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O impacto da visualização de desenhos animados no comportamento alimentar em crianças

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Academic year: 2020

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junho de 2015

Rita Manuel Rodrigues Ferreira

O impacto da visualização de desenhos

animados no comportamento alimentar

em crianças

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Dissertação de Mestrado

Mestrado Integrado em Psicologia

Trabalho realizado sob orientação da

Professora Doutora Sónia Gonçalves

e coorientação da

Doutora Ana Rita Vaz

junho de 2015

Rita Manuel Rodrigues Ferreira

O impacto da visualização de desenhos

animados no comportamento alimentar

em crianças

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Nome: Rita Manuel Rodrigues Ferreira

Endereço eletrónico: a62234@alunos.uminho.pt

Número do Bilhete de Identidade: 13984022

Título dissertação: O impacto da visualização de desenhos animados no comportamento

alimentar em crianças

Orientador(es):

Professora Doutora Sónia Gonçalves (Orientadora) Doutora Ana Rita Vaz (co-orientadora)

Ano de conclusão: 2015

Designação do Mestrado: Mestrado Integrado em Psicologia

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.

Universidade do Minho, 12/06/2015

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Índice

Introdução ... 6

Metodologia ... 10

Procedimentos e medidas ... 11

Instrumentos ... 13

Estratégia de análise dos dados ... 14

Resultados ... 16

Discussão ... 20

Limitações ... 22

Implicação para a prática e investigação ... 23

Conclusão ... 24

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Índice de tabelas

Tabela 1. Características sociodemográficas e antropométricas das crianças... 11 Tabela 2. Diferenças entre o grupo de controlo e experimental ao nível das características

sociodemográficas e antropométrica ... 16

Tabela 3. Efeito do visionamento de desenhos animados promotores de uma alimentação

saudável ao nível das preferências e das atitudes alimentares ... 18

Tabela 4. Efeito do visionamento dos desenhos animados promotores de uma

alimentação saudável ao nível das escolhas alimentares ... 19

Índice de Figuras

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Agradecimentos

Agradeço …

À Professora Doutora Sónia Gonçalves por toda a sua dedicação, orientação e palavras ao longo de todo este percurso.

À Doutora Ana Rita Vaz pela forma como gentilmente me ajudou ao longo de todo o processo.

À Doutora Eva Conceição por todo o apoio e partilha de conhecimento.

À Cátia Silva, por todas as horas de partilha de conhecimento, por todos os ensinamentos, apoio incondicional e pela sua preocupação constante. Sem isto nada teria sido possível. A todas as crianças e responsáveis das instituições, sem eles nada disto teria sido exequível. A todos eles o meu Muito Obrigado!

Ao Tiago Pinto, pela sua paciência, amizade e compreensão.

À Catarina e a Tânia pelo apoio incondicional em todos os momentos neste percurso e pela amizade construída ao longo destes cinco anos.

À Rita, Joana, Juliana, Margarida e Teresa por toda a amizade, companheirismo, palavras e momentos partilhados ao longo deste cinco anos. Sem vocês nada disto valeria a pena. Mais cinco, dez, vinte anos virão …

Ao meu pai, por me ter proporcionado esta experiência. Pelas suas palavras de encorajamento e pelo seu apoio incondicional em todos estes momentos.

À minha mãe por todo o apoio e amor incondicional. Por todas as suas palavras nos momentos certos.

Ao Nani, por me fazer acreditar que a vida pode ser muito melhor quando é partilhada com alguém. Obrigada, por todo o apoio nesta longa caminhada com muito altos e baixos e pela capacidade de me colocar sempre com um sorriso …

Ao meu avô, por tudo! Por todo o seu amor e compaixão, por me ter acompanhado em todas as fases da minha vida, e por me ensinar a ser um Ser Humano muito melhor.

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O impacto da visualização de desenhos animados no comportamento alimentar em crianças

Resumo

Poucos estudos têm analisado os efeitos da visualização de desenhos animados nas preferências, atitudes e escolhas alimentares das crianças. O presente estudo teve como objetivos analisar: (1) o efeito do visionamento de desenhos animados que promovem uma alimentação saudável nas preferências e nas atitudes alimentares e (2) o efeito do visionamento de desenhos animados que promovem uma alimentação saudável nas escolhas alimentares. A amostra do presente estudo foi composta por 147 crianças. Os participantes foram divididos em dois grupos: controlo (n = 75) que visualizou desenhos animados sem referência à alimentação e experimental (n = 72) que visualizou desenhos animados com mensagens alimentares saudáveis. Cada criança ingeriu alimentos e preencheu os seguintes questionários: avaliação do apetite, avaliação do reconhecimento dos desenhos animados e medidas de preferência, avaliação das atitudes para uma alimentação saudável e avaliação das preferências alimentares. Os resultados revelaram efeitos significativos do grupo nas escolhas alimentares das crianças. As crianças do grupo experimental escolheram mais alimentos saudáveis do que as crianças do grupo de controlo. A pertinência deste estudo prende-se com o facto de se ter encontrado efeitos da visualização de desenhos animados promotores de uma alimentação saudável nas escolhas alimentares das crianças.

Palavras-chave: desenhos animados, preferências alimentares, atitudes alimentares, escolhas

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The impact of the visualization of cartoons on children’s food behavior

Abstract

Few studies have analyzed the effects of the visualization of cartoons on children’s preference, attitudes and choice to eating. The present study aimed to analyze: (1) the effect of visualization of cartoons that promote healthy eating on food preference and attitudes; and (2) the effect of visualization of cartoons that promote healthy eating on food choice. The sample was comprised of 147 children. The participants were distributed in two groups: control (n = 75) which visualized cartoons without any reference to healthy eating and, experimental (n = 72) which visualized cartoons with healthy eating messages. Each child intake the food and completed the following questionnaires: assessment of appetite; assessment of cartoon recognition and measures of preference; assessment of attitudes to healthy eating; and assessment of food preference. The results showed significant effects of group on children’s food choice. Children who participated in the experimental group chose healthier food than the children who participated on the control group. The relevance of this study is related with the fact that effects of the visualization of cartoons that promote healthy eating on food choice of children were found.

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Introdução

Estima-se que, em todo o mundo, cerca de 155 milhões de crianças tenham excesso de peso, das quais 30 a 45 milhões são obesas (OMS, 2014). Portugal é considerado, pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (2014), um dos cinco países da Europa com maior prevalência de obesidade infantil. Os últimos dados da OMS apontam para que uma em cada três crianças tenha excesso de peso ou obesidade infantil. Da mesma forma, os números da Comissão Europeia (2014) indicam que cerca de 29% das crianças portuguesas, na faixa etária dos dois e dos cinco anos, tenham excesso de peso e cerca 13% são obesas. Adicionalmente, na faixa etária dos seis aos oito anos, a prevalência do excesso de peso é cerca de 32% e a prevalência da obesidade é cerca de 14%.

A seleção deficitária dos alimentos, a quantidade de alimentos ingeridos e a insuficiente prática desportiva, juntamente com um estilo sedentário, parecem contribuir para que a obesidade infantil seja, contemporaneamente, a doença pediátrica mais comum a nível mundial. São múltiplas as consequências apontadas na literatura para obesidade infantil. Nomeadamente, na infância apontam-se problemas no desenvolvimento psicossocial (e.g., baixo rendimento escolar e baixa autoestima) e, apesar de ainda ser pouco claro, problemas ao nível de saúde física (e.g., doenças cardiovasculares e diabetes precoces (e.g., Dietz, 2004; Rito, Paixão, Carvalho, & Ramos, 2010; Wang & Veugelers, 2008;). Neste seguimento, é igualmente preocupante a probabilidade que estas crianças têm em tornar-se adultos obesos (e.g., Rito, Paixão, Carvalho, & Ramos, 2010), incorrendo também num maior risco de desenvolverem outros problemas ao nível de saúde física (e.g., diabetes tipo II, doenças cardiovasculares, alguns tipos de cancro e artrites) bem como problemas psicológicos (e.g., depressão) (e.g., Dietz, 2004).

São inúmeros os fatores associados ao aumento da prevalência do excesso de peso durante a infância. A literatura tem vindo a reconhecer a importância de um conjunto de fatores (e.g., psicológicos, sociais e culturais) que podem influenciar o comportamento alimentar (e.g., preferências, atitudes e escolhas alimentares). Odgen (2003) salienta a importância da aprendizagem e da experiência desenvolvimental na construção das preferências alimentares durante a infância, uma vez que os hábitos alimentares adquiridos podem prolongar-se até à fase adulta. Neste sentido, um estudo realizado por Nicklaus e

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colaboradores (2004) sugeriu uma manutenção das preferências alimentares iniciais ao longo da vida.

As escolhas alimentares podem ser influenciadas por inúmeros fatores subjacentes a alimentação, das quais, relativamente ao tipo de alimento e à quantidade estão envolvidos atitudes face a determinadas características dos alimentos como o sabor e a salubridade (e.g., Brunstrom, 2005; Gibson, Wardle, & Watts, 1998). Por exemplo, um estudo de Bezbaruah e Brunt (2012) analisou as atitudes que influenciavam as crianças na ingestão de alimentos e encontraram efeitos de atitudes face aos alimentos, sendo que a atitude mais significativa foi o sabor, seguindo-se da salubridade e da aparência. Adicionalmente, Crossley e Khan (2001) realizaram também uma investigação sobre os motivos subjacentes à escolha de alimentos, concluindo que na escolha alimentar estão envolvidos fatores, coletivos (e.g., sociais e culturais, como o marketing e vendas) e individuais (e.g., psicológicos e motivacionais, como o sabor, o hábito e o controlo de peso).

Outros estudos sugerem que as crianças são capazes de escolher uma alimentação saudável, desde que esta se encontre disponível. De acordo com o Modelo Desenvolvimental da escolha de alimentos (Odgen, 2003), o desenvolvimento das escolhas alimentares, parece ser influenciado pela interação de três fatores: (1) a aprendizagem social, (2) a aprendizagem por associação e (3) a exposição. Sendo que, um dos fatores mais reportados pelo modelo é a influência da publicidade nos meios de comunicação e do uso de desenhos animados no comportamento alimentar, adquirindo o fator de exposição e de aprendizagem social um papel de destaque (e.g., Holland & Petrovich, 2005).

O visionamento televisivo tem vindo a ser apontado na literatura como um dos mais importantes fatores associados ao comportamento alimentar e consequentemente ao desenvolvimento da obesidade infantil, relacionada com a exposição à publicidade alimentar (OMS, 2014). De acordo com a maioria dos estudos realizados sobre os efeitos da visualização televisiva nos comportamentos alimentares, as crianças que passam mais tempo em frente à televisão consomem diariamente mais calorias em comparação com as que vêm menos televisão, para além de ingerirem mais alimentos ricos em gordura e pouco nutritivos (e.g., Davison, Marshall, & Birch, 2006). Assim, maior tempo de visualização televisiva tem vindo a ser relacionado com maus hábitos alimentares, nomeadamente aumento da ingestão calórica e redução do consumo de alimentos saudáveis nas crianças (e.g., legumes e fruta)

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(e.g., Boynton-Jarrett, Thomas, Peterson, Wiecha, Sobol, & Gortmaker, 2003; Crespo, et al., 2001).

A publicidade tem vindo a ser, através da televisão, a estratégia de marketing mais utilizada para a promoção de comportamentos alimentares nas crianças (e.g., Harris, Schwartz, & Brownell, 2010; Kelly, Bochynska, Kornman, & Chapman, 2008). Vários estudos têm vindo a demonstrar que os anúncios a publicidade alimentar parecem ter influência nas preferências alimentares e nas escolhas alimentares. Uma revisão sistemática da literatura realizada por Hasting e colaboradores (2003) sobre os efeitos da promoção de alimentos nas crianças verificou que existe uma associação positiva entre a visualização da televisão, a publicidade aos alimentos e os comportamentos relacionados com a alimentação das crianças, interferindo diretamente com as preferências e as escolhas alimentares das crianças. Dixon e colaboradores (2007), no seu estudo sobre a influência da publicidade no comportamento alimentar, relataram que uma maior visualização de televisão está associada a um maior relato de consumo de alimentos não saudáveis por parte das crianças.

Atualmente, a publicidade a produtos alimentares parece ser o tipo de publicidade mais anunciado (e.g., Caraher & Landon, 2006). Um estudo efetuado com o objetivo de analisar a prevalência da publicidade a produtos alimentares na televisão, estimou que 27% dos anúncios que passavam na televisão eram publicidade a alimentos, das quais cerca de 48% tinham como público-alvo a população infantil e a adolescente (e.g., Fialho & Almeida, 2008). No entanto, parece assistir-se a um desequilíbrio nutricional ao nível dos alimentos publicitados, nomeadamente para as crianças (e.g., Scully et al., 2012). Na sua maioria, as publicidades realizadas têm vindo a focar-se em alimentos não saudáveis, o que pode afetar negativamente as escolhas alimentares das crianças (e.g., Boyland et al., 2011). Neste sentido, um estudo efetuado em doze países do Mundo, demonstrou que a maioria dos alimentos publicitados são, essencialmente, alimentos com elevado teor de energia, sal e açúcar (Kelly et al., 2010), acrescendo ainda o facto de a maioria deste tipo de publicidade ser apresentada em horários nas quais as crianças passam mais tempo a ver televisão. Mais especificamente, em Portugal verificou-se que cerca de 25% eram anúncios a alimentos açucarados, seguindo-se por produtos salgados com cerca de 5% (Fialho & Almeida, 2008). Um outro estudo, levado a cabo por Borzekowski e Robinson (2001), com crianças em idade pré-escolar (entre os dois e os seis anos) avaliou o efeito da exposição de vídeos de desenhos animados intercalados com ou sem publicidade a alimentos (saudáveis e não saudáveis) e concluiu que

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as crianças que viram a publicidade pareciam escolher mais os alimentos anunciados. Assim, estes autores mostraram que a exposição da publicidade de alimentos pode influenciar as preferências alimentares.

Contudo, os estudos sobre a publicidade e alimentos saudáveis são escassos. Alguns autores sugerem, no entanto, que a publicidade a alimentos saudáveis pode também promover comportamentos positivos relativamente a este tipo de alimentos em crianças (e.g., Bannon & Schwartz, 2006; Beaudoin, Fernandez, Wall, & Farley, 2007; Dixon, Scully, Wakefield, White, & Crawford, 2007). Bannon e Schwartz (2006) verificaram, que as crianças que foram expostas a vídeos com mensagens promotores de uma alimentação saudável (e.g., benefícios de ingerir maças), parecem ter influência positiva sobre as escolhas alimentares das crianças a curto prazo, mostraram ser mais propensas a selecionar maçãs em vez de biscoitos.

A utilização de personagens consiste num dos diversos métodos de marketing utilizadas para influenciar o consumo de certos alimentos (e.g., desenhos animados) juntamente com as ofertas de brindes nos alimentos (e.g., Hebden, King, & Kelly, 2011; Sarah, LuAnn, Angela, & Bonita, 2010). Harnor e colaboradores (2004) desenvolveram um programa de intervenção com o objetivo de promover comportamentos saudáveis nas crianças, nomeadamente aumentar a ingestão de frutas e legumes. O programa de intervenção desenhado consistia na apresentação de vídeos de desenhos animados onde retratavam os heróis a ingerirem alimentos saudáveis. A intervenção pareceu eficaz, na medida em que houve um aumento do consumo de frutas e legumes por parte das crianças.

Como foi referido, a investigação prévia tem-se debruçado sobre o papel da influência da publicidade televisiva nas escolhas alimentares das crianças e dos adolescentes. Atualmente existe, no entanto, a preocupação de abordar temáticas relacionadas com a alimentação saudável em programas especialmente dirigidos a crianças como os desenhos animados. Não parece ser, no entanto, claro qual o impacto da visualização destes conteúdos nas escolhas alimentares das crianças a curto e médio prazo. As crianças parecem ser fortemente influenciadas pelo visionamento televisivo. Mais especificamente, quando se publicita produtos alimentares, assiste-se a uma influência nas escolhas, nas preferências e nas atitudes alimentares. Contudo, poucos estudos têm analisado os efeitos da visualização de desenhos animados promotores de uma alimentação saudável nas preferências, atitudes e escolhas alimentares das crianças.

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Neste sentido, o presente estudo, teve como objetivo principal avaliar o efeito da exposição a desenhos animados cujo conteúdo promove uma alimentação saudável no comportamento alimentar, em crianças em idade pré e escolar. Mais especificamente, analisar: (1) efeito do visionamento de desenhos animados que promovem uma alimentação saudável nas preferências e nas atitudes alimentares e (2) efeito do visionamento de desenhos animados que promovem uma alimentação saudável nas escolhas alimentares. Tendo por base a revisão da literatura (e.g., Bannon & Schwartz, 2006; Beaudoin, Fernandez, Wall, & Farley, 2007; Dixon, Scully, Wakefield, White, & Crawford, 2007; Hasting et al., 2003) espera-se que: (1) a visualização de desenhos animados que promovem comportamentos alimentares saudáveis influencie positivamente as preferências e atitudes alimentares das crianças e (2) a visualização de desenhos animados que promovem comportamentos alimentares saudáveis influencia positivamente as escolhas alimentares das crianças.

Metodologia

Participantes

A amostra do presente estudo foi composta por 147 crianças recrutadas em quatro escolas (três públicas e uma privada). O critério de inclusão no estudo utilizada foi a idade dos participantes, onde estes tinham que se encontrar em idades pré-escolar e escolar (entre os quatro e os oito anos).

Em termos das características sociodemográficas, 49.0% (n = 72) do sexo masculino e 51.0% (n = 75) do sexo feminino e com idades compreendidas entre os quatro e os oito anos (Média = 6.40, Desvio Padrão = 1.23). A generalidade dos participantes era de nacionalidade portuguesa (87.1%) e encontrava-se no nível socioeconómico médio-baixo (32.2%). Relativamente ao nível de educação, 30.6% (n = 45) das crianças andavam na pré-escola, 18.4% (n = 27) das crianças estavam a frequentar o primeiro ano de escolaridade e 51.0% (n = 75) das crianças encontravam-se a frequentar o segundo ano de escolaridade. Relativamente às características antropométricas, a maioria das crianças encontrava-se no percentil de Índice Massa Corporal (IMC) correspondente ao excesso de peso e obesidade (51.0%).

A Tabela 1 apresenta a descrição detalhada das características sociodemográficas e antropométricas dos participantes do presente estudo.

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Tabela 1

Características sociodemográficas e antropométricas das crianças

Características N = 147 n (%) Idade 4-5 25.9 6-8 74.1 Sexo Feminino 51.0 Masculino 49.0 Nível Socioeconómico Alto 19.8 Médio Alto 20.7 Médio 12.4 Médio Baixo 32.2 Baixo 14.9 Nível de educação Pré-escolar 30.6 1º ano 18.4 2º ano 51.0 Categoria percentil de IMC Baixo 1.4 Normal 46.2 Excesso 20.9 Obesidade 31.5 Procedimentos e medidas

Os participantes deste estudo foram recrutados em escolas públicas e privadas do distrito de Braga. Inicialmente, foram selecionadas e contactadas as escolas para a recolha de dados. Seguidamente, o estudo foi explicado aos cuidadores das crianças e obtida a autorização para a participação das mesmas, garantindo que se consistia num estudo voluntário e se garantia o anonimato e a confidencialidade dos dados recolhidos. Cada cuidador preencheu, igualmente, o questionário sociodemográfico acerca das características sociodemográficas das crianças.

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Os participantes foram divididos em dois grupos, o grupo de controlo (n = 75) e o grupo experimental (n = 72) através de um protocolo pré definido de randomização (www.randomizer.org). Cada criança respondeu, individualmente o questionário de avaliação do apetite e o questionário de avaliação do reconhecimento dos desenhos animados e medidas de preferência. Após o preenchimento dos questionários, grupos de quatro ou cinco crianças visualizaram um vídeo de desenhos animados. As crianças do grupo de controlo visualizaram dois vídeos (dez minutos cada) de desenhos animados sem qualquer referência a alimentos. Por outro lado, as crianças do grupo experimental visualizaram dois vídeos (dez minutos cada) de desenhos animados cujo conteúdo tinha como objetivo promover uma alimentação saudável.

Após o momento de visualização, cada criança, individualmente, passou pela fase de ingestão dos alimentos. Nesta, apresentou-se às crianças, aleatoriamente, quatro taças de alimentos. Ao longo de 15 minutos, era-lhes permitido ingerir, sem quaisquer restrições, os alimentos que pretendessem. As taças apresentadas incluíam alimentos saudáveis (uvas e cenouras baby) e alimentos não saudáveis (batatas fritas e chocolates). A quantidade de alimentos que cada taça continha foi controlada (dez batatas fritas, 20 chocolates, 15 uvas e seis cenouras baby), o que permitiu a contabilização exata da quantidade de alimentos ingeridos. Posteriormente, cada criança preencheu o questionário de avaliação das atitudes para uma alimentação saudável e o questionário de preferências alimentares. Por último, procedeu-se à medição antropométrica das crianças, tendo cada uma sido pesada e medida, individualmente, pela equipa de investigadores. Para tal, foi utilizada uma balança digital e um estadiómetro.

Devido às possíveis dificuldades de leitura das crianças, todos os questionários foram respondidos com a ajuda dos investigadores.

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Instrumentos

Questionário sociodemográfico. Este questionário foi utilizado para recolher

informação sobre as características sociodemográficas das crianças. É composto por 24 questões fechadas para caracterizar a amostra ao nível das características sociodemográficas.

Instrumento para avaliação do apetite. Este instrumento foi utilizado para avaliar a

sensação subjetiva da fome, no momento da avaliação. O instrumento é composto por uma pergunta e avalia a sensação subjetiva através de uma escala tipo Likert, adaptada para cinco rostos sorridentes, que representam uma escala desde “Tenho Fome” até “Estou Cheio”.

Figura 1. Esquematização do procedimento experimental Medição antropométrica

Ingestão de alimentos

Atitudes para uma alimentação saudável

Questionário da preferência alimentar (LFPM) Consentimento informado aos pais

Questionário sociodemográfico

Instrumento para avaliação da fome

Grupo Controlo Sem mensagens

nutricionais

Avaliação do reconhecimento das personagens dos desenhos animados e Medidas de

preferência

Grupo Experimental Mensagens nutricionais positivas

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Reconhecimento das personagens dos desenhos animados e Medidas de preferência. O questionário foi utilizado para avaliar o conhecimento prévio dos desenhos

animados que promovem comportamentos alimentares saudáveis. Adicionalmente, serve para avaliar a consciência e o compromisso estabelecido com os desenhos animados e se o conhecimento prévio afeta as atitudes de base ou a capacidade de resposta das crianças face a uma alimentação saudável. O questionário apresenta duas questões fechadas, direcionadas ao reconhecimento e à preferência, e uma questão aberta sobre o conhecimento dos desenhos animados. A questão sobre a preferência foi respondida através de uma escala de tipo Likert de cinco pontos, adaptada para uma escala desde “Gosto Muito” até “Detesto”.

Atitudes para uma alimentação saudável. Este questionário serviu para avaliar a

importância de alguns fatores subjacentes à escolha dos alimentos. Os fatores avaliados, baseados no estudo de Gibson et al. (1998), foram a salubridade, sabor, rapidez e facilidade dos alimentos e a ingestão de alimentos que outros também estejam a ingerir. Os itens são respondidos numa escala de tipo Likert de cinco pontos, com uma escala desde “ Nada Importante” até “Extremamente Importante”. No presente estudo, este questionário demonstrou baixa consistência interna (α = .41)

Questionário da preferência alimentar (LFPM). O questionário foi utilizado para

avaliar as preferências alimentares de cada criança. Consiste numa lista de 32 alimentos, divididos por quatro sub-escalas de avaliação (itens ricos em gordura, itens ricos em proteína, itens com baixo teor de energia e itens ricos em carbohidratos), que não estão associados a nenhuma marca. Questionou-se a cada participante se, naquele momento, gostaria de ingerir cada alimento, considerando-o individualmente e não como um elemento constituinte de uma refeição. A versão LFPM utilizada neste projeto foi desenvolvida através de uma versão utilizada por Boyland e colaboradores (2011), traduzida e adaptada para a população portuguesa. No presente estudo, este questionário demonstrou elevada consistência interna (α = .82).

Estratégia de análise dos dados

Para analisar diferenças entre o grupo controlo e experimental ao nível da idade, do percentil de IMC e do apetite no momento da avaliação uma Multivariate Analysis of

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inserido como variável independente e a idade, o percentil de IMC e o apetite no momento da avaliação foram inseridos como variáveis dependentes. De forma a analisar a associação entre o grupo de controlo e experimental ao nível do sexo, nível socioeconómico e reconhecimento

anterior dos desenhos animados testes Qui-Quadrado (χ2) foram conduzidos.

Com vista a analisar o efeito da visualização de desenhos animados promotores de uma alimentação saudável nos comportamentos alimentares das crianças em idade pré e escolar foram analisados os efeitos da visualização nas (1) preferências e atitudes alimentares e (2) nas escolhas alimentares das crianças.

De forma a analisar (1) o efeito da visualização de desenhos animados promotores uma alimentação saudável ao nível das preferências e das atitudes alimentares das crianças foi utilizada uma Multivariate Analysis of Covariance (MANCOVA). No modelo o grupo (controlo versus experimental) foi inserido como variável independente e as preferências alimentares (preferência por alimentos ricos em gordura, ricos em proteína, baixo teor de energia e ricos em carbohidratos) e as atitudes alimentares (em relação à salubridade, sabor, à facilidade e rapidez do alimentos e à ingestão de alimentos que outros também estejam a ingerir) foram inseridas como variáveis dependentes. O percentil de IMC foi inserido no modelo como covariável.

De forma a analisar (2) o efeito da visualização de desenhos animados promotores de uma alimentação saudável ao nível das escolhas alimentares das crianças recorreu-se a uma MANCOVA. Similarmente, no modelo, o grupo (controlo versus experimental) foi inserido como variável independente e as escolhas alimentares (saudáveis e não saudáveis) como variáveis dependentes. Adicionalmente, ainda se realizou uma Univariate Analysis of

Covariance (UNI-ANCOVA) para analisar o efeito da visualização de desenhos animados

promotores de uma alimentação saudável no número total de alimentos consumidos. No modelo, o grupo (controlo versus experimental) foi inserido como variável independente e o número total de alimentos ingeridos (saudáveis e não saudáveis) como variável dependente. Nestes dois modelos o percentil de IMC das crianças foi inserido como covariável.

Para a realização das análises de dados foi utilizado o software Statistical Package for

Social Sciences (IBM® SPSS®) versão 22.0. Todos os dados amostrais elegíveis foram

utilizados. As medidas de tamanho do poder do efeito (pη2 ) foram apresentadas em todos os

modelos estatísticos. Cálculos de poder estatístico a priori, utilizando o software G*Power 3.1 (Faul, Erdfelder, Lang, & Buchner, 2007), sugeriram que o tamanho amostral (N = 147)

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foi suficiente para detetar efeitos mínimos nas MANCOVAs (e.g., tamanho do efeito f 2 (V) = .20, α = .05, poder estatístico = 0.95, para dois grupos, uma covariável e oito variáveis dependentes).

Resultados

Diferenças entre o grupo de controlo e experimental ao nível das características sociodemográficas e antropométricas

Os resultados da Multivariate Analysis of Variance (MANOVA) revelaram efeitos multivariados não significativos do grupo ao nível das características sociodemográficas e

antropométrica, F (1, 140) = 2.09, p = .104, pη2 = 0.04, Lambda de Wilks = 0.96. Resultados

revelaram efeitos univariados significativos do grupo no percentil de Índice Massa Corporal (IMC), F (1, 140) = 4.27, p = .041, pη2 = 0.30. As crianças que participaram no grupo experimental apresentam um percentil de IMC mais elevado do que as crianças que participaram no grupo de controlo. No entanto, os resultados revelaram efeitos univariados não significativos do grupo na idade, F (1, 140) = 1.20, p = .274, pη2 = 0.01, e no apetite no momento da avaliação F (1, 140) = 0.64, p = .426, pη2 = 0.01.

A Tabela 2 apresenta a descrição detalhada das diferenças entre grupo de controlo e experimental ao nível das características sociodemográficas e antropométricas.

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Tabela 2

Diferenças entre o grupo de controlo e experimental ao nível das características sociodemográficas e antropométricas Grupo Controlo Experimental (n = 73) (n = 70) M DP M DP F df Idade 6.33 1.20 6.57 1.21 1.20 1, 140 Percentil de IMC 69.49 27.42 77.93 23.35 4.27* 1, 140 Apetite 2.86 1.55 2.67 1.37 0.64 1, 140

Notas. M = Média; DP = Desvio padrão. *p < .05

Os resultados dos Testes de Qui-Quadrado (χ2) sugeriram que não há uma associação

entre o grupo de controlo e experimental face ao sexo, χ2(5) = 0.12, p = 1.00, no nível

socioeconómico, χ2 (1) = 0.01, p = .930, e no reconhecimento prévio dos desenhos animados

promotores de comportamentos alimentares saudáveis, χ2(1) = 0.53, p = .468.

Efeitos do visionamento de desenhos animados promotores de uma alimentação saudável nas preferências e nas atitudes alimentares das crianças

A Multivariate Analysis of Covariance (MANCOVA) revelou efeitos multivariados não significativos do grupo nas preferências e atitudes alimentares, F (1, 138) = 0.65, p = .733, pη2 = 0.045, Lambda de Wilks = 0.96. Não foram encontrados efeitos do grupo na preferência por alimentos ricos em gordura, F (1, 138) = 1.53, p = .218, pη2 = 0.01, na preferência por alimentos ricos em proteína, F (1, 138) = 1.22, p = .271, pη2 = 0.01, na preferência por alimentos baixo teor de energia, F (1, 138) = 0.04, p = .848, pη2 = 0.00, e na preferência por alimentos ricos em carbohidratos, F (1, 138) = 2.17, p = .143, pη2 = 0.02. Também não foram encontrados efeitos no grupo nas atitudes em relação à salubridade do alimento, F (1, 138) = 0.23, p = .635, pη2 = 0.00, nas atitudes em relação ao sabor do alimento, F (1, 138) = 0.28, p = .595, pη2 = 0.00, nas atitudes em relação à facilidade e

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rapidez do alimento, F (1, 138) = 0.41, p = .523, pη2 = 0.00, e nas atitudes face a ingestão de alimentos que os outros também estejam a ingerir, F (1, 138) = 0.65, p = .421, pη2 = 0.01. Não foram encontrados efeitos covariáveis significativos do percentil de IMC nas preferências e nas escolhas alimentares, F (1, 138) = 0.58 p = .793, pη2 = 0.04.

A Tabela 3 apresenta a descrição detalhada do efeito do visionamento de desenhos animados promotores de uma alimentação saudável nas preferências e nas atitudes alimentares das crianças.

Tabela 3

Efeito do visionamento de desenhos animados promotores de uma alimentação saudável nas preferências e nas atitudes alimentares das crianças

Grupo Controlo Experimental (n = 72) (n = 69) Comportamento Alimentar M DP M DP F df PA Ricos em Gordura 11.81 2.09 12.30 2.40 1.53 1, 138 Ricos em Proteína 11.96 2.69 12.58 2.81 1.22 1, 138

Baixo Teor de Energia 11.24 2.31 11.17 2.03 0.4 1, 138

Ricos em Carbohidratos 11.88 2.01 12.79 2.30 2.17 1, 138

AA

Salubridade 3.51 1.62 3.68 1.59 0.23 1, 138

Sabor 3.62 1.41 3.50 1.23 0.28 1, 138

Facilidade e rapidez 3.03 1.51 2.83 1.31 0.41 1, 138

Igual aos outros 2.31 1.41 2.49 1.38 0.62 1, 138

Notas. M = Média; DP = Desvio padrão; PA = Preferências alimentares; AA = Atitudes alimentares; O percentil de IMC da criança foi inserido no modelo como covariáveis.

Efeitos do visionamento dos desenhos animados promotores de uma alimentação saudável nas escolhas alimentares

Os resultados da Multivariate Analysis of Covariance (MANCOVA) revelaram efeitos multivariados significativos do grupo nas escolhas alimentares das crianças, F (1, 140) = 4.23,

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significativos do grupo na escolha de alimentos saudáveis por parte das crianças, F (1, 140) = 8.42, p = .004, pη2 = 0.06. Não foram encontrados efeitos univariados significativos do grupo na escolha de alimentos não saudáveis por parte das crianças, F (1, 140) = 0.34, p = .56, pη2 = 0.00. As crianças que participaram no grupo experimental escolhem mais alimentos saudáveis do que as crianças que participaram no grupo de controlo. Não foram encontrados efeitos covariáveis significativos do percentil de IMC nas escolhas alimentares, F (1, 140) = 0.22 p = .806, pη2 = 0.00.

Os resultados da Univariate Analysis of Covariance (UNI-ANCOVA) revelaram efeitos univariados marginalmente significativos do grupo na ingestão de alimentos, F (1, 140) = 3.92, p = .050, pη2 = 0.03. As crianças que participaram no grupo experimental

escolheram mais alimentos do que as crianças que participaram no grupo de controlo. Similarmente, não foram encontrados efeitos covariáveis significativos do percentil de IMC no total de escolhas de alimentos, F (1, 140) = 0.03 p = .863, pη2 = 0.00.

A Tabela 4 apresenta a descrição detalhada do efeito do visionamento dos desenhos animados promotores de uma alimentação saudável ao nível das escolhas alimentares.

Tabela 4

Efeito do visionamento dos desenhos animados promotores de uma alimentação saudável ao nível das escolhas alimentares

Grupo Controlo Experimental (n = 73) (n = 70) Alimentos M DP M DP F df Não Saudáveis 6.27 5.66 6.87 7.07 .34 1, 140 Saudáveis 2.57 3.82 4.66 4.38 8.42** 1, 140 Total 8.84 7.46 11.54 8.33 3.92† 1, 140

Notas. M = Média; DP = Desvio padrão; O percentil de IMC da criança foi inserido no modelo como covariável.

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Discussão

O presente estudo teve como objetivo analisar o efeito do visionamento de desenhos animados promotores de uma alimentação saudável nas escolhas alimentares das crianças, nas preferências e nas atitudes alimentares das crianças.

De acordo com a primeira hipótese desta investigação, efeitos do visionamento de desenhos animados promotores de uma alimentação saudável nas escolhas alimentares foram encontrados. Os resultados sugeriram que as crianças que viram os desenhos animados com mensagens nutricionais positivas escolhem mais alimentos saudáveis. Globalmente, após a condição de visualização dos desenhos animados, as crianças apresentam um considerável consumo dos alimentos apresentados (saudáveis e não saudáveis), sendo que as crianças que visualizaram os desenhos animados promotores de uma alimentação saudável consumiram mais alimentos, mas também consumiram mais alimentos saudáveis. Neste sentido, os resultados revelam que as crianças do grupo experimental escolheram mais alimentos saudáveis, mas não escolheram menos alimentos não saudáveis. Os resultados encontrados na nossa investigação corroboram estudos anteriores (e.g. Bannon & Schwartz, 2006; Horne et al., 2004). Por exemplo, um estudo realizado por Bannon e Schwartz (2006) encontrou efeitos significativos da promoção de alimentos saudáveis nas escolhas alimentares das crianças. Similarmente ao nosso estudo, as crianças que foram expostas a vídeos nutricionais positivos pareceram escolher mais alimentos saudáveis. Paralelamente, Horne e colaboradores (2004) desenharam uma intervenção para a promoção de comportamentos saudáveis através da utilização de desenhos animados e os resultados mostraram corroborar os resultados encontrados na nossa investigação, uma vez que no final da intervenção as crianças pareciam escolher mais os alimentos promovidos. Para além de que, os resultados parecem dar suporte ao modelo de Ogden (2003) que indica que as escolhas alimentares são influenciadas pela exposição e que as crianças são capazes de escolher alimentos saudáveis, desde que estes estejam presentes. Os resultados desta investigação sugeriram que a visualização de um vídeo de desenhos animados promotores de comportamentos alimentares saudáveis influencia positivamente as escolhas alimentares. Apoiando a literatura de que as escolhas alimentares das crianças são influenciadas, por alimentos que viram em vídeos e/ou na televisão.

Ao contrário da nossa segunda hipótese, os resultados apontaram para que a visualização de desenhos animados com mensagens nutricionais positivas parece não ter

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efeito nas preferências e atitudes alimentares das crianças. Tendo por base, os factos relatados na literatura, a nossa hipótese para este estudo seria que a visualização de desenhos animados promotores de comportamentos alimentares saudáveis tivessem um efeito positivo nas preferências alimentares das crianças. No entanto, os resultados desta investigação indicaram a não existência de efeito da visualização com as preferências alimentares, não indo de encontro aos resultados de Hasting e colaboradores (2003) acerca da associação entre a exposição de alimentos e a mudança nas preferências alimentares. Os desenhos animados são, atualmente, muitas vezes associados a marcas de produtos alimentares e consequentemente utilizados nas campanhas publicitárias desses alimentos, uma vez que o uso deste tipo de

marketing parece aumentar as preferências alimentares e o gosto das crianças por esses

mesmos alimentos (e.g. Levin & Levin, 2010). No seu estudo, Borzekowski e Robinson (2001), revelaram que as crianças quando expostas a publicidade de alimentos pareciam escolher mais esses alimentos do que aquelas que não foram expostas aos alimentos, tendo por isso concluído que a publicidade influencia positivamente as preferências. Assim, os estudos efetuados para analisar os efeitos da visualização de mensagens nutricionais nas preferências alimentares, mostraram ser eficazes uma vez que as crianças que assistiram pareciam escolher mais os alimentos anunciados nos vídeos ou na publicidade (e.g., Borzekowski & Robison, 2001). No entanto, na presente investigação, os alimentos não foram associados a nenhuma marca nem a avaliação das preferências foi baseada em alimentos anunciados, o que poderá justificar os resultados encontrados.

Relativamente às atitudes alimentares, os resultados revelaram que a visualização de vídeos promocionais de comportamentos alimentares positivos também parece não ter efeito nas atitudes alimentares das crianças. No comportamento alimentar, estão interrelacionados inúmeros fatores psicossociais subjacentes às escolhas alimentares, como o sabor e a salubridade (cf. Bezbaruah & Brunt, 2012). No entanto, os resultados encontrados neste estudo apontam para que a visualização de vídeos promotores de uma alimentação positiva parece não ter efeito nas atitudes alimentares das crianças. Os resultados não corroboram estudos prévios (e.g., Dixon et al., 2007). No seu estudo, Dixon e colaboradores (2007), encontraram uma associação positiva entre a visualização de publicidade a alimentos com atitudes positivas em relação aos alimentos publicitados.

Paralelamente sabe-se que as preferências e as atitudes alimentares são desenvolvidas muito precocemente, sendo que as preferências alimentares iniciais parecem prolongar-se ao

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longo da vida (e.g., Nicklaus et al., 2004). Tanto as atitudes como as preferências alimentares são características que são difíceis de se alterarem ao longo da vida (Ogden, 2003). De tal forma que, apesar de se verificar um efeito positivo nas escolhas, o mesmo parece não se ter verificado nas preferências alimentares (Odgen, 2003). Adicionalmente, apesar de existir uma relação direta entre a exposição a alimentos e as preferências alimentares, autores sugerem que, a exposição deverá ser prolongada. Birch e Marlin (1982) defendem a necessidade de que as crianças sejam expostas a determinado tipo de alimentos no mínimo oito ou dez vezes para que haja efeito nas preferências alimentares. Parece existir uma série de possíveis explicações para o comportamento alimentar das crianças, nomeadamente no que concerne às preferências e as atitudes alimentares que podem ser modificados através da exposição à publicidade de alimentos. No entanto, o comportamento alimentar das crianças é muito complexo, sendo influenciado e determinado por múltiplos fatores subjacentes. Os resultados encontrados parecem ir também na direção da teoria de Ogden (2003), sendo que a visualização de desenhos animados com mensagens nutricionais positivas, parecem promover escolhas saudáveis, no momento, mas pelo contrário parecem não alterar as preferências nem as atitudes alimentares das crianças.

Paralelamente, parece não existir nenhum efeito significativo do percentil do IMC ao nível do comportamento alimentar das crianças. Parece que o visionamento de desenhos animados promotores de uma alimentação positiva tem efeito igual tanto com as crianças que apresentam um percentil de IMC elevado como as que apresentam um percentil de IMC baixo.

Limitações

Algumas limitações relativamente ao nosso estudo podem ser apontadas. Relativamente a avaliação das preferências e das atitudes alimentares das crianças, não foi efetuada uma pré-avaliação das mesmas, anteriormente à visualização dos desenhos animados promotores de uma alimentação saudável, não sendo possível estudar mudanças no comportamento alimentar das crianças ao longo do tempo. Para além de que, o número de vezes que as crianças foram expostas a condição experimental também se torna uma limitação. De acordo com a literatura as crianças tem que se expostas a um considerável número de vezes para as preferências e as atitudes serem alteradas. Outra limitação a apontar,

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está relacionada com os vários fatores que podem influenciar o comportamento alimentar das crianças, uma vez que não foram avaliados o comportamento alimentar das crianças (e.g. hábitos alimentares) e o comportamento alimentar das famílias, o que poderia trazer informações adicionais, nomeadamente ao nível da avaliação das preferências e das atitudes alimentares. Por fim, outra limitação encontrada na avaliação das atitudes alimentares foi a consistência interna do questionário das atitudes para uma alimentação saudável.

Implicação para a prática e investigação

Torna-se importante referir algumas sugestões para futuros estudos. Tem-se verificado o efeito da exposição ao nível do comportamento alimentar no que concerne aos alimentos anunciados/publicitados. Contudo, a promoção de comportamentos alimentares saudáveis através de desenhos animados parece não ter sido muito aprofundada, sendo que a investigação, maioritariamente tem-se debruçado sobre a influência da visualização da televisão e do uso de técnicas de marketing no comportamento alimentar. Assim, dada a escassez de estudos seria interessante investigar sobre a influência de desenhos animados promotores de uma alimentação saudável ao nível do comportamento alimentar. Nomeadamente, estudos futuros poderão estudar o comportamento alimentar cotidiano das crianças e da família antes da exposição e após a exposição de vídeos promotores de uma alimentação saudável. Estudos futuros também poderão estudar o efeito do visionamento de desenhos animados promotores de uma alimentação saudável através de um estudo longitudinal, que incluísse um maior número de sessões de exposição aos desenhos animados. Alguns aspetos importantes para a prática no contexto da promoção e prevenção de saúde poderão ser apontados. A adoção de uma metodologia fundamentada neste estudo, poderia ser desenhada como uma intervenção no âmbito da promoção de comportamentos alimentares saudáveis. Ademais, uma vez que foram encontrados efeitos da exposição de desenhos promotores de uma alimentação saudável ao nível da promoção e prevenção da obesidade infantil, seria interessante avaliar se esta exposição tem efeito noutras áreas de desenvolvimento e avaliar o efeito noutras idades (e.g., adolescência). Deste modo, dados os resultados deste estudo, seria interessante desenvolver este projeto e incluí-lo ao nível das políticas educativas e nos planos curriculares das crianças.

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Conclusão

A relação entre a visualização de conteúdos diretamente associados a alimentos e ao comportamento alimentar e a ingestão de alimentos saudáveis é muito complexa e, por vezes, contraditória. Concretamente, para alguns autores existe uma relação direta, e para outros, esta relação não é tão evidente, por exemplo, quando se publicita alimentos saudáveis (Goldberg & Gorn, 1979; Lemnitzer, Jeffery, Hess, Hickey, & Stroud, 1979). Deste modo, a visualização destes conteúdos específicos parece afetar a ingestão alimentar das crianças, no entanto, pode não ser suficientemente forte para superar as preferências pelos alimentos não saudáveis (Dovey, Taylor, Stow, Boyland, & Halford, 2011).

A pertinência deste estudo prende-se com o facto de se ter encontrado efeitos da visualização de desenhos animados promotores de uma alimentação saudável nas escolhas alimentares das crianças. O conhecimento fundamentado pelos resultados desta investigação pode fornecer maior conhecimento de novos programas a adotar pelos vários profissionais de saúde e agentes educativos, para a promoção de comportamentos alimentares saudáveis.

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