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Audiência Pública na Comissão Mista da Medida Provisória n. 746/2016 Senado da República, Brasília em 9/11/2016

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Audiência Pública na Comissão Mista da Medida Provisória n.

746/2016 Senado da República, Brasília em 9/11/2016

Reforma do Ensino Médio e a Formação e Valorização dos

Profissionais da Educação.

Como representante da Associação Nacional pela Formação de Profissionais em Educação (Anfope) agradecemos à Presidência da Comissão Mista a oportunidade de participar desta audiência, com o objetivo de expressar nosso manifesto e posicionamento em relação à Medida Provisória n. 746, de 22 de setembro de 2016.

A Anfope é originária do movimento de educadores do final da década de 1970 que empreendeu forte luta contra o currículo mínimo nacional, imposto pela ditadura militar aos cursos do ensino superior. A Associação celebrou 36 anos, em 2/4/2017 de movimento em defesa da formação inicial e continuada de qualidade socialmente referenciada e de valorização dos profissionais em educação.

É membro do Fórum Nacional de Educação e mantém histórica parceria em suas lutas, manifestações e produções científicas com a Associação Nacional de Pós-Graduação (Anped), Associação Nacional de Administração e Políticas da Educação (Anpae), Centro de Estudos Educação e Sociedade (Cedes), Fórum Nacional de Diretores de Faculdades/Centros de Educação ou Equivalentes das Universidades Públicas Brasileiras(Forumdir) e (Fineduca).

A ANFOPE vem a público manifestar-se contra a Medida Provisória n. 746, que

- a pretexto de instituir uma política de fomento a implementação de escolas de Ensino Médio em tempo integral, desorganiza esse nível de ensino, ignorando as discussões anteriores e aquelas em andamento no Brasil, que tomam por base um projeto de sociedade, educação e de formação de professores orientados por princípios sócio históricos de formação para o trabalho, firmada em bases ontológicas, humanistas e praxiológicas. Essa formação é indispensável à construção de um professor capaz de ser mediador entre o conhecimento, a tecnologia, os saberes e o ser que aprende;

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2 - a reforma do ensino médio proposta consiste em grave ameaça à qualidade do Ensino Médio e à formação da juventude brasileira;

- provoca profundas alterações na Lei de Diretrizes e Bases da Educação n. 9.394/1996 (Art. 24, 26, 36, 44, 61, 62), Lei n.11.494/2007 que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Art. 2, 3, 4). Ainda Revoga a Lei n. 11.161/2005 da Língua Espanhola;

- na prática, a reforma do ensino médio configura um retrocesso de décadas, ao instituir, sob o argumento da flexibilização, o aligeiramento e a precarização desse nível de ensino, descaracterizando a oferta de um Ensino Médio como educação básica e direito de todos;

- uma reforma imposta por medida provisória é uma atitude autoritária e inadequada para definir políticas educacionais, pois desconsidera o conhecimento acumulado sobre o Ensino Médio, impossibilita o diálogo com as instituições formadoras e entidades científicas do campo da educação, contrariando os princípios do processo democrático;

- a instalação de uma reforma desse vulto deve necessariamente ser antecedida de debates e embates que incluam, em especial, os profissionais da educação e suas entidades representativas, bem como os estudantes ─ sujeitos da educação.

Em face desse contexto caótico reformista, a ANFOPE repudia o ataque frontal empreendido à formação e à valorização dos profissionais da educação ao instituir a contratação de pessoas, sem formação específica para o exercício da docência, sem concurso público de provas e títulos, desde que tenham alegado “notório saber” a ser reconhecido pelos sistemas de ensino. Tal “notório saber” foi prescrito pela MP n.746, que alterou o art. 61 da LDB/1996, no qual foram incluídos os incisos III e IV que reconhecem que eles são pessoas sem formação específica, porém são “trabalhadores da educação, portadores de diploma de ensino técnico ou superior em área pedagógica ou área afim” e “profissionais com notório saber reconhecido pelos respectivos

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3 sistemas de ensino para ministrar conteúdos das áreas afins à sua formação para atender ao inciso V do caput do art. 361.

O ataque empreendido à formação dos profissionais da educação tem continuidade com a inserção do parágrafo 8º no art. 62 da LDB/1996 “Os currículos dos cursos de formação de docentes terão por referência a Base Nacional Comum Curricular”. Essa prescrição contrapõe-se aos princípios da Base Comum Nacional de Formação de Professores (Anfope,1983), evidenciando que a BNCC será instrumento indutor dos projetos pedagógicos dos cursos de licenciatura.

Destacamos que tais determinações reforçam a desqualificação e a desprofissionalização dos professores, com impactos negativos na qualidade do ensino aviltando, sobretudo, a formação, a carreira, os salários do magistério.

A ANFOPE repudia, ainda, a subordinação às normas e regulações de uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ainda não aprovada pelo Conselho Nacional de Educação, cujas duas diferentes versões atuais impõem uma padronização curricular que não assegura os princípios garantidos pela Constituição Federal (1988), pela Lei n. 9.394/1996 e pelas metas e estratégias do PNE (2014-2024), Lei n. 13.005.

Fazemos notar que a MP n. 746/2016 desconsidera as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (Resolução CNE/SEB n. 2/2012), ignora o Pacto Nacional pelo Ensino Médio e o Plano Nacional de Educação, demonstrando falta de conhecimento da realidade concreta das escolas brasileiras e dos estudantes de nível médio, configurando-se como uma ameaça à educação básica pública, estatal, gratuita, laica e de qualidade social.

Apoiando as manifestações do Movimento Nacional pelo Ensino Médio, do qual é integrante, a ANFOPE repudia um projeto pedagógico-educacional voltado para adolescentes e jovens que exclui a obrigatoriedade do ensino de

1 “O currículo do ensino médio será composto pela Base Nacional Comum Curricular e

por itinerários formativo específicos a serem definidos pelos sistemas de ensino, com ênfase nas seguintes áreas de conhecimento ou de atuação profissional I - linguagens; II – matemática; III – ciências da natureza; IV- ciências humanas; V – formação técnica e profissional

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4 Artes, Educação Física, Filosofia e Sociologia negando-lhes o direito ao conhecimento geral e comprometendo sua formação, a qual deveria ser integral, crítica e cidadã, assegurando-lhes o pleno desenvolvimento intelectual, afetivo, físico, moral e social, com base em princípios éticos e políticos que oportunizem sua emancipação.

A Anfope repudia a proposta de tempo integral apresentada, reduzida a um simples aumento da carga horária de determinadas disciplinas, não contempla a concepção de educação integral.

A fragmentação do ensino médio em “itinerários formativos específicos” fere o direito ao conhecimento para a ampla maioria dos estudantes que se encontra no Ensino Médio público, tendo como falsa justificativa um currículo mais flexível e atraente para o aluno, que vá reduzir as taxas de evasão. Isso, de fato, vai aprofundar a histórica dualidade do Ensino Médio e o aparthaid social dos jovens pobres, negando-lhes a oferta desse nível em igualdade de condições, favorecendo ainda mais a mercantilização do ensino.

Reafirmamos que a MP n. 746/2016 reduz o direito à educação e nega a luta, a mobilização e as conquistas históricas das entidades que defendem a formação do professor da educação básica na universidade.

Assim reivindicamos mudanças que visem o aprimoramento da qualidade do ensino médio, que vêm sendo indicadas há décadas como necessárias e urgentes, mas não suficientemente enfrentadas nas ações e políticas públicas voltadas para este nível de ensino, como:

1. A implementação urgente e integral da Lei do Piso e de Planos de Carreira que estabeleçam metas para cumprimento da jornada integral e permanência dos professores em apenas uma escola, com salários e condições de trabalho compatíveis com as exigências desse nível de ensino dedicado à formação da juventude,

2. A organização de um currículo que integre de forma orgânica e consistente ciência, tecnologia, cultura e trabalho, superando as concepções etapistas e profissionalizantes de caráter reducionista que pretendem a preparação para o mercado de trabalho.

3. Uma sólida formação teórica e interdisciplinar dos profissionais da educação, em cursos superiores em contraposição às concepções

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5 “minimalistas” que pretendem conformar o currículo de formação nas licenciaturas à BNCC.

Por fim, indignados indagamos: Seriam essas medidas próprias de um governo republicano democrático, que se intitula legitimado pelo voto?

A ANFOPE conclama forte mobilização contra a MP n. 746/2016, ao mesmo tempo em que reforça seu compromisso com a qualidade da educação e da formação e valorização dos professores, lutas que publicamente defendemos e assumimos.

Referências

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