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ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Terceira Secção) 21 de Junho de 2007 *

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ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Terceira Secção)

21 de Junho de 2007 *

No processo C-424/05 P,

que tem por objecto um recurso de uma decisão do Tribunal de Primeira Instância, nos termos do artigo 56.° do Estatuto do Tribunal de Justiça, entrado em 29 de Novembro de 2005,

Comissão das Comunidades Europeias, representada por H. Kraemer e

M. Velardo, na qualidade de agentes, com domicílio escolhido no Luxemburgo,

recorrente,

sendo a outra parte no processo:

Sonja Hosman-Chevalier, representada por J.-R. García-Gallardo Gil-Fournier,

A. Sayagués Torres e D. Domínguez Pérez, abogados,

recorrente em primeira instância,

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O TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Terceira Secção),

composto por: A. Rosas, presidente de secção, A. Tizzano, J. Malenovský (relator), U. Lõhmus e A. Ó Caoimh, juízes,

advogado-geral: P. Mengozzi, secretário: B. Fülöp, administrador,

vistos os autos e após a audiência de 13 de Setembro de 2006,

ouvidas as conclusões do advogado-geral na audiencia de 15 de Março de 2007,

profere o presente

Acórdão

1 Através do seu recurso, a Comissão das Comunidades Europeias pede a anulação do acórdão do Tribunal de Primeira Instância das Comunidades Europeias de 13 de Setembro de 2005, Hosman-Chevalier/Comissão (T-72/04, C o l e c t . , p. II-3265, a seguir «acórdão recorrido»), mediante o qual este anulou as decisões da Comissão de 8 de Abril e 29 de Outubro de 2003 que recusaram a S. Hosman-Chevalier o subsídio de expatriação e o subsídio de instalação.

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Quadro jurídico

2 O artigo 69.° do Estatuto dos Funcionários das Comunidades Europeias (a seguir «Estatuto»), na redacção aplicável no caso em apreço, dispõe que o subsídio de expatriação é igual a 16% do total do vencimento base e do abono de lar, bem como do abono por filho a cargo aos quais o funcionário tem direito.

3 O artigo 4.°, n.° 1, do anexo VII do Estatuto prevê que o subsídio de expatriação é concedido:

«a) ao funcionário:

— que não tenha e não tiver tido nunca a nacionalidade do Estado em cujo território está situado o local da sua afectação,

e

— que não tenha, habitualmente, durante um período de cinco anos expirando seis meses antes do início de funções, residido ou exercido a sua actividade profissional principal no território europeu do referido Estado. Não serão tomadas em consideração, para efeitos desta disposição, as situações resultantes de serviços prestados a um outro Estado ou a uma organização internacional;

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b) ao funcionário que, tendo ou tendo tido a nacionalidade do Estado em cujo território está situado o local da sua afectação, tenha, habitualmente, durante um período de dez anos expirando à data do início de funções, residido fora do território europeu do dito Estado, por motivo diferente do exercício de funções num serviço de qualquer Estado ou organização internacional

[...]»

Antecedentes do litígio

4 Os factos na origem do litígio foram resumidos pelo Tribunal de Primeira Instância nos n.° s 4 a 10 do acórdão recorrido:

«4. A recorrente, de nacionalidade austríaca, estudou e trabalhou na Áustria até 14 de Maio de 1995. De 15 de Maio de 1995 a 17 de Março de 1996, trabalhou na Bélgica para o Verbindungsbüro des Landes Tirol, gabinete do Land do Tirol, sito em Bruxelas.

5. De 18 de Março de 1996 a 15 de Novembro de 2002, a recorrente integrou o pessoal da Representação Permanente da República da Áustria junto da União Europeia em Bruxelas (a seguir 'Representação Permanente da República da Áustria). Nessa qualidade, exerceu a sua actividade, inicialmente para a

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Verbindungstelle der Bundesländer (a seguir 'VB'), o gabinete de ligação dos

Länder e, posteriormente, para [a] Österreichischer Gewerkschaftsbund (a

seguir 'OGB'), a federação dos sindicatos austríacos.

6. Em 16 de Novembro de 2002, a recorrente entrou em funções na Comissão na qualidade de funcionária. O período de cinco anos mencionado no artigo 4.°, n.° 1, alínea a), segundo travessão, do anexo VII do Estatuto, para efeitos do subsídio de expatriação, denominado «período de referência», foi fixado entre 16 de Maio de 1997 e 15 de Maio de 2002.

7. Por nota de 8 de Abril de 2003, a recorrente foi informada pela Direcção-Geral (DG) do Pessoal e da Administração da Comissão de que o subsídio de expatriação não lhe podia ser concedido.

8. Em 7 de Julho de 2003, a recorrente apresentou uma reclamação, nos termos do artigo 90.°, n.° 2, do Estatuto, contra a referida nota de 8 de Abril de 2003. Por correio electrónico de 14 de Agosto de 2003 e por fax de 11 de Setembro de 2003, transmitiu dois aditamentos a essa reclamação.

9. Por nota de 29 de Outubro de 2003, da qual a recorrente tomou conhecimento em 3 de Novembro de 2003, a autoridade investida do poder de nomeação (a seguir AIPN') rejeitou a reclamação da recorrente.

10. Resulta dessa decisão que o subsídio de expatriação e os subsídios que lhe estão associados foram recusados à recorrente pelo motivo principal de as actividades profissionais que tinha exercido em Bruxelas durante o período de referência

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não poderem ser consideradas 'serviços prestados a um outro Estado' na acepção da excepção prevista no artigo 4.°, n.° 1, alínea a), do anexo VII do Estatuto. A AIPN considerou que, embora fosse verdade que a VB estava instalada nos espaços da Representação Permanente da República da Áustria, esta constituía, no entanto, uma entidade autónoma distinta, que emanava dos

Länder e incumbida de defender os seus interesses e não os do Bund (Estado

Federal). Quanto ao OGB, os documentos transmitidos pela recorrente, designadamente, o seu contrato de trabalho, não fazem referência a nenhum vínculo com a República da Áustria, razão pela qual o trabalho realizado para [a] OGB também não podia ser equiparado a serviços prestados a esse Estado.»

Tramitação no Tribunal de Primeira Instância e acórdão recorrido

5 Por petição inicial apresentada na Secretaria do Tribunal de Primeira Instância em 20 de Fevereiro de 2004, S. Hosman-Chevalier interpôs recurso de anulação da decisão da Comissão de 29 de Outubro de 2003 que lhe recusou o subsídio de expatriação e os subsídios que lhe estão associados.

6 No acórdão recorrido, o Tribunal de Primeira Instância considerou que o recurso tinha em vista não só a anulação da decisão da Comissão de 29 de Outubro de 2003 mas também a anulação da decisão de 8 de Abril de 2003. Estas decisões foram anuladas pelo Tribunal de Primeira Instância.

7 Com efeito, o Tribunal de Primeira Instância considerou procedente o segundo fundamento invocado por S. Hosman-Chevalier, relativo à violação do artigo 4.°, n.° 1, alínea a), do anexo VII do Estatuto.

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8 Segundo o Tribunal de Primeira Instância, a questão que se colocava consistia em determinar se os serviços que S. Hosman-Chevalier prestou na Representação Permanente da República da Áustria durante o período de referência deviam ser considerados serviços prestados a um outro Estado, na acepção do artigo 4.°, n.° 1, alínea a), do anexo VII do Estatuto. Além disso, o Tribunal de Primeira Instância precisou que o conceito de «Estado», a que se refere este artigo, apenas visa o Estado enquanto pessoa jurídica e sujeito unitário de direito internacional, bem como os seus órgãos de governo.

9 Em primeiro lugar, o Tribunal de Primeira instância observou, no n.° 30 do acórdão recorrido, que é pacífico que os serviços prestados a organismos, como a Representação Permanente de um Estado-Membro junto da União Europeia ou as embaixadas de um Estado, devem ser considerados serviços prestados a outro Estado, na acepção do artigo 4.°, n.° 1, alínea a), do anexo VII do Estatuto.

10 Nos n.° s 31 a 36 do acórdão recorrido, o Tribunal de Primeira Instância referiu vários elementos que o levaram a considerar que S. Hosman-Chevalier era membro do pessoal da Representação Permanente da República da Áustria, que estava sujeita à autoridade hierárquica do embaixador, representante permanente da República da Áustria junto da União Europeia, e que o seu estatuto era o mesmo dos outros agentes afectos à referida Representação.

1 1 O Tribunal de Primeira Instância deduziu daí que os serviços que S. Hosman--Chevalier prestou à Representação Permanente da República da Áustria, durante todo o período de referência, deviam ser considerados serviços prestados a esse Estado.

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12 Nos n.° s 38 a 41 do acórdão recorrido, o Tribunal de Primeira Instância refutou a argumentação da Comissão segundo a qual S. Hosman-Chevalier, apesar de trabalhar na Representação Permanente da República da Áustria, não prestou os seus serviços a este Estado-Membro, mas à VB e à OBG, organismos que não têm por missão a defesa dos interesses do Estado.

13 Pelo contrário, no n.° 42 do acórdão recorrido, o Tribunal de Primeira Instância reconheceu que é suficiente que uma pessoa tenha exercido a sua actividade profissional para um organismo que faz parte do Estado na acepção referida, como uma Representação Permanente, para que seja plenamente abrangida pela excepção prevista no artigo 4.°, n.° 1, alínea a), do anexo VII do Estatuto, independentemente das funções particulares e específicas exercidas no referido organismo. Se assim não fosse, seria necessário proceder a uma análise detalhada das missões e das funções exercidas do ponto de vista do direito interno, o que seria contrário às exigências da aplicação uniforme do direito comunitário e do princípio da igualdade. E isto tanto mais que incumbe exclusivamente a cada Estado-Membro organizar os seus serviços como considerar mais conveniente e determinar assim os objectivos e as funções que atribui aos seus funcionários e trabalhadores.

14 O Tribunal de Primeira Instância concluiu assim que S. Hosman-Chevalier preenchia as condições previstas no artigo 4.°, n.° 1, alínea a), do anexo VII do Estatuto que lhe permitiam beneficiar do subsídio de expatriação.

15 No n.° 51 do acórdão recorrido, o Tribunal de Primeira Instância considerou que, sendo o subsídio de instalação previsto no artigo 5.°, n.° 1, do anexo VII do Estatuto devido ao funcionário que preencha as condições para beneficiar do subsídio de expatriação, S. Hosman-Chevalier podia requerer o referido subsídio de instalação. Todavia, o Tribunal de Primeira Instância não reconheceu o direito ao subsídio diário pelas razões desenvolvidas no n.° 52 do acórdão recorrido.

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Tramitação no Tribunal de Justiça

16 No presente recurso, a Comissão conclui pedindo que o Tribunal se digne:

— anular o acórdão recorrido e remeter o processo ao Tribunal de Primeira Instância;

— condenar S. Hosman-Chevalier nas despesas da instância, incluindo as suas próprias despesas relativas ao processo no Tribunal de Primeira Instância.

17 S. Hosman-Chevalier conclui pedindo que o Tribunal se digne:

— julgar o recurso manifestamente inadmissível ou, subsidiariamente, negar-lhe provimento;

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Quanto ao recurso

Argumentos das partes

18 Através do seu único fundamento, a Comissão acusa o Tribunal de Primeira Instância de ter cometido um erro de direito na aplicação das disposições do artigo 4.°, n.° 1, alínea a), do anexo VII do Estatuto, relativas à concessão do subsídio de expatriação, ao interpretar de forma incorrecta o conceito de «serviços prestados a um outro Estado» a que se referem essas disposições.

19 Segundo a Comissão, resulta de uma série de elementos factuais, tomados em consideração nos n.° s 31 a 36 e 42 do acórdão recorrido, que o Tribunal de Primeira Instância considerou, incorrectamente, que bastava, para que a condição relativa aos serviços prestados a um outro Estado, estabelecida por essas disposições, estivesse preenchida, que a pessoa interessada estivesse integrada no contexto funcional e/ou organizacional de um organismo desse Estado, como uma Representação Permanente junto da União Europeia.

20 A Comissão considera, pelo contrário, que a referida condição deve ser interpretada no sentido de que exige a existência de um vínculo jurídico directo entre a pessoa interessada e o Estado em causa, que não pode ser constituído apenas pela integração da pessoa em causa no contexto evocado.

21 Para a Comissão, a derrogação prevista no artigo 4.°, n.° 1, alínea a), segundo travessão, segunda frase, do anexo VII do Estatuto, segundo a qual os funcionários visados têm direito ao subsídio de expatriação, justifica-se na medida em que não se possa considerar que estes últimos estabeleceram vínculos duradouros com o país de afectação (acórdão de 2 de Maio de 1985, De Angelis/Comissão, 246/83, Recueil,

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p. 1253, n.° 13). Ora, esta ratio legis pressupõe precisamente que a pessoa em causa tenha estado directamente ligada a um outro Estado, ou a uma organização internacional, por uma relação estatutária e/ou contratual Com efeito, apenas uma relação deste tipo é susceptível de implicar que o outro Estado ou a organização internacional tivesse o direito de ordenar a essa pessoa a execução de serviços, durante um período limitado, no território do Estado no qual está situado o lugar da sua afectação ulterior (a seguir «país de afectação») como funcionário das Comunidades Europeias.

22 A Comissão recorda que a disposição do artigo 4.°, n.° 1, alínea a), segundo travessão, segunda frase, do anexo VII do Estatuto, constitui uma excepção às condições de concessão do subsídio de expatriação, devendo pois, a este título, ser objecto de uma interpretação estrita. Esta interpretação estrita impõe-se ainda, além do mais, pelo facto de se tratar de uma disposição que rege uma vantagem financeira (v. acórdãos do Tribunal de Justiça de 6 de Maio de 1982, BayWa e o., 146/81, 192/81 e 193/81, Recueil, p. 1503, n.° 10, e do Tribunal de Primeira Instância de 8 de Março de 1990, Schwedler/Parlamento, T-41/89, Colect., p. II-79, n.° 23, confirmado, em recurso, pelo acórdão do Tribunal de Justiça de 28 de Novembro de 1991, Schwedler/Parlamento, C-132/90 P, Colect., p. I-5745).

23 Por outro lado, a interpretação feita pelo Tribunal de Primeira Instância, nos n.° s 31 a 36 e 42 do acórdão recorrido, do artigo 4.°, n.° 1, alínea a), segundo travessão, segunda frase, do anexo VII do Estatuto, afasta-se da sua própria jurisprudência segundo a qual se exige a existência de um vínculo jurídico directo com o Estado (v. acórdãos do Tribunal de Primeira Instância de 30 de Junho de 2005, Olesen/ /Comissão, T-190/03, ColectFP, p. I-A-181 e 11-805, n.° s 49 à 51; de 25 de Outubro de 2005, Salvador Garcia/Comissão, T-205/02, ColectFP, p. I-A-285 e II-1311, n.° 55; Salazar Brier/Comissão, T-83/03, ColectFP, p. I-A-311 e 11-1407, n.° 45; Herrero Romeu/Comissão, T-298/02, Colect., p. II-4599, e ColectFP, p. I-A-295 e II-1349, n.° 41; e De Bustamante Tello/Conselho, T-368/03, ColectFP, p. I-A-321 e II-1439, n.° 42).

24 Além disso, segundo a jurisprudência do Tribunal de Primeira Instância, no que respeita à condição prevista na referida disposição, relativa aos «serviços prestados a

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[...] uma organização internacional», também é exigido um vínculo jurídico directo com a organização internacional em causa (v. acórdãos do Tribunal de Primeira Instância de 22 de Março de 1995, Lo Giudice/Parlamento, T-43/93, ColectFP, p. I--A-57 e II-189, n.° 36, e de 11 de Setembro de 2002, Nevin/Comissão, T-127/00, ColectFP, p. I-A-149 e II-781, n.° 51). Ora, seria incoerente, ou mesmo arbitrário, exigir um vínculo jurídico directo em relação a uma parte da excepção e a outra não.

25 Segundo a Comissão, o Tribunal de Primeira Instância não procurou saber se existia um vínculo jurídico directo entre S. Hosman-Chevalier e a República da Áustria. Ora, no caso vertente, esse vínculo não existia, dado que a interessada trabalhou sucessivamente, durante o período de referência, para a VB e para a OGB.

26 S. Hosman-Chevalier pede que o recurso seja julgado inadmissível, alegando que a Comissão procura, na realidade, obter do Tribunal de Justiça uma nova apreciação dos factos.

27 Quanto ao mérito, S. Hosman-Chevalier defende que, ao verificar a existência de um vínculo jurídico entre a pessoa interessada e o Estado, sem exigir necessariamente que esse vínculo seja directo, a actuação do Tribunal de Primeira Instância respeitou o direito comunitário.

28 A partir do momento em que os serviços prestados a uma Representação Permanente como a aqui em causa são considerados como serviços prestados a um Estado, está resolvida a questão do vínculo jurídico entre S. Hosman-Chevalier e o Estado.

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29 A este respeito, a jurisprudência do Tribunal de Primeira Instância não é formalista e a existência desse vínculo não implica apenas ou necessariamente um vínculo «jurídico» de dependência. Este vínculo pode ser estabelecido tendo em conta as circunstâncias específicas de cada caso. Assim, no caso vertente, dado que resulta dos autos que S. Hosman-Chevalier fazia parte do pessoal da Representação Permanente da República da Áustria, não era útil ir mais longe nem indicar explicitamente a existência de um vínculo jurídico ou de qualquer outra natureza.

Apreciação do Tribunal de Justiça

Quanto à admissibilidade

30 Importa recordar que, por força dos artigos 225.°, n.° 1, CE e 58.°, primeiro parágrafo, do Estatuto do Tribunal de Justiça, o recurso de uma decisão do Tribunal de Primeira Instância só pode ter por fundamento a violação de normas jurídicas, com exclusão de qualquer apreciação da matéria de facto.

31 Nos termos destas disposições, o Tribunal de Primeira Instância é o único competente para, por um lado, apurar a matéria de facto, excepto em casos nos quais a inexactidão material das suas conclusões resulte dos documentos dos autos que lhe foram apresentados, e, por outro, para apreciar esses factos. Quando o Tribunal de Primeira Instância tenha apurado ou apreciado os factos, o Tribunal de Justiça é competente, por força do artigo 225.° CE, para exercer a fiscalização da qualificação jurídica desses factos e das consequências jurídicas daí retiradas pelo Tribunal de Primeira Instância (v., designadamente, acórdãos de 16 de Março de 2000, Parlamento/Bieber, C-284/98 P, C o l e c t . , p. I-1527, n.° 31, e de 27 de Novembro de 2001, Z/Parlamento, C-270/99 P, Colect., p. 1-9197, n.° 37).

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32 No caso vertente, há que observar que a Comissão não contesta que S. Hosman--Chevalier fosse membro do pessoal da Representação Permanente da República da Áustria durante o período de referência. Em apoio do seu recurso, a Comissão defende apenas que esse facto não permite à interessada beneficiar do subsídio de expatriação, uma vez que não existe um vínculo jurídico directo entre esta e a República da Áustria.

33 Assim, contrariamente ao que defende S. Hosman-Chevalier, o recurso da Comissão refere-se não à apreciação dos factos, mas à qualificação jurídica dos mesmos. A questão de inadmissibilidade deduzida por S. Hosman-Chevalier deve, pois, ser julgada improcedente.

Quanto ao mérito

34 Para responder ao fundamento suscitado pela Comissão, importa apreciar o conceito de «serviços prestados a um outro Estado», tendo em conta o conjunto das disposições do artigo 4.°, n.° 1, alínea a), do anexo VII do Estatuto que regulam a concessão do subsídio de expatriação e das quais esse conceito faz parte.

35 Há que recordar que, nos termos de jurisprudência assente do Tribunal de Justiça, a concessão do subsídio de expatriação tem por objecto compensar os encargos e desvantagens especiais resultantes da entrada em funções nas Comunidades de funcionários que, por este facto, são obrigados a transferir a sua residência do país do seu domicílio para o país em cujo território está situado o local da sua afectação e a integrar-se num novo meio. O conceito de expatriação depende também da situação subjectiva do funcionário, isto é, do seu grau de integração no seu novo

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meio resultante, por exemplo, da sua residência habitual ou do exercício de uma actividade profissional principal (v. acórdãos de 10 de Outubro de 1989, Atala--Palmerini/Comissão, 201/88, Colect., p. 3109, n.° 9, e de 15 de Setembro de 1994, Magdalena Fernández/Comissão, C-452/93 P, Colect., p. I-4295, n.° 20).

36 A concessão do subsídio de expatriação visa, pois, remediar as desigualdades de facto entre os funcionários que estão inteiramente integrados na sociedade do país de afectação e os que não estão.

37 Resulta do artigo 4.°, n.° 1, alínea a), segundo travessão, segunda frase, do anexo VII do Estatuto que o legislador comunitário necessariamente considerou que também se encontra nessa situação de expatriação o funcionário que, tendo residido ou exercido uma actividade profissional no território europeu do Estado em que se situa o seu local de afectação durante um período de cinco anos expirando seis meses antes do início de funções, prestou serviços a um outro Estado ou uma organização internacional.

38 Deste modo, o legislador comunitário presumiu que a realização desses serviços tem por consequência a manutenção de uma ligação específica do interessado com esse outro Estado ou essa organização internacional, dificultando a criação de uma ligação duradoura ao país de afectação e, portanto, a integração suficiente do referido interessado na sociedade deste país (v., neste sentido, acórdãos de 15 de Janeiro de 1981, Vutera/Comissão, 1322/79, Recueil, p. 127, n.° 8, e De Angelis/ /Comissão, já referido, n.° 13).

39 No país de afectação do funcionário em causa, os outros Estados são representados pelas embaixadas ou pelas missões diplomáticas, bem como pelas Representações Permanentes junto de organizações internacionais, como resulta das regras de direito internacional consuetudinário, codificadas, designadamente, pela Convenção

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de Viena de 18 de Abril de 1961 sobre as relações diplomáticas e pela Convenção de Viena de 14 de Março de 1975 sobre a representação dos Estados nas suas relações com organizações internacionais de carácter universal

40 Consequentemente, o conceito de «Estado», visado no artigo 4.°, n.° 1, alínea a), segundo travessão, segunda frase, do anexo VII do Estatuto, inclui necessariamente a Representação Permanente de um Estado-Membro junto da União Europeia, o que, aliás, não foi posto em causa no âmbito do recurso.

41 Deste modo, o pessoal de uma Representação Permanente desse tipo, incluindo o seu pessoal administrativo e técnico, deve ser considerado, por pertencer às estruturas dessa representação, ao serviço do Estado-Membro em causa e, por conseguinte, numa situação de «expatriação», na acepção do artigo 4.°, n.° 1, alínea a), segundo travessão, do anexo VII do Estatuto.

42 Ora, no caso vertente, como foi constatado pelo Tribunal de Primeira Instância, S. Hosman-Chevalier, apesar de não trabalhar para a Administração Central austríaca, era membro do pessoal da Representação Permanente da República da Áustria, estava sujeita à autoridade hierárquica do embaixador desta e o seu estatuto era o mesmo dos outros funcionários afectos à referida Representação. Resulta igualmente do acórdão recorrido que, a esse título, beneficiou de diferentes privilégios e imunidades, a saber, especificamente, da isenção dos impostos regionais sobre os imóveis. Nestas condições, deve considerar-se que prestou serviços ao Estado austríaco.

43 O estatuto particular de S. Hosman-Chevalier, como descrito no número precedente, esteve na origem da sua ligação específica à República da Áustria. Esta

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ligação criou, por si só, um obstáculo à possibilidade de estabelecer uma ligação duradoura com o país de afectação e, portanto, à sua integração em termos suficientes na sociedade do referido país de afectação.

44 Assim, tendo em conta a ratio legis do artigo 4.°, n.° 1, alínea a), segundo travessão, segunda frase, do anexo VII do Estatuto, o Tribunal de Primeira Instância considerou correctamente, no n.° 42 do acórdão recorrido, que era suficiente, para beneficiar do subsídio de expatriação, que S. Hosman-Chevalier tivesse exercido a sua actividade profissional a favor da Representação Permanente da República da Áustria, independentemente das funções particulares e específicas exercidas no seio do referido organismo.

45 Deste modo, é desprovido de todo o fundamento o argumento da Comissão segundo o qual o benefício do subsídio de expatriação depende da existência de um vínculo jurídico directo entre a pessoa interessada e o Estado em causa.

46 Esta interpretação é, em qualquer caso, conforme com a autonomia de que devem gozar os Estados-Membros na organização interna das suas Representações Permanentes. Como foi observado pelo advogado-geral no n.° 89 das suas conclusões, incumbe ao Estado-Membro determinar os organismos designados para fazer parte da Representação Permanente e identificar os interesses públicos que as várias instâncias nela presentes devem promover nas relações com as instituições comunitárias.

47 Tendo em conta o que precede, há que concluir que o Tribunal de Primeira Instância decidiu acertadamente, no n.° 47 do acórdão recorrido, que havia que anular as decisões da Comissão de 8 de Abril e 29 de Outubro de 2003 na medida em que recusavam a S. Hosman-Chevalier o subsídio de expatriação.

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48 Resulta do exposto que deve ser negado provimento ao recurso da Comissão.

Quanto às despesas

49 Por força do disposto no artigo 69.°, n.° 2, do Regulamento de Processo, aplicável ao recurso de uma decisão do Tribunal de Primeira Instância por força do artigo 118.° do mesmo regulamento, a parte vencida é condenada nas despesas se a parte vencedora o tiver requerido. Tendo S. Hosman-Chevalier pedido a condenação da Comissão e tendo esta sido vencida, há que condená-la nas despesas.

Pelos fundamentos expostos, o Tribunal de Justiça (Terceira Secção) decide:

1) É negado provimento ao recurso,

2) A Comissão das Comunidades Europeias é condenada nas despesas.

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