de Graciliano Ramos, e Menino de engenho, de José Lins do Rego, o

principal objetivo desta pesquisa se resume no levantamento de episódios que demonstrem a infância dos personagens-protagonistas e as manifestações da violência com relação aos mesmos, para que, em um segundo momento, seja viável elaborar um estudo comparativo entre as duas obras, a fim de destacar a representação da infância e da violência no contexto da família patriarcal brasileira.

Desse modo, este trabalho também almeja elaborar uma discussão pertinente sobre as características da infância no regime patriarcal e sobre como a violência foi uma característica marcante no decorrer da História Social do Brasil, principalmente dentro do contexto da família patriarcal, representada tanto no enredo de Infância como no de Menino de engenho.

O presente trabalho leva em consideração o levantamento da fortuna crítica dos romances Infância e Menino de engenho para avaliar o atual estado da questão pesquisada. Em seguida, é realizado um estudo sobre as características da infância recorrentes nas duas narrativas e sobre as diversas manifestações de violência em relação aos protagonistas das histórias, tendo em vista o contexto histórico-social das narrativas, ou seja, levando em consideração o contexto da família patriarcal brasileira.

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Para tanto, a pesquisa será desenvolvida com base em dois livros teóricos. O primeiro se intitula Casa Grande e Senzala. Neste livro, Gilberto Freyre reflete sobre como a estrutura arquitetônica da Casa-Grande expressaria o modo de organização social e política que se instaurou no Brasil, como no caso do patriarcalismo, no qual o patriarca da terra era tido como o dono de tudo que nela se encontrasse, como escravos, parentes, filhos, esposa, etc.:

A casa-grande, completada pela senzala, representa todo um sistema econômico, social, político: de produção (a monocultura latifundiária); de trabalho (a escravidão); de transporte (o carro de boi, o bangüê, a rede, o cavalo); de religião (o catolicismo de família, com capelão subordinado ao pater familias, culto dos mortos etc.); de vida sexual e de família (o patriarcalismo polígamo); de higiene do corpo e da casa (o “tigre”, a touceira de bananeira, o banho de rio, o banho de gamela, o banho de assento, o lava-pés); de política (o compadrismo). (FREYRE, 2006, p. 36)

O segundo livro é Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda. Neste livro, o autor aborda aspectos centrais da história da cultura brasileira, além de defender a tese de que o povo brasileiro se caracterizaria, antes de tudo, por ser cordial, ou seja, suas relações com os outros se daria pela cordialidade, sendo quase sempre pautadas pela aparência da gentileza, normalmente confundindo bons modos com boa índole.

Segundo o historiador, no Brasil costuma-se levar a organização estatal para a esfera da afetividade e para o círculo de amizades, visto que foi desse modo que as grandes famílias patriarcais comandaram a política e a economia do país. A administração estatal era uma extensão das grandes fazendas.

A família patriarcal fornece, assim, o grande modelo por onde se hão de calcar, na vida política, as relações entre governantes e governados, entre monarcas e súditos. Uma lei moral inflexível, superior a todos os cálculos e vontades dos homens, pode regular a boa harmonia do corpo social, e, portanto deve ser rigorosamente respeitada e cumprida. (HOLANDA, 2006, p. 84, 85).

Portanto, os principais livros que darão suporte teórico e crítico a esta pesquisa fornecem elementos que servirão de apoio ao debate e à reflexão crítica sobre o assunto pesquisado.

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Reeffeerrêênncciiaassbbiibblliiooggrrááffiiccaass

ABDALA JR., Benjamin. Literatura Comentada – José Lins do Rego. São Paulo: Abril Educação, 1982.

COUTINHO, Afrânio (Dir.) e BRAYNER, Sônia (Org.). Graciliano Ramos (Coleção Fortuna Crítica 2). 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

COUTINHO, Afrânio (Dir.). José Lins do Rego (Coleção Fortuna Crítica). São Paulo: Civilização Brasileira.

FARIA, Octávio de. 'Graciliano e o sentido do humano'. Prefácio. In: RAMOS, Graciliano. Infância. 8.ed. São Paulo: Martins, 1970.

FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. 51.ed. revista. São Paulo: Global, 2006. GARBUGLIO, José Carlos; BOSI, Alfredo e FACIOLI, Valentim. Graciliano Ramos. São Paulo: Ática, 1987.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua

Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

RAMOS, Graciliano. Infância. 3.ed. Rio de Janeiro: Martins (Record), 1953.

REGO, José Lins do. Menino de engenho. 37.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

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