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Oswald de Andrade na cultura e na literatura brasileira

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Academic year: 2020

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OSUJALD DE ANDRADE NA CULTURA E NA LITERATURA BRASILEIRA

E l i z a b e t h R i b e i r o L i s b o a LOPEZ* Seu nome completo é José Oswald de Sousa Andrade.

Prosador, poeta, t e a t r ó l o g o , r e v o l u c i o n á r i o , com a p o l ê m i c a sempre permeando sua obra, Oswald e r a um homem p l u r a l , o que j u s t i f i c a as a f i r m a ç õ e s de M á r i o da S i l v a B r i t o : "há tanto ainda que d e s c o b r i r em Oswald! Há t a n t o s Oswalds ainda por serem r e s s u s c i t a d o s ! " ( 3 , p.24) " H á um Oswald humorista, s a t í r i c o , i r r e v e r e n t e , gozador, c h e i o de verve, que a t r a v é s do r i s o d e s t r u í a tabus, p r e c o n c e i t o s e idéias f e i t a s , todas as imposturas da f a l s a s e r i e d a d e , antes 1ugares-comuns d i t o s com ê n f a s e , pompa e s o l e n i d a d e do que pensamentos profundos e, p r i n c i p a l m e n t e , fecundos e fecundantes". <3, P.25)

Exemplo d i s t o está no f a t o de Oswald, ao r e g r e s s a r de sua p r i m e i r a viagem à Europa em 1912, t r a z e r consigo, para a c a s a de seus p a i s , sem e s t a r casado, a f r a n c e s a K a m i á , m ã e de seu p r i m e i r o f i l h o . Outro fato digno de nota é que numa sociedade em que a mulher t i n h a uma c o n d i ç ã o s u f o c a n t e , sem d i r e i t o ao voto e devendo depender do marido, pai ou r e s p o n s á v e l , Oswald age e reage c o n t r a t a l s i t u a ç ã o como mostra seu comportamento amoroso, p o i s sempre v a l o r i z o u e se l i g o u a mulheres a t u a n t e s : a b a i l a r i n a ( L a n d a ) , a p i n t o r a ( T a r s i l a ) , a m i l i t a n t e (Pagu) e a n o r m a l i s t a ( D e i s e ou Miss C y c l o n e ) . I s s o r e p r e s e n t a um d e s a f i o à sociedade estanque de seu tempo. Ainda, segundo M á r i o da S i l v a B r i t o , "diziam que e l e só f a z i a piada, o que não é v e r d a d e i r o . F a z i a piada também - e com » Aluna do Progiana de Pós-Graduaçào

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a g r a ç a e a r t e . " < 3 » p . 2 5 ) Observa que muitos não notaram que "sua piada e r a c o n t u n d e n t e » punha o dedo na ferida» r e p r e s e n t a v a uma denuncia, desmascarava em suma os fariseus» a pseudo c u l t u r a , o f a t o mentiroso ou deformado." <3, p.25)

0 humor o s w a l d i a n o » sempre com a l v o s d e f i n i d o s e b a s t a n t e i n t e l i g e n t e s , c a r a c t e r i z a - s e por seu senso c r i t i c o . E s s e Oswald gozador é inseparável do "Oswald

i n s t a n t â n e o » de r é p l i c a s i n e s p e r a d a s e acachapantes." <3» p.26) Por exemplo» numa n o i t e de debates em São Paulo, no Teatro C u l t u r a A r t i s t i c a , acusaram-no de s e r amoral por t e r se casado v á r i a s v e z e s , ao que e l e respondeu: " - I s s o só prova que eu sou

f a m i l i a . " ( 3 , P.63)

M á r i o da S i l v a D r i t o conta que ouviu-o d i z e r a uma jovem que lhe r e c r i m i n a v a os i n ú m e r o s casamentos: "-Sou um modesto Henrique V I I I , menina." ( 1 , p.63)

Ainda um outro e p i s ó d i o o c o r r i d o no G i n á s i o São Bento, com um p r o f e s s o r de G e o g r a f i a , um a l e m ã o , por quem Oswald s e n t e -se per-seguido: na época das provas f i n a i s estuda muito por e s t a r a m e a ç a d o de r e p r o v a ç ã o em C o r o g r a f i a do B r a s i l , estudo das r e g i õ e s e l o c a l i d a d e s do p a i s . Estuda seguindo as e x i g ê n c i a s daquele p r o f e s s o r que q u e r i a tudo decorado p e l a ordem a l f a b é t i c a .

No d i a do exame o r a l o ponto sorteado para Oswald é o dos portos do B r a s i l , portos "de segunda ordem". Em vez de t e x t o decorado, no entanto, o p r o f e s s o r pede a e l e que faça uma e s t r a n h a viagem, num navio que deve part i r do Rio Grande do Sul rumo a Pernambuco sem e n t r a r em nenhum porto de p r i m e i r a ordem, c o n d i ç ã o e s t a que, não cumprida, r e p r e s e n t a r i a sua r e p r o v a ç ã o . Oswald c o m e ç a a responder sob a e x p e c t a t i v a dos alunos da turma, que conheciam sua r i x a com o p r o f e s s o r . Depois de " p a s s a r " por Angra

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dos R e i s . e l e prossegue e f a l a do Rio de J a n e i r o que, sendo a c a p i t a l da R e p ú b l i c a , era porto de p r i m e i r a ordem. 0 p r o f e s s o r g r i t a , chama-o de c i n i c o enquanto a c l a s s e morria de r i r . Dai Oswald dá o cheque-mate e, pedindo p e r d ã o , d i z que desceu no Rio para i r de barca a N i t e r ó i . A gargalhada é g e r a l e e l e consegue s e r aprovado por e x i g ê n c i a dos outros docentes da banca examinadora.

Continuando com o Oswald m ú l t i p l o , M á r i o da S i l v a B r i t o menciona o v i s i o n á r i o ,

que enxergava antes o que os outros n ã o percebiam logo ou j a m a i s . Menciona o que se negava a p r a t i c a r uma p o e s i a d e m a g ó g i c a e, ainda, o que t r a b a l h a v a p a c i e n t e e atenciosamente os seus t e x t o s , gastando longo tempo para r e d i g i - l o s , sempre v i g i l a n t e e pronto a r e f a z e r ou r e e s c r e v e r o que o seu senso c r i t i c o apontava como i m p e r f e i t o : " H á o Oswald preocupado com o apuro de linguagem, a r e - i n v e n ç ã o dos modos de d i z e r , a f a t u r a l i t e r á r i a l i b e r t a dos r a n ç o s defendidos pelos g r a m á t i c o s , o l u s i t a n o f r a s e a r , o r a m e r r ã o do e s t i l o . " ( 3 , P.26

Em todos e s s e s Oswalds nota-se a i n t e l i g ê n c i a e s e n s i b i l i d a d e profundas, o c u l t o da l i b e r d a d e , o c a r á t e r r e v o l u c i o n á r i o e p o l ê m i c o e a i r r e v e r ê n c i a c r i a d o r a , paradoxalmente a l e g r e e mordaz.

0 c a r á t e r contestador f a z i a p a r t e de sua p r ó p r i a n a t u r e z a , abrangendo tanto sua v i d a como sua obra.

Oswald de Andrade nasceu em S ã o Paulo, em 1890, e lá morreu em 1954, aos 64 anos. F i l h o ú n i c o de p a i s r i c o s , e l e t i n h a tudo o que q u e r i a e gastava quanto q u i s e s s e . Adorava a m ã e por quem e r a mimado e a morte d e l a P O U C O S d i a s antes da <hegada de sua p r i m e i r a viagem à Europa, em 1912, marcou-o

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profundamente. 0 desaparecimento da m ã e marca o d i s s i d i o do poeta com Deus, como e l e mesmo d i s s e .

As c a r t a s que a m ã e l h e e s c r e v i a quando e s t a v a na Europa mostram bem o c a r á t e r de f i l h o mimado. Aconselha-o a s e a l i m e n t a r bem, a v e s t i r - s e nos melhores a l f a i a t e s , a tomar cuidado com as amizades; enfim, t r a t a - o como se f o s s e menino. Chega mesmo a mandar-lhe goiaba do B r a s i l .

A quebra da b o l s a em 19S9 deixou-o numa s i t u a ç ã o d i f í c i l , assim como toda a b u r g u e s i a . Passou, p o r t a n t o , por p e r í o d o s

i n s t á v e i s f i n a n c e i r a m e n t e .

Apesar de t e r v i a j a d o muito - f o i à Europa d i v e r s a s vezes e v i s i t o u t a m b é m o O r i e n t e - o poeta v i v e u intensamente a cidade de S ã o Paulo que p o n t e i a sua obra. E l e

acompanhou o s e u desenvolvimento e

t r a n s f o r m a ç õ e s r a d i c a i s do i n i c i o do s é c u l o -por exemplo, do bonde puxado -por burros ao bonde e l é t r i c o e p processo de u r b a n i z a ç ã o da V i l a C e r q u e i r a C é s a r , hoje um b a i r r o c e n t r a l de S ã o Paulo e que naquela é p o c a p e r t e n c i a a seu p a i , tendo s i d o anteriormente uma c h á c a r a e um s i t i o de propriedade do mesmo.

A cidade de S ã o Paulo só perde o p r i m e i r o plano na v i d a do poeta por P a r i s , outro c e n t r o importante de sua v i d a i n t e l e c t u a l e p e s s o a l . Lá encontrou o cosmopolitismo c u l t u r a l - e sexual - que c o n t r a s t a v a com o p r o v i n c i a n i s m o p a u l i s t a n o .

Estudou no G i n á s i o de S ã o Bento e formou-se em D i r e i t o p e l a Faculdade do Largo S ã o F r a n c i s c o , sendo que e s t e ultimo c u r s o

f o i f e i t o em duas e t a p a s , p o i s , ao m a t r i c u l a r - s e na faculdade p e l a p r i m e i r a v e z , Oswald t e v e uma grande d e c e p ç ã o com a e s c o l a devido ao t r o t e a p l i c a d o p e l o s v e t e r a n o s .

Interrompeu o c u r s o e só f o i t e r m i n á - l o anos mais t a r d e ( 1 9 1 7 ) .

Em 1931 foram os e s t u d a n t e s de 24

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-d i r e i t o -da r e f e r i -d a facul-da-de que eflipast e l aram o j o r n a l O homem do POVO , por julgarem o f e n s i v o à sua e s c o l a um a r t i g o e s c r i t o por Oswald, que se p o s i c i o n a : "A valentona i m b e c i l i d a d e daquele grupo de t r o t e c r i o u em mim uma v e r d a d e i r a a l e r g i a por tudo

que se processe debaixo das a r c a d a s . Dai t a l v e z se o r i g i n a s s e minha b r i g a com os e s t u d a n t e s , quando r e d i g i O homem do povo em 1931. Apesar de todas as o f i c i a i s r e c o n c i l i a ç õ e s e p a l i n ó d i a s , guardo um intimo horror p e l a mentalidade da nossa e s c o l a de D i r e i t o . Por i n s t i n t o e depois conscientemente sempre r e p e l i esse D i r e i t o a l i ensinado para engrossar a f i l o s o f i a do roubo que c a r a c t e r i z a o c a p i t a l i s m o . A l i á s , já nesse tempo eu me c o n s i d e r a v a a n a r q u i s t a . " C9, p a i n e l 31)

Desde cedo dedicou-se ao j o r n a l i s m o .

Seu p r i m e i r o e s c r i t o publicado apareceu em 1909 no Diário Popular. 0 a r t i g o t r a t a de uma viagem do P r e s i d e n t e Afonso Pena ao P a r a n á e Santa C a t a r i n a e seu t i t u l o é c u r i o s o e c h e i o de c o n o t a ç õ e s : "Penando".

Mais t a r d e fundou O Pirralho ( 1 9 1 1 -1917), r e v i s t a semanal p o l ê m i c a , em que, segundo M á r i o da S i l v a B r i t o , " e x e r c i a a i r r e v e r ê n c i a e o sarcasmo ou p r a t i c a v a o c o m e n t á r i o c r i t i c o em torno de temas n a c i o n a i s e e s t r a n g e i r o s , abordando assuntos de a r t e , l i t e r a t u r a e p o l i t i c a . " ( 3 , P . 1 1 6 ) O

Pirralho é hoje um importante d o c u m e n t á r i o da

é p o c a .

Trabalhou ainda no Jornal do

Comércio, em A Gazeta e em o u t r o s , com

reconhecida a t u a ç ã o no p r i m e i r o : é n e l e que Oswald defende A n i t a M a l f a t t i das c r i t i c a s de

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n o n t e i r o Lobato à e x p o s i ç ã o f e i t a p e l a p i n t o r a , em 1917, no conhecido " P a r a n ó i a ou m i s t i f i c a ç ã o ? " . E s p a ç o de p r o m o ç ã o da Semana de Arte Moderna e de r e v e l a ç ã o dos v e r s o s de M á r i o de Andrade no a r t i g o "0 meu poeta f u t u r i s t a " , assim como de outros t r a b a l h o s do mesmo.

E como j o r n a l i s t a que t r a v a o p r i m e i r o contato com M á r i o de Andrade: r e p ó r t e r , Oswald v a i a uma f e s t a no C o n s e r v a t ó r i o D r a m á t i c o e Musical e, n e l a , M á r i o é quem saúda o e n t ã o S e c r e t á r i o da J u s t i ç a , Elói Chaves. Faz um d i s c u r s o n o t á v e l aos olhos de Oswald e e s t e c o r r e ao p a l c o para pegar o o r i g i n a l com a i n t e n ç ã o de p u b l i c á - l o . Acaba brigando com outro r e p ó r t e r que se a t r a c a com e l e para obter o t e x t o disputado, mas s a i vencedor: "Bato-o e f i c o com o d i s c u r s o . M á r i o , l i s o n j e a d o , t o r n a - s e meu amigo". ( 9 , p a i n e l 14)

Nesse j o r n a l m a n t e r á v á r i a s p o l ê m i c a s "quer com os p a s s a d i s t a s , quer com os grupos do modernismo, quando ocorre a d i v i s ã o e n t r e e l e s , zombando dos postulados dos movimentos Verds e Amarela e Anta, ou dará n o t i c i a s estando ausente do B r a s i l -do que ocorre na Europa no plano e s t é t i c o e p o l i t i c o . " ( 3 , p.117)

Em 1931 surge O homem do povo, fundado e d i r i g i d o por Oswald, com P a t r i c i a G a l v ã o (Pagu) e Queiroz Lima. T r a t a - s e de j o r n a l i d e o l ó g i c o com apenas o i t o n ú m e r o s e d i t a d o s , p o i s f o i empasteiado p e l o s e s t u d a n t e s de D i r e i t o .

A p r o d u ç ã o j o r n a l í s t i c a de Oswald é mais uma das m ú l t i p l a s m a n i f e s t a ç õ e s do seu t a l e n t o , sendo i n d i s p e n s á v e l para c o n h e c ê - l o melhor e mais profundamente. Quanto aos seus a r t i g o s , d i s p e r s o s por v á r i o s j o r n a i s , M á r i o da S i l v a B r i t o d i z : " A t r a v é s d e l e s é p o s s í v e l p e s q u i s a r - s e todo um ideário e s t é t i c o e p o l i t i c o , p e r c e b e r - l h e a capacidade de s e r

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a t u a l e, em t a n t o s c a s o s , permanente, e ainda o poder de t r a n s c e n d e r o momento, o e p i s ó d i o e a t é de antever o f u t u r o , a marcha dos acontecimentos e sua t r a n s f o r m a ç ã o . Neles e s t ã o os seus entusiasmos, i d i o s s i n c r a s i a s , e r r o s , i m p l i c â n c i a s e f r a q u e z a s , o diagrama de suas v a c i l a ç õ e s e v e e m ê n c i a s , i n q u i e t u d e s e i n a b a l á v e i s c o n v i c ç õ e s . Mais: a coragem de se d e s d i z e r , de r e t r a t a r - s e , de d i a l e t i c a m e n t e c o n t r a d i z e r - s e , de r e v e r - s e a s i mesmo, c o r r i g i n d o enganos, e q u í v o c o s e às vezes i r r i t a d a v i s ã o de pessoas, f a t o s e c i r c u n s t â n c i a s . " ( 3 , P.118)

F o i o que ocorreu, por exemplo, com f i g u r a s como Monteiro Lobato, Antonio Candido, José L i n s do Rego, Cassiano Ricardo e o u t r o s .

Sobre e s t e ú l t i m o , e s c r e v e u no a r t i g o " B i l h e t e Aberto": "Basta a gente ver você de fardão na Academia, para s e n t i r que sua n a t u r e z a p a r t i c i p a da dos paquidermes d i l u v i a n o s e da t a r t a r u g a de água doce". ( i n

Ponta de lança). Posteriormente reconheceu em

C a s s i a n o um poeta de p r i m e i r a grandeza: "Mas ainda o maior poeta do B r a s i l é um velho de aa: C a s s i a n o R i c a r d o . E grande!". (£, p . £ 5 i ) Em v á r i a s o u t r a s vezes Oswald a s s i n a l a o a l t o v a l o r desse poeta.

P a r t e da p r o d u ç ã o j o r n a l í s t i c a de Oswald está reunida nos volumes Ponta de

Lança, organizados por e l e mesmo, e em Telefonema.

Como já f o i d i t o anteriormente, Oswald f e z v á r i a s viagens ao e x t e r i o r , v i s i t a n d o também o O r i e n t e .

Na sua p r i m e i r a viagem à Europa, em 1V1£, e n t r a em contato com os germes da r e n o v a ç ã o p o é t i c a que a l i surgem com o

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Futurismo. Na v o l t a preparou o ambiente para a r e v o l u ç ã o modernista b r a s i l e i r a , pregando a r e b e l d i a e s t è t i c a e a n e g a ç ã o dos p a d r õ e s t r a d i c i o n a i s . Mais t a r d e , a r t i c u l o u com M á r i o de Andrade e Di C a v a l c a n t i o movimento l i t e r á r i o e a r t i s t i c o apresentado o f i c i a l m e n t e na Semana de Arte Moderna, de 22, e f o i , no entender de M á r i o de Andrade, a " f i g u r a mais c a r a c t e r í s t i c a e d i n â m i c a do movimento modernista". ( 5 , p.25) Sempre e s t e v e l i g a d o às m a n i f e s t a ç õ e s de vanguarda o c o r r i d a s no p a i s . A t r a v é s das f r e q ü e n t e s viagens à Europa, m a n t é m l i g a ç õ e s com e s c r i t o r e s e a r t i s t a s europeus. Em 1924 p u b l i c a no Carreia da Manha 0 "Manifesto da P o e s i a P a u - B r a s i l " e, no ano s e g u i n t e , seu l i v r o de poemas do mesmo nome è editado em P a r i s ( P a u - B r a s i l , P a r i s , 1925). Em 1928 surge o "Manifesto A n t r o p ó f a g o " e a Revista de Antropofagia. F o i e s q u e r d i s t a m i l i t a n t e a p a r t i r da r e v o l u ç ã o de 1930, afastando-se do p a r t i d o comunista somente em 1945.

Nesse mesmo ano obtém em concurso a 1 i v r e - d o c ê n c i a de L i t e r a t u r a B r a s i l e i r a na U n i v e r s i d a d e de São Paulo.

Fazendo-se um b a l a n ç o da p r o d u ç ã o oswaldiana, pode-se d i z e r que a modernidade de sua obra è devida à p e n e t r a ç ã o c r i t i c a , r e a l i z a d a sob o signo do humor e da s á t i r a . Com o senso c r í t i c o produtivo, de sua obra emergem propostas inovadoras que o p r ó p r i o autor c o l o c a em p r á t i c a .

A sua p r e o c u p a ç ã o l i t e r á r i a maior é com a r e n o v a ç ã o dos modos de d i z e r ; quer uma linguagem inovada e inovadora, l i v r e dos r a n ç o s g r a m a t i c a i s e da e l o q ü ê n c i a v a z i a , ou s e j a , do palavreado d i f í c i l , verboso e i n ú t i l . A p r e o c u p a ç ã o a r t e s a n a l com a linguagem, que quer l i b e r t a r das c o n v e n ç õ e s

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aniordaçantes, permeia prosa e p o e s i a . Luta por uma e x p r e s s ã o ágil e s i m p l e s , s i n t é t i c a e p r e c i s a , repudiando a l i t e r a t u r a baseada em c l i c h ê s , f r a s e s f e i t a s ou qualquer outro p a d r ã o p r é - e s t a b e i e c i d o . Incorpora à sua c r i a ç ã o l i t e r á r i a a linguagem c o l o q u i a l ; c r i a termos inovando o nosso l é x i c o , mas sempre visando a uma linguagem n ã o c r i s t a l i z a d a . Oswald consegue d i z e r muito com um m í n i m o de p a l a v r a s .

Como exemplos de termos c r i a d o s por e l e , tem-se os a b a i x o - r e l a c i o n a d o s , e x t r a í d o s de Memórias Sentimentais de João Miramar, todos e l e s verbos derivados de s u b s t a n t i v o s ou a d j e t i v o s :

a) n o r t e - a m e r i c a n a r :

" P a n t i c o norte-americanava. ( 1 , P . 2 4 ) b) t a x i z a r :

"0 Dr. P i l a t o s que t a x i z a r a comigo uma n o i t e a t é o perdido bungalou..." ( 1 , P . 5 3 )

c ) e l d o r o d a r :

"E o s e r t ã o para lá eldorodava sempres e l i b e r d a d e s " . < i , P.39)

d>boulevardear:

"E na e x t e n s ã o armada b a r r a c a s boulevardearam com b r i n c o s populares na f e s t a dos quatro cantos semanais da c i d a d e . . . m e c â n i c a " . ( 1 , p.35)

E como e s t e s há inúmeros outros (guardanapar, t u r c a r , t r a n s a t 1 a n t i c a r , e t c ) .

No "Manifesto da P o e s i a Pau-B r a s i l " , e x e m p l i f i c a d a no seu l i v r o de p o e s i a s Pau-Brasil, Oswald d i s t a n c i a - s e dos P a d r õ e s p a r n a s o - s i m b o l i s t a s , "buscando r e d e s c o b r i r a e x p e r i ê n c i a p o é t i c a a p a r t i r da pureza p r i m i t i v a do índio e da c r i a n ç a . ( 8 , P.33)

Quanto aos poemas contidos nesse l i v r o , s ã o "poemas b r e v í s s i m o s , a n t i -r e t ò -r i c o s e a n t i m é t -r i c o s , numa e x p -r e s s ã o totalmente l i v r e de p r e c o n c e i t o s l i t e r á r i o s " .

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Qswald v a i buscar a p o e s i a longe dos moldes e r e g r a s t r a d i c i o n a i s : c r i a p o e s i a a p a r t i r de t e x t o s aparentemente a p o é t i c o s , como por exemplo, da e n u m e r a ç ã o de t i t u l o s de

l i v r o s e n c o n t r á v e i s em p r a t e l e i r a s de e s t a n t e s de p r o v i n c i à , como observou Haroldo de Campos em r e l a ç ã o ao poema " B i b l i o t e c a N a c i o n a l " ; de fragmentos de nossos p r i m e i r o s c o n t i s t a s ou de p a r ó d i a s de poemas consagrados pelo gosto l i t e r á r i o t r a d i c i o n a l

(vejam-se " C a n ç ã o do E x i l i o " , de G o n ç a l v e s Dias e "Meus o i t o anos", de Casemiro de Abreu) .

Ainda em r e l a ç ã o ao l i r i s m o f e r v o r o s o p r a t i c a d o no p a i s , c r i a a " p o e s i a p i a d a " , de fundo h u m o r í s t i c o .

Como observou M á r i o da S i l v a B r i t o , em sua p o e s i a há o humor, o l i r i s m o , a piada e a i m a g i n a ç ã o , a c o n c i s ã o e a f a l a popular, a i r o n i a e a o n o m a t o p é i a , a a s s o c i a ç ã o i n u s i t a d a de i d é i a s , as d e f o r m a ç õ e s s i n t á x i c a s e g r a m a t i c a i s , o d e s c r i t i v o e a s í n t e s e luminosa. V i n í c i u s de Morais o l ê : " c r i a ou i n s i n u a quase todos os temas com que i r i a m l i d a r os f u t u r o s poetas b r a s i l e i r o s " . ( 5 , P.26)

No "Manifesto da P o e s i a P a u - B r a s i l " (1925) defende uma p o e s i a de e x p o r t a ç ã o , ou s e j a , uma p o e s i a inovadora, f r u t o da c r i a ç ã o e i n v e n ç ã o de nossos poetas e n ã o da cópia dos p a d r õ e s e s t é t i c o s europeus. Nesse s e n t i d o , a poesia pau=brasil a p r e s e n t a - s e como p r o d u ç ã o autenticamente n a c i o n a l . Nessa proposta nota-se claramente a l u t a v i v a p e l a nossa i n d e p e n d ê n c i a c u l t u r a l .

No "Manifesto A n t r o p ó f a g o " o autor também v i s a a, como no a n t e r i o r , dinamizar o estagnado pensamento n a c i o n a l . Nele c o n t r a p õ e o p r i m i t i v i s m o do índio à o p r e s s ã o e u r o p é i a : defende a v a l o r i z a ç ã o do " i n s t i n t o c a r a i b a " , da c u l t u r a p r i m i t i v a , e repudia a imagem do

(11)

Índio explorado p e l o s europeus que, julgando-o sem c u l t u r a , impuseram-1he julgando-os seus p r ó p r i julgando-o s p a d r õ e s . Dai Oswald d i z e r que os europeus v e s t i r a m o Í n d i o . Nesse manifesto, r e j e i t a a moral burguesa r e c a l c a d a , o p a t r i a r c a d o c a s t r a d o r e o p r e s s o r ; c o n t r a p õ e duas r e a l i d a d e s : "a r e a l i d a d e s o c i a l v e s t i d a e o p r e s s o r a " r e p r e s e n t a d a pelo p a t r i a r c a d o e a " r e a l i d a d e sem complexos, sem l o u c u r a , sem p r o s t i t u i ç ã o e sem p e n i t e n c i á r i a s do matriarcado de Pindorama". ( 7 , p.54>

0 termo "Pindorama" é o nome que os índios davam ao B r a s i l e o "matriarcado de Pindorama" r e f e r e - s e ao e s t á g i o s o c i a l

a n t e r i o r à d e s c o b e r t a do mesmo, o e s t á g i o dos povos p r i m i t i v o s a n t e r i o r à d e s c o b e r t a , o tempo em que a t e r r a e r a propriedade comum da t r i b o , desconhecendo-se, portanto, a propriedade p r i v a d a .

Ao contrapor e s s a s duas r e a l i d a d e s , a proposta oswaldiana è bem c l a r a : romper com o s i s t e m a e f a z e r a r e v o l u ç ã o americana

( C a r a í b a ) que s e r i a a u n i f i c a ç ã o de todas as r e v o l t a s . Sobre e l a , Maria Augusta Fonseca d i z : "Anuncia a idade de ouro e tem por o b j e t i v o n ã o so a v o l t a ao p r i m i t i v i s m o , mas também a a d e q u a ç ã o na é p o c a , "a idade de ouro e todas as g i r l s " , súmula de todas as o u t r a s a c r e s c e n t a d a do novo. F a z - s e n e c e s s á r i a a a d e q u a ç ã o ao e s p i r i t o b r a s i l e i r o " . ( 7 , p.56) E: " S e r a n t r o p ó f a g o é s e r t u p i , é v o l t a r às o r i g e n s do homem p r i m i t i v o , devorando e a s s i m i l a n d o sua c u l t u r a " . ( 7 , p.55) 0 " s e r t u p i " alude à famosa f r a s e de Oswald: "Tupi or not t u p i , that i s the q u e s t i o n " .

Ê importante observar que n ã o se t r a t a de uma retomada do indianismo que v a l o r i z a o i n d i o europeizado, mas sim de um indianismo à s a v e s s a s , do "mau selvagem" t-anibal devorando c r i t i c a m e n t e as propostas da c i v i l i z a ç ã o e seus embustes.

(12)

a n t r o p o f a g i a de modo e s c l a r e c e d o r : "Contrariamente a e s s e s movimentos que desembocariam no i n t e g r a l i s m o e n c a b e ç a d o por P l i n i o Salgado* a Antropofagia prega p r e t o r n o ao p r i m i t i v o , porém ao p r i m i t i v o em estado de pureza, ou s e j a , sem compromissos com a ordem s o c i a l e s t a b e l e c i d a : r e l i g i ã o , p o l i t i c a , economia. E uma v o l t a ao p r i m i t i v o antes de suas l i g a ç õ e s com a sociedade o c i d e n t a l e u r o p é i a . A Antropofagia v a l o r i z a o homem n a t u r a l , é a n t i l i b e r a l e a n t i c r i s t ã , e f o i i n s p i r a d a no c a p i t u l o "De C a n i b a l i s " dos Ensaios de Montaigne. ( 9 , p.37) Para a c o n s o l i d a ç ã o da v i s ã o p o é t i c a e c u l t u r a l de Oswald e s s e Manifesto f o i muito importante.

Tanto e l e como o "Manifesto da P o e s i a P a u - B r a s i l " reagem c o n t r a nossa s i t u a ç ã o de c o l ô n i a c u l t u r a l , emergindo nessa postura seu agudo senso c r i t i c o , porta de entrada à sua modernidade.

Também a prosa de Oswald de Andrade è inovadora no "par" Serafim Ponte Grande e

Memórias Sent i ment ais de João Miramar,

considerado por Antonio C â n d i d o como " A n t í t e s e da a t i t u d e p a r n a s i a n a formando ambos a fase de n e g a ç ã o . (6, p.45)

Em Memórias Sent imentais de João

Miramar seu t r a b a l h o com a linguagem é

r a d i c a l : v a i da linguagem j o r n a l í s t i c a ao r e c o r t e c i n e m a t o g r á f i c o , c o n s t r ó i uma nova s i n t a x e , c r i a imagens altamente s i n t é t i c a s e p r e c i s a s , conseguindo e f e i t o s p o é t i c o s e x t r a o r d i n á r i o s . Na o p i n i ã o de Antonio Candido,

"Memórias Sentimentais de João Miramar, além

de s e r um dos maiores l i v r o s da nossa l i t e r a t u r a , è uma t e n t a t i v a s e r í s s i m a de e s t i l o e n a r r a t i v a , ao mesmo tempo que um p r i m e i r o e s b o ç o de sátira s o c i a l . A burguesia endinheirada roda pelo mundo o seu v a z i o , as suas c o n v e n ç õ e s , numa e s t e r i l i d a d e

(13)

-apavorante. Miramar é um humorista pmce sans

rire que (como se d i r i a naquele tempo)

procura Kodakar a v i d a imperturbavelmente, por meio de uma linguagem s i n t è t i c a e

f u l g u r a n t e , c h e i a de s o l d a s a r r o j a d a s , de uma c o n c i s ã o l a p i d a r . G r a ç a s a e s t a linguagem v i v a e e x p r e s s i v a , apoiada em e l i p s e s e subentendidos, Oswald de Andrade consegue quase operar uma fusão da prosa com a p o e s i a . (6, P.43-44)

Sobre Serafim Ponte Grande, Antonio C â n d i d o a f i r m a que continua na l i n h a combativa e i r r e v e r e n t e de Memórias

Sentimentais de João Miramar,ts sendo o

"acontecimento mais s e n s a c i o n a l de sua c a r r e i r a de f i c c i o n i s t a " , assim como "o ponto de r u p t u r a de sua obra com a b u r g u e s i a " . ( 4 , P .44)

Além das mencionadas, há o u t r a s obras em p r o s a : Os Condenados ( 1 9 2 3 ) , A

Estrela de Absinto ( 1 9 2 6 ) , A Escada Vermelha

( 1 9 3 4 ) , Marco Zero - l o v o l . < 1943), Marco

Zero - 2 q v o l . ( 1 9 4 5 ) , Um homem sem profissão: sob as ordens de mamãe ( m e m ó r i a s )

( 1 9 5 4 ) .

Quanto às p e ç a s de t e a t r o que e s c r e v e u , s ã o c o n s i d e r a d a s marcos i n i c i a i s do t e a t r o moderno: O homem e o cavalo (1934), A

morta e O rei da vela (1937), duas p e ç a s

e s c r i t a s em f r a n c ê s com Guilherme de Almeida e que, com a p u b l i c a ç ã o das Obras Completas de Oswald de Andrade p e l a Ed. Globo, terão sua p r i m e i r a r e e d i ç ã o desde que foram l a n ç a d a s em P a r i s na d é c a d a de 10: Leur ame (1916) e Mon Coeur Balance ( 1 9 1 6 ) .

E s c r e v e u , ainda e n s a i o s : A Arcádia

e a Inconfidência (1945) e A Crise da Filosofia Messiânica ( 1 9 5 0 ) .

Não se pode d e i x a r de mencionar aqui uma obra muito i n t e r e s s a n t e e

fundamental, e s c r i t a e composta pelos f r e q ü e n t a d o r e s da g a r « o n i è r e que Oswald

(14)

mantinba à Rua L í p e r o P a d a r ó , f n t r f 1917-1919, - O Perfeito Cozinheira das Almas desse

Mupdç - i c u j a (Jef i n i i ã o è p*f s i n t e t i z a d a

ppr Maria E u g ê n i a Boaventura; " É um ca^erpp de c r i a ç ã o c o l e t i v a , e s c r i t a numa variedade de c o r e s , em que aparece de tucjo um ppucp: da Piada a f a t p s dp momento, até cplagens u t i l i z a n d o - s e grampps, pentes*. 014 wm poema de Qswald f e i t p cpm. cariuibp. íjeisi e a musa gesses j p y e n s j A maipria dqs. p a r t i c i p a n t e s e s c r e v e cprç um, pu mais p s e u d ô n i m o s " . ( 7 , p.18) Qswald, em suas m e m ó r i a s , afirma que o

seu era Miramar.

SesHnflP Marip da S i l v a B r i t o , nesse

d i á r i o e s t l p p r e s e n t e s R F I Í P e ps P tripnagens Rue d i r ? P origem a e h a b i t a r ã o Os

Condenados* Serafim Pçnte Grande e Memórias

Sentimentais de Jaao tf iramar* F i l i a » ainda, -dp ppptp de v i s t a da e s t r u t u r a -» e s t a s duas u l t imas obras à q u e l a p f p d p f ã o c o l e t i v a : "Po â n g u l o da estrutura» dp c a r i c a t p da& perspnagen&i ?st f5 cjpis, ú l t i m o s l i v r o s

derivam dP d i á r i o , n e l e se e n r a í z a m , a l i

c p m e ç a m incpnsRPntffnente? Todp 9 prppesgp

f r a g m e n t á r i p de Oswald nasce Çjesfa e x p e r i ê n c i a pesspal de d i a r i s t a -* · · · • M a c h a d p Penumbra» de Jgap fiiramart I certamente um dos freqüent adpres da garçonière. A v i s ã o de

crimes e t r a i f p t f , ç(e pas-fpnd e desagregaslp

de Os Condenados, decprre dps m i s t é r j o s que cercavam fiiss Ciçjone. Qs n°mes g r o t e s c o s pu

humor i s t i c o s - e ppr i s s o mesmo c r í t i c o s de

Miramar e Serafim - em nada difprem, cpnip

e s p í r i t o pu e s s ê n c i a , dos p s e u d ô n i m o s e a p e l i d o s usaçjps nP Perfeito Cozinheiro. 0 gosto pelo t r o c a d i l h o , c u l t i v a d o abusivamente no d i á r i o e provindo de E m í l i o de Menezes, que Oswald f r e q ü e n t o u , o amor p e l a s s i t u a ç õ e s i n s ó l i t a s e i m p r e v i s t a s com tons de s á t i r a e humor» têm a mesma f o n t e " . <3, p.9-10)

M á r i o da S i l v a B r i t o c a r a c t e r i z a p valpr dessa obraï "0 dláriR» Ppr out rp ladp»

(15)

^tem e s p e c i f i c o v a l o r - é , em s i mesmo» com suas t i n t a s de d i v e r s a s cores» suas colagens» •trechos a carimbo, charges e c a l i g r a f i a s , um •objeto c r i a t i v o , uma i n v e n ç ã o como l i v r o ,

peça r a r a em sua a p a r ê n c i a e o r g a n i z a ç ã o . Ê p r e c u r s o r de v á r i a s obras que, graficamente, tentam inovar as formas de c o m u n i c a ç ã o . Texto e contexto, aspecto i n t e r n o e e x t e r i o r , forma •e fundo, e s t ã o i n d i s s o l u v e l m e n t e l i g a d o s

nesse p r e c i o s o documento de uma época e de suma c u l t u r a " . ( 4 , p.10)

No ano do c e n t e n á r i o de nascimento

áe Oswald de Andrade, 1990, f o i i n i c i a d a a

p u b l i c a ç ã o das Obras Completas do autor p e l a .Ed. Globo em c o - e d i ç ã o a S e c r e t a r i a da íCultura do Estado de S ã o Paulo. Algumas de •suas obras estavam esgotadas desde que

s a í r a m , na d é c a d a de 70, p e l a C i v i l i z a ç ã o ^ B r a s i l e i r a . V á r i o s t e x t o s inéditos foram e 'estão sendo p u b l i c a d o s , como por exemplo o

Dicionário de bolso, as duas p e ç a s t e a t r a i s

« s c r i t a s em f r a n c ê s , O Perfeito Cozinheiro de

Almas desse fiando - Diário Coletivo, que a t é

-agora só e x i s t i a em e d i ç ã o f a c - s i m i 1 a r ; Os

Dentes do Dragão, e n t r e v i s t a s i n é d i t a s do

- e s c r i t o r e n t r e 19S4 e 1954, no ano de sua morte. As c r ô n i c a s para o j o r n a l Correio da

Manha - já r e u n i d a s em Telefonema - e s t a r ã o

numa e d i ç ã o completa com 559 t e x t o s (387 a mais que na a n t e r i o r ) , além do poema "0 • s a n t e i r o do mangue" e de uma p r o d u ç ã o

j o r n a l í s t i c a que será apresentada sob o t i t u l o de Banho de sol.

Cumpre aqui alguns c o m e n t á r i o s sobre o Dicionário de bolso, bem na l i n h a da i r r e v e r ê n c i a oswaldiana. Ai e s t ã o r e u n i d a s d e f i n i ç õ e s dadas por Oswald a mais de cem Personagens, desde nomes i l u s t r e s da h i s t ò r i a u n i v e r s a l a t é outros que foram esquecidos por sua i r r e l e v â n c i a , i n c l u i n d o também pessoas de destaque na sua é p o c a .

(16)

s í n t e s e são a marca do l i v r o . Por exemplo, Colombo é o "vendedor de ovos em pé que não fez A m é r i c a " ; L a m p i ã o , " V i r g u l a na h i s t ó r i a do B r a s i l " ; M u s s o l i n i , "Macarronada com sangue"; H i t l e r , "Bigodinhos de a ç o " ; Marx, "Esquina da H i s t ó r i a " ; C é s a r , "Greta Garbo", e assim por d i a n t e .

Concluindo, pode-se retomar a c i t a ç ã o de Mario da S i l v a B r i t o do i n i c i o deste t r a b a l h o : "Sim, há tanto ainda que d e s c o b r i r em Oswald! Há t a n t o s Oswalds ainda por serem r e s s u s c i t a d o s ! "

A modernidade e a v i d a emergem de toda a sua obra que, agora mais conhecida, tem-se mostrado r e v e l a d o r a de sua i m p o r t â n c i a no panorama l i t e r á r i o , a r t í s t i c o e c u l t u r a l do p a i s : Oswald lutou p e l a r e n o v a ç ã o da

linguagem, do pensamento e do sentimento n a c i o n a i s assim como p e l a sua l i b e r t a ç ã o de

p r e c o n c e i t o s comprometedores do desenvolvimento de um povo ou de uma g e r a ç ã o .

Sua obra r e p e r c u t i u em todos os s e t o r e s da v i d a c u l t u r a l : cinema, l i t e r a t u r a , t e a t r o e m ú s i c a . A p o e s i a c o n c r e t a tem nele um de seus p r e d e c e s s o r e s e no movimento t r o p i c a l i s t a de nossa música popular ressoam i r r e v e r ê n c i a s o s w a l d i a n a s .

Morre em 1954, com r a r o s amigos, d o i s f i l h o s novos e a ú l t i m a mulher, Maria Antonieta d'Alkmin, para quem e s c r e v e poemas b e l í s s i m o s e de um l i r i s m o renovado em " C â n t i c o dos c â n t i c o s para f l a u t a e v i o l ã o " .

No ano de sua morte d e c l a r a :

"Estou profundamente abatido; d e s i l u d i d o , porque meu chamado não teve r e s p o s t a " . ( 2 , p.237)

Para nossa s o r t e Oswald se enganou d e s t a vez!

(17)

R e f e r ê n c i a s B i b l i o g r á f i c a s

ANDRADE, 0. de. Memórias Sentimentais de

Joao Miramar. Serafim Ponte Grande. 5

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S e c r e t a r i a de Estado da C u l t u r a , 1990.255 p. (Obras Completas de Oswald de Andrade)

BRITO, M. da S. Conversa vai, conversa

vem. Rio de J a n e i r o : C i v i l i z a ç ã o

B r a s i l e i r a , 1974. 138 P .

BRITO, M. da S. As metamorfoses de Oswald de Andrade. I n : :. Angulo e

horizonte: de Oswald de Andrade . à

ficção c i e n t i f i c a . S ã o Paulo: Mart i n s

BRITO, M. da S. Panorama da poesia

brasileira. Rio de J a n e i r o ,

C i v i l i z a ç ã o B r a s i l e i r a , 1959. 6v. v.6 214 p.

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(Coleção Encanto R a d i c a l )

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SfiO PAULO. S e c r e t a r i a de Estado da C u l t u r a . Oswald de Andrade

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São Paulo: O f i c i n a C u l t u r a l Oswald de Andrade, 1990. (Painéis de Museu de Rua)

B i b l i o g r a f i a c o n s u l t a d a

ANDRADE, 0. de. Ponta de lança. 3.ed. R i o de J a n e i r o : C i v i l i z a ç ã o B r a s i l e i r a , 197S. 110 P .

ANDRADE, 0. de. Memórias Sentimentais de João

Miramar. Serafim Ponte Grande. 5 ed. Rio de

J a n e i r o : C i v i l i z a ç ã o B r a s i l e i r a , 1975. 264 P .

ANDRADE, 0. Um homem sem profissão; sob as ordens de m a m ã e - m e m ó r i a s e c o n f i s s õ e s . 3. ed. R i o de J a n e i r o : C i v i l i z a ç ã o B r a s i l e i r a ,

1976. 140p.

ANDRADE, 0. de. Poesias Reunidas. 4.ed. R i o de J a n e i r o : C i v i l i z a ç ã o B r a s i l e i r a , 1974. 203 P.

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BOAVENTURA, M.B. ( O r g . ) . Os dentes do dragão: e n t r e v i s t a s . S ã o Paulo: Globo, S e c r e t a r i a de Estado da C u l t u r a , 1990. 255 p. (Obras Completas de Oswald de Andrade)

BRITO, M. da S. José Oswaald de Sousa Andrade. I n : Panorama da poesia

brasileira. R i o de J a n e i r o , C i v i l i z a ç ã o

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BRITO, M. da S. Conversa vaia conversa vem. Rio de J a n e i r o : C i v i l i z a ç ã o B r a s i l e i r a , 1974. 138 P.

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BRITO» M. da S. As metamorfoses de Oswald de Andrade. I n : . Angulo e horizonte: de

Oswald de Andrade à ficção cient i fica. S ã o

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