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MANIFESTAÇÕES ORAIS ASSOCIADAS AO USO DE PRÓTESES TOTAIS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

4ª Semana do Servidor e 5ª Semana Acadêmica

2008 – UFU 30 anos

1 Acadêmica do curso de Odontologia da UFU

MANIFESTAÇÕES ORAIS ASSOCIADAS AO USO DE PRÓTESES TOTAIS

Veridiana Barbosa Paranhos1

Faculdade de Odontologia – FOUFU, Av. Pará n.1720, Cep: 38900-405 Uberlândia - MG. veri_paranhos@yahoo.com.br

Flaviana Soares Rocha 2

flavianasoares.rocha@gmail.com

Andrea Lopes de Siqueira 3

andrea.lopesp@gmail.com

Queuver Aparício de Carvalho3

qdcarvalho@gmail.com

Resumo: A prótese dentária visa substituir um ou mais dentes e/ou tecido de proteção e

sustentação ausentes, reabilitando o equilíbrio neuromuscular do sistema estomatognático, possibilitando o desempenho e manutenção de suas funções, promovendo o bem estar físico, mental e social. A prótese total porém, possui inúmeras recomendações de uso, prioridade esta de suma importância para atenuação dos efeitos colaterais e na minimização dos riscos provenientes do seu uso. Este estudo teve como propósito verificar os principais tipos de lesões que acometem a cavidade oral como estomatites, úlceras traumáticas e hiperplasias, que são decorrentes do uso de próteses mal adaptadas ou má higienizadas pelo paciente, em resposta, principalmente a uma orientação inadequada do dentista. Observa-se que as lesões mais citadas pelos autores poderiam ser evitadas se após a instalação da prótese o profissional realizasse um ajuste adequado, orientasse o paciente quanto às técnicas de higienização e o acompanhasse, realizando controles periódicos.

Palavras-chave: prótese total, manifestações bucais, lesões.

1. INTRODUÇÃO

O Brasil, à semelhança dos diversos países do mundo, está envelhecendo rapidamente. A população idosa, considerada como aqueles indivíduos com mais de 60 anos, compõe hoje o segmento populacional que mais cresce em termos proporcionais. Se considerarmos o início dos anos 80 até o final do século, observaremos um crescimento da população idosa em mais de 100%, e até o ano 2025 seremos a sexta maior população idosa do mundo em números absolutos, com mais de 30 milhões de pessoas nesta faixa, representando quase 15% da população total.

O envelhecimento tem sido definido das mais diferentes formas por vários autores. Alguns visualizam o envelhecimento como um processo biológico, outros mais como um processo patológico ou como um processo sócio-econômico ou psicossocial. Se analisarmos em termos de conseqüências cronológicas ou psicológicas do envelhecimento, encontraremos uma grande variação entre indivíduos. Fica óbvio que a idade é de qualquer modo um limite arbitrário, uma vez que o envelhecimento é um processo contínuo, não se iniciando em nenhuma idade ou momento particular.

Um dos principais critérios utilizados para se identificar um idoso bem sucedido é pela manutenção por toda sua vida de sua dentição natural, saudável e funcional, incluindo todos os

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aspectos sociais e benefícios biológicos, tais como a estética, o conforto, a habilidade para mastigar, sentir sabor e falar. Todas as vezes que se relaciona dentição com a idade, a maioria da população associa imediatamente a velhice com a falta de dentes. Este fato se propagou de tal maneira que se torna difícil desmistificá-lo. Inicialmente, é importante frisar que o edentulismo, ou seja, a ausência de dentes, não tem relação alguma com a idade. Não é conseqüência do envelhecimento como alguns chegam a pensar. A perda de dentes relaciona-se com a precariedade da saúde bucal, traumatismos, doenças como a cárie e a doença periodontal dentre outros fatores. Portanto, indivíduos que estão livres destes fatores, consequentemente conservarão por mais tempo seus dentes naturais independente da sua faixa etária de vida.

A cavidade bucal constitui um ecossistema microbiológico que, em princípio, mantém-se em harmonia e aonde as formas de vida que o habitam se encontram em equilíbrio saprofítico. Condições, entretanto podem se estabelecer, as quais tornam necessárias as instalações de elementos artificiais na cavidade bucal. As próteses dentárias podem, por mecanismos interativos, interferir ou colaborar para a evidenciação clínica de processos patológicos. Traumatismos provocados por próteses mal adaptadas, má higiene, dimensões verticais inadequadas representam fatores promotores dessas patologias.

Em estudo realizado por Rosa & Castelhano (1993) no município de São Paulo, 97% dos idosos examinados necessitavam utilizar algum tipo de prótese, e 79,4% eram edêntulos. É importante levar em consideração que o sistema estomatognático é de grande valia na saúde do

indivíduo, pois contribui com a auto-estima e saúde geral e de acordo com Moriguchi (1998) a

perda da dentição influi sobre a mastigação, digestão, gustação, pronúncia e aspecto estético além de predispor a doenças geriátricas.

Atualmente, na prática odontológica, é comum observarmos lesões oraisdecorrentes do uso

de próteses iatrogênicas ou até mesmo de uma inadequada orientação do paciente pelo cirurgião dentista quanto ao uso e higienização dessas próteses. A falta de cuidados com a higienização bucal pode desencadear algumas enfermidades, as quais provocam ardência, dor e conseqüentemente, desconforto ao paciente, como é o caso de candidíase e estomatites. O trauma constante de uma prótese mal adaptada também pode influenciar no aparecimento de hiperplasias.

Souza et al. (1996) afirmaram que ao planejar e confeccionar uma prótese, o dentista deve se preocupar com diversos fatores dentre os quais a função da articulação têmporo-mandibular, a tonicidade da musculatura, condições de higienização da prótese, tamanho e forma do rebordo alveolar, distribuição das forças mastigatórias, espaço intermaxilar, condições oclusais, adaptação e extensão da prótese, condições sistêmicas do paciente, defeitos das margens cervicais, presença de áreas pontiagudas.

De acordo com Leles et al.(1999), o tratamento protético não elimina a possibilidade de que novos problemas possam ocorrer sobre os elementos biológicos e protéticos envolvidos. Para a maioria dos cirurgiões dentistas, grande parte do interesse pelo paciente termina quando é concluído o tratamento, o que compromete o prognóstico do trabalho executado e influi negativamente na manutenção da saúde bucal do paciente.

Segundo Turano & Turano(2002), existem lesões decorrentes de um incorreto planejamento

de próteses como a queilite angular, e traumas da articulação têmporo-mandibular e da musculatura do sistema estomatognático, causados por erros no estabelecimento da dimensão vertical ou ainda, por ajustes oclusais insuficientes.

Birman et al.(1981) revisaram todas as lesões de localização gengival enviadas para exame

histopatológico no Serviço de Patologia cirúrgica da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Observaram que, entre estas, destacam-se pelo seu número as chamadas hiperplasias fibrosas inflamatórias. A faixa etária mais atingida foi de 41 a 60 anos, seguida de 21 a 40. Das lesões hiperplásicas gengivais 53,5% dos casos apresentaram-se assintomáticas, sendo apenas 15,3% sintomáticas e o restante não foi relatado. A maior prevalência da lesão no sexo feminino poderia ser indicativa, talvez, da maior utilização dos serviços odontológicos. A observação de que a faixa etária mais afetada está ao redor dos 40 anos se contrapõe às demais lesões proliferativas

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irritativo, devido à pouca utilização de aparelhos protéticos e outros tipos de restaurações em faixas etárias mais jovens. A Hiperplasia fibro-epitelial inflamatória ocorre ao redor das margens ou bordas de próteses totais ou parciais removíveis. Sua etiologia é relacionada com a irritação crônica causada por bordas de próteses mal adaptadas e por forças oblíquas resultantes de desajustes oclusais. A substituição da crista óssea do rebordo alveolar por tecido fibroso parece contribuir para o aparecimento destas lesões. O tamanho das lesões pode variar desde hiperplasias localizadas com menos de um centímetro de diâmetro, a lesões que envolvem a maior parte do comprimento do vestíbulo (fundo de sulco). Apresenta consistência firme, formas variadas, coloração semelhante ao tecido original, sendo geralmente assintomática, sendo que esses fatores podem variar dependendo da intensidade da irritação ou do tempo de evolução da lesão. Apresenta base séssil e em algumas ocasiões aparecem várias formações agrupadas com aspecto pregueado. Ocorre mais freqüentemente na idade adulta (entre 41 e 50 anos), e com predileção pelo sexo feminino e raça branca. A maioria dos estudos mostra que 2/3 a 3/4 dos casos submetidos a biópsia ocorrem em mulheres, onde várias teorias tentam explicar esse predomínio sendo algumas delas o fato de que as mulheres usam mais próteses do que os homens, procuram tratamento odontológico mais freqüentemente permitindo a detecção da lesão, mais ainda que mudanças hormonais pós menopausa podem tornar a mucosa de recobrimento mais susceptível a uma reação hiperplásica. Ao exame microscópico nota-se a ocorrência freqüente de múltiplas pregas e ranhuras onde a dentadura traumatiza o tecido. É comum o epitélio de recobrimento estar hiperceratótico e demonstrar hiperplasia irregular das papilas. Áreas focais de ulceração não são incomuns, especialmente nas bases das fissuras entre as pregas havendo a presença de um infiltrado inflamatório crônico. O diagnóstico é facilitado pela existência de bordas sobrestendidas na prótese. Segundo alguns autores não há correlação entre hiperplasia fibrosa inflamatória e outras doenças sistêmicas. Lesões pequenas podem regredir quando a prótese é ajustada e a massa for predominantemente hemangiomatosa. Lesões maiores requerem além do ajustamento da prótese, a ressecção cirúrgica e exame histopatológico, embora raramente haja evolução para forma tumoral, isso pode ocorrer devido principalmente a persistência do fator etiológico. Em relação à hiperplasia fibrosa inflamatória há uma clara relação do aparecimento da lesão com o uso de próteses.

A úlcera traumática é uma das lesões mais freqüentes da mucosa bucal, que apresenta uma etiologia variada, mas a resultante de procedimentos profissionais de natureza iatrogênica é a causa mais comum em pacientes portadores de prótese total mucossuportada. Geralmente está associada a um fator irritante local, como traumas oclusais, próteses mal adaptadas, aparelhos ortodônticos, queimaduras elétricas, térmicas ou químicas. A língua, a mucosa jugal e o lábio inferior são bastante susceptíveis, embora outros sítios possam também ser afetados, dependendo da etiologia. Caracteriza-se por uma área central de ulceração recoberta por membrana fibrinopurulenta circundada por halo eritematoso. Geralmente o paciente relata sintomatologia dolorosa, principalmente durante a ingestão de alimentos. O tratamento está baseado na remoção da causa e medidas paliativas (corticóides e anti-inflamatórios tópicos) podem ser também adotadas para alívio da sintomatologia dolorosa. A úlcera traumática, geralmente, é de fácil identificação principalmente pela história positiva de trauma na mucosa bucal aferida durante a anamnese. Os pacientes freqüentemente se lembram e relatam o episódio traumático ao dentista (exemplos: batida involuntária com a escova dental durante a escovação; mastigação de alimentos com consistência mais dura, atrito de aparelhos protéticos ou ortodônticos entre outros).

Em associação ao trauma, a má higienização da prótese age como fator predisponente ao aparecimento de lesões como a candidose, na qual o desenvolvimento do parasita depende das condições gerais de saúde do hospedeiro. A microbiota normal da boca se mantém relativamente constante, considerando vários fatores agressivos e modificadores a que está sujeita. Alterações locais da microbiota autóctone são aspectos importantes para desencadear um desequilíbrio entre as espécies bacterianas presentes e os fungos. Os microorganismos do gênero Cândida sp são em geral, comensais, mas em determinados indivíduos e em situações específicas podem transformar-se na forma parasitária, produzindo candidoses bucais.

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A candidose, também denominada estomatite por dentadura, é uma condição caracterizada por vários graus de eritema localizados na mucosa estando esta, em contato direto com as bordas de uma prótese removível. A candidose representa a condição patológica mais freqüente (98% dos casos) dentro do grupo de lesões brancas da mucosa oral. A Candida sp faz parte da flora normal em 40-60% da população. Fatores predisponentes locais como higiene oral precária e prótese dentária, e sistêmicos como diabetes, gravidez, neoplasia disseminada, corticoterapia, Radioterapia, Quimioterapia, imunodepressão (incluindo HIV), antibioticoterapia podem levar à proliferação do parasita. Normalmente atinge os extremos da faixa etária (crianças e idosos) podendo se apresentar nas formas pseudomembranosa (forma mais comum), atrófica aguda e crônica, e hiperplásica.

A queilite angular é uma variante da candidose que atinge as comissuras labiais. É freqüente em pacientes idosos que fazem uso de prótese dentária por perda da dimensão vertical dos lábios. É um processo inflamatório localizado no ângulo da boca, uni ou bilateral, caracterizado por discreto edema, eritema, descamação, erosão e fissuras, as vezes acompanhados por dor, ardor e sangramento. Geralmente está relacionada a um ou mais dos seguintes fatores implicados na sua etiologia: agentes infecciosos (estreptococos, estafilococos e Candida albicans); doenças dermatológicas (dermatite atópica, envolvendo a face, e dermatite seborréica); deficiência nutricional (riboflavina, folato e ferro), imunodeficiência (HIV, diabetes mellitus, câncer e transplante), hipersalivação e fatores mecânicos provocando a perda da dimensão vertical de oclusão, com queda do lábio superior sobre o inferior na altura do ângulo da boca, como ocorre no processo normal de envelhecimento, no prognatismo, na ausência de dentes ou com o uso de próteses mal adaptadas. Além do exame clínico detalhado para identificar alteração oclusal e outros sinais de alteração nutricional ou imunológica, os exames bacteriológico e micológico da lesão podem auxiliar na elucidação diagnóstica e na escolha do tratamento, apesar dos microorganismos envolvidos serem saprófitas. No tratamento da queilite angular é fundamental a correção dos fatores desencadeantes como, por exemplo, adequação de prótese dentária e correção de deficiência nutritiva, terapia da doença de base, assim como a aplicação de antimicóticos e antibióticos tópicos por tempo prolongado. Comumente os pacientes acometidos por esse tipo de lesão admitem utilizar as dentaduras de modo contínuo, removendo-as somente de tempos em tempos.

Goiato et al.(2002) afirmaram que pacientes idosos, por apresentarem uma série de características bucais e sistêmicas peculiares como rebordo alveolar reduzido, mucosa menos resiliente, tecido muscular em degeneração, exigem maior precisão na adaptação de suas próteses aos tecidos. Além disso, sabe-se que com o avanço da idade ocorre uma diminuição da secreção salivar do paciente (xerostomia), que pode causar dor ou sensação de queimação na boca dificultando a deglutição, a fala e a mastigação, ocasionando também diminuição do paladar, aderência da língua na base da prótese, falta de retenção, e ainda colaborar com formação de lesões na cavidade oral. Nas duas últimas décadas cada vez mais se percebeu a importância da saliva na manutenção da integridade dos dentes e dos tecidos bucais, e que uma função alterada das glândulas salivares pode ter conseqüências adversas para a saúde bucal. Nas glândulas salivares há evidências da redução do volume e concentração de alguns constituintes salivares com a idade. A redução do fluxo salivar e conseqüente lubrificação dos tecidos orais afetam a mobilidade da língua, dificultando a deglutição dos alimentos. Existem evidências de redução de até 75% da atividade enzimática da saliva em pessoas com mais de 60 anos. A viscosidade da saliva também é significativamente reduzida entre os idosos. Entretanto, os valores do pH da saliva tamponada apresentam-se, entre idosos que usam dentadura e pessoas jovens ou idosos com dentes naturais, com uma capacidade tampão maior para o primeiro grupo. A redução do volume salivar e de seus constituintes está associada com a atrofia que se estabelece com a idade, envolvendo não só as células secretoras como também os ductos, sendo a fibrose das estruturas glandulares uma alteração senil bastante comum.

A hiperqueratose se trata de um espessamento da camada de queratina na superfície do epitélio de revestimento da mucosa, em decorrência de um atrito local de baixa intensidade e por um período de tempo relativamente longo. O aspecto da lesão geralmente é esbranquiçado e o

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presença de arestas ásperas de algum dente fraturado em associação com a área da lesão ou qualquer outro possível agente traumático. A identificação do agente irritante determina sua eliminação, após o que se observa se há ou não regressão da lesão dentro de um determinado prazo de tempo (variável; em torno de um mês). Muitas vezes há remissão completa da lesão, confirmando o diagnóstico clínico de hiperqueratose focal. No entanto, caso a lesão não desapareça, isso não significa que não se trata de uma hiperqueratose focal, mas mesmo assim, é recomendável a biópsia excisional ou incisional para confirmação do diagnóstico clínico.

A hiperplasia papilar do palato foi inicialmente descrita por Fisher & Rashid em 1952, caracterizando-se por numerosas papilas hiperplasiadas e eritematosas, localizadas na mucosa oral. É também chamada de papilomatose do palato, pseudopapilomatose, estomatite hipertrófica, granulação do palato e hiperplasia pseudoepiteliomatosa do palato. É considerada uma variedade da estomatite protética. Essas papilas hiperplasiadas são resultantes de proliferação epitelial, em geral assintomáticas e dispostas concentricamente. O local onde há maior incidência é o palato duro, em especial nas áreas em contato íntimo com próteses dentárias. É uma condição comum e com freqüência negligenciada pelo profissional. Sua etiologia é ainda pouco esclarecida, mas diversos fatores têm sido considerados como coadjuvantes no processo, tais como: próteses dentárias mal ajustadas, má higiene oral e candidíase.

Paranhos et al.(1991) analisaram as condições bucais de 112 pacientes portadores de prótese

total. Observaram que, desse total, apenas 18 pacientes receberam orientações do cirurgião dentista sobre a necessidade e os meios de promover a higienização.

Pacientes com lesões causadas por próteses removíveis devem ser submetidos ao tratamento adequado dessas lesões e suas próteses devem ser reajustadas ou refeitas para que não haja recidiva das lesões. Todos os pacientes portadores de próteses removíveis devem ser acompanhados periodicamente pelo cirurgião-dentista, para prevenção de possíveis danos à saúde bucal.

2. DISCUSSÃO

A Odontologia tem apresentado avanços científicos notáveis para a reabilitação da saúde bucal de pacientes total ou parcialmente desdentados com o desenvolvimento de novas técnicas, materiais e execução de novos procedimentos laboratoriais para a confecção de próteses removíveis. No entanto, apesar desses fatores, as próteses removíveis não deixam de ser um corpo estranho na cavidade bucal, atuando como potenciais causadores de injurias aos tecidos.

A satisfação com a instalação da prótese removível e a ausência de sintomas muitas vezes levam o paciente a pensar erroneamente que as próteses são permanentes e não necessitam de controles para sua manutenção. Porém, o uso contínuo de próteses removíveis sobrecarregam demasiadamente os tecidos de suporte, podendo propiciar o aparecimento de lesões.

O paciente total ou parcialmente desdentado apresenta alterações em todo o sistema estomatognático, interferindo especialmente na mastigação, pronúncia e estética. Muitos casos podem apenas ser resolvidos através da confecção de próteses removíveis e essas podem, em certas circunstâncias, causar injúrias aos tecidos bucais.

A literatura nos revela uma variada gama de lesões da mucosa bucal que podem aparecer em associação ao uso de próteses removíveis, sendo as hiperplasias, as estomatites, as úlceras traumáticas, as lesões periodontais e as candidoses as mais freqüentes.

A etiopatogenia das hiperplasias fibro-epiteliais inflamatórias pode estar associada à inserção de novas próteses mal adaptadas, com bordas cortantes, que exercem pressão excessiva no sulco vestibular ou próximo a este. As hiperplasias inflamatórias também podem ser ocasionadas por próteses totais imediatas, em que a área de alívio na região cirúrgica aumenta rapidamente devido à cicatrização do alvéolo e a reabsorção óssea da crista alveolar, provocando a desadaptação da prótese. A hiperplasia papilar inflamatória que acomete geralmente palato duro possui patogênese incerta, embora pareça estar relacionada com maior freqüência, a prótese desadaptada, má higienização e utilização da prótese continuamente. Alguns autores acreditam que esta lesão

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possa ser um dos componentes da sensação de queimação, que o paciente portador de prótese total sente na boca.

Ainda indiscriminadamente as câmaras de sucção são utilizadas com intuito de obter retenção da prótese superior na cavidade oral podem levar ao aparecimento de lesões no palato, com proliferação tecidual devido à irritação mecânica existente. Os traumatismos crônicos, a má adaptação da prótese e relações oclusais insatisfatórias, são alguns fatores predisponentes ao aparecimento de estomatites.

Próteses com bordas sobre estendidas e oclusão não balanceada podem levar também ao surgimento de úlceras traumáticas.

Alguns autores sugerem a possível transformação maligna de algumas lesões orais provocadas por traumatismos, como por exemplo, a hiperplasia fibro-epitelial inflamatória. Entretanto Swanson (1981) acredita que investigações clínicas nunca estabeleceram relações significantes.

As próteses removíveis que não foram bem adaptadas à condição do rebordo devem ser corrigidas ou substituídas. A avaliação periódica da base da prótese e sua modificação para remover fontes de traumas são importantes para minimizar qualquer potencial de dano. Os problemas de lesões que ocorrem tanto na fibromucosa, quanto nos tecidos periodontais, decorrentes da instalação

da prótese, são notados comumente na clínica, quando o paciente faz o seu primeiro retorno31. Por

isso que é importante recomendar o retorno desse paciente 24 horas após a instalação das novas próteses para a realização de ajustes na base da resina, aliviando áreas de compressão que podem estar traumatizando a mucosa e, ajustes oclusais para estabelecer uma mastigação eficiente.

O tempo de uso das próteses é outro item que deve ser reforçado, pois para a maioria dos pacientes aquela nova dentição artificial será permanente. Os pacientes devem ser conscientizados que os tecidos da boca, como quaisquer outros, sofrem constantes mudanças que devem ser acompanhadas pelo cirurgião dentista, através de visitas periódicas.

A higiene bucal é um dos fatores principais na manutenção da saúde das estruturas estomatognáticas. Cabe ao cirurgião dentista a tarefa de orientar e incentivar o seu paciente à realização da higienização. A higienização bucal e da prótese deve ser detalhadamente explicada ao paciente, não se esquecendo da importância da limpeza da língua. O uso de escovas próprias para próteses removíveis, com associação de pastilhas efervescentes contendo peróxidos para uma limpeza eficiente associado a higienização intra-oral com uso de escovação, anti-sépticos perfazendo assim uma boa limpeza oral, também na língua evitando a saburra.

O paciente deverá ser orientado quanto a não dormir com as próteses a fim de promover relaxamento e descanso aos tecidos, ao mesmo tempo em que a língua, a saliva, as bochechas e os lábios exercem ação de limpeza.

O paciente também deverá ser orientado quanto à troca das próteses em períodos

relativamente curtos, para diminuir a presença de lesões, pois quanto mais antiga a prótese, mais desadaptada ela se torna e, quanto maior a desadaptação, mais freqüentes as lesões.

Verificamos, através da literatura, uma variedade de lesões que acometem a cavidade bucal, devido principalmente a presença de próteses mal adaptadas e ineficiência na orientação do paciente pelo profissional.

3. CONCLUSÃO

Os idosos devem ser considerados pacientes especiais na área da Medicina Dentária, exigindo da parte de todos os clínicos uma sensibilidade acrescida, porque o desconhecimento dos seus problemas de Saúde Oral e o desinteresse por eles manifestado contribuem para o agravamento do seu estado de saúde e para a diminuição da sua qualidade de vida.

O controle dos principais problemas da cavidade oral, que podem surgir nesta faixa etária, deve ser feito de acordo com as características que esses problemas apresentam. A higiene oral, como meio para o controlo da placa bacteriana, deve ser a base de todos as indicações, associada ao

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com as necessidades individuais. A motivação para uma dieta equilibrada e o controlo das dificuldades da mastigação, nomeadamente nos portadores de próteses que necessitam correção ou substituição, são também aspectos que devem fazer parte das bases de atuação. A informação relativa às características dos principais problemas da boca nos idosos pode ser uma contribuição para a adoção das estratégias preconizadas pela OMS para melhorar a Saúde Oral nesta faixa etária, devendo as autoridades nacionais para a saúde desenvolver políticas e definir metas e objetivos mensuráveis para a Saúde Oral nesta população.

Desse modo percebe-se que para alcançar o sucesso em um tratamento reabilitador protético é necessário estabelecer um plano de tratamento eficiente seguindo corretamente os passos de confecção e instalação das próteses. Realizar ajustes adequados, orientar e acompanhar o paciente são fatores essenciais no restabelecimento do conforto, da estética e da função do aparelho estomatognático. É de suma importância que o cirurgião dentista oriente o seu paciente quanto ao uso e higienização das próteses instaladas e que, marque sempre que necessários retornos para controle.

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ORAL MANIFESTATIONS ASSOCIATED WITH THE USE OF COMPLETE

DENTURE.

Veridiana Barbosa Paranhos

Dentistry School – FOUFU, Av. Pará n.1720, Zip Code: 38900-405 Uberlândia - MG.

Flaviana Soares Rocha

flavianasoares.rocha@gmail.com

Andrea Lopes de Siqueira

andrea.lopesp@gmail.com

Queuver Aparício de Carvalho

(9)

Abstract: Dental prosthesis substitutes one or more theeth and oral tissues to rehabilitate

neuromuscular balance of the stomatognatic system, permitting its functions and promotting phisical, emotional and mental health. Complete dentures have many use instructions that are important to atenuate or reduce the riscs of its use. The aim of this study was to verify the main types of lesions that attack oral cavity, due to the use of prostheses badly adapted or bad higienized by the patient, in answer mainly to an inadequate orientation of the dentist. It is observed that the lesions more mentioned by the authors, as the stomatitis, traumatic ulcers and the hyperplasies, could be avoided if after the insertion of the prosthesis, the professional made an appropriate adjustment, guided the patient for higienization techniques and accompanied through periodic controls.

Referências

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