JOSÉ DE BOUZA SERRANO
AS
FAMÍLIAS REAIS
DOS
NOSSOS DIAS
Tradição e Realidade
O olhar de um diplomata português
Aos meus queridos Salvador, Caetana, Maria da Luz e Manuel que, como todos os netos, são os verdadeiros príncipes dos avós.
«Existe uma arma pior que a calúnia: é a verdade.»
Charles Talleyrand
ÍNDICE
INTRODUÇÃO — A MUDANÇA DE PARADIGMA ... 19
1. REINO DOS PAÍSES BAIXOS
CASA DE ORANGE-NASSAU
Quando a abdicação é a palavra de ordem na dinastia ... 35
2. REINO DA DINAMARCA
CASA DE SCHLESWIG -HOLSTEIN -SONDERBURG- -GLÜCKSBURG (RAMO PRIMOGÉNITO)
Uma rainha culta para um povo feliz ... 55
3. REINO DA NORUEGA
CASA DE SCHLESWIG -HOLSTEIN -SONDERBURG - -GLÜCKSBURG (RAMO SEGUNDOGÉNITO)
De vikings a burgueses igualitários ... 75
4. GRÃO-DUCADO DO LUXEMBURGO
CASA DE NASSAU
Um grão-ducado no coração da União Europeia ... 101
5. REINO DA SUÉCIA
CASA DE BERNADOTTE
«Pela Suécia ao ritmo dos tempos» ... 121
6. REINO DA BÉLGICA
CASA DE SAXE-COBURGO E GOTHA
A coroa como factor de unidade nacional ... 133
7 . REINO DE ESPANHA
CASA DE BOURBON-ANJOU
A monarquia que trouxe a democracia ... 147
8. REINO DA GRÃ-BRETANHA E IRLANDA DO NORTE CASA DE WINDSOR «Deus salve a rainha» ... 185
9. PRINCIPADO DO MÓNACO CASA GRIMALDI Um casino real ... 203
10. PRINCIPADO DO LIECHTENSTEIN CASA DE LIECHTENSTEIN Príncipes mecenas verdadeiramente reinantes ... 213
CONCLUSÃO ... 227
BIBLIOGRAFIA ... 233
AGRADECIMENTOS ... 235
ÁRVORE GENEALÓGICA
DA DESCENDÊNCIA DE
JOÃO GUILHERME FRISO,
PRÍNCIPE DE ORANGE
ESQUEMA QUE DEMONSTRA
O PARENTESCO ENTRE TODAS AS DINASTIAS
ACTUALMENTE REINANTES NA EUROPA
Guilherme IV de Orange Guilherme V
de Orange Guilherme I dos Países Baixos
Guilherme II dos Países Baixos
Guilherme III dos Países Baixos
Guilhermina I dos Países Baixos
Juliana I dos Países Baixos
Beatriz I dos Países Baixos
Guilherme Alexandre dos Países Baixos
Príncipe Frederico da Holanda Luísa c. Carlos XV da Dinamarca Luísa c. Frederico VII da Dinamarca Cristiano X da Dinamarca Frederico IX da Dinamarca Margarida II da Dinamarca Frederik da Dinamarca Haakon VII da Noruega Olavo V da Noruega Harald da Noruega Ha>kon da Noruega
João Guilherme Friso, príncipe de Orange (1687-1711) c. 1709, Maria Luísa de Hesse-Kassel (1688-1765)
Ingrid Alexandra da Noruega Christian
da Dinamarca Catarina Amália
dos Países Baixos
Carolina c. Carlos de Nassau Guilherme de Nassau Adolfo I do Luxemburgo Guilherme IV do Luxemburgo Charlotte I do Luxemburgo Jean I do Luxemburgo Henri do Luxemburgo Guilherme do Luxemburgo Sofia c. Óscar II da Suécia Gustavo V da Suécia Gustavo VI da Suécia Príncipe Gustavo Adolfo da Suécia Carlos XVI da Suécia Vitória da Suécia Esteli da Suécia ] ` ] « ] V ` ] > Frederico Guilherme de Nassau $V)DPLŮOLDV5HDLVGRV1RVVRV'LDVB0,2/2B$)LQGG
> Gustavo Adolfo i Príncipe Carlos da Suécia Astrid c. Leopoldo III da Bélgica Alberto II dos Belgas Felipe I dos Belgas Elizabeth dos Belgas Henriqueta c. Lus de Wurtemberg Alexandre de Wurtemberg Francisco] `uque de Teck Maria c. Jorge V de Inglaterra Jorge VI de Inglaterra Isabel II de Inglaterra Carlos] «ríncipe de Gales William de Inglaterra George de Inglaterra Henriqueta c. Carlos de Áustria Carlos Fernando de Áustria Maria Cristina c. Alfonso XII de Espanha Juan de Borbón] Vonde de Barcelona Juan Carlos I de Espanha Felipe VI de Espanha Leonor de Espanha Alfonso XIII de Espanha Ana Carlota c. Frederico de Baden Carlos Frederico de Baden Carlos Luís de Baden Carlos de Baden Maria c. `uque de Hamilton Maria Vitória c. Alberto I do Mónaco Luís II do Mónaco Charlotte do Mónaco Ranier II do Mónaco Alberto II do Mónaco Jacques do Mónaco Carolina c. Maximiliano da Baviera Sofia c. Francisco Carlos de Áustria Carlos Luís] >rquiduque de Áustria Isabel c. Luís de Liechtenstein Francisco José II de Liechtenstein Hans Adam II de Liechtenstein Alos de Liechtenstein Joseph de Liechtenstein $V)DPLŮOLDV5HDLVGRV1RVVRV'LDVB0,2/2B$)LQGG
INTRODUÇÃO
A MUDANÇA DE PARADIGMA
O
mundo em que nascemos já não existe. Tudo mudou nas socieda-des ocidentais e esta mudança atingiu rapidamente as monarquias e a forma de entender e perpetuar esta instituição milenar através do casamento. Hoje o príncipe elege, quase sempre, a sua princesa fora da 1.ª parte do Almanach de Gotha, bem como a princesa herdeira pode es-colher o seu príncipe consorte num ginásio de fitness.Depois de séculos em que os casamentos entre casas reinantes eram de exclusiva e obrigatória observância do sangue real de ambos os con-traentes, o final do século
xx
e o que vamos vivendo do terceiro milénio, criou e impôs os tronos destinados à «Realeza do Coração». Deste modo, simples e comuns cidadãos, com uma origem e passado que impediriam, desde logo, essa metamorfose, transformaram-se em príncipes e princesas ou mesmo monarcas reinantes. As barreiras que constituíam «a linha vermelha» da realeza foram afastadas para sempre nos séculosxx
exxi
, com o abandono dos antes incontestados e sólidos valores morais aris-tocráticos do dever, obrigação, e capacidade de sacrifício, perante o bem supremo do futuro da monarquia ao serviço do seu Reino e do seu povo. O triunfo da moralidade burguesa nas sociedades modernas e a semi--realeza que invadiu as cortes reinantes instituiu como modelo a felici-dade pessoal baseada no amor, sem atender ao prejuízo que esta alteração de valores, a largo prazo, pode trazer para a instituição monárquica.Em pouco mais de trinta anos assistiu-se a uma série de «casamentos desiguais» ou ditos morganáticos, e o que antes era uma incontornável excepção (com inúmeros casos de Pessoas Reais que foram excluídas da sucessão dinástica e afastados dos tronos por casarem fora do seu círcu-lo endogâmico e restrito) transformou-se numa prática em vigor nos
20 AS FAMÍLIAS REAIS DOS NOSSOS DIAS
matrimónios dos herdeiros dos tronos europeus, actuais ou futuros mo-narcas. O historiador espanhol Juan Balansó afirmava que «saídas in-demnes de duas guerras mundiais, as dez monarquias que todavia existem na Europa, não resistem à queda dos valores morais, à vitória do coração e do Eros, sobre a sábia razão de Estado».
Nunca como agora, as histórias das Cinderelas ou Gatas Borralheiras estiveram tão perto da realidade matrimonial em vigor e defendida pelas diversas casas reinantes. Estes matrimónios, abertamente desiguais, per-fazem o sonho romântico dos contos de fadas que embalaram, durante séculos, a literatura da nossa infância e que ainda hoje mobilizam mul-tidões, como se verificou recentemente com o casamento do príncipe Harry com Meghan Markle.
Nesta mudança de paradigma inédita na instituição monárquica, as alianças entre os titulares de sangue real eram, para além de uma opção
Família Real portuguesa: os duques de Bragança e os seus três filhos (da esquerda para a direita), D. Miguel, D. Henrique e D. Duarte